‘Especialista em análise de pesquisas de opinião, o consultor Orjan Olsen acha que há uma supervalorização do grau de precisão que as amostras de tendências de votos têm em relação ao resultado final das eleições.
É isso, na visão dele, que faz discrepâncias normais serem classificadas como erros sem explicação. Para Olsen, aplicados os métodos corretos e abstraídas as hipóteses de manipulações criminosas, as diferenças são perfeitamente explicáveis.
‘Temos desde a mudança pura e simples de opinião até a definição dos indecisos, passando pela informação errada dada ao pesquisador. Tem gente que, sem saber o que dizer ou sem querer dizer o que pensa, diz qualquer coisa ao entrevistador.’
Considerando que a pesquisa é a fotografia do momento, Olsen faz um paralelo com a atividade fotográfica propriamente dita: ‘Na hora da foto o modelo pode virar o rosto, piscar o olho e isso muda a feição da imagem captada.’’
Carlos Chaparro
‘Na notícia, o sucesso dos conflitos’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 4/10/04
‘O XIS DA QUESTÃO – Em momentos agudos de conflito, como o das eleições que o Brasil atualmente realiza, o jornalismo cumpre o papel de linguagem merecedora de fé e de espaço público vinculado às razões éticas (valores) que dão perspectiva às sociedades politicamente organizadas. Quando ocorre o ápice dos conflitos -como nos grandes debates que quinta-feira passada encerraram a campanha – ou se materializam os acordos produzidos pela votação, é no espaço e na linguagem do jornalismo que o sucesso se dá. Porque no jornalismo se legitimam os conflitos discursivos da democracia.
1. Conflitos e acordos
Os debates eleitorais de quinta-feira passada (30 de setembro), pela Rede Globo, se constituíram o ápice de um certo momento de conflitos, em um cenário que poderíamos chamar de espaço político. Mas logo o conflito evoluiu para o acordo das urnas, e aí está a sabedoria do sistema.
O espaço político é, por natureza e definição, uma área de conflitos e acordos, sobre os quais se elaboram e desenvolvem as relações entre os agrupamentos adversários ou divergentes da democracia. E na dinâmica dessas relações se sustenta o sistema democrático, que, embora movido pela energia dos conflitos, se aperfeiçoa e avança nas conformações dos acordos. E porque assim é, contados os votos, os derrotados aceitam ser governados pelos vencedores.
Já houve tempo em que os embates retóricos dos conflitos políticos se davam na praça pública, em ações limitadas pelos curtos horizontes do espaço físico. Assim, para ampliar platéias e irradiar discursos, era preciso fazer comícios diários em locais diferentes. E de praça em praça, os candidatos consumiam energias e dinheiro em maratonas itinerantes de várias semanas, meses até.
Nos tempos de hoje, os candidatos passam mais tempo em estúdios de TV do que nas ruas. Com acesso legal a fantásticas tecnologias de difusão, e o apoio de especialistas em propaganda e marketing regiamente pagos, é pela mídia, principalmente a eletrônica, que alcançam e tentam convencer as multidões anônimas detentoras do poder do voto. Também vão às ruas, é certo, para comícios, carreatas e ações chamadas de ‘corpo-a corpo’. Mas sempre com câmeras e jornalistas atrás, porque a rua e os transeuntes servem apenas de ambientação para cenas e cenários do show propagandístico na TV e nos jornais.
2. Importância do jornalismo
Há, porém, limitações na linguagem e nas ações táticas da propaganda. Uma delas, creio que a maior de todas, a parcialidade de critérios e conteúdos, que acolhem e favorecem, apenas, informações e idéias convenientes ao interesse do candidato. Sem confrontações diretas e sem questionamentos de aferição.
Ora, nas democracias, o sistema propõe ao eleitorado o dever, e lhe garante o direito, de fazer escolhas – escolhas ideológicas, políticas, econômicas, culturais, éticas, religiosas etc.. Mas porque a propaganda, devido à parcialidade do discurso, tem o viés da suspeição, a racionalidade do sistema exige que do processo façam parte linguagens e mecanismos confiáveis, para que os conflitos se realizem com o sucesso que interessa à sociedade.
Aí entra o jornalismo. Em momentos agudos de conflito, o jornalismo se oferece como linguagem asseverativa, merecedora de fé, e como espaço público vinculado às razões éticas (valores) que balizam os conflitos e os acordos que dão perspectiva às sociedades politicamente organizadas.
Por isso, ao mesmo tempo que investem vigorosamente em propaganda, as forças partidárias oponentes se capacitam, também, para a utilização intensiva do jornalismo, para que o discurso partidário conquiste legitimidade e lugar próprio nos embates, ao longo das campanhas.
Assim, quando ocorre o ápice dos conflitos, como nos grandes debates que encerram as campanhas, é no espaço e na linguagem do jornalismo que eles se dão. Porque no jornalismo se legitimam, para a produção de efeitos, os conflitos discursivos da democracia.
Todos os que, direta ou indiretamente, participam do jornalismo (profissionais e fontes), assim como os sujeitos sociais que dele se beneficiam, têm o dever de zelar pela confiabilidade da linguagem jornalística. Para que a sociedade possa continuar a acreditar na notícia.
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Lembrando José Aparecido – Recebi com tristeza a notícia da morte do colega José Aparecido, aos 74 anos de idade. Trabalhei com ele na Folha, nos anos 60 do século passado. E o lembro aqui, em forma de homenagem à sua memória, porque guardo na lembrança o jeito operário do repórter de rua, teimoso e abnegado, que ele foi nessa época. Sem pretensões nem vaidades intelectuais, fazia o seu trabalho com exemplar responsabilidade e dedicação, virtudes que fazem falta à profissão. Depois, foi dirigente sindical atuante, no Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo, onde coordenou a Comissão de Ética e participou das comissões responsáveis pela organização e julgamento do Prêmio ‘Vladimir Herzog’. Viveu a última fase da vida em Presidente Epitácio, no interior de São Paulo, e lá faleceu, no dia 29 de setembro, vítima de câncer. Que descanse em paz.’
Uirá Machado
‘Marta e Serra terão 48 confrontos em debate’, copyright Folha de S. Paulo, 9/10/04
‘O primeiro debate entre Marta Suplicy (PT) e José Serra (PSDB) na campanha do segundo turno será realizado na próxima quinta-feira, dia 14. Pelas regras, os candidatos se enfrentarão 48 vezes diretamente, sem intervenção do mediador, e terão direito de resposta só em casos de ofensa moral.
‘Será o primeiro corpo-a-corpo seqüencial entre os dois candidatos na campanha. Depuramos as regras para atingirmos o objetivo de pôr um candidato contra o outro’, afirma Fernando Mitre, diretor de jornalismo da TV Bandeirantes, que transmitirá o debate a partir das 22h.
Em reunião com coordenadores das duas campanhas, ficou decidido que o debate terá cinco blocos. No primeiro deles, o mediador, Carlos Nascimento, fará uma pergunta de responsabilidade da produção. Cada candidato terá dois minutos para respondê-la.
Nos três blocos seguintes acontecerão os embates diretos. Em cada segmento, serão feitas duas perguntas por Marta, duas por Serra. Aquele que tiver sido questionado terá dois minutos para responder. Quem fizer a pergunta terá uma réplica, à qual se seguirá um tréplica -ambas de um minuto cada uma.
Ao final do quarto bloco, somadas as perguntas, respostas, réplicas e tréplicas, terão sido 24 oportunidades de enfrentamento direto para os candidatos. Ao todo, são 48 confrontos.
Em casos de ofensa moral -que serão decididos pelo mediador-, o agredido terá direito de resposta de um minuto.
No quinto e último bloco, o tucano e a petista terão dois minutos e meio cada um para fazer as considerações finais. Marta, que, segundo ficou definido em sorteio, responderá primeiro à pergunta inicial formulada pelo mediador, encerrará o debate.
Além da grande quantidade de falas dirigidas de um candidato ao seu adversário, o debate trará uma novidade: Marta e Serra usarão microfone de lapela (preso à roupa) e terão um espaço para, se quiserem, caminhar enquanto falam.’