Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Estudo diz que TV paga será
dominada por uma empresa


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 12 de junho de 2007


TELEVISÃO
Daniel Castro


Net/Vivax vai dominar TV paga, diz estudo


‘O mercado brasileiro de TV paga em 2012 será dominado por uma única empresa, a resultante da fusão da Net com a Vivax, respectivamente a maior e a terceira operadora do país, atualmente em análise pelo governo. Elas terão 51% dos assinantes do país, projeta o mais recente estudo da PTS, empresa que monitora o setor.


Em um ‘cenário base’, a PTS calcula que o país terá em 2012 quase 8 milhões de assinantes, 35% a mais do que no final de 2006. O ‘cenário base’ considera que a economia brasileira continuará crescendo de 4% a 4,5% ao ano. Além disso, a PTS avalia que o cabo crescerá mais do que as outras tecnologias (DTH/satélite e MMDS/microondas). A taxa de crescimento, no entanto, cairá a partir de 2009, com a saturação da oferta de banda larga.


Assim, diz a PTS, a Net a Vivax, que hoje têm respectivamente 39% e 7,2% dos 4,6 milhões de assinantes, terão mais da metade do mercado.


Já a Sky/DirecTV, que opera via satélite, continuará a ser a segunda maior operadora, mas perderá participação de mercado, dos atuais 31,9% para 23%. Isso porque, entende a PTS, sofrerá concorrência mais forte das operadoras de cabo, uma vez que não pode oferecer banda larga e telefonia.


A TVA, hoje com 7,2% do mercado, passaria a ter 8%. Impulsionada pela parceria com a Telefônica, a DTHi, hoje irrelevante, teria 5% em 2012.


FAZ DE CONTA O Ministério da Justiça reclassificou no ‘Diário Oficial’ de ontem a novela ‘Paixões Proibidas’, da Band. A produção, que era livre, passou a ser imprópria para menores de 12 anos (20h). Mas a medida não tem nenhum efeito. A novela acabou sexta passada e a vinculação de idade a horário está suspensa pela Justiça. A Band não quis comentar.


LIBEROU GERAL A Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão) entregou quarta passada documento propondo mudanças na portaria que endurece as regras de classificação indicativa de TV. A entidade, que é contra a vinculação de horários a faixas de idade e diz ser inviável cumprir os diferentes fusos do país, não divulgou o conteúdo de suas sugestões.


VIDEOCASSETADA 1 Duas sugestões de vídeos imperdíveis já disponíveis no YouTube. O primeiro vem do ‘JN’ de sábado. Enquanto um repórter entrava ao vivo, freqüentadores de um shopping dançavam atrás dele o ‘trenzinho dos políticos’ e a ‘dança do siri’, ‘coreografias’ do ‘Pânico na TV’. Sandra Annenberg se segurou para não rir.


VIDEOCASSETADA 2 O segundo é do ‘Fantástico’. Um brinco de Glória Maria, que continua com caroço na testa, caiu e escorregou para dentro de seu vestido. Para assisti-los, basta procurar por ‘Glória Maria’ e ‘brinco’ e por ‘dança do siri’ e ‘Jornal Nacional’.


TIME Fernanda Venturini foi contratada pela Record para comentar volêi feminino no Pan.’


CRÔNICA POLÍTICA
Carlos Heitor Cony


Decoro parlamentar


‘Na primeira legislatura após a queda do Estado Novo, um deputado federal foi cassado por seus pares por quebra do decoro parlamentar. Ele não recebia mensalão, não respondia a nenhuma CPI, mas foi julgado incompatível com a austeridade que se cobrava de um representante do povo, depois de anos da ditadura Vargas.


Simplesmente deixou-se fotografar de cueca para uma revista ilustrada. O fotógrafo queria que ele vestisse uma casaca, não precisava vestir a calça, ele daria um corte no foco, só pegaria a parte superior do deputado. Publicada de alto a baixo em 700 mil exemplares de ‘O Cruzeiro’, a foto foi um escândalo.


O deputado (Barreto Pinto) tinha humor. Esperneou o que pôde, mas se conformou. Tornou-se produtor teatral e encenou uma revista na Praça Tiradentes com o título ‘O mundo em cuecas’. Foi um sucesso.


Anos depois, a mesma revista publicou uma foto de JK num dos banheiros do palácio Laranjeiras, fazendo a barba matinal. No primeiro plano, o presidente com o rosto ensaboado. Ao fundo, o vaso sanitário, daqueles antigos, ‘made in England’. A oposição da época, liderada pela UDN, exigia um impeachment, alegando quebra do decoro que se espera de um presidente da República. Muita discussão nas duas Casas do Congresso, os jornais tomando posição, editoriais apocalípticos, onde estávamos, onde iríamos parar? O Brasil foi declarado à beira do abismo.


Passam os anos. O conceito de decoro é vago, sujeito às circunstâncias do tempo e do modo. Continua sendo um dos motivos previstos pela Constituição para a cassação de um mandato popular. Os dicionários o definem mas a Lei Maior esqueceu-se de explicar o que seja ‘decoro’, na suposição de que todos sabem do que se trata.’


MEMÓRIA / JOSÉ REIS
Sérgio Mascarenhas


Renovadores da ciência e do jornalismo


‘HOJE, 12 de junho de 2007, comemora-se o centenário de nascimento de José Reis (1907-2002), um dos mais marcantes vultos da ciência e da cultura que o Brasil teve em toda a sua história.


Como cientista, José Reis foi um dos maiores ornitopatologistas que o Brasil produziu. Suas pesquisas sobre patologia aviária se tornaram referência internacional, num país que tem uma das maiores biodiversidades ornitológicas do mundo.


Mas José Reis foi um homem interdisciplinar e intercultural. Foi um dos fundadores da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) e é o maior e mais qualificado divulgador da ciência que tivemos. Verdadeiro exemplo em nível internacional, foi ganhador do Prêmio Kalinga para a Popularização da Ciência, criado pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Durante toda sua longa e produtiva vida, José Reis criou uma das mais importantes revistas do setor no Brasil, a ‘Ciência e Cultura’, da qual, além de fundador, foi editor-chefe e profícuo colaborador.


Sua mais notável característica era a curiosidade insaciável por filosofia e história da ciência, além de insuperável qualidade de comunicação escrita e oral. Daí por que foi justamente homenageado pelo Conselho Nacional de Pesquisas (atual CNPq, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) com a criação do Prêmio José Reis, em 1978. Atribuído em várias categorias, o prêmio é verdadeiro laurel para os que o conquistam, uma espécie de Oscar brasileiro para a divulgação da ciência.


Ele também é honrado com a Cátedra José Reis na USP e com o Núcleo José Reis da ECA-USP, presidido por outro grande cientista e divulgador da ciência, um dos fundadores da genética brasileira: Crodowaldo Pavan.


Pavan e eu fomos companheiros de José Reis na fundação da Academia de Ciências do Estado de São Paulo -Pavan como presidente, Reis como vice e eu como secretário-executivo, cargo depois brilhantemente ocupado por Shigueo Watanabe por vários anos.


Na ocasião da cerimônia de fundação da academia, no Palácio dos Bandeirantes, na presença do então governador, Paulo Egydio Martins, e de Max Feffer, à época secretário de Estado, além das mais importantes personalidades da ciência no país, Reis pronunciou uma das mais profundas análises sobre a fundamental relevância da ciência para o futuro de São Paulo e do Brasil.


Reis, além de cientista, foi também inovador na gestão das instituições públicas, tendo sido um dos pioneiros no setor. Por exemplo, introduzindo na prática a dedicação exclusiva nos serviços públicos, que haveria de ser a mola propulsora do próprio sistema universitário e de instituições de pesquisa e políticas públicas.


Mais que isso, ele foi diretor de Redação da Folha de S.Paulo, onde escreveu até seus últimos dias a famosa coluna ‘Periscópio’, que dava um panorama interdisciplinar e universal da ciência da mais alta qualidade. Reis foi amigo e companheiro de outro grande jornalista, o publisher da Folha, Octavio Frias de Oliveira (1912-2007). Recentemente falecido, Frias tinha uma granja no Vale do Paraíba e procurou José Reis no Instituto Biológico, consultando-o, como grande ornitopatologista, sobre questões de sua granja. Surgiu a partir de então uma grande amizade e virtuosa colaboração entre Reis e Frias.


Reis sempre dizia: ‘Divulgação da ciência e da cultura, mas com qualidade e ética; não fazer apenas vulgarização’.


SÉRGIO MASCARENHAS, 79, físico, é professor emérito do Instituto de Física de São Carlos, da USP.’


Folha de S. Paulo


USP comemora centenário de José Reis


‘O jornalista e cientista José Reis (1907-2002), o brasileiro que mais fez pela divulgação da ciência, será homenageado hoje na USP, em comemoração ao centenário do seu nascimento. E será do jeito que ele gostava: de modo informal, descontraído, quase boêmio.


Às 19h deve começar a Revista Lítero-Musical Biologíadas no auditório Lupe Cotrim, da Escola e Comunicações e Artes (ECA/USP). O nome é uma paródia de ‘Os Lusíadas’, usado por Reis e seus colegas pesquisadores do Instituto Biológico para suas reuniões.


O evento é uma iniciativa do Núcleo e Cátedra Unesco José Reis de Divulgação Científica da ECA/USP, coordenados pelos professores Ciro Marcondes Filho, seu titular, Glória Kreinz e Crodowaldo Pavan.


Reis ganhou justamente da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 1975, o Prêmio Kalinga pela sua dedicação à divulgação de ciência, expressa em milhares de textos, publicados pela Folha desde 1947 até praticamente sua morte, em 2002.


‘J. Reis’, como assinava seus textos na Folha, tornou-se nome de prêmio ainda em vida. O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) concede anualmente o Prêmio José Reis de Divulgação Científica a instituições, jornalistas e cientistas.


‘Ele foi um dos professores mais importantes e queridos da USP’, diz Pavan, geneticista emérito e amigo de longa data de José Reis.


O encontro de hoje terá música -Reis era grande fã de MPB- e poesia -ele também escrevia poemas.


As comemorações devem continuar na próxima reunião anual, no mês que vem em Belém, da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), entidade que teve Reis entre seus fundadores, além de ter sido seu primeiro secretário-geral.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


‘Pesadelo’


‘A atração político-policial no ‘JN’ foi a gravação de Vavá, de novo, mas agora com a identificação de que saiu ‘da casa de Frei Chico, irmão do presidente’:


– O Lula quer que você vá lá… vai conversar com ele, à noite… quer conversar na casa dele, tranqüilo, tá.


– Mas eu vou só de tarde… não vou ficar lá, não.


– Eu quero saber, Vavá, porque tem umas broncas lá que você anda apresentando uma pessoa lá…


– Eu?


Daí para o blog de Tutty Vasques e a piada anterior de que o brasileiro ‘vive um pesadelo’. Chega em casa e ‘é sua voz, você está no ‘JN’, olha, é sua foto na tela, com seu melhor amigo’. E o diálogo, no ‘pesadelo’:


– E aí, beleza? Vai rolar a parada?


– Tô achando que vai melar.


– Pô, cara, você tá me devendo essa há um tempão.


– O chefão está jogando duro comigo…


NAS ARÁBIAS


A Al Jazeera postou Lula com Sir David Frost, um célebre entrevistador inglês. Foram perguntas sobre os ‘fantásticos jogadores’, a pílula, mas Lula insistia em comércio, G8, Brics, o ‘melhor momento econômico da história do Brasil’…


G5 VS. G8


O G5, grupo dos emergentes, está em revolta com o G8, dos ricos. Na manchete do jornal ‘The Hindu’, a proposta do Brasil de cúpula só dos cinco. E registros como ‘fórum do G8 tem utilidade limitada’ para os emergentes, ‘a proposta do Brasil foi bem recebida pelos outros líderes’ etc. O jornal dá até o acrônimo do grupo, mais um: Bicsam, de Brasil, Índia, China, África do Sul e México.


Por aqui, o ‘Valor’ noticiou o ‘mal-estar’ e a ‘desconfiança’ do G5, resultado da reunião do G8 em que ‘os emergentes descobriram que o comunicado sobre aquecimento dava a entender que tinham aprovado seu teor’ -o que depois se repetiu com o comunicado sobre diálogo entre os grupos.


ACOMODAR


Colunista do ‘Los Angeles Times’ cobrou ontem ‘para que serve G8 sem emergentes como a China e o Brasil’. Já a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, para o ‘Wall Street Journal’, citou China e Brasil e disse que a questão agora é ‘achar formas para acomodar a ascensão dessas novas potências’.


G8 SEDUZ G5


Segundo o ‘WSJ’, o Banco Mundial, dirigido por um americano, ‘planeja iniciar um fundo de investimento de US$ 250 milhões e premiar países como Indonésia, Brasil e Congo por ‘evitar derrubar matas’. O dinheiro é do G8.


DESAFIAR


Em despacho da agência AP, ‘Brasil e Índia desafiam EUA a baixar seus subsídios antes de crucial negociação comercial’. Os três, mais a União Européia, se reúnem nos próximos dias para tentar avançar na Rodada Doha.


Mais que o Brasil, desta vez foi a Índia que saiu ao ataque.


‘POSSIBILIDADE’


Enquanto o britânico Tony Blair vê ‘possibilidade real’ de um pré-acordo em Doha até o fim do mês, o editor de economia do ‘Guardian’ questiona o G8 -e diz que, se sair, a rodada não será mais ‘do desenvolvimento’, como prometia, mas só comercial.


RIO MADEIRA


Larry Rohter foi até Rondônia tratar das hidrelétricas e não se posicionou, expondo ‘ambos os lados’, pelo meio ambiente e pelo desenvolvimento. As fotos foram o melhor, no ‘New York Times’.’


VENEZUELA
Folha de S. Paulo


Protestos: RCTV foi ‘a gota d’água’, dizem estudantes


‘‘Os estudantes não estão nas ruas por causa da RCTV, mas pela guinada ditatorial de Hugo Chávez’, disse Yon Goicoechea, um dos líderes dos protestos em Caracas contra a não renovação da concessão do canal pelo governo venezuelano. Goicoechea, da maior universidade pública, e Stalin González, da maior privada, afirmaram ontem a jornalistas estrangeiros que a liberdade e os direitos civis estão ameaçados no país e que o caso RCTV foi ‘só a gota d’água’. Os estudantes anunciaram que promoverão debates sobre o tema em bairros pobres, bastiões chavistas.’


 


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 12 de junho de 2007


CASO RENAN CALHEIROS
Mariângela Gallucci


Jornalista foi alvo de ameaça


‘O advogado Pedro Calmon Filho, responsável pela defesa da jornalista Mônica Veloso, registrou na noite de sábado um boletim de ocorrência em uma delegacia de Brasília, no qual declara que ele e sua cliente foram alvos de uma ameaça de morte pelo telefone. Calmon contou que, por volta das 19h de sábado, atendeu a uma ligação em seu celular. O interlocutor falava com ‘um sotaque nordestino carregado’ e, de acordo com o advogado, disse que se ele e sua cliente continuassem a falar amanheceriam com ‘a boca cheia de formiga’.


Minutos após receber o telefonema, Calmon dirigiu-se à 10ª Delegacia de Polícia, que fica localizada no bairro nobre do Lago Sul, em Brasília. O advogado possui um escritório na mesma região da capital federal. A Polícia do DF confirmou que o advogado esteve na delegacia e registrou a ocorrência sobre a ameaça de morte.


De acordo com Calmon, a polícia descobriu que o telefonema ameaçador partiu de um telefone público localizado em frente a uma padaria, no bairro Octogonal, localizado no Distrito Federal. Mas, ainda segundo o advogado, o autor da ligação não havia sido identificado pelos policiais encarregados da investigação.


A jornalista Mônica Veloso tornou-se o centro das atenções há cerca de duas semanas, quando vieram a público as primeiras denúncias de que o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teria despesas pessoais pagas por um lobista ligado à construtora Mendes Júnior.


Mônica manteve durante anos um relacionamento com o senador, com o qual tem uma filha de três anos. Recentemente ambos estiveram em uma vara da Família de Brasília para acertar detalhes relacionados ao pagamento da pensão.


Em entrevista publicada no último final de semana pela revista Veja, Mônica confirmou que o dinheiro que recebeu como pensão alimentícia da filha nos últimos anos era entregue pelo lobista Cláudio Gontijo, ligado à Mendes Júnior. A jornalista também afirmou que os pagamentos eram realizados, geralmente, no escritório da Mendes Júnior em Brasília. Segundo ela, os pagamentos eram feitos sempre em dinheiro vivo.’


VENEZUELA
Ubiratan Brasil


Para Vargas Llosa, fechamento de RCTV fortalecerá oposição


‘O fechamento da RCTV, a mais popular emissora da Venezuela, deverá incentivar uma oposição de fato ao presidente Hugo Chávez. A opinião é do escritor peruano Mario Vargas Llosa, que está no Brasil para participar de uma série de debates públicos – hoje será no Rio, no Centro Cultural Banco do Brasil, e amanhã em São Paulo, também no CCBB. ‘O importante é que os venezuelanos resistam’, disse ele ao Estado. ‘O fechamento da TV foi um estímulo muito grande para a oposição, formada hoje por estudantes, um setor muito popular. Tomara que isso sirva como estímulo contra uma trajetória que se apresenta muito perigosa para a Venezuela, além de ser um mau exemplo para a América Latina.’


Vargas Llosa, que chegou a concorrer à presidência do Peru em 1990 (perdeu para Alberto Fujimori), afirma que Chávez utiliza os petrodólares como instrumento de suborno, daí ter o apoio de governos como o da Bolívia de Evo Morales. ‘O que Chávez faz contribui para a desestabilização da democracia na região, justamente agora que vivemos em um momento de transição, quando as esquerdas comandam Chile, Brasil e Uruguai à moda européia, ou seja, social-democrata.’


Para o escritor peruano, não causa surpresa que o presidente venezuelano confesse sua admiração por Fidel Castro. ‘(Fidel) comanda uma ditadura pré-diluviana, algo anacrônico para nossa época’, disse ele. ‘Daí a necessidade de uma oposição venezuelana cada vez mais enérgica contra um demagogo que pode destruir a Venezuela, como Fidel Castro fez com Cuba.’


Para Vargas Llosa, o panorama político atual da América Latina merece elogios. ‘A esquerda radical foi derrotada no Peru, México e Colômbia e o que prevaleceu é a esquerda vegetariana, como a brasileira, que não representa um perigo para a democracia’, disse ele. ‘Ainda que a retórica não se repita na prática, ao menos é uma atividade democrática. Isso é novo. A esquerda está ficando acostumada com o poder.’’


EQUADOR
O Estado de S. Paulo


Correa diz que fechará TV que conspire contra ele


‘AFP – O presidente equatoriano, Rafael Correa, afirmou que cancelará a concessão de emissoras de TV que conspirarem contra seu governo. Correa defendeu a decisão do presidente venezuelano, Hugo Chávez, de fechar a RCTV. ‘Se ficar provado que uma emissora de TV apoiou um golpe de Estado, como fez a RCTV, eu cassarei a concessão desse canal’, afirmou Correa.


As relações entre o presidente equatoriano e a imprensa do país estão estremecidas desde maio, quando Correa abriu um processo contra o jornal ‘La Hora’ por um editorial que afirmava que ele governava com ‘tumultos, pedras e paus’.’


PROPAGANDA
Sonia Racy


Relação entre publicidade e consumo de cerveja


‘As cervejarias estão de cabelo em pé com a idéia do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, de limitar a publicidade no setor. Consideram a ação ‘populista’ e que certamente não vai diminuir o consumo de bebidas alcoólicas e, sim, deslocá-lo. E mostram, por meio de dados consolidados pelo mercado cervejeiro nacional, que não há relação entre investimentos em publicidade e o consumo de cerveja no Brasil. Entre 2004 e 2005, por exemplo, o consumo da bebida subiu de 46,6 litros/habitante/ano para 49 litros/habitante/ano. No mesmo período, houve desaceleração nos gastos em mídia, de R$ 543 milhões para R$ 539 milhões. ‘A publicidade no setor objetiva reforçar as marcas na disputa pelo consumidor já consolidado’, diz alta fonte do setor.


Já de 2005 para 2006, as cervejarias aumentaram seus investimentos com propaganda em quase 40% (de R$ 539 milhões para R$ 751 milhões) e o aumento no consumo não passou de 5,9%. Vale ressaltar que o consumo de vodca, que sofre rigorosas restrições quanto à veiculação na mídia, tem crescido cada vez mais: em 2004 foram 34,4 milhões de litros; em 2005, 35,6 milhões; em 2006 a marca foi de 39 milhões de litros, segundo a Nielsen.


Diversos fatores concorrem para o aumento do consumo de cerveja. E o principal deles é o poder de compra da população. A mesma fonte destaca estudo econométrico da LCA, consultoria da qual fazia parte o atual presidente do BNDES, Luciano Coutinho, utilizado pela indústria para avaliação de cenários futuros. De acordo com o trabalho, a publicidade é o fator menos preponderante entre os quatro que determinam o aumento do mercado cervejeiro no País.


O estudo, elaborado em março deste ano, indica:


Para cada 1% do aumento da renda familiar aumentará 0,6% o mercado consumidor.


Para cada 1% de aumento ou diminuição no preço do produto haverá uma variação de 0,69%, para mais ou para menos, neste mesmo mercado.


Para cada 1 grau Celsius de aumento médio de temperatura haverá aumento de 0,28% no mercado.


E, para cada 1% de aumento no investimento em publicidade, o aumento será de 0,03%…’


INTERNET
Jamil Chade


Tribo brasileira faz acordo com o Google


‘Um grupo indígena brasileiro está prestes a assinar um acordo que promete, segundo seus próprios membros, revolucionar a história de séculos da tribo. O grupo Suruí fechará uma parceria com a gigante Google para incluir sua aldeia de 1,2 mil habitantes no Google Earth, serviço de imagens de satélite e mapas via internet, e adicionar palavras na língua falada pelos integrantes da tribo nos motores de busca da empresa americana.


Mas o chefe da tribo, Almir Suruí, garante: não irá fornecer de forma alguma ao Google as informações sobre como utilizar os recursos da floresta para curar doenças. ‘Isso é nosso e não vamos compartilhar com eles.’


De passagem pela Europa, onde promove a idéia de conservação ambiental, Almir revelou ao Estado quais serão seus planos de negociações com o Google, que devem estar concluídas no final de julho. ‘Já fiz uma primeira visita à sede da empresa, em uma cidade perto de São Francisco, na Califórnia’, conta o líder indígena. ‘O que decidimos é que vamos fechar um acordo amplo.’


A tribo fica localizada no município de Cacoal, em Rondônia, e faz parte da Terra Indígena Sete de Setembro. Almir acredita que o acordo poderá ajudar sua tribo a lutar contra o desmatamento, já que o avanço de madeireiras poderão ser detectados nos mapas do Google Earth. ‘Já fornecemos um primeiro mapa feito por nós mesmos. Demos informações sobre a área, habitantes e outros dados para que possam começar a mapear a região’, disse o líder, que em um evento em Genebra surpreendeu os conservadores suíços ao pintar os rostos de vários deles.


‘Desde que conheci essas novas tecnologias, sempre acreditei que elas poderiam nos ajudar a evitar o desmatamento’, afirmou Almir, que em Genebra visitou o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), onde a internet foi criada. ‘Sempre consultava o Google para várias coisas. Um dia pensei: por que nós não estamos lá? Por que não há detalhes sobre nossa aldeia?’, disse.


Além do mapeamento, palavras na língua falada pelo grupo serão incluídas no Google. ‘Vamos colocar nosso vocabulário em tupi mundé na rede’, disse Almir. Em troca das informações sobre sua região de 248 mil hectares, o chefe da tribo conseguiu o compromisso do Google de que a empresa irá capacitar os indígenas para o uso dos computadores, além de treiná-los e enviar PCs. ‘No futuro, queremos nós mesmos sermos capaz de colocar essas informações no computador’, afirmou.’


DOW JONES À VENDA
O Estado de S. Paulo


Microsoft e GE avaliaram proposta pela Dow Jones


‘Reuters – A NBC Universal, filial da General Electric, e a gigante tecnológica Microsoft estudaram possibilidade de lançar uma oferta pelo grupo de mídia Dow Jones. A idéia, porém, foi descartada cerca de uma semana atrás, disse ontem uma fonte que acompanhou as discussões.


A maior oferta até agora foi feita pelo grupo News Corp., do magnata Rupert Murdoch. A News Corp. ofereceu US$ 60 por ação pelo controle da Dow Jones, que edita o Wall Street Journal. O valor total da oferta equivale a US$ 5 bilhões. A proposta, a princípio, foi descartada pela família Bancroft, controladora da Dow Jones. Na semana passada, porém, membros da família se reuniram com Murdoch para ouvir detalhes da oferta.


A News Corp. quer também ter um canal a cabo de negócios para concorrer com o rentável CNBC, da NBC. A General Eletric e a Microsoft discutiram a possibilidade de igualar a oferta do conglomerado News Corp., segundo a edição eletrônica do Wall Street Journal, que citou fontes ligadas ao assunto.


‘As conversas com a Microsoft foram apenas para explorar a situação e terminaram há mais de uma semana’, disse um porta-voz da NBC Universal. A empresa de mídia, segundo o porta-voz, está continuamente avaliando potenciais aquisições estratégicas.


Fontes próximas descreveram as discussões entre as duas empresas como um estudo muito preliminar sobre a Dow Jones. NBC e Microsoft foram sócios na criação do canal a cabo de notícias MSNBC.’


TELEVISÃO
Luiz Carlos Merten


Quixote do Brasil


‘Faz calor em São Paulo na manhã de sábado, mas no estúdio da Rua Monte Alegre, no bairro de Perdizes, Luiz Fernando Carvalho parece vestido como quem está no Pólo. Pesada blusa de lã de gola alta. ‘Peguei uma gripe de estúdio’, ele explica. ‘Ontem (sexta-feira) tive febre alta.’ As más condições físicas não o impedem de entrar pela madrugada cuidando dos últimos detalhes da mixagem de som e música de A Pedra do Reino, sua microssérie em cinco capítulos, adaptada do romance de Ariano Suassuna, que estréia hoje na Globo, depois do Casseta & Planeta, por volta das 22h30. Os cinco capítulos, com duração variada de 42 a 50 minutos, vão ao ar até sábado, quando se comemoram os 80 anos do grande escritor (e pensador) brasileiro. A Pedra do Reino encerra uma fase e inicia outra na carreira de Luiz Fernando. Considerado o maior e o mais inovador diretor da TV brasileira, ele não facilita a vida de ninguém, nem a dele. Diz que não faz TV nem cinema, muito menos um híbrido dos dois. No caso de A Pedra do Reino, a que a reportagem do Caderno 2 teve acesso na íntegra, num total de 222 minutos de gravação, ele define seu trabalho como um corpo incompleto a que chama ‘organismo audiovisual dividido em cinco partes’. Só assim ele acha que se pode colocar na tela, com imagem e som, o universo labiríntico e encantado de Suassuna.


Pedro Diniz Quaderna é considerado um dos personagens arquetípicos da identidade brasileira, como Macunaíma e Policarpo Quaresma. Quem é ele, para você?


Desde que Suassuna escreveu seu romance, no começo dos anos 70, muita gente tem encarado o desafio de decifrar o significado desse personagem que se move num universo labiríntico e encantado. Ele tem esse caráter de arquétipo, no sentido junguiano, mas gosto de pensar em Quaderna como um brasileiro comum. Foi assim que me aproximei do romance e criei a microssérie. Ele é um brasileiro comum, cuja capacidade de sonhar me interessa resgatar e preservar. O brasileiro humilde tem de ser um sonhador. Senão, de onde ele vai tirar energia para pegar quatro ônibus, todo dia, para ir e voltar do trabalho, sofrendo todo tipo de pressão? Eu acredito no sonho, Suassuna também.


É um brasileiro comum em termos, pois ele tem o sonho de ser o gênio da raça brasileira e imperador do Brasil. E você faz com que isso aconteça, porque no final ele é reconhecido pela academia por seus escritos, como ocorreu com o próprio Suassuna, que entrou para a Academia Brasileira de Letras.


Sem dúvida, mas essa é a parte da história que tem a ver com a experiência do próprio Suassuna. E eu acho que não contradiz a outra. O artista como farol das aspirações do homem. Essa medida autobiográfica da Pedra não é segredo para ninguém. Ariano ficcionalizou episódios que foram muito marcantes na vida dele, como o assassinato de seu pai, durante a Revolução de 30.


Eu diria que essa é a parte também autobiográfica do seu trabalho, da sua busca pela Pedra. Você também perdeu sua mãe muito cedo.


Tinha 4 anos e foi uma coisa que também me marcou muito. Meu mãe era carioca, minha mãe, nordestina. Nasci no Rio. Meu pai casou-se de novo, mas eu vivi sempre na nostalgia de minha mãe. Adulto, transformei essa busca numa fonte de inspiração artística. Tentei, e ainda tento, identificar na riqueza da cultura nordestina, a identidade de minha mãe.


Antunes Filho fez uma recente leitura de A Pedra do Reino no teatro. Ele trabalhou no caminho da simplificação. Fez um espetáculo curto, de alguma forma minimalista. A sua Pedra, somados todos os episódios, tem 3h40 de duração e é barroca…


O livro também é barroco e o que me interessa é justamente a riqueza e colorido das manifestações populares nordestinas. Como em Hoje É Dia de Maria, A Pedra integra diversas formas de representação. O multiculturalismo é que dá a medida, ampla, da microssérie.


Você inicia com ela um projeto ambicioso, chamado Quadrante, voltado à descoberta do País.


É um projeto antigo, que já tem uns 20 anos na minha cabeça. Dirigi novela na Globo, e uma novela de sucesso, O Rei do Gado. Mas eu não gostava daquilo, não me satisfazia. O bom diretor de novela tem de ser rápido e eficiente. Eu gravava aquelas 20/30 cenas por dia e me angustiava. Chegava em casa angustiado, achando que isso podia ser diferente, que aquilo teria de ser refeito para ser melhor. Afastei-me cinco anos da TV para fazer Lavoura Arcaica (NR – o filme adaptado do romance de Raduan Nassar). Voltei à TV para pagar dívidas, mas não queria fazer o trivial. Fiz Os Maias, que foi outro sucesso, e aí, antes que me propusessem as coisas, eu propus. Fiz Maria, 1 e 2, e agora estou iniciando o Quadrante.


É uma série de adaptações de autores de diferentes regiões brasileiras – tem A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, que nasceu na Paraíba mas vive em Pernambuco; Capitu, uma releitura, pelo viés feminino, de Dom Casmurro, de Machado de Assis, carioca; Dançar Tango em Porto Alegre, de um escritor gaúcho tão maravilhoso quanto pouco conhecido, Sérgio Faraco; e Dois Irmãos , do Milton Hatoum, que é do Amazonas. Você imaginava começar este proj eto pelo Suassuna ou foi para aproveitar a data redonda, os 80 anos dele?


Foi a data. O próprio Ariano me disse – é a minha vez. Quero ser o primeiro, e não pela primazia. Sim, você tem razão, Sérgio Faraco é maravilhoso e pouco conhecido. Acho que me inclino para essas descobertas. Trabalho com autores consagrados, como Ariano e Machado, mas acho que até eles sofrem incompreensões. São respeitados, mais que entendidos ou desfrutados. Quadrante é um sonho antigo. É uma caravana que proponho para que a gente conheça o País, que, no meu entender, é muitas vezes desperdiçado por causa da visão centralizadora, que vem do eixo Rio/São Paulo. Como artista, sinto a necessidade de percorrer os espaços que formam a brasilidade, através de encontros com a mutiplicidade dos talentos locais. Essa é a minha alegria – me entregar ao mistério dos encontros com as literaturas de autores de diferentes Estados e os talentos locais.


Vai nisso uma variedade muito grande de linguajar. A fala do nordestino é diferente da do gaúcho. A Globo inventou um linguajar nordestino, mas não sabe como tratar o gauchês, quando faz minisseries ambientadas no Sul.


O linguajar nordestino também é falso. Não tem a ver com a linguagem real que venho tentando resgatar, admito que indo na contracorrente da própria emissora. Isso é uma coisa pasoliniana, assumida. Faço uma citação a Pasolini (NR – O diretor italiano Pier Paolo Pasolini) na Pedra, mas acho que a grande influência dele está na busca da poética contida na diversidade da linguagem. Isso está no cerne da Trilogia da Vida, que ele fez (NR – formada pelos filmes ‘Decameron’, ‘Os Contos de Canterbury’ e ‘As Mil e Uma Noites’).


Aquele Pálio nas cores vermelho, azul e dourado, quando o Juiz Corregedor entra na cidade, vem de As Mil e Uma Noites. Mas você também cita Luchino Visconti, por meio da música na cena em que aquele casal de estrangeiros conspira contra Quaderna e os nordestinos em geral. Por que você escolheu aquela cena para a sua homenagem?


Visconti é meu mestre e existem duas citações a ele na Pedra. Naquela cena, uso a música de Franz Mahler para Morte em Veneza. Os personagens são estrangeiros, me parece que nazistas, pelo que eles propõem de branqueamento do homem brasileiro. O próprio Mahler foi acusado de nazista. Achei que seria adequado usar a música dele.


O próprio vestido da mulher, com aquelas rendas, lembra Silvana Mangano, a mãe de Tadzio, em Morte em Veneza.


Mas eu não encomendei à figurinista para parecer com ela. São coisas que já estão no nosso inconsciente, muito arraigadas. Visconti foi um artista total. Teatro, cinema, ópera. Seu trabalho não tem igual.


Você faz cinema e TV, por que não ópera?


Já me convidaram para dirigir uma opereta, mas eu disse não. Tenho muitas coisas para fazer, antes. E, depois, não quero dirigir ópera por dirigir, sem preparo, como tanta gente vem fazendo. É uma linguagem muito rica e complexa. Exige domínio cênico, conhecimento musical.


Mas você domina uma mutiplicidade muito grande de recursos e linguagens – mímica, pantomina, dança, circo, cinema, televisão. Tudo isso já estava em Maria e volta agora na Pedra.


Vou lhe dizer uma coisa, que acho que nunca disse. Acho que a Pedra vai fechar um ciclo, esse ciclo da representação teatral. A própria Pedra não existe, é uma representação, naquele estandarte. Sinto que estou me despedindo dessa representação.


Pode ser, Ariano é muito diferente de Sérgio Faraco e você vai ter de reinventar sua linguagem. Machado poderá liberá-lo para a ópera.


Existem várias referências a ópera no Dom Casmurro. Ele chega a dizer que a vida é ópera. Quem sabe…?


Falamos em Pasolini e Visconti, mas Glauber também está presente. Me lembro de algo que li, um diálogo do Glauber com o crítico baiano Walter da Silveira, que lhe perguntava se a montagem de Terra em Transe seria barroca e Glauber diz que sim, porque ele era baiano e a cultura baiana é barroca.


São todos artistas que carrego comigo. Estão na contramão dessa globalização que não é só política nem econômica, mas também é cultural.


Na cena do lajedo, quando Quaderna desfralda o estandarte, o espírito de Glauber se apossa de você.


Aquilo não é nem uma referência nem uma citação. Glauber está tão entranhado no nosso inconsciente que, quando Quaderna desfralda o estandarte e grita que quem não for brasileiro terá de ir para os EUA, aquilo é ele, só pode ser ele.


A Pedra do Reino trata da luta pelo poder, mas narra uma saga familiar, sobre três irmãos, dos quais Quaderna será o cronista. Dois deles vão lutar pela herança. Pela própria escolha do ator, você toma partido por Sinésio (Paulo César Ferreira, com aqueles grandes olhos claros). A cena em que ele parte com a mulher é linda, mas minha cena favorita é a do encontro de Sinésio e Cristiano, o terceiro irmão.


Sinésio vem de sina. Ao se transformar no ‘prinspo’ alumiado, ele encarna o sebastianismo, que é forte na nossa cultura, o mito do eterno retorno. Mas não sabemos se Sinésio vem para libertar o povo ou como um marionete dos poderosos. A cena em que ele parte com a mulher é linda, sim. Não estou mais nessa de ficar me preocupando com a beleza da imagem, da fotografia, da música. Entendo que você está falando do sentido da cena. Mas a mais forte, para mim, na Pedra, é o confronto do outro irmão Arésio (Luiz Carlos Vasconcelos), com o guerrilheiro, que quer capitalizar o ódio dele para a luta pela libertação dos oprimidos, mas Arésio está mais centrado na sua luta pelo poder, pela herança. Aquilo é uma tragédia. Não creio que exista outra cena forte como aquela na TV, nem no cinema brasileiro atual. Pensar A Pedra só como espetáculo circense/audiovisual, seria empobrecedor. A política é essencial em Ariano como na adaptação.


É como se você aspirasse a uma síntese do Brasil.


Não é bem uma síntese, é mais uma proposta de discussão, de busca do entendimento sobre quem somos nós.


A síntese só virá pela multiplicidade cultural proposta no Quadrante, quando ficar ponto.


Acho que nem aí. Poderemos nos entender melhor, quem sabe, encarar os desafios da nossa identidade, mas o Brasil é muito vasto, muito rico. Temos de ser unos na nossa multiplicidade. Qualquer tentativa de visão centralizadora, principalmente do eixo Rio/São Paulo, só tende a nos empobrecer.’


Luiz Carlos Merten


A Pedra do Reino leva à discussão o Brasil real


‘Na abertura de A Pedra do Reino, a microssérie que Luiz Fernando Carvalho adaptou do romance de Ariano Suassuna – que inicia seu projeto Quadrante, devendo ir ao ar de hoje a sábado, na Globo -, um amplo movimento de câmera revela a paisagem, o sertão. Um corte e o protagonista, Quaderna, literalmente cai dentro do próprio relato, na pele do velho palhaço que, em sua carroça/palco, abre um grosso livro e dá início à representação de um romance de características especiais.


Diante da profusão de imagens e sons, o telespectador poderá pensar que, depois de Hoje É Dia de Maria – Segunda Jornada, Luiz Fernando está voltando, pela segunda vez, ao universo que já abordou de forma tão criativa. Vários elementos podem ser os mesmos, mas ele não se repete. O romance de Ariano Suassuna abre uma janela para que o diretor investigue a própria identidade brasileira, o tema em discussão nas quatro adaptações que compõem o Quadrante.


Luiz Fernando não deu apenas uma entrevista para falar sobre seu projeto. Ele também deu ao Estado o privilégio de ter sido o único jornal a assistir à íntegra de A Pedra do Reino. O livro foi publicado em 1971, em pleno milagre brasileiro, quando a ditadura militar capitalizava a euforia produzida pela vitória da seleção brasileira na Copa do México. Começava ali uma era de consumo que culmina no atual mundo globalizado. Ariano e, agora, Luiz Fernando, vão na contracorrente. Eles acreditam que só o reconhecimento da nossa identidade pode nos fortalecer neste mundo de sonhos tão massificados.


O diretor sabe que trilha um caminho particular no audiovisual brasileiro. Não quer ser rotulado de diretor de TV nem de cinema e, principalmente, não quer, sob hipótese nenhuma, que digam que ele faz cinema na TV (e vice-versa). O próprio Luiz Fernando chama sua tentativa de abordagem do universo encantado e labiríntico de Suassuna de organismo audiovisual, dividido em cinco partes que compõem um corpo imperfeito. Alma, tronco, cabeça, membros, coração. Cada um corresponde a um capítulo, do primeiro ao quinto.


São três tempos e espaços diferentes. No primeiro, o velho palhaço comanda o espetáculo de rua. No segundo, Quaderna está preso e dá origem ao seu projeto monumental de criar a grande epopéia nordestina (e brasileira). No terceiro, o fio condutor é o inquérito promovido pelo Juiz Corregedor, que vai levar Quaderna à prisão. Todos esses tempos e espaços são interligados pelo assassinato de um grande fazendeiro e pela disputa entre dois de seus filhos, Arésio e Sinésio, pelo espólio. Luiz Fernando põe na tela o linguajar de Ariano. O telespectador precisa ficar atento para não se perder no vaivém das imagens (e da trama). Ficar esperto é preciso. Luiz Fernando Carvalho não propõe só um grande espetáculo barroco para os olhos e ouvidos. Há uma consistente discussão política em A Pedra do Reino, na qual o Brasil fictício de Ariano tem tudo a ver com o País real.’


Etienne Jacintho


Mafiosos sem culpa


‘Foi ao ar anteontem nos Estados Unidos, o último episódio de Família Soprano (The Sopranos), a série da HBO, que é considerada o melhor drama dos últimos tempos. Os Sopranos foram criados há oito anos para mostrar o estilo de vida e os contratempos de uma família de mafiosos. E a saga chegou ao fim em seu 86º capítulo.


Tony, interpretado pelo ator James Gandolfini, comandou uma das famílias mais imperfeitas da TV – e uma das mais realistas. Toda a história da máfia foi construída com o auxílio de um ex-mafioso. E a ficção criou Os Sopranos como uma versão moderna de O Poderoso Chefão, mas sem italianices exageradas. Os Sopranos são tipicamente americanos.


O trunfo da última temporada foi mostrar o desgaste do chefão sem ser piegas. E, quando tudo parece perdido, Tony dá um jeitinho, como sempre. O capítulo final reflete essa decisão dos roteiristas de manter a realidade. Não há arrependimentos, culpas nem peripécias hollywoodianas para redimir ninguém. Afinal, a vida real não tem dessas coisas.


Aqui no Brasil, Família Soprano vai ao ar na HBO, aos domingos, às 21 horas; e no SBT, às quintas, às 21h15.


entre-linhas


A bolsa de apostas da TV Cultura indica que Paulo Markun – que assume a presidência da Fundação Padre Anchieta na quinta-feira – nomeará Ambar de Barros para a direção de Infantis do canal, Hélio Gondenstein para a direção de Cultura e Elói Gertel para a direção de Jornalismo.


O mais novo romance de Paraíso Tropical, Taís (Alessandra Negrini) e Ivan (Bruno Gagliasso), caiu no gosto do público. As cenas ‘calientes’ envolvendo a dupla fazem a audiência da novela das 9 subir.


Por falar em Paraíso, Cacau Hygino entra esta semana na trama, como um fotógrafo que ajudará Daniel (Fábio Assunção) a desvendar a farsa armada por Taís (Alessandra Negrini).


Ao contrário do noticiado pela imprensa internacional, o reality show Living with the Beckhams, que mostrará em seis episódios o dia-a-dia de David e Victoria Beckham, não foi cancelado. Continua sendo a grande aposta da NBC para este ano.


MC Leozinho, do hit ‘ela só pensa em beijar…’, grava amanhã participação no Casseta & Planeta Urgente!.


É a velha e já manjada fórmula do extinto Namoro na TV (do SBT) que vem alavancando a audiência do Melhor do Brasil, da Record. O programa, que registra média de 9 pontos, chega a subir 4 pontos de audiência durante a exibição do Vai dar Namoro.’


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