Leia abaixo a seleção de terça-feira para a seção Entre Aspas. ************ Folha de S. Paulo Terça-feira, 17 de agosto de 2010 ELEIÇÕES 2010 Dilma e Serra disputam na TV ‘continuidade’ de Lula Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) estreiam hoje na propaganda eleitoral gratuita tentando se apresentar como os mais preparados para continuar as conquistas de Luiz Inácio Lula da Silva, cujo governo tem 77% de aprovação, segundo o Datafolha. Num antídoto à associação entre Lula e a petista, que será mostrada na propaganda do PT, o tucano não fará ataques ao presidente -que é citado em seu jingle-, e dirá que é a ‘certeza’, e a adversária, uma ‘dúvida’. Dilma usará o primeiro programa para mostrar sua biografia e, logo de cara, tratará de sua prisão durante a ditadura militar, tema que pode ser usado contra ela pelos rivais. Serra também aposta num início ameno, mas já tem pronto comercial em que ataca a petista, lançando dúvidas sobre sua capacidade de governar. Luiz Guilherme Piva Com a propaganda eleitoral, imagem substitui a política Com o início da propaganda na TV e no rádio, os candidatos entram no que tende a ser a reta final da campanha. Embora seja relativamente longa (de 17 de agosto a 30 de setembro), nessa reta não costuma haver ultrapassagem na disputa pela primeira posição, a julgar pelas eleições presidenciais anteriores. Por isso, a vantagem com que Dilma chega à última curva -8 pontos, no último Datafolha, a apenas 3 pontos da vitória em primeiro turno- é muito importante. Para ela, que vem crescendo à medida que se torna conhecida e, mais do que isso, identificada como candidata de Lula, a propaganda eleitoral permitirá apresentar-se à fatia do eleitorado que ainda não a conhece. Depoimentos e cenas em que ela e Lula surgirão juntos, massivamente, aos olhos e ouvidos do público poderão arrebanhar os votos de que ela precisa para vencer no primeiro turno. Para Serra, que largou na frente, segurou a ponta muito tempo e agora está numa situação de risco, atrás de Dilma, a propaganda eleitoral é a última chance para recuperar velocidade e ao menos forçar o segundo turno. Seus programas deverão tentar confrontar seu nome com o de Dilma, evitando o discurso relativo a Lula. O tema da experiência governativa deve ser preponderante, explícita ou liminarmente. O período de propaganda eleitoral pode ser visto como uma fase pós-política da campanha. O jogo real de alianças, composições, estruturações internas e posicionamentos segundo posições ideológicas ou partidárias -a política propriamente dita-, que foi o combustível até aqui, cede quase todo o espaço à guerrilha virtual de imagens, tanto visuais quanto verbais (daí a importância de clipes e jingles). Dadas a popularidade de Lula e a forma como ele deverá se fundir à imagem de Dilma, parece mais factível que Dilma seja beneficiada pela propaganda eleitoral. A chance de Serra desmontar a imagem de Dilma era bem maior antes do período que se abre agora, quando ela era menos conhecida e menos identificada com Lula. A propaganda eleitoral também abriga a tentação de fazer uso de denúncias e escândalos, cuja repercussão é imensa por rádio e TV. Mas trata-se de recurso de alto risco, por poder se voltar contra quem o usa. Mesmo assim, nem sempre os candidatos têm resistido a usá-lo. LUIZ GUILHERME PIVA, economista e cientista político, é diretor da LCA Consultores e autor de ‘A Miséria da Economia e da Política’ (Manole). Ranier Bragon e Fernanda Odilla TV nunca mudou eleição presidencial A campanha na TV tem histórico de relevantes movimentações na intenção de voto dos candidatos à Presidência, mas até hoje não teve impacto suficiente para tirar a vitória daquele que iniciou o período na dianteira. Nas cinco eleições presidenciais após a redemocratização -de 1989 a 2006-, saiu vitorioso o candidato que liderava as pesquisas imediatamente antes da entrada da campanha na TV. A análise das planilhas do Datafolha mostra que se encontravam nessa situação Fernando Collor (PRN) em 1989, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1994 e 1998, e Lula (PT) em 2002 e 2006 -em 94, FHC dividia a ponta com Lula, em empate técnico, mas em ascensão. Apesar disso, a propaganda televisiva coincidiu com períodos de movimentações que em dois casos levaram um cenário de vitória em primeiro turno para o segundo. Em 1989, Collor abriu o período da propaganda com sete pontos de vantagem sobre todos os principais oponentes somados. No final, havia caído de 40% para 26% na pesquisa. Embolado na terceira posição, Lula praticamente dobrou seu índice e, por margem estreitíssima, derrotou Leonel Brizola (PDT) e foi ao segundo turno. Nas vitórias de 1994 e 1998, ambas no primeiro turno, FHC tinha mais minutos na programação eleitoral e assistiu no período televisivo a uma ampliação da vantagem em relação a Lula. Já em 2002, Lula iniciou a TV com Ciro Gomes (PPS) como seu principal oponente. Entretanto, Ciro derreteu de 27% para 11% das intenções de voto, desempenho em parte atribuído à exploração na TV de frases polêmicas e da discussão com um eleitor. José Serra (PSDB), dono da maior fatia eletrônica, acabou indo ao segundo turno. ‘O horário eleitoral sepultou as chances de Ciro por conta das bobagens que ele falou’, disse o cientista político Marcus Figueiredo, professor da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), Autor de estudos sobre o tema, ele diz que a propaganda na TV constrói a imagem dos candidatos e pauta debates, mas que está longe de ser a única variável para que o eleitor defina seu voto. Na disputa de Lula pela reeleição, em 2006, o petista vencia o conjunto dos principais oponentes por dez pontos no início da propaganda. Em meio à repercussão do episódio em que petistas foram presos tentando comprar um dossiê antitucano e após faltar ao último debate, na TV Globo, teve que disputar o segundo turno com Geraldo Alckmin (PSDB). As planilhas do Datafolha mostram não haver padrão sobre o momento da campanha na TV em que as intenções de voto se estabilizam. OUTRAS ELEIÇÕES Houve mudanças, no entanto, no resultado final de outras eleições. Um dos exemplos mais claros é o da eleição de Gilberto Kassab (DEM) à Prefeitura de São Paulo, em 2008. Em 22 de agosto, na semana de início da propaganda na TV, ele tinha 14%, contra 41% de Marta Suplicy (PT) e 24% de Geraldo Alckmin (PSDB). Eliane Cantanhêde Reta final A esperança, inclusive a dos tucanos, é a última que morre. Mas Serra chega em franca desvantagem ao horário eleitoral gratuito no rádio e na TV, que começa hoje, e ao debate Folha-UOL com os presidenciáveis, amanhã. Dilma tem 8 pontos à frente, segundo o Datafolha, atingiu condições de ganhar no primeiro turno, segundo o Ibope, e tem o grande trunfo dos programas políticos: Lula. Ou seja: Dilma chega ao horário gratuito em ascensão, e a tendência é que aprofunde a vantagem, e não que Serra reverta o quadro. Ela tem Lula, Serra não tem nada desse calibre para enfrentá-lo. Aliás, muito menos se quiserem trocar a forte marca ‘Serra’ por ‘Zé’. Quem é ‘Zé’? Um ‘Zé ninguém’. Serra teve boas oportunidades de consolidar suas vantagens comparativas na fase política da campanha (a de construção de apoios, palanques e discurso), mas jogou pela janela, enquanto Dilma colou a imagem na de Lula, capitalizou o bom momento do país e foi transformando defeitos em qualidades. O resultado é que Serra entra na reta final sem ter para onde correr, e Dilma não apenas mantém a distância avassaladora no Nordeste como está avançando nas capitais e em todos os redutos naturais do adversário -inclusive no Sudeste e até em São Paulo. Virou ‘onda’. A esta altura, a oposição luta não para ganhar, mas para garantir segundo turno. Se depender só dos programas, é improvável. Mas há outros fatores em jogo, e um deles, como lembra Carlos Augusto Montenegro, do Ibope, é a exigência de dois documentos para votar -o título de eleitor mais um outro com foto. Isso pode gerar alguma quebra de voto para Dilma no Nordeste e entre a população de baixa renda. Se ela disparar, é bobagem. Mas, se a margem para vencer no primeiro turno for estreita, qualquer tremelique pode fazer diferença. O PT torce para a campanha de Serra se agarrar a detalhes assim. Significa que está por um fio. TODA MÍDIA Nelson de Sá Mercado & Dilma Sob o título, entre aspas, ‘Mercado está com Dilma’, o ‘Valor’ publicou que o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, hoje na Quest Investimentos, avalia que 80% dos agentes financeiros estão com a petista e 20% com Serra. E questiona, ‘o que precisamos é de maior rigor fiscal, o que Dilma não tem’. Já o ex-ministro Mailson da Nóbrega, da Tendências, disse em evento de atacadistas que este ano a ‘tendência é votar pela continuidade’ devido à ‘expansão vigorosa da economia’ construída em governos anteriores. E questiona Lula, que ‘teve uma contribuição importante, que foi não ter feito nada’. Ao Radar, da ‘Veja’, Roberto Jefferson ‘nega qualquer proximidade’ com Serra. ‘Estive uma vez com ele na casa do Alckmin, que é meu irmão. O Geraldo pediu então para eu apoiá-lo e eu apoiei’, disse. Belo Monte O ‘New York Times’ publicou longa reportagem enviada de Altamira, sob o título ‘Contornando resistência, Brasil se prepara para construir hidrelétrica’. Destaca o caso de uma mulher que já havia se mudado devido à construção de uma usina há 25 anos e terá de se mudar de novo, junto com ‘milhares’. Usinas nucleares A Dow Jones despachou e o ‘Wall Street Journal’ postou que os ‘Planos do Brasil para energia nuclear podem enfrentar problemas de financiamento’. São previstas ao menos cinco usinas nas próximas duas décadas e, segundo analistas financeiros, podem surgir ‘muitos obstáculos’ aos recursos. ‘O NOVO BRASIL’ Riordan Roett, diretor de Estudos Latino-Americanos na universidade Johns Hopkins, de Washington, lançou ‘The New Brazil: From Backwater to Bric’, de água parada a Bric. O livro de 175 páginas, segundo o site do instituto Brookings, ‘conta a história do maior país da América do Sul, que evoluiu de uma remota colônia portuguesa a líder regional, representante respeitado do mundo em desenvolvimento e, cada vez mais, um parceiro importante para os EUA e a Europa’. Fechando o texto, ‘no momento em que se prepara para eleger novo presidente, ainda há muito a fazer para consolidar e ampliar seu papel. Mas, como ator no palco global, o Brasil chegou para ficar’. ‘BRASIL EM ALTA’ O ex-correspondente do ‘NYT’ Larry Rohter, célebre por ter escrito que o ‘hábito de beber’ de Lula preocupava o Brasil, hoje repórter de cultura, lança no fim deste mês ‘Brazil on the Rise: The Story of a Country Transformed’, a história de um país transformado O ex-correspondente do ‘NYT’ Larry Rohter, célebre por ter escrito que o ‘hábito de beber’ de Lula preocupava o Brasil, hoje repórter de cultura, lança no fim deste mês ‘Brazil on the Rise: The Story of a Country Transformed’, a história de um país transformado A CHINA SOBE O ‘WSJ’ deu manchete de papel para ‘Produção chinesa passa japonesa’. O país está ‘a caminho de se tornar a segunda maior economia do mundo’ neste ano. Porém os ‘EUA ainda estão muito à frente’, destacou o jornal. A longa reportagem registra que, na lista de produção, ‘a economia emergente seguinte é o Brasil, em oitavo’. O ‘NYT’ deu na manchete on-line, não no papel, ‘China passa Japão como segunda maior economia’. Descreve como ‘a mais impressionante amostra até aqui de que a ascensão da China é para valer -e o resto do mundo terá de se haver com uma nova superpotência econômica’. O SEGUNDO MERGULHO Roubini vê risco nos EUA, no Japão e na zona do euro O ‘Senhor Apocalipse’, Nouriel Roubini, twitou ontem e foi parar na manchete do Huffington Post, com os enunciados ‘Cresce o risco de um segundo mergulho’ e ‘Economista que previu a primeira crise vê 40% de chance de outra’. E ele ‘não está sozinho’, afirma o site, citando que economistas como David Rosenberg veem quadro pior, ‘mais de 50%’. INTERNET Jornal do grupo NY Times passa a cobrar O ‘Telegram and Gazette’, do Estado de Massachusetts, começou a adotar modelo de assinatura para as reportagens em seu site. Pelo modelo, os leitores terão acesso a dez artigos grátis por mês e, passando desse limite, terão que pagar. O ‘New York Times’ vai cobrar pelo conteúdo na web em 2011. TELEVISÃO Audrey Furlaneto Record infla preço de cotas de patrocínio para ‘A Fazenda’ A tabela de preços de patrocínio de ‘A Fazenda 3’, que estreia em setembro, já chegou ao mercado publicitário de TV -e inflada, segundo agências de publicidade ouvidas pela coluna. O reality show da Record pede R$ 41,443 milhões por uma cota nacional de patrocínio (são cinco ao todo), mas acaba vendendo por menos de R$ 10 milhões cada uma. Inflar a tabela (com preços que chegam a ser até mais altos do que os da Globo) é uma maneira de tentar valorizar a imagem da emissora. No meio publicitário, trata-se da conhecida ‘política de descontos’ da Record: segundo agências, o valor de tabela cai mais de 90%. A Record diz que não há percentuais de 90% em negociação, mas não nega os descontos, ‘praticados por todas as empresas’. Diz que ‘os percentuais dependem da política de mercado’. Os preços de ‘A Fazenda 3’, que marcou nove pontos de média na última edição, são mais inflados se comparados ao principal concorrente entre os realities: uma cota de patrocínio do último ‘Big Brother Brasil’ (que fez média de 31 pontos no Ibope) saiu por R$ 13,5 milhões. PÃO E CIRCO O ator Emílio Orciollo Netto será o artista de circo Neca Tenório em ‘Araguaia’, próxima novela das 18h, com estreia prevista para setembro na Rede Globo TV em tudo A Net vai desenvolver um aplicativo para que se possa assistir aos canais da provedora usando meios como iPad, iPhone ou iPod touch. A partir da rede wi-fi doméstica, o cliente poderá transformar seu iPhone, por exemplo, num terminal independente. Silvio feliz O ‘Programa Silvio Santos’, no SBT, segue crescendo aos domingos: no último, conseguiu média de 12 pontos de audiência com picos de 17 pontos. Silvio livre O apresentador, aliás, segue a linha sensual. Disse para a cantora Danni Carlos, ex-’A Fazenda’, no palco do programa anteontem: ‘Entrei no camarim, e ela estava tomando banho. Pelada! Fiquei duas horas lá!’. Fatia do bolo Cada canal divide os louros do domingo como pode: a Rede TV! comemora 45 minutos não consecutivos em segundo lugar com média de 9,8 pontos do ‘Pânico’; em outra faixa horária, o SBT se orgulha da liderança do ‘Domingo Legal’, por 35 minutos, com nove pontos. A cereja A Globo, no entanto, é a dona dos melhores índices do domingo. O ‘Domingão do Faustão’ fez 21 pontos das 18h até o ‘Fantástico’, que obteve 20 pontos de média das 20h45 até as 23h14. Torcicolo A Record exibiu, no Rio, programa da Igreja Universal em que as imagens estavam invertidas. E não foi erro. É que o pastor abençoava vidas que estão de ponta-cabeça. ************ O Estado de S. Paulo Terça-feira, 17 de agosto de 2010 ELEIÇÕES 2010 Entrevistas à TV Globo atingem 1/4 do eleitorado Segundo o Ibope, as entrevistas de Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PV) e José Serra (PSDB) ao Jornal Nacional, nos dias 9, 10 e 11 de agosto, foram acompanhadas por 26%, 22% e 24% dos eleitores, respectivamente. O grau de exposição foi bem maior do que o obtido pelos candidatos à Presidência no debate da TV Bandeirantes, promovido na semana anterior e visto por 13% do eleitorado, de acordo com a pesquisa. O Ibope perguntou aos entrevistados se, pelo que sabiam ou tinham ouvido falar, o desempenho dos três candidatos havia sido ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo. No caso de Dilma, 18% consideraram o desempenho bom e 5%, ótimo. Para 3%, a performance foi ruim ou péssima, e 62% não souberam responder à pergunta. Não houve diferenças significativas de avaliação nos diversos segmentos de escolaridade e renda. Em relação a Serra, 16% consideraram o desempenho bom e 4%, ótimo. Para outros 4%, o candidato foi ruim ou péssimo na entrevista. Confronto. Entre os que viram ou ouviram falar do debate promovido pela TV Bandeirantes, 10% afirmaram que a ex-ministra da Casa Civil se saiu melhor. Outros 8% responderam que o ex-governador de São Paulo teve a melhor performance. Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, foi considerado o melhor no debate por apenas 1% dos eleitores. Gabriel Manzano Para políticos e marqueteiros, campanha agora é a ‘que vale’ Durante 39 dias ‘úteis’, de hoje a 30 de setembro, acontece, no dizer de políticos e marqueteiros, ‘a campanha eleitoral que vale’ – a da televisão. Nas contas do Programa Nacional de Amostra Domiciliar (PNAD) de 2008, ela pode chegar a 54,7 milhões de domicílios – os 89% do total do País onde há uma TV instalada. Como esses programas conseguem manter ligados, em média, cerca de 50% de aparelhos, pode-se dizer que as mensagens dos candidatos podem entrar, todo dia, em algo como 27 milhões de casas. ‘Podem’ porque em 8,2 milhões deles também há TV paga. Essa força toda vem de longe – nos anos 70, a TV podia não ter o mesmo peso de hoje, mas já era decisiva. Por isso ninguém se surpreendeu quando, em 1976, a ditadura baixou a lei 6.339, dita Lei Falcão – que resumia a propaganda a uma rápida mensagem com nome do candidato, seu partido, o número de registro e uma pequena foto. A ideia dos quartéis, claro, era impedir a circulação de ideias perigosas. Sorte de Gilberto Kassab (DEM)que isso seja coisa do passado. Trinta anos depois, em plena democracia, ele saltou de 14% nas pesquisas, no início da campanha para a Prefeitura de São Paulo, em 2008, para a vitória no primeiro turno contra Marta Suplicy e Geraldo Alckmin, chegando a 60,7% dos votos contra Marta no segundo. A força da TV deixou marcas profundas também em 1989. Em três meses o desconhecido Fernando Collor se transformou em celebridade nacional, bateu nas urnas mitos como Leonel Brizola e Ulysses Guimarães, e à custa de uma denúncia no programa eleitoral derrubou o rival Luiz Inácio Lula da Silva. Collor apresentou ao País Míriam Cordeiro, que revelou ao País a existência de uma filha do petista com ela. Outra virada histórica foi a de Mário Covas, em 1998. Saindo atrás de Paulo Maluf, ele virou a disputa em um único debate, nas vésperas da eleição, levando o rival às cordas numa discussã0 sobre ética na política. Outro exemplo célebre foi o de Enéas, do Prona. Com apenas um minuto de tempo, dizia uma frase rápida e bradava ‘Meu nome é Enéas!’, em 1994. Ficou em terceiro na briga pela Presidência, atrás de FHC e Lula, com 4,7 milhões de votos. Um estudioso do assunto, o advogado Everson Tobaruela, divide-o em quatro fases marcantes. Primeiro, ‘um tempo de ampla liberdade’, antes de 1964. Depois, o regime militar, que controlou tudo por 21 anos. O terceiro momento foi a volta da liberdade, com a Constituição de 88 e a Lei 9.504, de 1997. E a quarta etapa, com a Lei 11.300, de 2006. Segundo ele, ‘um período castrense civil’ marcado por ‘avanços indevidos da Justiça eleitoral’, que ‘impede na prática a divulgação das ideias partidárias’. Felipe Recondo Emissoras de TV e rádio terão isenção de R$ 851 milhões A propaganda eleitoral gratuita custará aos cofres públicos aproximadamente R$ 851 milhões. O valor equivale à isenção dada pela Receita Federal às emissoras de rádio e de TV como uma forma de compensação pelo tempo reservado nas grades de programação para a veiculação da propaganda dos partidos e dos candidatos neste ano. Na última campanha presidencial, em 2006, a Receita deixou de cobrar das emissoras R$ 228,6 milhões. No ano passado, quando ainda não havia propaganda eleitoral, apenas publicidade partidária, a isenção passou de R$ 669 milhões. O cálculo desse valor leva em consideração quanto as emissoras ganhariam se vendessem o tempo reservado à propaganda eleitoral para veicular comerciais. A Receita permite que as empresas deduzam do imposto de renda o equivalente a 80% do que receberiam se vendessem esse tempo para comercial de produtos e serviços. No ano passado, o Congresso, ao aprovar a minirreforma eleitoral, estendeu o benefício para microempresas e empresas de pequeno porte optantes pelo Simples Nacional. Elas poderão deduzir do cálculo do lucro presumido o valor que deixam de arrecadar com a veiculação da propaganda partidária. Além dos recursos que deixam de entrar nos cofres públicos, candidatos e partidos devem reservar boa parte do dinheiro arrecadado para arcar com as despesas com a produção dos programas de rádio e TV. Na última campanha presidencial, Lula, que disputava a reeleição, informou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ter gasto R$ 12 milhões na produção dessas propagandas – 13% do total declarado como gastos. Geraldo Alckmin, do PSDB, gastou mais de R$ 15 milhões com os programas, aproximadamente 19% do total das despesas. O volume vultoso de recursos destinados aos programas de rádio e TV é proporcional à importância dada pelos candidatos a esta fase da campanha. As propagandas podem definir o destino das eleições. Dados parciais encaminhados pelos candidatos ao TSE colocam Dilma Rousseff, candidata do PT, na liderança dos gastos com programas de TV e rádio. A candidata informou ter gasto R$ 4,5 milhões na confecção de seus programas. NEGÓCIOS Fundo compra fatia da Abril Educação por R$ 226,2 mi Depois de adquirir 100% do Anglo, há um mês, e com a meta de se tornar líder no segmento de sistema de ensino, a Abril Educação recebeu ontem um aporte de recursos de R$ 226,2 milhões, com a venda de uma participação minoritária para o fundo de private equity – de investimentos em outras empresas – BR Investimentos, do economista Paulo Guedes. A Abril Educação já anunciou que fará novas aquisições no setor e que pretende, em cinco anos, multiplicar por cinco a receita atual de R$ 500 milhões. A capitalização foi feita por meio dos fundos BR Educacional FIP e FIP Brasil de Governança Corporativa, ambos geridos por Guedes e com foco em educação. Com o aporte, o fundo passa a ter uma participação de pouco mais de 20% no capital da empresa controlada pela família Civita. O BR Investimentos foi criado em fevereiro do ano passado pelo economista, que participou da criação do Ibmec e do banco Pactual. No ano passado, Guedes anunciou que tinha R$ 360 milhões para fazer aquisições de instituições de ensino. O negócio com a Abril foi fechado poucos dias depois de o fundo ter vendido para o grupo RBS e para a Globo Participações a empresa de eventos corporativos HSM, responsável pela organização do Expo Management. Até receber investimentos do fundo, a Abril Educação – empresa que integra o Grupo Abril – era controlada exclusivamente pela família Civita. Esse braço da companhia chegou a ter participação de um sócio estrangeiro – a Naspers, maior empresa de mídia da África do Sul, que adquiriu 30% das ações do Grupo em 2006. Como o sócio sul-africano não tinha interesse no segmento educacional, a participação foi recomprada pela família. A empresa controla as operações das editoras Ática e Scipione, fortes no segmento pedagógico. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. TELEVISÃO Roberta Pennafort A volta do pecado de ‘A vida como ela é’ Passaram-se 43 anos, e, como era de se supor, levando-se em conta que a série As Cariocas foi atualizada para o século 21, do original de Sérgio Porto (1923-1968) restaram apenas A Desinibida do Grajaú e A Noiva do Catete. A Grã-Fina de Copacabana. A Donzela da Televisão, A Currada de Madureira e A Desquitada da Tijuca ficaram de fora; deram lugar, pelas mãos de Euclydes Marinho e outros roteiristas, a oito textos novinhos. O humor cínico e a verve do cronista, de pseudônimo Stanislaw Ponte Preta – saudado por Jorge Amado, quando do lançamento de As Cariocas, como ‘o recriador da vida carioca, dono e senhor de sua língua viva, dos sentimentos, dos dramas, das alegrias, desesperos e tristezas da gente carioca’ -, estarão na tela, diz Daniel Filho, que divide a direção com Amora Mautner e Cris D’Amato. ‘O jeito irônico e gozador que existe no Sérgio/Stanislaw é o molho desses contos. Comédias de comportamento são de todas as épocas’, acredita Daniel, para quem voltar a trabalhar com Sônia Braga e Antônio Fagundes ‘é uma alegria’. ‘Continua a mesma química. Pena que foram apenas dois dias de gravação.’ Casada há 30 anos, Júlia, A Adúltera da Urca, descrita pelo narrador como ‘de uma fidelidade à prova de bala’, mulher que, ‘como o metrô, nunca saía da linha’, subitamente se vê às voltas com a desconfiança do marido, certo de que está sendo passado para trás. O telespectador também é tomado pela dúvida. O clima lembra o de A Vida Como Ela É…, série com texto de Nelson Rodrigues, também com adaptação de Euclydes Marinho e direção de Daniel Filho. Além de Sônia, Fernanda Torres e Cintia Rosa, Daniel chamou algumas das atrizes da nova geração de estrelas da Globo: Alinne Moraes é Nádia, A Noiva do Catete; Paola Oliveira, Clarissa, A Atormentada da Tijuca; Deborah Secco, Alice, A Suicida da Lapa. Adriana Esteves faz Celi, A Vingativa do Méier, e Alessandra Negrini, Marta, A Iludida de Copacabana. O elenco completo tem 150 nomes. A série já está toda pronta – o último ‘corta!’ foi semana passada. Para gravá-la, o diretor optou pelo uso da supercâmera Red, de alta definição, a mesma de seus filmes Tempos de Paz e Chico Xavier. É curioso pensar que A Desinibida do Grajaú, vivida num Caso Especial de 1994 pela ex-pantera Andrea Guerra, que causava furor ao aparecer de microshort, dessa vez caiu no colo da comportadinha Grazi Massafera.O papel de A Traída da Barra coube à apresentadora Angélica – que, a propósito, vai contracenar com o marido, Luciano Huck, como já fizera no cinema, antes do casamento. O detalhe: na vida real, o casal mora na mesma Barra. Desavergonhadas, recatadas, adúlteras, ‘corneadas’, ardilosas, inocentes. As personagens vão refletir as múltiplas facetas femininas que Sérgio Porto – um ‘perito em mulher’, como é apresentado na primeira edição do livro – mapeou. A personalidade delas dialoga com a geografia de seus bairros, a alma das ruas por que passam. Em A Noiva do Catete, por exemplo, antes de apresentar Luci Maria Simões, 24 anos, solteira, ‘carioca e bonitinha’, o autor fala da ‘velha Rua do Catete’, ‘a conservar ainda alguns sobradões de outrora, que resistem heroicos à fúria imobiliária’. Luci (na TV, Nádia) parece uma mocinha solitária, para quem a única companhia constante é a do gatinho Pelé. Mas logo se descobre que seu pudor é de fachada. Quando Marlene, a desinibida (que agora se chama Michele), se mudou para o Grajaú, ‘não houve homem das redondezas que não botasse os olhos nela’, ‘tão apetitosa era’. ‘Loura, saudável e bela, era moça moderna, talvez moderna demais para o bairro do Grajaú’. Na série, entram bairros que praticamente inexistiam nos anos 60, como a Barra, e regiões que muito pouco se pareciam com o que se vê hoje, como o Morro da Mangueira, a nova Lapa e Ipanema. O cronista do Rio As Cariocas é um dos livros mais conhecidos de Sérgio Porto, comparado, por suas crônicas, a Rubem Braga e Paulo Mendes Campos, e chamado de herdeiro de Machado de Assis. As palavras são do baiano Jorge Amado no prefácio de 1967. Keila Jimenez Galvão e Leifert reforçam Sportv em 2012 Pelo menos quatro canais, dois em alta definição, e o time de estrelas esportivas da Globo, de Tiago Leifert a Galvão Bueno, à disposição. Esses são alguns dos planos do Sportv para a cobertura da Olimpíada de 2012, da qual a Globo estará fora. Com a compra dos direitos de transmissão da Record – a única TV aberta que deverá exibir o evento -, os canais esportivos da Globosat já se preparam para receber uma força-tarefa da Globo na cobertura. A ideia é que o Sportv 1, que está no pacote básico da Net, fique com a nata do evento, as competições envolvendo as equipes brasileiras e finais. Procuradas, Globo e Sportv, via assessoria de imprensa, dizem que é cedo para falar de 2012. 30 minutos consecutivos em primeiro lugar em audiência foi a marca alcançada anteontem pelo Domingo Legal, no SBT, registrando média de 9 pontos no horário. ‘Famoso que não quer tirar foto com fã, não quer dar autógrafo: fica em casa!’, Rodrigo Faro, em O Melhor do Brasil de sábado, na Record agradecendo ao seu fã-clube. A Record tem evitado citar o nome do hospital RioMar nos noticiários sobre a morte da menina Joanna Marins, de 5 anos, que foi atendida por um falso médico. Coincidência ou não, o hospital é um dos principais credenciados do novo plano de saúde da emissora, o Life Empresarial, empresa ligada à Igreja Universal. A Record garante não haver nenhuma determinação para não citar o nome do hospital em seus jornalísticos, e que isso fica a critério de cada repórter. Para aumentar o clima de suspense que tomará conta de Passione, Silvio de Abreu dá a deixa: ‘Um personagem da novela já morreu, e o público não percebeu ainda.’ Há uma corrente na Globo que quer que a nova novela de Walcyr Carrasco na emissora, Dinossauros e Robôs, seja batizada de A Idade da Pedra. Os dois títulos já foram registrados pelo canal. Na semana passada, Marcos Pasquim, mocinho da trama, já gravou algumas cenas em Marília (interior de São Paulo), em um tradicional festival japonês que acontece por lá. No elenco de Dinossauros e Robôs também estão Adriana Esteves, Cissa Guimarães, Dionisio Neto, Rodrigo Hilbert, Vanessa Giacomo, Narjara Turetta, Samara Filippo e Nivea Stelmann. Em longa reportagem sobre Rebeldes – novelinha que terá versão na Record – o Domingo Legal, do SBT, fez questão de esquecer o nome do folhetim juvenil. Referiu-se o tempo todo ao formato como ‘RBD’, que é o nome da banda teen da trama. Com a ausência de várias estrelas, como Xuxa, o Criança Esperança da Globo perdeu apenas 1 ponto de audiência em relação à sua média no ano passado: registrou na noite de sábado 21 pontos. ************