Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Falta de transparência
na radiodifusão é criticada


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007


TELECOMUNICAÇÕES
Elvira Lobato


Transparência na radiodifusão


‘A INCLUSÃO do apresentador de TV Augusto Liberato, o Gugu, no cadastro oficial do Ministério das Comunicações como acionista da emissora de TV Pantanal Som e Imagem, de Cuiabá (MT), noticiada ontem, pela Folha, é reveladora da falta de transparência sobre a propriedade da radiodifusão no Brasil.


É prática disseminada no setor registrar participações acionárias em nome de terceiros, sempre que o verdadeiro dono está impedido pela legislação de se identificar como tal.


Rememoremos o caso Gugu: No final de 2001, o apresentador -cujo anseio de possuir uma TV era conhecida no meio televisivo- comprou 100% do capital da empresa Pantanal Som e Imagem, que acabara de vencer a licitação pública federal para um canal de TV em Cuiabá, com a oferta de pagamento de R$ 1 milhão pela licença. Em agosto de 2002, durante a campanha eleitoral para a Presidência da República, o Ministério das Comunicações assinou o contrato de concessão. Liberato era âncora do programa eleitoral de José Serra, então candidato do PSDB na corrida presidencial, daí o caso ter chamado a atenção.


Uma rápida investigação jornalística mostrou, na época, que o contrato era ilegal e feria tanto a legislação de radiodifusão quanto a de licitações públicas. A legislação só admite a venda do controle acionário de emissoras após decorridos pelo menos cinco anos de funcionamento. Liberato poderia ter comprado até 49,99% das cotas da Pantanal, mas não poderia ter o controle da empresa.


O ex-ministro das Comunicações Juarez Quadros anulou o contrato duas semanas antes do segundo turno da eleição. Liberato recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça), que confirmou a decisão do ex-ministro.


No ano passado, o governo pavimentou o caminho para Gugu reaver a TV. Aceitou a tese de que ele agira de boa-fé e que comprara o controle da Pantanal por desconhecer o impedimento legal. Liberato ‘desfez o negócio’ e ‘devolveu’ 100% das cotas aos antigos donos. Passados oito meses, em dezembro, recomprou oficialmente 49,99% da emissora.


A volta do apresentador como minoritário foi recebida com descrédito por executivos do setor. Desconfia-se que ele possua contrato particular que lhe assegure o controle efetivo da empresa. Afinal, trata-se de prática disseminada no setor.


Há uma semana, a mesma Folha noticiou que a Igreja Renascer tem duas concessões de TV e 23 concessões de rádio em nome de três empresas.


A transparência em relação à propriedade dos meios de comunicação é o primeiro passo para modernizar o setor.


ELVIRA LOBATO é repórter especial da Folha.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo repete clichês e reaproveita fórmulas no Carnaval 2007


‘A reprise de um ‘Globo Repórter’ justamente sobre reciclagem, algo inédito, pelo menos na história recente da emissora, já era um sinal do que viria pela frente. Mesmo com ajustes, a transmissão do Carnaval da Globo neste ano foi igualzinha a de anos anteriores.


Em São Paulo, o padrão Globo de transmissão de Carnaval de novo teve a comentarista Leci Brandão chamando sambistas pelo apelido ou no diminutivo. Maurício Kubrusly, também num esforço de demonstração de intimidade com o samba, voltou a se referir aos carnavalescos apenas pelo primeiro nome ou relatando encontros em que o artista lhe falou sobre o enredo.


Também nunca faltam na Globo explicações (sempre mirabolantes, épicas, mitológicas) sobre o que o carnavalesco quis dizer com determinado carro alegórico ou qual fato histórico a ala que está passando na tela quis retratar. Renata Ceribelli faz isso com a determinação de quem realmente acredita no que está falando, por mais nonsense ou abstrato que pareça.


O padrão Globo de transmissão de Carnaval abusa das informações inúteis. Logo na primeira noite, já foram registradas frases como ‘A banana é uma riqueza natural’ (Chico Pinheiro) e ‘A China foi o primeiro país a exportar aço’.


Mas o que mais caracteriza o padrão Globo de transmissão de Carnaval é a overdose de efeitos visuais e, no caso do Rio, também de luzes. Neste ano, a emissora anunciou, orgulhosa, que uma equipe de dez pessoas trabalhou desde setembro na criação em computação gráfica de 27 novos personagens animados e tridimensionais, cada um caracterizando uma escola diferente (13 no Rio e 14 em SP). Mais do mesmo. No ano passado já foi assim.


Em São Paulo (25 câmeras nas mesmas posições de sempre), a Globo usou enquadramentos mais fechados, mesmo nas tomadas gerais, e não encheu tanto a tela com confetes e serpentinas como no ano passado. Mas mesmo assim, continua exagerando, poluindo.


O padrão Globo de transmissão de Carnaval neste ano foi seguido à risca até quando, no último desfile do primeiro dia de São Paulo, teve que mostrar um enredo que contava a história de João Saad, fundador do Grupo Bandeirantes -que até o ano passado fazia oposição institucional à Globo, mas não faz mais, agora que são parceiros no futebol.


O desfile da Nenê de Vila Matilde foi mostrado pela Globo com o mesmo padrão de sempre. A emissora nem recorreu ao truque de não mostrar artistas da concorrente – alguns, como Leão Lobo, tiveram uma exposição recorde. Leci Brandão até achou que era o caso de louvar no ar essa atitude ‘digna’ da Globo. Acorda, Leci, a principal razão da transmissão do Carnaval de São Paulo é o dinheiro do anunciante.’


INTERNET
Noemi Jaffe


Em blog, autora une o sublime e o banal


‘Em primeiro lugar, encontre alguma maneira de se livrar das dezenas de spam que você vai receber diariamente. Em segundo, assine o ‘New York Times’ virtual (www.nytimes. com), por US$ 7,50 mensais. Você vai conhecer muitas coisas interessantes e desinteressantes do jornal mais importante da América do Norte.


Mas isso não tem a menor importância, porque, toda primeira quarta-feira do mês, você vai entrar no blog de Maira Kalman (palavra de que a própria autora não gosta e que chama de coluna). Essa coluna, ‘Principles of Uncertainty’ (princípios da incerteza), é como uma pequena cápsula de meditação urbana, que você toma de forma concentrada nessa quarta-feira e que vai paulatinamente soltando seu efeito a cada dia, até o mês seguinte.


O nome já é contraditório. Se é incerto, não é princípio; é intuição, é imaginação. Mas não. Kalman desliza pela e por causa da incerteza, transformando-a mesmo num eixo condutor: suas imagens e textos são feios e bonitos, ou bonitos porque feios e vice-versa; envelhecer torna-se algo gracioso e desejável; o inútil surge como a coisa mais necessária da vida.


Todo mês Kalman escolhe um recorte sobre uma cidade, alguém da família, um gesto ou cena. A partir desse tema bem abrangente, ela fotografa, desenha sobre as fotos e escreve sobre os desenhos. São imagens e palavras que misturam a trivialidade mínima -pessoas comuns andando de costas, um bolo de padaria, um prendedor de roupa- com uma densidade máxima -frases de Dostoiévski, de Nietzsche, pensamentos sobre a morte e o porquê das coisas serem como são.


E o resultado é, inevitavelmente, perceber que, se olharmos bem, um prendedor de roupa contém questões profundamente existenciais e estéticas. Como a autora diz: ‘Será que uma emoção por causa de um acontecimento pessoal é mais grandiosa ou mais banal do que ler Descartes?’.


São as duas coisas, e uma não existiria sem a outra. O certo é que, se Descartes não precisou confrontar-se com a solidão inarredável de um prendedor de roupa, ele sem dúvida deveria. E o resultado são centenas de leitores de todas as partes dos EUA, velhinhas, jovens, desenhistas, futuros escritores, todos acalentados pela beleza de um estranhamento.


Que bom que um jornal do porte do ‘Times’ ainda possa abrir espaço para uma coluna inclassificável, sem forma nem linguagem definidas. Kalman é ilustradora, escritora e designer. Já fez inúmeras capas para a ‘New Yorker’ e escreveu mais de 12 livros infantis. Fez desenhos de tecidos para Isaac Mizrahi e vários acessórios em exposição no Museu de Arte Moderna de Nova York. Mora em Nova York e falou à Folha por e-mail.


FOLHA – Como é o processo de composição de seu blog?


MAIRA KALMAN – O processo é orgânico. Eu caminho pelas ruas e leio e tiro fotos e penso sobre as coisas, e um tema surge. Talvez uma mini-obsessão do mês. Depois eu rabisco e colho mais imagens e tropeço em mais fragmentos e depois junto tudo. Depois escrevo e reescrevo e desescrevo.


FOLHA – Como você chegou à idéia de criar um blog?


KALMAN – Eu não gosto da palavra blog. Blog soa como arrotar ou cuspir o que está na cabeça, de uma maneira apressada. O que eu tenho é uma coluna ou uma mini-história. Então me desculpe se eu prefiro a palavra coluna. Os editores da página virtual me perguntaram se eu queria. Eles queriam uma coluna ilustrada que fosse pessoal e narrativa. Além disso, eles não me deram limites.


FOLHA – Sua coluna mistura o banal e o denso. Qual é a diferença?


KALMAN – Não há possibilidade de distinção entre o sublime e o trivial. É impossível alguém funcionar sem os dois e, na maior parte do tempo, ninguém tem certeza sobre qual é qual. Será que uma emoção por causa de um acontecimento pessoal é mais grandiosa ou mais banal do que ler Descartes? O cérebro está tentando resolver problemas o tempo todo. Não faz sentido categorizar as coisas. Mas, se eu tivesse que dizer algo sobre as coisas pequenas da vida, diria que elas me dão um prazer muito intenso.


FOLHA – Você parece ter ligação especial com a velhice. É uma resposta a uma histeria atual de juventude?


KALMAN – A gente passa a vida tentando descobrir como viver e como morrer. É um processo que nos consome, quer a gente goste ou não. É claro, quando a gente envelhece, a noção do fim é mais real e terrível. Mas daí as distrações (o trabalho) se tornam mais prazerosas. E o amor. E as flores. Tudo cresce. Eu amo as crianças e os velhos do mesmo jeito. Mas é claro que é triste que o desejo de permanecer-aparentar a juventude tenha atingido picos histéricos. Eu espero que todos possamos envelhecer com graça, embora isso talvez não seja possível. Demora muito tempo para se dar valor a uma coisa que está por aí há muito tempo.


FOLHA – O fato de você ser judia e nova-iorquina é uma condição inescapável para o seu trabalho?


KALMAN – Os meus pais saíram da Rússia para Israel nos anos 30. Essa realidade definiu os sentimentos deles e a maneira como eles nos criaram. O Holocausto era uma realidade constante na minha família. Nós carregávamos essa noção da fragilidade da vida misturada a uma determinação e flexibilidade quando nos mudamos para Nova York. Mas nós sempre nos consideramos estrangeiros, o que acho que foi na verdade uma coisa boa. Me fez olhar e ouvir. Algo que eu ainda amo fazer. A minha família também tinha um incrível senso de humor. Era uma parte muito importante nas nossas vidas. E a cultura. E a comida.


FOLHA – Você encontra beleza em cenas aparentemente feias. O que é a beleza para você?


KALMAN – Eu não sei definir isso muito bem. A beleza está presente de muitas formas. Na integridade do desenho. Na arte gloriosa. No humor. Na determinação. Por que um bobe é belo? Por que Matisse é belo?


FOLHA – As respostas à sua coluna são afetuosas. Isso se deve a algum tipo de falta de afeto urbano?


KALMAN – Acho que eu sou uma pessoa afetiva com certa dose de reserva. Acho que todos se sentem assim. Muito solitários, às vezes. O que se pode fazer?’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007


INTERNET
Pedro Doria


O tempo do ‘Times’


‘A última quarta-feira foi atribulada na sede do New York Times. Perante seus funcionários, o presidente da empresa, Arthur Sulzberger Jr, tirou um tempo para se explicar. Na semana anterior, ele havia dito que, suas palavras, ‘não podia garantir’ que o Times continuará a ser impresso daqui a cinco anos.


É a primeira vez que o dono – melhor, um sócio majoritário – de um dos grandes jornais do mundo cogita publicamente o fim de seu jornal. Um pouco de contexto cabe à notícia.


Sulzberger estava conversando em Davos, durante o Fórum Econômico Mundial, com o repórter de economia israelense Eytan Avriel. Foi uma conversa de corredor entre homens de imprensa que começou informalmente e terminou numa pequena reportagem. Como o publisher do Times não pediu sigilo do assunto, Avriel publicou. É do jogo.


Seu texto saiu nas edições em hebraico e em inglês do diário Ha’retz, de Tel Aviv, e de link em link circulou o mundo. ‘Nosso objetivo é gerenciar a transição do impresso para o online’, diz Sulzberger. Os lucros do jornal estão em declínio faz quatro anos, 1,5 milhões de pessoas lêem o jornal online contra 1,1 milhão de assinantes do papel.


Além do quê, os classificados estão tomando o rumo da internet.


Há outro número-chave. É importante para um jornal que seu leitor típico seja jovem e por um motivo: se a média etária for alta isto quer dizer que a base de leitores não está se renovando. Sem renovação, não há longevidade. O leitor médio do Times tem 42 anos; o da versão online tem 37. E esses cinco anos fazem uma enorme diferença.


O indício é de que a internet está não apenas capturando para a marca um público mais jovem como seduz essa turma, até, para comprar a edição impressa. ‘Não sei se estaremos imprimindo em cinco anos’, ele disse, ‘e francamente, não me importo muito.’ Seu negócio, afinal, é oferecer informação de qualidade para o público na mídia em que ele preferir.


Se é a tela do computador, lo que sea.


Uma coisa é o que se diz nos bastidores, outra completamente diferente é o que se diz em público. Arthur Sulzberger Jr tem 55 anos e está no comando da empresa desde 1992. Herdou o cargo do pai, que veio após seu avô que, por sua vez, recebeu o posto do sogro. O jornal é familiar, tradicional, está no ramo desde 1851 e, se bobear, não há título mais conhecido no mundo.


Quando o patrão sugere que as rotativas em operação desde 1851 podem encerrar suas atividades lá por 2012, na gráfica, na redação, no comercial e em por cada centímetro do prédio na Times Square – que recebe o nome por conta do jornalão – há um certo tremor.


‘Continuaremos a investir em nossos jornais que, acreditamos, estarão de pé por muito tempo’, disse aos empregados. ‘Sim, há o que eu teria dito em Davos, mas deixem que seja claro: acredito que jornais estarão em circulação, impressos, por muito tempo. Mas também acredito que devemos estar preparados para a possibilidade de isso não ocorrer.’


Todos temos o direito de escolher qual nossa versão favorita da opinião de Arthur Ochs Sulzberger Jr; temos o direito até de acreditar que as duas são um bocado compatíveis. Mas, da próxima vez em que surgir a discussão do fim do jornal, tratar como piada não é o caminho.


A imprensa não terminará mas a maneira como o cidadão se informa mudará, como já vem mudando. Que forma tomará é muito difícil dizer. Mas, daqui deste lado da folha, é um tempo de altas emoções.’



Vera Dantas


Nivea aposta na venda de cosméticos pela internet


‘O mundo virtual é o novo desafio da Nivea do Brasil para brigar com a concorrência e dobrar o faturamento da companhia em cinco anos. A empresa fechou uma parceria com o Submarino e começa a vender toda sua linha de produtos pela internet nesta semana. Entre os 150 países onde a Nivea atua, com subsidiárias, o Brasil será o primeiro a ter um site da companhia para a venda eletrônica.


‘Se a experiência for bem sucedida deverá ir para outras filiais’, diz o presidente da Nivea do Brasil, Nicolas Fischer. Ele avalia que em dois anos o canal internet esteja entre os 10 mais importantes meios de venda de produtos da empresa, ao lado de hipermercados e drogarias.


A aposta de Fischer no comércio eletrônico leva em consideração o crescimento e o potencial das vendas pela internet. O varejo on line movimentou R$ 4,4 bilhões e cresceu 76% em 2006 em relação ao ano anterior. Na área de beleza, as vendas virtuais somaram R$ 308 milhões, o que representou um aumento de 46% na comparação com 2005.


‘Não podemos ficar de fora desse mercado’, diz Fischer. Os produtos de beleza representam a quarta categoria de vendas pela internet, de acordo com dados da empresa de marketing e-bit.


O presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosmético, João Carlos Basilio, concorda que o potencial de crescimento de vendas pela internet é grande. Mas por enquanto, a maior parte das empresas não vende por sites próprios, mas por meio das Americanas.com, Submarino e redes de drogarias e hipermercados.


Além de reforçar as vendas e dar fôlego para manter o crescimento em torno de 15% ao ano, a empresa considera o site estratégico para se relacionar melhor com os consumidores. O Submarino ficará encarregado da distribuição e da parte financeira das vendas. ‘Podemos conhecer melhor o perfil de quem compra e fazer um marketing mais personalizado, sem ser invasivo.’ Além disso, a internet facilita a vida do consumidor.


As concorrentes Natura e Avon utilizam a internet muito mais para relacionamento do que para vendas. ‘O site é estratégico para uma aproximação com a consumidora. Não é prioritário para vendas’, diz o diretor de inovação comercial de Natura, Eduardo Zornoff. A empresa oferece a opção de venda eletrônica há seis anos, mas o resultado representa menos de 5% do faturamento. Zornoff admite que as vendas pela internet são incipientes.


‘Encaminhamos pelo site os consumidores para uma de nossas revendedoras.A revendedora é quem melhor pode apresentar o conceito da Natura.’ Zornoff diz que se a Natura enfatizasse o comércio eletrônico em seu site o relacionamento com as revendedoras da marca poderia ser abalado. ‘Elas poderiam julgar que a empresa estava mudando a estratégia comercial.’ O site da Avon é também bastante acessado por consumidores em busca de revendedoras. As vendas pelo e-commerce da empresa são pouco representativas.


O Brasil já é o terceiro no ranking mundial de vendas de produtos de beleza, atrás dos EUA e Japão, com faturamento de R$ 17,3 bilhões. A concorrência, diz o presidente da Nivea, é cada vez maior e por isso a empresa decidiu acelerar a renovação de um terço de sua linha. ‘Baixamos o tempo de renovar toda a linha a cada quatro ou cinco anos para cada três anos’, diz Fischer.


Em 2006, a empresa cresceu 16% no Brasil. A companhia não divulga números no Brasil, mas estima-se que seu faturamento tenha ficado por volta de R$ 560 milhões.’


HQ NA WEB
Filipe Serrano


HQs ganham novos traços na web


‘Se nos últimos 30 anos quadrinistas novatos mundo afora driblavam o fechado mercado editorial publicando revistas alternativas e fanzines, a nova geração encontrou um meio mais econômico e dinâmico para ampliar o universo de leitores de suas histórias: blogs e sites.


As histórias em quadrinhos (HQs) online se tornaram um fenômeno mundial. No Brasil, a liga de personagens que desponta em blogs e sites traz uma variedade que vai muito além dos heróis de grandes editoras como a Marvel e DC Comics e do humor de salão da Disney e da Turma da Mônica.


Quem já se deparou com as tirinhas Malvados, Capitão Presença e Dr. Zigoto sabe que a internet está repleta de novos quadrinistas ávidos por mostrar seus traços.


Um desses artistas iniciantes é o ajudante de mecânico paulistano Claudio Mor. Entre um escapamento furado e um motor fundido, ele rabisca suas idéias para depois publicar no blog. ‘Não me vejo vivendo de quadrinhos, mas é uma paixão. Publicar na web é o jeito mais fácil e econômico de divulgar o trabalho’, diz.


No site do Link, disponibilizamos uma seleção dos trabalhos de Mor e de outros novos quadrinistas brasileiros.


Enquanto a aventura brasileira na web ainda funciona um tanto na base do improviso, nos EUA, sites de HQs como o PVP online e Penny-Arcade já atraem anunciantes.


E esse fenômeno já interessa as editoras. Segundo João Prado, da Art&Comics International, que agencia desenhistas, a internet está próxima de ser o principal meio para descobrir novos artistas. ‘Encho meus favoritos de endereços de sites, blogs e fóruns’, diz Prado.


Uma das páginas mais bacanas é o ComicSpace. É uma espécie de comunidade online, como o Orkut, que reúne artistas e fãs do mundo todo. ‘O site é como uma convenção de quadrinhos gigante aberta durante 24 horas’, diz o criador Josh Roberts.


Mas a web vai além de conectar pessoas e de ser um meio para divulgar novos trabalhos. Na internet nascem novas experiências, mais ricas do que só escanear um desenho. Sem as limitações do papel, artistas usam a linguagem de programação Flash para embaralhar os limites entre quadrinhos e animações e também conseguem criar formatos diferentes de leitura. Uma verdadeira mudança de linguagem.


Um dos pioneiros na inovação é Scott McCloud, que já criou uma HQ com 42 metros de altura.


Além de conhecer os quadrinistas da web, nesta edição você também vai ver como as editoras estão se adaptando aos tempos da troca de arquivos, em que qualquer adolescente no seu quarto consegue baixar e distribuir HQs clássicas.


Internet abre possibilidade de testar novas linguagens


Os artistas que começaram a publicar HQs na web tiveram um grande sacada. Por que não aproveitar recursos de multimídia para incrementar o visual dos quadrinhos?


A partir da questão, desenhistas inteirados com tecnologia inseriram pequenas animações em Flash nos quadrinhos. Em alguns casos, a novidade provoca a sensação de interatividade com a história. Mas sem perder a característica das HQs de que a pessoa deve imaginar a passagem de tempo e movimento entre um quadro e outro, conhecida como elipse.


‘É uma revolução que traz códigos novos para os quadrinhos’, diz o pesquisador Edgar Franco, autor do livro HQtrônicas: do suporte papel à rede internet (Ed. Annablume e Fapesp, 284 págs.) ‘Uma nova linguagem está nascendo que não se sabe para onde vai caminhar’, afirma.


O autor explica que está sendo criado um tipo de arte que não se encaixa em nenhum dos padrões, nem de HQ, nem de desenho animado. ‘Eles podem ter trilha sonora, efeitos de som, animações e ser em 3D, mas carregam elementos dos quadrinhos tradicionais’, afirma.


O artista Scott McCloud foi um dos primeiros a fazer experiências. Em seu site, é possível conferir algumas delas. Na mais recente, de 2003, The Right Number, o quadro principal com a história fica em primeiro plano. Bem no centro dele você consegue ver o quadro seguinte em tamanho menor. Ao clicar em uma seta, o recorte central se movimenta do fundo para frente, se sobrepondo ao desenho inicial.


Em Zot! Online: Hearts and Minds, McCloud faz uma HQ na vertical que, dividida em 16 capítulos, soma 42,5 metros de altura. É um conceito que ele chama de ‘tela infinita’, embora, ela tenha, sim, um fim.


Outra experiência que chama a atenção é Carl Comics. A HQ começa só com o primeiro e o último quadrinho na tela. Conforme você clica, um novo quadro aparece entre eles e, depois de 51 cliques, a história inteira se completa.


Além de McCloud, outra iniciativa bacana é o site Argon Zark do artista Charley Parker. A proposta dele é menos revolucionária, mas não menos cativante.


Os quadrinhos são bem parecidos com as HQs impressas. Com uma exceção. São feitos em Flash e cada quadro contém uma pequena animação.


Para o pesquisador de análise estética em quadrinhos, Osni Winkelmann, o uso dos PCs na produção de HQs muda o traço do artista. ‘A colorização com softwares deixam as áreas coloridas definidas demais. Os traços não são soltos’, diz ele.


Uma experiência brasileira com recursos digitais é feita no site da editora online HQNado. Alguns dos quadrinhos de diversos artistas têm uma versão tradicional e uma em movimento. ‘É um semidesenho animado’, diz um dos criadores, Alessandro Scringolli.’


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Sites já competem com papel


‘Não faltam opções de sites na web para apreciar a arte dos quadrinhos. Brasileiros ou estrangeiros, as páginas oferecem desde HQs em formato de revista até tirinhas feitas somente para a internet.


Um deles é o Nona Arte. O site conta com 450 publicações para download em arquivos PDF de edições antigas de 156 artistas. Um exemplo é a imagem ao lado, retirada de um dos episódios de Subversivos de Marcos Paz e André Diniz.


André é editor da página, que começou como uma publicação impressa. ‘A revista não deu muito certo. Começamos a colocar histórias na íntegra, e o site acabou ficando mais conhecido do que no papel’, conta.


Outro mais dedicado às tirinhas é o Webcomix, com 18 artistas. Entre eles está Rogério Marcus, criador do personagem em crise existencial Pessoa.


Rogério desenha desde os 12 anos e é formado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mas nunca encontrou muito espaço no mercado editorial. ‘Acho fantástica a aproximação com o público. Tenho a esperança de a internet ajudar a alcançar o impresso’, afirma.


O criador do Webcomix Henrique Fonseca Duarte explica que existe um conceito por trás das webcomics. ‘Não precisa ser só tirinha, e os artistas têm total liberdade para criar’, conta. ‘Mas não é só colocar o desenho no site. Tem que publicar HQs novas todos os dias, sempre indicando a data.’


O problema é que poucos sites brasileiros conseguem ter algum lucro, e os artistas acabam publicando pela própria vontade de divulgação do trabalho.


Essa é a principal diferenças em relação aos quadrinhos online feitos nos Estados Unidos.


Alguns exemplos são os sites de HQs virtuais Player Vs. Player Online, Penny-Arcade, Keen Spot e Diesel Sweeties, que atraem anunciantes e milhares de leitores. No caso do PVPOnline, por exemplo, são mais de 200 mil visitas diárias.


No Brasil, um dos mais bacanas para saber as notícias do mundo dos quadrinhos é o UniversoHQ.’


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HQs online: e os direitos autorais?


‘Assim como na música e no cinema, existe uma polêmica de direitos autorais em torno dos quadrinhos na web. O público online de HQs fica ansioso por ver os últimos lançamentos ou mesmo raridades que não são encontradas em sebos de quadrinhos. E descobriu nas cópias digitalizadas na internet uma maneira para saciar essa curiosidade.


Logo nos dias seguintes ao lançamento de uma revista da Marvel ou DC Comics, as cópias já estão disponíveis na web. Em alguns casos, até traduzidos livremente para o português.


Sites como o Rapadura Açucarada, blogs como o Só Gibi Antigo e uma comunidade do Orkut, Pingola Arcaica são alguns exemplos. Além deles, as HQs são encontradas em programas de troca de arquivos como o Bittorrent, PirateBay, TorretZ, além do clássico eMule.


A comunidade do Orkut reúne quase 6.000 membros que trocam links para baixar os scans- como são chamados os gibis copiados. Cada lançamento semanal das editoras pode ser encontrado lá.


Colecionadores e fãs de HQs se defendem dizendo que não vão deixar de comprar revistas porque já tem a cópia no PC.


Um exemplo é o designer gráfico Peter Gomes, que também desenha quadrinhos para escolas. Ele confessa que fez o download de uma edição histórica da DC Comics, chamada Crise nas Infinitas Terras – lançada em 1985 para recriar o universo de personagens da editora.


‘Tenho coleção de HQs e não conseguia encontrar essa edição. Mas, se eu achar algum dia, com certeza vou comprar’, se explica. ‘O prazer de ler em qualquer lugar é insubstituível. As editoras deviam republicar essas edições.’


Até o artista brasileiro Mike Deodato Jr., que desenha os principais super-heróis da Marvel, revela que já baixou um scan. ‘A editora estava demorando muito para mandar a edição. Queria ver como tinha ficado’, afirma. Mike acha que a maioria dos colecionadores prefere comprar a revista, mas baixar scans pode se tornar um problema em relação aos mais jovens, mais ligados à internet.


Fernando Lopes, editor da Panini, que publica títulos da Marvel no Brasil, diz não ter dados sobre o prejuízo causado pelos scans. ‘Não vejo vantagens, mesmo se alguém sentir mais vontade de comprar uma revista depois de baixar. Não tem como ser a favor’, diz. Como resposta, a Marvel coloca títulos antigos para serem lidos gratuitamente na sua página.’


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No Brasil, tiras saem em blogs


‘A principal ferramenta que os quadrinistas brasileiros usam para divulgar seus trabalhos são os blogs. Mais simples do que desenvolver um site, a maioria escaneia a tirinha feita em papel e publica em sua página pessoal.


Apesar da facilidade, os blogs têm dado resultado. Algumas das tiras mais conhecidas na web são de André Dahmer com os personagens de Malvados.


Publicado desde 2001 na web, Malvados conta com 9.000 visitantes por dia segundo André. ‘O site já me sustenta bem, e as HQs online podem se tornar fonte de renda para outros também’, diz. Mas, apesar de ter mais leitores na web, André ainda prefere ter trabalhos publicados. ‘Sou um velhote de outras épocas’, brinca ele, que tem 32 anos.


Outro que tem fãs internautas é Arnaldo Branco, criador de personagens como o Capitão Presença e Joe Le Pimp. ‘Comecei na internet em 2002, quando a situação era muito ruim para publicar em papel. O único jeito para não abandonar os desenhos foi criar um blog’, diz.


Diferentemente de Dahmer, Arnaldo afirma não ter retorno financeiro, mas recebe ofertas de trabalho como desenhista. ‘Nunca bati na porta de ninguém para procurar emprego.’


Um dos principais personagens é o anti-herói Capitão Presença, que surgiu no blog e fez sucesso entre os leitores. ‘Se não fosse a resposta positiva, a idéia teria morrido’, diz.


Outro que já começa a fazer barulho na web é Daniel Lafayette, que também é cartunista do Jornal do Brasil. Para ele, o papel ainda é o principal meio para publicar HQs. ‘É o que dá dinheiro, mas isso pode mudar daqui um tempo. Tem muito artista bom com pouca oportunidade’, diz.


O blogueiro Gustavo Daher, 25 anos, assim como os outros quadrinistas, optou por desenhos de humor esdrúxulo e, às vezes, bem pesados. Daher faz o Toscomix (lê-se Tôs-comix) há cerca de 3 anos. ‘Só na internet existe liberdade para esse estilo de humor. É tosco por escolha, mas às vezes faço desenhos mais elaborados’, diz.


Traços mais detalhistas ficam por conta dos gêmeos Fábio Moon e Gabriel Bá do blog Os Loucos Underground.


Os dois são de uma geração que surgiu a partir dos fanzines. Eles publicaram o 10 pãezinhos de 1997 à 2001 e agora mostram desenhos na web. ‘Não tinha mais tempo de distribuir’, conta Fábio. ‘Antes do blog, ninguém sabia o que fazíamos entre um trabalho e outro. Agora, mostramos o que está por trás para refletir melhor sobre nossa produção.’’


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Comunidade une artistas e fãs


‘Que tal reunir em uma comunidade virtual ilustradores, quadrinistas, roteiristas, colecionadores, editores e criadores de quadrinhos para web? A idéia se concretizou no fim do ano passado com o lançamento do ComicSpace, que tem exatamente essa proposta.


O site foi criado por Josh Roberts, que já tomava conta de outra página sobre quadrinhos, a OnlineComics, que é quase uma enciclopédia sobre o tema.


‘Já tinha registrado o endereço do ComicSpace e resolvi tocar o projeto. Passei um mês para criar as ferramentas básicas de uma rede social online’, afirmou em entrevista por e-mail ao Link.


A comunidade conta com mais de 12 mil usuários. Desses, 360 são brasileiros, um número que coloca o País em quarto lugar, atrás do Reino Unido (362), Canadá (454) e Estados Unidos (5.162).


O ComicSpace é bem mais simples do que o Orkut, mas pode ser bacana para quem quer se relacionar com pessoas interessadas em quadrinhos em vez de dezenas de amigos de infância que nunca mais deram as caras.


Todo feito em inglês, a ferramenta que mais chama a atenção é a galeria de quadrinhos. É como um álbum de fotos, mas para publicar HQs criadas pelos usuários.


Josh acredita que a comunidade também pode ajudar artistas iniciantes a divulgarem seu trabalho e até serem descobertos por alguma editora, revista ou jornal.


‘Os membros fazem contatos que nunca seriam possíveis. Muitos adicionam descrições de si mesmos e da relação que têm com o mundo dos quadrinhos. Também postam boletins para manter os amigos atualizados sobre o trabalho que estão desenvolvendo’, diz.


O ilustrador Paulo Cesar dos Santos, 35 anos, conhecido como PC, entrou no ComicSpace pouco antes do Natal. O que chamou a atenção foi a característica de ser uma comunidade voltada para HQs. ‘A lista de amigos é mais confiável, e tem menos risco de aparecer alguém mal-intencionado’, afirma.


Paulo, que também dá aulas em uma escola de desenhos, acredita que o ComicSpace ajuda a divulgar suas HQs. ‘Hoje em dia, você vê muitos casos de artistas conseguindo trabalho pela internet. A comunidade aproxima mais as pessoas’, diz.


Aproxima tanto que Paulo é amigo virtual de roteiristas conhecidos como Brian Bendis e Warren Ellis. ‘Requer uma certa ética. Não vou importuná-los com perguntas chatas’, diz.’


Camila Viegas-Lee


‘Na web, HQ é de graça e sem censura’


‘O sucesso do quadrinho online Shooting War é o sonho do ilustrador emergente. Publicado em capítulos pela revista online Smith Magazine, de maio a setembro do ano passado, essa história em quadrinhos que narra a vida de um blogueiro durante a guerra do Iraque em 2011 chamou a atenção da comunidade digital, com artigos na Rolling Stone (‘assustadoramente esperta’), Entertainment Weekly (‘leitura obrigatória’) e o blog de quadrinhos da Publisher’s Weekly (‘precisa, relevante e atual, um webcomic para nós’).


Mas o xeque-mate veio quando os autores Anthony Lappé e Dan Goldman fecharam um contrato de US$50 mil para a publicação de uma novela gráfica pela Warner Books. O livro, uma versão revisada e estendida da história online com capa dura e 200 páginas, deve sair em outubro deste ano.


Em entrevista exclusiva ao Link, de seu estúdio no Brooklyn, Nova York, o ilustrador Dan Goldman falou sobre dinheiro, webcomics, pirataria e a indústria do HQ. Leia abaixo os principais trechos. A entrevista completa será publicada no site do Link.


‘Shooting War’ é um dos webcomics de maior sucesso nos EUA. Como foi que o projeto começou?


Eu estava procurando trabalho no Craighslist (classificados online) e encontrei um anúncio do Anthony Lappé (jornalista, produtor de documentários e autor de Shooting War). Ele estava procurando um ilustrador para o projeto dele e nos conectamos imediatamente. Shooting War é a primeira experiência dele em quadrinhos. Recebi os textos como se fossem uma peça de teatro. Aí a gente se encontrava num café e ia discutindo as cenas. Eu desenhava num bloquinho e transferia para o computador em casa. O primeiro capítulo foi publicado no dia 15 de maio e imediatamente recebemos uma dúzia de comentários de leitores.


O que mudou depois do contrato da Warner Books?


Dinheiro. Publicar online tem inúmeras vantagens, mas dinheiro só vem com a publicação em livro. Novelas gráficas estão sendo levadas a sério. Hoje todo mundo quer publicar um livro. Até meu pai, que vende livros, começou a respeitar mais minhas escolhas agora que Shooting War vai sair em papel.


Você não é um ilustrador tradicional, daqueles que desenham os quadrinhos com guache ou aquarela e depois os escaneia…


Se eu desenhar no papel fica um lixo. Meu processo é todo digital, vetor-ilustrativo, e já fui muito criticado por isso. Faço um mistura de fotografia e desenho digital. Aprendi fazendo. O resultado é meio fotorrealista. Não conseguiria esse resultado se estivesse usando técnicas tradicionais. Se a tecnologia existe, porque não posso usá-la e seguir adiante? Tem gente que vê quadrinhos com nostalgia. Para mim, nostalgia é o medo do novo. Hoje essas ferramentas novas permitem que qualquer um possa virar ilustrador. Isso é genial.


Você é um dos fundadores do Act-I-vate, um site formado por 19 quadrinistas de Nova York…


Somos ‘os’ ilustradores de Nova York. Não, sério, o Act-I-vate é um laboratório exclusivo para cartunistas excepcionais que completou um ano este mês e publica novos webcomics diariamente. A idéia é criar um espaço livre, gratuito, em que possamos publicar nosso trabalho mais ousado, sem as pressões e o estresse comerciais, e cruzar nossas redes de conhecimento, aumentando nossa base de fãs.


Qual foi a primeira vez que você ouviu falar em webcomics?


Foi no Comic Convention de San Diego em 2001. Havia um painel com Scott McCloud (teórico e produtor de quadrinhos) e fiquei fascinado com as possibilidades do meio. Depois de matar minha carreira em cinema e trabalhar para o departamento de marketing do DC Comics, resolvi me dedicar integralmente aos quadrinhos e percebi que era isso que eu queria fazer da minha vida. Quero usar quadrinhos para tirar algo bom da imaginação e trazer de volta para a realidade. Tem muita coisa ruim acontecendo hoje, mas sempre teve coisa ruim acontecendo. Meus avós, por exemplo, se conheceram em Auschwitz. A arte dos quadrinhos é tomar algo terrível e transcendê-lo. Não estou interessado em super-herói, quero criar algo filosófico, engraçado mas levado a sério: um terrorista comendo um Big Mac enquanto dá entrevista para o blogueiro Jimmy Burns (personagens de Shooting War). Acho que o que a gente absorve faz da gente o que a gente é. Sou muito exigente na escolha de filme, música, literatura e quadrinhos. Se a gente come lixo, vira lixo.


Quais são as vantagens de publicar quadrinhos online?


É de graça, é rápido, não tem censura ou pressão comercial e atinge gente no mundo inteiro. Além disso, o autor pode praticar, receber gratificação instantânea, ficar mais perto dos fãs e se comunicar com eles diretamente. A internet é um organismo vivo. Onde você está é tão importante quanto estar lá. Vai ser legal quando inventarem o objeto portátil perfeito para ler webcomics. Ainda não existe. Mas esse iPhone (da Apple) está chegando perto. Webilustradores já estão desenhando paineis independentes mais adequados para esses telefones. O futuro é um lugar interessante.


Você tem medo de reproduzirem seus desenhos e desrespeitarem seus direitos de autor?


O webcomic já vem com proteção contra pirataria. A resolução das imagens é tão baixa que não dá para imprimir. Sairia tudo ‘pixelado’. Nesse aspecto webcomic é melhor do que música ou vídeo.


Quais são seus planos depois que você terminar a versão de ‘Shooting War’ para a Warner Books?


Já tenho um projeto novo fechado com a Crown Publishing Group e com o jornalista Michael Crowley, da New Republic (revista que cobre política baseada em Washington). Crowley vai acompanhar as eleições preliminares dos partidos Republicano e Democrata e vamos fazer um texto jornalístico-educativo que vai ser publicado antes das eleições norte-americanas. Vai ser muito legal porque as pessoas aqui não acompanham o noticiário político e chegam nas eleições sem saber nada sobre seus candidatos. Quem sabe elas se interessem por política via HQ?’


TELEVISÃO
Produção nacional


Discovery e TV Pingüim criam desenho


A Discovery Kids lançará sua primeira série de animação brasileira. Peixonauta, um desenho que tem como público-alvo crianças de 4 a 7 anos, é a mais nova parceria da Discovery Networks Latin America com a TV Pingüim, produtora brasileira que tem no currículo trabalhos com grandes canais, como o Cartoon Network.


O desenho deve estrear em 2008 e não só no Brasil, mas em todos os países da América Latina. A série deverá ter 52 episódios de 11 minutos e será toda feita em animação 2D digital.


Graças a um escafandro cheio d’água, Peixonauta, um peixe agente secreto que trabalha para a Organização Secreta para a Total Recuperação Ambiental (Ostra), pode viver entre o ‘mundo molhado’ e o ‘mundo seco’. Com seus amigos – a menina Marina e o macaco Zico -, ele busca soluções para salvar o planeta.


Peixonauta foi desenvolvida e criada por Kiko Mistrorigo e Célia Catunda, sócios da TV Pingüim, e terá ainda o apoio da produtora canadense Vivavision. Além da série de desenhos para a Discovery Kids, as duas produtoras têm entre seus projetos o desenho Magnitka, que faz parte do projeto Anima Brasil, assinado entre a TV Cultura e empresas canadenses.


RedeTV! quer investir no jornalismo


Os telejornais da RedeTV! se gabam de ter alcançado, na última semana, a terceira posição no ibope consolidado – empatando ou até batendo o SBT. No embalo dos números, o departamento de jornalismo da RedeTV! promete investir mais nesse setor, ainda este ano.


A emissora discute agora a possibilidade de lançar telejornais locais e promover mais interatividade entre as praças. A direção quer ainda a participação do jornalismo em todos programas, incluindo a área de entretenimento, como Bom Dia Mulher, de Olga Bongiovanni.


Entre-linhas


A produção da novela Páginas da Vida anda tão atrasada que, na última semana, a emissora divulgou na quinta-feira o capítulo de quarta.


Nos bastidores da trama, a insatisfação não se restringe apenas ao elenco. A equipe técnica, que não tem mais tempo para a pré-produção, está cansada de ser cobrada por qualidade depois de ter de ficar à disposição 15 horas por dia e receber os textos também com atraso.


Para quem quer fugir do carnaval, o Todo Seu de Ronnie Von traz hoje a Traditional Jazz Band. Às 22 horas, na Gazeta.’


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