‘O assunto está de volta à sala de jantar. Menos de um ano depois da exibição de Mulheres Apaixonadas, que mostrou o amor entre as estudantes Clara (Aline Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli), a Rede Globo coloca em discussão novamente a homossexualidade feminina na novela das 9 – ou das 8 nos Estados sem horário de verão. Em Senhora do Destino, as personagens Jennifer (Bárbara Borges) e Eleonora (Mylla Christie) vão viver um romance. Jennifer ainda não se assumiu. O drama da personagem vai envolver justamente a dúvida sobre sua opção sexual, até ela se descobrir de fato apaixonada por Eleonora.
Bárbara, a atriz, diz estar preparada para encarar a personagem e não teme ser estigmatizada. ‘Acho que hoje em dia o público já consegue diferenciar ficção de realidade e a descoberta sexual de uma jovem tem sido feita com menos angústia, mais compreensão por parte da família e da sociedade. De qualquer forma, tenho certeza de que as meninas irão saber reconhecer que, antes de mais nada, Jennifer é uma jovem em processo de descoberta’, diz Bárbara.
Por meio de sua assessoria de imprensa, Mylla Christie alegou que não queria aparecer falando sobre lesbianismo. Esta é a segunda personagem de Mylla envolvida com o tema. Na minissérie Engraçadinha, Seus Amores e Seus Pecados, 1995, Mylla viveu Silene, que não era gay, mas que despertava a libido de Letícia (Maria Luísa Mendonça, prima de sua mãe, Engraçadinha, (Cláudia Raia).
Discrição e elegância
Mesmo com uma previsível aceitação do público, o autor da trama, Aguinaldo Silva, não pretende polemizar nas cenas entre as meninas.’O público não gosta de cenas ousadas, sejam elas quais forem. As relações heterossexuais, numa novela, também devem ser tratadas com um mínimo de discrição e elegância. Não creio em assuntos tabus, mas concordo que nenhum assunto pode ser abordado de forma superficial ou grosseira’, diz Aguinaldo.
Tabu ou não, o fato é que a aceitação do público em relação ao tema mudou. Reflexo disso foi a popularidade do casal Clara (Aline Moraes) e Rafaela (Paula Picarelli) em Mulheres Apaixonadas. Na época, os telespectadores torciam tanto pelas personagens que a história delas, antes uma trama paralela, ganhou status maior.
Tudo bem que não teve beijo, abraços ou mãos dadas, mas o número de participações de Alinne Moraes em comerciais quadruplicou segundo seu empresário, Antônio Amâncio. Foi uma surpresa para ela. ‘Confesso que eu me preparei até para ser hostilizada, mas não foi isso que aconteceu’, conta Alinne. ‘No início da novela as pessoas me olhavam e comentavam, mas não vinham falar comigo. Eu percebia isso e, até por timidez, desviava o olhar, jogava o cabelo no rosto e disfarçava’, diz.
Alinne só percebeu a simpatia do público quando foi abordada na rua por uma senhora, revoltada com as atitudes da mãe da personagem Clara, que proibia o namoro. ‘Ela me disse que a Clara tinha todo o direito de viver o amor com a outra’, fala Alinne, que também recebeu várias cartas de meninas homossexuais que dividiram o drama com ela e se espelhavam em Clara. ‘Eu não tinha maturidade e não sabia o que responder. Sempre tive amigos homossexuais, mas só vivendo a Clara tive a noção do que era o preconceito.’
Preconceito que se escancarou quando foi ao ar a novela Torre de Babel, do autor Silvio Abreu. Suas personagens, Rafaela (Christiane Torloni) e Leila (Silvia Pfeiffer), geraram manifestações dos setores mais conservadores da sociedade. A TFP – Tradição, Família e Propriedade – expediu abaixo-assinados à Globo contra Torre de Babel. A Associação das Escolas Particulares de São Paulo, que reúne colégios tradicionais do Estado, chegou a sugerir aos pais de alunos que boicotassem os patrocinadores da novela.
Resultado: Rafaela acabou morrendo na explosão do shopping que dava nome ao folhetim, o que suscitou comentários de que Silvio teria sido obrigado a ‘matar’ a personagem por repúdio do público, principalmente pelos baixos índices de Ibope, que chegaram a 35 pontos – as novelas do horário na Globo oscilam entre 45 e 55.
‘A morte estava prevista na sinopse. O que o público não aceitou foi Leila se unir depois da morte da amante à personagem de Glória Menezes, um exemplo de mulher e mãe para os telespectadores’, explica Silvio. ‘O público repudiou a idéia de ver Glória Menezes na mesma cama que Silvia Pfeiffer’, diz o autor.
Em manifesto contra a reação conservadora, os autores incluíram uma mensagem quase subliminar na despedida do casal de lésbicas. ‘Só pode ser este maldito preconceito!’: é a última fala de Rafaela a Leila, antes de o shopping explodir.
Silvio de Abreu acredita que Rafaela e Leila geraram polêmica porque já viviam juntas desde o início da novela. ‘Elas já foram apresentadas ao público como namoradas. Na novela de Manoel Carlos (Mulheres Apaixonadas), as meninas não foram introduzidas na trama como homossexuais logo no começo. Deu tempo de o público criar empatia primeiro, descobrir que elas eram legais, estudiosas, bom caráter’, continua.
A Christiane Torloni acredita que Mulheres Apaixonadas e Senhora do Destino tratam do lesbianismo entre adolescentes e isso torna a aceitação mais simples. ‘Rafaela e Leila era um casal bombástico. Eram maduras, bonitas e bem-sucedidas’, diz a atriz. ‘As outras novelas trataram e tratam do amor adolescente, e na adolescência a sociedade aceita que se experimentem mais coisas, inclusive relações com pessoas do mesmo sexo. E isso não é necessariamente uma opção sexual, mas uma fase de experimentação’, opina.
O pioneiro na abordagem do lesbianismo na TV foi o autor Gilberto Braga, em Vale Tudo, de 1988. As personagens Laís (Cristina Prochaska) e Cecília ( Lala Deheizelin) eram donas de uma pousada em Búzios. Assim como Rafaela, Cecília também morreu – levantando a questão de quem ficaria com os bens – e Laís terminou feliz em sua pousada, ao lado de Marília (Bia Seidl).
Homem com homem ou mulher com mulher?
Não é consenso entre os autores que a homossexualidade feminina seja mais aceita pelo público que a masculina. Para Silvio de Abreu, tudo é uma questão de ‘acostumar’ os telespectadores. ‘A novela tem capacidade de colocar assuntos em pauta. Quando o problema é apresentado, ele acaba fazendo parte da rotina das pessoas e sendo natural’, fala Silvio. ‘Isso não significa apelar. Acho que a sociedade está longe de aceitar um casal homossexual na mesma cama, e nem acho que isso interessa ao público. E, como autor, tenho que escrever o que as pessoas gostam’, diz.
Quando escreveu A Próxima Vítima, de 1995, Silvio diz ter tido problemas com a Globo para colocar no ar a relação entre Sandrinho (André Gonçalves) e Jeferson (Lui Mendes). ‘Era um assunto novo, mas a aposta valeu a pena e o público gostou dos personagens’, lembra o autor.
Para Aguinaldo Silva, o que pesa é o modo como o assunto é abordado. ‘Já falei também de homossexualismo masculino em Suave Veneno (Diogo Vilella e Heitor Martinez eram os atores), de 1998, e Pedra sobre Pedra (o personagem de Pedro Paulo Rangel era apaixonado pelo de Paulo Betti), de 1992. Nas duas ocasiões não senti qualquer problema da parte do público’, diz Aguinaldo. E, a julgar pelo bom ibope de Senhora do Destino (mais de 50 pontos em São Paulo), o tema não tem afastado a platéia da frente da TV.’
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‘Na TV paga, elas são minoria’, copyright O Estado de S. Paulo, 14/11/04
‘A audiência norte-americana já expulsou da tela uma famosa atriz homossexual. Ellen DeGeneres, comediante, viu sua série Ellen ser gongada. Ex-namorada de Anne Heche, ela não conseguiu cativar o público para sua causa. A atriz sempre levanta a bandeira contra o preconceito em manifestações, na TV e até no cinema. Hoje, comanda um talk-show.
Nos seriados produzidos lá fora, os homens homossexuais levam vantagem. Atrações como Will & Grace e Queer Eye for the Straight Guy vão bem. Em Will & Grace, quatro atores dividem os esquetes – dois homens e duas mulheres. A temática gay envolve Will e seu amigo Jack. Grace é hetero e Karen tem somente alguns momentos mais liberais. Mesmo no avançadinho Queer as a Folk (Os Assumidos), os homens gays também são maioria.
Relacionamentos amorosos entre mulheres aparecem apenas de relance em algumas séries. Lésbicas raramente são protagonistas. No início de Friends, Ross foi largado pela mulher, que se apaixonou por outra mulher. O mesmo caso foi tema do primeiro episódio de Two and a Half Men. Em Sex and the City, Samantha teve seu primeiro relacionamento mais sério com Maria, interpretada por Sônia Braga. Foi um escândalo.’
SENHORA & JORNALISMO
Cristiane Costa
"Jornal é coisa de novela", copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 16/11/04
"Os leitores de NoMínimo que assistiram à cena na novela ‘Senhora do Destino’ devem ter estranhado. Ao anunciar os planos para reerguer o ‘Diário de Notícias’, jornal fechado pela ditadura, Dirceu de Castro (personagem interpretado por José Mayer) contava aos amigos que pretendia pedir conselhos aos jornalistas mais importantes do país. Entre os nomes citados textualmente, quatro colunistas deste site: Arthur Dapieve, Augusto Nunes, Mario Sergio Conti e Zuenir Ventura.
Foi o bastante para o telefone de Augusto não parar mais. Os parentes de Taquaritinga, no interior de São Paulo, ligaram, eufóricos. ‘Pela primeira vez na vida, senti o que é ser uma celebridade. Minha cidade parou. Se eu ganhasse o Nobel de Literatura não ia ser tão importante’, conta Augusto. ‘Sério, fiquei muito honrado em ter meu nome citado na novela. E olha que nem conheço o Aguinaldo Silva pessoalmente.’
Com a menção, o autor, ele próprio um repórter e editor de Polícia consagrado em outros tempos, queria homenagear os jornalistas que mais admira. Só não esperava que a ficção se misturasse com a realidade e os ilustres colegas levassem a sério o convite. Afinal, que conselhos os colunistas NoMínimo dariam a Dirceu de Castro?
Antes de mais nada, é bom deixar claro que o tal ‘Diário de Notícias’ da novela nada tem a ver com o real. De fato, existiu um ‘Diário de Notícias’ no Rio de Janeiro, entre 1930 e 1974, mas, se ele sofreu com uma ditadura, foi com a do Estado Novo. Por encarar a censura do DIP, o proprietário, Orlando Dantas, foi várias vezes parar na polícia. Ao contrário do ‘Diário de Notícias’ de mentirinha, no entanto, o verdadeiro apoiou o golpe militar de 64 e só fechou 10 anos depois. Com a situação financeira agravada pelos gastos na construção de uma nova sede (quem já viu esta novela em outros jornais da vida real?), foi vendido em julho de 1974 e deixou de circular pouco depois.
Ditadura de verdade
Segundo Aguinaldo Silva, o nome ‘Diário de Notícias’ foi escolhido por um motivo prático: ‘Da enorme lista de sugestões que apresentei, era o único que não estava registrado’. Agora, o título está nas mãos das Organizações Globo. Com um merchandising desses, em pleno horário nobre, não é difícil imaginar que um gênio do marketing resolva que é hora de fazer o ‘Diário de Notícia’ renascer das cinzas.
Diz o autor que seu jornal é uma mistura de outros dois: o ‘Correio da Manhã’ e o ‘Jornal do Brasil’. Aliás, o repórter Aguinaldo Silva trabalhou no ‘JB’ no final da década de 60 – mais precisamente, até ser preso, em 1969. Solto no ano seguinte, Aguinaldo Silva foi para ‘O Globo’. De lá, só saiu em 1978, para usar a experiência ganha em reportagens premiadas sobre o Esquadrão da Morte para escrever a série ‘Plantão de Polícia’. Tentar uma novela foi o caminho natural para um repórter que já tinha enveredado pela ficção em romances como ‘A redenção de Jô’ e ‘A república dos assassinos’. Ele garante, porém: ‘Nunca tinha pensado em escrever para a TV. E até hoje digo que não sou novelista, estou novelista. Sou mesmo é jornalista’.
Aguinaldo Silva nunca chegou a trabalhar no ‘Correio da Manhã’. Não que não quisesse. Na década de 60, qualquer jornalista brasileiro sonhava em integrar o time daquele que foi um dos mais importantes jornais da história do país. Criado em 1901, por Edmundo Bittencourt, por lá passaram nomes como Artur Azevedo, Coelho Neto e Lima Barreto, que usou sua redação como cenário para ‘Recordações do escrivão Isaías Caminha’. No ‘Correio da Manhã’, Aurélio Buarque de Holanda e, depois, Graciliano Ramos chefiavam a revisão, enlouquecendo com suas minúcias pobres focas, como Antonio Callado, por exemplo; Carlos Lacerda, que depois foi demitido e virou inimigo do jornal no tempo da ditadura, cuidava da reportagem política; Rubem Braga mandava notícias do front em plena Segunda Guerra; Carlos Heitor Cony editava a primeira página. E isso é só uma pequena parcela dos grandes nomes que fizeram a fama de um jornal que tinha até seu Petit Trianon, referência jocosa à Academia Brasileira de Letras.
Assim como o ‘Diário de Notícias’ da novela, o ‘Correio da Manhã’ pagou um alto preço por resistir à ditadura. Jornal mais de opinião do que de informação pura e simples, sofreu um forte bloqueio do governo militar, que pressionou as empresas privadas a pararem de anunciar em suas páginas. Foi um baque para um órgão de imprensa que detinha um terço do mercado de classificados do Rio.
Três mulheres em uma
Neste ponto, a história real começa a se parecer com a da novela. No dia 13 de dezembro de 1968, o diretor-superintendente do ‘Correio da Manhã’ e seu redator-chefe foram presos. Em 7 de janeiro, foi a vez de toda a diretoria, incluindo a presidente, a poderosa Niomar Moniz Sodré Bittencourt, que teve os direitos políticos cassados por 10 anos. Baiana de personalidade forte, Niomar foi a principal inspiradora da Josefa, personagem vivida na novela por Marília Gabriela. Mas não só ela, adverte o veterano jornalista Wilson Figueiredo, que se divertia vendo a história da imprensa brasileira nos anos de chumbo passar em flashback diante de seus olhos, na primeira parte de ‘Senhora do Destino’. Para ele, também se refletem na figura da dona de jornal capaz de enfrentar os militares duas poderosas viúvas: Ondina Dantas, herdeira do verdadeiro ‘Diário de Notícias’, e a condessa Pereira Carneiro, do ‘Jornal do Brasil’.
A verdade é que os militares tanto fizeram que conseguiram acabar com o ‘Correio da Manhã’. Após ter uma edição inteira apreendida e a circulação suspensa por vários dias, punição baseada na tal Lei de Segurança Nacional, o jornal dispensou metade da redação e, em março de 1969, entrou com um pedido de concordata preventiva. Arrendado por um empreiteiro, perdeu a força. Quando deixou de ser publicado, em 1974, o ‘Correio da Manhã’, que alcançara tiragens superiores a 200 mil exemplares, tinha apenas oito páginas e não vendia mais do que 3 mil jornais. Hoje, sua sede, na Rua Gomes Freire, 471, no centro do Rio, está em ruínas. Só o logotipo na fachada lembra a história desse jornal que serviu de modelo para o combativo ‘Diário de Notícias’ de ‘Senhora do Destino’.
Mas se a identidade do ‘Diário de Notícias’ e de sua dona são facilmente reconhecíveis para quem viveu ou mesmo pesquisou a época, o mesmo não se pode dizer do personagem Dirceu de Castro. Aguinaldo Silva despista, dizendo não ter se inspirado em ninguém em especial. ‘Misturei vários jornalistas da minha geração. Pensei em pessoas que eram jovens no final dos anos 60, como o Marcelo Beraba (hoje ombudsman da ‘Folha de S.Paulo’) e Merval Pereira (hoje colunista político do ‘Globo’), que atualmente estão na faixa dos 50. Juntei alguma coisa deles com histórias de outros jornalistas que foram ativistas políticos e tiveram que se exilar, como o personagem’, explica.
A idéia de criar, nem que seja na ficção, um jornal que lembre o ‘Correio da Manhã’ e o ‘Jornal do Brasil’ dos tempos áureos fascina o autor da novela. ‘Sinto falta de mais opinião, de grandes reportagens, mas existe público para um jornal como este hoje? Confesso que não sei. As pessoas são cada vez mais superficiais. Infelizmente, talvez não desse certo’, conjectura.
Coisa de novela
O ‘Diário de Notícias’ de seus sonhos não é muito diferente do jornal que o conselho do NoMínimo sugere. ‘Dirceu, invista o máximo possível no seu corpo de jornalistas. O nome forte do jornal é um grande trunfo, mas a redação será seu maior patrimônio’, aponta Arthur Dapieve.
Por sinal, na redação ideal do ‘Diário de Notícias’, dois jornalistas teriam lugar garantido, segundo Aguinaldo: o próprio Dapieve e Luiz Garcia (atualmente colunista do ‘Globo’), a quem confiaria a direção do projeto. Quem não pisaria lá? ‘Seguramente jornalistas que escrevem sobre o que não gostam. Por exemplo, os críticos de cinema do Globo’, alfineta.
Por enquanto, os grandes nomes da imprensa nacional não precisam se preocupar em fazer aulas de interpretação. Embora Dirceu de Castro tenha passado um furo para a coluna de Ancelmo Góis esta semana, por telefone, Aguinaldo Silva não pretende chamar jornalistas para participar da novela, como fez Gilberto Braga em ‘Celebridades’, com uma justificativa peculiar: ‘Tenho medo de não aceitarem. Sabe como é, santo de casa não faz milagre. Como também fui jornalista, não devo ter o mesmo prestígio que o Gilberto’.
Longe das telas, Zuenir Ventura – que fez uma participação no papel dele mesmo em ‘Celebridade’ – não se furta a dar uma dica a Dirceu de Castro: ‘Em vez de fazer um jornal convencional, compartimentado em política, economia, cultura, etc., deveria fazer um jornal temático que trate só de conflitos, de todos os tipos, de preferência policiais, mas também amorosos, sociais, políticos, esportivos. Para editá-lo, eu chamaria aquele que foi um de nossos melhores repórteres policiais: Aguinaldo Silva. Como colunistas, algumas das cabeças que melhor entendem a nossa alma em estado de transe: Rubem Fonseca, Contardo Calligaris, Jurandir Freire Costa, João Batista Ferreira, Drauzio Varella, Patrícia Melo, Luiz Alfredo Garcia-Roza’.
Ainda sob o impacto da fama súbita, Augusto Nunes também leva a sério o desafio. ‘Dirceu, encomende a todos esses jornalistas que você mencionou grandes reportagens, perfis, entrevistas, matérias que deixem de lado as declarações oficiais e cubram a vida das pessoas. É preciso tirar os jornalistas mais talentosos deste país dos cargos e colunas que ocupam e botar essa turma em campo’, aconselha.
De Paris, Mario Sergio Conti prefere se abster. Afastado há dois anos do Brasil, está tão por fora que nem imaginava que reerguer um jornal falido pudesse ter virado coisa de novela."
NEGROS NA TV
‘Negro ganha espaço’, copyright O Estado de S. Paulo, 14/11/04
‘E não é que negro dá ibope fora da cozinha de madame de novela, dos camburões perseguidos pelas câmeras dos shows policiais e dos barracos armados em estúdio?
No ranking dos cinco programas mais vistos da Record estão Escrava Isaura, Domingo da Gente e As Mais Belas Negras do Brasil. A novela, um sucesso de 11 pontos de média no ibope (Grande São Paulo), é protagonizada por atores brancos, mas como seu pano de fundo é o odioso Brasil escravocrata, tem personagens negros importantes e monta um painel da crueldade com que foram tratados os africanos pelos senhores rurais.
O show de auditório Domingo da Gente, comandado pelo cantor Netinho, preocupa-se com o gueto, como ele gosta de se referir aos negros pobres. Claro que a espinha dorsal do programa é o assistencialismo. Toda semana, uma jovem pobre tem o seu momento de Cinderela. É resgatada no bolsão de pobreza para conhecer o mundo do consumo.
Ela é levada ao cabeleireiro, freqüenta shoppings, restaurantes, passeia de limusine, ganha presentes e aparece na TV. O público sabe o que virá. A fórmula é antiga e fez sucesso no programa do Gugu Liberato com o próprio Netinho no papel do príncipe, mas acompanha firme o deslumbramento e as lágrimas da gata borralheira.
É dentro desse espírito que Netinho criou o concurso As Mais Belas Negras do Brasil com a revista Raça e uma agência de modelos. Dezoito mil jovens inscreveram-se nas afiliadas da Record. E agora 120 disputam o título de mais bela, um carro, a capa da revista e um contrato de trabalho com a agência. Exibido aos domingos, o programa tem registrado, na Grande São Paulo, 9 pontos de média no Ibope, quase empatando com o SBT no segundo lugar.
É um concurso de beleza como os tradicionais, com desfile de maiô e vestido longo (felizmente sem os pavorosos trajes típicos). As garotas dão depoimentos sobre o sonho de ter chegado lá e constata-se que a maioria vive nas mesmas condições que as que se inscrevem para serem princesas por um dia. Contam que, sem a solidariedade da família, dos vizinhos e dos amigos, nem sequer teriam chegado a São Paulo. É de cortar o coração, mas não tem exagero.
M as não é só a beleza da mulher que o programa exalta. A beleza também está no ritmo, na dança, no hip hop, que Netinho recepciona com toda familiaridade. Durante o programa, uma dupla apresenta reportagens sobre expoentes da raça. Martin Luther King, Nelson Mandela, Zumbi dos Palmares, Gilberto Gil, Benedita da Silva, há lugar para todos na salada do orgulho negro.
Não há sutileza. É explícita a intenção de levantar a auto-estima do negro. Dar visibilidade a uma gente que só se vê em condições muito desfavoráveis no vídeo. Ao se ver representado em um cenário diferente do que lhe reserva diariamente a TV, esse telespectador se sente respeitado e não muda de canal.’
TV A CABO
‘Projeto restringe propriedade de TV a Cabo e Internet’, copyright Agência Câmara de Notícias, 5/11/04
‘A Câmara vai analisar o Projeto de Lei 4209/04, do deputado Luiz Piauhylino (sem partido-PE), que disciplina a propriedade e a programação de Internet e da TV a Cabo no Brasil.
Hoje, a propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País. Além disso, pelo menos 70% do capital total e do capital votante devem pertencer, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos. O projeto inclui nessas regras a TV a Cabo e os sites brasileiros. A extensão dessa limitação à Internet impedirá que as empresas que exploram os serviços de telefonia fixa e móvel continuem prestando o serviço de provimento de acesso à Internet.
Gestão de conteúdo
Pela proposta, também estão sob as regras de nacionalidade brasileira os gestores das atividades empresariais, os responsáveis editoriais e os responsáveis pelas atividades de seleção e direção de programação.
Dessa forma, serão nulos os contratos que procurem subordinar a gestão das atividades de produção, programação ou provimento de conteúdo à orientação de pessoas físicas ou jurídicas estrangeiras ou mesmo de brasileiras que não atendam às exigências.
Além disso, independentemente da plataforma tecnológica utilizada para a transmissão de um conteúdo de comunicação social eletrônica, será proibido a ele sobrepor ou associar patrocínio, publicidade, interatividade, comercialização de produtos ou prestação de serviço sem a expressa autorização de seu programador original.
Pela proposta, será concedido um prazo de 24 meses para que as empresas se adaptem às novas regras. O descumprimento implicará as penalidades de multa, suspensão e perda da autorização, e perda da concessão ou da permissão.
Tramitação
A proposta será analisada em caráter conclusivo pelas comissões de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio; Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática; e de Constituição e Justiça e de Cidadania.’
ECONTRO DE TV
‘Mesa une Casseta, MTV e Pânico’, copyright O Estado de S. Paulo, 9/11/04
‘O Casseta Marcelo Madureira, o diretor de programação da MTV, Zico Góes, e Rodrigo Scarpa, o Repórter Vesgo da turma do Pânico, estarão juntos pela primeira vez em uma das mesas que compõem o 3.º Encontro Internacional de TV, evento organizado pelo IETV – Instituto de Estudos de Televisão. Representantes de produtos que souberam inovar a linguagem na TV, os três unem forças no debate Transgressão e Novos Modelos de Programação, no segundo dia da agenda – o evento será nos dias 25 e 26, no Sesc Flamengo, Rio.
Outra mesa do dia 26, intitulada Atalhos e Obstáculos da TV Popular, pretende unir o deputado Orlando Fantazzini, líder da campanha Quem Financia a Baixaria É contra a Cidadania, com Wagner Montes e Nelson Rubens – ambos a confirmar presença – e Règine Chaniac, pesquisadora do Institut National de L’Audiovisuel, da França.
Do mercado internacional também são esperados Daniel Dayan, diretor de Pesquisa do Centro Nacional de Pesquisas Científicas (Paris), e Ron Simon, diretor do Museu de Televisão de Nova York.
O presidente do IETV, que promove o encontro, Nelson Hoineff, participa da mesa de abertura, Para onde Caminha a Nossa TV, ao lado de Roberto Franco, presidente da Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), Dennis Munhoz, presidente da Record (a confirmar), Orlando Diniz, presidente da Fecomércio do Rio de Janeiro, e Orlando Senna, secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura (também a confirmar).
Das redes nacionais, são aguardados ainda Antonio Telles (Bandeirantes), Evandro Guimarães e Luiz Gleiser (ambos Globo).
Antropólogo e produtor cultural, Hermano Vianna participa da mesa Caminhos para a TV Digital, ao lado do publicitário e produtor da Labocine José Rubens Hirsch, Liliana Nakonechnyj, vice-presidente da SET, Luiz Velho, pesquisador do Instituto de Matemática Pura e Aplicada, e de José Augusto de Blasiis, diretor de Operações da Casablanca Lab.
As inscrições estão valendo pelo site do IETV, www.ietv.org.br.
Gugu encosta na audiência do ‘Domingão do Faustão’
Depois de um ano sem perder de Gugu, Faustão esteve perto de ver sua primeira derrota. O Domingão perdeu do Domingo Legal, das 18 às 20h30, com 19 pontos, ante 22 do concorrente (segundo dados da Globo). Já o SBT afirma que a derrota foi maior. Das 18h01, às 20h19, Gugu teve 23 pontos e Faustão, 19. No primeiro confronto, das 14h04 às 15h49, o Domingão teve 20 pontos, ante 11 do SBT. Na média geral, as emissoras clamam a vitória. A Globo diz que, das 14h04 às 20h30, obteve 20 pontos, contra 19 do SBT. Já o SBT faz seus cálculos das 15h41 às 20h19, com 21 pontos, ante 20 da Globo.
Entrelinhas
‘Band of Brothers’, série produzida por Tom Hanks e Steven Spielberg, que já foi atração na HBO, chega ao canal A&E Mundo. O seriado em dez capítulos sobre a 2.ª Guerra será exibido de 15 a 19 de novembro, às 21 horas.
A Rede TV! adquiriu, com exclusividade em televisão aberta, os direitos de transmissão de importantes eventos esportivos. A partir do dia 27, a emissora vai transmitir a Superliga Brasileira de Vôlei masculino e feminino. Em 2005, irão ao ar a Copa São Paulo de Futebol Juniores e o Campeonato Brasileiro de Futsal.’