Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Direto da Redação

CUBA
Antonio Tozzi

Imprensa contra Fidel, 18/09/06

“Um dia após o Brasil comemorar sua independência, o Miami Herald – um dos mais conceituados jornais dos Estados Unidos – anunciou a demissão de dez jornalistas do grupo, inclusive alguns que atuavam no El Nuevo Herald, a versão em espanhol do matutino americano. Eles foram demitidos por Jesús Díaz Jr., presidente do The Miami Herald Media Co., por estarem confundindo jornalismo com propaganda.

De acordo com a confissão de Oscar Corral, ele e os outros jornalistas recebiam dinheiro do governo dos Estados Unidos para falar mal do regime castrista que governa Cuba. Nos jornais, os artigos não podiam ser muito tendenciosos, porque passam por revisão editorial. Entretanto, na Rádio e TV Marti – sustentáculo dos exilados cubanos em Miami – eles estavam livres para atacar Fidel Castro e todo o governo cubano.

Diante deste fato, Díaz Jr., também um cubano-americano, não hesitou e demitiu aqueles que vinham recebendo dinheiro para falar mal do regime que tantos exilados cubanos odeiam. Segundo ele, com toda razão, não se pode confundir jornalismo com propaganda. Portanto, não haveria condições para que os profissionais continuassem a trabalhar no grupo editorial.

O interessante é que muitos dos demitidos não admitiram sua culpa. Eles afirmaram que, desde o início, todos sabiam destes laços e, por isto, julgaram-se traídos por Corral e Díaz Jr. Na verdade, a atitude dos diretores foi plenamente coerente, porque não se pode compactuar com esta promiscuidade profissional.

Além do mais, este tipo de atitude serve para expor o governo americano, que vem usando artifícios pouco éticos para alimentar o ódio e o ressentimento dos exilados cubanos contra o governo da ilha, diminuindo consideravelmente as chances de se obter um diálogo mais proveitoso entre as duas partes. Sem contar que transforma o regime cubano em vítima, e enaltece ainda mais a figura de Fidel Castro.

As relações entre os dois países já se encontram tensas por conta do episódio Luiz Posadas Carilles, acusado pelo governo cubano de ter explodido um avião da Cubana de Aviación, em 1976, que provocou a morte de 73 pessoas, incluindo a equipe olímpica de esgrima de Cuba. O terrorista fugiu para a Venezuela, onde viveu, atuou na polícia política do país e foi preso. Fugiu do presídio venezuelano e foi para o Panamá, onde foi preso em 2000 por ter cometido um atentado contra o presidente Fidel Castro. Perdoado pela então presidente Mireya Moscoso em 2005, solicitou asilo nos Estados Unidos, onde se encontra atualmente. Tanto Cuba como Venezuela querem sua extradição, mas o governo americano não quer extraditá-lo porque os governantes destes dois países não figuram na lista dos amigos dos Estados Unidos.

Vale destacar que muitos leitores escreveram cartas indignadas acusando o Miami Herald de estar a serviço da ditadura comunista instalada em Cuba. E condenaram a atitude do jornal por interpretarem que a diretoria do jornal estaria defendendo o governo cubano. E os jornalistas nada mais estavam fazendo do que denunciar a ditadura cubana e exaltando os ideais democráticos presentes na nação americana. Ou seja, eles não querem isenção, mas, sim, querem ler, ouvir e assistir aquilo no qual acreditam. Como diria Raul Seixas, ‘têm aquela velha opinião formada sobre tudo’.

Mas se o leitor imagina que isto é um sintoma de como o governo americano joga sujo para corromper as pessoas e para comprar as consciências das pessoas está certo. O que não podemos esquecer é que, pelo menos, nos EUA estas coisas são denunciadas e vêm à tona. Em Cuba todos os órgãos de imprensa são controlados pelo governo e vivem sob censura permanente, enquanto as vozes dos opositores são abafadas e muitos padecem nas prisões cubanas simplesmente por ousarem discordar do regime.

Já outdoors comparando George Bush e Carriles a Hitler está liberado, como vimos nas imagens das TVs durante a Conferência dos Países Não Alinhados, que se realiza em Havana. Este encontro, na verdade, não passa de um disfarce para juntar inimigos dos Estados Unidos e para divulgar discursos antiamericanos.

(*) Sobre o autor: Foi repórter do Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo. Vive nos EUA desde 1996, onde foi editor na CBS Telenoticias Brasil e no canal de esportes PSN. Atualmente é editor da revista Latin Trade e do jornal AcheilUSA.”



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