Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Eduardo Ribeiro

‘Poucas vezes vi, nesses últimos anos, semanas tão agitadas como as últimas, na área das agências de comunicação. Não param de chegar as informações dando conta de contas e mais contas que são conquistadas, de jobs, de contratações realizadas. Algumas das agências, inclusive, noticiam no atacado as conquistas, tal a performance obtida na prospecção de mercado.


Não acompanho a rentabilidade e o desempenho financeiro das empresas para saber se estão ganhando muito ou pouco dinheiro, mas ouso afirmar, sem medo de errar, que vivemos um boom nesse segmento. E se não é um boom, seguramente estamos diante de um mercado muito aquecido, como poucas vezes se viu.


Poderemos ter certeza disso quando as agências começarem a fechar seus números do ano, no início de 2006, mas arrisco dizer que o crescimento, salvo um desastre na economia, baterá novamente nos dois dígitos, chegando quem sabe em 15 ou 20% na média do setor.


Uma coisa, no entanto, é preciso dizer: quase todas as agências escondem as contas perdidas e alardeiam aos quatro ventos as contas conquistadas, num claro sintoma de que as perdas ainda incomodam e são vistas como sinônimo de fracasso. São raros os casos de comunicação nesse sentido. Existem, mas são exceções. O mercado certamente teria muito interesse em saber também quem perdeu determinada conta e por que, como na propaganda. E se uma ganhou é porque, em geral, outra perdeu, a não ser nos casos de início de operação.


Por esse raciocínio, poderia até se afirmar que esse crescimento aqui insinuado pode ser falacioso, posto que uma conta que migra de agência não representa crescimento de mercado. Verdade. Porém, não é esse o clima geral que temos presenciado tanto na divulgação quanto nas conversas com vários empresários da área, os quais efetivamente sinalizam um crescimento. Há, com toda certeza, mais dinheiro injetado nesse segmento e os reflexos são nítidos na direção da expansão. Tanto que as contratações não param de acontecer e hoje já começam a faltar profissionais mais qualificados para as vagas estratégicas.


Temos também de levar em consideração que o grau de profissionalização das agências fez com que o mercado começasse a comprar melhor essas empresas, tanto pelo portfólio apresentado quanto pela própria competitividade, que impede a prática de preços abusivos no segmento. Ao contrário, há inúmeros casos constatados de concorrência predatória, que deixam os donos das agências de cabelo em pé e com a barba de molho.


Mas isso são lá outros quinhentos e não impede que se possa comentar sobre o bom momento vivido.


Como dançam as contas!


Agências com In Press Porter Novelli, FSB, Máquina da Notícia e CDN – Cia de Notícias, entre as maiores do setor, com dezenas de contas dos mais variados setores cada uma delas, sempre são destaques e beneficiam-se até do próprio porte para continuar na ponta e ganhar concorrências. Mas há outras correndo por fora e comendo pelas bordas, como RP1, MVL, CDI, Holofote e Imagem Corporativa, para ficar em apenas algumas, que têm apresentado um portfólio de conquistas dos mais significativos.


A CDI-Casa da Imprensa, dirigida por Antonio Salvador Silva, anunciou, em março, de uma única vez, a conquista de seis novos clientes. Um recorde, talvez. No núcleo dirigido por Sônia Mitaini as conquistas foram: no varejo, os shoppings West Plaza e Paulista que somam ao atendimento já prestado a outros empreendimentos da Rede Plaza como o Pátio Higienópolis e o Plaza Sul; e a multinacional francesa de esportes, Decathlon. Na área automotiva, a International Engines South America, empresa que atua em produção, tecnologia e desenvolvimento de motores diesel no Mercosul. O atendimento à International será feito por Thais Aguiar e Marcelo Xavier, com coordenação de Denise Marcolino. A agência também comemora a chegada do grupo Victor Malzoni e da Dpaschoal, contas que passam a ser atendidas por Sílvia Dias e Alexandre Rigonato.


De quatro em quatro


Esta semana a FSB, de Francisco Soares Brandão, Marcos Trindade, Tom Camargo e cia, foi outra que aproveitou para divulgar, no atacado, seus novos clientes: quatro de uma só vez, todos do escritório paulista – sim, porque a agência tem também escritórios no Rio de Janeiro, onde está a matriz, e em Brasília: Leão Júnior (Matte Leão), Amacoco (da água de coco Kero Coco), Método Engenharia e HSM Group, hoje uma das mais importantes referências no Brasil na formação de executivos. Também na Capital Federal a FSB andou colocando suas mangas de fora conquistando importantes contas como as dos ministérios da Integração Nacional, do Desenvolvimento Agrário e do Trabalho.


Outra que fez anúncio no atacado foi a carioca Insight, também com quatro novos clientes em carteira: a rede Bob’s de fast food, os postos de combustíveis Forza, a AngraPorto Offshore Logística e a Abraman – Associação Brasileira de Manutenção. No atendimento, Suzana Ribeiro, Marta Simões, Cezar Faccioli e Danielle Bastos, respectivamente. Em SP, Cláudia Rolim, recém-chegada, foi destacada para atender o Bob’s.


A Linhas&Laudas, de Fernanda Bulhões e Ederaldo Kosa, também incorporou quatro novas contas ao portfólio de clientes num espaço pequeno de tempo: as editoras Ática e Scipione, a Feira AutoSports 2005 (da Alcântara Machado) e a Crown Telecom. Lídice Leão responde pelo atendimento das editoras e da Feira e Bernardo Ramos, atende a Crown Telecom. A agência, que além de SP também tem escritório no Rio, está fincando bandeira também em Belo Horizonte, para onde foi enviado o gerente de núcleo Felipe Taboada.


A In Press Porter Novelli, outra que também mantém escritórios no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília, ampliou seu atendimento na capital paulista, no segmento de shopping centers. A agência, que já tem as contas dos shoppings Anália Franco e Morumbi, assumiu também a assessoria de imprensa do Eldorado, que, desde março, passou a ser administrado pela Renasce, do Grupo Multiplan.


Entre as médias, temos o caso da RP1, de Maysa Penna e Cláudia Rondon, que tem anunciado semana após semana novas conquistas, entre elas Casa Cor (a última delas), Vila Romana (moda) e Pró Genéricos, entidade que congrega os principais laboratórios que atuam na produção e comercialização de medicamentos genéricos no mercado brasileiro. Com esse cenário, nem é preciso ser adivinho para saber que a agência ampliou a equipe.


A Item, de Celina Monteiro de Barros e Laura Gonçalves, é outra das agências a anunciar quatro novos clientes, porém em duas etapas. São eles OptiGlobe, provedora de soluções de tecnologia da informação, Proceda, empresa de serviços de outsourcing (ambas do Grupo Votorantim), a norte-americana SAS, uma das principais empresas de software do mundo, e a chinesa AOC, que produz monitores de vídeo, com fábrica em Manaus.


Também a Fundamento, de Marta Dourado, vem bem. Ela foi a agência escolhida para divulgar o Cymbalta no Brasil, novo medicamento da Eli Lilly e da Boehringer Ingelheim, para o tratamento da depressão. A agência conquistou também a conta da Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais – Abirocha, da Medial Saúde e da Resolve, empresa com foco em soluções corporativas e modelo de negócios diferenciado. O atendimento da Medial será supervisionado por Andréa Guardabassi, tendo ainda o apoio de Christiane Pereira Suzano, enquanto Laura Fontoura e Marcos Santos ficam responsáveis pelo atendimento da Resolve. As duas contas serão coordenadas por Adriana Panzini, diretora de Atendimento e Planejamento.


A Image, de Christina Galdeano, também anunciou novas contas e gente nova para o atendimento. Andrea Santiago chegou para as contas do Prontocor e da Grão Semente-Culinária de Transformação; e Suzana Galdeano, vinda da Divisão de Produtos de Luxo do grupo L’Oréal, ficou com as contas dos segmentos de beleza e bem-estar: a marca de cosméticos Drops of Joy e o Shiva Shankara Centro de Yoga.


Outras Áreas


Propaganda e Marketing – A Holofote, de Almir Soares e Eduardo Pugnali, com tradição na área de propaganda e marketing, trouxe para seu atendimento as contas da agência Troop (da Bunge Alimentos) e da e|ou, agência de marketing de relacionamento, que tem entre seus clientes a Peugeot.


Transportes – Com dois anos completados esta semana, a Press’ Express’, de Roberto Custódio, assinou contrato com o grupo Gafor, que atua no setor de transporte, logística e terceirização de frotas, para cuidar da assessoria de imprensa nacionalmente. Nesse trabalho, ele terá o apoio de Leila Fernanda Mello. A agência fechou também acordo operacional com a recém-criada MP Comunicação, parceria de Fernando Porto (ex-Abav) e Nina Marciano (Sindetur-SP) no setor de turismo, com o objetivo de desenvolver projetos editoriais e de fazer a divulgação de eventos empresariais de grande porte no segmento turístico.


Massas – A Edelman do Brasil assumiu a assessoria de imprensa e de relações públicas da Adria, conta que será atendida por Patricia Queiroz, com direção de Leticia Lyra. Também o atendimento da Samsung, na agência, tem novidades. Passam a integrar a equipe Camila Padovani, José Oliveira Felix e Rodrigo Santos, este vindo do atendimento à Computer Associates, que agora é feito por Edilaine Abreu, que era do Media Service, departamento de estratégia da agência. A conta é gerenciada por Renata Coltro e conta ainda com o executivo Helio Kohan.


Tecnologia da Informação – A Via News, de Pedro Cadina, passou a atender a Cyclades, empresa norte-americana de tecnologia da informação, que atua no fornecimento de soluções de infra-estrutura para controle de redes. Além do serviço de assessoria de imprensa, a agência será responsável pelos textos e edição da revista da organização, a Cyclades News. Com isso, acabou contratando Adriana Athayde, que atendia a Microsiga pela Casa da Notícia.


Construção Civil – A Mandarim é a nova assessoria de imprensa da Blokos Engenharia, principal construtora do Espírito Santo e que vem expandindo suas operações para São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. No atendimento Silvério Rocha, coordenador, e Armando Ferreira.


Modelos – A Nean Comunicação vai cuidar da divulgação da Lumière Models Management, agência recém-criada no Brasil pelo francês Olivier Daube, ex-diretor da Elite. No atendimento Denis Nunciaroni e Raquel Matrone.


Craques de Futebol – A Comcept Sports Consulting, de Diogo Kotscho, Rodrigo Righetti e Lívio Capalbo, passou a assessorar o jogador do FC Porto, Diego. A agência atende também os jogadores Kaká, do Milan, e Luís Fabiano, do FC Porto, além do alpinista Waldemar Niclevicz, único brasileiro a escalar o Everest até hoje.


Café e Cosmético – A Matéria Primma, de Renata Rebesco e que está localizada em São Caetano do Sul, começou a atender o Café Moka e a LG Cosmetics. No atendimento Carolina Perez e Elaine Rebesco.


Setor Ferroviário – A Dança da Chuva conquistou a conta da MRS Logística, a concessionária do setor ferroviário que opera o trecho abrangendo os estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. A agência vai trabalhar em cooperação com a Diretoria de Comunicação da MRS (localizada em Juiz de Fora), sob o comando de Rodrigo Barbosa.


Celulares – A Planin, de Angélica Consiglio, que já era responsável pelo atendimento à imprensa da Claro em SP, passou a cuidar também da conta no Rio de Janeiro e Espírito Santo, além de coordenar todas as outras assessorias regionais. Na nova estrutura, Kelli Gonçalves assumiu a coordenação das assessorias regionais, Liane Leonel passou a cuidar de projetos especiais e ações junto ao público jovem, Sabrina Feldman ficou no atendimento em São Paulo e Tatiana Marzullo, recém-contratada, passou a cuidar da conta no Rio de Janeiro e Espírito Santo. Pela Claro, a Gerência de Imprensa continua sob a coordenação de Cristina Fernandes, e conta ainda com Michelle Medeiros, como coordenadora das atividades nacionais de imprensa.


Trabalho – A Unipress, de Alaôr José Gomes e Reginaldo Finotti, uma das mais antigas do mercado, passou a atender o Idort – Instituto de Organização Racional do Trabalho. E para cuidar do atendimento foi buscar Francisco Chagas de Moraes Filho, que já foi do Estadão e Folha, tendo também atuado no segmento de assessoria de imprensa e comunicação em várias organizações, entre elas Alcoa.


Contact Center – A DFreire é a nova assessoria de imprensa da SPCOM, empresa especializada em contact center que atua no mercado há mais de 10 anos. No atendimento, Patricia Toddai e Anna Lúcia Franca.


Banco – A Imagem Corporativa, de Ciro Dias Reis, fechou com o Banco Itaú e a Fundação Itaú Social. Para atender o novo cliente, a agência contratou Cecília Barroso, Juliana Almeida e Cristina Saquetin. A equipe interna de comunicação do Itaú e da Fundação, gerenciada por Paulo Marinho, é integrada por Rejane Braz e Guilherme Magalhães.


Hospital – A MVL, por seu lado, anunciou a conquista da conta do Hospital Sírio-Libanês e de seu Instituto de Ensino e Pesquisa , com atendimento estendido também à área de responsabilidade social da instituição. Para o atendimento, a agência contratou Neuza Serra (ex-Gazeta Mercantil, tevê Record e Eldorado AM).


Feira – A Ketchum Estratégia informou que vai novamente cuidar da assessoria de imprensa da Hair Brasil – Feira Internacional de Beleza, Cabelos e Estética, que acontecerá entre 9 e 12/4, no pavilhão Expo Center Norte, em SP. No atendimento Ana Cristina Nobre, Elaine Dorth e Regiane Tosatti.


Laboratório – A WN&P, dirigida por Monserrat Padilla e Walter Nori, é a nova agência da Bristol-Myers Squibb, para atuar na área de comunicação institucional e produtos da empresa, reportando-se ao diretor de Assuntos Corporativos Antonio Carlos Salles. O atendimento da WN&P é encabeçado por Itacir Figueiredo contando com o suporte de Beth Koike e Giuliana Benzi.


Cartão de Crédito – A Máquina da Notícia ganhou, em concorrência, a conta da Redecard, empresa do segmento de cartões de crédito e débito que opera com 800 mil estabelecimentos credenciados no País. No contrato assinado, a Máquina atenderá também a Redecard em serviços de relações públicas e clipping. A coordenação é de Mariane Corazza, com atendimento de Fernanda Buischi e Marina Kuzuyabu.


Data Center – A S2 Comunicação, de José Luiz Schiavoni e Ronaldo Alves de Souza, começou a atender a Diveo do Brasil Telecomunicações, empresa que atua no fornecimento de serviços de telecomunicações e data centers. Com sede em Fort Lauderdale, nos Estados Unidos, a empresa mantém três data centers interligados por uma rede pan-regional – Brasil, México e Colômbia. A companhia atua em sete regiões: São Paulo, Campinas, Porto Alegre, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília. No atendimento Verônica Cassavia.


Publicações – A Expressa Comunicação, de André Lozano, ampliou sua atuação no segmento de publicações, conquistando a newsletter da Philips Medical, em parceria com a Artéria Comunicação em Saúde. Os jornais são trimestrais e abordam temas relacionados aos avanços tecnológicos dos produtos da empresa, voltados à área de saúde. A edição ficará a cargo de Romy Aikawa, recém-chegada à Expressa.


Pela amostra dá para se ter uma nítida idéia de como anda esse mercado. E ele anda aquecido, de fato. Há muitas outras contas conquistas, contratações etc. Mas o texto já ficou longo demais para ir além.’




LIBERDADE & LIMITES
Paulo Nassar


‘Tudo pelo individual’, copyright Revista Imprensa, número 200, Abril de 2005


‘No mês de março, a Abia (Associação Brasileira da Indústria de Alimentos) se rebelou contra a norma que impõe aos fabricantes do setor a obrigação de avisar aos consumidores, por meio de alerta na embalagem de seus produtos alimentícios, a presença dos polêmicos organismos transgênicos. Sem entrar nos motivos que levaram os fabricantes do pão nosso de cada dia, prevejo que daqui para frente, pacotes de biscoitos, chocolates deliciosos, pacotes de arroz, feijão e de, até então, inofensivas farinhas, quando contenham mais de 1% de organismos manipulados geneticamente, lembrarão as embalagens de medicamentos, com tarjas coloridas de advertência e bulas com instruções de uso e contra-indicações.


O mundo tornou-se tão complexo para empresas e para os humanos, que mistura, cada vez mais, prazer, sabor e gozo a um sem número de ameaças desconhecidas.


O sexo, por exemplo, sente o peso da espada da AIDS, de tal forma que para degustar sua força criadora e libertadora é preciso dispor de equipamento composto, no mínimo, de elementos como exames e preservativos. Neste ritmo em que a vida vai perdendo a sua espontaneidade chegará o dia em que homens e mulheres irão para a cama estampando slogans que enaltecem o sexo responsável. Imagine como não seria tenebrosa nossa sociedade de hoje para um sujeito como Howard Hughes, o personagem do filme O Aviador, que transou com as mais belas atrizes de Hollywood, dos anos 1930, e que passou os seus últimos dias trancado em um hotel, apavorado com a ameaça de micróbios, bactérias, germens e vírus.


O que era prazer ontem, como fumar e beber, hoje é policiado por exércitos de big brothers acadêmicos e religiosos que, brandindo pesquisas e a Bíblia, se especializaram em esterilizar os pequenos prazeres e eliminar da face da Terra o que se convencionou chamar de livre arbítrio. Não fumo e não gosto de fumaça rondando o meu nariz, no entanto, defendo o direito do fumante de portar os seus maços de cigarros sem aquelas fotografias de pessoas com doenças terminais.


O caso da rotulagem dos alimentos com transgênicos só mostra como a comunicação empresarial, incluindo as ações de lobby, deveria investir na transparência. Qual é o problema em deixar claro que um alimento tem organismos modificados? O consumidor, que na retórica de marketing moderno é tido como um rei, deve ser informado sobre o que está comendo, e ponto final. Os fabricantes de alimentos deveriam imitar os bons restaurantes que convidam os seus fregueses a visitarem as suas cozinhas.


O prejuízo vai além do relacionado à imagem e reputação da companhia, ou a queda nos índices de venda. A não-transparência fortalece governos, que pouco fazem pela sociedade e pela democracia, que, além dos impostos, estão cada vez mais interessados em assuntos domésticos de cama e mesa. A invasão dos agentes públicos no ambiente privado mostra a importância do fortalecimento da responsabilidade individual. Aquela que afirma fortemente cada um de nós frente ao dilúvio do social.


Ninguém tem o direito de tirar a minha (e a sua) liberdade de fazer o que me der na telha, desde que não prejudique os outros ou infrinja a lei. E isso é sabido desde que colocávamos as mãos sobre os princípios consagrados pela Revolução Francesa e pela Declaração dos Direitos dos Homens.’




MEMÓRIA / NILO LUCHETTI
Paulo Nassar


‘Visão e pioneirismo’, Copyright Revista Comunicação Empresarial – primeiro trimestre de 2005


‘Nilo Luchetti sonhou. E mais do que sonhar, dedicou-se a edificar esse sonho. Fundou a ABERJE, criou o Prêmio e escreveu as primeiras páginas da história da comunicação empresarial no Brasil.


Nilo Luchetti, in memoriam


Eu era, na Itália, um remanescente da 2ª absurda Grande Guerra, que vitimou 56 milhões de pessoas. E tinha uma meta: o Brasil, no Trópico do Capricórnio, um país extraordi-nário, com espaço geográfico enorme, população heterogênea, afável, trabalhadora e, sobretudo, exatamente como eu sonhara: um único idioma em todo o País. Inigualável!


Assim, em 1951 embarquei em um pequeno navio, de 12 mil toneladas, cujo nome – Paolo (dal Pozzo) Toscanelli (1397-1482) – convidava a meditar e, especialmente, sonhar. Toscanelli era florentino, geógrafo, astrônomo e matemático, e afirmou que ‘o caminho mais curto para alcançar as Índias era atravessar o Atlântico’. Convenceu Colombo a tentar a Grande Viagem, que permitiu a Descoberta do ‘Novo Mundo’.


E eu desembarquei no porto de Santos, no ‘Novo Mundo’, em 24 de abril de 1951, como milhares de companheiros e companheiras de aventura que queriam, com forte determinação, iniciar uma nova vida, aprender um novo idioma, mesmo não conhecendo as perspectivas possíveis e imediatas. Da Itália trazia comigo uma lista de idéias, sonhos, fábulas, ou fantasias como as do escritor para jovens, Emilio Salgari, que criou o personagem Sandokan, sem nunca ter conhecido as terras e as praias do Sudoeste da Ásia. Trazia também uma carteirinha de repórter iniciante, de um antigo jornal diário, La Gazzetta di Mantova, um instrumento usado para comunicar-me com meu jornal italiano, bem como com a imprensa de língua italiana implantada em São Paulo, a maior cidade de imigração peninsular no Brasil. A integração deu-se de imediato. Senti-me como filho da terra, que me acolheu, a tal ponto que, respeitada a origem, adotei de imediato o Brasil, e visivelmente me adotou. Uma reciprocidade perfeita.


Os anos se sucederam entre inúmeras aventuras a 11 mil quilômetros de distância da Itália. Foram mais de trinta e três anos de trabalho na Pirelli do Brasil, fabricante de pneus, cabos, fibras óticas e laboratórios de pesquisas. Eu era o ‘comunicólogo da empresa’, editor da revista para a área de Recursos Humanos e tinha uma serie de atribuições paralelas, que já configuravam a comunicação empresarial, original no Brasil. Tive a oportunidade de abrir, com ampla liberdade de ação, um espaço extraordinário na integração empresa – empregados, convencido de que a luta permanente de classes significaria um grave handicap, uma grande desvantagem, que não permitiria aos trabalhadores um mínimo de possibilidade de ascensão social. Para mim a figura do excluído, tão na moda hoje, não deveria existir. O filósofo moralista romano Seneca (4 a.C – 65 d.C) nos deixou a recomendação: ‘Nenhum vento sopra a favor de quem não sabe para onde ir’ e eu pensava: quando o coração é puro, o comunicador da empresa é amigo e convence.


Nasce a ABERJE


Após uma serie de editoriais nas edições da revista da Pirelli, que se referiam, em abertura permanente, a ‘novos horizontes’, gerando dezenas de projetos realizados com sucesso, surgiu a idéia, compartilhada como a Pirelli, da fundação de uma Associação Nacional de Comunicadores, que se revelou um sucesso surpreendente. O primeiro encontro de editores de jornais de empresas se realizou juntamente com a primeira Exposição de Jornais e Revistas de Empresas, que determinaram a criação do Prêmio ABERJE de Jornalismo Empresarial, visando conferir o reconhecimento às empresas que se distinguissem, ao longo de um ano, na área do relacionamento entre os empregados dirigentes e os empregados executantes.


A idéia da fundação de uma Associação já estava amadurecida. Mantinha contatos com várias pessoas na Europa, especialmente na Universidade de Sorbonne, na França e na Itália, naturalmente. Nesse primeiro encontro a sugestão foi aprovada, fui eleito o primeiro presidente da ABERJE. Era outubro de 1967. Em seguida começou sua operacionalização. Formou-se, então, uma espécie de família, integrada por colaboradores de todas as áreas funcionais de produção intelectual, de engenharia ou de produção sde manufaturas. Algo inusitado e, sobretudo, além das disputas, denominadas democráticas, entre sindicatos de classe e empregadores. Uma disputa ainda hoje em plena e permanente batalha. A tão apregoada ‘responsabilidade social’ não existia, nem deveria existir hoje, como inadvertidamente se pleiteia.


O Prêmio ABERJE


Da Associação Italiana de Imprensa Empresarial, com sede em Turim, veio a inspiração para os regulamentos e recomendações. Na Itália o reconhecimento para as melhores publicações empresariais de cada ano, se chamava ‘Premio Pacces’, e existia desde setembro de 1950, constituído por troféus, brindes e, em casos especiais, um dinheirinho.


A criação do primeiro troféu


O autor do troféu foi o estudante universitário de arquitetura da USP, Carlos Eduardo Barros Menezes, Calé, de 23 anos, que nada cobrou pela colaboração. O troféu mostrava um empregado de costas, lendo o jornal, editado por sua empresa. Algo muito significativo por lembrar, sutilmente, uma recomendação de Leonardo da Vinci que, recomendava ‘Non si volge chi a stella é fisso’ (‘Não se vira quem está a observar fixamente uma estrela’). O lembrete básico era: ‘a Comunicação Social, sempre no âmbito de RH, que reconhecidamente, detém informações fundamentais para a globalidade da sociedade brasileira, deveria ser instrumento permanente de inteligência empresarial. Sem ela essa comunicação, especializada, jamais será efetivamente estratégica para as empresas’.


Premiação e reconhecimento


Na cerimônia da entrega do Prêmio ABERJE (da Associação de Jornais e Revistas de Empresas), em 26/8/1976, eu dizia: será, com efeito, o jornalista comunicólogo social (um fragmento especializado do jornalismo?) interprete objetivo e humano da dinâmica empresarial que deverá conduzir a harmonização dos interesses de todos que participam da operosa faina das complexas organizações de nossos dias. Quando se inseriam na psique dos funcionários, dirigentes e executantes, o slogan ‘Pense positivo!’. Esse é o Prêmio da verdadeira comunicação interna, como no inicio, das empresas socialmente responsáveis e que visam, objetivamente, a harmonia entre todos aqueles que trabalham, prescindindo das posições funcionais e hierárquicas.


Sugestão


O planeta extraordinariamente mutante, com pecados acontecendo por atacado, poderia instituir, a partir de 2006, o Prêmio ABERJE Especial, exclusivamente atribuído às empresas que, efetivamente demonstrarem tomar iniciativas concretas, de visível índole e conteúdos sociais, consistentes no âmbito de seu espaço operacional empresarial.


Nilo Luchetti, fundador e primeiro presidente da ABERJE, recebeu em 1983 o Prêmio Editor do Ano. Faleceu aos 85 anos em Águas de Santa Bárbara, SP.’




MEMÓRIA / HENFIL
Daniela Name


‘Chicote e açúcar’, copyright O Globo, 18/04/05


‘Humor e afeto. A exposição ‘Henfil do Brasil’, que o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) abre amanhã, para convidados, e terça-feira, para o público, mostra que o cartunista conseguia botar açúcar até nas críticas mais duras.


Henrique de Souza Filho era militante de esquerda até a medula mas, hemofílico, não participava das passeatas e manifestações contra a ditadura. Um ferimento poderia ser fatal.


– Ele às vezes dava um jeito de ir a uma passeata rapidinho, mas, quando o clima ameaçava pesar, os amigos o carregavam para uma rua transversal, mais tranqüila – conta o filho de Henfil, Ivan de Souza, que organizou a mostra com Júlia Peregrino.


O traço sempre foi a maior arma de Henfil. Essa exposição no CCBB mostra como o cartunista criou personagens inesquecíveis para criticar a dureza dos militares e problemas socioeconômicos (a seca do Nordeste, a superlotação das cadeias) ou o conservadorismo moral.


Sem preocupações com uma cronologia histórica – Henfil dificilmente datava seus originais – a mostra é orientada pelas ‘criaturas’ do cartunista. Grupos de personagens dividem os módulos: há a Turma da Caatinga, com Zeferino, Graúna e Bode Orelana; os impagáveis Fradinhos; Orelhão e Ubaldo. Há ainda dois módulos extras, dedicados a ‘Outros personagens’, como o flamenguista Urubu, e ‘Outros desenhos’, com charges sobre assuntos diversos.


Henfil morreu em 1988. Ele e os outros dois irmãos famosos que também eram hemofílicos – o sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e o músico Chico Mário – acabariam se transformando em três das primeiras vítimas famosas do vírus da Aids no Brasil. Henfil foi o primeiro a morrer e seu enterro terminou servindo para o lançamento da campanha ‘Sangue do Brasil’, para doação de sangue, que acabaria sendo o embrião da Ação da Cidadania Contra a Fome e a Miséria, a popular Campanha da Fome, que seria liderada por Betinho.


Charges que continuam atuais em suas críticas


O engajamento de Henfil nunca foi sisudo, o que condizia com alguém que trabalhava com o riso. No CCBB, chama a atenção a ternura com que tratava seus tipos mais malvados. Também é chocante (no melhor dos sentidos!) a atemporalidade de alguns de seus desenhos.


Em um deles, o Cristo Redentor, cercado por andaimes, tratores e guindastes, vê a cidade esburacada do alto do Corcovado, olha para cima e pede arrego: ‘Paiê!’, grita. Em outro, os presos de uma cela superlotada tentam organizar a rotina penitenciária: ‘Metade respira, metade inspira, pessoal’. Na mesma série, um preso vira para o guarda e diz: ‘Tenho a impressão de que morri na semana passada’.


Mais profecias? Há uma charge, sem data, que poderia ilustrar a recente fila de miseráveis tentando atendimento no Hospital de Campanha: na enfermaria pública, a atendente finalmente preenche o prontuário de dois pacientes. Sem dar muita atenção, ela estende a ficha para eles sem perceber que já viraram fantasmas. Não acabou: na arquibancada vazia, um único torcedor tenta assistir a uma partida de futebol. Mas a situação no campo está tão ruim que os jogadores o convocam para a pelada. Em tempos de Campeonato Carioca decidido melancolicamente por Fluminense e Volta Redonda, o desenho não poderia ser mais perfeito.


A exposição traz ainda documentos raros. Em vitrines, o público vai poder ver a última edição de ‘Fradim’, a revista de quadrinhos e textos que Henfil publicava. O número 31, de 1981, retrata John Lennon (o Beatle foi assassinado em dezembro de 1980) em mil peripécias. As vitrines têm ainda um material de divulgação do disco ‘Essa mulher’, gravado por Elis Regina em 1979. Entre as músicas do disco estava ‘O bêbado e a equilibrista’, de Aldir Blanc e João Bosco. Considerada o ‘Hino da Anistia’, a canção sonhava ‘Com a volta do irmão do Henfil/ E tanta gente que partiu, num rabo de foguete’. Betinho, o irmão do Henfil, era um dos muitos exilados brasileiros.


‘O bêbado e a equilibrista’ transformaria Elis numa das musas da abertura política. E o encarte do disco selaria a paz entre a cantora e Henfil. Anos antes, o cartunista inventara um personagem, o Caboclo Mamadô – presente no CCBB – que tinha o hábito de ‘enterrar’ pessoas que estavam fugindo da linha, fazendo coisas incorretas. Uma espécie de patrulheiro ideológico bem-humorado, vamos dizer assim. Como, no início dos anos 70, Elis tinha cantado nas Olimpíadas do Exército, ela foi enterrada pelo Caboclo. Mais tarde soube-se que ela fora coagida a cantar nos tais jogos.


Com ‘O bêbado e a equilibrista’, ela virou o jogo. Henfil também fez para o encarte uma história em quadrinhos fofíssima, em que seus personagens, à frente de um gramofone, comentam a voz da cantora, sua interpretação emocionada, a letra de ‘O bêbado e a equilibrista’. No fim, um deles duvida: ‘Mas será que a música vai mesmo ajudar o pessoal a voltar?’. E o gramofone ‘cospe’ uma malinha com a inscrição ‘México’, dando a entender que Betinho estava a caminho. A Anistia foi assinada naquele mesmo ano.


Numa outra charge, Henfil comemora o fato. Seu auto-retrato vai até a sepultura do jornalista Vladimir Herzog, morto na prisão durante o governo militar, e diz: ‘Vlado, saiu a Anistia’. Um travo um tanto amargo, mais de 25 anos depois. Mas, como sempre em Henfil, sem perder a ternura.’


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‘Cartum como memória e arte’, copyright O Globo, 18/04/05


‘Muitas vezes tratados como gêneros menores de arte, a charge e o cartum ganham tratamento nobre no catálogo de ‘Henfil do Brasil’. Apesar de os organizadores assumirem que a exposição não tem a pretensão de ser a retrospectiva ‘definitiva’ da obra de Henfil, houve a preocupação de fazer um catálogo como devem ser feitos todos os catálogos de uma exposição de respeito: além do cuidado visual, há textos que analisam a obra do cartunistas sob múltiplos aspectos, fazendo com que o registro da exposição possa transformá-la em instrumento de pesquisa para futuros pesquisadores/historiadores.


Jaguar e Ziraldo dão seus depoimentos sobre Henfil, enquanto Cássio Loredano, que completa o trio de cartunistas do catálogo, analisa as peculiaridades de seu humor. O jornalista Wilson Figueiredo escreve sobre a luta de Henfil contra a ditadura, enquanto o crítico Paulo Sergio Duarte, curador da Bienal do Mercosul, mostra a acuidade plástica e a grande noção espacial do pai da Graúna.


Outro feito notável da exposição está na montagem. Ocupando apenas uma das salas do segundo andar do CCBB, ‘Henfil do Brasil’ consegue chamar a atenção do espectador para as histórias em quadrinhos – galhardetes com os principais personagens foram presos no alto das paredes – e ao mesmo tempo criar um ambiente muito aconchegante. Entre dois bancos, uma série de revistas ‘Fradim’, plastificadas, vão poder ser manuseadas pelo público. E vai ser uma delícia ler Henfil como ele era lido originalmente.’