Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Eliane Cantanhêde

‘Durante entrevista para ‘jornalistas amigos da criança’, título concedido pela Andi, ONG ligada à questão do menor, Lula prometeu que o então ministro Guido Mantega (Planejamento) rebateria no mesmo dia informações sobre programas sociais que, apesar de considerados prioritários, não usavam as verbas do Orçamento a eles destinadas.

Gilberto Carvalho, assessor de Lula, pegou os números e os entregou a Mantega. Por coincidência, encontrei o ministro logo depois, no próprio Planalto, e ele já tinha recebido uma cópia. Avisou que iria em seguida para São Paulo, mas me ligaria até o fim do dia rebatendo os números. ‘Ordem do presidente’, disse.

Pois bem. Isso foi em 16 de julho de 2004, o ano acabou, Mantega nem mais ministro é, e continuo esperando os dados que o presidente ordenou que ele me desse. Até porque, segundo Lula, toda vez que a imprensa cutucava o governo pelo uso (ou não-uso) de verbas para programas sociais, ele cobrava de Mantega -’que dizia que não era verdade’.

Verdade ou não, os ministérios especializaram-se em produzir cartinhas para os jornais para tentar rebater os dados, sem conseguir. O fato é que há programas prioritários, há verbas disponíveis e os dois -programas e verbas- não se encontram. É o que ocorre agora, mais uma vez, com o saneamento básico.

Só falta o governo desmentir os últimos números da economia comandada por Palocci e Meirelles: o aumento de mais meio ponto na taxa de juros, que passa para 18,25% e mantém o Brasil no pódio como campeão mundial de juros reais.

Em vez de dar ordens para os ministros enviarem confusas cartinhas de desmentido para os jornais, Lula deveria determinar que eles usassem as verbas no que é de fato urgente, -como saneamento-, dessem prioridade ao crescimento econômico e desistissem do título brasileiro de campeão mundial dos juros altos.

Depois, era só torcer para que os ministros de fato obedecessem. O que nem sempre acontece.’



Carlos Heitor Cony

‘Perda de tempo’, copyright Folha de S. Paulo, 23/1/05

‘ Em crônica da semana passada, na Ilustrada, comentei a onda que a mídia e os interbobos estão fazendo contra o avião comprado pelo governo para a Presidência da República. Uns e outros repetem o mesmo argumento pedestre e demagógico: ‘Enquanto houver uma criancinha passando fome no Brasil, o governo não pode gastar milhões para comprar um avião luxuoso para Lula’. Nem vale a pena salientar a bobagem do argumento. O avião não chega a ser tão luxuoso assim nem é um brinquedinho para o deleite pessoal de Lula. O tempo, o espaço e a energia que perdem para condenar o avião, que não merece condenação, a menos que caia e mate alguém, deveria ser gasto na condenação que o atual governo realmente merece. E merece cada vez mais ao priorizar a contabilidade pública (para agradar o FMI e os especuladores estrangeiros) em detrimento da agenda social, que, sobretudo no caso de um país como o Brasil, onde tantas criancinhas morrem de fome, deveria ser a prioridade máxima. As duas tentativas para engabelar o eleitorado que votou nele (Fome Zero e Bolsa-Família) marcarão o seu governo como de um ridículo atroz. Lula poderá fazer chover no plano econômico, se é que realmente a economia nacional transformou-se na maravilha purgativa que estão dizendo por aí. Mas será um presidente mais do que medíocre, embora tenha o direito de voar num avião melhor e mais seguro.

A propósito da crônica que publiquei comentando a inadmissível falta profissional de Gilmar Mendes, entre outras manifestações que agradeço, recebi do senador Jefferson Péres a seguinte mensagem: ‘Filho de magistrado, venho de um tempo em que juízes só falavam nos autos -e depois de estudá-los. Hoje, estranhamente, eles falam pelos jornais e antes de examinar o processo. PS – Faça desta mensagem o uso que lhe convier’.’



Ancelmo Gois

‘Deu no ‘NY Times’’, copyright O Globo, 20/1/05

‘Dia 9, Daniel Okrent, ombudsman do ‘New York Times’, voltou àquela polêmica reportagem de Larry Rohter que acusava Lula de beber demais.

Okrent critica a escolha da foto que mostrava Lula, sete meses antes, brindando com cerveja na Oktoberfest. Diz que a foto até era real (‘Da Silva, um dia, bebeu cerveja’), ‘mas talvez não fosse fiel à realidade’.’