Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Dow Jones recusa
oferta de US$ 5 bi


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 2 de maio de 2007


MEMÓRIA / OCTÁVIO FRIAS DE OLIVEIRA
Folha de S. Paulo, Painel do Leitor


Octavio Frias de Oliveira


‘‘Consternados pela perda irreparável de Octavio Frias de Oliveira, apresentamos sinceros pêsames extensivos a todos os familiares.’


FERNANDO HADDAD , ministro da Educação (Brasília, DF)


‘Quero trazer-lhes, por todos os meus, o profundo sentimento pela perda de Octavio Frias de Oliveira, fundador do jornalismo das liberdades entre nós, dentro de uma irrevogável maturação da consciência democrática do país. Seu reconhecimento nacional só sufraga a responsabilidade única da Folha pelo pluralismo e independência da informação brasileira. Volto o pensamento nesta hora para meu irmão dom Luciano, a quem a Folha emprestou condição tão fundamental para a melhor vigília de sua tarefa pastoral. Na expressão toda do pesar, meu e dos meus, com o abraço mais fundo.’


CANDIDO MENDES , membro da Academia Brasileira de Letras e da Comissão de Justiça e Paz (Rio de Janeiro, RJ)


‘Meus sentimentos para aquele que, com certeza, podemos considerar como um líder absoluto. Um cidadão sério. Um homem que além de contribuir para questões políticas e sociais teve muita influência na arte. Pois sabia valorizar e impulsionava o crescimento artístico no país. Sim, pois foi o principal responsável pela modernização da comunicação no país. Suas decisões foram sábias, tornando o seu meio de comunicação o mais importante do Brasil. Sentimos muito. O Brasil perde um dos maiores inovadores. Um democrata. Um homem completo que ficará na memória de todos os brasileiros.’


MARIA DELLA COSTA (São Paulo, SP)


‘A Academia Paulista de Letras se solidariza com a família e com o Grupo Folha diante do ingresso de Octavio Frias de Oliveira no panteão da história e se orgulha de haver outorgado ao polivalente brasileiro, no ano de 2006, a primeira versão de seu troféu ‘Luis Martins’, destinado a reverenciar os paradigmas da imprensa brasileira.’


JOSÉ RENATO NALINI , presidente da Academia Paulista de Letras (São Paulo, SP)


‘Quero apresentar meu profundo pesar pelo falecimento do grande jornalista Octavio Frias de Oliveira, um homem a quem devo minha carreira de colunista econômico neste grande veículo da imprensa brasileira que é a Folha. Com ele aprendi muito sobre a importância de participar da vida pública de nosso país, através das reflexões semanais neste órgão de nossa imprensa escrita, que venho fazendo desde 1979. O debate diário e plural sobre nossa sociedade vai sentir muito sua falta.’


LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS , economista (São Paulo, SP)


‘À família e a todos os amigos da Folha, a minha solidariedade. Frias foi um grande publisher e um grande brasileiro.’


JOÃO PAULO DOS REIS VELLOSO , presidente do Instituto Nacional de Altos Estudos (São Paulo, SP)


‘Recebi, com enorme pesar, a notícia do falecimento do doutor Octavio Frias de Oliveira, grande empreendedor e um dos principais responsáveis pela modernização da imprensa no país. Através de sua marcante atuação à frente do Grupo Folha, seu Frias também contribuiu de forma categórica com o processo de redemocratização do Brasil, hoje plenamente consolidado.’


PEDRO MOREIRA SALLES , presidente executivo do Unibanco (São Paulo, SP)


‘A morte do doutor Frias é uma grande perda não apenas para a família e para o Grupo Folha mas para todo o Brasil. O espírito empreendedor, a ousadia nos momentos mais difíceis de nosso país e a figura humana que aprendemos a admirar são marcas que o deixarão na história. A diretoria e os funcionários do Banco do Brasil lamentam e se solidarizam com toda a equipe do Grupo Folha.’


ANTONIO FRANCISCO DE LIMA NETO , presidente do Banco do Brasil (Brasília, DF)


‘O ‘sábio que vivia no 9º andar’ deixou lições para a vida toda. Meus sentimentos a toda a família Folha com a certeza de que suas lições de ética e jornalismo continuarão vivas nas páginas diárias desse grande jornal.’


AGNELO PACHECO , presidente da Agnelo Pacheco (São Paulo, SP)


‘O abraço solidário pela ocasião do desaparecimento desse homem, que, além da enorme sensibilidade política e social, teve o grande mérito de criar a Ilustrada, que muito tem batalhado pelas causas culturais.’


RUY OHTAKE , arquiteto (São Paulo, SP)


‘O Brasil perdeu um grande homem. Numa época em que rareiam as referências em todas as áreas, a democracia e o jornalismo tinham Octavio Frias de Oliveira.’


PEDRO SIMON , senador -PMDB-RS (Brasília, DF)


‘Em nome dos juízes federais, manifesto ao Grupo Folha e à família Frias o mais profundo pesar.’


WALTER NUNES DA SILVA JÚNIOR , presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil -Ajufe (Brasília, DF)


‘O dinamismo, a inteligência e a independência com que o senhor Octavio Frias de Oliveira conduziu suas atividades empresariais e jornalísticas são exemplos para todos os brasileiros. O Brasil perde um grande homem, mas sua obra certamente continuará no trabalho do grupo Folha.’


LUIZ SÉRGIO , deputado federal, líder do PT na Câmara (Brasília, DF)


‘Octavio Frias de Oliveira deixa um exemplo insuperável de dedicação à luta para a construção de um Brasil livre e desenvolvido, onde impere a decência e a justiça. A lembrança dele não deixará esmorecer aqueles que acreditam que esse é um sonho possível.’


ANTÔNIO CARLOS PANNUNZIO , deputado federal, líder do PSDB na Câmara (Brasília, DF)


‘A área da comunicação brasileira perdeu um homem à frente de seu tempo.’


MILTON LINHARES , conselheiro do Conselho Nacional de Educação-MEC (Brasília, DF)


‘A família Montoro lamenta a perda de Octavio Frias de Oliveira. Visionário, defensor da democracia e idealizador de um grupo de comunicação que, com isenção e responsabilidade, ganhou a confiança e o respeito dos brasileiros.’


RICARDO MONTORO , secretário municipal da Secretaria Especial para Participação e Parceria (São Paulo, SP)


‘A Embaixada da Federação da Rússia no Brasil expressa profundo pesar pelo falecimento do senhor Octavio Frias de Oliveira e transmite suas condolências a sua família e a seus colaboradores.’


VLADIMIR L. TYURDENEV , embaixador da Federação da Rússia no Brasil (Brasília, DF)’


Marcelo Coelho


Meu Frias


‘NÃO ENTENDO nada dos signos do zodíaco, mas sei que aos nascidos sob a influência de Saturno se atribui um temperamento melancólico, amigo da noite e da introspecção.


Deve haver um signo oposto para aquelas personalidades feitas de pura energia, que não vivem sem emiti-la por todos os poros, cujo poder de irradiação, por assim dizer, parece infinitamente superior às qualidades, que sempre me foram mais familiares, da absorção, da escuta e do silêncio.


Conhecer Octavio Frias de Oliveira foi, para mim, no começo, um choque térmico, diante do qual eu me encolhi com um misto de medo e desconfiança. Vindo de uma família de profissionais liberais, com boas tintas de esquerda no currículo, eu nunca tinha convivido com um empresário em carne e osso.


‘Seu’ Frias (chamá-lo de ‘sr. Frias’ me parece tão estranho quanto o ‘dr.’ que ele abominava) simplesmente não parava quieto. Enquanto todos nós, 50 anos mais moços do que ele, nos espalhávamos pelas poltronas (nunca muito confortáveis, é bom que se diga) do nono andar da Folha, ‘seu’ Frias ia de um lado para outro, com um aparelhinho preso à cintura. Era um ‘passômetro’, badulaque em voga naqueles meados da década de 80, destinado a medir a quilometragem percorrida pelo usuário ao longo do dia. Sem dúvida, ele batia seguidamente seus próprios recordes. Como a própria Folha, aliás, que ele nunca deixava descansar.


Todo funcionário há de preferir um chefe ordeiro, previsível, apegado à rotina. Isso era impossível no nono andar. Opiniões formadas e sacramentadas sobre um assunto eram reexaminadas e postas de cabeça para baixo num prazo vertiginoso, típico de uma personalidade em que se misturavam o máximo de mobilidade intuitiva e de obstinação ferrenha.


As convicções, entretanto, não mudavam: liberdade de mercado, justiça social, democracia e igualdade de direitos sempre foram pontos de honra do jornal e do seu ‘publisher’, que, entretanto, preferia ver o detalhe da circunstância concreta a obedecer preceitos abstratos. Como não apoiar o congelamento de preços, na emergência e no furor do Plano Cruzado, mesmo ferindo a doutrina liberal?


É que ‘seu’ Frias percebia antes de todos nós as mudanças na meteorologia econômica e política. O que tomávamos, às vezes, como o impulso de nos desconcertar não provinha dele, mas dos próprios fatos, naqueles anos de tumulto econômico e incerteza política. Alguns dias ele reservava especialmente para nos tirar da acomodação. Mostrava-se incontentável; lembro-me de um almoço em que me senti cutucado além da conta.


Reagi da maneira que conhecia naquele tempo: navegando impassível ao longo do dia, em pompas silenciosas de iceberg. Ele veio me procurar. Encurralou-me com os braços a um canto da parede, pedindo-me desculpas, com uma humildade inconcebível para um homem de 80 anos diante do menino que eu era, e do filho que, como me disse, eu lhe parecia ser.


Por alguma coincidência, as pessoas da Folha eram altíssimas naquele tempo. Bóris Casoy, antes que eu conhecesse o seu coração de criança, assustava-me pelo tamanho de urso. Carlos Eduardo Lins da Silva tinha o porte e o bigode de um oficial prussiano. O cortejo, a caminho dos almoços de sexta-feira, prosseguia com Carlos Brickmann e Adilson Laranjeira, colossais editores da ‘Folha da Tarde’.


‘Seu’ Frias era atarracado, compacto, inquieto e rápido. Gilberto Dimenstein rememorou com precisão, na segunda passada, o tipo de presença, quase anônima, que tinha o ‘publisher’ da Folha nos elevadores. Recordo-me de ver um funcionário da casa indicando a outro, por meio de sinais, que aquele era o patrão. ‘Seu’ Frias estava de costas também para mim, dando a ver uma particularidade física que me sensibilizava muito, não sei por quê: as pontas, muito aparadas, de seu cabelo branquíssimo. Lembravam-me, talvez, as suíças do tio Patinhas. Por frieza, orgulho, reserva, nunca tive o gesto de tocá-las, que ele compreenderia.


Mas quando ele virava de perfil eu via uma pele lacerada de rugas em todas as direções, entrecruzada de golpes fundíssimos. Talvez estivesse aí o segredo de sua mobilidade sem descanso, de seu sucesso como homem de ação: não importa o que tivesse acontecido, ele seguia em frente e só pensava no futuro. É o que a Folha tem de fazer agora.’


Elio Gaspari


A Octavio Frias ausente


‘Ele estranharia a contrariedade das pessoas diante da sua morte, aos 94 anos: ‘Achavam que eu viveria 940?’


TRANSCRIÇÃO dos sentimentos de Manuel Bandeira, em ‘A Mário de Andrade ausente’, escrito em 1945:


‘Anunciaram que você morreu./ Meus olhos, meus ouvidos testemunharam:/ A alma profunda, não./ Por isso não sinto agora a sua falta.


Sei bem que ela virá/ (Pela força persuasiva do tempo)./ Virá súbito um dia,/ Inadvertida para os demais./ Por exemplo, assim:/ À mesa conversarão de uma coisa e outra./ Uma palavra lançada à toa/ Baterá na franja dos lutos de sangue,/ Alguém perguntará em que estou pensando,/ Sorrirei sem dizer que em você/ Profundamente.


Mas agora não sinto a sua falta./ (É sempre assim quando o ausente/ Partiu sem se despedir:/ Você não se despediu.)


Você não morreu: ausentou-se./ Direi: Faz já tempo que ele não escreve./ Irei a São Paulo: você não virá ao meu hotel./ Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.


Saberei que não, você ausentou-se. Para outra vida?/ A vida é uma só. A sua continua./ Na vida que você viveu./ Por isso não sinto agora a sua falta.’


O signatário teve o convívio de Octavio Frias de Oliveira na sua sala da alameda Barão de Limeira, no centro velho de São Paulo. Ele ausentou-se numa tarde de domingo.


Frias fará falta aos poucos, mas para sempre. Com uma diferença, que ele corrigiria: ‘Nem eu sou o Mário de Andrade, nem você é o Manuel Bandeira’. Esse era Frias.


Ele ficaria encabulado com contrariedade das pessoas diante da sua morte, aos 94 anos: ‘Achavam que eu viveria 940?’ Levou a felicidade de uma vida bem vivida.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Dos EUA para a China


‘Ao vivo em sua Telesur, Hugo Chávez proclamou a Venezuela como ‘potência mundial do petróleo’ e, no final, falou dos acordos de energia com Lula e da ‘união da América Latina e Caribe’. A manchete da Folha Online noticiou o ‘controle total do petróleo’.


O ‘Wall Street Journal’ de ontem, num dos textos ‘mais populares’ no site, destacou ‘como Chávez visa enfraquecer os EUA’ ao nacionalizar as reservas e dar ‘preferência’ à China para as exportações. Saem as americanas Exxon e Chevron, ‘o velho’, e entram acordos com a chinesa CNPC e a brasileira Petrobras, ‘o novo’. O ‘WSJ’ diz que o movimento leva os EUA a depender ainda mais do petróleo do Oriente Médio.


GUERRA DE NERVOS


Folha Online, BBC Brasil e outros destacaram que Evo Morales adiou para hoje o anúncio do ‘controle total’ sobre gás e petróleo na Bolívia, deixando no ar o acordo a ser feito pelas refinarias da Petrobras. De todo modo, a estatal ‘não deve ser afetada diretamente’. O presidente boliviano, em seu discurso de 1º de Maio, até chamou o brasileiro de ‘meu amigo Lula’.


Mas ‘nos bastidores’ prosseguia a ‘guerra de nervos’.


FURACÕES E INTRIGAS


O chanceler da Venezuela esteve anteontem em Brasília e, segundo o venezuelano ‘El Universal’ e a agência espanhola Efe, saiu anunciando que seu país ‘vai comprar quase toda a produção [exportável] de etanol do Brasil’, para a mistura com gasolina.


O enviado também tratou de declarar, retoricamente, que Lula e Hugo Chávez compartilham ‘amizade pessoal e confiança política à prova de furacões, intrigas e mentiras’.


FIDEL E A COMIDA


O cubano Fidel Castro voltou a questionar o etanol e o Brasil na capa do ‘Granma’. O ditador, que ‘não foi ao 1º de Maio’, como destacou o ‘NYT’, diz que até ‘pessoas tradicionalmente amigas de Cuba’ andam confusas, que não tem ‘nada contra’ o Brasil nem quer ‘prejudicar o ingresso de moeda exterior no país’, mas não pode se calar diante da ‘tragédia mundial’.


No texto, pergunta se parte da soja não vai virar biodiesel. E afirma que pastos para gado já viram canaviais, no Brasil.


‘FREE CUBA’


A agência americana AP despachou ontem reportagem especial sobre o ‘modelo’ de etanol do Brasil. O Pró-Álcool da ‘Arábia Saudita do combustível renovável’ seria objeto de desejo dos EUA e de outros países latino-americanos. A maior curiosidade são as seguidas menções à ‘Cuba livre’, pós-Fidel, que poderia se tornar grande exportadora de etanol de cana aos EUA.


‘WSJ’, ‘NYT’, ‘FT’ E AS OFERTAS


As manifestações dos imigrantes ‘latinos’ logo ficaram para trás -e as manchetes dos sites de ‘WSJ’, ‘NYT’, ‘Washington Post’ e outros americanos foram para a oferta bilionária de compra do mesmo ‘WSJ’ pela News Corp. de Rupert Murdoch. Saiu, antes do próprio ‘WSJ’, na manchete do concorrente ‘Financial Times’, britânico.


Com o registro, também ecoado por toda parte, de que é mais um efeito dos crescentes problemas financeiros dos jornais americanos, diante da concorrência da internet, problemas que já ameaçaram o controle do ‘NYT’, dias antes. E que ameaçam também o ‘FT’, observa o ‘NYT’.’


MERCADO EDITORIAL / EUA
Folha de S. Paulo


News Corp. faz oferta de US$ 5 bi por Dow Jones


‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – A News Corp., empresa do bilionário australiano Rupert Murdoch, controladora do canal de TV Fox News e do ‘New York Post’, fez uma oferta não-solicitada de US$ 5 bilhões pela Dow Jones, que publica o ‘Wall Street Journal’.


A Dow Jones confirmou ontem ter recebido a oferta, mas, segundo a empresa, a família Bancroft, controladora da companhia, é contrária ao negócio. Murdoch respondeu dizendo que há ‘bastante tempo’ para mudar a opinião dos Bancroft.


‘É uma oferta generosa e nós somos o tipo de pessoa com as mesmas tradições que, no meu ponto de vista, mostram que seríamos ótimos guardiões para o jornal.’


Qualquer venda da Dow Jones requereria aprovação da família. Nos anos 80, a Dow Jones criou ações classe B com poder de voto dez vezes superior ao das ações ordinárias. Esse arranjo permite que os Bancroft mantenham o controle do grupo.


A aquisição da Dow Jones ampliaria o alcance da News Corp. nos segmentos de jornalismo de negócios e na mídia americana em geral. O ‘Wall Street Journal’ tem a segunda maior circulação entre os jornais americanos, com mais de 2 milhões de cópias ao dia, atrás do ‘USA Today’.


Além disso, a Dow Jones controla uma agência de notícias de ampla circulação e outros serviços de notícias de negócios. No ano passado, o faturamento do grupo foi de US$ 1,78 bilhão.


Com a notícia da oferta, as ações da Dow Jones subiram quase 55%. A News Corp. ofereceu US$ 60 em dinheiro por ação em circulação da Dow Jones, ágio muito elevado em relação ao preço de fechamento de US$ 36,33 que os papéis atingiram na segunda-feira. As transações com ações da Dow Jones foram suspensas por um breve período no pregão da Bolsa de Nova York, quando a cotação se aproximava dos US$ 58. Quando elas foram retomadas, na metade do dia, o preço caiu um pouco, mas se manteve acima dos US$ 54 e fechou a US$ 57,28.


A notícia causou efeitos em todo o setor de mídia ontem. As companhias de mídia registraram altas no pregão, e os papéis da Reuters, da Gannett e da New York Times Company registraram ganhos incomuns.


Murdoch já tinha planos ambiciosos para ampliar o segmento de jornalismo de negócios da News Corp. Em fevereiro, a News Corp. anunciou que estava levando adiante seus planos para estabelecer um canal de negócios para distribuição via TV a cabo. O canal, que deve iniciar suas transmissões no final do ano, terá a marca da Fox News.


Murdoch há anos deixou claro que gostaria de adquirir o ‘Wall Street Journal’. E, agora que a oferta da News Corp. foi revelada, outros interessados pelo jornal devem surgir. Mas a família Bancroft até agora não expressou interesse em vender a empresa, que está sob seu controle desde 1902.


No entanto, com a passagem dos anos, os membros da família reduziram seu envolvimento com a gestão da empresa. Três dos Bancroft são conselheiros do grupo, mas não há membros da família entre os executivos.


Não ficou claro, inicialmente, o que levou Murdoch a apresentar sua proposta agora. Ele já havia indicado interesse no passado, mas os Bancroft não quiseram vender. Dessa vez, ao oferecer ágio tão alto pela empresa, Murdoch pode estar tentando apresentar ao conselho uma oferta irresistível.


A oferta pela Dow Jones reflete em parte a crença de Murdoch em que combinar os ativos de mídia impressa e on-line com seus ativos no setor de televisão poderia se provar altamente valioso e competitivo. Tradução de PAULO MIGLIACCI’


TV NA WEB
Mariana Barros


Joost passará na internet a programação da CNN


‘Pelo andar da carruagem, seu próximo controle remoto será o mouse de seu computador.


Dando seqüência a uma série de novos serviços que misturam internet e televisão, ontem o Joost (www.joost.com), site que transmite filmes, desenhos animados, videoclipes e programas gratuitamente, anunciou que ainda neste mês ficará totalmente aberto ao público (hoje, o acesso é por convite).


Além disso, ele acaba de incorporar ao seu cardápio a programação da rede de notícias CNN, ampliando a oferta, que já conta com produções de empresas como a Viacom, a Warner Music e a rede CBS.


A BBC, por sua vez, decidiu agir por conta própria. Anunciou ontem que seu serviço de TV via internet deverá ser lançado até o final deste ano.


O iPlayer, que ainda está em fase de teste, dará acesso por sete dias aos programas da emissora, permitirá o dow-nload de séries, que poderão ser arquivadas por um mês, e fará transmissões ao vivo.


A Sony também adentrou no mundo da TV via internet. Na semana passada, colocou no ar o EyeVio (eyevio.jp), site de compartilhamento de vídeos que oferece uma navegação simples e um visual caprichado, mas até o momento está disponível apenas em japonês.


Dupla dinâmica


Atualmente um dos projetos mais ambiciosos da internet, o Joost foi criado pelos mesmos desenvolvedores da rede de troca de arquivos Kazaa e do programa de conversa via internet Skype, Niklas Zennstroem e Janus Friis, que agora prometem mudar a maneira como as pessoas assistem TV.


Desde seu lançamento, o Joost só podia ser acessado por quem recebesse um dos disputados convites, restritamente concedidos por quem já fosse membro do site.


Ontem, porém, seus usuários passaram a ter um número ilimitado de ingressos para serem distribuídos livremente, o primeiro passo para que o Joost seja finalmente aberto a todos os internautas, o que está prometido para acontecer até o final deste mês.


Com isso, todo mundo poderá desfrutar dos cerca de 150 canais do site. Para isso, basta acessar o endereço, fazer o download de um pequeno programa e dispor de uma conexão de internet de banda larga -e, por enquanto, de um convite que garanta o acesso ao clube.


O site segue a tendência que já vinha se revelando com o sucesso do YouTube (www.youtube.com), do Google, e com o Soapbox (soapbox.msn.com), da Microsoft.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Gamecorp tem prejuízo de R$ 6 mi em 2 anos


‘A Gamecorp, empresa que desde o ano passado comanda a programação da Play TV (ex-Rede 21), teve um prejuízo de R$ 2,537 milhões em 2006. Somando-se a 2005, acumula um prejuízo de R$ 6,046 milhões, o que supera o seu capital social (de R$ 5,21 milhões).


Seu patrimônio líquido (diferença entre bens/direitos e dívidas/obrigações) está negativo em R$ 836 mil. Os dados são de balanço publicado no sábado.


A Gamecorp é uma produtora de TV e de games para celulares que tem entre seus sócios Fábio Luís da Silva, o Lulinha, filho do presidente Lula. Em 2005, a empresa -que até então tinha um capital social de R$ 10 mil- recebeu um aporte de R$ 5 milhões da Telemar, que é sua cliente e sócia.


No ano passado, a Gamecorp teve um faturamento líquido de R$ 4,584 milhões. Mas o custo de seus serviços (R$ 3,436 milhões) e as despesas administrativas e comerciais (R$ 3,749 milhões) foram bem maiores.


Leonardo Eid, diretor-presidente da Gamecorp, diz que o prejuízo estava previsto e lamenta não poder contabilizar o valor da marca Play TV. ‘No ano passado já planejávamos o ‘break even’ [equilíbrio entre receitas e despesas] no segundo semestre de 2007’, afirma.


Eid confirma as negociações com a Band para ampliar o espaço da Play TV para 12 horas diárias. Ele aposta no aumento das vendas de publicidade e em receitas com interatividade.


MAGIA RADICAL


A diferença entre Werner Schünemann e Malu Mader é de apenas sete anos e meio. Mesmo assim, a Globo escalou Schünemann para ser pai biológico de Malu em ‘Eterna Magia’, próxima novela das seis.


MAGIA DIGITAL


A Globo está usando filtro digital (o Baselight, que funciona como uma lente, mas atua depois que a imagem é captada) em ‘Eterna Magia’. O objetivo é dar às imagens um ‘clima’ de anos 30 e 40, época da novela. Outro recurso tem sido usado para apagar postes, fios, antenas parabólicas e prédios.


GÊMEAS IDÊNTICAS


‘Paraíso Tropical’ conseguiu reproduzir duas gêmeas em que tanto a boa quanto a má são igualmente chatas. Normalmente, só a boa é insuportável.


DR. HOLLYWOOD 1


Protagonista de ‘Dr. 90210’, exibido pelo canal E!, Robert Rey chega no próximo domingo ao Brasil, onde gravará todo um episódio da quinta temporada do ‘reality show’, que estréia nos EUA no segundo semestre.


DR. HOLLYWOOD 2


Rey, que nasceu no Brasil, mas foi adotado por família americana, é um dos cirurgiões plásticos mais famosos dos EUA. Em sua passagem pelo país, acompanhará cirurgias reparadoras em três pacientes do SUS de São Sebastião (SP).


TEMPO EXTRA


Os participantes do ‘Dança dos Famosos’ terão duas semanas para se preparar para a próxima apresentação, que será lambada. O quadro não irá ao ar neste domingo, porque o ‘Domingão’ já está gravado.’


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Sete morrem em show de emissora da Tunísia


‘Um tumulto durante um show promovido pelo ‘reality show’ da TV tunisiana ‘Star Academy’ causou a morte de sete pessoas, anteontem à noite, na cidade de Sfax (ao sul de Túnis). Pelo menos outras 30 ficaram feridas. A confusão teve início quando o público invadiu o palco do teatro Sidi Mansur. ‘Star’ é uma versão local do fenômeno ‘American Idol’, líder absoluto de audiência nos EUA.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 2 de maio de 2007


GOVERNO LULA
José Nêumanne


É tudo em nome da tal da ‘democracia popular’


‘Desde que o Partido dos Trabalhadores ocupou, de maneira nada sutil, aliás, a máquina pública federal, têm sido feitas, de forma preocupante, tentativas de controle de uma velha e fundamental conquista do Estado Democrático de Direito: o direito à informação livre e à opinião plural. Depois dos abortos do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ) e da Agência Nacional de Cinema e Audiovisual (Ancinav), ainda na primeira gestão, e anabolizados pela reeleição consagradora do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o segundo mandato foi inaugurado com o anúncio da implantação de uma rede pública de rádio e televisão e a idéia do controle da ‘mídia’ em períodos eleitorais. A missão de criar alternativas à chamada ‘imprensa burguesa’ foi dada inicialmente à chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, com o efeito colateral de esvaziar a gestão de Eugênio Bucci na Radiobrás, realmente comprometido com a natureza ‘pública’ das emissoras oficiais. Depois, essa idéia foi substituída pelo anúncio de investimentos milionários numa rede sobreposta às já existentes da citada Radiobrás e das emissoras educativas, culminando com a posse do jornalista Franklin Martins no Ministério que comandará a operação.


As declarações que Sua Excelência deu aos jornais e ao programa Roda Viva na TV Cultura semana passada são coerentes com seu passado de militante da chamada Dissidência Comunista da Guanabara, que teve a ousadia de planejar, realizar e glamourizar com manifestos políticos divulgados nos jornais o seqüestro do embaixador dos EUA no Brasil à época, Charles Elbrick. Filho de um político da esquerda tradicional, o senador fluminense Mário Martins, o ministro se tornou conhecido no período depois da queda da ditadura militar, que combateu, como um executivo que fez carreira nas Organizações Globo, no jornal e depois nas emissoras de TV aberta e a cabo, que não podem ser definidas como ‘socialistas’. Demitido após se terem tornado públicas relações trabalhistas entre parentes próximos e a máquina pública federal, abrigou-se por pouco tempo na concorrente Rede Bandeirantes, apoiando discretamente, tanto quanto possível, a linha dos petistas no comando da União. Ainda assim, surpreendeu ao aceitar o posto oferecido pelo presidente, pois assim demonstrou não ter intenção nenhuma de desmentir quem denunciou ser ele cúmplice nos comentários que fazia nos telejornais do governo ao qual passou a servir em função de destaque.


Deixando de lado essas considerações e o espanto com que foi recebida sua declaração de que teria tomado conhecimento antecipado de condenação judicial de um denunciante e desafeto, importa entender nas entrelinhas do que ele disse a lógica da missão que lhe foi confiada pelo presidente. Aos entrevistadores do Roda Viva, por exemplo, disse ter sido um combatente da democracia. Na verdade, ele lutou contra a ditadura de direita, mas para substituí-la por outra de esquerda e, ao se permitir tal falácia, não é original: muitos já o fizeram e está aí José Dirceu que, neste capítulo de pretenso herói na luta pelas liberdades, salve, salve, não deixa ninguém mentir em vão.


Não há aqui, contudo, interesse em detratá-lo, mas em compreender sua lógica. O ex-seqüestrador não é um inimigo da democracia, lato sensu. É, sim, um devoto da democracia dita popular, teorizada por Lenin, Rosa Luxemburgo e outros comunistas de primeira hora e levada a extremos por tiranos sanguinários como os mortos Stalin, Mao e Ceausescu e os ainda vivos, como Fidel Castro. Para esses marxistas-leninistas, a democracia burguesa não passa de uma farsa das elites capitalistas para dar aparências amenas à exploração do proletariado. Portanto, quando Franklin se diz um democrata, ele não está falsificando a verdade, mas usando um sentido que nega a essência da palavra, que vem do grego e significa governo do povo, mas mantém a ilusão publicitária, tão cara à propaganda missionária e à feira de ilusões da política de massas. Desmamado e criado nos dogmas marxistas, o ministro não é um cínico falsificador, mas um ortodoxo pregador. A ‘democracia burguesa’, para os de sua grei, é que seria uma farsa. E como tal ele e seus companheiros não têm nenhum pudor de usar seus métodos para alcançar o topo do poder e de lá construir as ‘condições objetivas’ para o verdadeiro assalto ao Palácio de Inverno, mesmo sem neve nestes trópicos. A discordância fundamental entre ele e o colega Eugênio Bucci em torno do real sentido da palavra ‘pública’ vem da mesma cartilha: para os devotos de Lenin, o partido é a vanguarda do operariado e, portanto, fica acima dos interesses e das idiossincrasias das classes sociais que historicamente o oprimem. ‘É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar’, como cantava o ‘companheiro’ Vandré.


A sugestão do presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini (SP), é de natureza bastante diferente. Militante oriundo do sindicato, este propõe que a ‘mídia’ seja controlada em períodos eleitorais, não por convicções socialistas, mas por pragmatismo puro. Se os meios de comunicação não tivessem noticiado o envolvimento de seus subordinados na cúpula do PT federal no pagamento aos falsários que engendraram um dossiê contra os adversários tucanos, ele teria poupado alguns dissabores e arranhões em sua biografia. Que, aliás, não o impediram de se reeleger deputado federal e presidente nacional da sigla.


Mas não importa a diferença entre o elevado senso de missão de um e a familiaridade do outro com gente que falsifica dossiês. O que se busca em ambos estes surtos de autoritarismo é calar as vozes dissidentes e garantir o exercício do poder por um grupo de políticos que se consideram monopolistas da vontade do povo: enterrar a ‘democracia burguesa’ em nome da ‘democracia popular’.


José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde’


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Andrea Vialli


Intel testa laptop de baixo custo


‘A fabricante de processadores Intel está começando a produzir no Brasil laptops de baixo custo. Até o fim do mês, entram em teste os primeiros 500 Classmate PCs, o computador para uso educacional da Intel, inteiramente produzidos no Brasil.


A Intel disputa com a ONG One Laptop Per Child (OLPC), de Nicholas Negroponte, professor do Massachusetts Institute of Technology (MIT), o fornecimento de laptops de baixo custo para escolas brasileiras.


‘Serão as primeiras unidades fabricadas no Brasil a entrar em operação, fruto da parceria com as empresas brasileiras’, disse John Davies, vice-presidente de vendas e marketing da Intel e gerente do programa World Ahead, iniciativa social da empresa. Em dezembro, a Intel anunciou que a Positivo Informática e a CCE fabricariam o laptop no País.


Os primeiros Classmate PCs entraram em testes no Brasil em agosto de 2006. Desde então, 46 máquinas estão sendo usadas por alunos de uma escola da Fundação Bradesco, em Campinas (SP). Os testes não têm relação com o programa ‘Um Computador por Aluno’, do Ministério da Educação (MEC). As 500 máquinas fabricadas no Brasil também serão testadas na escola da Fundação Bradesco.


Em maio, entram em operação mais 800 laptops, em escolas da rede pública de Palmas (TO) e de Piraí (RJ). As máquinas, doadas pela Intel ao governo brasileiro, virão da China. Mas os próximos equipamentos que serão testados nas escolas já serão ‘made in Brazil’. Rodarão com o sistema operacional Linux, uma exigência do governo brasileiro.


Davies admite que o fato de o Classmate ser fabricado no Brasil ajuda a Intel a se aproximar do governo. ‘A fabricação local não é condição para que nosso programa de inclusão digital siga em frente. Mas, sem dúvidas, traz vantagens competitivas.’ Davies nega que exista uma concorrência direta com o laptop de Negroponte. ‘Temos o mesmo objetivo: colocar um laptop na mão de cada criança.’


US$ 100


O XO, laptop de baixo custo da OLPC – originalmente chamado de laptop de US$ 100 -, também está em testes no Brasil. Em dezembro do ano passado, 60 protótipos foram distribuídos para centros de pesquisas. Em março, 200 outras máquinas entraram em operações em duas escolas: uma em Parada de Taipas, na periferia de São Paulo, e outra em Porto Alegre. ‘A intenção é que, em breve, as crianças possam levar as máquinas para casa’, diz Roseli de Deus Lopes, professora do Laboratório de Sistemas Integráveis da Escola Politécnica da USP, um dos centros de teste do XO no País.


O governo ainda não fez sua opção. Por enquanto, testa os modelos. ‘Queremos observar os testes e entender se esse tipo de equipamento tem influência na melhoria da educação. Não estamos preocupados com os aspectos relacionados à compra de um ou outro equipamento’, afirma Mauro Moura, assessor técnico da Secretaria de Educação à Distância do MEC.


A decisão de compra recairá sobre a Presidência da República, em conjunto com os Ministérios da Indústria e Comércio e da Ciência e Tecnologia.


Na semana passada, Negroponte disse que o projeto XO está em um momento crítico: ainda não chegou ao preço pretendido, US$ 100 – o custo de produção atual está em US$ 175. O Classmate, da Intel, custa US$ 400. Negroponte diz que a produção em massa do XO deve começar em outubro, e admitiu que o laptop poderá rodar com o sistema operacional Windows, da Microsoft.’


TELEVISÃO
Flávia Guerra


Paulo Freire, mais atual do que nunca


‘Em tempos em que a educação brasileira nunca tirou notas tão baixas de acordo com as avaliações oficiais, a ausência de paladinos como Paulo Freire nunca se fez tão notável. Hoje, quando se completam dez anos da morte do educador pernambucano, é um dia ideal para se pensar e repensar o atual quadro do sistema educacional no País. Por isso, o documentário Paulo Freire – Contemporâneo é lição de casa para todos que querem entender melhor a grande figura que foi Freire, um homem de classe média, que tinha ‘fome da cabeça’, que criou um método de alfabetização para adultos sem precedentes que revolucionou a história da educação brasileira e defendia o hoje tão raro diálogo entre professor e aluno. O filme, fruto do concurso Prêmio Documentário Paulo Freire – A Contemporaneidade de um Mestre, promovido MEC-SEED/PNUD , estréia hoje em vários horários (7h, 9h, 13h e 17horas), na TV Escola, e tem direção apurada de Toni Venturi. Você pode sintonizar a TV Escola nas seguintes TVs por assinatura: Sky (canal 27) e Directv (canal 237). Imagem e som digitais agora também no Canal da Educação. E o diretor ainda participa hoje de pré-estréia oficial do filme, no Ministério da Cultura, em Brasília, às 16 horas.


Em 50 minutos (formato de corte exigido pela TV), o diretor de filmes premiados como Cabra Cega, Latitude Zero e os ótimos documentários Dia de Festa e O Velho, faz um passeio geral pelas idéias, pela vida, pela obra, pela memória e pelo legado de Freire. Mas, mais que relembrar, é impressionante observar o quão viva e prolífica ainda é a filosofia deste educador criador da Pedagogia do Oprimido. Grosso modo, ela consistia na democratização do acesso à educação, sempre tão bem guardada pelas elites. Em vez de impor um sistema a alunos de comunidades carentes que nada tinham a ver com suas realidades, o método Paulo Freire propunha um aprendizado profundamente ligado ao cotidiano dos educandos, que aprendiam a se relacionar com seu mundo e com seu educador, democraticamente. O método, aplicado por Freire na Campanha Nacional de Alfabetização durante o governo de João Goulart, foi tão eficaz que ressaltou as abissais diferenças políticas entre a ditadura militar e o método democrático do educador socialista-cristão. Freire foi exilado e o livro, escrito em 1970, foi proibido no Brasil até 1974, quando finalmente o General Geisel iniciou o processo de abertura cultural.


Paulo Freire – Contemporâneo não poderia ter nome mais adequado. É exatamente isso que esse sempre menino diante dos desafios da aprendizagem demonstrava ser. Mais atual do que nunca. Infelizmente, os excluídos não acabaram. Mas, felizmente, a ‘fome da cabeça’ também não. E Venturi vai buscar de forma sóbria e criativa as experiências que hoje utilizam os princípios de Freire. Como o programa de alfabetização que ele promoveu em cidades como Angicos, a 1969 quilômetros de Natal. É nesta pequena cidade, que viu a alfabetização florescer e morrer do dia para a noite, quando o programa foi decepado pelo governo militar, que ainda moram os alunos de Freire. Em depoimentos emocionados, eles contam como foi a chegada de Freire e sua trupe à cidade. ‘É um documentário clássico. Procurei resgatar nele toda a minha experiência com meu processo de aprendizado que tive na adolescência. Eu estudei em um colégio de vanguarda, o Oswaldo Aranha, e lá discutíamos muito os preceitos e a importância de uma educação libertadora’, comenta Venturi. De fato. A figura do educador é por si só tamanha que maneirismos de linguagem são totalmente dispensáveis. É pena que não vai chegar aos cinemas. ‘Penso num corte maior, claro, mas para DVD, para ser exibido também em escolas. Mas infelizmente acho que ele não tem carreira no cinema’, completa Venturi, com razão. Afinal, o interesse por educação no Brasil não passa muito perto do conceito de puro entretenimento em que o cinema se tornou. Mais público deverá ter, com certeza, o novo projeto do diretor: um documentário sobre Rita Cadillac. ‘Nele exploro as duas Ritas, a pessoa pública, a imagem dela construída pela e na mídia, e a Rita que tem sua vida comum como de qualquer outra brasileira.’’


Cristina Padiglione


Vem aí Mothern 2


‘Primeira iniciativa do canal GNT em teledramaturgia, a série Mothern foi tão bem recebida pelo canal que ganha segunda temporada a partir do dia 26, em tempo de endossar o mês das mães na emissora.


Com 13 episódios, número que sempre marca as safras de produção no GNT, a série repete o elenco (Juliana Araripe, Melissa Vettore, Fernanda d’Umbra e Camila Raffanti) de quatro mães. E ocasiões que remetem a uma espécie de Sex and the City só de progenitoras, cada uma com seus dilemas e soluções.


Luiza descobre que está grávida pela segunda vez. Beatriz passa por uma crise conjugal: as atitudes do marido, toleradas por ela antes do nascimento do filho, agora a incomodam um bocado. Mariana arruma um namorado e decide apresentá-lo à filha. E Raquel, que sempre se orgulhou de administrar trabalho e filhos, começa a repensar a carreira e seu papel como mãe.


Mothern (Mother + moderna), a série, é o terceiro produto derivado do título, originário de Juliana Sampaio e Laura Guimarães pelo blog. Depois virou livro (Ed. Matrix) e chegou à TV.


entre-linhas


A série Lost também é um fenômeno na internet. O blog da série foi o mais acessado do portal Globo.com. Foram 300 mil visitas no último mês.


Em co-produção com a BBC, o History Channel promoveu uma excursão de 19 dias à Antártida. O resultado é a série Desafio no Pólo, em seis episódios, que estréia dia 10 de maio.


O Top Five, atração do Discovery Travel & Living que destaca o turismo na América Latina, inicia nova temporada amanhã, às 21 horas, e traz Canoa Quebrada (CE) e Paraty (RJ).’


Étienne Jacintho


O ‘Kiss’ Gene Simmons vira professor


‘Dez pré-adolescentes de um colégio interno inglês formarão uma banda de rock. O problema é que eles gostam de música clássica e nunca ouviram falar do professor Gene Simmons, do Kiss. Inspirado no filme A Escola de Rock, com Jack Black, o reality que estreou anteontem no Vh1, traz a conhecida pose de Simmons, que quer ver arrogância e exagero em seus alunos. O que vale é assistir à reação dos pupilos a cada lição – principalmente o nerd Josh, que deve se tornar ídolo. A Escola de Rock de Gene Simmons vai ao ar às segundas, às 23 h.’


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Agência Carta Maior


Quarta-feira, 2 de maio de 2007


TV GLOBO
Agência Carta Maior


Aniversário da Rede Globo é marcado por protestos


‘BRASÍLIA – No dia 26 de abril, a Rede Globo, maior grupo de televisão do país, completou 42 anos de existência. Enquanto as emissoras afiliadas à rede exibiram vinhetas de auto-exaltação pelo papel prestado à sociedade brasileira, dois episódios com menos visibilidade que a programação da ‘vênus platinada’ marcaram a história não oficial deste aniversário. Em Brasília, entidades ligadas à luta pela democratização da comunicação e movimentos sociais foram para frente do prédio onde funciona a emissora, no início de uma avenida movimentada da cidade, dialogar com a população que circulava no local sobre o significado da data. No Rio de Janeiro, uma interferência radiofônica colocou no ar, por cerca de quatro horas, a rádio ‘Globo e você, nada a ver’.


‘Nesses 42 anos, a Rede Globo jamais se submeteu a qualquer avaliação da sociedade brasileira para saber se ela está usando esse bem como determina a Constituição e a favor do interesse público’, criticava documento distribuído pelas entidades em Brasília. O texto afirma que, durante este mesmo período, as organizações Globo só aumentaram seu poder e participação no sistema de mídia nacional. A partir desta influência, acrescenta, o comando da emissora desenvolveu estreitas relações com forças políticas conservadoras do país, cujos exemplos seriam a omissão da cobertura dos protestos pelas Diretas Já na década de 80 e a cobertura parcial das eleições presidenciais desde 1989 até 2006, marcada por uma linha editorial contrária ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva.


Na capital federal, enquanto os panfletos eram entregues às pessoas, faixas eram estendidas criticando a emissora e o oligopólio nos meios de comunicação. Do alto de um carro de som, falas críticas ao modelo nacional de rádio e TV de representantes das entidades se alternavam com performances também questionadoras de violeiros e rappers da cidade.


Segundo Bráulio Ribeiro, do Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, a proposta do ato não foi fazer uma crítica isolada à Rede Globo, mas usar o grupo como símbolo de um cenário ‘antidemocrático’ no qual poucas empresas falam para milhões e a diversidade de culturas, expressões e opiniões acaba não conseguindo ser refletida na mídia.


Mais do que uma rede de TV, a Globoé uma poderosa organização de mídia. Hoje possui jornais, 15 emissoras de rádio, uma editora com 11 títulos de revistas, um portal eletrônico e duas gravadoras (Som Livre e RGE). Na cabodifusão, o grupo detém empresas que produzem conteúdo (como os canais SporTV, GNT, Multishow e GloboNews) e que o distribuem (a operadora Net Brasil), além de participação acionária na empresa que controla toda a rede de cabos e infra-estrutura (Net Serviços). Segundo reportagem do jornal Valor Econômico , as Organizações Globo, em 2005, foram a empresa com maior margem líquida de lucro do país: 92%. Além disso, em número absolutos, obtiveram o 5o maior lucro líquido entre todas as empresas brasileiras: R$ 1,99 bilhão.


‘Todos sabem que, nesses 42 anos, a Globo tem atuado quase como um partido político, defendendo teses, candidatos e projetos que lhe interessam no Congresso. E faz tudo isso usando um bem público, que é o espectro radioelétrico. Mas, assim como qualquer emissora de rádio ou televisão, a Globo é uma concessionária de um bem público. Portanto, o interesse público é que deveria reger o uso desse bem’, explica Ribeiro.


Na opinião de Rafael Villas Boas, um dos organizadores do ato e integrante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), a Globo cumpre um papel de reprodução de um projeto conservador para o Brasil. ‘Sua maior função é representar um país fictício que não condiz com um país real, reproduzir um universo de desejo e omitir as contradições reais’, afirmou. A presença dos movimentos sociais no ato, acrescentou, se deveu ao fato destes identificarem na emissora – e em suas afiliadas – a principal difusora de uma lógica preconceituosa contra qualquer iniciativa ou ato de organizações populares, sempre retratado como ‘baderna’.


O protesto em Brasília marcou o primeiro Dia de Luta Contra o Monopólio no DF. O objetivo das organizações é transformar o dia 26 de abril uma data fixa no calendário dos movimentos sociais na luta por uma outra comunicação, que atualmente tem seu ápice, todos os anos, no mês de outubro, durante a Semana Nacional pela Democratização da Comunicação.


‘Globo e você, nada a ver’ Com uma antena e um transmissor de 250 Watts, entidades que defendem o direito à comunicação realizaram uma interferência radiofônica e, às 16h30, fizeram a seguinte saudação para ouvintes da zona Sul e do Centro do Rio de Janeiro: ‘Boa tarde, você está na rádio ‘Globo e você, nada a ver’.


Durante cerca de quatro horas, a ‘rádio’ veiculou músicas livres do tradicional ‘jabá’ cobrado nas emissoras comerciais e discussões sobre a concentração da mídia no Brasil. Foram entrevistadas pessoas que investigaram a história da Globo, como Romero Machado, autor do livro ‘Afundação Roberto Marinho’ e Saturnino Braga, presidente da CPI que investigou a associação da Globo com o grupo norte-americano Time-Life, considerada ilegal.’


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