‘A diretoria-executiva da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) divulgou nota, nesta quinta-feira (14/10), rebatendo as críticas feitas recentemente pelo Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas (Conferp) à criação do Conselho Federal de Jornalismo (CFJ).
O manifesto intitulado ‘Carta aberta ao Conferp’, que estará disponível no site da Fenaj ainda nesta quinta, também condena a posição da entidade responsável pela coordenação e fiscalização do exercício profissional de Relações Públicas em relação ao Projeto de Lei 708/03, que atualiza a regulamentação da profissão de jornalista.
A carta é uma resposta à nota ‘Conselho Federal de Jornalismo: Explicações Necessárias – Posição Oficial do Conferp’, publicada no site da entidade. Nela, o Conselho Federal de Relações Públicas acusa a Fenaj de tentar cercear a liberdade de imprensa, promover uma reserva de mercado, patrulhar a atividade do jornalismo e estabelecer uma censura prévia nos veículos de comunicação.
RPs versus jornalistas
A relação entre as duas entidades está estremecida desde a aprovação, pela Câmara, do Projeto de Lei 708/03, apresentado pelo deputado Pastor Amarildo (PSC-TO). A proposta atualiza o Decreto-Lei 972/69 e acrescenta 12 funções na relação daquelas que são privativas de jornalistas. Entre elas, as de pauteiro, editor responsável, coordenador de imagens, comentarista e assessor de imprensa.
Nesse ponto, está a grande polêmica. O Conferp não aceita a inclusão da assessoria de imprensa na lista e promete recorrer à Justiça, caso o projeto seja aprovado pelos senadores. ‘Jornalista não pode ser assessor de imprensa. É um problema ético, porque ele passa a deixar de lado o interesse do público e a defender o interesse particular’, diz o presidente do Conselho, João Alberto Ianhez.
Para ele, o profissional formado em jornalismo pode trabalhar em uma assessoria de imprensa, desde que subordinado a um relações públicas e afastado das atividades de redação. ‘O jornalista acaba, dentro de uma assessoria de imprensa, exercendo atribuições de um relações públicas. Mas aqui, a exemplo de outros países, ele deveria devolver o seu registro profissional’, considera.
Legislações confusas
Hoje, nem a legislação que regulamenta a profissão de relações públicas, nem a que estabelece normas para o exercício do jornalismo utiliza a expressão ‘assessoria de imprensa’. O projeto do deputado Pastor Amarildo faz essa distinção.
Em suas argumentações, Fenaj e Conferp se baseiam, de forma distinta, na interpretação das leis vigentes. Uma acusa a outra de agir de forma corporativa e tentar criar uma reserva de mercado.
Na nota publicada nesta quinta-feira, a Federação Nacional dos Jornalistas recorre às diretrizes curriculares estabelecidas pelo Ministério da Educação e à legislação que regulamenta a profissão de relações públicas para tentar demonstrar que a função é privativa da categoria. ‘Basta lembrar que no Decreto 83.284/79 há farta descrição sobre a atividade, cargos e funções do jornalista profissional. E fazer textos jornalísticos ou matérias para jornais e revistas, de qualquer tipo, são atividades jornalísticas’, indica a carta.
O que diz o projeto
De acordo com o projeto aprovado pela Câmara, assessor de imprensa é ‘o profissional encarregado da redação e divulgação de informações destinadas a publicação jornalística, que presta serviço de assessoria ou consultoria técnica na área jornalística a pessoas físicas ou jurídicas, de direito privado ou público, relativos ao acesso mútuo entre suas funções, a preparação de textos de apoio, sinopses, súmulas, o fornecimento de dados e informações solicitadas pelos veículos de comunicação e edição de periódicos e de outros produtos jornalísticos’.
Em nota, a Fenaj alega que ‘não cabe ao Conferp ‘ditar regras’ sobre o que compete ou não compete ao jornalista e muito menos assacar que esse profissional, por intermédio de seu futuro conselho ou da legislação que ora tramita no Congresso Nacional, estaria pretendendo ‘invadir’ seara alheia’.
Segundo a diretoria-executiva da entidade, ‘Assessoria de Relações Públicas e Assessoria de Imprensa já trazem no próprio nome suas respectivas responsabilidades e competências, além de estar identificada também a qualificação profissional exigida em suas atividades-fim’.
Registro para colaborador
Outro ponto do PL 708/03 questionado pelo Conferp é o dispositivo que exige registro especial de colaboradores. ‘Trocaram o termo ‘matéria’ por ‘texto’. Dificulta inclusive a atuação do assessor de imprensa, já que o assessorado vai precisar de registro profissional para publicar artigos’, critica o presidente da entidade.
O presidente da Fenaj, Sérgio Murillo, diz que a exigência já é prevista pela legislação vigente e que só vai atingir colaboradores que escrevem constantemente para jornais, apesar de não serem formados em jornalismo. ‘Não estamos fechando a imprensa, nem fazendo reserva de mercado. Qualquer um pode falar na mídia. Mas jornalismo é função específica, que exige preparação teórica e técnica’, afirma.
Conselho contra Conselho
Há dois meses, o Conferp se recusou a assinar texto de moção de apoio assinado pelo Fórum dos Conselhos Federais de Profissões Regulamentadas à criação do Conselho Federal de Jornalismo. ‘Defendemos a criação de um conselho para os jornalistas, mas esse aí não dá para aceitar’, diz o presidente da entidade, João Alberto Ianhez.
De acordo com a nota do Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas, os termos empregados no projeto que cria o CFJ revelam o viés autoritário da proposta. Diz a nota do Conferp: ‘Não pode toda uma categoria profissional ser condenada por um projeto que impede a liberdade de expressão e, até mesmo, contraria normas constitucionais e avança sobre atividades e funções já consagradas por profissão regulamentada desde 1967 e que faz parte do Fórum dos Conselhos Federais de Profissões Regulamentadas’.
A Fenaj, em sua nota, rebate a acusação, alegando que o CFJ será um órgão independente, que terá de prestar contas ao Tribunal de Contas da União (TCU) e não ao Executivo. ‘Portanto, os conselhos federais suplementam as fiscalizações do exercício profissional previstas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) por delegação e não por subordinação ao Estado.’ De acordo com a entidade, a criação do Conselho é um dos principais mecanismos para reverter a precarização das relações de trabalho entre os jornalistas.
Abracom em cima do muro
No meio desse tiroteio, o presidente da Associação Brasileira das Agências de Comunicação (Abracom), José Luiz Schiavoni, diz que a entidade não vai tomar partido. ‘A Abracom não defende nem uma posição, nem outra. Tanto o relações públicas quanto o jornalista estão habilitados para exercer a assessoria de imprensa. Cabe à agência escolher o melhor perfil profissional’, afirma.
Estima-se que haja em todo o país 900 empresas atuando na área de assessoria de comunicação. Entre os que trabalham diretamente com assessoria de imprensa, 60% são jornalistas, segundo estimativas da Fenaj.
Jurisprudência para os dois lados
O conflito em torno da competência legal para o exercício da atividade foi parar no Tribunal Superior do Trabalho (TST). Em dois casos, duas manifestações opostas. Há cinco anos, ao julgar a ação de uma jornalista que trabalhava em uma assessoria de imprensa e pretendia usufruir da jornada especial de cinco horas diárias, o TST considerou que ‘assessor de imprensa não exerce atividades típicas de jornalista, (…) atua como simples divulgador de notícias e mero repassador de informações aos jornalistas, servindo apenas de intermediário entre o seu empregador e a imprensa’.
Já, no ano passado, o Tribunal apresentou entendimento diferente. Manteve a condenação da Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE) do Rio Grande do Sul a pagar quatro horas-extras a um ex-assessor de imprensa. De acordo com o TST, o assessor tinha direito à jornada especial de jornalista de cinco horas diárias, mesmo não tendo trabalhado em empresa exclusivamente jornalística.
Ajuste ao mercado
O Conselho Federal de Relações Públicas também pretende apresentar um anteprojeto de lei atualizando a regulamentação profissional. A intenção, segundo João Alberto Ianhez, vai no sentido oposto ao pretendido pela Fenaj. De acordo com o presidente do Conselho, a idéia é abrir o exercício da profissão para profissionais com graduação em outras áreas, mas sem renunciar às funções já desempenhadas pela categoria. ‘Queremos flexibilizar a nossa regulamentação e nos adaptarmos às exigências do mercado’, afirma.’
TODA MÍDIA
"Tudo ou nada", copyright Folha de S. Paulo, 19/10/2004
"Para Marta Suplicy e o PT, esta é a ‘semana decisiva’, na expressão do SPTV.
A prefeita e o PT, um dia depois de nova pesquisa Datafolha com ampla vantagem de José Serra, foram ao ataque ontem atirando para todo lado.
Em entrevista às rádios CBN e Globo, Marta insinuou que o adversário tucano pode não receber os recursos do governo Lula que ela, se eleita, teria.
Serra ‘terá que apresentar projetos em sintonia com o governo federal’. Do contrário, ‘não vai ter ajuda’.
A declaração foi tão coercitiva que o ministro Aldo Rebelo, correu à Globo Online e outros sites para ‘assegurar que nenhum prefeito de nenhum partido de nenhum lugar do Brasil sofrerá discriminação por qualquer razão que seja’.
Já foi vexatório, mas havia mais, no tudo ou nada.
Ainda às rádios, Marta passou a concentrar fogo no governador Geraldo Alckmin -que acusou de não gastar o exigido em habitação, de não eliminar as ‘escolas de latinha’, de investir de forma ‘ridícula e mal planejada’ no metrô etc.
Alckmin surgiu na CBN para se defender, dizendo que investe mais que o exigido em habitação e que Marta está partindo para ‘ataques e destemperos’ por estar atrás nas pesquisas.
O próprio Serra, em entrevista ao SPTV, saiu em defesa do governador, dizendo que Marta ‘concorre’ com o governo estadual, enquanto ele buscará uma ‘atitude de cooperação’.
Mas havia ainda mais. O site de Marta destacou que o ‘PT entra com ação para investigar ato pró-Serra’, com base em uma reportagem do ‘Agora São Paulo’ sobre a ‘convocação’ de educadores estaduais.
Segundo o site, seria um ‘pedido de cassação do registro da candidatura de Serra’.
E ainda havia mais, no desespero petista. Segundo a Folha Online, em destaque no UOL, a prefeita prometeu ontem até ‘congelar’ a tarifa de ônibus dm 2005, se for reeleita.
Era só o primeiro dia de toda uma ‘semana decisiva’.
‘NUNCA CHEGA’
O Bolsa-Família na Globo
Era o que Lula menos queria -a Globo em cobertura crítica de seu programa social de maior investimento, o Bolsa-Família. Alguns trechos do Fantástico, ecoados ontem por sete manchetes seguidas na abertura do Jornal Nacional:
– Falhas graves no programa do governo federal criado para distribuir dinheiro entre as famílias pobres.
Para 2004, o investimento previsto é de R$ 5 bilhões:
– Esse dinheiro deveria beneficiar famílias pobres. Mas você vai ver que as coisas não funcionam.
As ‘falhas graves’ ou ‘distorções’ se repetiram nas três pequenas cidades escolhidas pelo Fantástico e depois nas regiões metropolitanas abordadas pelo JN. O caso emblemático é de Elaine Cristina, 8, que ‘vive na miséria’ com a avó e dois primos. Da avó:
– Já estou aguardando o Bolsa-Escola tem dois anos. Estou aguardando chegar e nunca chega.
Mas ‘chega’ para a ‘dona do mercado’ que mora perto de Elaine e sua avó, na maranhense Pedreiras. Também chega para diversos funcionários de prefeituras das cidades visitadas pela Globo.
O ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, assistiu com a Globo, no domingo, e balbuciou:
– É claro que existem desafios… Os cadastros do Bolsa-Escola nós herdamos do governo passado… Queremos aperfeiçoar… Acho que representa uma minoria.
O próprio JN, ontem, destacou que não é ‘minoria’.
Foi a Globo gritar e o governo todo se mexeu.
Ontem, segundo o JN, já se movimentavam não só Ananias, bloqueando benefícios para os casos citados, mas a Caixa Econômica Federal, com um ‘mutirão para entregar os cartões’, e até a Corregedoria Geral, com ‘força-tarefa para investigar o Bolsa-Família’.
Problemas
A votação nos EUA já começou -e pela Flórida. Já começaram também os problemas, segundo o site do ‘New York Times’ e até sites pró-republicanos como o Drudge Report.
O epicentro dos ‘problemas com computador’, a exemplo do que ocorreu quatro anos atrás, é Palm Beach.
Enquanto blogs pró-democratas prometem lutar contra os ‘esforços de supressão de nossos eleitores’, no dizer do Daily Kos, as primeiras reportagens já relatam ‘manifestações’ contra as autoridades eleitorais.
Pesquisas
Os EUA vivem um inusitado confronto de institutos.
O cenário antes dominado pelo Gallup, em conjunto com CNN e ‘USA Today’, agora tem um concorrente com números muito diferentes, o Zogbi, com a agência Reuters e o ‘Wall Street Journal’. Ontem, o Gallup dava oito pontos de vantagem para George W. Bush, enquanto o Zogbi apontava empate.
A nova ‘New Yorker’ traz um longo perfil do ‘maverick’ John Zogby -em que o pesquisador ‘dissidente’ tripudia sobre os erros do concorrente."
*** ‘Ação e reação’, copyright Folha de S. Paulo, 14/10/2004
‘Em destaque na Globo:
– No Rio de Janeiro, um golpe contra o tráfico.
Foi surgir o ‘Independent’ e a polícia matou um dos traficantes ‘mais procurados do Rio’, na manchete do JN.
O chefe da Polícia Civil disse ao Bom Dia Rio que a operação tem um ano e, semanas atrás, achou um esconderijo.
E ontem de madrugada, em ‘missão dada pela governadora Rosinha’, os delegados e alguns poucos policiais encerraram a operação.
O chefe da polícia saiu então em entrevistas não só aos jornais da Globo, locais e nacionais, mas à CBN e Globo Online -dizendo que a morte de Gangan ‘quebra a articulação entre várias favelas e traficantes’.
Gangan, pelos relatos, era um símbolo do desrespeito ao poder estatal, tendo ordenado até um ataque à prefeitura.
Daí a manchete otimista da Globo Online:
– O tráfico está desarticulado no Rio, diz polícia.
É cedo para tanto. Segundo o RJTV, à noite:
– A Polícia Militar, para evitar tumulto, ocupou as entradas dos morros. Comerciantes fecharam lojas, com medo. Três escolas não funcionaram.
O Cidade Alerta, na Record, foi além e apresentou, com locução, cenas de ‘guerra’.
A operação convenceu a Globo, mas não o presidente da OAB do Rio, que apareceu no rádio para declarar que a cidade ‘está nas mãos dos bandidos’.
Para ele, pode ter havido até exagero, mas não inverdade, no relato do ‘Independent’.
Nos blogs, o que ecoou ontem foi menos o ‘Independent’ e mais o artigo do sociólogo Luiz Eduardo Soares, ex-secretário de Segurança do Rio, para quem ‘na cidade ocorre mais de um crime grave por minuto’.
No comentário de Pedro Doria, que escreve um blog para o site carioca Nomínimo, ‘nem precisa do ‘Independent’.
NÓ
Em artigo no ‘Guardian’, Aleida Guevara, filha de Che, descreve sua visita ao Brasil: ‘Senti um nó no coração. Ver crianças nas piores condições, usadas para narcotráfico, isso tudo deu muita raiva -porque o Brasil é um dos países mais ricos do meu continente’
Bruxas
Os tucanos não esqueceram ‘os erros do Ibope’ no primeiro turno, quando ‘subestimou grosseiramente a votação de Serra’, na avaliação de Eduardo Graeff no site E-Agora. Ele faz um amplo estudo e conclui que não ainda foi o bastante para ‘comprometer a presunção de idoneidade’:
– Eu não acredito em bruxas. Mas que é bom ficar de olho nos dados, lá isso é.
Reforço
O ‘El País’ noticiou o envio das primeiras tropas espanholas à força da ONU no Haiti.
E o argentino ‘La Nación’ deu um editorial em apoio à missão -e a tudo mais que os soldados precisarem.
Mais Moore
Michael Moore nem esperou a eleição e já espalha controvérsia com novo projeto, agora sobre a indústria farmacêutica.
A MSNBC diz que o cineasta acusou um laboratório de vetar entrevistas, o que o laboratório nega. Moore já ameaça invadir as fábricas.
Teorias
Uma série de reportagens do ‘Washington Post’, apontando irregularidades para o processo eleitoral, iniciou uma febre conspiratória nos blogs liberais dos EUA. O maior alvo é uma organização de republicanos, que os blogs Daily Kos e Talking Points Memo acusam de estar por trás de todos os episódios -da Flórida ao Oregon.’
***
‘Voto como pecado’, copyright Folha de S. Paulo, 13/10/2004
‘No ‘New York Times’ de ontem, um dos destaques era a ‘guerra santa’ em torno da eleição, no campo católico.
Bispos americanos estão em campanha contra John Kerry, sobre ‘temas não-negociáveis’. Dois deles, em especial: aborto e pesquisa com células-tronco.
Para um líder da campanha, arcebispo do Colorado, votar no democrata seria um ‘pecado’ que exigiria até confissão antes da comunhão. Segundo ‘guias’ distribuídos pela campanha, a ‘destruição de embriões’ para as pesquisas é inaceitável.
A igreja de João Paulo 2º joga todo o seu peso sobre os EUA. Mas não só lá. A mensagem do papa noticiada anteontem nos telejornais brasileiros foi além do elogio ao Fome Zero.
No destaque do influente site católico Zenit.org, o centro da atenção do Vaticano era o apoio do Brasil aos ‘valores da fé’.
‘Especialmente’, nas palavras do papa, ‘quando é questão de reconhecer a salvaguarda do não-nascido, desde o momento da concepção’. Isso vale contra o aborto, mas, destacou o Zenit, vale sobretudo para a recém-aprovada Lei de Biossegurança, ‘que permite a pesquisa’.
COCAÍNA E CARNIFICINA
Desde o texto de Larry Rohter no ‘New York Times’, sobre Lula e a bebida, que uma reportagem no exterior não atingia tal repercussão. Com o título ‘A cidade da cocaína e da carnificina’, o jornal ‘The Independent’ descreveu, por duas páginas, um cenário de guerra para o Rio, comparado à Chechênia. Encerrou dizendo que, ‘para milhares de crianças envolvidas pelo narcotráfico, o Rio é uma cidade sem futuro’.
Logo ecoou no site da BBC Brasil, seguindo daí para as páginas iniciais do UOL e Globo On Line -e daí para os sites dos cariocas ‘Jornal do Brasil’ e ‘O Dia’, para os blogs e canais de notícia. A Globo News trouxe a reação do chefe da Polícia Civil:
– É um título que não vamos aceitar de forma alguma. Nós não produzimos cocaína. Há outros locais no mundo que têm volume de cocaína, em consumo e trânsito, maior que o Rio.
No início da noite, na enquete com internautas feita pela Globo On Line, à pergunta ‘o Rio pode ser rotulado como a cidade da cocaína e da carnificina’, 86,7% diziam ‘sim’, 13,3%, ‘não’. Como que para confirmar o diário britânico, o JN deu em manchete::
– Policiais do Rio são cercados por traficantes. Dois morrem. Os companheiros deixam as ruas e voltam para o quartel. E o comando nega insubordinação.
Voto como pecado
No ‘New York Times’ de ontem, um dos destaques era a ‘guerra santa’ em torno da eleição, no campo católico.
Bispos americanos estão em campanha contra John Kerry, sobre ‘temas não-negociáveis’. Dois deles, em especial: aborto e pesquisa com células-tronco.
Para um líder da campanha, arcebispo do Colorado, votar no democrata seria um ‘pecado’ que exigiria até confissão antes da comunhão. Segundo ‘guias’ distribuídos pela campanha, a ‘destruição de embriões’ para as pesquisas é inaceitável.
A igreja de João Paulo 2º joga todo o seu peso sobre os EUA. Mas não só lá. A mensagem do papa noticiada anteontem nos telejornais brasileiros foi além do elogio ao Fome Zero.
No destaque do influente site católico Zenit.org, o centro da atenção do Vaticano era o apoio do Brasil aos ‘valores da fé’.
‘Especialmente’, nas palavras do papa, ‘quando é questão de reconhecer a salvaguarda do não-nascido, desde o momento da concepção’. Isso vale contra o aborto, mas, destacou o Zenit, vale sobretudo para a recém-aprovada Lei de Biossegurança, ‘que permite a pesquisa’.’
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‘Mais uma chance’, copyright Folha de S. Paulo, 15/10/2004
‘Os três debates presidenciais nos EUA mostraram como o confronto eleitoral é útil ao cidadão, para tornar seu voto mais consciente.
Sobre o primeiro confronto direto, ontem em São Paulo, não se pode dizer o mesmo.
Sem um jornalista a perguntar, quase sozinhos em cena, a prefeita e o tucano entravam e saíam dos temas num vaivém frenético -às vezes sem conseguir fechar as frases.
Do transporte à saúde, ao emprego, à educação, ao transporte de novo… O efeito é que ficavam na memória não os argumentos mas os bordões, do ‘apagão da saúde’ de José Serra à ‘turma do Pitta’ de Marta Suplicy.
Não ajudou, para tanto, a incontrolável torcida de partidários dos dois, urrando na platéia -em lugar dos cidadãos, como promete a Globo para o próximo e último debate.
Ainda assim, sobretudo a partir de meia hora de programa, Serra e Marta mostraram que alguma coisa aprenderam com os presidenciáveis dos EUA.
Sem contar um acesso de Marta, apontando ‘o diabo’ no tucano, ambos foram agressivos em limites relativamente aceitáveis e até desejáveis, para marcar as suas diferenças.
Serviu sobretudo para os dois treinarem um pouco mais, para o próximo confronto.
Quanto ao placar, reproduzo os dois blogs que comentaram o debate ao vivo.
Marcelo Tas, escrevendo no UOL, julgou que ‘deu empate, talvez com leve margem para o Serra, já que Marta reforçou sua imagem de arrogante’.
Para Ricardo Noblat, no iG, ‘Serra ganhou porque Marta não o massacrou -e porque se saiu um pouco melhor’.
Marta, como John Kerry no primeiro debate, precisava ‘massacrar’, vencer bem. Ao contrário do democrata, não chegou nem perto.
Quanto às aparentes lágrimas de Marta, em seu encerramento, elas foram um pouco além do necessário, para a cena.
NOS EUA, FIM DA TEMPORADA
Antes e depois do terceiro debate, anúncio democrata dizia no ‘NYT’ e no ‘WP’ que ‘Kerry termina forte, pronto para liderar’
Pelas análises nas primeiras páginas dos jornais dos EUA, a ‘temporada de debates’, no dizer do ‘New York Times’, acabou com vantagem para o democrata. O que a temporada também revelou, segundo Howard Kurtz, colunista de mídia do ‘Washington Post’, foi que hoje os democratas ‘levam a sério o spin’, o esforço de espalhar opinião favorável à performance do candidato. No mais recente, envolveu desde a filha de Kerry, na CNN, ao vice, na CBS. De quebra, incontáveis e-mails para jornalistas, ecoando análises positivas, e anúncios pagos de vitória, expostos com destaque antes até de começar o debate.
Tucanos em 2006
O que FHC vai fazer? Não vai se dedicar a palestras para sempre.
O colunista Andres Oppenheimer, do ‘Miami Herald’, do argentino ‘La Nación’ e da CNN em espanhol, lançou ontem o ex-presidente para secretário-geral da Organização dos Estados Americanos.
Depois de ‘entrevistas com chanceleres e embaixadores’, fez uma lista dos ‘principais candidatos e suas chances’ e destacou FHC:
– É o político latino-americano com talvez a maior estatura internacional e gozaria do peso político adicional de ser apoiado pelo gigante Brasil.
Ele próprio, Oppenheimer, diz que sua ‘primeira opção seria Cardoso’. É sua ‘aposta’. Pelos contatos que teve, a chance de FHC é de 80%, ‘desde que ele queira o emprego’.
Está aí o problema. Segundo o colunista, ‘Cardoso estaria em campanha para secretário-geral da ONU em 2006’.
E tem a eleição presidencial, também em 2006.
Mas no Brasil o PSDB, pelas notas que começam a surgir, já tem candidato. Segundo o site claudiohumberto.com.br, ‘o preferido’ é Alckmin:
– Aécio Neves vive no Rio para fazer média, dizem no PSDB, enquanto Geraldo Alckmin só precisou tirar Beira-Mar para agradar aos cariocas.
E a Agência Nordeste noticiou que o governador vai sair em campanha nacional pelos tucanos, no segundo turno.
No dia 16, tem agenda em Florianópolis, com Dário Berger. Depois Curitiba, com Beto Richa. Dia 22, Natal, com Luiz Almir. E quem mais quiser.
Está prevista ‘a participação do governador em palanques e programas de TV’. Ao que parece, a campanha para 2006 começa hoje, com a volta da propaganda eleitoral.
Mais reformas
Editorial da nova edição da revista britânica ‘The Economist’ elogia os países em desenvolvimento, que ‘estão crescendo na maior velocidade em décadas’. Destaca a ‘taxa robusta’ dos ‘quatro maiores: China, Índia, Brasil e Rússia’.
Mas avisou que ‘é imperativo que não só mantenham suas políticas, mas aproveitem o crescimento rápido para levar adiante mais reformas’.
Contra, não
A equipe de Luizianne Lins divulgou que as ‘radicais’ Heloísa Helena e Luciana Genro, do PSOL, fariam campanha ontem pela petista. Segundo a Agência Nordeste, não fizeram.
E a Globo Online anunciou no fim da tarde que Lula vai receber Luizianne em Brasília. Do coordenador da campanha da petista, para o site da Globo:
– Somos parte da base aliada. Não somos contra o governo.’