Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Esther Hamburger

‘‘Aristóteles, isso não existe!’ observou Caio Tulio Costa, primeiro ombudsman brasileiro, no ‘Roda Viva’ de anteontem, que comemorou a introdução da função na TV Cultura.

O jornalista, que inaugurou o posto nesta Folha, há exatos 15 anos, advertia o atual ouvidor da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), o simpático Aristóteles dos Santos, de que a informação é sempre filtrada por concepções de mundo. Alertou também sobre os limites inerentes à função, que não está livre de constrangimentos políticos e empresariais.

O programa foi didático. Saudou, explicou e divulgou a existência de um posto que visa mediar as relações entre empresas privadas e seus clientes, ou entre instituições públicas e os cidadãos, aumentando a transparência na prestação de serviços.

Não havia ninguém na berlinda, o que resultou em um clima descontraído, distante da natureza intrinsecamente conflitiva do trabalho. Situada na interface das relações internas e externas de organizações e seu público, a função supõe atender a demandas contraditórias. Além do difícil, mas crucial, papel de crítica interna.

O campo cresce. Conta com uma associação que reúne animados profissionais engajados em diferentes tipos e conceitos de atendimento. Da Autoban à Polícia Militar.

O jornalista Osvaldo Martins estréia na próxima sexta-feira na posição de primeiro ombudsman da TV brasileira, no site da emissora (www.tvcultura.com.br).

Em um leve prenúncio do esforço que o aguarda, recebeu no programa os primeiros questionamentos de telespectadores. Anunciou para novembro um programa de TV. Aceitou também a sugestão do ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, de divulgar as normas do jornalismo da casa. Há muito o que fazer para tornar transparente os mecanismos de funcionamento das emissoras de TV. Desejamos boa sorte ao primeiro ombudsman da TV brasileira. Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP’



Leila Reis

‘TV brasileira ganha amanhã seu primeiro ombudsman’, copyright O Estado de S. Paulo, 23/09/04

‘Amanhã, o jornalista, escritor e autor de nove enredos da Mangueira, Osvaldo Martins, estréia na função de ombudsman da TV Cucltura.

Por meio do site da emissora (www.tvcultura.com.br), vai tecer comentários sobre os erros e acertos do canal, além de registrar as reclamações e sugestões do telespectador. Nesta entrevista, Martins já começa a trabalhar e diz que o formato do Observatório da Imprensa, de Alberto Dines, é do tempo da ‘TV à válvula’.

Estado – Por que uma emissora que tem uma programação cidadã institui a figura do ombudsman?

Osvaldo Martins – O conceito de TV pública garantiu à Cultura independência total em relação ao Estado e ao mercado. Está na hora de saber o que fazer com essa independência. De olhar o conteúdo e valorizar a cidadania.

Estado – Qual é a grande vocação da TV pública?

Martins – É estimular o debate das grandes questões públicas. Por meio do jornalismo ou de outros programas. O desafio é ser profundo, passar informações sem ser enfadonho. Para isso, é preciso tecnologia, inteligência, criatividade e muita dedicação.

Estado – E o dinheiro?

Martins – Se o dinheiro dá é uma outra questão. Mas a TV pública tem de ser diferente das que fazem fast news. O foco tem de ser no aprofundamento e na explicação dos assuntos. Quero quebrar essa mania dos profissionais – formada na TV comercial – de querer copiar o modelo das outras. É desnecessário mostrar na segunda-feira os gols do domingo.

Estado – Como vai funcionar a sua ouvidoria?

Martins – Teremos uma call center (0800) e um lugar no site que servirão de canais para o telespectador fazer críticas ou sugestões. Vamos fazer chamadas para atingir especialmente as crianças e os jovens. A opinião dos pais nós já sabemos. O ombudsman não atua em uma instância hierárquica, não tem poder de decisão. Ele será um captador da opinião do espectador e também um observador.

Estado – O que você observa nesta sua estréia?

Martins – O programa do Alberto Dines (uma figura respeitável e mitológica da imprensa brasileira) tem um formato do tempo da TV à válvula, é muito antigo. A imagem que a TV Educativa (RJ) gera do Observatório da Imprensa é suja, o áudio não tem sincronia com a imagem. Parece a dublagem que o Casseta & Planeta faz dos policiais americanos. Os enquadramentos parecem fotos 3 X 4 de lambe-lambe da Praça da Luz. O telespectador brasileiro desenvolveu uma cultura esteticamente sofisticada e nota esses defeitos. A Cultura tem de ficar no patamar de qualidade técnica e formal a que o público está acostumado. Como ombudsman, não tenho autoridade para modificar programas, mas tenho para apontar os erros. Isso está garantido por um contrato que me garante estabilidade de um ano para exercer minhas atribuições.

Estado – O que muda na Cultura?

Martins – Do ponto de vista das decisões, nada. A novidade é que a Cultura tem agora uma autocrítica institucionalizada. Minha atribuição é defender os interesses do telespectador. Afinal, ele, como contribuinte, sustenta a TV há 35 anos.

Estado – Que exemplo a Cultura quer dar?

Martins – Faz 15 anos que há ombudsman em jornal, mas não em TV. É uma ousadia da Cultura.

Estado – Como você vai se comportar quando o telespectador reclamar da qualidade de outras emissoras?

Martins – Vou registrar no site e mandar uma cópia para a emissora citada.

Só vou responder às questões que envolverem os programas da Cultura.

Estado – Em que terreno a Cultura é melhor?

Martins – No tratamento da criança, ela tem preocupações pedagógicas profundas. Faz entretenimento sem impor valores alienígenas à cultura brasileira.

Estado – Que valores?

Martins – Os dos desenhos japoneses e americanos exibidos nas redes comerciais.

Estado – Mas a Cultura também exibe desenhos importados.

Martins – A diferença é que eles têm função pedagógica. Por exemplo, para exibir Teletubbies, houve uma discussão que durou meses.

Estado – Mas há quase dez anos que a Cultura não produz para o público infantil de maneira consistente…

Martins – Com o lançamento do canal pago TV Rá-Tim-Bum – que foi muito bem recebido pelo mercado publicitário -, será possível levantar recursos para produzir e a Cultura será a herdeira natural desses programas.

Estado – Qual é a sua expectativa como ombudsman? Você espera provocar ondas de amor ou de ódio?

Martins – Não importa, a única onda que eu não quero provocar é a da indiferença. Não sou crítico de TV, serei o olho do telespectador dentro da emissora.

Estado – Qual é a missão da televisão?

Martins – A TV preencheu no Brasil um vazio cultural. Como veículo, ela nasceu como transmissor de imagens. Era para mostrar o jogo de futebol quando o público não podia estar no campo. Com o advento do videoteipe, além de transmitir, a TV passou a desenvolver seus próprios conteúdos. Quando a TV surgiu na Europa, sua função era mostrar óperas, balés, peças. No Brasil, também. A Tupi esteve a serviço do teatro quando surgiu: exibiu grandes clássicos no TV de Vanguarda e TV de Comédia. Como veículo, a TV é boa ou ruim como telefone. A programação é que faz a diferença. É desse conteúdo que precisamos cuidar.’



Cristina Padiglione

‘TV Cultura pede à NHK equipamentos descartados’, copyright O Estado de S. Paulo, 24/09/04

‘A TV Cultura poderá renovar todos os seus equipamentos graças a uma (quase) doação da NHK, a TV estatal japonesa. Como convém à fama dos japoneses no quesito tecnologia, a NHK, dona de um orçamento de causar inveja às Organizações Globo, troca seus equipamentos ano a ano. E é esse pacote que os japoneses chamam de sucata que poderá ser destinado à TV Cultura, sob valores ínfimos.

As negociações começaram quando a rede japonesa procurou a emissora paulista para outros fins. A NHK gostaria que a Cultura exibisse no Brasil a minissérie que a rede japonesa gravou no País como parte das comemorações pelos 80 anos da NHK. No enredo, uma japonesa que emigrou para o Brasil há oito décadas reencontrará pela primeira vez uma irmã que ficara no Japão porque, na época, tinha saúde frágil para enfrentar a viagem até São Paulo.

Segundo Marcos Mendonça, presidente da Fundação Padre Anchieta, mantenedora da TV Cultura, a proposta feita à NHK foi submetida ao aval do governador Geraldo Alckmin.

Roda Viva – Enquanto a Cultura vai se reestruturando sob nova administração, uma série de iniciativas está em andamento. Aos olhos do público, o primeiro grande evento está voltado para os 18 anos do Roda Viva. A data do aniversário é dia 27, mas a emissora protelará as comemorações para 18 de outubro.

Dos 900 entrevistados pelo Roda Viva nesses 18 anos, 560 já foram localizados e estão sendo convidados. A edição contará com a presença de seis apresentadores que passaram pelo comando do programa, incluindo o atual, Paulo Markun.

Após a edição comemorativa, o Roda Viva ganhará um cenário maior que o atual e um painel que se revezará a cada seis meses, sempre por obra de um renomado artista plástico. José Roberto Aguillar inaugura o espaço.’



TV / PROPAGANDA
O Estado de S. Paulo

‘Propaganda usa TV de baixo custo’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/09/04

‘Campanhas em horários nobres, anúncios em outdoors, em revistas especializadas e jornais, são opções fora do alcance dos emergentes do comércio popular. A restrição é o custo, um item fundamental para quem precisa vender barato para estar próximo da baixa renda. ‘É uma faixa muito sensível a preço e condições de pagamento’, destaca Luiz Paulo Lopes Fávero, o consultor do Programa de Administração de Varejo (Provar) da USP. Por isso, acredita, esse tipo de varejo precisa ser criativo para atingir seu público e continuar a crescer sem elevar custos.

A saída das redes para não encarecer o produto que vendem tem sido recorrer aos canais de televisão exclusivamente promocionais, como o Shop Tour e outros semelhantes. A loja de calçados Galinha Morta anunciou durante três anos no Shop Tour, mas agora decidiu investir num programa publicitário de oito minutos na TV Gazeta.

‘O tempo é maior para mostrar o produto e a proposta da empresa’, diz Marcel Ulrych, diretor da Galinha Morta. Ele espera que a relação custo/benefício, num programa de oito minutos, seja mais vantajosa. No anúncio ele bate na tecla do ‘preço justo’ do produto, em relação aos shoppings. ‘Sapato, quando você põe o pé em cima, ninguém vê onde foi comprado.’

O Lojão do Brás, que teve crescimento de 10% nas vendas no ano passado, também já passou pelo Shop Tour, Liquida Mix e outros programas promocionais parecidos. Mas agora quer ir para mídias de maior alcance. ‘Vamos avaliar os preços’, diz a responsável pelo marketing da empresa, Andréia Bezerra Bessa.

A empresa também quer encontrar uma maneira de valorizar mais seus produtos.

Muitas peças que vendemos no Lojão, diz Andréia, são idênticas às de lojas populares de marcas conhecidas. ‘Mas o consumidor não percebe. Deprecia o nosso produto e valoriza o do concorrente’, diz. ‘Vamos investir para mudar essa percepção.’’