Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Evandro Éboli


‘A Comissão de Anistia aprovou por unanimidade a condição de anistiado político para o dramaturgo, diretor e produtor teatral Augusto Boal. Ele terá direito a receber R$ 11 mil por mês, além de uma indenização retroativa, que ainda será calculada. Boal foi preso, torturado, teve sua obra censurada e precisou viveu fora do país. Seu exílio, na Argentina, inspirou a canção ‘Meu caro amigo’, de Chico Buarque e Francis Hime.


O diretor entrou com pedido de anistia em 1987 e somente agora, aos 74 anos e doente, o processo foi aprovado. Ele começou a carreira no Teatro de Arena, em São Paulo, em 1956. Criou a escola do ‘teatro do absurdo’. Muitas peças de sua autoria foram proibidas de ser encenadas. Boal foi preso pelo Dops em 1971, em São Paulo. Os policiais também invadiram sua casa e levaram seus documentos e livros.


O relator do caso na Comissão de Anistia, Egmar José de Oliveira, citou, em seu relatório, uma frase do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o dramaturgo: ‘Boal inovou e reinventou o teatro’.


Para calcular a indenização, a comissão tomou como base um salário de diretor de teatro. Boal juntou no processo contracheques e declarações de rendimentos de colegas como Juca de Oliveira, Paulo Betti e Araci Balabanian.


Em seu voto, o relator afirma que é ‘insofismável a perseguição política sofrida por Boal, indiciado em diversos inquéritos policiais-militares, condenado à revelia, com penas de reclusão e de suspensão de direitos políticos porque ousou a lutar contra o regime ditatorial implantado em nosso país com o golpe militar’. Boal retornou ao Brasil em 1979, com a Lei da Anistia.’



TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘Arrastado ‘, copyright Folha de S. Paulo, 27/10/05


‘Cortando um dia de muitas palavras nos canais legislativos e noticiosos, a manchete da Folha Online:


– Ministério Público acusa Dirceu de improbidade.


E do ‘SBT Brasil’:


– MP acusa José Dirceu de usar máguina pública para ajudar a eleger o filho.


O procurador, segundo o site, ‘concluiu que Dirceu, Waldomiro Diniz e Zeca Dirceu praticaram atos de improbidade que em tese configuram crime de tráfico de influência’.


E ontem havia mais esperando o ex-ministro. Na escalada do ‘Jornal da Band’:


– Comissão de Constituição e Justiça mantém o processo para cassar Dirceu.


O placar impressionou, 39 votos a 15. Segundo deputados, até do PT, ‘é sinal do que vai ser a votação em plenário’. Ou ainda, é uma ‘prévia’.


Do blog de Josias de Souza:


– Os governistas compõem a maioria da CCJ. Para quem tinha dúvidas, fica ainda mais evidenciado que o presidente tem pressa em ver a lâmina descer sobre o pescoço de seu ex-chefe da Casa Civil.


Do blog de Jorge Moreno:


– Ouvi do governo: Dirceu cassado é vítima, é revanche contra sua história de luta que levou Lula ao poder. Dirceu cassado integra campanha de Lula. Dirceu absolvido é maracutaia e acordão. É um raciocínio. E de gente graúda.


Mais dos blogs, sobre Dirceu e sua luta sem fim. Primeiro, como farsa ou piada. Fernando Rodrigues postou ‘a última do Salão Verde’:


– Zé Dirceu vai recorrer à Academia Brasileira de Letras. A Carta Magna obriga os órgãos públicos a usar corretamente a língua… Vai ser duro achar deputado para redigir o texto da cassação sem erros.


E como tragédia, no blog de Helena Chagas:


– Zé Dirceu não se cansa. Cai, mas lutando. Arrastado pelos corredores, vai gritando, chutando a canela dos carcereiros… Não deixa de ser curioso, quando muitos preferem renunciar e outros tentam acordos na calada da noite, observar o sujeito que parte sozinho para a briga, para matar ou morrer.


AS FITAS, AS FITAS


Repórter da Globo, ao vivo da acareação:


– Os irmãos de Celso Daniel voltaram a repetir que Gilberto Carvalho teria dito que transportou dinheiro desviado da Prefeitura de Santo André.


No enunciado da Folha Online, ‘Irmãos de Daniel reafirmam que Carvalho revelou corrupção’. No da Agência Estado, ‘Irmãos reafirmam denúncia contra assessor de Lula; Gilberto Carvalho nega’.


Assim foi o dia, nos canais de notícias etc.


A pouca emoção correu por conta do senador Álvaro Dias, que avisou ter os grampos telefônicos feitos pela Polícia Civil -e que, segundo a Globo, ‘têm diálogos de petistas que dariam alguma orientação para testemunhas do assassinato’. Mas não, não era nada. E Ricardo Noblat, em ‘live blogging’, saiu batendo:


– Só para ocupar espaço de mídia… É velharia o que Dias está mencionando a respeito das conversas grampeadas. Está só aproveitando o tempo de graça na TV -e de olho nas manchetes dos jornais.


No fim, sites e blogs voltaram a atenção para a TV Senado, esquecendo Globo News e Band News.


Lá estava o senador Jorge Bornhausen em discurso, reagindo aos cartazes brasilienses de um petista que o tacharam de nazista -e recebendo solidariedade geral, de José Sarney a Aloizio Mercadante.


Mal ele acabou e surgiu na mesma TV Senado Geraldo Mesquita, para anunciar que estava deixando o PSOL, em meio a mais discursos emocionados. Depois, na escalada de manchetes do ‘Jornal da Band’:


– O senador acusado de cobrar comissão dos assessores deixa o PSOL. Heloísa Helena chora.


OBRIGADO, JUDY A jornalista Judith Miller, enredada no maior escândalo de mídia da era George W. Bush, ganha apoio no Brasil. No ‘NYT’ de sexta, 23 ibero-americanos assinaram anúncio de meia página em sua defesa. Entre eles, o venezuelano Gustavo Cisneros, o mexicano Jorge Castañeda e os brasileiros Celso Lafer, João Roberto Marinho, Luiz Felipe Lampreia, Nélida Piñon e Roberto Teixeira da Costa.’