‘Aqui mesmo neste espaço, já escrevi em outras oportunidades sobre os novos vôos realizados por colegas de diferentes paragens rumo a novas experiências profissionais, algumas em atividades correlatas e outras fora do jornalismo. Alguns se redescobrem profissional e mesmo empresarialmente, outros vêem na mudança a saída para uma sobrevivência melhor e tem também aqueles que querem a experiência nova, buscando comprovar que há, sim, vida inteligente fora do jornalismo.
Esta foi uma semana particularmente rica nesse sentido, daí a voltar ao tema. É sempre oportuno e agradável acompanhar o balanço dessas ondas, que de certo modo dão vida e tempero ao nosso dia-a-dia e à própria atividade, fazendo com que os jornalistas, em que pese toda a complexidade do trabalho que exercem, constituam um dos grupos mais amalgamados e gregários que existem. E a prova é que mesmo quando abdicam da atividade demoram a perceber que estão deixando a tribo e na verdade nunca deixam de se sentir totalmente fora.
Temos um bom exemplo esta semana com o repórter Otavio Cannechio Neto, da Veja São Paulo, que decidiu trocar os quatro anos de revista por um bar, num fenômeno interessante de alguém que efetivamente acredita no que escreve. E Otavio escrevia, na Vejinha, sobre bares, restaurantes e outras atrações, para os vários roteiros, e também reportagens gerais. Com o bar que está montando na Vila Mariana, em São Paulo, certamente terá um rendimento maior, ampliará seu universo de relacionamento, terá muito mais autonomia de vôo, mas enganam-se, por exemplo, os que pensam que ele quer distância do jornalismo. Ao contrário, ele garantiu que deixa a Vejinha, mas quer continuar atuando como jornalista, fazendo frilas por aí.
Outro caso interessante é o de Mikhail Lopes, editor da revista Pequenas Empresas Grandes Negócios, que está deixando uma interessante carreira na iniciativa privada para ser funcionário público. Mikhail passou pelo Curso Abril de Jornalismo com louvor e lá iniciou carreira na revista Exame. Esteve, depois, na revista PontoCom, passando uma parte de sua jornada em Miami, na sede do Grupo. De volta ao Brasil, acabou sendo contratado pela Pequenas Empresas Grandes Negócios e lá era praticamente o segundo do diretor José Fucs, ou seja, pronto seguramente para alçar novos vôos, seja na própria Editora Globo ou fora de lá. O que, aliás, acabou acontecendo, mas não mais em redações. Mikhail, aprovado no concurso da Câmera, foi chamado para ocupar uma vaga na Comunicação do Senado, e não resistiu aos apelos da estabilidade no emprego, da volta à cidade natal e, certamente, ao bom salário que vai ganhar.
De partida para o mundo político também foi, há alguns dias, o nosso colunista José Paulo Lanyi, convidado a comandar a comunicação do vereador José Police Neto, o Netinho (PSDB). Lanyi leva para esse trabalho toda a bagagem adquirida em alguns dos mais importantes veículos de comunicação do País, entre eles tevê Globo e rádio CBN, além da experiência singular na allTV.
Esse é também o rumo de Silvio Bressan, repórter de política do Estadão por 14 anos, que aceitou convite de José Anibal, líder do PSDB na Câmara e o mais votado vereador de São Paulo nas últimas eleições municipais. Não chega a debutar na função, pois anteriormente teve a oportunidade de assessorar o candidato Pedro Simon, em 1986, quando este concorreu e venceu as eleições para o governo do Rio Grande do Sul. Seu sentimento de transformação é tão significativo que, em e-mail de despedida, disse: ‘O repórter vai para outro desafio, mas o amigo fica à disposição de todos’.
Audálio Dantas, profissional dos sete instrumentos e com uma das mais ricas biografias do jornalismo brasileiro, está se descobrindo num novo nicho de mercado, depois de quase 40 anos de carreira. Sua atuação como curador de projetos culturais, como a exposição sobre a vida e a obra de Graciliano Ramos e outra sobre Macunaíma, ambas patrocinadas pelo Sesc de São Paulo, o fez repensar de forma radical sua carreira, até então muito concentrada em atividades corporativas, como assessoria de imprensa e publicações empresariais. Bafejado por novos ventos, descobriu um novo campo profissional que lhe dá muita satisfação, uma remuneração decente e a vantagem adicional de estar fazendo algo de concreto pela Cultura do País. Audálio, para quem não sabe, foi repórter de algumas das mais importantes publicações brasileiras, entre elas a revista Realidade, presidiu de forma vigorosa o Sindicato dos Jornalistas de São Paulo nos anos de chumbo, tendo um papel importantíssimo no episódio do assassinato de Vladimir Herzog, em 1976, nas dependências do Doi-Codi, em São Paulo, além de ter sido deputado federal, superintendente de Comunicação da Eletropaulo e presidente da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, entre outras funções que exerceu.
Em Brasília, num outro caso super recente, Leandro Fortes pediu demissão da revista Época para dedicar-se à vida acadêmica e à literatura. Deixou, desse modo, um cobiçado cargo numa das mais importantes publicações brasileiras, para ser professor do Instituto de Educação Superior de Brasília – IESB e para incrementar curso de jornalismo online do Senac do DF. Fortes, que acabou de concluir seu quarto livro – ‘Jornalismo Investigativo’ -, tem planos de terminar outros dois: um sobre jornalismo online, para a Editora Senac-DF, e um romance para a Editora Record. É outro que, mesmo fora, quer ter um pé dentro do dia-a-dia das redações, tanto que diz estar disponível para frilas.
Quantos mais, nesses últimos anos, migraram para atividades fora do jornalismo, em todo o Brasil? Difícil saber, mas convido os leitores a darem outros exemplos, até para montarmos uma galeria de nossos ex-ilustres.’
MÍDIA REGIONAL
‘Diário do Piauí dribla crise e avança’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 18/02/05
‘Jornal: O Dia
Ano de fundação: 1951
Local de fundação: Teresina, Piauí
Fundador: Octávio Miranda
Presidente: Valmir Miranda
Editor-executivo: Robson Costa
Circulação: 8.000 exemplares
Número de páginas: 32 durante a semana e 54 aos domingos
O jornal foi fundado em 01 de fevereiro de 1951, pelo professor Leão Monteiro. Na época era semanal, já que as máquinas não tinham condições de imprimir um jornal todos os dias e, além disso, não havia, na capital Teresina ou no restante de Piauí, notícias suficientes para alimentar um diário. A primeira sede de O Dia foi instalada à rua São Pedro, no centro da cidade. Hoje, a redação fica à rua Governador Arthur de Vasconcelos.
Altos e baixos
Os 13 primeiros anos de existência do jornal não foram de grande sucesso. Esse cenário só mudou em 1964, quando o veículo foi comprado por Octávio Miranda e ganhou destaque no Estado. Foi sob o comando de Miranda que O Dia passou a ser um diário e foi também ele quem dirigiu o jornal durante a crise mundial do petróleo, quando várias publicações tiveram que fechar, e outras quase não resistiram. O Dia viu suas páginas serem reduzidas de 32 para oito, mas continuou a existir. Além disso, após o golpe de 1964, o diário passou a ser alvo do regime militar, mesmo com Miranda fazendo parte das forças armadas. A sede do jornal foi invadida por militares em duas ocasiões e o editor-chefe da época, Pompílio Santos, foi agredido fisicamente por causa de uma matéria publicada.
Depois da turbulência, os funcionários viram um novo investimento chegar ao jornal, através de novas máquinas com impressão off-set, novidade até mesmo para a maioria dos veículos do país. A redação também mudou sua estrutura e ganhou a divisão que tem atualmente, com editor-chefe, secretário, editor setorial, etc. Mais tarde, a direção do jornal passou a investir também na informatização de seus processos.
Na década de 80, foi criado o primeiro curso de Comunicação Social do Piauí, na Universidade Federal do Estado. No entanto, não havia, para os alunos, um laboratório onde eles pudessem colocar em prática o que aprendiam nas salas de aula. A direção do jornal colocou, então, suas instalações à disposição dos estudantes, para que eles pudessem usar as atividades do diário como complementação da universidade.
Em 1994, O Dia passou a circular com páginas coloridas e em 1996 o jornal ganhou sua versão online. ‘Atualmente, nossa página na Internet ainda é apenas a reprodução do nosso jornal impresso. No entanto, no máximo em dois meses concluiremos nosso projeto do portal de notícias, que trará informações em tempo real’, explica Robson Costa, editor-executivo do jornal.
Há três anos, no entanto, nova crise se instalou na empresa. Valmir Miranda, filho do fundador do jornal, foi chamado para assumir o grupo O Dia e definiu metas para a retomada do desenvolvimento. O objetivo era tentar reatar os contatos com os fornecedores, encontrar fórmulas de pagar os débitos que a empresa havia assumido e, ao mesmo tempo, descobrir como tornar o diário lucrativo no futuro. ‘Quando Valmir assumiu estávamos cheios de dívidas, de pendências judiciais. Eram muitos problemas. Mas agora estamos caminhando. Enquanto os jornais pelo Brasil demitem, nós estamos contratando e reforçando a equipe, ao mesmo tempo em que saldamos nossas dívidas. Não chegamos ainda onde queremos, mas nossos passos estão acelerados’, comemora Robson.
Jornalistas reconhecidos no estado
Uma das forças do jornal, segundo seus gestores, é a qualidade dos jornalistas envolvidos em sua produção. Um fato que dá embasamento a esse raciocínio é o de que vários nomes de destaque no Piauí saíram do diário. Dos últimos quatro secretários de Comunicação de Teresina, três vieram de O Dia: Zózimo Tavares, Salomão Sobrinho e Mussoline Guedes. Entre os destaques lembrados pela equipe estão ainda os jornalistas Edmilson Silva, Ana Kelma Galas, Francisco Magalhães, Zé Alves Filho, Osório Júnior e o cartunista Jota-A. Dentre os que passaram pela redação estão Cláudio Barros e Arimatea Carvalho.
Para Robson Costa, as editorias de Cultura, através do caderno Metrópole, e Política são pontos fortes da publicação. A área de Esportes também vem crescendo. No entanto, o editor também reconhece os pontos fracos que ainda existem na publicação. ‘Nossa cobertura de Polícia, por exemplo, precisa ser muito aperfeiçoada, não é o que queremos’.
Entre problemas do passado e conquistas, permanece no jornal o clima de otimismo e de que é possível produzir um noticiário com eficiência. ‘Não queremos dar ao leitor a informação. Nosso objetivo sempre vai ser dar a melhor informação’, conclui Costa.’
WEBJORNALISMO
‘Internet versus jornais’, copyright Direto da Redação, 16/02/05
‘Um dos grandes benefícios da Internet para a mídia escrita é o acesso mais fácil às notícias.
Em Tóquio, uma mulher clica num dos ‘favoritos’ de seu Internet Explorer e é levada direto ao jornal O Globo. Através da versão online do jornal, ela pode saber em primeira mão o que está acontecendo no Rio de Janeiro, sua cidade natal, e no resto do Brasil. Em Miami, um estudante de jornalismo escolhe o jornal local The Sun-Sentinel como página de rosto, para ler as notícias mesmo antes de abrir o e-mail.
Entrar para a ‘world wide web’ traz outras vantagens para os jornais.
As pessoas agora vivem dentro de duras limitações horárias, especialmente porque está cada vez mais difícil sustentar uma família. Algumas têm dois empregos e trabalham por longos períodos, e por isso simplesmente não têm tempo de sair e comprar jornal. Na Internet, elas podem acessar a mídia escrita com um clique no mouse, de casa ou do escritório, dentro do avião ou do ônibus.
Para os superocupados que têm que fazer várias coisas ao mesmo tempo, o jornal online é uma ótima pedida. Um nova-iorquino, por exemplo, pode ler a mais atualizada versão do The New York Times enquanto vê os e-mails, pede flores no website de uma loja, joga xadrez cibernético com vários outros usuários e ainda toma café.
Uma característica interessante da versão online do The New York Times é a constante atualização de notícias na primeira página. Não existe mais a necessidade de esperar a próxima edição em papel para descobrir o que aconteceu uma hora atrás no Iraque: o The New York Times publica isso na Internet, com a ajuda da Reuters e da Associated Press, as sempre vigilantes agências internacionais de notícia. A imprensa escrita na Internet oferece notícias frescas, e agora a pessoa não precisa ligar a TV para ver o que está acontecendo e talvez sentir-se insatisfeita com segmentos de 30 segundos. Pode ler na velocidade que quiser, absorver o que está escrito e ainda estar atualizada.
Na Internet, a pessoa pode ler notícias sem pagar. Porém, para acessar arquivos, tem que pagar uma modesta quantia. O The New York Times oferece arquivos de mais de cem anos da data de publicação, todos online, uma boa vantagem para leitores que precisam fazer pesquisa e para o jornal também como uma ajuda na receita financeira.
Segundo o website da Associação Mundial de Jornais, em 2003 a imprensa escrita decidiu fazer mudanças significantivas para atrair mais leitores, já que o número deles vem diminuindo. O website ‘Web Publishing News’ informa que uma dessas mudanças tem sido a procura de mais anunciantes na Internet, e que o grupo Knight Ridder (dono de 31 jornais americanos de circulação diária) aceitou bem a idéia, mostrando um aumento de 22,9% em vendas de anúncios em fevereiro de 2003.
Em muitos websites de jornais, a pessoa tem que criar uma conta e é apresentada à opção de receber newsletters do jornal e ofertas comerciais por e-mail. Quanto maior o número de assinantes, maior o número de anunciantes, é claro. Tornando-se mais disponíveis e atraentes aos leitores e aproveitando as oportunidades que a Internet oferece, os jornais jamais sairão de moda. (*) Estudante de Jornalismo’