Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Emissora de televisão consegue
mudar nome de cidade americana


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 6 de março de 2006


EUA / TELEVISÃO
Carlos Franco


Uso de novas mídias rompe limites


‘A empresa de televisão por satélite americana EchoStar fez, no fim do ano passado, uma proposta no mínimo curiosa: 10 anos de programação de televisão paga inteiramente grátis a todos os habitantes de uma cidade que mudasse oficialmente o seu nome para o do serviço da operadora. No início deste ano, a cidade de Clark, no Texas, decidiu aceitar a oferta e passou a se chamar, por lei municipal, Dish City, uma referência ao serviço Dish da operadora, voltado para pequenas cidades – menores até que grandes condomínios metropolitanos.


O prefeito de Clark, agora Dish, Bill Merrit, disse que consultou 10% da população da cidade, ou 12 dos 125 habitantes, para tomar a decisão, que agradou a todos. As placas de acesso nas rodovias e auto-estradas já foram trocadas. Tudo pago pela operadora, que está fazendo da cidade a ponta-de-lança de sua comunicação.


Só que a decisão da pequena cidade texana e a agressiva – para muitos, bizarra – estratégia de comunicação da EchoStar abriu espaço para uma discussão sobre os limites da propaganda. Roberto Duailibi, da agência de publicidade DPZ, diz que hoje é ‘tentador para muitas agências e empresas, especialmente aquelas que não dispõem de recursos para investir nas mídias tradicionais, transformar em veículo tudo aquilo que está ao alcance dos olhos.’ E, assim, o banheiro virou mídia, o ônibus, o abrigo das ruas, o táxi, o piso de lojas, os shoppings e até o corpo. ‘Só que, sem um limite, sem uma noção de bom senso e respeito, essa comunicação corre o risco de não cumprir o papel de propagar uma idéia, um produto ou serviço’, diz.


Para Duailibi, tudo o que é sinônimo de poluição visual e que força um vínculo cultural inexistente perde em credibilidade. ‘É o contrário, por exemplo, do que ocorreu com a Urca, que era sigla da Urbanizadora Carioca, que acabou virando o nome do bairro e do morro do Rio, que muitos, por desconhecimento acreditam ser palavra de origem indígena. O mesmo ocorreu com Sinop (sigla para Sociedade Imobiliária do Noroeste do Paraná), hoje uma das principais cidades do Mato Grosso. Mas é uma questão cultural, não uma imposição patrocinada e mercadológica.’


Duailibi diz ter dúvidas sobre a eficácia de uma empreitada como a da EchoStar, apesar do ganho de mídia que o lançamento do serviço conquistou. E essa parece ser a tentação das agências e de anunciantes: a conquista de mídia gratuita pela qual não poderiam pagar.


Para Andrew Robertson, presidente da rede mundial de publicidade BBDO, hoje a mensagem é a mídia, o que dinamita a idéia do canadense Marshall McLuhan, que cunhou a expressão aldeia global, de que o meio é a mensagem. ‘A tecnologia está abrindo janelas que transformam o homem comum em sua própria mídia. Um movimento que tem a ver com a internet e sua mobilidade, por meio dos aparelhos celulares, e o surgimento de novas mídias, fruto do desenvolvimento dessas novas tecnologias digitais.’


Como existe uma oferta gigantesca de conteúdo, diz Robertson, o grande desafio das agências e dos publicitários é a diferenciação da comunicação de produtos e serviços dessa geléia geral de informação e a capacidade de a publicidade conquistar o consumidor e emocioná-lo. Nesse vale tudo é que entram iniciativas como a da EchoStar.


O sócio e diretor da F/Nazca, Ivan Marques, é outro que não acredita na temporalidade de ações como a mudança de nome de uma cidade. Para ele, como para Robertson, o mais importante hoje na comunicação publicitária é focar as ações para as novas mídias, fruto do desenvolvimento tecnológico, e procurar criar campanhas capazes de reforçar as marcas, tornando-as sempre objeto do desejo, sem deixar de lado a mídia tradicional – jornais, revistas, emissoras de rádio e TV e outdoor. ‘Ações inusitadas sempre vão ocorrer, mas o importante hoje é buscar um contato com o consumidor que está ligado nas novas mídias e é importante para o desenvolvimento futuro dos produtos.’


Marques diz que uma boa campanha tem a obrigação de percorrer os diferentes meios de comunicação com a mesma clareza e o compromisso de expressar os valores de uma marca. ‘O desafio é este: criar campanhas e estratégias que busquem liderança’, diz o publicitário da agência que responde pela comunicação da Skol, líder no mercado brasileiro de cerveja. Marques, assim como Duailibi, não acredita em publicidades invasivas, exceto quando são muito criativas e atingem o público.


Para Robertson, a mídia exterior, como outdoors, pontos de ônibus e os próprios ônibus, ainda são uma forma eficiente de comunicação, desde que consigam se distinguir em meio à poluição visual dos grandes centros urbanos. É um caso de campanha de editora que vestiu os ônibus de São Paulo com fotos de nus, que se complementavam com os passageiros.


O grande desafio de uma campanha, diz o presidente mundial da rede BBDO, é conquistar o público com emoção e um conceito único. Ele destaca o trabalho da coligada brasileira Almap/BBDO, que tem entre outras contas a da Volkswagen. Um dos desafios da agência, que trabalhou com várias mídias, foi o de processar, no ano passado, a mudança do antigo slogan da montadora ‘Você conhece, você confia’, que foi usado durante 18 anos, por ‘Perfeito para a sua vida’. Mas, para isso, não recorreu ao banheiro como mídia.’


CENSURA NOS EUA
Paulo Sotero


Governo Bush lança ofensiva contra jornalistas americanos


‘Exasperado com o vazamento ao público de informações embaraçosas sobre atividades secretas e potencialmente ilegais da administração, que tem contribuído para aumentar seu déficit de credibilidade tanto na condução da guerra contra o terrorismo como da política doméstica, o governo Bush lançou uma ofensiva que tem por alvo jornalistas e suas fontes, a fim de coibir a prática. De acordo com o Washington Post, que estampou o assunto ontem em sua primeira página, ‘os esforços incluem várias inquéritos do FBI, uma investigação na CIA e advertências do Departamento da Justiça, segundo a qual repórteres (que obtém e publicam informações classificadas) podem ser processado sob as leis de espionagem’.


O Post, que revelou a existência de prisões secretas da CIA em vários países, e o New York Times, que expôs o programa extra-judicial de escuta telefônica e monitoramento de comunicações via internet autorizado pelo presidente George W. Bush, são os alvos óbvios da ofensiva mas, até agora, não foram contatados pelas autoridades. O editor-executivo do Times, Bill Keller, disse ao Post que ‘há um um tom de satisfação na maneira como eles falam em arrastar repórteres diante de júris de instrução’. Keller acrescentou que não sabe ‘quão longe a ação seguirá a retórica, mas de vez em quando parece que o governo está declarando guerra em casa aos valores que professa promover no exterior’.


Não é a primeira vez que o governo americano declara guerra aos vazamentos. O caso mais famoso começou em 1971, quando o presidente Richard Nixon, irritado com a publicação dos chamados ‘Papéis do Pentágono’ – uma versão oficial, e falsa, sobre a guerra do Vietnã – instruiu seus assessores a ‘fazer o que precisar ser feito, qualquer que seja o custo’ para parar os vazamentos.


‘É meu objetivo e minha esperança ver repórteres presentes numa investigação sobre vazamentos de informações por um júri de instrução’, disse o diretor da CIA, Porter J. Goss, em recente depoimento a uma comissão do Congresso. A dificuldade de coibir a prática deriva do fato de que os vazamentos são, na maior parte das vezes, iniciados por altos funcionários por razões que eles consideram do interesse público.


A administração Bush ofereceu um eloqüente exemplo disso no caso do vazamento da identidade da ex-agente da CIA Valerie Plame, numa aparente represália à oposição pública de seu marido, um ex-diplomata, à invasão do Iraque. Segundo documentos enviados ao tribunal pelos advogados de I. Lewis ‘Scooter’ Libby, o ex-chefe de gabinete do vice-presidente Dick Cheney, que renunciou ao cargo depois de ser indiciado criminalmente como vazador, ele foi autorizado ‘por seus superiores’ a informar alguns jornalistas sobre o vínculo de Plame com a CIA.’


MERCADO EDITORIAL
Carlos Franco


Com venda de livros em alta no País, Bienal espera público recorde


‘Com investimento de R$ 18 milhões, dos quais R$ 2 milhões em campanha publicitária, a 19ª Bienal do Livro de São Paulo abre as portas no dia 9 e vai até o dia 19, no Parque de Exposições do Anhembi, em São Paulo. O objetivo do evento é estimular as vendas do mercado editorial, que já vêm crescendo.


No ano passado, as vendas de livros no País alcançaram cerca de R$ 2,7 bilhões – o número foi de R$ 2,5 bilhões em 2004. É um setor em expansão, apesar dos avanços das novas tecnologias. Em 2004, foram vendidos 288,6 milhões de livros no Brasil, 12,5% acima do número registrado em 2003, apesar da queda no número de novos títulos nesse período, de 2%, com 34.858 títulos editados. O que se explica, segundo o vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), Marino Lobello, pelo fato de o preço de capa de livros que lideraram a lista dos mais vendidos serem mais altos que a média.


O importante, para Lobello, no entanto, é que as editoras estão conseguindo atrair novos leitores. Hoje, o índice de leitura do brasileiro é de 1,5 livro per capita por ano, muito baixo quando comparado à média mundial de 10 livros – e que chega a 20 livros por habitante por ano em países como a França. Portanto, há um espaço de crescimento para esse mercado e o mais importante, para empresários do setor, é que o casamento entre literatura e cinema, como no caso do bruxinho Harry Potter, acaba por estimular o interesse pela leitura.


E que ninguém duvide, diz Lobello, da força do livro. A expectativa é que o número recorde de 800 mil pessoas percorram durante a feira os 57 mil m2 da área de exposição, que reunirá 320 expositores e 900 selos editoriais. Serão lançados 3 mil títulos e expostos mais de 1,5 milhão de livros. Com 310 horas de atividades culturais e 425 sessões de autógrafos, a Bienal espera provar que o livro ocupa um lugar de destaque na cultura e na vida nacional.


A Bienal também vai exibir, com muito mais força, patrocinadores. É o caso da Petrobrás, que está investindo R$ 600 mil no evento. Também patrocinam o evento a Siciliano.com; Votorantim Celulose e Papel e a IBEP Gráfica, com cotas que partem de R$ 80 mil.


O fundador e presidente da Editora Campus, Cláudio Rothmuller, reforça e garante que o livro nunca perderá seu lugar na sociedade moderna. Pelo contrário. ‘Algumas obras estão conquistando novos leitores pela curiosidade que despertam, como é o caso de O Código Da Vinci e da série relatando a saga do mago Harry Potter, que deflagraram uma onda de curiosidade sobre ordens religiosas e misticismo’, diz. E a Editora Campus, hoje em poder do grupo holandês Elsevier, não perdeu tempo. Lança na Bienal o livro Opus Dei – os mitos e as verdades da mais misteriosa organização da Igreja Católica, do repórter John Allen Jr., um especialista no Vaticano, que entrevistou líderes da organização.


Outro lançamento no qual a Campus aposta é a série Cartas a um jovem, escrita por profissionais de diferentes áreas de atuação. Na Bienal e se valendo das eleições de outubro, a Campus lança Cartas a um jovem político: para construir um país melhor, livro escrito pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.


AQUISIÇÕES


A própria Campus, fundada em 1976, é um exemplo do movimento que vem ocorrendo nas editoras brasileiras. Em 2002, com a aquisição das editoras Negócio e Alegro, formou o Grupo Editorial Campus, empresa que hoje pertence à Elsevier, que as transformou em selos do grupo. ‘Esse movimento garante novos lançamentos e uma renovação dos catálogos’, diz Rothmuller, que de controlador passou a executivo do negócio.


Em julho, dois grandes negócios no mercado editorial foram anunciados: a venda de 75% da Editora Objetiva para o grupo espanhol Prisa-Santillana e a compra de metade da Nova Fronteira pela Ediouro. Um movimento que, segundo analistas do mercado, não vai parar. A editora americana Thomas Nelson, líder em publicações evangélicas nos Estados Unidos, já avisou que desembarcará no Brasil para verificar, na Bienal, novas possibilidades de negócios.


Fabricantes de papel, como a VCP, do Grupo Votorantim, também fazem previsões otimistas. A empresa estima um crescimento em torno de 100% nas vendas de papel para o segmento de livros didáticos em 2006. A expectativa é que o mercado comercialize mais de 60 mil toneladas de papel neste segmento, o que corresponde à produção de mais de 130 milhões de livros.


‘O incremento nas vendas de livros deverá ocorrer por conta das aquisições que o governo federal irá realizar para os seus três programas nacionais de livros didáticos’, conta Sérgio Vaz, diretor de Negócios de Papel da VCP. O que também estimula novas editoras a lançar livros, de didáticos a românticos e esotéricos.’


TV DIGITAL
Renato Cruz


TV digital do País influenciará região


‘A escolha do padrão de TV digital no Brasil vai influenciar boa parte da América do Sul. Quem garante é Hernan Galperin, professor da Universidad de San Andres, em Buenos Aires, e autor do livro New Television, Old Politics (Televisão Nova, Política Velha), publicado em 2004 pela Cambridge University Press, em que analisa a transição para a TV digital nos Estados Unidos e no Reino Unido.


‘A decisão do Brasil vai guiar a de outros países. No Mercosul, foi firmado um acordo na última reunião. A decisão da Argentina é de acompanhar o Brasil. Acho que pode haver alguma resistência dos radiodifusores, que insistem na decisão anterior, mas não deve ser uma posição forte. Os investimentos feitos foram mínimos’, diz ‘, Galperin.


A Argentina tinha optado pelo padrão americano, chamado ATSC, mas decidiu rever sua posição. O ATSC é analisado também pelo Brasil, mas o ministro das Comunicações, Hélio Costa, prefere o japonês ISDB, ao lado de grandes emissoras, como a Globo, enquanto outros setores do governo acham interessante a proposta dos europeus, com o sistema DVB. O sistema americano ainda não permite transmitir imagens para dispositivos móveis, como celulares, uma das exigências dos radiodifusores brasileiros. O governo brasileiro prevê anunciar uma decisão sexta-feira.


Ao comparar a transição nos EUA e no Reino Unido, Galperin destaca que neste último ela foi mais bem sucedida. ‘Meu livro foi publicado já há alguns anos e, se analisarmos hoje, é ainda mais forte a evidência de que o modelo britânico teve mais êxito’, afirma. ‘Com o aumento da competição, existe uma guerra de preços, processo que beneficia os consumidores e a implantação do sistema de TV digital. Nos EUA, há um processo basicamente parado pelo pouco interesse dos que supostamente deveriam liderar essa transição, os radiodifusores.’


Galperin mostrou que o processo de transição nos EUA foi desenhado para manter a relação de forças existente no mercado de TV aberta. No Reino Unido, a digital foi pensada como forma de aumentar a competição. A Europa privilegiou a multiprogramação, pela qual quatro programas podem ser transmitidos num só canal. ‘Não é só a discussão sobre japonês versus americano, versus europeu’, afirma Galperin. ‘Existem interesses muito fortes, que não têm a ver apenas com tecnologia, mas com o modelo industrial. A pressão sobre o governo é muito forte.’’


ESTADÃO, AÕ, ÃO
Carlos Franco


Campanha do jornal ‘Estado’ reforça a importância de ser ‘ÃO’


‘Nos últimos 15 dias, muitos paulistanos se perguntaram o que seriam as frases ‘Pense ÃO’ espalhadas por toda a cidade, inclusive no litoral paulista e em revistas e jornais impressos. Ontem, o público finalmente descobriu que a instigante frase é o mote da mais nova campanha de publicidade do jornal O Estado de S. Paulo, criada pela agência Talent com o slogan ‘Estadão, o jornal de quem pensa ÃO’.


Os teasers, peças que antecedem à revelação da estratégia de comunicação, começaram a ser espalhados em São Paulo a partir do dia 20 de fevereiro. Foram instalados 120 outdoors na cidade, além de totens com as letras ÃO nos shopping centers e estações de metrô, convidando o público a pensar ÃO. Nos shoppings e estações de metrô, muitas crianças brincaram com as letras esculpidas, que também despertaram a curiosidade dos adultos.


Duplas com camisetas gigantes e bexigas com o mote da campanha circularam pela cidade, inclusive nos shows da banda irlandesa U2 no estádio do Morumbi. Nos finais de semana e no carnaval, aviões sobrevoaram as praias do litoral de São Paulo com a faixa ‘Pense ÃO’. Anúncios na mídia impressa também chamavam atenção dos leitores. Tudo isso com o objetivo de preparar o público para a comunicação central da campanha, que reforça os valores do jornal e de seus leitores.


Para a segunda etapa da campanha foram convidadas personalidades de diversas áreas para mostrar a diferença entre quem é ‘inho’ e quem é ‘ÃO’. Luciano Huck, Cazé, Fernanda Young, Clodoaldo Silva, Negra Li e José Celso Martinez Corrêa são exemplos de quem é ‘ÃO’, pessoas que com esforço, luta e ética conquistaram seu espaço.


‘O ‘inho’ é aquela pessoa conformada, que vai levando a vida sem muito brilho ou emoção e que sempre acaba buscando o lado ruim das coisas. Queremos mostrar que o Estadão é o jornal de quem faz as coisas acontecerem, de quem está batalhando e acredita que irá vencer. É um otimista sem ser Poliana’, afirma Antônio Hercules Jr., diretor de Marketing e Mercado Leitor. O investimento inicial da campanha de marca é de R$ 10 milhões.


FILMES


Além do material de lançamento, a campanha terá prosseguimento com dois filmes de 30 segundos e anúncios que promovem o conteúdo do Estadão e seu benefício para quem pensa ‘ÃO’. Um encarte de 12 páginas foi veiculado ontem.


Para o controlador e presidente da agência Talent, Julio Ribeiro, o meio jornal nunca perderá a sua força na formação do pensamento para novas mídias, como a internet.


‘O jornal tem uma força e uma vitalidade que continuará sempre na moda. Ele é expressão do prazer de leitura e fonte de informação para pessoas que decidem, que pensam ‘ÃO’ e não ‘inho’, que são aquelas acomodadas, que se satisfazem com pouco’, explica Ribeiro.


Para Ribeiro, só o Estadão, com sua trajetória de credibilidade ao longo do tempo e a força de uma informação completa, em todos os cadernos, além do mais detalhado caderno de classificados do mercado, poderia veicular uma campanha como essa.


‘É um jornal que tem o peso da informação, que forma pensamento e analisa os fatos, com ideologia e compromisso. Algo que é para poucos e que ensina os leitores e o público a pensar maior, a pensar ‘ÃO’. É essa trajetória que a campanha explora e que evidencia a força por meio da expressão que o próprio jornal carrega e que surgiu do número de páginas e encartes que sempre apresentou, sendo tratado não como um jornal qualquer, mas como o Estadão’.


É esse tratamento, que veio de antigos profissionais que encartavam manualmente os cadernos, que Ribeiro diz pretender usar como a assinatura de um veículo que atravessou gerações, mantendo-se com força e influência no cenário político, econômico, social e cultural.


O diretor de criação da Talent, João Livi, ressalta que ninguém melhor do que o Estadão, com seu passado e sua participação na vida do País, para carregar a bandeira desta ideologia de pensar grande. ‘Estamos identificando o jornal com seus leitores e convidando outros a também pensarem com mais conteúdo’, afirma.’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Sítio faz 30 olhando para trás


‘Amanhã fará 30 anos que ‘marmelada de banana, bananada de goiaba’ encanta crianças do Brasil pela tela da Globo. Embalado por vários sucessos como o de Gil, o Sítio do Picapau Amarelo vira balzaquiano olhando para trás.


A trilha original da atração, que estreou na Globo no dia 7 de março de 1976 – antes tinha ido ao ar em forma de teleteatro, na extinta Tupi -, virou CD e chega amanhã às lojas em comemoração à data. Faz parte de um pacote de 25 discos garimpados pelo titã Charles Gavin nos arquivos da Som Livre. A trilha, gravada nos anos 70, traz um pouco das preocupações da época. A música de abertura, usada também na versão atual, é de Gilberto Gil e leva o nome do programa. Dorival Caymmi canta Tia Anastácia; Sergio Ricardo, Emília; e João Bosco faz uma homenagem ao sabugo que fala, em Visconde de Sabugosa. Lucinha Lins canta Narizinho e o Reino das Águas Claras é embalado pela psicodélica Peixe, dos Doces Bárbaros. O grupo MPB4 gravou Passaredo, de Chico Buarque. O que ninguém percebeu na época é que na música existe uma clara metáfora contra a ditadura no verso em que se pede aos pássaros que fujam, pois ‘o homem vem aí’. ‘O homem’, ou ‘os homens’, era uma das formas de se chamar os agentes da ditadura. Na trilha, ela ficou com cara de mensagem ecológica.


Sem desmerecer nomes como Ivete Sangalo e Zeca Pagodinho, que fazem parte da coletânea musical da nova versão do infantil, a trilha original do Sítio é uma pérola. Ela chega às lojas acompanhada de outra trilha infantil preciosa, a do Vila Sésamo, que, assim como o Sítio, fez muito sucesso na TV nos anos 70. Vale lembrar que quem levou a obra de Monteiro Lobato para a Globo e deu a ela a cara que conhecemos hoje foi Geraldo Casé, pai de Regina Casé.’


INTERNET
Pedro Dória


A revolução da foto digital e o MP3


‘Em meados do ano passado, a AgfaPhoto, tradicional empresa alemã do ramo de filmes fotográficos, entrou em concordata. Foi um baque e tanto que pegou os funcionários de surpresa – mas não os investidores. Quando abriu as portas em 1889, o Brasil ainda tinha imperador, e a Agfa era empresa de alta tecnologia. Foi pioneira em 1937, quando lançou no mercado o primeiro filme colorido. De que adianta?


A primeira câmera digital que vi, por volta de 1996, era uma QuickTake, recém-lançada pela Apple. Um rico havia comprado – e, francamente, parecia inútil. Não produzia boas fotos e, se você quisesse levar à tela do computador uma fotografia, parecia mais prático usar um scanner. (O qual, aliás, custaria o mesmo preço da câmera.) É estranho simplesmente dizer, assim, que uma câmera digital não fazia nenhum sentido em 96 – mas não fazia mesmo.


Passou a fazer por vários motivos. Primeiro: câmeras de 2 megapixels, resolução suficiente para imprimir no tamanho-padrão com qualidade. Depois, impressoras de jato de tinta baratas o suficiente para serem um eletrodoméstico comum e capazes de imprimir uma foto bem. E, terceiro: internet com velocidade o bastante para enviar uma foto com boa resolução. São os três fatores que levaram à primeira geração de fotógrafos digitais.


Eles descobriram, é claro, que a impressora até é barata e imprime bem, o preço do cartucho é que são elas. Entre o primeiro boom de vendas de câmeras digitais e as primeiras lojas que imprimiam – que revelavam digital – passaram-se alguns meses. Em 2003, eram raras. Hoje, é difícil encontrar uma que não o faça. Uma nova geração de câmeras de 3 megapixels invadiu o mercado consumidor.


Neste meio tempo, a AgfaPhoto pediu concordata, a Kodak parou de fabricar papel fotográfico para ampliação de preto-e-branco, a Nikon anunciou que encerrará a fabricação de câmeras de película com exceção de dois modelos de ponta, profissionais. São cinco anos. Em cinco anos, o mundo da fotografia foi lançado numa montanha-russa violenta.


Então vai cá uma pergunta: por quanto tempo haverá lojas de CD por aí?


Não é uma pergunta de todo honesta. Vá a um ambiente de grande concentração popular – o carnaval carioca, por exemplo – e o detalhe salta aos olhos. Quem ainda usa câmeras fotográficas analógicas são os mais pobres. É curioso, por um lado, porque uma câmera digital se compra pelo preço de uma câmera analógica mais um punhado de rolos de filme. Depois, filme não se gasta mais. E, no entanto, a câmera digital pressupõe a existência de um computador. Embora a maioria das lojas de impressão aceitem o cartão de memória, sem um computador em casa você dificilmente entende o mundo digital o suficiente para saber disso.


É isso que chamam exclusão digital: sem computador, o mais pobre paga mais caro por uma experiência pior.


Ainda assim, os mais pobres em geral compram CDs piratas. O principal consumidor do CD legal no Brasil, caro como é, é a classe média. A mesma turma que, entre 2001 e 2004, comprou sua primeira câmera digital. É até um pouco pior. Fotografia quem tira, em geral, é o pai da família. Música gravada quem consome mais são os filhos adolescentes. Pai e mãe em geral já têm mais ou menos o que gostam e resistem a novidades. E o problema de um adolescente é que ele é nativo digital.


No entanto, as gravadoras brasileiras ainda resistem a vender arquivos de MP3 por 99 centavos cada um- busque um site para a compra da música que você quiser com facilidade e não encontrará. Problema de quem vive de vender. Os adolescentes já sabem onde encontrar e assim vão perdendo o hábito de pagar pela música.


E esse é o ponto em que entram as câmeras digitais: no paralelo com os players de MP3. É caro um iPod. Mas isso muda. Muda porque vão fazer players na China e celulares tocarão MP3, quase todos. A Apple é capaz de perder o mercado brasileiro – ela é craque nisso, mas também não parece se preocupar muito. A música de todos será digital porque é mais simples, mais prático. E porque, fundamentalmente, sair para dar uma corrida com um aparelhinho que possui toda a música que você tem é uma experiência única.


Assim como a mínima câmera digital anda conosco e dá liberdade para registrar um flagrante que perderíamos noutros tempos, o player de MP3 que anda conosco traz à ponta dos dedos aquela música que lembramos agora agora. Os CDs vão acabar. Como os rolos de filme.’


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 6 de março de 2006


VOZ DO BRASIL
Eugênio Bucci


‘A Voz do Brasil’ sem ditadura


‘‘A Voz do Brasil’ é uma necessidade, mas não pode ser imposta como ditadura’. Essa declaração, publicada há poucos dias pela revista ‘IstoÉ’, passou sem despertar maior interesse. Deveria ter despertado. O seu autor é ninguém menos que o presidente da Câmara dos Deputados, Aldo Rebelo. Segundo informou a ‘IstoÉ’, Aldo pretende apoiar a tramitação de um projeto que tornará flexível o horário de transmissão do programa de rádio dos três Poderes da República. Como qualquer alteração nessa matéria só virá se tiver a aprovação do Legislativo federal, as palavras do presidente da Câmara podem ser recebidas como um sinal verde sem precedentes.


Já era tempo. A comunicação oficial do Estado brasileiro precisa mesmo se livrar do que lhe resta de autoritarismo.


Como todos sabem e ocasionalmente ouvem, a lei manda que a ‘Voz’ seja transmitida, todos os dias, às 19h, por todas as emissoras de rádio. Estas ficam reféns da imposição, não importa o que esteja acontecendo nas cidades em que estão sediadas. É verdade que algumas, graças a medidas liminares, conseguiram autorização para transmitir o programa em horários alternativos, ou seja, conquistaram uma flexibilidade só para si. Isso, contudo, não é solução de longo prazo; apenas gera mais confusão.


Os absurdos causados pela inflexibilidade são inúmeros. Cito apenas mais um. Quando em Brasília os relógios marcam 19h, os do Acre dão 17h, e é nesse horário que a ‘Voz’ tem de ir ao ar na região. Ora, se o programa ainda cumpre algum papel, seria justamente o de levar informações sobre os Poderes da República a comunidades mais distantes, que às vezes só dispõem do rádio para saber o que se passa em Brasília. Ocorre que, às 17h, os adultos dificilmente podem ouvir o rádio e, portanto, continuarão sem saber de nada.


A flexibilidade legal seria uma medida de bom senso para o Acre, para São Paulo, para o país inteiro.


Trabalhando desde janeiro de 2003 no comando da Radiobrás, empresa encarregada de produzir os 25 minutos diários do Poder Executivo nesse programa de 60 minutos, jamais tive conhecimento de uma única justificativa racional para a manutenção do atual regime.


‘A Voz do Brasil’ foi concebida e implantada entre os anos 30 e 40, tempos de ditadura, quando o Brasil era uma nação integrada pelas ondas do rádio e quando o horário nobre do rádio estava na faixa das 19h. Hoje, somos uma democracia, o país é integrado pela TV e o horário nobre do rádio se deslocou para as 6h. O Brasil que desejou e inventou a ‘Voz do Brasil’ compulsória é um Brasil que não existe mais.


Estamos diante de uma daquelas mudanças com as quais todos saem ganhando. Os ouvintes ganharão, isso não se discute. As emissoras também ganharão, pois terão margens mais amplas para administrar sua programação noturna. Mas não serão esses os maiores beneficiados. É um engano supor que a flexibilidade seja uma demanda que só interessa às grandes cidades ou uma bandeira classista das emissoras privadas: ela é uma exigência de todos os que tentam construir uma comunicação estatal mais contemporânea, mais dialogada, mais saudável.


A maior beneficiada com a adoção da flexibilidade será a imagem dos Poderes da República.


É fácil entender o porquê. A tradição da inflexibilidade autoritária corroeu gravemente, ao longo de décadas, a credibilidade do programa. Com isso, a própria imagem dos Poderes se deixou arranhar. ‘A Voz do Brasil’ virou sinônimo de propaganda chapa-branca, a serviço de instituições envelhecidas, insensíveis e distantes. Modificar apenas a fórmula editorial do programa não adianta.


No cumprimento de seu dever, a atual gestão da Radiobrás, ciente de que ‘A Voz do Brasil’ não pertence às pessoas dos governantes ou a seus partidos, eliminou o proselitismo político que ela carregava, transformando os 25 minutos do Executivo num noticiário objetivo sobre o governo federal, com foco no cidadão, sem ares ufano-promocionais.


O formato mudou, mas a imagem do programa, não. A ‘Voz’ continua sendo vista como uma forma de anticomunicação que mais irrita do que ajuda a maioria dos ouvintes. A carga impositiva com que ela se faz veicular é seu pecado mortal.


O fim do horário obrigatório será, se não um avanço, um passo reparador para começar a corrigir esse anacronismo. A obrigatoriedade é desnecessária e indesejável. Os Poderes da República já dispõem de serviços de comunicação próprios, com sítios na internet, além de canais de rádio e TV. Por meio de caminhos múltiplos e variados, a notícia de interesse público alcança a maior parte da população. Para os bolsões de desinformação que subsistem em algumas áreas do país, ‘A Voz do Brasil’ pode ser útil, mas, mesmo nesses casos, ela funcionaria melhor se seu horário fosse flexível. E, como propõe Aldo Rebelo, sem gosto de ditadura.


Eugênio Bucci, jornalista, é presidente da Radiobrás. É autor de ‘Sobre Ética e Imprensa’ (Companhia das Letras).’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Esticar a corda


‘Franklin Martins, longe do ‘Jornal Nacional’, ontem na Globo News:


– Tasso volta no domingo, volta no outro domingo… Assim acaba com a matinê vazia. O PSDB precisa urgentemente de solução e está evidente que não vem, porque Alckmin estica de um lado, Serra de outro.


Mais à frente:


– Se fosse hoje, dava Serra. Agora, quem diz que Alckmin vai aceitar?… Ele está se sentindo atropelado. Quando era para enfrentar Lula em péssimas condições, era ele.


Do ‘JN’, dia após dia com as declarações sorridentes de um e outro, às manchetes do Google Notícias, também dia após dia, a cobertura eleitoral não tem mais outro assunto.


Nos blogs e nas análises on-line, o mineiro Aécio Neves já é tratado abertamente como alternativa aos dois paulistas.


Na enquete do blog de Jorge Moreno, no Globo Online, feita ao longo da semana, o resultado foi Alckmin à frente e Serra num distante terceiro. Em segundo lugar, Aécio.


A eventual candidatura surgiu no blog e foi negada por Aécio, mas sobreviveu nos internautas, insistentemente.


De outro lado, ontem na Folha Online, Kennedy Alencar dizia que ‘a possibilidade de Aécio voltar à disputa é, por ora, uma ameaça para tentar pôr limites à guerra de bastidores’. Mas pode ir muito além:


– Se Alckmin esticar a corda a ponto de fechar o caminho, Serra pode vetá-lo em benefício de Aécio -contam tucanos próximos ao prefeito.


Enquanto voam as penas de domingo a domingo, o blog de Josias de Souza noticia que o PT também racha:


– No memorando reservado, o partido defende mudanças imediatas na economia. O texto prega abertamente alterações nas políticas monetária e fiscal, em contraposição ao ministro petista Palocci.


Mais à frente:


– A redação final coube a Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula, que registrou a tese de que [este é] ‘o primeiro ano do segundo mandato’.


Logo pró-Lula na blogosfera petista


Depois de um ano quase sem voz, a militância petista renasce na rede. A blogosfera lulista cresceu e, no final da semana, virou tema de um bloco inteiro do ‘SBT Brasil’, de Ana Paula Padrão, e outras coberturas.


São blogs sem fim, mas alguns começam a se destacar no amontoado de endereços. Em sua quase totalidade, assumem o apoio à reeleição de Lula, com logos que se espalham de uma página a outra, mas com conteúdos os mais diversificados.


Os blogs coletivos, como Amigos do Presidente Lula, Grupo Beatrice e Blog da Reeleição, partem da cobertura dos sites de grande mídia -em especial, registre-se, da Folha Online- para explorar as confirmações sobre Furnas ou as vantagens fiscais da Daslu em São Paulo. Ou para criticar a cobertura. Freqüentam tais coletivos personagens conhecidos das seções de leitores e caixas postais, como Caia Fittipaldi.


Outros blogs, como o Bué de Bocas de Nelson R. Perez -o mais articulado- e o Blog da Kika, de Kika Martins, concentram-se em defender Lula por conta da queda na desigualdade social ou alguma outra ‘boa notícia’, de caráter econômico ou administrativo.


PENAS VOANDO


Logo do site pró-Serra


A blogosfera tucana, a mais vibrante até o início do ano, anda em crise. O coletivo E-Agora viu nos últimos dias a debandada de seus três principais colaboradores, Eduardo Graeff, depois Antonio Fernandes e, por fim, no sábado, Augusto de Franco.


E agora é o Primeira Leitura, de Reinaldo Azevedo, que se deixa levar pelo cisma tucano -a ponto de postar mensagens como esta, ontem:


– Dona Lila decide quem seria o candidato de Covas, como se conversasse com ele. Em respeito à memória do governador, abstenho-me de comentar esse particular… Ademais, é mulher de Mario, não sua herdeira política para períodos eleitorais.


Para vislumbrar algum consenso, só mesmo nos sites de campanha de Geraldo Alckmin ou José Serra, caso do Movimento Serra Presidente.’


TV DIGITAL
Daniel Castro


Ministério Público investiga a TV digital


‘O Ministério Público Federal (MPF) instaurou procedimento para averiguar eventuais irregularidades na adoção da TV digital no Brasil. Procedimento é uma espécie de investigação preliminar, quando há apenas indícios de desrespeito às leis. Pode se transformar em um inquérito civil e, mais tarde, em ação judicial.


O procedimento foi aberto há duas semanas por Ela Wiecko, chefe da Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão. Sua primeira providência foi requisitar ao governo cópias de relatórios sobre TV digital. Wiecko também pretende se reunir com os quatro ministros envolvidos na decisão.


‘O procedimento visa a garantir o interesse público no uso do espectro e verificar a legalidade dos atos do governo’, diz o procurador da República Sérgio Suiama.


Assim, o MPF poderá causar problemas ao governo caso se decida dar às redes um canal digital com 6 MHz, como elas querem, e se essa freqüência não for usada plenamente. Com 6 MHz, as TVs podem transmitir em alta definição ou se dividirem em quatro canais. Se as TVs não ocuparem todos os 6 MHz, o MPF poderá exigir que o espectro não ocupado seja destinado a outro operador.


No MPF, discute-se também se as TVs poderão usar 6 MHz para irradiar duas ou mais programações numa mesma cidade. Isso infringiria a lei, pois as redes estariam explorando várias concessões, quando só têm uma.


OUTRO CANAL


Redonda 1 Depois do ‘Joga 10’, que revelou um novo meio-campista, a Band e a Nike lançam nesta semana um novo ‘reality show’, o ‘Joga Bonito’. Bancado pela empresa de materiais esportivos, o programa estréia na segunda quinzena de abril e dará ao vencedor um estágio de seis meses num clube de futebol.


Redonda 2 Do ‘Joga Bonito’ participarão garotos de 15 e 16 anos. Eles serão avaliados em cinco ‘quesitos’: honra, alegria, habilidade, garra e espírito de equipe. Poderão atuar como atacantes, centroavantes ou meias.


Popularidade 1 A audiência nominal da minissérie ‘JK’ despencou desde sua estréia. Na primeira semana, quando foi ao ar logo após ‘Belíssima’, a média foi de 38 pontos. Na segunda, já com ‘Big Brother’ a antecedendo, caiu para 29. Nas últimas semanas, tem oscilado entre 23 e 25 pontos.


Popularidade 2 A rigor, a audiência de ‘JK’ não despencou como a avaliação de um presidente. A minissérie sofreu mesmo foi com o horário tardio. Sua média mensal, em janeiro, foi de 31 pontos, com 60% dos televisores ligados no horário. Em fevereiro, a média foi de 24 pontos, mas os aparelhos ligados eram 55%.


Popularidade 3 Ou seja, a queda da minissérie da Globo foi quase proporcional à redução de televisores ligados.’


DIREITO AUTORAL
Luiz Fernando Vianna


Site amplia discussão sobre liberação de direito autoral


‘Com a entrada hoje no ar do site Overmundo (www.overmundo.com.br), projeto encabeçado pelo antropólogo Hermano Vianna, o advogado Ronaldo Lemos dará mais um passo na sua batalha para mudar a economia da cultura no Brasil e no mundo.


Parece uma tarefa pesada demais para um mineiro de Araguari de 28 anos, mas ele já está na luta há algum tempo. Fez mestrado em Harvard (EUA) sobre o tema, doutorado na USP, é o único latino-americano entre os nove integrantes da cúpula do Creative Commons -o conjunto de licenças que permite a um artista liberar parte de seus direitos autorais-, está iniciando uma pesquisa internacional chamada Open Business e é um dos responsáveis pelo Overmundo, que professa os ideais de mudança.


‘Estamos à beira de uma grande transformação, uma explosão. E a hora é a agora. Há uma janela de oportunidade que vai ser fechada a qualquer momento’, empolga-se e angustia-se Lemos.


Segundo ele, o fechamento será feito pelos grandes conglomerados de entretenimento, que têm pesquisado formas de bloquear os códigos de produtos (CDs, DVDs) para impedir o repasse de músicas, filmes etc. É o que as empresas chamam de combate à pirataria, e Lemos contesta.


‘Esse discurso da pirataria precisa ser combatido, porque tem uma carga emocional forte, mas obscurece o debate. Um moleque baixando música em casa, uma pessoa vendendo CD na esquina… Existem diversas razões sociais. Esse discurso é produzido pelo departamento de comércio norte-americano e não tem números confiáveis’, diz Lemos.


É em busca de números que ele está partindo com a Open Business, pesquisa que será feita em vários países durante um ano. No Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getúlio Vargas, no Rio, Lemos coordenará o levantamento no Brasil, em dois países latino-americanos (Chile e México, provavelmente) e no país para onde embarca no dia 12 cheio de curiosidade: a Nigéria.


‘Os EUA produzem 600 filmes por ano. A Índia, 800. A Nigéria, 1.200. Quantas salas de cinema há no país? Nenhuma. É direto para o mercado doméstico. Os filmes são vendidos em VCD, por camelôs, a US$ 3 cada um. É uma economia que emprega mais de 8.000 pessoas e, segundo eles, já movimenta US$ 3 bilhões por ano. Dos modelos alternativos e bem-sucedidos a Hollywood, o nigeriano é o único exportável’, acredita Lemos, que fará no Brasil um seminário sobre o ‘cinema-povo’ (expressão sua) nigeriano em maio.


No Brasil, o foco será o tecnobrega. É um fenômeno que movimenta milhões de reais, sem que os CDs cheguem às lojas.


‘Nas festas de Belém do Pará, os CDs são gravados em tempo real e vendidos na saída. O cara topa pagar R$ 5 porque se sente parte do evento. O Pixies [banda americana] fez isso, e foi um alarde. Mal sabiam que o tecnobrega já fazia isso há anos’, diz Lemos.


Ele acredita que a pesquisa provará como é possível ganhar dinheiro através de um ‘modelo aberto’. O reggae no Maranhão, o funk no Rio e o forró em todo o país também estão criando, segundo Lemos, indústrias e mercados alternativos, com CDs e DVDs de boa qualidade.


‘As periferias estão se apropriando da tecnologia para criar modelos próprios de negócio. E isso está se tornando gigante. Para os países em desenvolvimento, o modelo ‘open business’ é o único viável’, acredita ele, ressaltando que os países ricos têm combatido fortemente essas experiências para não perder sua hegemonia.


Já existem 53 milhões de licenças Creative Commons em 50 países. Ainda não há um ranking, mas o Brasil estaria em terceiro ou quarto lugar. Gil e novos artistas como Mombojó e BNegão são alguns exemplos dos que aderiram. É possível escolher se o artista libera o uso da obra para fins comerciais e se ela pode ser alterada.


‘O Creative Commons diz para o artista: assim como você tem direito a dizer não a todos os usos de sua obra, você tem direito de dizer sim para alguns. Quem usa já percebeu que não se perde dinheiro. Ao contrário’, afirma Lemos, que será o anfitrião do encontro da cúpula do Creative Commons no Brasil, em junho.’


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