Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas. ************ O Estado de S. Paulo Quinta-feira, 11 de maio de 2006 TV DIGITAL
TV digital: nova oferta européia
‘Os europeus apresentam hoje ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, uma proposta de implantação de uma fábrica de semicondutores no Brasil, caso o País escolha seu padrão para a TV digital. O encontro será em Londres e estarão presentes integrantes da Comissão Européia e de empresas como Siemens, Philips e ST Microelectronics (fabricante de semicondutores).
A reunião foi agendada a pedido dos europeus, que correm atrás do atraso na disputa pelo mercado brasileiro. Em abril, uma delegação de ministros brasileiros esteve no Japão, onde foi assinado um memorando de entendimentos em torno da adoção do padrão nipônico no Brasil. Em tese, o memorando não garante que o Brasil escolherá o padrão japonês, mas foi um sinal forte nessa direção.
Na tentativa de reverter o jogo, os europeus indicaram que apresentariam hoje, ‘no papel’, proposta para implantar uma fábrica de semicondutores no País. Se fizerem isso, estarão dando um passo além do que foi dado pelos japoneses, que se comprometeram a analisar a viabilidade do projeto. Para o Brasil, a fábrica de semicondutores é condição básica para a escolha do padrão de TV digital.
Entre os técnicos, havia dúvidas ontem se a proposta dos europeus será boa o suficiente para modificar a tendência de vitória dos japoneses. Desde o início das discussões, os nipônicos estão em vantagem pois sua tecnologia é a mais avançada. Além disso, esse padrão conta com a preferência das emissoras de TV – dificilmente contrariáveis em ano eleitoral.
A expectativa nos bastidores do governo é que a escolha do padrão japonês seja anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos próximos dias. O presidente viajou para Viena, na Áustria, para reunião de cúpula entre países latino-americanos e União Européia. Está previsto um contato de Furlan com os europeus em Viena. Ao retornar, no fim de semana, Lula já estaria pronto para anunciar sua decisão.’
IMPRENSA / EUA
Ex-executivo do ‘NYT’ morre aos 84 anos nos EUA
‘Morreu ontem, em Nova York, aos 84 anos, o jornalista Abraham Michael Rosenthal. Ganhador do prêmio Pulitzer e correspondente internacional, foi editor executivo do jornal The New York Times de 1977 a 1986. Sua passagem pelo comando do jornal foi marcada por crescimento recorde, modernização e mudanças editoriais. Ele morreu no Mount Sinai Medical Center, onde estava internado depois de um enfarte sofrido há duas semanas.
Homem de temperamento difícil, era capaz de avaliar fria e rapidamente os grandes acontecimentos num minuto e, no instante seguinte, humilhar um subordinado por causa de um erro. Investiu quase toda sua carreira de 60 anos no Times.
Foi repórter, editor e colunista. Trabalhou como correspondente durante 19 anos na Índia, Polônia, Japão e outros países. Ganhou o Pulitzer por uma reportagem de 1960 sobre o regime comunista na Polônia, país do qual fora expulso um ano antes.
Rosenthal coordenou coberturas históricas, como a guerra do Vietnã, o escândalo de Watergate e sucessivas crises no Oriente Médio. Era casado e teve três filhos com a primeira mulher.
PRÊMIO
A revista Time recebeu o mais importante prêmio americano destinado a revistas na noite de terça-feira, conquistando o primeiro lugar na categoria excelência geral para revistas com circulação de mais de 2 milhões de exemplares.
Foi premiada pela cobertura do furacão Katrina e pela investigação do funcionamento das salas de interrogatório na Base Naval da Baía de Guantánamo, em Cuba. A cobertura do Katrina também recebeu o prêmio de single-topic issue (edição especial de um único tema).
Os prêmios, a mais prestigiosa honraria do setor, são patrocinados pela Sociedade Americana de Editores de Revistas em conjunto com a Columbia University Graduate School of Journalism. NYT’
TELEVISÃO
Carmen é da Globo
‘A vida de Carmen Miranda vai virar minissérie na Globo. Quem encabeça a idéia é o diretor Carlos Manga, que convidou Maria Adelaide Amaral para assumir a autoria da trama. O projeto é uma vontade antiga da Globo, tanto é que a emissora apressou-se em comprar os direitos de Carmen, biografia da cantora lançada por Ruy Castro no final do ano passado.
‘O Manga me convidou para escrevê-la , mas não sei quando a minissérie irá ao ar. Desde que terminei JK não fui ao Rio e as respostas para essas coisas só vou obter pessoalmente com o (diretor) Mário Lúcio Vaz, o que se dará no final do mês’, conta Maria Adelaide Amaral ao Estado.
Assim como JK, a vida de Carmen Miranda rende muitas histórias. Apesar de ter morrido jovem – aos 46 anos – a cantora foi uma das brasileiras mais famosas do século 20 e teve uma carreira meteórica.
A obra de Ruy Castro traz, além da biografia da cantora, um passeio pelo Rio de Janeiro dos anos 20 e 30 e por Nova York e Hollywood dos anos 40 e 50. Lançado pela Companhia das Letras, o livro é considerado a biografia mais detalhada da ‘Pequena Notável’.’
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Folha de S. Paulo
Quinta-feira, 11 de maio de 2006
ELEIÇÕES 2006
Lula autoriza exibição de cenas externas
‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou ontem a lei eleitoral aprovada no mês passado no Congresso Nacional. Lula vetou quatro artigos da lei, entre as quais aquele que impedia a exibição de cenas externas na propaganda eleitoral.
Com isso, na prática está liberada a exibição nas inserções da televisão das imagens das diferentes CPIs do Congresso que investigaram o mensalão, os bingos e as suspeitas de corrupção nos Correios. O PT, por sua vez, ficará livre para exibir imagens de Lula inaugurando obras pelo país.
O texto vindo do Congresso deixava claro que os programas eleitorais seriam feitos apenas em estúdios, com a participação exclusiva dos candidatos e de pessoas filiadas aos partidos.
Lula, ao vetar tal artigo, justificou que ele poderia ser ‘nocivo à democracia, pois restringe a liberdade de expressão de partidos políticos, candidatos e cidadãos’.
Decisão do TSE
Agora, cabe ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) decidir se as mudanças na legislação eleitoral poderão ser utilizadas nas eleições de outubro. A dúvida existe porque a sanção ocorreu a menos de seis meses das eleições.
O objetivo inicial das alterações da legislação eleitoral era tornar as campanhas mais baratas e as prestações de contas dos candidatos e partidos mais transparentes. Essa minirreforma é uma resposta dos parlamentares à crise política que já dura um ano e trouxe à tona a existência de caixa dois em diferentes campanhas eleitorais, como a petista de 2002.
Os outros três vetos tiveram motivações apenas técnicas. Um artigo (40-A) dizia que uma acusação falsa contra alguém (como um roubo, por exemplo) sujeitava o acusador à mesma pena do crime imputado, o que fere a legislação, por serem infrações inteiramente diferentes.
Outro (art. 90-A) previa punição para calúnia, injúria e difamação pela internet, mas existe uma lei mais ampla sobre esses crimes em qualquer meio (televisão, jornal, a própria internet etc.), logo o artigo era redundante.
O terceiro veto suprimia um artigo (94-B) mal redigido, que proibia atividades eleitorais vedadas no próprio artigo, mas não elencava quais seriam as atividades vedadas. Provavelmente o texto do artigo sofreu modificações durante o processo legislativo e acabou ficando sem sentido.’
GAROTINHO vs. IMPRENSA
Garotinho se alimentará de soro após 10 dias de greve
‘Depois de dez dias em greve de fome e 6,2 kg mais magro, o pré-candidato à Presidência pelo PMDB Anthony Garotinho acatou orientação médica e foi internado em um hospital do Rio para reidratação intravenosa com soro glicosado ontem à tarde, o que, na prática, encerra a greve de fome.
Para Garotinho, contudo, o jejum continua. ‘Não tenho como não aceitar a orientação do meu médico, mas a greve não acabou.’
Segundo o médico do pré-candidato, Abdu Neme, será feita a reposição de sais minerais. Depois de ‘exaustiva avaliação’, o médico concluiu que, apesar de lúcido e orientado, Garotinho estava com a pressão instável, o que provocava tontura e mal-estar.
Anteontem, ele havia dito que, ao repor as necessidades básicas do paciente, ‘na prática, os efeitos da greve de fome cessam’. Segundo a nutricionista Cíntia Machado, uma pessoa pode viver ‘meses’ apenas no soro.
‘O corpo dele continuará sofrendo os efeitos da falta de proteína e gordura, mas a glicose não deixa de ser um nutriente. Ele não morre, mas não terá as calorias necessárias’, afirma Cíntia.
Garotinho anunciou a decisão de ser internado às 17h de ontem ao lado de sua mulher, a governadora Rosinha Matheus. Estavam na sala da sede regional do PMDB, onde ele permaneceu durante todo o tempo em que esteve em greve. Depois do anúncio, seguiu em ambulância do Corpo de Bombeiros para o hospital particular Quinta D’or.
Garotinho afirmou que participará da convenção do partido no sábado em Brasília para defender a candidatura própria do PMDB à Presidência. Ele disse ainda que não desistiu da pré-campanha.
‘Trindade do mal’
Em manifestação que reuniu cerca de 5.000 militantes trazidos ao centro do Rio por prefeitos do interior do Estado simpáticos a Garotinho e secretarias da área social, o pré-candidato disse estar sendo perseguido pelo que chamou de ‘trindade do mal’. A entidade, diz Garotinho, é formada pelo ‘Lula, os bancos e as Organizações Globo’.
De acordo com o deputado estadual Paulo Melo (PMDB), membros do diretório regional organizaram a manifestação. Pelo menos 110 ônibus trouxeram os manifestantes, que podiam ser divididos em três grupos: famílias pobres beneficiadas por programas assistenciais do governo Rosinha, evangélicos (religião professada pelo casal) e funcionários públicos de prefeituras aliadas.
Em discurso da janela no alto do prédio onde funciona o diretório, Garotinho afirmou estar disposto a dar sua vida para derrotar ‘os inimigos do povo’. O pastor Paulo Santos, da Assembléia de Deus, disse que igrejas do município convocaram fiéis para a manifestação. Os ônibus, segundo o cabo eleitoral Damião Antunes dos Santos, foram fornecidos pelo presidente da Câmara Municipal, Amsterdan Santos (PMDB).
Segundo manifestantes, o prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (PMDB), cedeu ônibus e camisetas com propaganda de Garotinho. A assessoria do prefeito negou a informação.’
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Empresa nega versão de ONG do Rio
‘Citada pela ONG CBDDC (Centro Brasileiro de Defesa dos Direitos da Cidadania) como a empresa contratada para realizar um diagnóstico da situação de hospitais fluminenses, a DM Gestão de Projetos e Negócios nega que tenha feito o serviço.
O governo peemedebista de Rosinha Matheus (mulher de Anthony Garotinho) pagou R$ 105,6 milhões à ONG em 2005. Parte do dinheiro teria ido para a DM, segundo a ONG.
O presidente do CBDDC, Carlos Alberto da Silva Lopes, declarou que 10% do valor do contrato com o governo do Estado tinha sido gasto na elaboração de um trabalho sobre a situação de 29 hospitais do Estado. Segundo ele, o estudo teria sido feito pela DM e entregue ao Estado no ano passado.
A Secretaria de Saúde do Estado se recusou a mostrar o trabalho à Folha. Segundo a secretaria, o diagnóstico apresentado pelo CBDDC está sob a análise reservada de uma comissão especial criada na Procuradoria Geral do Rio.
A enfermeira Daniela Britto, sócia minoritária da DM, disse que a empresa chegou a ser contatada pelo CBDDC para fazer o trabalho, mas se recusou a fazê-lo.
Ela afirmou que, se chamada a depor na Polícia Federal que investiga as contrata, terá como provar que não prestou serviço nem recebeu pagamento do CBDDC. Daniela diz que o motivo da recusa foi o fato de o CBDDC não detalhar o trabalho pretendido: ‘Mandou apenas um objeto de contrato, genérico’.
Mão-de-obra
Na entrevista concedida no fim de abril, o presidente do CBDDC disse que 90% dos R$ 105 milhões que recebeu da Fesp (Fundação Escola do Serviço Público, vinculada à Secretaria de Administração) foram repassados para cooperativas. O objetivo era pagar 9.000 pessoas que trabalham na rede hospitalar. Elas foram contratadas sem prestar concurso.
Segundo Lopes, a Fesp depositava o dinheiro na conta bancária do CBDDC, que o repassava a cerca de 15 cooperativas indicadas pela Febracoop (entidade que reúne parte das cooperativas do Estado do Rio de Janeiro).
Segundo ele, o contrato com a Fesp incluía a realização de estudo para quantificação do pessoal necessário à rede pública. Disse que o trabalho foi entregue à Fesp em nove relatórios. A DM, segundo Lopes, ‘pilotou o pessoal que fez o trabalho de campo’.
Depois que a diretora da empresa negou ter prestado o serviço, a Folha procurou de novo o presidente do CBDDC, mas não conseguiu localizá-lo. O ex-vice-presidente, Hélio Bustamante da Cruz Secco, negou-se a dar entrevista.’
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Garotinho acusa Globo de possuir conta nas Bahamas
‘O pré-candidato do PMDB à Presidência Anthony Garotinho afirmou ontem que a TV Globo mantém nas Bahamas -paraíso fiscal no Caribe- conta no banco Credit Suisse, ‘com mais de US$ 100 milhões’.
A Globo, em nota enviada à Folha, declarou: ‘Infelizmente, ainda é uma tática recorrente entre alguns políticos flagrados em irregularidades: no lugar de responder satisfatoriamente às denúncias concretas, o acusado prefere agredir, sem fundamento, os veículos de comunicação que não atendem aos seus interesses’.
O discurso de Garotinho foi marcado por críticas à companhia. ‘Acrescento mais uma grave denúncia sobre esse império do mal. […] Qual é a imoralidade: abrir um escritório em Rio Bonito ou manter dinheiro em paraíso fiscal, em moeda estrangeira, para fugir da legislação tributária brasileira? Estás desafiada, defenda-se diante do povo brasileiro.’
Como apontou o jornal ‘O Globo’, a pré-campanha de Garotinho recebeu doações de empresas registradas em Rio Bonito (a 70 km do Rio) que não prestam serviço ou não funcionam nos endereços dados à Receita Federal.
‘Por que elas [Organizações Globo] não falam da compra da TV Globo de São Paulo através de procuração falsa?’, disse Garotinho. A acusação foi feita à Justiça pela família do ex-deputado federal Oswaldo Ortiz Monteiro, morto há 22 anos. O negócio data de 1964.’
CONGRESSO DE OMBUDSMAN
Fórum discute transparência no jornalismo
‘A transparência no jornalismo foi abordada por dois ângulos bem diferentes na primeira mesa do Fórum Folha de Jornalismo, aberto ontem em São Paulo. O evento faz parte das comemorações dos 85 anos do jornal.
Para Ian Mayes, ombudsman do jornal britânico ‘The Guardian’, a transparência de uma publicação está associada a duas atitudes: o compromisso de um jornal de corrigir falhas e erros, o que pode ser respaldado pela existência de um ombudsman, e a disposição de deixar claro para o seu leitor o modo como a publicação funciona, suas operações internas e as regras que estipulou para si própria.
Edward Wasserman, professor de ética jornalística na Universidade Washington e Lee, dos Estados Unidos, considera, no entanto, que tal abertura para o público leitor, embora necessária, pode se transformar tanto num instrumento de meras relações públicas como, ao contrário, em um modo de lançar suspeitas além das devidas sobre jornais e jornalistas.
A dramatização excessiva e pública dos erros cometidos -com a publicação de demissões de jornalistas que falharam ou mesmo mentiram- pode provocar um efeito oposto ao esperado. Isto é, criar uma percepção negativa da qualidade do produto jornalístico que chega às mãos dos leitores.
O fórum, aberto pelo diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, promove quatro debates, os dois últimos hoje, para os quais as inscrições já estão esgotadas. A primeira mesa de debates foi coordenada por Marcelo Beraba, ombudsman da Folha.
Frias Filho tratou do problema da viabilidade da empresa jornalística em um ambiente de intensa mudança tecnológica e de multiplicação das fontes de oferta de informações.
Por empresa jornalística, especifica Frias Filho, entenda-se a que procura autonomia política e que investe pesados recursos materiais para produzir um jornalismo compromissado com a procura do ‘máximo de verdade factual e da defesa do interesse público’. ‘Aquele jornalismo que foi sempre a arena do debate de idéias e de rumos para a sociedade’, afirmou.
Tal questão, considera Frias, parece mais importante do que o debate sobre o futuro do suporte físico das publicações jornalísticas, se a tela eletrônica ou o papel. A multiplicação de fontes de informação é simultânea à dispersão e à fragmentação de interesses do leitorado, que também se torna mais exigente, crítico em relação a erros, ‘quando não de distorções e da arrogância do jornalismo’.
A imprensa será capaz de responder aos tecnológicos, econômicos e os de seu público?
Resistência
Wasserman, o mais controvertido dos três palestrantes, acredita que nos EUA a mídia persistirá e é resistente aos ataques. Mas a resposta dos jornalistas à crítica lhe parece por vezes inadequada. Para Wasserman, diante da crítica há a imediata criação de um clima de ‘vergonha e autoflagelação’. Citou as demissões na rede de televisão CBS, em razão do noticiário equivocado sobre a carreira militar na juventude do presidente George W. Bush.
A pressão para que as punições ocorram partem em geral de grupos cujas posições não são defendidas pelo jornal ou pela emissora. ‘Essas coisas precisam de algum grau de privacidade’, afirmou o professor de ética.
Mayes, o ombudsman do ‘The Guardian’, esboçou um retrato algo diferente. Pesquisa recente demonstrou que 86% dos leitores acreditam que seu jornal publica informações confiáveis.
Mas não são apenas as informações que são levadas em conta na avaliação. Há o relacionamento do jornal com o leitor, as correções e o esforço para ampliar os temas da cobertura jornalística.
Para o terceiro palestrante, o colombiano Germán Rey, ex-ombudsman do jornal ‘El Tiempo’, de Bogotá, os jornais deixaram de entender como o mundo tem evoluído. Devem reestudar sua forma de funcionamento, com atenção aos problemas multidisciplinares.
Disse, por fim, temer os efeitos da lógica comercial das empresas de mídia sobre a independência e a autonomia da informação.’
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América Latina foi o tema do segundo debate
‘A segunda mesa do Fórum Folha de Jornalismo, mediada por Eliane Cantanhêde, colunista do jornal, teve como tema ‘Poder e Jornalismo na América Latina’.
Alvaro Vargas Llosa, escritor e ensaísta peruano que dirige o Centro para a Prosperidade Global, de Washington, concentrou sua exposição no que qualificou como ‘ausência de um Estado de Direito pleno na América Latina’.
Segundo ele, há ainda espaço na região para perseguições políticas ou privadas contra jornalistas por meio de vários instrumentos, como as ‘leis contra difamação’, que acabam convertendo supostos excessos em delitos penais.
Vargas Llosa também contabilizou 300 jornalistas latino-americanos mortos nos últimos 18 anos, sendo que em 95% dos casos não houve punições.
O argentino Andres Oppenheimer, editor de América Latina e colunista internacional do jornal ‘Miami Herald’, afirmou que a região atravessa uma nova onda de ‘prepotência’ dos governos contra a mídia. Para ele, os jornalistas também são culpados pelo fenômeno ‘por perda de valentia e iniciativa’ e pelo fato de o jornalismo na região estar sendo cada vez mais pautado por ‘um denuncismo sem conseqüências’.
Já o venezuelano Boris Munõz, editor-chefe da revista ‘Nueva Sociedad’, fez uma extensa exposição sobre o que chamou de ‘campo de batalha’ entre o governo e a mídia em seu país.’
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Perda de leitores nos EUA é tema de encerramento
‘Os jornais americanos perderam 2,5% em circulação nos últimos seis meses. A contínua perda de leitores se deve tanto à concorrência da internet como à previsibilidade do noticiário e à escolha de assuntos que escapam ao universo de referências do leitor.
Foi esse o ponto central da apresentação do jornalista Andrés Oppenheimer, colunista e editor de América Latina do jornal ‘Miami Herald’, no debate de encerramento da 26ª Conferência Anual da ONO (Organização de Ombudsmans de Notícias, da sigla em inglês), ontem, em São Paulo.
A conferência foi realizada com o apoio da Folha e de seu ombudsman, Marcelo Beraba.
Antes do último debate, a ONO reelegeu para sua presidência Ian Mayes, desde 1997 ombudsman do jornal britânico ‘The Guardian’. A nova diretoria é integrada por ombudsmans dos EUA, Suécia, Reino Unido, Holanda, Brasil, África do Sul e Canadá. Os participantes também definiram que a próxima conferência, em 2007, será em Boston (EUA). Para os encontros anuais seguintes foram indicadas Estocolmo (2008), Washington (2009) e Cidade do Cabo, na África do Sul (2010).
Oppenheimer, em sua palestra, notou que nos Estados Unidos os jovens praticamente não lêem mais jornais. Para se informar, acessam web sites noticiosos.
Quanto ao noticiário internacional, também disse que os jornais americanos mantêm equipes de correspondentes na Europa e Ásia. Mas que, para a cobertura da América Latina, em geral têm um único profissional, mesmo assim baseado em Miami.
‘As redes de TV suprimiram suas equipes permanentes em países latino-americanos e passaram a cobrir furacões e celebridades’, para acompanhar a preferência de seus telespectadores.
‘Os americanos farão qualquer coisa em favor da América Latina, exceto ler a respeito dela’, disse o palestrante, citando conhecida frase de James Reston, colunista já morto do ‘New York Times’.’
INTERNET
Lucro do UOL cai 49% no 1º trimestre
‘O lucro do do portal Universo Online (UOL), no qual os grupos Folha e Portugal Telecom têm participação, caiu 49% no primeiro trimestre do ano em relação a mesmo período de 2005. O ganho ficou em R$ 20,5 milhões. O aumento da receita com publicidade (76%) e da base de assinantes pagantes (6%) garantiram a lucratividade. A receita líquida subiu 14%, para R$ 123 milhões. O provedor fechou o trimestre com 1,47 milhão de assinantes pagantes (alta de 7%) – 637 mil de banda larga.
Sem empréstimos ou financiamentos relevantes, o caixa do UOL em 31 de março era de R$ 353,5 milhões, superior aos R$ 334,1 milhões de dezembro.
A geração de caixa (Ebitda) subiu para R$ 38 milhões, cifra 73% superior à de igual trimestre de 2005. Dessa forma, a margem Ebitda da companhia aumentou 11 pontos percentuais, para 31% das receitas. (DO VALOR ONLINE)’
TELEVISÃO
Globo revê o roubo da Jules Rimet
‘Um dos episódios de maior comoção pública dos anos 80, o roubo da taça Jules Rimet, prêmio pelo tricampeonato brasileiro na Copa de 1970, foi reconstituído para o programa ‘Linha Direta Justiça’, que será exibido às vésperas do início do Mundial da Alemanha, marcado para o próximo dia 9.
As gravações terminaram na semana passada. ‘A idéia surgiu pela ocasião. Desconheço se houve algum outro programa na TV sobre o tema. Talvez essa mesma história não tivesse força se contada longe do período da Copa; não sei dizer’, comenta o diretor-geral da atração, Milton Abirached.
Para o programa, que vai ao ar no dia 1º de junho, por volta das 23h, foram escalados atores, construída uma réplica da Jules Rimet e eleitos como cenários do episódio algumas ruas do centro e de bairros cariocas, além de estúdios e cidades cenográficas da Central Globo de Produção, o Projac.
Réplica no cofre
A taça pesava 4 kg -sendo 1,8 kg de ouro puro- e tinha 30 cm de altura, incluindo uma base de mármore para seu apoio. Ficou em posse da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), envolta num vidro blindado, porém emoldurada por madeira, o que facilitou o roubo. Dentro de um cofre, em vez da original, ficava a réplica do troféu.
O ‘Linha Direta Justiça’ mostrará desde o planejamento do crime até sua execução. As pesquisas para reconstruir a história foram feitas com policiais, investigadores e com base no processo e em arquivos de notícias.
O programa também trará depoimentos de ex-jogadores como Pelé, Rivelino e Gérson, que falam sobre o significado do roubo da taça para o país, na mistura de jornalismo e dramaturgia típica do programa.
Julgamento
O roubo foi julgado em 1988, mas os envolvidos ficaram pouco tempo na prisão. O argentino Juan Carlos Hernandez, que teria sido o responsável pelo derretimento da taça, nunca foi preso pelo crime, mas sim por tráfico de drogas. Outro participante, José Luís Vieira, o Bigode, foi preso em 1995 e passou três anos na cadeia, mas ganhou liberdade condicional e, atualmente, vive no Rio.
Segundo Abirached, a produção tentou falar com os envolvidos no roubo da taça ainda vivos, mas eles se negaram a conversar sobre o assunto. ‘Não há certezas, não se sabe ao certo quem fez o quê na história. Todos foram trapalhões: os ladrões, a polícia e a Justiça’, comenta o diretor-geral.
Para o diretor Márcio Trigo, o episódio será marcado pelo tom irônico. ‘A gente quer mostrar a trapalhada do caso e o quão afetivo foi o roubo da taça para o país. A partir dele, mudou a política e o nível de segurança da Fifa.’’
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O Globo
Quinta-feira, 11 de maio de 2006
FRANÇA
Chirac critica ‘ditadura do rumor e da calúnia’
‘PARIS. O presidente da França, Jacques Chirac, saiu ontem em defesa de seu primeiro-ministro, condenando ‘a ditadura do rumor e da calúnia’ na esteira de um escândalo que ameaça o governo. Rompendo a tradição de não dar declarações após a reunião do Conselho de Ministros, Chirac manifestou seu apoio a Dominique de Villepin e descartou mudanças no Gabinete.
Com a declaração, Chirac rompeu, mesmo que de forma indireta, seu silêncio em relação ao caso Clearstream – que a oposição vem chamando de ‘Watergate francês’. O caso envolve uma falsa lista de suspeitos de corrupção e que teria como objetivo prejudicar o rival político de Villepin: o ministro do Interior, Nicolas Sarkozy.
– Tenho plena confiança no governo de Dominique de Villepin para levar adiante a missão que lhe conferi. A República não é a ditadura do rumor, a ditadura da calúnia – disse Chirac, que pediu aos juízes que ajam com rapidez para descobrir a verdade.
Em 2004, Villepin, então ministro do Exterior e depois do Interior, mandou investigar uma lista de políticos que teriam recebido comissão ilegal na venda de embarcações para Taiwan. Segundo rumores, Sarkozy seria o alvo das investigações. Mas a lista com as contas da instituição financeira Clearstream, em Luxemburgo, tinha sido parcialmente forjada. Sarkozy não estava envolvido e Villepin foi acusado de tentar desacreditá-lo diante de uma possível indicação para disputar a Presidência pelo partido do governo.
Sarkozy, por sua vez, disse ontem que estava determinado a descobrir a verdade por trás do que chamou de complô.
Ontem o vice-presidente do consórcio aeronáutico Eads, Jean-Louis Gergorin, suspeito de estar na origem das listas falsas, foi afastado. Segundo o semanário ‘Le Canard Enchainé’, ele era a fonte das cartas anônimas enviadas ao juiz Renaud Van Ruymbeke. As cartas davam detalhes das contas e afirmava que uma delas era de Sarkozy.
O juiz Van Ruymbeke disse ontem que foi manipulado a investigar acusações contra Sarkozy. Ele contou que foi atraído para o caso num encontro com Gergorin.
À pressão sobre Villepin se somou uma moção de censura, apresentada ontem pela oposição. ‘O divórcio entre o poder e o povo francês ficou evidente com o envolvimento do Executivo no tenebroso caso Clearstream’, diz o texto.
A moção, no entanto, tem poucas chances de ser aprovada, devido à grande maioria do partido do governo no Parlamento. Ela é a terceira apresentada pelos socialistas contra o governo de Villepin.’
ELEIÇÕES 2006
Lula veta proibição de cenas externas na eleição
‘BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou ontem a lei eleitoral aprovada pelo Senado no mês passado e vetou o artigo que proibia o uso de cenas e gravações externas nos programas de rádio e televisão na propaganda eleitoral gratuita, que começa em agosto. Assim, a oposição poderá usar na campanha gravações de depoimentos nas CPIs que investigaram o valerioduto, envolvendo membros do governo e o próprio presidente Lula em denúncias de corrupção.
Por sua vez, na campanha do PT poderão ser apresentadas cenas de inaugurações e eventos populares dos quais o presidente tem participado com freqüência. O veto atinge o artigo inteiro. Portanto, pessoas não filiadas ao partido dos candidatos também poderão participar dos programas de rádio e televisão.
Cerceamento da liberdade de expressão dos partidos
Segundo o Palácio do Planalto, a veto se justifica porque haveria cerceamento da liberdade de expressão dos partidos políticos, dos candidatos e dos cidadãos. Segundo a assessoria jurídica do Planalto, que orienta o presidente sobre os vetos, o artigo 54 é nocivo à democracia, pois impediria os participantes das eleições de manifestar suas opiniões e posições.
O artigo, sugerido pelo autor da lei, senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), estabelecia que os programas de rádio e televisão e as inserções seriam gravados em estúdio e somente poderiam participar o candidato e pessoas filiadas ao seu partido. O dispositivo vedava gravações externas, montagens ou trucagens, computação gráfica, desenhos animados, efeitos especiais e conversão para vídeo de imagens gravadas em películas cinematográficas. O candidato que descumprisse a regra seria punido com a suspensão do horário eleitoral gratuito durante dez dias.
A aprovação desse artigo pelo Senado provocou polêmica, pois os partidos de oposição querem usar cenas de depoimentos das CPIs na campanha eleitoral para tentar desgastar a imagem de Lula, que hoje lidera as pesquisas de intenção de voto. Para setores da oposição, esse dispositivo não valeria para as eleições de outubro, porque a lei foi aprovada a menos de um ano do pleito. O próprio autor da idéia, Bornhausen, disse, após a aprovação no Senado, que ela não valeria este ano.
Mantidos dispositivos para baratear custo de campanha
Foram mantidos os dispositivos aprovados para baratear o custo das campanhas eleitorais e coibir o caixa dois, como a proibição de showmícios, contratação de artistas e distribuição de brindes. Também permanece na lei um dos pontos mais polêmicos, o que proíbe pesquisas de intenção de votos 15 dias antes das eleições. No entanto, o Tribunal Superior Eleitoral ainda vai regulamentar a lei, estabelecendo o que vale para estas eleições. A questão das pesquisas, por exemplo, deverá ser considerada inconstitucional.
O presidente vetou outros três artigos por ‘inadequação jurídica’ do texto, mas a decisão não altera significativamente o teor da lei. Foi vetado o dispositivo que proibia os órgãos do Poder Executivo de realizar atividades de natureza eleitoral ‘não mencionadas neste artigo’. Para justificar o veto, o Planalto argumentou que as atividades não foram relacionadas no artigo e, portanto, o dispositivo não poderia ser aplicado.
O terceiro veto foi por outra razão. A lei considerava crime a veiculação na internet de documento calunioso, injurioso e difamatório – o que já está previsto no Código Penal. Além de redundante, o artigo focava o meio e não o crime, segundo análise da assessoria jurídica do Planalto. Também foi vetado o artigo 40-A, que imputava a mesma pena para quem cometeu um crime e para quem imputou falsamente esse crime a outra pessoa. A justificativa é que condutas distintas teriam a mesma punição.’
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