Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Eduardo Ribeiro

‘Simpatizante e apoiador como centenas, talvez milhares, de outros jornalistas do Partido dos Trabalhadores, há anos venho buscando fazer uma análise crítica da atuação da agremiação, mas mesmo assim sempre fui daqueles que mesmo nos erros tratava de defender o partido contra os ataques ferozes da ‘direita’ ou dos reacionários. Pela pureza de sentimentos e pela certeza das convicções, a minha, como a de muitos colegas, era de que ao PT era permitido errar porque as intenções sempre foram as melhores e os eventuais erros nunca estavam cercados de má fé, de conluios, enfim de maracutaias, para usar um termo cunhado anos atrás pelo próprio presidente da República. Podia haver erro, mas jamais dolo. Num partido com a gênese do PT, com sua concepção de sociedade, com suas convicções de justiça social, não cabiam dúvidas sobre honestidade, sobre hombridade, sobre defesa intransigente e desinteressada do interesse público.

Essa, obviamente, continua a gênese do partido, mas, sinceramente, não é a que acompanha parte daqueles que hoje aparecem no noticiário representando-o, infelizmente.

Não quero e não vou fazer juízo de valor, até porque quem sou eu para fazer isso. Mas acho que estamos num momento rico da política brasileira, sobretudo pela excepcional oportunidade que tão grave crise representa para o jornalismo e para os jornalistas brasileiros.

Se é preciso separar o joio do trigo, então nada melhor do que imprensa neles (para não dizer ‘nelles’). E só terão medo dessa postura independente e rigorosa quem tem culpa no cartório. E em relação a esses não temos mesmo que ter complacência.

Penso que poucas vezes tivemos momento mais rico para a prática do jornalismo investigativo de boa qualidade. Que dizer então dos desafios a serem enfrentados por nossa jovem democracia, na preservação das instituições e das liberdades.

Na verdade isso tudo que estou falando já está acontecendo. Começou lá atrás com o caso Waldomiro Diniz (Época), prosseguiu com os Correios (Veja), e caminhou com o mensalão (Folha).

O mais recente lance é tão estarrecedor quanto os demais: a revista IstoÉ Dinheiro, cuja circulação foi antecipada de sábado para esta quarta-feira (portanto já nas bancas), traz uma entrevista explosiva com a secretária do publicitário Marcos Valério, não só confirmando inúmeras afirmações feitas pelo deputado Roberto Jefferson, como dando vários outros detalhes, entre os quais datas e locais dos encontros, quem pegava o dinheiro etc. A coisa resvala até mesmo para o governo de Fernando Henrique Cardoso, por envolver o ex-ministro Pimenta da Veiga. Não é à toa que a própria matéria chega a insinuar: ‘Seu depoimento remete ao de outro brasileiro comum, o motorista Eriberto França que, em 1992, apontou ligações entre o tesoureiro PC Farias e a Casa da Dinda, onde morava o ex-presidente Fernando Collor de Mello’.

Vejam, estamos aqui falando de Marinho, Frias, Civita e agora Alzugaray, que podem ser até solidários no câncer, mas sem qualquer possibilidade de que integrem um golpe conspiratório contra o metalúrgico Lula ou seu governo, como tenta demonstrar, por exemplo, um texto que acabo de ler vindo de um amigo pela Internet. Por trás de tantas denúncias o que se vê, obviamente, é o jogo de interesses, mas também o interesse público e um esforço danado de se fazer bom jornalismo, independente do político de plantão e de suas ideologias. Assim tem de ser, ao menos essa foi uma das lições que aprendi nos bancos escolares e na vida profissional.

Que há jogo de interesses e muitos interesses em jogo todos nós sabemos, mas nem por isso qualquer um de nós vacila ao defender que a imprensa deve cumprir seu papel e, nessa saga, ir até as últimas conseqüências.

Se há podridão no reino, que ela seja exposta e combatida com firmeza por todos aqueles que defendem a liberdade e a democracia. E essa é talvez a parte mais nobre que pode haver numa atividade como o jornalismo: exercer o papel de fiscal na defesa verdadeira do interesse público.

E para o próprio PT não pode haver coisa melhor, se ele realmente é inocente nessa história toda.

PT e PSDB, aliás, os nossos partidos de vanguarda, coram de vergonha os mais retrógrados senhores de engenho, pela desfaçatez com que fazem política, no pior sentido do termo. Esqueceram suas origens, seus compromissos, seus ideais, para entrar numa briga fratricida pelo poder, por cargos, por verbas, tal e qual antigamente víamos com os chamados partidos fisiológicos.

Se não temos hoje razão alguma para sentir orgulho de nossa classe política (com as desculpas pela generalização que essa afirmação contempla), podemos, de outro lado, dizer que a imprensa está no caminho certo na sua determinação de ajudar a passar o País a limpo.

A democracia e a liberdade certamente sairão fortalecidas. Sobretudo cada vez que um corrupto for denunciado e preso neste País.’



José Paulo Lanyi

‘Hoje o colunista é o Jean’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 17/06/05

‘Recebi este e-mail há alguns dias:‘Oi Lanyi! Fui aluno do professor Wagner Belmonte, teu amigo, e até já conversamos pessoalmente, tanto na Unisa como na AllTV, ano passado. Te escrevo pois ao assistir o depoimento do deputado Roberto Jefferson (PTB/RJ) no Conselho de Ética da Câmara, nesta terça-feira (14/06), muito me chamaram a atenção as acusações do mesmo contra alguns veículos de comunicação, como a revista Veja, e de se referir ao conglomerado Globo (revista Época, jornal O Globo e TV Globo) – ele não citou a rádio CBN -, de ‘Diário Oficial do Governo’. Não sei se você teve a oportunidade de acompanhar na íntegra o depoimento do deputado, mas acho que seria interessante a abordagem do assunto em seu espaço no Comunique-se. Caso goste da sugestão, tomo a liberdade de lhe pedir para ajudá-lo a redigir a coluna. Um abraço, Jean Pereira Santos’.

Hummm… um aluno de Jornalismo interessadíssimo? Isso é raro, hein… E o texto do e-mail é fluido! Quer me ajudar a escrever a coluna? Essa é boa! Não, não vai ajudar, não… Vai escrevê-la!

Este espaço hoje será uma espécie de ‘speaker’s corner de um só’ (descontados, claro, os comentários dos ‘tijolinhos’)…

Eis o texto que o formando da Universidade de Santo Amaro (Unisa) me enviou depois… Façam como fazem comigo: elogiem ou massacrem, mas com propriedade…

As acusações de Roberto Jefferson à imprensa

Jean Pereira Santos

Calma, o jornalista José Paulo Lanyi continua sendo o detentor desse espaço. O que acontece é que, após assistir ao depoimento do deputado federal Roberto Jefferson na última terça-feira (14/06), sugeri a ele que abordasse nesta coluna as críticas feitas pelo parlamentar a alguns veículos de imprensa. No dia seguinte recebi um telefonema seu me propondo escrever a coluna. Claro, aceitei de imediato!

Parti para a pesquisa, li todas as matérias a respeito do escândalo dos Correios até chegar às denúncias do suposto mensalão pago pelo Partido dos Trabalhadores (PT) a alguns deputados do Partido Liberal (PL) e do Partido Progressista (PP), ambos da base de sustentação do governo.

Após me interar sobre o assunto, fiquei à vontade para escrever as linhas abaixo relatando o depoimento do presidente do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Roberto Jefferson, no qual me chama a atenção o modo como se dá a relação entre os políticos e a imprensa, se realmente for como disse o deputado petebista. Caso as palavras abaixo façam o leitor e principalmente os jornalistas refletirem sobre a responsabilidade do que fazem, já me darei por satisfeito. Espero ter feito um bom trabalho e ser merecedor do espaço que ocupo, excepcionalmente, hoje. Ao Lanyi, meu muito obrigado!

O depoimento do deputado federal Roberto Jefferson (PTB/RJ) ao Conselho de Ética da Câmara, na última terça-feira (14/06), não apenas causou mais alvoroço no Palácio do Planalto como também colocou em dúvida o trabalho de grandes veículos da imprensa brasileira, como a revista Veja, o jornal O Estado de S. Paulo e as Organizações Globo.

Ao falar por quase uma hora e reafirmar todas as denúncias feitas exclusivamente em entrevista à jornalista Renata Lo Pret, da Folha de S. Paulo, publicada na edição do dia 06 de junho, Jefferson explicou por que escolheu o periódico para o seu, como classificou, contra-ataque.

‘Por que a Folha [de S. Paulo]? Poderia ter sido o Estado [de S. Paulo] também. Poderia! Mas O Estado de S. Paulo também embarcou no linchamento contra mim, e não me deu direito de defesa’, disparou o deputado. Em outras palavras, o jornal não o teria procurado para ouvir o seu lado da história. Erro grave.

Mas as citações de Roberto Jefferson à imprensa não pararam por aí. Pelo contrário. Segundo ele, ao tomar conhecimento das matérias publicadas pelo jornal O Globo, na edição do dia 05 de junho, domingo, e da revista Época, que chegara às bancas também naquele final de semana, sentiu-se isolado e procurou o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, à procura de ajuda. Ajuda na imprensa.

‘Zé [Dirceu], você tem como me ajudar na Veja?’, questionou Jefferson, que ouviu do ministro: ‘Não, a Veja é tucana’. ‘E no Globo?’, insistiu o deputado do PTB. ‘Esse sim, esse eu acerto por cima, eu seguro’, respondeu Dirceu. Ainda segundo Roberto Jefferson, José Dirceu sempre se refere ao O Globo como ‘diário oficial do governo’ e diz ‘esse eu controlo’.

Mas o pior ainda estava por vir. No meio de seu depoimento, Roberto Jefferson abre uma das edições da revista Veja que fala sobre o caso de corrupção nos Correios – todas as edições do veículo a partir do dia 18/05 tratam o assunto – e mostra uma ilustração feita na matéria com fotos de indicadores e indicados para cargos no governo. Na última dupla de fotografias, na qual o indicador não tem foto, mas sim o símbolo do PT, o indicado abaixo era virtual e não o real, segundo o parlamentar petebista. Para Jefferson, uma clara tentativa de desconstruir sua imagem.

‘Oh, revistinha! Oh, revistinha! Oh, revistinha! Fez o que fez com o Ibsen [Pinheiro], que eu vi de barba aqui no Congresso, coisa que ele nunca usava, só para não ser reconhecido, de tanta vergonha que ele tinha. Só onze anos depois foi desfeito o erro com ele. Mas a imprensa é assim: investiga, pune e julga em uma semana’, acusou o deputado, se referindo ao caso do ex-presidente da Câmara dos Deputados, Ibsen Pinheiro, que, após uma denúncia errada da revista Veja, em 1993, sofreu um processo de cassação e perdeu seu mandato.

A imprensa tem mesmo o poder ao qual se referiu o deputado Roberto Jefferson, porém, duas das atribuições colocadas por ele podem até acontecer, como já vimos em muitos casos, mas não são as ideais. O papel da atividade jornalística não é punir e muito menos julgar. Seu ofício é investigar e informar sempre de forma embasada, e mesmo que todas as evidências levem a certeza do cometimento de um erro por uma das partes envolvidas, ainda assim essa parte terá de ser ouvida.

A atual crise política, gerada através de denúncias feitas pela imprensa, dá aos veículos de comunicação uma boa chance para a prática do jornalismo investigativo. Por outro lado, deve-se ter cuidado e responsabilidade com o que se vai publicar e com as pessoas que serão citadas, pois, ao expor alguém à sociedade como suposto praticante de um ato ilícito, esse alguém já será, aos olhos do povo, visto como culpado. Depois, não adianta pedir desculpas 11 anos mais tarde, como fez a revista Veja no caso Ibsen Pinheiro.’



Eleno Mendonça

‘Jeitão de fim de feira’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 13/06/05

‘Sem querer ser o arauto do pessimismo, acho que todo mundo deveria estar bem preocupado com a situação que se instalou no País. Há, para mim, uma informação básica que me permite pensar assim: todos os veículos destacaram equipes exclusivamente para investigar o assunto corrupção. Isso significa que um batalhão de jornalistas estará debruçado sobre o menor resquício desse tema e suas vinculações. Além desse time, já há a Polícia Federal, o Ministério Público, a oposição querendo reforçar o palanque. É o suficiente para tornar a vida do presidente e seus principais assessores um inferno.

Daqui até o fim do governo, infelizmente, corremos o risco de viver aos solavancos, com nomes inesperados emergindo no mar de lama, com empresas e segmentos sendo arrolados. Isso tudo vai produzindo uma intranqüilidade sem tamanho. A despeito das declarações pouco convincentes de que não restará pedra sobre pedra, estou achando que o cenário ficará sim cada vez mais preocupante.

Há outro fator que o governo precisa levar em conta: a disputa da imprensa. Além de opositores babando para ver o circo pegar fogo, de gente do próprio PT que em nome da ética quer ver tudo bem apurado, há na imprensa – e isso sempre existiu – uma disputa para saber quem dará o furo da semana, quem será o personagem decisivo nessa história e assim por diante. Aconteceu no caso Collor, vai acontecer de novo. É, ainda bem, a liberdade de expressão, que tem força inimaginável. Assim como a CPI, se sabe como começa esse trabalho, mas não se sabe como termina. E é isso que deveria preocupar o governo, afinal ninguém sabe até que ponto as pessoas ou entidades ou estatais estão envolvidas.

A mídia faz seu sucesso exatamente sobre a notícia. Quem tem maior capacidade e poder de investimento para descobrir coisas de um assunto como esse, que está na prioridade do dia, está certamente na frente e terá ao seu lado a atenção dos leitores. Por isso todo mundo está investindo e bastante, colocando seus melhores profissionais no assunto. Isso significa que até multa de trânsito vai aparecer.

O pior dessa cena é a paralisia do governo, dos projetos, das votações, da economia. Insisto num assunto que falei há muito tempo: é ingenuidade imaginar que em meio a tanta trovoada haja ambiente para manutenção dos investimentos, que não haja interessados em reajustar preços, que não tenha gente querendo comprar dólar. É o medo e em nome disso se faz coisas que a própria razão desconhece. Sem contar a ala especuladora, que joga no time do quanto pior melhor. Nos resta apenas torcer para que tudo se esclareça logo e a tempestade produza o mínimo de estragos possível.’



Milton Coelho da Graça

‘A bosta está respingando na imprensa’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 14/06/05

‘Diálogo com o ministro José Dirceu, segundo o deputado Roberto Jefferson, em nova entrevista à Folha neste domingo (12/6):

Deputado: ‘Mas me importa a restauração da minha honra. A VEJA está fazendo um verdadeiro linchamento.’

Zé Dirceu: ‘Roberto, na VEJA não tenho nenhuma ação, porque a VEJA é tucana.’

Deputado: ‘Mas o GLOBO e a GLOBO estão repetindo o linchamento.’

Zé Dirceu: ‘No GLOBO eu falo por cima. Dá para segurar.’

Mais adiante na entrevista, já encerrada a menção ao diálogo com o ministro:

Deputado: ‘Retirar a assinatura (N.A.: para convocação da CPI) foi o meu maior erro. Depois que fiz isso, recrudesceu o noticiário contra o PTB. Eu entendi que foi uma armadilha do Zé Dirceu para mim. Recrudesceu o noticiário e eu vi claramente o dedo do governo.’

Folha: Viu onde e como?

Deputado: ‘Nas matérias que saíram na revista ÉPOCA e no GLOBO no fim de semana seguinte. Violentamente contra mim e contra o PTB. Eu errei, eu me enfraqueci ao retirar a assinatura da CPI e o Zé Dirceu armou essa arapuca para mim.’

E mais adiante: ‘E hoje no GLOBO, num noticiário promovido pelo governo, sai que eu mandei gravar o Marinho. Que a PF e o governo ‘desconfiam’ que o deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB, foi à ABIN e pediu que um órgão do Estado filmasse o Marinho. Olha a conversa.’

Agora pergunto eu: Por que a Folha não ouviu os editores do GLOBO, do jornalismo da Rede Globo e da revista ÉPOCA – a necessária apresentação do ‘outro lado’ diante de acusações tão sérias como essas feitas por Roberto Jefferson?

Por que o Palácio do Planalto até agora nada disse sobre o diálogo reproduzido pelo deputado? Se Zé Dirceu não desmentir Jefferson, as Organizações Globo têm a obrigação de dar uma resposta satisfatória porque o silêncio poderá ser interpretado como confissão de uma conduta jornalística inaceitável.

A VEJA também aceita a plumagem que lhe foi dada pelo deputado ou pelo ministro José Dirceu? O Planalto até agora não apresentou desmentido.

E os autores das matérias sobre Jefferson no jornal e na tevê vão ficar calados, aceitando a acusação de terem produzido matérias para atender aos interesses de seus patrões em conluio com o governo?

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A crise, pelo jeito, não é só dinheiro curto

Há dez anos, em abril de 1995, a Folha de São Paulo vendia aos domingos uma média de 1.417.876 exemplares (2005, 386.197); Estadão, 517.780 em 1995, 304.156 em 2005; Diário Popular, 161.410, agora transformado em Diário de São Paulo, 91.004; O Globo, 960.393 há dez anos, agora 384.949; O Dia (Rio) vendia 529.370 em abril de 1995, 254.873 em abril de 2005; Correio Popular (Campinas), 60.114 e 46.773; Zero Hora (Porto Alegre), 248.333 em 95, agora 250.753; Estado de Minas, 151.796 em 95, agora 118.157; Diário de Pernambuco, 71.632 e 55.143; Jornal do Commercio (Recife), 91.609 e 58.727, respectivamente; O Liberal (Belém), 98.433 e 93.113; A Notícia (Joinville, SC) vendia 30.255, agora 32.911; Gazeta do Povo (Curitiba), 116.093 e 85.984; Folha de Londrina, 67.749 e 37.755; O Popular (Goiânia), 53.938 e 51.363; Correio Braziliense, 89.943 e 95.841; A Tarde (Salvador), 116.249 e 79.906; A Gazeta (Vitória), 75.162 e 45.988; A Tribuna (Vitória), 12.478 em 1995 e agora 67.055.

Notem o fantástico aumento de A Tribuna, de Vitória, que passou por uma reforma total, e os ótimos resultados de Zero Hora, com aumento de vendas, mesmo enfrentando a volta do Correio do Povo, que vendeu nos domingos de abril deste ano uma média de 167.300 exemplares. A Notícia, de Joinville, também aumentou um pouco sua circulação paga, mesmo tendo de enfrentar um novo e poderoso rival – o Diário Catarinense (ligado à RBS gaúcha) -, editado em Florianópolis mas vendido em todo o estado de Santa Catarina, com uma média dominical de 57.227 exemplares. O jornal mais vendido hoje no Rio é o Extra (462.485 de média dominical), que também não existia há dez anos. Mas mesmo incluindo o líder atual, o total de jornais vendidos hoje no Rio é menor do que em 1995. Já o Correio Braziliense melhorou sua circulação em quase 10 por cento.

Resultados controversos e que levantam dúvidas sobre os motivos geralmente apresentados para a crise dos jornais. Se alguém tiver novas informações, por favor use o espaço dos ‘comentários’.’



Chico de Gois, Marta Salomon e Rubens Valente

‘Valério amplia contratos no governo Lula ‘, copyright Folha de S. Paulo, 19/06/05

‘As duas principais empresas do publicitário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza ampliaram seus ganhos em contratos oficiais a partir do final de 2003, no primeiro ano da gestão de Luiz Inácio Lula da Silva. Valério teve o valor de um contrato aumentado, venceu duas contas novas, nos Correios e na Câmara dos Deputados, e conseguiu manter outros três contratos antigos.

Suas empresas abocanharam cerca de R$ 150 milhões em contratos com cinco órgãos e estatais do Executivo e a Câmara. Desse total de verba, as agências ficam com um percentual variável como comissão. No caso do contrato com os Correios, essa parcela é de 13%, por exemplo.

O publicitário mineiro foi apontado pelo deputado federal Roberto Jefferson (PTB) como um dos ‘operadores’ do ‘mensalão’, suposta caixinha de R$ 30 mil que, de acordo com Jefferson, era paga pelo PT a deputados do PP e do PL. Os parlamentares negam.

No Banco do Brasil, principal cliente do empresário no governo, os gastos com publicidade cresceram 71% no ano passado em relação a 2003. Naquele ano, o banco estatal destinou R$ 153,6 milhões para despesas com publicidade. Em 2004, foram R$ 262,8 milhões. A DNA Propaganda, empresa de Marcos Valério, administrou um terço do valor (cerca de R$ 86 milhões só em 2004).

A verba supera em 18% os investimentos em mídia feitos pela administração direta do governo federal e estatais que não concorrem no mercado, como a Eletronorte, cuja conta publicitária também é da DNA Propaganda. O contrato com o Banco do Brasil foi assinado em 23 de setembro de 2003. Além da DNA, outras duas agências repartem o dinheiro: a Ogilvy e a D+ Brasil.

Dos R$ 262,8 milhões, R$ 25 milhões referem-se aos gastos com publicidade do Banco Popular, criado pela instituição no ano passado. Outros R$ 500 mil são da Fundação Banco do Brasil.

A DNA mantém contratos com a Eletronorte, assinado em 2001, e o Ministério do Trabalho, desde 1996, com renovação em 2001. A SMPB, outra empresa da qual Valério é sócio, detém as contas dos Correios (iniciada em novembro de 2003), Ministério dos Esportes (2001) e da Câmara dos Deputados (dezembro de 2003, durante a presidência do petista João Paulo Cunha). As cinco contas tiveram verba de R$ 64,6 milhões em 2004.

A assinatura do contrato da DNA com o BB aconteceu no dia 23 de setembro de 2003. Fernanda Karina Ramos Somaggio, ex-secretária de Marcos Valério, relatou em texto publicado pela ‘IstoÉ Dinheiro’ que nesta data o publicitário teria ‘fechado a suíte presidencial’ do hotel Sofitel para uma festa para oito pessoas, ‘com gente do PT’. A ex-secretária está sendo processada por Valério. Em seu depoimento à Comissão de Ética da Câmara, Jefferson disse que o ‘mensalão’ teria começado em setembro de 2003.

No ano passado, o Banco do Brasil envolveu-se em dois episódios polêmicos com o PT. Em julho, comprou 70 mesas, a R$ 1.000 cada, para um show da dupla Zezé di Camargo e Luciano. A apresentação tinha como objetivo levantar fundos para o PT. A aquisição dos ingressos foi intermediada pela DNA e teve autorização do diretor de marketing do banco, Henrique Pizzolato.

O Banco do Brasil também patrocinou, no ano passado, um festival no Mato Grosso do Sul criticado pela oposição. Negociada pessoalmente pelo governador Zeca do PT, a cota do banco estatal foi de R$ 2,5 milhões.

Correios

Em 6 de agosto de 2003, os Correios abriram sua concorrência para publicidade, no valor global de R$ 72 milhões, a ser dividido em três empresas contratadas.

Pela complexidade e número de empresas interessadas (42 retiraram o edital), a licitação se estendeu por toda a segunda metade de 2003. O resultado foi publicado no ‘Diário Oficial’ no dia 2 de outubro -a SMPB Comunicação ficou em terceiro lugar.

Na apresentação das propostas de preço, a empresa mais bem avaliada foi a Duda Mendonça, do publicitário baiano homônimo. Ao final, foi dada a oportunidade para que as três empresas mais bem qualificadas na proposta técnica declarassem poder executar os serviços pelos preços da Duda -o que foi aceito.

Câmara

No final de 2003, a SMPB Comunicação, registrada em nome da mulher de Valério, Renilda Fernandes Souza, venceu a licitação na Câmara pelo critério da melhor técnica. A concorrente Artplan havia oferecido o menor preço, mas, a exemplo da concorrência dos Correios, foi dada à SMPB, que ficara em terceiro no quesito preço, a oportunidade de declarar que poderia executar os serviços pelos mesmos custos da Artplan.’