Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Eder Chiodetto

‘André Gardenberg, autor da mostra fotográfica ‘Arquitetura do Tempo’, que estava em exibição no MIS, se equivoca em sua réplica à minha crítica ao dizer que ‘Chiodetto falou sobre o que não viu’. Como ele diz, fiz questão que a entrevista fosse no espaço da montagem da mostra para observar detalhadamente a totalidade das fotografias. Faltava, naquela altura, finalizar uma espécie de cenografia (a qual o autor me mostrou desmontada) e afinar a luz. Pude, assim, ter noção perfeita do conjunto da mostra.

O resultado do trabalho de um fotógrafo são suas fotografias; foi sobre elas que minha crítica versou e, contra a qual, o autor parece não ter argumentos. Gardenberg opta por deixar de lado uma possível e necessária reflexão sobre a flagrante deficiência de seu trabalho para me acusar de antiético. Por quê? Ele explica: ‘Imaginava estar apenas dando uma entrevista a um repórter e que, por isso, o lugar onde esta conversa se daria seria irrelevante para o seu fim. Para minha surpresa, a suposta entrevista era na verdade pretexto para uma crítica’.

No mínimo, é de se estranhar que um jornalista de formação, como Gardenberg, julgue irrelevante que um repórter, ao se dispor a escrever sobre seu trabalho, fosse ver as cópias finais e o local da exposição. Não atuar desta forma seria, isto sim, um comportamento antiético.

Igualmente soa obscuro o autor, que já atuou como repórter-fotográfico, sugerir que um repórter não deva ter senso crítico. Se Gardenberg atua desta forma como fotógrafo, isso explica (mais claramente do que a minha crítica) os sérios problemas da sua mostra.

A sugestão de que o fotógrafo Juan Esteves teria sido beneficiado na mesma crítica por ter sido meu colega de trabalho na Folha é um desrespeito atroz com o trabalho de um colega que deveria lhe servir de referência.

‘Arquitetura do Tempo’ se inscreve na lógica de quem vê a cultura como espetáculo, na qual cenografia, luzes e divulgação têm a incumbência de lançar uma cortina de fumaça para esconder as deficiências da obra em si. Em época em que a propaganda das coisas vale mais que as próprias coisas, o exercício da crítica séria e isenta se faz ainda mais necessário.

E já que, bradando pela ética, o fotógrafo invocou o livro ‘A Regra do Jogo’, de Cláudio Abramo, vamos a ele: ‘É preciso ter opinião para poder fazer opções e olhar o mundo da maneira que escolhemos. Se nos eximimos disso, perdemos o senso crítico para julgar qualquer outra coisa. O jornalista não tem ética própria. Isso é um mito. A ética do jornalista é a ética do cidadão. O que é ruim para o cidadão é ruim para o jornalista’.’



HISTÓRIA DO RÁDIO
Eduardo Ribeiro

‘Brasil e mundo (re)descobrem Landell de Moura’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 23/12/04

‘Era uma aula até certo ponto despretenciosa de Rádio-jornalismo, com o professor chileno Júlio Zapata.

Vivíamos tempos bicudos (1977 se a memória não me falha) e víamos sombras em tudo e em todos. E com Zapata não era diferente: um chileno no Brasil, em plena ditadura, dando aulas no curso de jornalismo numa faculdade, digamos assim, burguesa, era, no mínimo, muito estranho. Mas como suas aulas situavam-se entre as mais agradáveis e mobilizadoras do curso, passávamos por cima de eventuais desconfianças, com participações sempre marcantes.

Naquela aula Zapata fez uma revelação que deixou a todos atônitos e incrédulos: o rádio não havia sido inventado pelo italiano Guglielmo Marconi, como até os livros de história brasileiros ensinavam, e sim pelo padre e cientista gaúcho Roberto Landell de Moura, em fins do século XIX, aqui mesmo no Brasil, em transmissões feitas (algumas delas) entre a Avenida Paulista e o Morro de Santana.

Ficamos chocados e desconcertados com aquela revelação e mais ainda por ela ter sido feita por um professor estrangeiro, que certamente conhecia mais de nossa história do que qualquer um de nós.

Pela nossa cabeça passou de tudo, inclusive a idéia de ser aquela uma farsa ou uma brincadeira de mau gosto. Como poderia o rádio ter sido inventado no Brasil, por um cientista brasileiro, e ninguém, no próprio País saber disso? Se na época já fossem conhecidas as tais pegadinhas, sem dúvida alguma aquela seria uma delas, para testar nossa capacidade de reação.

Porém o professor Zapata, no curso, deu evidências mais do que suficientes para que todos nós deixássemos de duvidar de suas afirmações e foi além: indignado com o desconhecimento (e desprezo) dos brasileiros com um de seus mais ilustres filhos, lançou na sala de aula um desafio: que o grupo tomasse para si aquela causa resgatando o padre gaúcho para a história. E certamente o fez por dever de ofício, como já devia ter feito inúmeras vezes, em outros ambientes profissionais e acadêmicos, sem muita esperança de que a provocação tivesse algum resultado prático.

E estava certíssimo, a não ser pela presença, entre nós, de um tal Hamilton Almeida, que, à época, chamávamos de Benê, apelido tirado de seu primeiro nome, Benedito.

Hamilton comprou a pauta, foi à luta e decidiu que ela seria a grande reportagem de sua vida. Faz mais de 20 anos que pesquisa a vida e a obra de Roberto Landell de Moura, padre cientista, renegado e perseguido pela Igreja Católica, que esteve à frente de seu tempo, com experimentos que anteciparam algumas das mais importantes invenções do século XX.

Duas décadas depois de ter editado no Brasil os livros ‘O outro lado das telecomunicações – A saga do Padre Landell’ (Editora Sulina) e ‘Landell de Moura’ (Editora Tchê/RBS – coleção Esses Gaúchos), ele foi lançado na Alemanha pela Editora Debras Verlag, da cidade de Konstanz. O nome do livro é ‘Pater und Wissenschaftler’ (Padre e cientista) e o lançamento ocorreu durante um evento para radioamadores realizado nos dias 4 e 5 de dezembro deste ano na cidade de Dortmund. Um segundo e maior lançamento será realizado em junho de 2005, provavelmente com a presença do autor, numa exposição mundial de radioamadores – a Hamradio -, na cidade de Friedrichshafen.

Hamilton precisou ser lançado na Alemanha para ganhar reconhecimento no Brasil. Suas primeiras obras, editadas no Sul, não conseguiram romper a barreira geográfica e desse modo perderam o efeito multiplicador tão necessário para o reconhecimento de um trabalho dessa magnitude.

Mais do que ele, obviamente perdeu o Brasil e, claro, a História, que continuou, por mais este período, ignorando as peripécias de um dos maiores gênios dos séculos XIX e XX.

Isso pode estar agora mudando, graças à edição alemã. Por conta dela, Hamilton ganhou um espaço privilegiado na mídia brasileira e a saga do Padre Landell, pelo visto, começa a ser recontada. Jornais, sites e agências de todo o País abriram espaço para o livro e isso despertou o interesse de dezenas de pesquisadores, cienteistas e professores que procuraram o autor para saber outros detalhes dessa história desconcertante que quase ninguém conhecia.

Está aberto, portanto, o caminho para que novos pesquisadores se debrucem sobre o Padre Landell de Moura e sua obra e, mais do que isso, para que a História do Brasil possa ganhar esse importante reforço, ainda que tardiamente. Se isso ocorrer, logo logo Padre Landell estará sendo ensinado nos cursos básicos e também na Universidade, ganhando, quem sabe, o mundo, como nosso reconhecido Santos Dumont.

Para contar a história do Padre Landell, Hamilton pesquisou durante vários anos em diversas cidades brasileiras. Revirou bibliotecas, entrevistou familiares e pessoas que tiveram algum tipo de envolvimento com Padre Landell ou seus inventos, manuseou jornais e revistas daquele período, checou, enfim, como bom repórter, todas as pistas e evidências que obteve. E fez tudo isso com dinheiro do próprio bolso e nas horas vagas, sem qualquer apoio oficial.

Desconhecido da mídia e do grande público, o trabalho de Hamilton circulava com certa desenvoltura entre radioamadores por razões óbvias. Um desses radioamadores era o editor alemão Heinz Prange, e ele ficou simplesmente fascinado com a história. Nascia, desse modo, em meados do ano 2000, a decisão de publicar uma nova obra de Hamilton sobre o Padre Landell, porém em alemão e na Alemanha. Trata-se, portanto, de uma obra nova, que atualiza e amplia significativamente os dois livros escritos anteriormente.

Nela se descobre que Padre Landell foi precursor não só do rádio, mas também da televisão e do teletipo, entre outras descobertas. E que, apesar da sua genialidade, o padre cientista não recebeu apoio de ninguém, tendo sido, ao contrário, ignorado e perseguido. Quis unir a religião à ciência e acabou acusado de ter pacto com o diabo. Patenteou seus inventos no Brasil e nos Estados Unidos, realizou experimentos e, ainda assim, não foi reconhecido em sua época. No Brasil, chegaram a destruir os seus aparelhos e impedir seus estudos, por considerá-lo uma espécie de bruxo.

Padre Landell também aperfeiçoou o sistema de telegrafia sem fio e transmitiu pela primeira vez no mundo em ondas contínuas, que são superiores às ondas amortecidas utilizadas nos primeiros tempos das radiocomunicações por outros cientistas. Recomendou o emprego das ondas curtas para aumentar as distâncias das transmissões quando elas não eram sequer cogitadas pelos outros cientistas. Para a transmissão de mensagens, ele também se utilizava da luz, o mesmo princípio que aperfeiçoou as comunicações modernas, empregando-se o laser e as fibras ópticas. Numa época em que as telecomunicações eram precárias até mesmo entre cidades vizinhas, ele já acreditava na possibilidade das comunicações interplanetárias.

Morreu no anonimato e sua obra até hoje é pouco conhecida. Com o tempo, as suas invenções acabaram sendo reinventadas por outros cientistas, que ficaram com a fama e a glória.

O jornalista Hamilton Almeida, nascido na cidade de Guarulhos (São Paulo), começou sua carreira em revistas técnicas na capital paulista, e em meados dos anos 80 mudou-se para Porto Alegre. Ali trabalhou por vários anos na editoria de Economia do Zero Hora, sendo posteriormente transferido para Buenos Aires, como correspondente. Ficou cerca de oito anos na capital argentina, os últimos pela Gazeta Mercantil Latino-americana. Em 2000, regressou ao Brasil deixando pouco depois o jornal, num dos cortes feitos pela empresa, àquela altura já em crise. Atualmente, ele integra a equipe do Departamento de Análise Editorial da CDN – Cia de Notícias. Seu e-mail pessoal é hamilton_xxi@yahoo.com.’



MERCADO EDITORIAL
Eduardo Scolese

‘Presidente isenta livros do PIS e da Cofins’, copyright Folha de S. Paulo, 22/12/04

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cerimônia ontem no Palácio do Planalto, sancionou lei que isenta do pagamento das contribuições federais PIS/Pasep e Cofins a produção, a comercialização e a distribuição de livros.

Segundo o Ministério da Cultura, em três anos os livros poderão ser vendidos com redução de 10% em relação aos preços, e a medida vai incentivar o lançamento de novos selos editoriais e a abertura de novos pontos de venda. Trata-se, segundo o governo federal, de um primeiro passo para o Plano Nacional do Livro e Leitura a ser anunciado no ano que vem.

O objetivo do governo, com o plano, é que a média de leitura no país avance em 50% até 2008. Hoje, segundo o Ministério da Cultura, cada habitante lê 1,8 livro a cada ano. Na Colômbia, por exemplo, a média é de 2,4 livros.

Sarney

Na cerimônia de ontem, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu que o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), atual presidente do Senado, falasse por ele. Em rápido e improvisado discurso, o senador sugeriu que Lula convencesse o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) a atuar no setor. ‘O presidente me deu a honra de falar em seu lugar. E, se eu pudesse tomar algumas ações, já tomaria a primeira. Que o BNDES criasse um fundo com juros baixos e proteção especial ao livro.’ E, antes de encerrar sua fala, tocou mais uma vez no tema: ‘Presidente, não se esqueça do BNDES’.

Em sua fala, o presidente do Senado disse ter ouvido de Lula, ainda durante a campanha presidencial de 2002, a idéia de incluir livros entre os produtos da cesta básica: ‘Presidente, se o senhor conseguir implantar essa idéia, estará fazendo a primeira revolução cultural do Brasil’.

Com a isenção anunciada ontem, editores, distribuidores e livreiros terão, por sua vez, de contribuir com 1% de suas vendas para um fundo pró-leitura (cerca de R$ 45 milhões por ano), que será usado para programas de incentivo ao setor. O governo federal calcula que deixará de arrecadar R$ 60 milhões anuais.

Participaram da cerimônia, além de Lula e Sarney, o presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP), o escritor e colunista da Folha Moacyr Scliar e o presidente da CBL (Câmara Brasileira do Livro), Oswaldo Siciliano, além dos ministros Antonio Palocci Filho (Fazenda), Tarso Genro (Educação) e Gilberto Gil (Cultura). No evento, Lula recebeu da CBL o título de Amigo do Livro 2005.’



Gazeta Mercantil

‘Lula sanciona lei que isenta livro de imposto’, copyright Gazeta Mercantil, 22/12/04

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou ontem lei que isenta editoras, livrarias e distribuidoras de livros do pagamento dos impostos PIS/Pasep e Cofins. Com a medida, o governo espera reduzir o preço das obras literárias em 10% nos próximos quatro anos, além de atrair investimentos no setor. O governo vai deixar de arrecadar com a isenção cerca de R$ 160 milhões por ano. Como contrapartida, editores, distribuidores e livreiros vão contribuir com 1% dos lucros com a venda de livros para o Fundo Pró-Leitura -projeto que visa aumentar o índice de leitura no Brasil.

A desoneração fiscal integra uma série de medidas que compõem o Plano Nacional do Livro e Leitura, que deverá ser lançado nos primeiros meses de 2005. O objetivo é ampliar a média nacional de leitura em 50% nos próximos três anos -o que eqüivale a 1,8 livro lido por habitante por ano.

No Brasil, cerca de 61% dos adultos alfabetizados têm muito pouco ou nenhum contato com livros. São 6,5 milhões de pessoas das camadas mais pobres que afirmam não ter nenhuma condição de adquirir um livro, indica a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, realizada a pedido da Câmara Brasileira do Livro. O estudo foi citado ontem pelo ministro da Cultura, Giberto Gil, durante cerimônia de sanção presidencial da lei que isenta editoras, livrarias e distribuidoras de livros do pagamento dos impostos PIS/Pasep e Cofins.

‘Tal contexto impõe uma ação consistente e articulada para o estímulo à leitura e para a democratização do acesso ao livro via instalação de bibliotecas públicas e livrarias em cidades e regiões metropolitanas desprovidas ou escassamente providas desses bens e equipamentos culturais’, disse Gilberto Gil. Para o ministro da Cultura, a lei que isenta de imposto a indústria brasileira de livros é o ponto de partida para a construção do Plano Nacional do Livro e Leitura.’



Jornal do Brasil

‘Livros: menos impostos’, copyright Jornal do Brasil, 22/12/04

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em cerimônia ontem no Planalto, sancionou uma lei que isenta do pagamento das contribuições federais PIS/Pasep e Cofins a produção, a venda e distribuição de livros. Segundo o Ministério da Cultura, em três anos os livros poderão ser vendidos com redução de 10% em relação aos preços, e a medida vai incentivar o lançamento de novos selos editoriais e a abertura de novos pontos de venda. Trata-se, diz o governo, de um primeiro passo para o Plano Nacional do Livro e Leitura a ser anunciado no ano que vem.

O objetivo do governo, com o plano, é que a média de leitura no país avance em 50% até 2008. Hoje, segundo o Ministério da Cultura, cada habitante lê 1,8 livro a cada ano. Na Colômbia, por exemplo, a média é de 2,4 livros. Na cerimônia de ontem, Lula pediu que José Sarney (PMDB-AP), presidente do Senado, falasse por ele.

Em rápido e improvisado discurso, o senador sugeriu que Lula convencesse o BNDES a atuar no setor.

– O presidente me deu a honra de falar em seu lugar. E, se eu pudesse tomar algumas ações, já tomaria a primeira. Que o BNDES criasse um fundo com juros baixos e proteção especial ao livro – sugeriu.

E, antes de encerrar sua fala, tocou mais uma vez no tema:

– Presidente, não se esqueça do BNDES – reiterou.

Com a isenção anunciada ontem, editores, distribuidores e livreiros terão, por sua vez, de contribuir com 1% de suas vendas para um fundo pró-leitura (cerca de R$ 45 milhões por ano), que será usado para programas de incentivo ao setor. O governo calcula que deixará de arrecadar R$ 60 milhões anuais.’