‘Uma raposa bem definiu o mercado de trabalho carioca no ano que se encerra: ‘Não tem mais vaivém, agora só vai.’ De fato, a imprensa muito demitiu e pouco contratou. Quando os grandes cortam, são dezenas de postos. Por isso, a reação que se entreviu com os lançamentos ou mesmo desdobramento das publicações corporativas – mudança na periodicidade, produtos distintos para públicos interno, externo e internacional etc.; a terceirização de assessorias – o que implica ampliar os quadros das empresas do setor -, nada disso foi suficiente para absorver mão de obra tão qualificada. A correspondente no Rio de Janeiro deste Jornalistas&Cia, Cristina Vaz de Carvalho, fez um balanço detalhado do que foi o ano no mercado editorial e das assessorias de imprensa no Rio de Janeiro. Vale a pena uma conferida.
De quem muito se falou
O Globo – O ano começou com arrumação da casa. O Globo fez, em janeiro, um rodízio entre os editores, ao mesmo tempo que ajustava as equipes, sem que isso significasse demissões. Esses deslocamentos incluíram o envio de Gilberto Scofield Jr., em meados do ano, para montar uma sucursal na China. Só em setembro foi a vez de o Online passar pelo mesmo processo, alocando os editores executivos Aloy Jupiara e Daniel Stycer nos projetos estratégicos, e tirando Raquel Almeida da Economia para responder pelo conteúdo. Foi um ano bom para Nadja Sampaio, que transformou em livro sua trajetória de 14 anos na seção Guia do Consumidor do jornal, merecendo, por esse conjunto, o Prêmio Esso de Contribuição à Imprensa. Nada bom para Cecília Costa, ex-editora do caderno Prosa&Verso. Depois de rumoroso episódio envolvendo o concurso literário da Academia Brasileira de Letras, teve que renunciar ao prêmio para o qual fora escolhida e perdeu o posto no jornal. Em 1º/8, O Globo ganhou o reforço de uma revista semanal. O projeto, há muito acalentado, aguardava apenas o momento ideal para vir à luz. Esta decisão não encontrou unanimidade na cúpula, o que não empanou o lançamento do produto em grande estilo. Marília Martins deixou para trás o Jornal da Família, que foi descontinuado, e passou a editar a revista com sua equipe, acrescida de colaboradores de prestígio. O Globo navegou 2004 em águas calmas: manteve a liderança regional e ampliou o prestígio no cenário nacional.
O Dia – A partir de março, O Dia começou a passar por mudanças profundas. A disputa entre as três herdeiras de Ary de Carvalho fizeram Ariane deixar a Presidência em junho, sendo substituída pela irmã Gigi, com o apoio de Eliane. A troca de diretores, em todas as áreas, sucedeu-se em cascata. Assim também as notícias da entrada de um novo sócio, que não seria dado a conhecer para evitar especulações sobre a saúde da empresa. Na redação, a saída de Miranda Jordão – com duas festas de reconhecimento público exemplar, pelos serviços prestados ao jornal – e a extinção da consultoria de Amauri Mello, foram os fatos mais notados. O editor-chefe Sérgio Costa assumiu a Chefia de Redação sem alarde, trouxe para mais perto o então editor-executivo Alexandre Freeland, promoveu alterações na parte operacional e no projeto gráfico. Até o final do ano, firmou seu novo modelo. Nele não houve espaço para nomes por muito tempo identificados com o próprio jornal, como Marita Boos, que saiu logo em março, Lu Lacerda, em julho, e, o de mais repercussão, Arnaldo César, em dezembro. As realizações a serem computadas englobam a parceria com a Band – importante para um grupo que não detém concessão de tevê – em abril; a contratação de Cristina De Luca para o online, em maio; a vinda da coluna de Dora Kramer, em setembro; e o lançamento do Guia Show Lazer, com uma inédita programação por faixa de preço, em outubro. O jornal chega a 2005 reciclado com louvor.
JB e Gazeta Mercantil – O JB começou bem 2004, lançando, em fevereiro, o caderno diário Barra, na esteira do sucesso de Hildegard Angel entre os emergentes. Prova do acerto da decisão foi o fato de a sucursal no bairro, aberta nesta ocasião, ter passado ao largo das turbulências que afetaram a redação no Centro, no decorrer do ano. Em fevereiro, definiu-se o desmonte da Gazeta Mercantil. O que restara da redação deixou o tradicional endereço na Praça XV, ocupou instalações provisórias no Centro e, finalmente, foi para a Av. Rio Branco. Depois de anexada à Economia do JB, ficou reduzida a duas pessoas da equipe original. Ao mesmo tempo, no correr do ano, o estilo de administrar parte da matéria editorial, transformando colunistas em publishers responsáveis pela comercialização de seus espaços, firmou-se na casa. As colunas de Hildegard, Márcia Peltier e Heloísa Tolipan adquiriram status de cadernos autônomos. Os que não aderiram queixaram-se à boca pequena, sem repercussão, e alguns, até o final do ano, foram afastados, alegadamente por outros motivos, como no caso de Cezar Faccioli e Belisa Ribeiro. Em junho, começaram a rolar cabeças coroadas, prenunciando a crise que explodiria em setembro. Saíram a vice-presidente Cristina Konder e, no mês seguinte, a editora-executiva Sônia Araripe. Em situação de crise intestina, entrou em cena – e funcionou com maestria – o perfil diplomático de Marcus Barros Pinto como editor-chefe, com Ana Maria Tahan, dona de outras características, na editoria executiva. Agosto foi mês de clima pesado, de medo do corte anunciado… que chegou avassalador, jogando no mercado 64 pessoas, sem pagamento sequer dos dias trabalhados, sem chance de discutir amigavelmente direitos trabalhistas para uma equipe composta de PJs. Demitidos e remanescentes uniram-se no protesto, em assembléias quase diárias no Sindicato, manifestações de rua, e representação na Delegacia Regional do Trabalho contra irregularidades. Como resposta para bom entendedor, o presidente do JB, Nelson Tanure, obteve uma condecoração do Tribunal Regional do Trabalho. Apesar da turbulência, e alheias à queda de braço entre os vice-presidentes Hélio Tuchler e Paulo Marinho, as redações da sede no Rio e da sucursal de Brasília viram sua competência e entrosamento reconhecidos com o Prêmio Esso de Primeira Página por um trabalho conjunto. Para 2005, a expectativa é de continuação do processo. O corte ocorrido no fim do ano em Brasília pode motivar a ida de reforços da sede, desfalcando a redação em postos importantes. A mudança do Centro para o Rio Comprido, que está sendo feita em etapas mas um dia há de se completar, prenuncia outro encolhimento.
Panorama do vaivém no setor
Assessorias – O setor saiu-se bem em 2004. A Petrobras chamou, em junho, cerca de 20 concursados, mantendo a equipe de Carlos Haag e de várias áreas. Em nenhum momento deste ano foi feita outra contratação em bloco, fosse em qualquer veículo ou assessoria. Ainda nas estatais, Rodrigo Carro assumiu na Eletrobrás em julho. No final do ano, a mudança de comando no BNDES trouxe Ricardo Moraes de volta ao Rio, e Pagê começou campanha política para o ex-presidente da instituição. Houve mudanças nas telefônicas. A Telemar cortou cargos, entre eles o de André Moragas, mantendo o bureau da Máquina com Suzana Santos. Para montar seu portal, contratou Ricardo Linhares e equipe. A Embratel reestruturou a Comunicação, substituindo as muitas agências que a atendiam por apenas duas: SPS no Rio e Planin em SP. Também a Vale reestruturou a área de Imprensa, ao fim do contrato com a Máquina, reforçando a equipe própria com Sônia Araripe e Lívia Ferrari. A diretora Márcia Magno mudou-se para Curitiba, atendendo a um convite de O Boticário. Marco Simões voltou em setembro à Coca-Cola. Entre as empresas de Comunicação, a força veio das publicações corporativas, que se multiplicam a cada ano. A Selulloid chamou Claudio Henrique, Lula Branco e Renato Fagundes para sua redação. E Sérgio Costa, na Insight, lançou a revista CEO. Em meados do ano, uma cisão na Básica gerou duas empresas: Ester Lima conservou a marca; Malu Fernandes associou-se a Roberta Muller no Shopping da Comunicação. E a X-Press, de SP, abriu escritório no Rio.
Entidades de classe – No último dia de abril, a ABI fez sua eleição mais concorrida dos últimos dez anos. A chapa vencedora, encabeçada por Maurício Azêdo, chamou nomes ilustres para apoiá-la e obteve uma repercussão que há muito não se via. Às vésperas de deixar a Presidência da Fenaj, Beth Costa voltou ao Rio em março, e reassumiu seu antigo posto, de editora de Internacional, na Rede Globo. No mesmo mês, o Sindicato do Município extinguiu o cargo de assessor de imprensa e editor da revista Lide; assim, Sônia Regina Gomes deixou a casa. Em agosto, Aziz Filho foi eleito presidente do Sindicato do Município. A posse da nova diretoria coincidiu com as demissões no JB e jogou os sindicalistas em uma roda-viva de manifestações e negociações que só fez pausa em dezembro, para a confraternização universal.
Jornais – A partir de julho, o Jornal do Commercio marcou presença. Buscou acompanhar as tendências, ampliando o espaço para meio ambiente. Depois, resistiu com bravura à tentação do corte, negociou com o Sindicato sem traumas, e ajustou suas necessidades financeiras à manutenção dos postos de trabalho. Em outubro, anunciou que vai abrir filial em SP em 2005, tomando a dianteira do grupo Associados. Na via de mão dupla, o DCI de SP voltou a ter correspondente no Rio. O Extra relançou a revista Canal, com direito a novo projeto gráfico e atualização do conteúdo. O Jornal dos Sports buscou a recuperação contratando Cristina Konder como diretora de conteúdo, o que resultou na saída, em julho, de Washington Rope.
Quem vai – No início do ano, a Universal Produções despontou como uma alternativa concreta para abertura de novos postos de trabalho. Reforçou as contratações e providenciou a reforma gráfica que em meados do ano ocorreu no jornal Folha Universal, semanário com tiragens espetaculares. A empresa, que já editava duas revistas evangélicas no papel, montou o portal ArcaUniversal.com.br e estruturou a área online. Era a promessa de uma redação forte, com boa saúde financeira e a perspectiva de crescimento de que o Rio precisava ver depois da derrocada da Bloch. Recentemente, porém, transferiu a redação do jornal para SP, demitindo 14 pessoas. Como se não bastasse, a Ediouro, editora pioneira nas publicações sobre TI e que chegou a ter meia dúzia de títulos em circulação, fechou em março a redação no Rio, levando também para SP a remanescente Cabelos, Beleza &Cia.
Rádio e tevê – A chegada de Renato Ribeiro ao Jornalismo da rede Globo representou, no primeiro trimestre, uma redefinição do próprio modo de operar da emissora, o que resultou em mexidas significativas na equipe. Em julho, Marco de Cardoso assumiu a Chefia de Redação da Band. Ainda nesse mês, a Rádio Nacional terminou a reforma e reinagurou com festa, sob o comando de Cristiano Menezes. A tevê Alerj, com Márcio Bueno, e a tevê Câmara, com André Motta Lima, passaram a compartilhar o canal 12 da Net e a produzir programação.
Revistas – José Esmeraldo Gonçalves, nome muito identificado com Caras, deixou a revista em abril; dois meses depois, começou na Contigo. Julho marcou os cortes na sucursal da IstoÉ, os primeiros dos que viriam, nos meses seguintes, em SP e DF. Em agosto, Valéria Blanc, depois de cinco anos fora do Rio, voltou a convite de Época.
Sazonais – Em abril, começou a movimentação em torno das campanhas políticas, abrindo postos temporários tanto nas redações, para reforçar a cobertura, como nos comitês que se organizavam em torno dos candidatos. Foi o caso Marita Boos, contratada pela Monte Castelo. Mas o destaque ficou com Andréa Gouvêa Vieira que, em outubro, elegeu-se vereadora. As Olimpíadas provocaram, principalmente nos canais de tevê, o mesmo efeito das vagas sazonais da Política, aliviando a pressão sobre o mercado.
Valentes – Três pontos de exclamação para os corajosos que se lançam no mercado com entusiasmo: em janeiro, Celso Serqueira reviveu na internet o diariocarioca.com.br; em julho, Fritz Utzeri criou a figura do personal journalist; em dezembro, João Marcelo Erthal, Ulisses Mattos e Carlos Braga lançaram o jornal Avenida Central.
Violência urbana – Julho marcou, de maneira dolorosa, essa convivência. O Jornal do Commercio foi assaltado na madrugada. Os bandidos renderam os funcionários, tiraram do ar as rádios Tupi e Nativa, que funcionam no mesmo prédio, e levaram o caixa eletrônico dos Associados. No final do mês, Fernando Villela, o FerVil, morreu assassinado ao ser assaltado, na saída do trabalho.’
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‘AmBev consegue, no Conar, tirar do ar campanha da Schin’, copyright O Estado de S. Paulo, 18/12/04
‘A AmBev conseguiu ontem, no Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária (Conar) liminar que tira do ar a atual campanha de Nova Schin. Em seu pedido, a AmBev alegou que um dos comerciais induz o consumidor ao erro ao confundir a idade da marca com a idade do líquido, quando se refere a uma cerveja com mais de 60 anos. Para a AmBev, trata-se de uma menção indireta à Antarctica, que disputa o mercado com a Nova Schin.
O Conar também entendeu que a campanha de Nova Schin infringe as regras da regulamentação da propaganda de cervejas com seu slogan ‘Vai de nova. Vai de novo’.
O Conar já havia atendido antes pedido da AmBev contra a Nova Schin, que teve de abrir mão da bem sucedida ‘Experimenta’,campanha com a qual conquistou mercado e lançou a Nova Schin, assustando a AmBev.’
WEBJORNALISMO
‘Salaverría e o jornalismo digital na Espanha’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 16/12/04
‘No último dia 8 ocorreu na ECA-USP uma palestra do Prof. Ramón Salaverría, Diretor do MediaLab da Universidade de Navarra, Espanha e uma autoridade internacional em Jornalismo Online. Em uma breve conversa por e-mail Salaverría falou sobre o ensino e o mercado de jornalismo de digital na Espanha, e sobre seu paper ‘Los cibermedios ante las catastrofes: del 11s al 11m’, analisando as coberturas jornalísticas dos atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, e os de 11 de março de 2004, na Espanha.
Acompanhe abaixo, na íntegra, a entrevista:
Jornalismo Online – Como foi a palestra aqui no Brasil? Pode destacar alguns pontos?
Ramón Salaverría – Em minha palestra realizei uma análise comparada das coberturas jornalísticas dos acontecimentos de 11 de setembro e 11 de março realizadas pela imprensa digital. Analisei essas duas coberturas desde uma perspectiva temporal ampla: a primeira década de vida dos cibermeios, desde sua aparição na Web em 1994. Tendo em conta essa perspectiva, tratei de identificar as forças e fraquezas dos meios digitais em 2004, dez anos depois de sua aparição. Entre os pontos positivos, é possível detectar uma confiabilidade tecnológica e uma consolidação editorial cada vez maior, com cada vez melhores aproveitamento dos recursos multimídia. Em contrapartida, entre os pontos fracos vale destacar que os meios digitais continuam sem aprender a importância da interatividade com seus leitores, principalmente em situações de grande impacto social como o 11 de setembro e o 11 de março. Os meios digitais devem se lembrar que para ser um bom veículo informativo é imprescindível que os jornalistas realizem uma observação direta da realidade, e não se limitem à simples trabalhos de edição de informações elaboradas por outras pessoas, como ocorre atualmente nos veículos digitais.
Jornalismo Online – Poderia nos dar um panorama sobre como está o campo de ensino de jornalismo digital na Espanha? Considera as universidades bem preparadas nesse aspecto?
RS – O ensino do ciberjornalismo na Espanha tem acompanhado a vida dos meios digitais praticamente desde as suas origens. Por exemplo, desde sua fundação em 1995, o Laboratório de Comunicação Multimídia (MMLab) que dirijo na Universidade de Navarra foi pioneiro no ensino do jornalismo digital na Espanha e começou a trabalhar praticamente ao mesmo tempo que nasciam as primeiras publicações de Internet em meu país. Durante estes dez anos, a evolução do ensino de jornalismo digital nas universidades espanholas tem sido bastante profunda. A maioria das Faculdades de Jornalismo conta com cursos dedicados ao jornalismo digital, se bem que em muitos casos tais ensinos se limitam a questões de caráter instrumental. por exemplo, a elaboração de páginas Web, técnicas de navegação, etc. Existe, entretanto, uma nova linha docente, em que várias universidades estão trabalhando, que trata de identifica e explicar as novas práticas profissionais do jornalismo no ciberespaço. Neste sentido, explicamos questões novas como redação ciberjornalística, desenho de ciberveículos ou escrita não-linear. Entretanto, tenho que reconhecer que, em seus planos docentes, as universidades espanholas seguem dando pouca importância aos cibermeios frente aos meios clássicos como o impresso, o rádio e a televisão.
Jornalismo Online – Que pontos acha fundamentais para o ensino universitário de jornalismo digital?
RS – Parece-me fundamental lembrar aos alunos que o jornalismo digital, antes de digital, é jornalismo. Dizer, que para exercer adequadamente o jornalismo no ciberespaço não basta possuir uma destreza instrumental sobre os recursos digitais. Quem domina o COMO, mas ignora o QUE da informação, nunca será um bom jornalista. Portanto, em nosso planejamento docente sempre fomentamos tudo aquilo que tem a ver com valores clássicos do jornalismo, como o respeito à verdade, à verificação da informação, à originalidade, etc. Frente a isto, perseguimos os estudantes que costumam fazer seus trabalhos visitando cerca de quatro sites na Internet através de uma ferramenta de busca. Pensamos que se não perseguimos esse tipo de atitude, corremos o perigo de que esses maus hábitos cheguem às redações dos veículos, algo que, por desgraça, parece ocorrer atualmente.
Jornalismo Online – E quanto ao mercado de jornalismo digital no país?
RS – Eu haveria que distinguir ao menos dois conceitos: o mercado de trabalho e o mercado editorial. A respeito do mercado de trabalho, nos últimos anos os meios digitais espanhóis se converteram em prioridade para muitos novos jornalistas. Apesar da redução de oportunidades de trabalho que surgiu depois do estouro da bolha especulativa da Internet no começo do ano 2000, o número de jornalistas jovens que trabalham para sites Web na Espanha continua elevado. Portanto, a demanda de formação é altíssima. Ao que se refere ao mercado editorial dos meios digitais, vivemos uma época convulsa caracterizada por mudanças nos modelos de negócio, comprar de veículos e lançamentos de novas publicações, nos últimos dois anos se tem produzido um processo de consolidação dos cibermeios hispânicos, onde as grandes publicações são cada vez maiores e as pequenas, cada vez menores. Este é outro sintoma de que o mercado dos meios digitais espanhóis está amadurecendo. Cabe frisar, por último, que desde o ano 2003 já existe algum meio digital economicamente rentável, como ocorre com o Elmundo.es, líder de audiência entre as publicações digitais na Espanha.
Jornalismo Online – Como você vê os periódicos digitais espanhóis?
RS – Parece-me que os jornais digitais espanhóis possuem alguns aspectos que se sobressaem, mas também outros que necessitam um aprimoramento. Entre os aspectos positivos, destacaria sua tendência a experimentar novos formatos hipertextuais e interativos, particularmente no caso da infografia interativa. Nos prêmios anuais 2004 da SND.ies sobre desenho interativo, o veículo mais premiado do mundo, acima até mesmo dos veículos norte-americanos, foi o espanhol Elmundo.es. Nos últimos prêmios SND.ies correspondentes ao mês de outubro, duas publicações espanholas – Lavanguardia.es e Consumer.es -, as únicas que tiveram prêmio fora os gigantes norte-americanos como The New York Times, MSNBC e USA Today. O design interativo na Espanha está, em suma, no topo do mundo. Entre os aspectos negativos, em contrapartida, destacaria uma falta de aposta na Internet como meio comunicação. Os ciberveículos se dedicam quase exclusivamente a trabalhos de redação de informações vindas de agências e de sua própria edição impressa. Creio que é necessário que os meios digitais comecem a realizar um verdadeiro trabalho jornalístico, com repórteres próprios.
Jornalismo Online – Quais sites de notícia na Espanha e no mundo você enxerga como referência de bom jornalismo digital?
RS – É difícil eleger, mas para os leitores brasileiros não familiarizados com os meios digitais espanhóis, sugiro que conheçam estes sites: a seção de gráficos do Elmundo.es; o arquivo do Elpais.es; o tratamento da informação de última hora do diário esportivo Marca.com e a informação audiovisual e o design da TV de Catalunya.
Em tempo:
Um excelente resumo da palestra de Salaverría foi publicado por Sérgio Vaz Correa no Intermezzo. O texto original de seu estudo está disponível em: http://www.unav.es/dpp/tecnologia/docs/salaverria_cicom2004.pdf.’