Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Eugene Robinson


‘Proponho que a mídia gaste menos de seus recursos preciosos e limitados fazendo o que estou fazendo agora: cobrindo a mídia. Não, não quero deixar todos os comentaristas de mídia sem emprego.


Sim, tem dias em que a produção ou não de uma matéria (jargão que se usa para qualquer texto jornalístico) é a matéria. Mas por favor, não todo dia.


Se cobríssemos governo, economia, relações exteriores, esportes, entretenimento e o restante da vida moderna com a mesma agressividade e abrangência com que cobrimos a nós mesmos, não teríamos que nos preocupar tanto com a queda da circulação de jornais e as audiências anêmicas da televisão. E mesmo se a chamada grande mídia se revelasse um dinossauro fadado a asfixiar-se na blogosfera rarefeita de oxigênio e fatos da internet, ao menos cairíamos combatendo.


Foi um nítido truque de salão que o governo de George W. Bush realizou na semana passada, concentrando a atenção no processo de cobertura e edição de Newsweek e afastando-a de fatos mais incômodos: os abusos físicos e psicológicos muito bem documentados de prisioneiros muçulmanos; a maneira como esses abusos envenenaram corações e mentes contra os EUA nos últimos três anos; e a erupção de revoltas mortíferas no Afeganistão, um país que supostamente havíamos pacificado.


O porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan, devia estar explicando por que o governo se afastou tão depressa do ainda problemático Afeganistão para se envolver de forma confusa no Iraque; assessores de imprensa do Departamento de Estado e do Pentágono deviam estar se esforçando para tranqüilizar o mundo de que o nefasto abuso de prisioneiros no Iraque foi encerrado e os responsáveis, incluindo os de cima que se ocultaram por trás dos ‘desmentidos’ enquanto tornavam os abusos possíveis, teriam de prestar contas.


Em vez disso, foi Newsweek que teve que se autoflagelar durante toda uma semana. Um bom truque – mas, de novo, nós da mídia fizemos o papel de assistentes do mágico.


Mágica depende de ilusão. Você faz um floreio elaborado com a mão direita para desviar a atenção, enquanto a mão esquerda empalma o ás ou destranca a porta da armadilha. É trabalho de uma imprensa livre observar a mão que o mágico quer que todos ignorem. Normalmente, nós fazemos um trabalho decente. Mas se o floreio diversionista é uma acusação a algum viés ou inépcia da mídia, nós caímos nele todas as vezes.


Mais que isso: ficamos alucinados. O que foi que Newsweek fez de errado além de usar a preguiçosa expressão ‘fontes disseram’ em sua matéria sobre a suposta profanação do Alcorão, quando na verdade havia apenas uma fonte? Havia, afinal, uma fonte bem situada, segundo Newsweek, e foi a fonte que cometeu o erro, dizendo depois que não poderia ter certeza que viu aquele específico ato de profanação – pôr o livro sagrado na privada – citado numa reportagem específica sobre abusos contra prisioneiros. O repórter escreveu com exatidão que ouvira uma pessoa em posição de saber. É isso que os repórteres fazem.


E os tumultos mortais: ‘Essas manifestações não estavam, de fato, relacionadas com a matéria de Newsweek,’ disse o presidente afegão, Hamid Karzai, na Casa Branca, anteontem. O governo não nega que houve exemplos de abuso do Alcorão, nem nega que a unidade de detenção em Bagram, no Afeganistão – com a qual os manifestantes estavam, certamente familiarizados – foi palco de violações realmente horripilantes. Mas nós ajudamos a transformar tudo isso numa questão de processo jornalístico e de nos amarrar com nós sobre o uso de fontes anônimas.


Todos os repórteres e editores prefeririam ter uma fonte declarada a uma anônima. Mas sem fontes anônimas, nós – e vocês – estaríamos menos bem informados. Para citar apenas um exemplo, Watergate não passaria do nome de um luxuoso prédio de apartamentos de frente para o Rio Potomac.


Nenhum repórter quer ser manipulado por uma fonte que se esconde sob o manto do anonimato. Mas este é o governo mais secreto de que se tem lembrança. Se você diz coisas inconvenientes em voz alta, com seu nome anexado, sofre conseqüências. Fontes anônimas são uma necessidade.


Vamos pôr as coisas a limpo: a Casa Branca comete um erro na inteligência sobre armas de destruição em massa no Iraque, apoiando-se pesadamente em suas próprias fontes não identificadas que acabam revelando ter agendas políticas próprias, e o que se segue é uma guerra em que dezenas de milhares de iraquianos morrem.


Estou sendo vago sobre o número porque o governo se recusa a contar. Milhares de jovens americanos são mutilados e mais de 1.600 perderam suas vidas; os caixões cobertos por bandeiras voltam para casa como em guerras anteriores, mas este governo não quer que você os veja. E nós devemos pôr a culpa nos procedimentos editoriais de Newsweek? Olhem minha mão direita, senhoras e senhores. Nada em minha manga.’



O Estado de S. Paulo


‘Mídia dos EUA quer limitar uso de fonte anônima ‘, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times e EFE , 24/05/05


‘Temendo se tornar livres demais na concessão de anonimato a fontes, órgãos noticiosos americanos, entre eles os jornais USA Today, The Washington Post, Los Angeles Times e The New York Times e a rede de televisão NBC News, estão tentando refrear a prática.


Mas alguns jornalistas temem que esses esforços os impeçam de fazer seu trabalho – em meio a um clima de agitação no qual a desconfiança em relação à mídia noticiosa é cada vez maior, hordas de novos críticos da mídia denunciam cada deslize na internet e casos judiciais põem em perigo sua capacidade de manter o anonimato de fontes não identificadas.


‘No momento, o pêndulo está indo longe demais na direção errada’, disse Stephen Engelberg, editor de projetos do jornal The Oregonian, de Portland. ‘A maioria dos jornais, se for honesta, dirá que tudo isso, somado, provavelmente criou um clima que não é encorajador para o tipo de reportagem que precisamos fazer.’


A discussão voltou à cena novamente em função da matéria publicada pela Newsweek, baseada em fontes anônimas, afirmando que militares americanos haviam profanado o Alcorão para pressionar detentos muçulmanos na prisão de Guantánamo. A notícia provocou uma onda de violência em vários países islâmicos, mas a revista se retratou dizendo que a informação poderia ser falsa.’



BBC EM GREVE


Christoph Driessen


‘Símbolo britânico, a BBC parou ontem ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 24/05/05


‘Sessenta anos depois da queda do seu império, os britânicos ainda contam com um reino em que o Sol nunca se põe: a BBC, que abrange todo o mundo. A cadeia de radiodifusão transmite suas informações todos os dias em 43 idiomas; em todo o mundo se valorizam sua independência e confiabilidade. Ontem, porém, a instituição mais inglesa depois da monarquia se viu afetada pela greve mais séria em várias décadas.


O programa de rádio Today é famoso por suas entrevistas pouco reverentes aos poderosos do mundo. Seja Tony Blair ou Kofi Annan, todos correm quando chamam do Today. Ontem, entretanto, um dos locutores anunciou: ‘Devido a uma greve, não estamos em condições de transmitir o programa’. A única parte atualizada foi a previsão meteorológica.


Tudo começou dois anos atrás com o assunto ‘Kelly’. Com base em informações do especialista em armas David Kelly, a BBC informou que o governo de Blair havia exagerado de forma consciente a ameaça que Saddam Hussein representava. Quando o nome de Kelly veio à luz, este cometeu suicídio. Uma investigação concluiu que a BBC havia exagerado as acusações do especialista.


Esta sentença colocou a emissora em uma crise. O diretor-geral Greg Dyke e o presidente do conselho de direção, Gavyn Davies, se demitiram. Vários políticos exigiram a subordinação da BBC ao controle do Estado. Entretanto, o governo deixou claro que não quer isso. A BBC deve continuar a ser administrada de maneira autônoma, e não passar a ser controlada por partidos e outros grupos sociais por meio de um conselho. Também deve continuar em vigor, pelo menos até 2016, a forma de financiar a empresa, por meio de impostos. Estas são as boas notícias para a BBC.


A má notícia é que os impostos já não podem aumentar com a mesma naturalidade e no mesmo nível de antes. Isso significa corte de custos. O homem que assumiu a tarefa é o novo diretor-geral, Mark Thompson. Para horror dos veteranos da BBC, Thompson vem da televisão privada. O executivo quer eliminar até 6 mil de um total de 27 mil empregos. Com isso, conseguiria economizar 500 milhões por ano. Os empregados não aceitam os cortes. E já programam mais duas paralisações para a próxima semana.’



INTERNET


Mariana Barros


‘Nascida na universidade, rede brasileira ganha as ruas ‘, copyright Folha de São Paulo, 25/05/05


‘A internet é global, mas desde que chegou por aqui foi marcada pelo chamado ‘jeitinho brasileiro’. A rede, que já teve caráter militar, na década de 60, e acadêmico, nas décadas de 70 e de 80, conquistou o mundo na década de 90, quando surgiu a internet comercial. Os brasileiros logo aproveitaram a novidade, que este mês comemora uma década.


‘A internet brasileira é rica em conteúdo nacional’, diz Demi Getschko, consultor do Comitê Gestor da Internet no Brasil (www.cg.org.br). ‘Tivemos participação imediata dos órgãos de mídia, como provedores e fornecedores de conteúdo, o que levou ao crescimento do conteúdo em português e à popularização do registro .br’, explica Getschko.


As primeiras redes brasileiras se desenvolveram no meio acadêmico, mas não havia um protocolo que as unificasse, como veio a acontecer com a chegada do TCP/IP -conjunto de regras que permitiu a comunicação global. ‘Era preciso realizar truques para mandar e-mails. A feitiçaria era parte do negócio’, lembra Alexandre Grojsgold, diretor de operações da Rede Nacional de Pesquisas (RNP, www.rnp.br).


Foi o Instituto Brasileiro de Análises Sócio-Econômicas (Ibase, www.ibase.org.br) que abriu a rede ao cidadão comum. Em 1989, foi criada a Alternex, com correio eletrônico e grupos de discussão. ‘Duas ligações diárias de DDI transmitiam a informação compactada’, diz Carlos Afonso, responsável pela iniciativa.


A rede foi mais bem organizada em 1992, por conta da ECO-92, no Rio de Janeiro. Universidades e organizações montaram uma estrutura capaz de informar ao mundo o que ocorria no evento.


Em 1995, surgiu a internet comercial. ‘No Brasil os pequenos provedores eram sufocados pela Embratel, que, apesar de não ter dado importância para a rede nos primeiros anos, tinha agora pretensões de monopolizar o serviço’, conta Antonio Tavares, presidente da Associação Brasileira dos Provedores de Acesso (Abranet, www.abranet.org).


Foi a portaria 004/95 do Ministério das Comunicações que permitiu a competição. Empresas de telefonia ficaram proibidas de fornecer o serviço ao usuário final, podendo fazê-lo apenas aos provedores. Foi criado também o Comitê Gestor da Internet no Brasil, que gerencia o registro .br.


Estima-se que em 1995 já houvesse 20 provedores e 120 mil usuários. ‘Logo, a internet foi capa das revistas ‘Time’, ‘Veja’ e ‘IstoÉ’, tema de novela, de música do Gilberto Gil, enfim, uma esculhambação’, brinca Alexandre Grojsgold, da RNP.


Universidades como a USP tornaram-se referência. ‘Éramos a maior central de profissionais da web, todos com 19 anos’, conta o professor do Laboratório de Sistemas Integráveis da USP (www.lsi.usp.br), Marcelo Zuffo. O computador de Zuffo se tornou, de improviso, o primeiro servidor da USP, em 1993. Apelidado de Jaguar, tinha oito processadores de 40 MHz. ‘Funciona até hoje’, garante o professor, que ainda nos anos 80 foi chamado pela reitoria para explicar uma conta telefônica no valor de US$ 10 mil -gasta em discagens para conexão.


Outro pioneiro foi o jornalista Sérgio Charlab, responsável por uma das primeiras versões on-line de um jornal brasileiro, o ‘Jornal do Brasil’ (www.jb.com.br). ‘A diretoria me achava um professor Pardal’, diz, referindo-se ao personagem inventor. Ele escaneava reportagens publicadas, colocava-as na internet e mostrava aos autores. ‘Quando o site oficial estreou, o meu já estava no ar há seis meses’, conta Charlab. ‘Meu lema era como o slogan da Nike: ‘Just do it’ (em versão livre, ‘simplesmente aja’)’, diz.


Apesar do início quixotesco, a internet brasileira cresceu e conquistou o público -no final do ano passado, 31,9 milhões de brasileiros tinham acesso à rede, segundo o Ibope/NetRatings. ‘Houve investimentos e captação de profissionais de várias áreas’, diz Alexandre Barreto, diretor do iBest, que premia anualmente os melhores sites nacionais.’



Juliano Barreto


‘Velocidade de acesso ao mundo on-line se multiplica ‘, copyright Folha de São Paulo, 25/05/05


‘A velocidade das conexões com a internet vem se multiplicando ao longo do tempo, enquanto os preços dos equipamentos e dos serviços caem constantemente.


Isso, no entanto, não quer dizer que os dez anos que separam o modem de 14,4 Kbps do acesso à banda larga tenham sido fáceis.


‘Existia na época uma rede voltada para trafegar voz, e não para tráfego de pacotes. Foi necessária a implantação de servidores de acesso discado em pontos estratégicos’, explica o gerente do Centro de Operações Nacionais da Embratel, Luciano Carino.


Carino foi um dos responsáveis pela implantação do primeiro ponto para a conexão de máquinas à internet no Brasil. Foi por meio desse backbone que os provedores passaram a oferecer acesso aos usuários.


As dificuldades para disseminar o acesso à rede mundial não ficaram apenas na parte técnica.


‘Quando a Telefônica assumiu, cerca de 7 milhões de pessoas esperavam por um telefone’, relembra Odmar Almeida Filho, vice-presidente de negócios residenciais da Telefônica.


Naquela época, o preço dos equipamentos era pouco acessível. Em 1993, um modem de 14,4 Kbps custava até US$ 1.000. Em 1996, os modelos de 28,8 Kbps já custavam R$ 250.


Naquele ano também chegaram ao Brasil os modems de 56 Kbps. Eles tinham problemas de compatibilidade que só foram resolvidos em 1998 com o lançamento do padrão V.90.


Isso contribuiu para baixar os preços ainda mais no final de 1998 (um modem de 56 Kbps custava cerca de R$ 99).


Banda larga


Os provedores rápidos chegaram em 1999, quando canais de TV a cabo e operadoras de telefonia ganharam o direito de prover acesso. As pioneiras foram a Net e a TVA, que lançaram serviços com velocidades de até 256 Kbps.


Em 2000, a Telefônica lançou o Speedy, que usava conexão via cabo e era capaz de fazer transferências de até 150 Kbps- atualmente já existem serviços com velocidade mais de dez vezes superior.


O que há dez anos tinha de ser feito em ambientes fechados e exigia máquinas de mesa, hoje é feito de qualquer lugar com dispositivos que cabem na palma da mão.’



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‘Provedores baixam preços e ampliam opções para o usuário ‘, copyright Folha de São Paulo, 25/05/05


‘Em 1995, navegar na internet era bem diferente. A tela tinha baixa resolução, limitando as páginas, e o humilde modem de 56 Kbps ainda estava em gestação nos laboratórios.


Hoje, a conexão dial-up permanece relativamente lenta, mas está muito mais acessível. Em 1996, pagavam-se R$ 25 por dez horas de conexão, serviço que atualmente pode ser obtido de graça.


‘Os insumos baratearam muito. Uma linha telefônica custava US$ 1.000, e [o acesso] era um processo quase artesanal’, explica Paulo Castro, que é diretor de planejamento do Terra e trabalhou na empresa NutecNet, que antecedeu o Terra e prestou consultoria à Embratel na abertura da internet comercial, em 1995.


Com a popularização da rede, os provedores começaram a oferecer planos ilimitados. ‘A empresa resolveu atender a um desejo latente no público, que era não ficar olhando no relógio na hora de navegar. É o mesmo desejo que você hoje vê expresso nesse movimento para a banda larga’, diz Márion Strecker, diretora de conteúdo do UOL, provedor que em janeiro de 1999 lançou um plano mensal ilimitado por R$ 35 (esse preço começa hoje em R$ 14,90).


Esse ano também marcou a chegada da gigante America Online, cuja entrada no país levou concorrentes a uma redução de preços. Apesar disso, a AOL enfrentou problemas: teve de lutar na Justiça pelo site www.aol.com.br, que já pertencia a uma empresa brasileira, e seu CD de instalação causou polêmica pelas modificações que fazia no computador.


No início deste mês, a empresa demitiu 80 de seus 580 funcionários no Brasil, alimentando rumores de que possa deixar o país. Procurada pela reportagem, a AOL não se manifestou.


Em 2000, os provedores gratuitos sacudiram o mercado brasileiro. Embora tenham atraído muitos usuários, nem todos sobreviveram. UOL e Terra, por exemplo, abandonaram rapidamente seus serviços do gênero.


Para as operadoras de telefonia fixa, os provedores gratuitos podem ser lucrativos, pois estimulam as pessoas a usar a linha telefônica. Atualmente, a Brasil Telecom é acionista do iG e do iBest, dois dos maiores serviços de acesso grátis. Telefônica e Embratel também ofertam serviços do tipo.


Recentemente, o mercado de provedores gratuitos recebeu um reforço do serviço POP (www.pop.com.br), que passou a oferecer e-mail de 1 Gbyte.


Há também provedores que não só não cobram como também prometem pagar pequenas quantias ao internauta. Um exemplo é o Cresce.net (www.cresce.net), que promete R$ 24 a cada cem horas navegadas -o uso da linha continua pago.


O iBest, por sua vez, enfatiza parcerias com empresas como o Yahoo!, para a qual fornece a infra-estrutura para um serviço de acesso grátis. O iBest provê conexão a 60 provedores.


Os provedores pagos procuram se diferenciar com serviços de valor adicionado, como e-mail de alta capacidade e espaço para blogs (diários pessoais), além de conteúdo mais completo -o UOL, por exemplo, tem mais de mil canais diferentes, entre eles, o dicionário Houaiss.


Mas os provedores tradicionais não chegam a todas as cidades do Brasil. O UOL, por exemplo, atende a 2.600 localidades no país, e o Terra serve 2.000. Por isso, há empresas especializadas em atuar nas cidades que ainda não são atendidas.


Um exemplo é o serviço Samba (www.samba.net.br), que diz funcionar em qualquer cidade do Brasil e cobra R$ 14,90 mensais mais R$ 0,084 por minuto de conexão -o usuário se livra de pagar por ligações interurbanas.’



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‘Comédia feita em sites chega à televisão ‘, copyright Folha de São Paulo, 25/05/05


‘Parece brincadeira, mas quase meio milhão de brasileiros acessam sites de humor todos os dias.


O número não é oficial, mas para chegar a ele, basta somar os êxitos dos bem-sucedidos portais de piadas e animações.


Eles fazem parte de uma lista de sites que têm médias que variam de 50 mil a 120 mil visitantes por dia e conquistaram espaços dentro e fora da rede.


O criador do Humor Tadela (www.humortadela.com.br), Sérgio Batista, compara a evolução do seu site com a popularização da internet no Brasil. ‘Comecei o site em 1995. Na primeira semana foram 30 visitas. Depois de três meses, foram 3.000. Hoje são 110 mil por dia’, explica.


Outro caso de sucesso é o Charges (www.charges.com.br) de Maurício Ricardo Quirino.


Criado em 2000, o site tem picos de 200 mil visitantes por dia e exporta animações para vários programas de TV, incluindo o ‘Big Brother Brasil’, da Rede Globo, e o ‘Domingo Legal’, do SBT.


‘Antigamente, eles ainda pediam autorização. Hoje, já pegam do site e colocam no ar sem me pedir’, afirma.


História parecida teve o Porteiro Zé (www.porteiroze.com), personagem de uma animação para a rede criada por quatro amigos que virou quadro fixo no telejornal ‘SPTV’, da Rede Globo.


Mas não são só animações que chamam a atenção dos internautas. Um bom exemplo é o site de artigos www.cocadaboa.com.


Segundo seu idealizador, Wágner Martins, hoje é mais fácil publicar seu próprio conteúdo.


‘Não é preciso nenhum doloroso processo de aprendizado técnico como tive que passar’, diz.


Essa facilidade criou uma nova geração de humoristas e sites como o www.euhein.com.br, o www.homemchavao.com e o www.mundocanibal.com.br.


A velha guarda, representada por pioneiros como o Cyber- Comix (www.terra.com.br/cybercomix), o www.chargeonline.com.br e o próprio Charges, não reclama da concorrência e fica orgulhosa por inspirar novos humoristas. ‘Recebo animações do Brasil inteiro e acho muito legal. Há várias escolas na internet e você pode assistir a todas. Não tem essa de entrar só em um ou em outro’, diz Quirino.’



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‘Brasileiros marcam presença em sites e programas on-line ‘, copyright Folha de São Paulo, 25/05/05


‘Boa parte dos milhões de internautas brasileiros pode ser definida por um adjetivo em inglês: ‘early adopter’.


O termo identifica aqueles que aderem a novas tecnologias de forma rápida, pessoas que não titubeiam na hora de testar novos serviços ou programas.


Exemplos dessa vocação não faltam. O Brasil é o segundo país onde mais se usa o comunicador MSN Messenger. ‘Há um crescimento absurdo aqui. Nos últimos três anos, nós crescemos mais de 1.000%’ comemora Marcos Swarowsky, gerente de marketing do MSN Brasil (www.msn.com.br).


Para Swarowsky, que também é responsável pelos serviços de e-mail e de blogs do portal no Brasil, ‘os brasileiros adotam mais rapidamente as novas tecnologias mundiais’.


O ICQ, principal concorrente do Messenger, já reinou entre os usuários brasileiros, mas foi vítima dessa sede por novidades.


‘O Brasil é definitivamente uma das regiões em que nós vemos rápida adoção de novas tendências. Notamos que os usuários mudam para algo novo assim que uma opção aparece’, diz Ronen Arad, diretor de produtos do ICQ (www.icq.com).


Na rede de relacionamentos Orkut (www.orkut.com), os brasileiros deram outra demonstração de sua forte presença on-line.


Lançado no início de 2004, o serviço criado pela equipe do buscador Google ganhou popularidade entre os brasileiros rapidamente. Em agosto do mesmo ano, mais de 50% dos usuários da rede se identificavam como brasileiros. Atualmente, essa porcentagem é de praticamente 70%.


No início desta década, o site Fotolog.net também recebeu um número expressivo de brazucas. O álbum virtual de fotos chegou a ter mais de 200 mil usuários ‘made in Brazil’.


Como não tinha estrutura para abrigar novos álbuns, a empresa passou a cobrar US$ 5 para novos cadastros e limitou o horário para o acesso de brasileiros ao site.


Atualmente, as restrições acabaram e 407 mil álbuns pertencem aos brasileiros -número superior ao de chilenos (122 mil) e ao de norte-americanos (106 mil), que vêm a seguir.


Os blogs foram outro caso de tecnologia rapidamente adotada no país.


O sucesso por aqui foi tanto que, além de uma versão em português do serviço Blogger.com, os principais portais nacionais lançaram versões de diário virtual. A maioria deles já conta com alguns milhares de usuários.’



Fernando Badô


‘Pioneiro pretendia abandonar a rede ‘, copyright Folha de São Paulo, 25/05/05


‘Um dos pioneiros da internet brasileira, Aleksandar Mandic, 52, participou do lançamento dos serviços gratuitos de acesso à rede: ‘Ninguém entendia. Era um conceito’. Com um repertório de frases de efeito, ele ofereceu seu ponto de vista sobre o surgimento da rede no país.


Folha – Onde aconteceu seu primeiro contato com a internet?


Mandic -Aqui no Brasil, em 1992. Veja, faz mais de dez anos. Nós criamos um link UUCP com velocidade de 9.600 [bytes por segundo] para fazer o e-mail Mandic e o Mundo. E sem ambiente gráfico.


Folha – Além de feia, era lenta.


Mandic -Era a internet como ela nasceu. Quando uma criança nasce, ela não tem dente, não tem cabelo, mas não quer dizer que será banguela ou careca para sempre.


Folha – Quando nasceu o provedor Mandic?


Mandic – Em 1990. Era BBS [versão pré-histórica dos fóruns de hoje, com alguns outros serviços] e ambiente texto. Em 1992, lançamos o primeiro e-mail brasileiro e, em 25 de agosto de 1995, fomos o primeiro provedor a entrar no ar. Claro, sei que fomos o primeiro por uma questão de horas. No outro dia já havia 800 no ar.


Folha – Quando você vendeu a Mandic?


Mandic – Em 1999. Nesse ano, quando começou de fato a loucura da internet, eu vendi a empresa. Na verdade, a Impsat queria comprar a qualquer custo. Então eu saí e prometi nunca mais trabalhar com internet.


Folha – Por quanto tempo você manteve a promessa?


Mandic Dois meses depois eu ajudei a fundar o iG.


Folha – Como surgiu o iG?


Mandic – De um bate-papo com o Henrique Neves [presidente da Brasil Telecom na época] . Ele me perguntou se eu faria outro provedor. Respondi que sim, mas gratuito. Expliquei as razões, que, creio, era o que ele queria ouvir, e a partir daí nasceu o iG.’



Daniel Bergamasco


‘‘A internet é uma página virada’ ‘, copyright Folha de São Paulo, 25/05/05


‘Exatos US$ 365 milhões [cerca de R$ 890,2 milhões no câmbio atual]. Por esse valor, o empresário Marcos de Moraes, 39, entregou o controle do portal ZipNet ao grupo Portugal Telecom em 2000, protagonizando o maior negócio da história da internet brasileira. Dono da cachaça Sagatiba, que tem produção mensal de 2 milhões de litros e ambição de se tornar um hit mundial, Moraes diz ter se retirado para sempre da cena pontocom. ‘A internet é uma página virada pra mim’, afirma ele, que também é sócio da editora Trip, já investiu em moda e mantém uma ONG que pesquisa neurociência.


Por que decidiu investir no e-mail gratuito?


Marcos de Moraes – Eu já tinha uma parceria com a Netcom, dos Estados Unidos, no mercado de internet corporativa, com clientes bons, como a Bovespa e a TAM. Lá fora, existia o Hotmail, mas aqui no Brasil ninguém havia criado o e-mail grátis. Resolvemos fazer o serviço para ter dados sobre o perfil de cada usuário e customizar uma internet para ele. Pensei: ‘É grátis, quem não vai querer?’ Eram 10h da manhã quando falei sobre isso com a Netcom. Às 17h, toda a empresa estava envolvida na criação do ZipMail.


Esperava um crescimento tão rápido?


Moraes – Na melhor das hipóteses, pensamos que, em um ano, seriam 300 mil usuários. Em menos de seis meses, tínhamos 1 milhão! Aquilo era inacreditável.


Havia estrutura técnica para suportar tantas contas?


Moraes – No dia em que lançamos o ZipMail, entraram 500 pessoas. Foi uma comemoração! Um mês depois, estavam entrando 10 mil por dia! Aí era um sonho-pesadelo. O sistema não agüentava tanta gente. Nunca trabalhei tanto na minha vida, era uma coisa absurda.


Quando você vendeu 11% do ZipNet para o Unibanco, já cogitava vender a empresa toda?


Moraes – Não! Nunca fiz nada para vender. Por isso é que deu certo. O que aconteceu foi que o Unibanco entrou e capitalizou a empresa.


Depois fui fazer o famoso road show nos Estados Unidos para captar US$ 50 milhões para a empresa e, no passo seguinte, abrir o capital. Quando terminou o road show, tinha cinco ofertas não solicitadas de empresas que queriam comprar a ZipNet inteira.


Aí falei: ‘Bom, espera aí. Se está com essa demanda toda, vai virar uma briga de cachorro grande’. E aí vendemos a empresa, por US$ 365 milhões.


Folha – Cogita voltar para a internet?


Moraes – Não. Eu sinto esse assunto como uma página virada.’



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‘Virginiana romântica e espiritualizada procura’, copyright Folha de São Paulo, 25/05/05


‘Em 2001, chegou aos jornais um site de namoros dos EUA com a ficha da ex-ministra Zélia Cardoso de Melo, descrita como uma ‘virginiana romântica e espiritualizada’. Zélia se disse alvo de uma brincadeira de mau gosto.


FESTA NO APÊ


Um é pouco, dois é bom, dez é escândalo


Também em 2001, fotos em que personagens da alta sociedade de Ribeirão Preto (SP) se entregavam ao sexo coletivo vazaram na internet. O caso ficou conhecido como ‘suruba de Ribeirão’.


AULA PARTICULAR


A sós no reservado, porém nem tanto


Vestidos de mago, bruxa ou princesa, convidados de uma festa da Fundação Getúlio Vargas trocaram carícias em salinhas reservadas. Uma câmera escondida no teto fotografou tudo e as imagens chegaram à rede. Uma das garotas criou um blog para se defender.


FURO


E quem precisa de paparazzi…


A intimidade do presidente Lula ganhou a internet em fotologs criados pelos filhos do próprio. Reproduzidas pela Folha em 2004, as imagens mostravam Lula preparando churrasco e a cachorra da família, Pituka, no avião da Presidência.


ICHE-ICHE


Nasce uma estrela-ela na web-eb


A frase ‘até um sanduíche-iche tem seu valor nu-nu-tri-tricional’ fez da nutricionista Ruth Lemos uma estrela. Cenas da gagueira, tiradas de uma entrevista de Ruth na TV, fizeram sucesso na rede e a levaram a protagonizar um comercial.’



Robson Pereira


‘Um culto às páginas em branco ‘, copyright O Estado de São Paulo, 25/05/05


‘Uma estranha homenagem ao espaço vazio avança pela internet. Experimente digitar ‘page intentionally left blank’, aspas incluídas, em uma boa ferramenta de buscas e se surpreenda ao descobrir a existência de 156 mil sites, todos com pelo menos uma ‘página’ propositalmente deixada em branco. E o que é mais curioso: páginas em branco em pelo menos 62 idiomas.


Por que alguém se daria ao trabalho de editar e manter na internet uma página totalmente vazia, sem nenhuma utilidade aparente, perdida no meio de bilhões de outras repletas de conteúdos? Uma tentativa de resposta pode ser encontrada no Projeto TPILB, iniciais da expressão que acompanha todas as páginas em branco e do próprio endereço na internet, o www.this-page-intentionally-left-blank.org, para onde apontam quase todas as telas sem conteúdo existentes no mundo virtual.


A intenção é construir um grande número de ilhas de paz e silêncio (as tais páginas em branco), onde qualquer um pode relaxar de vez em quando, entre uma notícia e outra, ou entre uma foto e outra – explica um dos criadores do projeto, lançado há dois anos. Muita gente atendeu ao apelo e de repente milhares de pequenas ‘ilhotas relaxantes’ começaram a surgir de todos os lados. Logo você vai encontrar uma pela frente.


Páginas intencionalmente deixadas em branco existem desde que o primeiro livro foi impresso, por razões técnicas ou estéticas. Hoje, nem tanto. Desapareceram, talvez por economia, embora de vez em quando apareçam nas livrarias algumas propostas alternativas com uma razoável quantidade de páginas em branco, assim deixadas ‘para que o próprio leitor preencha com suas histórias’. Mas na internet é novidade, ainda que não faça sentido.


Ao contrário do que pode parecer, deixar uma página em branco na internet exige alguma técnica e nenhuma perspectiva de retorno econômico. Pelas normas estipuladas pelos organizadores do projeto, uma legítima página em branco não pode ostentar publicidade ou qualquer elemento que ‘desvie a atenção’ do usuário. E o mais importante: tão duro quanto a ausência de páginas em branco é a existência de páginas em branco abandonadas. Portanto, trate a sua com muito carinho.


VIGILÂNCIA CERRADA


Vigiar e rastrear a atividade online de empregados é uma política cada vez mais adotada pelas empresas e motivo de muita demissão. Uma pesquisa realizada pela American Management Association com 526 empregadores de grande e médio portes constatou que 75% deles monitoram rotineiramente tudo o que seus funcionários fazem na internet no horário em que deveriam estar trabalhando.


O arsenal utilizado para isso é poderoso e inclui softwares para bloquear sites inadequados, ferramentas de armazenamento e análise de arquivos e e-mails, câmeras de vídeo para coibir roubos ou sabotagem e até sistemas de localização por satélite para rastrear carros e telefones celulares. E fazem isso às claras: 80% das empresas garantem que todos são devidamente informados das normas que envolvem tamanha vigilância.


Não adianta reclamar. Quem for pego com a mão na massa pela primeira vez recebe uma advertência, mas casos de reincidência são punidos com demissão. Uma em cada duas empresas pesquisadas admitiu já ter dispensado funcionários por mau uso da internet, do correio eletrônico corporativo ou do próprio telefone celular.


A justificativa alegada pelos responsáveis por tais políticas é que além de prejudicar a produtividade, provas tecnológicas são cada vez mais aceitas pela Justiça em casos de processos abertos por funcionários ou empresas concorrentes. Como precaução, passaram a manter funcionários e informações sob severa vigilância. Lewis Maltby, presidente de uma organização que lida com os direitos dos trabalhadores, definiu bem a questão em uma entrevista ao Washington Post. ‘Vai chegar o dia em que teremos de apresentar passaportes para trabalhar, pois todos os direitos de um cidadão americano desaparecem um segundo após ele cruzar a porta do escritório.’


Embora ainda em menor escala, o panorama por aqui não é diferente e o noticiário forense já contabiliza vários casos de ações judiciais que foram vencidas com o uso de provas obtidas por meio eletrônico. A mais recente aconteceu na semana passada, quando o Tribunal Superior do Trabalho decidiu que as empresas têm o direito de controlar os e-mails enviados ou recebidos por seus funcionários, desde que façam isso ‘de forma moderada e impessoal’.


No processo em questão, o advogado de um trabalhador demitido por justa causa há cinco anos argumentou que a suposta prova que levou à demissão do seu cliente – fotos eróticas distribuídas via e-mail – foi obtida por meios ilícitos, violando e expondo a intimidade e a privacidade do funcionário. Não convenceu e a demissão foi mantida. O que não significa dizer que a polêmica acabou.’



O Globo


‘EUA apertam o cerco contra crime na internet’, copyright O Globo, 25/05/05


‘A Câmara de Representantes dos EUA aprovou na noite de segunda-feira novas punições para quem dissemina spyware – programa que permite a monitoração do computador, o que pode levar ao bombardeamento do usuário com anúncios ou à captura de senhas bancárias. O spyware se instala no computador sem que o usuário perceba, por meio de mensagens com vírus ou no momento em que se baixam aplicativos, como jogos.


Por 395 votos a um, a Câmara decidiu que quem disseminar spyware pode pegar até dois anos de prisão e pagar multa de até US$ 3 milhões por infração. Quem usar o programa para roubar dados pessoais terá sua sentença aumentada em cinco anos.


– Os consumidores têm o direito de saber e decidir quem terá acesso às informações pessoais que o spyware pode coletar – disse a deputada Mary Bono.


Os dois projetos de lei aprovados também tornam ilegais práticas associadas ao spyware , como programar a máquina para só abrir a internet em um determinado site ou bombardear o usuário com anúncios pop-up (abertos automaticamente) que só se fecham quando se desliga o computador. Várias dessas práticas já eram consideradas ilegais, mas apenas dois casos chegaram aos tribunais, disse Ari Schwartz, diretor-associado do Centro para Democracia e Tecnologia. Ele defende um esforço maior para a aplicação das leis.


Além disso, o Departamento de Justiça terá mais US$ 10 milhões por ano até 2009 para combater o spyware.’