O destaque do Entre Aspas da segunda-feira pós-Natal vai para o jornal A
Tarde, da Bahia, que mostra como ainda é possível praticar jornalismo
investigativo no Brasil. A partir de dois levantamentos sobre os políticos que
são sócios de emissoras de rádios e televisão, a equipe do A Tarde
conseguiu elaborar um painel desta situação no Estado da Bahia. ‘Das 217
emissoras baianas de rádio AM e FM e televisão autorizadas pelo Ministério das
Comunicações, 65 são controladas por políticos que exercem mandato. Quarenta e
uma pertencem a senadores, deputados federais, deputados estaduais, prefeitos,
vice-prefeitos e vereadores. Outras 24 são de familiares, como pais, esposas,
filhos e cunhados’, diz o lide da matéria principal. Ao todo, são 9 retrancas,
com a participação de cinco correspondentes das sucursais no interior do Estado
– o que revela a vitalidade da imprensa regional, muitas vezes alviltada Brasil
afora.
Na Folha de S. Paulo, destaque para reportagem de Frederico
Vasconcellos sobre denúncia recebida pelo Ministério Público do Estado de São
Paulo sobre ‘favorecimento, por meio da veiculação de publicidade da Nossa
Caixa, a deputados estaduais alinhados com o governador tucano Geraldo Alckmin.’
Segundo informa a Folha, ‘o suposto esquema foi apontado em denúncia
anônima ao procurador-geral de Justiça, Rodrigo César Rebello Pinho, sobre
irregularidades na publicidade do único banco público estadual. Durante um ano e
nove meses, a Nossa Caixa operou com duas agências de publicidade sem contrato
firmado. Uma sindicância interna -aberta há cinco meses pela direção do banco-
ainda não apontou os responsáveis pela situação irregular dos contratos com as
agências Colucci & Associados Propaganda Ltda. e a Full Jazz Comunicação e
Propaganda Ltda. Juntas, elas respondiam por uma conta de R$ 28 milhões.’
Também vale a pena ler na Folha a entrevista com Gay Talese, que
analisa os recentes escândalos envolvendo jornais norte-americanos, em especial
o de Judith Miller no The New York Times.
No Estado de S. Paulo, há uma interessante reportagem de Carlos Franco
sobre as expectativas da Associação Nacional de Jornais para o ano de 2006, com
a estimativa de crescimento de 5% para o setor, ante 4% em 2005.
Leia abaixo os textos de segunda-feira, 26/12, selecionados para a seção
Entre Aspas.
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A Tarde
Segunda-feira, 26 de dezembro de 2005
CORONELISMO ELETRÔNICO
Políticos controlam 65 emissoras
‘Das 217 emissoras baianas de rádio AM e FM e televisão autorizadas pelo
Ministério das Comunicações, 65 são controladas por políticos que exercem
mandato. Quarenta e uma pertencem a senadores, deputados federais, deputados
estaduais, prefeitos, vice-prefeitos e vereadores. Outras 24 são de familiares,
como pais, esposas, filhos e cunhados.
A maioria das emissoras está localizada no interior do estado. São 34 rádios
FM, 27 AMs e quatro canais de televisão. A constatação vem do cruzamento entre
dados do cadastro do ministério e entrevistas com os próprios políticos,
diretores e funcionários de emissoras.
A lista do órgão federal aparentemente está desatualizada, apesar de datar de
agosto deste ano. O documento não registra transferências de cotas nas
sociedades proprietárias das emissoras. Por exemplo, o senador Marcelo Crivella,
que figura como sócio da TV Cabrália, no Sul do estado, vendeu as cotas há seis
anos, de acordo com atestado da Receita Federal enviado pela assessoria jurídica
do parlamentar.
Continuaram a ser computadas na pesquisa, no entanto, emissoras cuja venda
não foi comprovada ou confirmada por mais de uma fonte à reportagem. Caso das
duas rádios FMs em que o senador César Borges (PFL) figura como sócio, nas
cidades de Piritiba e Ipiaú.
Borges afirma ter vendido ‘há muitos anos’ suas cotas, mas não enviou à
reportagem documentos que comprovassem a afirmação. Outros parlamentares,
preocupados com transparência, fizeram questão de entregar documentos. Caso do
deputado federal José Carlos Araújo (PFL), cuja esposa era sócia de uma rádio no
interior até o final da década de 90.
CONGRESSO – Além de Borges e Crivella, outros 13 senadores figuram na lista
do ministério, segundo levantamento feito pelo jornalista James Görgen, do Fórum
Nacional pela Democratização da Comunicação. Pelo menos 51 deputados federais
são sócios de rádios e TVs, diz um outro estudo, coordenado pelo professor
Venício de Lima, da Universidade de Brasília.
O levantamento de Lima foi enviado em forma de representação à Procuradoria
Geral da República pelo Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (ProJor).
A representação está sendo analisada pela procuradora Raquel Nascimento, do
Distrito Federal. ‘A ação mostra a aberração do sistema de comunicação
eletrônica do país’, observa o jornalista Alberto Dines, um dos diretores do
ProJor.
A representação pede abertura de ação penal e civil contra os parlamentares
citados no documento, pois entende que eles deveriam ter entregue sua parte na
sociedade das empresas de radiodifusão ao se elegerem.
O pedido se baseia no artigo 54 da Constituição Federal que estabelece que, a
partir da posse, senadores e deputados federais não podem ‘ser proprietários,
controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de contrato
com pessoa jurídica de direito público’. A pena chega à cassação do mandato.
Outras leis, da década de 60, proíbem parlamentares de exercer função de
diretor ou gerente de empresa de rádio e TV. Neste caso, a pena é a suspensão da
outorga. O Ministério das Comunicações é responsável por fiscalizar o
cumprimento da legislação.
O secretário de comunicação eletrônica do órgão, Joanilson Ferreira, foi
procurado mas não pôde dar entrevista até o fechamento da matéria.
CONFLITO – A representação também mostra que parlamentares-empresários da
radiodifusão integram comissões responsáveis por analisar as renovações de
concessões de emissoras no Congresso Nacional. Pelo menos 11 dos 40 deputados
federais da comissão da Câmara estão nessa situação, informa o documento.
Integrante da comissão e sócio de duas rádios no interior do estado, o baiano
José Rocha (PFL) não se sente constrangido com a suposta contradição: ‘Já pensou
se um dono de posto de gasolina não pudesse votar leis sobre combustíveis, e
assim por diante? Aí não haveria parlamentares’.
Saiba mais
Como funciona a concessão de emissoras no País
1. Emissoras de rádios e TVs são concessões públicas, segundo a Constituição
Federal. Isso quer dizer que é o governo federal, através do Ministério das
Comunicações, que controla a exploração dos serviços de radiodifusão.
2. No caso da radiodifusão comercial, os interessados devem passar por uma
licitação. O edital para cada canal é publicado no Diário Oficial da União e os
candidatos têm até 60 dias para apresentar propostas. Os projetos devem
apresentar a viabilidade técnica e comercial da emissora.
3. A concessão vale por 10 anos para rádios e 15 para TVs. Depois desse
período, tem de ser renovada. Cabe ao Congresso referendar as decisões de
outorga e renovação de concessões. Os processos passam pela Comissão de Ciência
e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados e depois pela
Comissão de Educação do Senado. O Conselho de Comunicação Social, órgão auxiliar
do Congresso, até hoje nunca deu parecer sobre processos do tipo.
4. Após a concessão, as emissoras podem ser transferidas para outros sócios,
sem avaliação do Congresso Nacional.
Fonte: Ministério das Comunicações, Constituição Federal, ProJor, Conselho
Nacional de Comunicação Social’
***
Fala parlamentar
‘Em que vai dar a representação enviada à Procuradoria Geral da
República?
‘Isso é um despautério tão grande, um absurdo, que não teve nenhuma
repercussão no Congresso. Não participo de nenhum negócio da minha família nessa
área e me sinto à vontade para falar’
Antônio Carlos Magalhães Neto, deputado federal (PFL)
‘Tenho consciência do problema, mas são meus familiares que dirigem a rádio e
eu já era proprietário dela antes de ser deputado federal. Não obtenho nenhuma
vantagem em ser dono de emissora. Não tenho benefício nem financeiro’
Severiano Alves, deputado federal (PDT)
‘Não sei, mas minha participação na sociedade [de duas rádios] foi antes da
promulgação da Constituição. Agora estou com um problema, pois quero me
desvencilhar disso. Nem sei como está a coisa’
Djalma Alves Bessa, suplente de senador (PFL)
‘Estou absolutamente tranqüilo. Desconheço proibição legal para que político
possa participar de sociedade de rádio ou TV. A participação vedada é quando o
cargo ocupado é de sócio-gerente’
César Borges, senador (PFL)’
***
ACM distribuiu concessões
‘Um recorde na história da radiodifusão brasileira: em cinco anos, Antonio
Carlos Magalhães, então ministro das Comunicações do governo de José Sarney,
autorizou concessões de 1.028 emissoras de rádios e TVs. O número chega perto do
total registrado em 65 anos (entre 1934 e 1979): 1.483 concessões.
Só entre novembro de 1987 e setembro de 1988, ACM distribuiu concessões para
362 FMs, 182 AMs e 42 canais de televisão, de acordo com levantamento feito pelo
doutor em Ciência Política Paulino Motter, da Universidade de Brasília. O estudo
aponta que as concessões serviram de moeda de troca para que se votassem alguns
pontos importantes da Constituição Federal, então em fase de elaboração.
Motter afirma que o comércio deu resultado: dos 91 deputados constituintes
que receberam emissoras, 90,1% votaram a favor do mandato presidencial de cinco
anos, conforme era desejo de José Sarney, então presidente da República. Desses,
50 eram do PFL e 33 do PMDB.
Hoje senador e pai do presidente da Rede Bahia, ACM não quis dar entrevista
sobre o assunto. Antonio Carlos Magalhães Júnior também foi procurado para
esclarecer relações entre política e mídia nas empresas da rede, mas mandou
avisar que não fala sobre política.
É fato que as concessões para a maioria das emissoras que integram a Rede
Bahia são dessa época. Além disso, em janeiro de 1987, a TV Bahia passou a ser
afiliada da Rede Globo, posto que, durante 18 anos, era da TV Aratu. A mudança
de canal suscitou uma CPI: teria sido um presente a ACM pela pressão feita sobre
o empresário Mário Garnero, então sócio da empresa de equipamentos de tecnologia
da informação NEC. O ministro teria agido para promover a saída de Garnero da
sociedade, dando espaço à entrada da Globo na empresa.
O deputado federal Geddel Vieira Lima (PMDB) recorda bem da CPI. ‘Os ânimos
estavam extremamente exaltados. O caso até hoje é lembrado no Congresso, pois
ficou comprovadíssimo o envolvimento direto e o abuso de poder do então ministro
para sufocar o empresário’, conta.
Observação semelhante é registrada por Gilberto Wildberger de Almeida, em
tese de doutorado defendida na Universidade Federal da Bahia (Ufba). Almeida
considera que ACM captou com habilidade, na década de 80, a mudança imposta pela
era midiática. ‘O político se tornou dependente da capacidade de publicizar seus
atos. O poder é exercitado com mecanismos de convencimento e busca de coesão’,
explica o pesquisador.’
***
Rádio de interior dá retorno eleitoral
‘‘Rádio no interior só dá duas alegrias: uma no dia que monta e outra no dia
que vende. O custo de manutenção delas é muito superior ao ganho. Eu boto
dinheiro todo mês para manter’, desabafa o deputado federal José Rocha (PFL-BA),
que se diz ‘doido para vender’ suas rádios em Santa Maria da Vitória.
Como ele, a maior parte dos políticos que são donos de rádios no interior
reclamam do parco retorno comercial. Mas poucos querem abrir mão do que dizem
ser um negócio ruim. O retorno, afinal, vem de outra forma: votos para si e
amigos nas próximas eleições. E a manutenção de uma opinião pública favorável na
comunidade.
‘Ajudou a manter meu nome na região. Por dinheiro nenhum me desfaço dela’,
conta o deputado estadual Jurandy Cunha Oliveira (PRTB), sobre a rádio AM que
tem em Ipirá. ‘Não vou dizer que me elegeu, mas ajudou, sim’, diz, com uma
sinceridade rara entre os políticos ouvidos para esta reportagem.
Outro deputado estadual foi sincero, mas pediu sigilo do nome. ‘É claro que
ter uma rádio no interior amplia nossa presença política. Só de não falar mal da
gente já ajuda a manter a imagem’, disse, emendando em seguida, entre risos: ‘É
claro que você não vai dizer que fui eu quem disse isso’.
Mesmo aqueles que não têm programa nem interferem na política editorial da
empresa encontram uma forma de usá-la para divulgar o próprio nome. O
vice-prefeito de Jaraguari, Alberto José Nunes de Sá, por exemplo, grava
mensagens de datas comemorativas (Natal, Dia das Mães etc). Segundo ele, sua
rádio, a Jaraguari FM, abrange ‘uns 400 mil eleitores’ em 20 municípios.
SUCESSO – Há quem tenha encontrado na rádio de interior um bom negócio. O
exemplo mais forte é Nobelino Dourado Filho, deputado estadual na década de 70.
Dono de duas rádios em Irecê, lembra que ‘pegou’ as emissoras ‘com ajuda de ACM,
que na época era governador’. ‘Eu era deputado e achei que era importante levar
informação para o interior’, conta.
Uma das emissoras, a FM Caraíbas, é a 34ªmais acessada via internet do país,
segundo o site comercial Radios.com.br. Orgulhoso do resultado, Nobelino afirma
que a rádio transmite notícias da região, fornece preços de insumos agrícolas e
meteorologia.’
Luciana Rezende
Ubaldino é ‘patrãozinho’ de emissora
‘PORTO SEGURO (EXTREMO SUL) – No extremo sul do Estado, a população tem a
sensação de passar por uma eterna campanha eleitoral. ‘As programações
jornalísticas são rigorosamente controladas e só vão ao ar os assuntos que
interessam a determinado grupo político’, comenta a comerciante e moradora,
Lisângela Araújo.
Não é para menos. Na rádio líder de audiência de Porto Seguro, 88 FM, por
exemplo, o ex-prefeito Ubaldino Júnior (PFL) é chamado de ‘patrãozinho’ pelos
radialistas durante a programação diária e mantém um programa semanal.
Entre 2003 a 2004, quando enfrentava uma série de denúncias de corrupção à
frente da prefeitura, a rádio foi usada para sua defesa. O jargão ‘Valeu,
Ubaldino’, executado massivamente na época, é lembrado até hoje pelos ouvintes.
Das denúncias ao afastamento de Ubaldino Jr., a rádio 88 FM transmitiu
entrevistas e pronunciamentos do próprio prefeito e de correligionários que o
apoiavam. No ano passado, a emissora sofreu dois atentados, até hoje não
esclarecidos. Num deles, a sala de operações foi totalmente incendiada.
A diretora de jornalismo da emissora é Roberta Caíres, esposa do pefelista.
Procurada, ela pediu que a repórter elaborasse um questionário a ser respondido
pelo ‘patrãozinho’. As respostas não chegaram até o fechamento da reportagem e
nenhum retorno foi dado à repórter, que contactou Caíres por celular mas não
conseguiu contato.
Rádio Novo Amor FM – Os pefelistas da família Pinto também comandam a Novo
Amor FM, em Eunápolis. No ano passado, durante a campanha do atual prefeito
Robério Oliveira (PFL), o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) considerou que a
rádio foi utilizada como ferramenta de abuso de poder político e econômico.
O prefeito foi procurado várias vezes na prefeitura durante a semana passada
para comentar o caso, mas ninguém atendeu ao telefone.’
Ana Cristina Oliveira
Prefeito de Itabuna veta espaço à oposição
‘ITABUNA (DA SUCURSAL SUL DA BAHIA) – Três rádios AM que operam em Itabuna
não fazem comunicação a serviço da comunidade, segundo políticos da oposição. A
menos democrática seria a Difusora, que detém 60% da audiência na cidade e
pertence ao prefeito Fernando Gomes (PFL).
O vereador Luiz Carlos Sena (PC do B), alijado de falar na emissora junto com
outros três colegas da oposição, diz que os radialistas são orientados a
denegrir a imagem dos opositores de Gomes. ‘Sempre foi assim, mas durante a
campanha eleitoral fica pior’, acusa. .
‘A rádio é minha há 24 anos, foi comprada, portanto não vou deixar que
ninguém vá lá para me xingar’, admite Gomes, referindo-se aos vereadores
proibidos de falar, mesmo nos cinco programas cujo horário é comprado pelos
radialistas.
Para o presidente do PT de Ilhéus, Ruy Carvalho, a situação se repete na
rádio FM Gabriela, do prefeito Valderico Reis (sem partido). Segundo ele, na
eleição do ano ano passado, a orientação vinha do grupo político coordenado pelo
ex-deputado Jorge Vianna (PMDB), mas havia um controle da emissora pelas filhas
do prefeito, Simone e Luciana Reis.
Assessores do ex-prefeito Jabes Ribeiro (PFL), adversário de Valderico,
contam que um ano antes da campanha política o programa Informe 102 abria os
microfones para o público criticar a administração dele e fazer campanha para o
dono da rádio. Hoje, com Valderico no poder, não há mais a linha direta com o
público.
Valderico Reis nega. Diz que nem ele nem as filhas vão à emissora, que nunca
a usou para fazer palanque político ou criticar adversários. O prefeito afirma
que ganhou a política, aliás, por causa da ‘perseguição de Jabes’. A Gabriela
teria 50% da audiência em Ilhéus e penetração de 30% em Itabuna, segundo o
político-proprietário, que faz questão de dizer que a rádio se sustenta.
ESCRITÓRIO – Já a FM Ubatã, de propriedade do ex-prefeito do município, Édson
Neves (PFL) e de sua mulher, Hercília Maria de Souza Campos, segundo
oposicionistas, não abre espaço para as reivindicações na prestação de serviços
à comunidade local.
Segundo o ex-prefeito, que perdeu seis eleições consecutivas e tem se
afastado da cidade, a emissora sempre ‘se pautou com isenção’ e nunca foi usada
como escritório político.’
Edson Borges
Pedro Irujo arrenda rádios
‘Feira de Santana (Da Sucursal) – O deputado federal Pedro Irujo (PMDB)
arrendou, desde 2000, duas de suas emissoras em Feira de Santana: a Subaé AM e a
Nordeste FM. O arrendatário foi o empresário Jodilton Oliveira, que tem negócios
nos setores de ensino particular e lazer.
O arrendamento da Subaé AM acabou em junho deste ano e o deputado reassumiu a
emissora. O da Nordeste FM se encerrou este mês, porém foi renovado por mais um
ano, segundo informações do administrador das emissoras, Luiz Maia.
O deputado confirmou o arrendamento, porém salientou que não foi total, mas
apenas de alguns horários. Ele se negou a revelar quanto recebeu de Oliveira,
alegando que era ‘segredo comercial’. Já o empresário disse que não falaria nada
sobre o assunto.
Quando questionado por quanto arrendaria uma hora diária na Subaé AM, para a
veiculação de um programa jornalístico, Pedro Irujo reagiu afirmando que as
emissoras ônão são uma quitanda, com horários à venda assimö.
‘Temos que, primeiro, ver se o programa é realmente interessante para o
público. Também quem são os profissionais que farão o programa’, acrescentou.
Segundo o cadastro do Ministério das Comunicações, Irujo é sócio de quatro
rádios e familiar dos donos de outras seis, descontando-se aí a TV Itapoan e a
Rádio Sociedade, em Salvador, que teriam sido vendidas, segundo
funcionários.’
Miriam Hermes
Radialista do PFL ataca PSDB
‘Bom Jesus da Lapa (Sucursal Regional Oeste) – O prefeito de Bom Jesus da
Lapa, Roberto Maia (PSDB) e o radialista Cid Charles, que há 19 anos detém a
concessão da Rádio Baiana FM, afiliada da rede Tropical Sat, divergem
frontalmente dentre outros aspectos, a respeito do programa que o radialista
apresenta de segunda à sexta-feira, das 12 às 14 hs.
O programa se chama ‘Agora é a nossa vez’, em uma clara referência ao slogan
da administração municipal: ‘Agora é a sua vez’. Para o prefeito, a emissora tem
um alvo predileto: ele, o irmão, o deputado estadual Artur Maia (PSDB) e seus
correligionários.
‘Todos os dias, através do programa, recebo acusações levianas e sem
fundamento’, afirma o prefeito, enfatizando que ‘o nível do programa é baixo e o
conteúdo beira o absurdo’.
Para Cid, que é filiado ao PFL e foi candidato a vereador três vezes, ‘o
programa apenas retrata uma realidade’. Ele diz que denuncia ‘os reclames do
povo’. Ao afirmar que sua programação não é tendenciosa, o comunicador diz ‘o
povo fala, a gente divulga com fundamento e seriedade’.
A rede Tropical Sat integra a Rede Bahia. Cid garante que não teria contado
com interferência de ninguém para conseguir a concessão da emissora: teria
vencido licitação pública.’
Juscelino Souza
Controle forte no sudoeste
‘VITÓRIA DA CONQUISTA (DA SUCURSAL SUDOESTE) – ‘Em época de eleição acontece
cada coisa que só vendo, ou ouvindo, para acreditar. Mas a emissora tem uso
político todos os dias’, conta um funcionário da rádio Macarani, na cidade
homônima. A FM pertence ao prefeito Olisandro Nogueira (PPB).
Segundo radialistas, os microfones costumam ser usados para ataques a
adversários, que não recebem o mesmo espaço para a defesa. ‘A gente obedece
ordens’, explica o funcionário, que não quis se identificar. O prefeito foi
procurado, mas não houve retorno ao contato feito pela reportagem. O diretor da
rádio, Franklin Nogueira, também foi procurado, mas não estava na emissora e não
retornou à mensagem deixada pelo repórter.
Na região de Guanambi, a rádio Cultura pertence ao prefeito Nilo Coelho (PP)
e outros dois sócios. Curiosamente, o jornalismo da emissora tem demonstrado
independência ao apontar falhas na administração municipal, com críticas à falta
de obras ou má conservação das ruas e espaços públicos.
O prefeito, que também é sócio da TV Aratu, em Salvador, diz que mal dá
entrevista para as duas emissoras. ‘A mídia é importante para divulgar o que
você faz, mas acho que o trabalho é o melhor marketing’, afirma, negando que
exerça qualquer tipo de influência editorial nas empresas.
Também em Guanambi, a equipe da Rádio Alvorada acata as determinações da
família da ex-suplente de deputada estadual Ivana Bastos. Nas eleições
municipais, um radialista que fazia campanha para adversários de Nilo Coelho foi
afastado dos microfones e o fato figurou como retaliação, segundo funcionários.
A ex-deputada foi procurada na emissora e na sua residência para comentar o
caso, mas não foi encontrada.
Em Jequié, quatro FMs pertencem a políticos. A 93 FM (Sistema Jequié de
Comunicação) pertence ao vereador Euclides Nunes Fernandes (PDT), que também faz
um programa semanal. Jornalista e vereador por oito mandatos, Fernandes diz não
ver impedimento na dupla atividade, já que a cadeira no legislativo municipal
seria apenas ‘temporária’.
Euclides reconhece: ‘a mídia é um setor que facilita a manipulação da opinião
da coletividade’. Mas a rádio 93, pondera, seria ‘aberta a todos os segmentos da
comunidade’.
* Colaborou Katherine Funke’
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Folha de S. Paulo
Segunda-feira, 26 de dezembro de 2005
GOVERNO ALCKMIN SOB SUSPEITA
Publicidade de banco estadual é investigada
‘O Ministério Público do Estado de São Paulo vai investigar a suspeita de
favorecimento, por meio da veiculação de publicidade da Nossa Caixa, a deputados
estaduais alinhados com o governador tucano Geraldo Alckmin.
O suposto esquema foi apontado em denúncia anônima ao procurador-geral de
Justiça, Rodrigo César Rebello Pinho, sobre irregularidades na publicidade do
único banco público estadual.
Durante um ano e nove meses, a Nossa Caixa operou com duas agências de
publicidade sem contrato firmado. Uma sindicância interna -aberta há cinco meses
pela direção do banco- ainda não apontou os responsáveis pela situação irregular
dos contratos com as agências Colucci & Associados Propaganda Ltda. e a Full
Jazz Comunicação e Propaganda Ltda. Juntas, elas respondiam por uma conta de R$
28 milhões.
A denúncia recebida pelo Ministério Público sugere a investigação de dois
pontos: a) as agências sacariam dinheiro adiantado da verba de publicidade do
Estado; b) deputados alinhados com o governo paulista, ligados a revistas e a
emissoras de rádio e de TV, teriam sido beneficiados na distribuição de recursos
para publicidade do banco.
A instituição nega as práticas apontadas e refuta a suspeita de favorecimento
a parlamentares para reforçar o apoio a Alckmin. Mas não permitiu o acesso aos
documentos da sindicância.
O presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo Monteiro, diz que não recebeu
nenhuma solicitação do Palácio dos Bandeirantes para beneficiar parlamentares.
‘Eu recebo muitos deputados e prefeitos, mas a interferência do governador aqui
é zero’, afirmou.
‘Houve um desarranjo administrativo, isso não poderia acontecer. É uma
irregularidade formal séria’, disse Monteiro, ao comentar a questão dos
contratos. Ele afirmou que, ao tomar conhecimento da distorção, em junho, pediu
imediatamente uma auditoria interna para levantar os gastos de publicidade: ‘Não
há despesas não justificadas nem despesas acima dos padrões.’
Os contratos com as duas agências venceram em setembro de 2003. Até julho
último, quando suspendeu os serviços, o banco promoveu seus produtos, com a Full
Jazz, e sua imagem institucional, com a Colucci, sem a prorrogação formal dos
contratos e sem realizar uma nova licitação. Em junho, os serviços da Full Jazz
totalizaram R$ 1,5 milhão e os da Colucci, R$1,4 milhão.
A Colucci questiona na Justiça o rompimento e nega as acusações da denúncia.
A Full Jazz, procurada pela Folha, não se manifestou.
O procurador-geral Rebello Pinho confirmou que a denúncia foi distribuída à
Promotoria da Cidadania. O Ministério Público vai pedir informações à Nossa
Caixa e requisitar cópia da sindicância interna. ‘Ainda não dá para fazer nenhum
juízo de valor’, disse Rebello Pinho.
O Ministério Público Estadual foi alertado para a circunstância de que
Monteiro poderia estar agindo como investigador e investigado, pois foi
diretor-jurídico do banco, de janeiro a outubro de 2004, antes de assumir a
presidência. A informação anônima aos procuradores relata que o gerente de
Marketing da Nossa Caixa, Jaime de Castro Júnior, afastado do cargo por
Monteiro, teria avisado várias vezes o atual presidente e seu antecessor,
Valderi Frota de Albuquerque, de que os contratos estavam vencidos,
circunstância que teria sido ignorada por ambos.
‘Eu tento não interferir na sindicância, até porque ele [Castro Júnior] é
vinculado a mim’, diz Monteiro. A denúncia ao Ministério Público Estadual sugere
que o gerente de marketing poderá ser apontado como único responsável, espécie
de ‘bode expiatório’. O presidente da Nossa Caixa diz que aguarda o resultado da
sindicância. ‘Mas, aparentemente, a responsabilidade é dele, pois ele era o
gestor do contrato.’
Castro Júnior foi procurado pela Folha e se recusou a informar os argumentos
da defesa que ofereceu à comissão de sindicância. Albuquerque não foi
localizado.
Em 29 de junho, Monteiro distribuiu à diretoria circular sobre ‘fato grave
que está acontecendo em contratos de prestação de serviços cuja alçada é de
nossa diretoria’. No documento, relatou que recebera pedido para encontro com
Castro Júnior em um hotel. Disse que o gerente, acompanhado de uma funcionária,
estava ‘transtornado’ quando lhe informou que os contratos estavam vencidos e
que, ‘apesar das iniciativas para para sua prorrogação antes do vencimento’, os
atos formais não haviam sido adotados (‘submissão às alçadas competentes para
aprovação, formalização dos respectivos instrumentos, publicação, encaminhamento
ao TCE etc.’, revela o documento).
Monteiro pediu a presença no local de um diretor da Nossa Caixa. Dias depois,
afastou Castro Júnior e a funcionária, instituiu comissão de inquérito e
determinou suspender a prestação de serviços pelas agências e o pagamento de
serviços já prestados, até a realização de estudos. E mandou providenciar a
elaboração de edital para contratar novas agências, com recursos ampliados para
R$ 40 milhões (R$ 23 milhões para a publicidade comercial e R$ 17 milhões para a
publicidade institucional e legal).’
***
Agência e banco negam irregularidades
‘O diretor-presidente da Colucci & Associados, Oscar Colucci, 65, diz que
está processando a Nossa Caixa. ‘O contrato estava em vigor e valia por 60
meses. O [Carlos Eduardo] Monteiro [presidente do banco] me chamou e disse que o
contrato estava terminado. Não deu o prazo de 60 dias a que tínhamos
direito.’
Colucci nega que tenha favorecido publicações ou programas de parlamentares
afinados com o Palácio dos Bandeirantes. ‘Tudo que a Colucci fez em termos de
publicação sempre foi em veículos como a TV Globo, Bandeirantes, na mídia
tradicional’, diz.
Colucci e Carlos Eduardo Monteiro, da Nossa Caixa, negam que as agências
tenham feito saques adiantados com base em créditos futuros, como consta na
denúncia ao Ministério Público Estadual.
O publicitário diz que atende a Nossa Caixa há nove anos. A primeira
contratação foi na gestão do presidente Geraldo Gardenalli, no governo Mario
Covas. Diz que o governo Geraldo Alckmin nunca lhe pediu nada. ‘Nunca recebi
pedido para favorecer alguém. As campanhas eram feitas de acordo com as
necessidades’, diz.
Colucci confirma que depôs na comissão de sindicância: ‘Fomos lá, prestar
depoimento, com um um advogado, na maior boa vontade’, disse. O publicitário
disse que avisou a Nossa Caixa do vencimento do contrato.
Carlos Eduardo Monteiro diz que o banco enviou cartas às agências informando
o interesse em renovar os contratos.
Monteiro diz que as duas agências foram contratadas em 2002. ‘Eu só vim para
cá em 2003 e só vim a saber neste ano que o contrato não havia sido assinado. Se
fosse numa empresa privada, não haveria problema nenhum. Imediatamente, suspendi
a prestação de serviços, comuniquei ao Tribunal de Contas do Estado e acelerei a
publicação do novo edital.’
Monteiro afirma que a auditoria interna foi determinada pelo secretário
estadual da Fazenda, Eduardo Guardia, presidente do Conselho de Administração da
Nossa Caixa. ‘A auditoria não localizou nenhum pagamento fora do padrão’,
diz.
Monteiro cita pareceres da Procuradoria Geral do Estado aceitando a
prorrogação informal. ‘A simples permanência dos contratos em vigor indica a
vontade das partes de permanecer com os contratos de prestação de serviços. Mais
conservador, fiz nova licitação e fiquei sem agência desde junho’,
afirma.’
Marcelo Ninio
Bush anestesiou imprensa e anulou oposição, diz escritor
‘Não foi um ano fácil para o jornal mais influente do mundo. Em outubro, o
‘New York Times’ foi obrigado a admitir falhas na condução do ruidoso escândalo
de vazamento de informações do governo Bush, que expôs a identidade de uma
agente da CIA e levou uma de suas principais repórteres, Judith Miller, a passar
85 dias presa por não revelar sua fonte.
Miller já fora pivô de outro embaraço para o jornal ao escrever reportagens
que reforçaram a tese, mais tarde desmentida, de que Saddam Hussein tinha armas
de destruição de massa, usada pelos EUA para invadir o Iraque.
Para o escritor e jornalista americano Gay Talese, autor daquela que é
considerada a história definitiva do ‘New York Times’, Miller é apenas o símbolo
de uma série de fracassos éticos e administrativos que contaminaram boa parte da
imprensa americana.
Nascido em 1932 na pequena ilha de Ocean City, Nova Jersey, Talese foi um dos
fundadores na década de 60 da vertente conhecida como ‘New Journalism’, que usa
a narrativa literária em textos não-ficcionais.
Em entrevista à Folha, Talese foi impiedoso com a imprensa e os políticos de
seu país, ‘vítima de sua própria propaganda’. Um dia após a entrevista, o
‘Times’ denunciou a prática de grampos ilegais do governo Bush e admitiu que
segurou a notícia por um ano a pedido da Casa Branca, em mais um capítulo da
intrincada relação entre mídia e poder. Leia a seguir trechos da entrevista.
Folha – Seu livro sobre o ‘New York Times’ aborda amplamente a relação entre
mídia e poder. Como o sr. vê a relação do jornal com o governo desde o 11 de
Setembro?
Gay Talese – A cobertura da guerra e do período que a antecedeu no ‘Times’ é
tão enganosa quanto o governo de que ela trata. O incidente Judith Miller é
embaraçoso por reafirmar que repórteres em Washington às vezes ficam próximos
demais do poder. O ‘Times’ e outros grandes jornais freqüentemente enamoram-se
de seu acesso ao poder e, sem sentir, viram apologistas dos órgãos do governo.
Os editores buscaram se dissociar do que, inadvertidamente ou
preconceituosamente, Miller escreveu, tornando-se porta-voz de neoconservadores
ansiosos para invadir o Iraque. Mas ela não publicou seus artigos, só os
escreveu. A culpa deve ir para o alto, inclusive para o próprio [Arthur]
Sulzberger, publisher e dono do jornal. Fizeram de Miller um símbolo, mas há
muitos outros que poderiam ter servido como estratégia do ‘Times’ para sair do
dilema de estar lado a lado com o governo, com a gangue de Bush. O ‘Times’ ama o
poder e tem muitas coisas que podem ser usadas pelo governo, muito mais do que
gostaria de admitir.
Folha – Qual foi o maior pecado do jornal?
Talese – Há alguns meses, participei de um debate com Sulzberger e disse a
ele que o jornal cometeu um erro ao permitir que seus repórteres ficassem
‘embutidos’ nas tropas americanas na invasão do Iraque. Quando se permite que
jornalistas fiquem em tanques e tenham acesso a soldados, eles viram parte da
missão. Ficam próximos demais dos que estão no Iraque para defender a política
de Bush. E a informação que obtêm assim é irrelevante. O problema é estratégico:
o ‘Times’ deixou de ser objetivo por estar próximo demais do governo Bush.
Folha – O sr. diz que os erros do ‘Times’ podem ter sido fruto de
preconceito. De que tipo?
Talese – Após o 11 de Setembro, o país entrou num clima de vigilância, de
vingança, para usar um termo da época, de ‘choque e horror’. A política externa
americana é influenciada pelos neoconservadores, não é segredo. Muitos
jornalistas tinham acesso a eles porque compartilhavam as percepções da Casa
Branca de Bush, delegando a si próprio a tarefa de apoiar a guerra, embora, como
jornalistas, devessem se dissociar de qualquer coisa ligada à propaganda do
governo. Mas isso é difícil para jornalistas que amam o poder. Eles gostam de
ter ‘fontes’, um termo ridículo. Estou feliz de ver que algumas das fontes estão
sendo identificadas, embora ainda não na medida em que eu gostaria. Todas
deveriam ser identificadas, pois informação obtida de fontes que não querem se
identificar geralmente é fornecida para reforçar uma posição e minar outra. É
simplesmente lixo.
Folha – O sr. faz parte de uma minoria: os jornalistas americanos em geral
consideram sagrado o direito de não revelar suas fontes, não é?
Talese – Penso o contrário: as fontes devem ser expostas. No meu trabalho,
sempre dei nome às fontes. E jamais aceitaria uma informação sob a condição de
não dizer ao leitor quem é minha fonte. Alguns repórteres ficaram preguiçosos
porque estão em Washington há tempos. Há repórteres demais em Washington. São
como pássaros bicando a mesma informação. Comem, mastigam, cospem, engolem de
novo.
Folha – O lema do ‘New York Times’, considerado o melhor jornal do mundo, é:
‘All the news that’s fit to print’ (todas as notícias que cabem ser publicadas).
Em quanto do que lê hoje no jornal o sr. crê?
Talese – Não acredito em nada do que vem de Washington. Acredito na seção de
esportes, a única parte honesta, e nos resultados do futebol. Também se pode
acreditar na programação da televisão e na previsão do tempo, mas nem sempre. Os
jornais estão preocupados com a sua sobrevivência. E com razão, pois o produto
que vendem é muito ruim. Se a família Sulzberger gerisse a GM ou a Sony, os
conselhos de administração já teriam se livrado dela.
Folha – Isso é fruto de incompetência ou de uma agenda política?
Talese – O ‘Times’ enamorou-se do poder. Os jornais sempre dizem que mantêm a
publicidade separada da Redação, mas num país que tem um presidente
poderosíssimo, como Bush, os publicitários acham que o que é bom para os
negócios é bom para o governo e vice-versa. Há uma aliança. Quem escreve algo
antipatriótico fica em desvantagem.
Folha – A caça às bruxas está de volta aos EUA?
Talese – Hoje em dia, há uma certa caça às bruxas no país sobre ser desleal.
Então, o que os americanos fazem? Colam adesivos nos carros de apoio às nossas
tropas. Mas a maioria dos americanos não é afetada pela guerra. Quem é afetado
são jovens que não têm dinheiro para ir à faculdade. Alistam-se no Exército
porque as oportunidades econômicas são miseráveis. Poucos no poder têm filhos no
Exército. Ao menos no Vietnã havia filhos de gente poderosa, de senadores, de
reitores de universidades. Eles estavam lá porque havia o alistamento
obrigatório. Os protestos contra a guerra eram liderados por estudantes que não
queriam ir para o front. Mas eles também tinham parentes com poder. Hoje quem
está no Exército são os desafortunados, os devedores. Gente que se alistou na
Guarda Nacional porque ganhava US$ 200 (cerca de R$ 460) por mês e precisava de
um complemento no orçamento. São todos voluntários. Eu sou a favor do
alistamento obrigatório. As pessoas continuam morrendo, mas a maioria dos
americanos não é afetada, pois os ‘grandes’ estão ganhando, faturando. Não sei
quanto isso vai durar, mas as pessoas não estão se rebelando. No jornalismo,
jamais houve rebelião, no Congresso, também não. Hillary Clinton e os democratas
jamais protestaram contra essa guerra. Eles temem ser rotulados de
antiamericanos, antipatriotas. Nossa nação se tornou vítima de sua própria
propaganda. Não há dissensão. Nós nos tornamos vítimas de uma farsa, de um
governo que enganou o povo e a imprensa sobre as armas de destruição em massa no
Iraque e a ligação entre Saddam Hussein e a Al Qaeda. Mas os jornalistas e donos
dos veículos de mídia que se importam com a verdade deveriam ter checado, não
poderiam ter acreditado nas mentiras do governo Bush.
Folha – Agora eles estão bem mais desconfiados, não é?
Talese – Mas quem se importa agora? Deveriam ter checado as informações três
anos atrás. Agora há todos esses mortos e feridos. Se tivesse havido alguma
reportagem investigativa na época, se os jornais não tivessem permitido que a
propaganda do governo fosse tão eficaz, talvez as coisas tivessem sido
diferentes. O problema real é que o jornalismo fracassou. O governo mentiu e
fracassou. É uma mancha para a história do jornalismo.
Folha – Há hoje nos EUA algum foco de dissensão?
Talese – Não. Não há voz que possa competir com a Casa Branca de Bush. Eles
têm [a secretária de Estado] Condoleezza Rice. Ninguém grita mais alto do que
essa mulher. Ninguém é melhor na televisão do que [o secretário da Defesa,
Donald] Rumsfeld. Ele devora qualquer jornalista. [O vice-presidente Dick]
Cheney também. Não há ninguém forte o suficiente para fazer frente a eles. Essas
pessoas sabem como usar a palavra. Eles seqüestraram a palavra. Seu uso da
linguagem é tão eficiente que dão a impressão de que a guerra é justificada.
Folha – Como isso funciona?
Talese – É como a grande igreja medieval, que intimidava os dirigentes
seculares da Europa. Os grandes papas tinham um jeito de tornar sua mensagem tão
profunda e sagaz que qualquer um que discordasse era infiel, era o demônio. Era
o bem contra o mal, exatamente como temos hoje nos EUA, com mocinhos e bandidos.
Isso é cômico, é como uma criança lendo história em quadrinhos: o mocinho de
chapéu branco e o bandido de chapéu preto. Sua mensagem é clara e simples e por
isso sempre prevalece.
Folha – O sr. diz que não há oposição hoje nos EUA. Por quê?
Talese – Temos uma Presidência imperial, que cooptou a linguagem e o conceito
de patriotismo de tal maneira que uma das únicas pessoas que representam a
tradição de justiça e liberdade de pensamento dos EUA, Ramsey Clark
[ex-secretário de Justiça dos EUA], é vilificado por defender Saddam Hussein em
seu julgamento. Não estamos dando um julgamento justo a ninguém. É uma
piada.
Folha – A oposição doméstica é fraca, mas a internacional persiste. Isso não
tem influência?
Talese – Essa oposição também foi minimizada, silenciada, trivializada. Como
disse Rumsfeld, é a ‘velha Europa’. O único país que faz frente aos EUA é a
China, que também começa a ser vilificada.
Folha – Por que a qualidade da imprensa caiu nos EUA?
Talese – Os jornalistas hoje têm muito mais estudo. Sua educação é melhor,
freqüentam as melhores faculdades. Isso os fez ficar mais parecidos com as
pessoas que estão no poder. Quando eu era jovem, era diferente. Todas as pessoas
com as quais eu trabalhei quando comecei no ‘New York Times’ eram das camadas
mais baixas. Não vínhamos das escolas de elite, éramos ‘outsiders’, víamos o
mundo com ceticismo.
Folha – O sr. ainda se considera um ‘outsider’?
Talese – Sim. Eu jamais seria um ‘embutido’.
Leia a íntegra em
http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u90877.shtml’
TELEVISÃO
Minissérie usa filme para economizar ação
‘A minissérie ‘JK’, que estréia na Globo no dia 3, usará filmes de época do
primeiro ao último capítulo. O recurso não servirá apenas para dar credibilidade
à narrativa ou ilustrar passagens históricas. Servirá também para a Globo
economizar com atores e com elenco, segundo os autores da minissérie.
Com tratamento de superprodução, ‘JK’ tem 110 atores no elenco fixo e mais 90
participações especiais (como Raul Cortez, que aparecerá em três capítulos),
além de centenas de figurantes.
Com um elenco desse tamanho, a direção artística barrou a escalação de mais
atores para interpretar personagens que teriam participação pequena. A solução
foi usar filmes, principalmente documentários feitos a partir de 1945.
‘O filme documental também será fundamental para economizar ação. Hoje, falta
lugar para se gravar cenas com bondes. Não temos mais os veículos, as armas [do
início do século 20]’, diz Maria Adelaide Amaral, co-autora.
Alcides Nogueira, também autor de ‘JK’, diz que serão usados filmes do início
do século 20, como um que retrata a gripe espanhola. O material receberá
tratamento de computação gráfica. Haverá também material de televisão, a partir
dos anos 60.
Filmes dos anos 50 e 60 registrarão transformações culturais e de costumes. O
clássico ‘Rio 40 Graus’ (1955) aparecerá sendo visto nos cinemas para ilustrar o
surgimento do cinema novo.
OUTRO CANAL
Lipoaspiração O contrato de Gugu Liberato, que vence em abril, será renovado.
Mas executivos do SBT querem tirar alguns privilégios do apresentador. Dizem que
será inevitável uma redução nos rendimentos de Liberato, por meio de corte em
sua cota de publicidade. Afinal, a audiência do ‘Domingo Legal’ caiu nos últimos
dois anos, após ‘entrevista’ com falsos membros do PCC.
Cofre O Unibanco vai investir em transmissões esportivas no ano que vem. O
banco comprou uma das cotas de patrocínio do futebol da Record (a R$ 22,5
milhões cada uma na tabela) e se juntará a Ambev, Casas Bahia, Ford e Petrobras
nos intervalos da rede.
Campainha A Globo vai licenciar em 2006 temas musicais de seus programas para
a venda como ringtones (campainhas de celular). Mas estuda o caso com cuidado.
Não quer que a vinheta do plantão de jornalismo ou do ‘Fantástico’, por exemplo,
se vulgarizem.
Película 1 Autor de ‘Belíssima’, Sílvio de Abreu desistiu de inserir pequenos
trechos de clássicos do cinema na novela, ilustrando citações do cinéfilo Gigi
(Pedro Paulo Rangel), o que seria didático.
Película 2 ‘Infelizmente, não conseguimos liberação de nenhuma distribuidora.
Nem mesmo da Atlântida, onde fiz o documentário ‘Assim Era a Atlântida’, em
1972, e me contentaria em poder usar cenas desse meu trabalho’, lamenta
Abreu.’
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O Globo
Segunda-feira, 26 de dezembro de 2005
LA NACIÓN
Jornal argentino ‘La Nación’ lança revista
‘Do La Nación/GDA – O Grupo de Revistas La Nación, do jornal argentino do
mesmo nome, decidiu ocupar na América Latina o nicho de publicações voltadas
para o público masculino de alto poder aquisitivo. A revista ‘Brando’, lançada
há uma semana em Miami, segue os passos das americanas ‘GQ’, ‘Esquire’ e ‘Vanity
Fair’.
O lançamento foi no hotel Ritz Carlton de Coconut Grove, em Miami, com a
presença dos principais representantes de empresas, agências de publicidade e
órgãos de mídia da região.
O alvo da ‘Brando’, a exemplo das revistas americanas, é um público
masculino, urbano e de alto poder aquisitivo. Mas a publicação, que será mensal,
não deixará de lado temas da atualidade, ligados a política, negócios,
gastronomia e moda.
No lançamento, Guillermo Oliveto, presidente do Grupo CCR, de mídia e
publicidade, disse que as mudanças no comportamento dos consumidores
latino-americanos – resultantes da difusão tecnológica e da crise de valores –
abrem novas oportunidades de negócios.
(*) O jornal faz parte do Grupo de Diarios América’
DANUZA NA TV
DR na TV
‘Do outro lado da linha está Danuza Leão, uma mulher que todos conhecem,
dispensa apresentação e meus elogios – mas eu não resisto. De longe, revelada
aos leitores no texto primoroso das páginas de livros e jornais, ela é das
personalidades mais sensíveis do país. De perto, como agora ao telefone, Danuza
consegue juntar a elegância notória com humor sapeca. É bom exemplo disso o que
está dizendo do outro lado da linha essa mulher que sempre anunciou a nova linha
do comportamento feminino. Eternamente inquieta, Danuza vem agora com mais uma.
‘O que você está pensando, Joaquim, eu sou uma moça fina’.
Danuza Leão é obviamente uma das moças mais finas da História do país e
estava com uma blusa mais ainda, dias atrás, quando participamos do programa
‘Dois a um’, da Mônica Waldvogel, no SBT. Por baixo do quase nada, antena
finíssima que a autora de ‘Quase tudo’ tem para a compreensão dos tempos
modernos, havia menos ainda. Eu, pouco fino que sou, tamancos sempre prontos
para observar o que me vai ao lado, registrei no jornal. Fi-lo com alegria.
Comentei com os leitores que assim se avaliava tamanha dama, e não só pelo
que se podia ver com o sucesso de seu livro de memórias. Danuza Leão, uma das
mulheres mais interessantes de todos os tempos, ainda estava podendo geral. Ela,
para sempre moça na glória dos eternos 35 anos com que vê o mundo, evidentemente
a-do-rou a nota. Agora está ao telefone para desejar Feliz Ano Novo – e
aproveita para fingir beicinho. Faz charminho de moça fina que não havia
percebido estar quase tudo tão evidente na tela da TV.
Tranqüilizei-a.
‘Eu se pudesse, se o dinheiro desse, e não tão imbuído da condição macha
estivesse, eu faria o mesmo’, comentei. ‘Eu também só usaria transparências.
Aproveita a graça divina e boas-festas, querida’.
O programa do SBT eu preferi não ver. Cansei de implicar com a voz fanhosa, o
semblante compenetrado, a desinteligência dos verbos quando eles precisam sair
de primeira e o volume do nariz, esses disparates que me permeiam o perfil e não
há Pitanguy que lhes corrija a caligrafia. Preferi acabar o ano pacificado, cego
e surdo às minhas incongruências, até certo ponto feliz com o que elas
recolheram em 2005. Desliguei a TV. Fui ler Raymond Chandler para ver se em 2006
consigo períodos mais curtos com menos vírgulas no caminho. Um ano em que o
ponto no texto chegue rápido e nunca mais três linhas depois, que ninguém tem
fôlego e concentração para tanto.
O programa foi um papo entre velhos amigos, conduzido pela doce objetividade
jornalística da Mônica. Deve ter ficado bom. Afinal, Danuza Leão disse pela
primeira vez na TV que seu casamento com Antônio Maria tinha sido uma prisão.
Uma gaiola. Lamentei apenas não estar mais preparado para a conversa que se
seguiu, um assunto em que Danuza e Mônica, moças finas – já que estamos no fim
de ano e eu gastei todos os adjetivos nos textos da temporada, me permitam a
repetição pela décima vez – moças finíssimas, são mestras: a etapa da DR. A
necessidade de discutir a relação.
Perguntado por que são as mulheres que sempre começam a discutir a quantas
anda a problemática do casal, tartamudeei. Arrisquei no máximo que os homens
nunca se acham os responsáveis pelos problemas da vida a dois. Seria uma
insegurança da alma fêmea – e fiz um ponto. Achei que poderia ter soado machista
e tirei qualquer outra frase de campo. Calei. Deixei no ar aquele silêncio de
profunda inteligência.
O Antônio Maria de Danuza fazia nos jornais do Rio, entre outras peraltices
geniais, uma coluna de correio sentimental. Professorava sobre as questões do
embate amoroso, principalmente naquele trecho em que a vida deixa de ser o
pega-pra-capá das mãos desgovernadas e vira o dedo em riste das acusações: onde
está a atenção que você me dava no início do namoro, cadê o telefonema no meio
da tarde, onde foi parar o cinema de mão dada, por que você cortou o ‘meu amor’
no fim das frases, não me põe mais o olho no olho sobre a mesa do restaurante,
sonega o beijo de boa-noite e tira o corpo fora quando chamo para dormir em
conchinha? Responde, vai. Todo mundo no escritório notou, menos você. O cabelo
comprido na cintura tinha sido cortado pela manhã e agora estava ao estilo
taradinha da Jean Seberg, deixando o cangote nu para as mordidas que,
infelizmente, pareciam com o mesmo destino do trem do Pedro Pedreiro: que não
vêm, que não vêm, que não vêm…
Discutir a relação está para as mulheres assim como o críquete para os
ingleses – são esportes comuns à raça. Não lhes entendo a regra, e parece que
ninguém mais. Um cronista de jornal, pela necessidade de preencher meia página
de conversa fiada, mete-se em sugerir sabedorias tão largas, distribui pitacos
sobre tantos assuntos, que parece ter uma banquinha de vendem-se conhecimentos o
dia inteiro aberta para atender os que ignoram. Sorry . O que leva as mulheres a
se excitarem com uma DR de madrugada é um daqueles muitos assuntos que, foi maus
, cai a máscara do farsante, nada sei.
As leitoras escreviam para Maria queixando-se que faziam de tudo, davam de
comer na boca aos seus amados, e eles só retribuíam com descaso. Não eram
exatamente homens, mas araras. Maria, nem aí para a seriedade que as mulheres
empregavam nas queixas à redação, pedia que elas procurassem entender. Amor não
é escambo. Não se troca uma janta quentinha assim que o macho chega do trabalho
por um ‘vamos ao cinema, meu bem’ depois. Uma mulher deve se admitir regiamente
recompensada com aquele amolecimento, aquela febre palustre que desfalece os
sentidos e escurece a visão quando o macho amado entra na zona de alcance do seu
radar.
Danuza, como já se viu nas suas memórias, não concorda com Maria quando ele
se mexe pela grande área do amor. Agora chegou a vez de provocar Waldvogel com
essa história de desfalecimento e febre palustre publicada na crônica ‘Amor e
torresmos’. Já ouço o telefone tocar. Do outro lado da linha, o doce sotaque
paulista abre o verbo com todo aquele som delicioso da Ipiranga com São João e
diz, esse homem-arara não morre?, que também discorda. Mônica, aposto e lhe
serei todo silencioso ouvido, vai querer discutir os caminhos da
relação.’
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O Estado de S. Paulo
Segunda-feira, 26 de dezembro de 2005
MERCADO EDITORIAL
Expectativa dos jornais é ter circulação 5% maior em 2006
‘O grande desafio dos jornais é conquistar 50% da população brasileira que
ainda não tem o hábito da leitura diária e buscar, mesmo que via internet, os
jovens. Só assim o meio de comunicação continuará registrando crescimento como
ocorreu em 2005. Conforme indicam as primeiras projeções para 2006, o meio
deverá crescer pelo menos 5%, segundo o presidente da Associação Nacional de
Jornais (ANJ) e do Grupo RBS, Nelson Sirotsky.
Este ano, o crescimento da circulação foi de 4%, sendo que os veículos
auditados pelo Instituto Verificador da Circulação (IVC) registraram crescimento
de 5% em tiragem até novembro. ‘São números que expressam otimismo’. Mais:
mostram que a crise enfrentada pelos jornais entre 1999 e 2003 é hoje uma página
virada.
Sirotsky identifica três grandes acontecimentos que vão ter peso no
crescimento no próximo ano e que podem reforçar a venda e a receita dos jornais:
carnaval, Copa do Mundo e eleições. ‘O carnaval, felizmente, é no final de
fevereiro e a ele se seguirão as ações da Copa a partir de março. Logo após o
torneio, começa a disputa eleitoral.’ Para ele, num cenário que se espera de
crescimento econômico, tudo isso contribui para o aumento da receita e pela
busca maior de informação.
O empresário está convencido de que, aliado à internet, para oferecer
informação em tempo real, as empresas que editam jornais – o do grupo RBS é o
Zero Hora -, têm tudo para conquistar novos leitores e reforçar os seus laços
com as coberturas da Copa na Alemanha e das eleições. Dos leitores de jornais,
somente 1% os lêem pela internet. Sirotsky lança mão de números para dar a
dimensão do mercado brasileiro de jornais. São 6,5 milhões de exemplares diários
de 529 títulos, entre os quais se incluem também os semanais, quinzenais e
mensais.
‘Há um grande mercado a ser explorado e a economia tem grande impacto nos
negócios, tanto na publicidade como na venda em banca. Se há crescimento, os
jornais acompanham’, diz Sirotsky. A previsão dele é de que o meio encerre o ano
com 4% de crescimento em relação a 2004. A principal conquista, porém, é o
avanço em pesquisas de opinião da credibilidade de que desfrutam os jornais
junto à população, o que reforça a escolha do meio pelo leitor e pela
publicidade.
Em pesquisa do Ibope, os jornais só perdem para os médicos (85%) e as Forças
Armadas (75%), mas em 74% das indicações de múltipla escolha, os jornais estão à
frente da Igreja Católica (73%), das rádios (63%), da televisão (61%) e dos
empresários (52%).
Sirotsky também está convencido de que a participação dos jornais no bolo
publicitário é maior que a detectada pela pesquisa Ibope/Intermeios, que dá
conta de uma participação de 17%. ‘Esse porcentual é de 25%, conforme apontou o
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que consolidou o
resultado de 204 empresas, enquanto a pesquisa Ibope/Intermeios toma como
referência apenas as 48 maiores do segmento’.
Pelo IBGE, a receita obtida pelos jornais no ano passado foi de R$ 2,9
bilhões. ‘É importante realçar este número porque ele é bem mais próximo da
realidade e mostra que a importância dos jornais para a construção de marcas e a
prestação de serviços por parte de empresas’, diz Sirotsky.
A pesquisa Ibope, intitulada A diferença do jornal na vida dos brasileiros,
mostrou ainda que os que lêem jornais arrumam empregos melhores, disputam cargos
e influenciam na vida política, além de serem mais conscientes do seu papel de
cidadão. ‘Tudo isso reforça a importância do meio para a comunicação das
empresas.’ Os números do Ibope no primeiro semestre de 2005 mostram que, de um
total de R$ 15,4 bilhões investidos em comunicação (o instituto leva em conta o
valor de tabela dos meios de comunicação sem considerar descontos que chegam, na
média, a 40%), o meio jornal ficou com fatia de 33%. A televisão lidera com 49%,
enquanto as revistas ficam com 9%, a televisão por assinatura com 6% e as rádios
com 3%. O importante é que, no mesmo período de 2004, o investimento era de R$
12,8 bilhões.
‘O problema é que o último trimestre deste ano foi de grande retração e isso
influi na propaganda e no investimento do brasileiro em leitura. A torcida fica
para 2006, com Copa e eleições’, espera o empresário.’
TELEVISÃO
Globo coloca no ar a série ‘Lost’
‘A Globo adquiriu duas das séries de maior sucesso nos Estados Unidos e na TV
paga brasileira para substituir Jô Soares de janeiro até março. A primeira a
chegar é a quarta temporada de 24 Horas e a segunda, a sensação Lost.
A mais recente temporada de 24 Horas – que já foi exibida no canal Fox –
estreará logo no dia 2 e será apresentada diariamente após o Jornal da Globo. O
quarto ano traz o agente Jack Bauer (Kiefer Sutherland) em mais uma empreitada
antiterrorismo. Desta vez, Jack está cuidando da segurança do secretário de
Defesa dos Estados Unidos, James Heller, e ainda está envolvido com sua filha
Audrey. Porém, Jack não consegue ficar muito tempo longe da CTU, a unidade
antiterrorismo porque seu chefe e sua namorada são seqüestrados.
MISTÉRIOS
24 Horas será substituída por Lost, que entrará no ar no dia 5 de fevereiro,
no Domingo Maior. O episódio-piloto, com duas horas de duração, mostra o início
do mistério televisivo que mais possui teorias na internet. Explico: Lost começa
com um acidente aéreo que deixa poucos sobreviventes em uma ilha aparentemente
deserta. Aos poucos, o telespectador começa a conhecer superficialmente os
personagens.
Com o passar dos capítulos, o público passa a entrar na vida desses
protagonistas por meio de flash-backs que os retratam antes do acidente – ou
seria um atentado? Um médico, um prisioneiro, uma grávida, um veterano de
guerra, um azarado, um viciado… Todos querem ser resgatados, mas a ilha guarda
muitos segredos e não deixará que eles saiam tão facilmente.
Para desvendar a vida dos personagens e conhecer algumas teorias sobre a ilha
misteriosa, visite o site www.oceanic-air.com.’
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