‘Diferentemente do que acontece habitualmente na Flip (Festa Literária Internacional de Parati), escritores andavam ontem pelas ruas da cidade histórica fluminense com expressão tensa. Os atentados terroristas em Londres abalaram os autores que participam do evento, que reúne 15 convidados estrangeiros neste ano.
‘Confesso que minha primeira reação foi bem comum: telefonar para saber se minha família e meus amigos estavam bem’, disse o escritor anglo-indiano Salman Rushdie, o principal nome da terceira edição da Flip.
‘Pelo que pude perceber, as pessoas estão mais com raiva do que com medo. Londres já estava acostumada com os atentados do Ira [Exército Republicano Irlandês], mas esses de hoje [ontem] tiveram muita força. Espero que a cidade consiga superar’, afirmou.
O escritor não quis comentar a participação do Reino Unido na Guerra do Iraque. Por ter escrito o livro ‘Os Versos Satânicos’, Rushdie recebeu, em 1989, uma ‘fatwa’ (decreto religioso) do aiatolá Khomeini, então líder religioso do Irã. Só em 1998 a sentença de morte foi revogada pelo regime islâmico.
Jeanette Winterson, um dos nomes mais cultuados da nova literatura britânica, não fez questão de ser diplomática: ‘[George W.] Bush é o verdadeiro terrorista, e [Tony] Blair é o político que cometeu o erro de se aliar a um idiota como Bush. Hoje, o Reino Unido está pagando por isso’.
O jornalista britânico Jon Lee Anderson, que cobriu a Guerra do Iraque e escreveu o livro ‘A Queda de Bagdá’, disse que era ‘inevitável’ um atentado como o de ontem em resposta às invasões do Afeganistão e do Iraque. ‘Eu temo que, agora, os racismos e as xenofobias se acirrem e que piore muito a situação dos imigrantes no Reino Unido.’
O escritor israelense David Grossman, um árduo defensor da paz entre Israel e os palestinos, disse que ‘é horrível ver como o terrorismo está espalhado pelo mundo’.
Proprietária da Bloomsbury, uma das principais editoras britânicas, Liz Calder, que comanda a Flip, procurava um alento na reunião de escritores. ‘Ouvir autores como Rushdie, Grossman, [Michael] Ondaatje, que já escreveram muito sobre violência política, pode nos ajudar a entender como podem acontecer atos tão sem razão’, disse ela.’
Bernardo Araújo
‘O celeiro de novos escritores de Paraty’, copyright O Globo, 8/7/05
‘Ninguém precisa desistir do sonho de ser escritor só porque não se acha talentoso ou raramente se sente inspirado: os 50 felizardos selecionados para a Oficina Literária da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), vindos de todo o Brasil, ouviram isso logo no começo do curso de três dias que farão na cidade colonial, ministrado pelo escritor pernambucano Raimundo Carrero.
— Talento e inspiração simplesmente não existem — bradou Carrero, personificando o profeta Antônio Conselheiro, com seus fartos cabelos e barbas brancos. — Precisamos de vontade e disciplina, observação e experiência.
Paciência para reescrever: uma virtude necessária
Segundo ele, a paciência para reescrever um texto muitas vezes — como já pregou Michael Ondaatje, autor de ‘O paciente inglês’, também presente à Flip — é outra das virtudes que um escritor precisa ter, aliada à técnica.
— Mas não pensem vocês que eu vou ensinar aqui como se deve escrever, como se eu soubesse tudo e vocês, nada — advertiu. — Quando a gente escreve um livro, a técnica vai aparecendo na medida em que o texto vai fluindo.
O escritor Antônio Dutra, que participou da oficina em 2004 e foi premiado com uma bolsa, ao lado de Cristiane Tassis, tem outro nome para o que Carrero chama de ‘técnica’.
— São regras — diz ele, autor do romance ‘Mata-cavalos’, que mistura o Rio de Janeiro atual àquele descrito nos romances de Machado de Assis. — Por exemplo, para escrever cenas passadas no Rio do século XIX, eu tive que pesquisar o vocabulário da época. Aí já fica estabelecida uma regra.
Dutra e Cristiane participaram da primeira sessão da oficina, falando aos futuros escritores sobre sua experiência. Antes da oficina, Dutra pensava em ser poeta e Cristiane queria escrever roteiros de filmes.
— Adorei ganhar o prêmio e até estranhei todos aqueles parabéns — contou ele.
Os três fizeram questão de ressaltar a importância do trabalho, quase braçal, de escrever e reescrever.
— Às vezes fico presa em um trecho — contou Cristiane, autora de ‘Desmemória’, história de uma mulher que colhe depoimentos sobre o ex-namorado prestes a perder a memória devido a uma doença. — Em outros tempos eu largaria tudo. Agora apenas paro um pouco, vou distrair a cabeça (sem deixar de pensar no texto), volto e reescrevo. Aí vai saindo.
A carioca Ana Letícia Leal, de 35 anos, foi à oficina com a intenção de conversar com outros escritores.
— Conheço poucas pessoas que escrevem — disse ela, que teve o conto ‘Sem minha filha’ publicado na antologia ‘Contos do Rio’, editada pelo GLOBO. — É bom encontrar gente que se dedica à mesma atividade que eu. Gostei também da abordagem do Carrero, que não pretende ensinar a ninguém um mapa da mina para se escrever ficção. Ele fez questão de dizer que todo mundo pode ser escritor.
Ela disse que não se importa com o fato de a Oficina Literária não distribuir bolsas em 2005.
— É claro que seria bom ganhar um dinheirinho para escrever um livro — admitiu. — Mas não foi para isso que viemos a Paraty.’
O Globo
‘As putas tristes do colombiano García Márquez’, copyright O Globo, 8/7/05
‘A editora Record envia hoje às livrarias ‘Memórias de minhas putas tristes’, o mais recente romance do escritor colombiano Gabriel García Márquez. A obra foi lançada no ano passado no país natal do autor, sob forte esquema de segurança para evitar cópias piratas antes de chegar às lojas. Trata-se da crônica das obsessões senis de um solteirão, Mustio Collado, velho jornalista que, com a luxúria, quer provar a si mesmo e ao mundo que continua vivo.
Cafetina consegue jovem de 14 anos para o velho
A novela de 128 páginas é traduzida por Eric Nepomuceno, que no ano passado ganhou o Jabuti pela tradução de outra obra de García Márquez, o autobiofráfico ‘Viver para contar’. Na nova obra do Nobel de Literatura, as putas acabam por se tornar meras figurantes, que nunca chegam a exibir suas proezas sexuais. O solteirão, no dia em que completa 90 anos, telefona para uma antiga conhecida, dona de um bordel, para lhe pedir um favor: conseguir para ele uma adolescente virgem. A cafetina lhe oferece uma menina de 14 anos para a sua noite de libertinagem.
O velho e a jovem se encontram várias vezes, mas ele nem chega a tocá-la — embora não por falta de desejo ou capacidade para isso. Eles nem mesmo trocam uma palavra entre si. É a partir desse ponto que surge a beleza e a delicadeza dessa história na qual García Márquez relata, com ternura, a descoberta de algo novo para aquele solteirão: o verdadeiro amor.’
MADE IN BRAZIL
Eduardo Fradkin
‘Cinema brasileiro mostra a cara em Nova York’, copyright O Globo, 8/7/05
‘De hoje ao sábado da próxima semana, atores, diretores e produtores de cinema de todo o Brasil vão mostrar a cara — e, o mais importante, seus filmes — no 3 Festival de Cinema Brasileiro de Nova York. As sessões serão no Central Park e no Tribeca Cinema, do ator Robert De Niro.
O objetivo principal do festival é servir de vitrine para mostrar a produção nacional a distribuidores e compradores americanos e europeus, segundo sua diretora executiva, Adriana Dutra.
— Em Nova York fazemos a continuação do Festival de Cinema Brasileiro de Miami (cuja nona edição ocorreu entre 11 e 18 de junho) . Conseguimos dois ótimos espaços, o Tribeca, pela primeira vez, e o Central Park, onde também estivemos no ano passado. O que acontece em Nova York ecoa no mundo, daí a importância de mostrar aqui o potencial do cinema brasileiro. É uma alavanca para o turismo e até as exportações — defende Adriana, que espera receber cerca de 80 convidados do Brasil.
Americanos verão filmes inéditos no Brasil
Entre os 17 filmes da mostra, quatro são inéditos no Brasil: ‘Cafundó’, ‘Doutores da alegria’, ‘O cinema é meu jardim’ e ‘Vestido de noiva’.
Os americanos verão ainda shows de música brasileira num palco montado no Central Park. Na abertura do evento, às 19h de hoje, apresenta-se Gabriel O Pensador, seguido pela exibição do filme ‘Bendito fruto’. Amanhã é a vez da banda Nação Zumbi, no mesmo horário. Depois, haverá sessão de ‘A dona da história’.
— Os filmes e os shows no Central Park têm entrada franca. Somos os primeiros a montar um cinema ao ar livre nesse parque para exibir filmes brasileiros. Com o festival, entramos para o calendário oficial de atividades culturais de Nova York, pois nos associamos ao tradicional evento Summer Stage — comemora Adriana, há dez anos nos EUA.’
REDE TV!
Taíssa Stivanin
‘O verbo na RedeTV! é ‘digitalizar’’, copyright O Estado de S. Paulo, 8/7/05
‘A RedeTV! pretende concluir até o dia 1º de agosto um projeto para digitalizar todo o material produzido desde sua estréia, em 1999. A empresa, segundo seu presidente, Amílcare Dalevo, tem um software dese nvolvido pela Tec Net, empresa que também lhe pertence, que exclui o uso de fitas para armazenar imagens.
A vantagem pode ser observada mais diretamente pelos telespectadores em programas ao vivo: qualquer imagem pode ser encontrada e exibida em tempo real, sem necessidade de edição ou de uma busca mais demorada em arquivo.
Segundo Dalevo, nenhuma emissora aberta possui esse recurso.
O projeto faz parte das comemorações pelo aniversário da emissora, que completa seis anos em dezembro.
O canal ainda promete incrementar a programação. A emissora comprou um pacote de 50 títulos do grupo Paris Filmes, para uma nova seção de filmes no fim de semana. ‘Vamos entrar na corrida pela programação de filmes’, disse ao Estado. O canal também pretende instalar um núcleo de teledramaturgia. O primeiro projeto é uma minissérie assinada por Fábio Barreto e estrelada por Luciana Gimenez, do Superpop. Uma segunda produção já estaria sendo engatilhada, de acordo com Dalevo.
JORNALISMO
A emissora também estuda incluir na grade o RedeTV Repórter, seguindo a linha do Globo Repórter, com promessa de grandes reportagens sobre comportamento, saúde e estilo de vida.’