Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Fernanda Mena

‘Das 24 horas do dia, o brasileiro passa, em média, cinco diante da TV. São 76 dias por ano dedicados ao cubo mágico. Um ano de sofá e controle remoto a cada cinco.

O dado é do Ibope, de uma pesquisa realizada em 2004. E, como é uma média, supõe-se que, se você não está hipnotizado todo esse tempo diante da TV, outro alguém, em algum ponto do país, tem excedido a média por você.

Mas o que essa gente faria se desligasse a TV e tivesse essas cinco horas livres todos os dias? Foi essa a idéia da ONG canadense Adbusters (www.adbusters.org) ao criar, há 11 anos, a campanha ‘Turn Off TV Week’ (algo como ‘semana da TV desligada’).

A campanha, divulgada pela internet, é mundial e propõe, neste ano, que telespectadores encarem um único desafio: manter sua TV desligada de hoje a 1º de maio.

‘A proposta é a limpeza do ambiente mental de cada um. A TV promove uma cultura sedentária, mas ela não é o foco do problema. Ele está no conteúdo, que é um lixo manipulador. A TV é uma mídia que poderia ajudar no desenvolvimento da democracia e das sociedades, mas só transforma tudo em produto’, ataca o gerente de campanhas Tim Walker.

Walker explica que há duas formas de participar da campanha. A prática mais simples é manter a TV desligada. Mas, segundo ele, muita gente se junta e cria atividades durante a semana. ‘Em Nova York, por exemplo, hoje haverá um protesto de jovens que se vestirão de zumbis e ficarão em frente à maior loja de televisores da cidade. Em Washington, um grupo comprou muitas TVs velhas e levantará fundos para a campanha ao cobrar uma pequena quantia para que as pessoas possam destruí-las a marretadas’, conta.

Em seu site, a Adbusters dá uma forcinha para quem fica perdido depois de apertar o botão que apaga o monitor da TV e lista 50 atividades que podem ser feitas no tempo antes gasto com a telinha. ‘Andar de bicicleta, fazer uma caminhada, empinar pipa, jogar xadrez, cozinhar, promover uma festa no seu quarteirão, ouvir música, protestar, acampar, escrever um jornal’ e por aí vai.

A campanha deste ano conta com o apoio de um instrumento de subversão: o TV-B-Gone (algo como ‘TV já era’). Trata-se de um controle remoto universal criado por um grupo de San Francisco que atua em 45 diferentes freqüências de aparelhos televisores, desligando-os. A engenhoca cabe no bolso da calça e pode desligar a TV do restaurante, do aeroporto, da casa do vizinho ou da loja de departamentos. ‘Vendemos mais de 2.500 só nos EUA’, diz.

A organização estima que, em 2004, mais de 7 milhões de pessoas se envolveram na ‘semana da TV desligada’ e reconhece que está na hora de disseminar sua proposta na América Latina. ‘É nossa próxima prioridade.’’



SEXO NA TV
Daniel Castro

‘Canal de sexo atrai casado com filho adulto’, copyright Folha de S. Paulo, 24/04/05

‘O assinante do Sexy Hot, canal que exibe filmes de sexo explítico, é homem (74%), casado (76%), tem curso superior ou pós-graduação (63%), vive bem (57% são da classe A, e 31%, da B) e já passou dos 31 anos de idade (76%).

É o que revela pesquisa feita no início do ano pelo instituto Quantas para o Sexy Hot, canal da Globosat (Organizações Globo) que atinge cerca de 200 mil assinantes nas operadoras Net e Sky. Foram entrevistadas 1.074 pessoas.

Outros dados surpreendentes da pesquisa: 54% dos casados são casados há mais de dez anos; 70% dos assinantes têm filhos, e, desses, 57% possuem filhos com mais de 18 anos.

Metade dos assinantes do Sexy Hot tem o hábito de assistir ao canal com a mulher ou o marido. A outra metade, que vê sozinha, é na maioria homem (60%).

O pico de consumo do canal durante a semana é entre 22h e meia-noite. Às sextas e sábados, essa audiência se prolonga durante a madrugada. Sábado é o dia que o canal tem mais audiência.

O Sexy Hot é assistido principalmente no quarto do chefe da família (47%), mas uma boa parcela o vê na sala de TV (38%) ou na de estar (11%). Curiosamente, 3% dos assinantes têm ponto do Sexy Hot no quarto dos filhos.

A pesquisa aponta que 52% dos assinantes abaixam o volume do televisor quando vêem o canal, rico em gemidos; outros 6% tiram totalmente o som da TV.

OUTRO CANAL

Tá explicado Gil, personagem de ‘América’ definida em sinopse como uma mulher que ‘carrega na sensualidade’ e que fez triângulo amoroso com os protagonistas Sol (Deborah Secco) e Tião (Murilo Benício), não era para ser interpretada por Lúcia Veríssimo. O papel foi pensado por Glória Perez para Vera Fischer. Mas a loira, alegando compromissos com o teatro, não pôde aceitá-lo.

Rumos Protagonista de ‘A Escrava Isaura’, da Record, Bianca Rinaldi foi convidada pela TV Cultura para atuar em um dos episódios da série de teleteatro que a emissora está gravando. A atriz aceitou. Trabalhar na Cultura é bom para seu currículo, que já melhorou com a novela da Record, pela qual recebeu alguns elogios.

Botão 1 O sonho da Globo é licenciar uma boneca inspirada na sonhadora Sol, de ‘América’. É o que revela a emissora em plano de licenciamento distribuído a agências de publicidade. Diz que ‘Sol’ ou ‘Sol da América’ ‘pode ser explorada na categoria brinquedos, cosméticos etc.’. Só não sugere se a boneca tem de ser ofegante.

Botão 2 A Globo também quer licenciar a marca ‘Touro Bandido’, que é o nome de um touro que entra na trama da novela nesta semana. A marca ‘poderá ser explorada na categoria agronegócios’.

Negócio A Nestlé comprou espaço para fazer merchandising no programa de Ana Maria Braga até o final do ano.’



TV RECORD
Marcelo Bartolomei

‘Record leva departamento de dramaturgia para o Rio’, copyright Folha de S. Paulo, 24/04/05

‘Ancorada no sucesso de ‘A Escrava Isaura’ -que termina nesta semana com média de 16 pontos no Ibope (cerca de 800 mil espectadores na Grande São Paulo)-, a Rede Record entra em território inimigo para combater a concorrência com outras novelas como armas de ataque. A partir de maio, começa a transferir sua recém-criada dramaturgia para o Rio de Janeiro, onde comprou uma área com estúdios que já foram utilizados pela Globo.

Os galpões, adquiridos por R$ 8 milhões do humorista Renato Aragão, ficam na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio), área da cidade que se firma pela concentração de audiovisual.

É o maior investimento da emissora -terceiro lugar, atrás do SBT- neste ano. É a ação mais agressiva em território até então exclusivo da concorrência. Informa Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação: ‘A Globo não acha correto ficar comentando o que acontece na concorrência. Mas, falando em tese, acha muito positivo qualquer iniciativa consistente de investimento em produção brasileira’.

‘Queremos competir de igual para igual. Os estúdios da Barra Funda [zona oeste de SP] estão pequenos para o que pretendemos fazer, inclusive criar um segundo horário para novelas’, diz Alexandre Raposo, 34, presidente nacional da Record. ‘No Rio está a maioria dos atores e dos técnicos de televisão’, justifica.

No ano passado, a Record fechou seu balanço com um faturamento de R$ 500 milhões, valor que prevê aumentar em R$ 200 milhões neste ano.

A emissora manterá seus quatro estúdios paulistas, os mesmos que serviram de set para ‘A Escrava Isaura’ e que atendem atualmente a ‘Essas Mulheres’, novela que estréia em 2 de maio. No Rio, a Record se espreme num espaço de 6.000 m2 (metade de área construída), onde produz apenas a programação local, representada por três horas diárias.

Os estúdios comprados de Aragão têm 44 mil m2, dos quais 7.500 m2 são de área construída, com quatro galpões. Durante três anos, foram alugados para a Globo, que lá gravou ‘Você Decide’, ‘Linha Direta’, ‘Sandy e Júnior’, ‘A Grande Família’ e ‘Sítio do Picapau Amarelo’, entre outros; além de ‘Malhação’, ‘Os Maias’ e ‘Presença de Anita’.

Quando terminou o contrato com a Globo, os estúdios foram alugados para diversas produções. Recentemente, abrigaram as gravações de ‘Mano a Mano’ (Rede TV!) e, atualmente, servem de locação para o set do filme ‘Os Desafinados’, de Walter Lima Jr.

Independência

A emissora que, no passado, mostrou um pastor chutando a imagem de uma santa e que nas últimas eleições teve sua programação suspensa pela Justiça Eleitoral -acusada de favorecimento político ao candidato evangélico no Rio de Janeiro- hoje se diz independente da igreja e da política.

‘Na nova novela, pedi à produção que explore mais a sensualidade das mulheres’, garante Raposo. ‘A gente não exibe baixaria’, afirma. ‘A programação cresceu, o que deu a impressão de desvinculamento da igreja. O Edir Macedo é o principal acionista da Record, e a igreja compra todo o horário da madrugada, como faz em outras emissoras’, reage.

Natal Furucho, 39, diretor da Record Rio, também sai na defesa do canal. ‘Se analisarem bem a programação, verão que não tem ingerência da igreja’, diz o executivo, que, apesar de manter ligação com a Universal, garante a independência, inclusive política. ‘A gente prima pela qualidade na TV. Somos apartidários.’

Com a ida da dramaturgia para o terreno carioca, a Record Rio vira uma nova seara de investimentos, apostando na regionalização da produção.

Só neste ano, segundo Furucho, serão investidos R$ 7 milhões em tecnologia -em retransmissores, câmeras e antenas.

Desde o ano passado, a filial contratou profissionais e ampliou sua programação com jornalísticos, programas esportivos, documentários e infantis -um deles produzido por Marlene Mattos, que aguarda exibição em rede nacional. A maior audiência da filial é o ‘Cidade Alerta’, apresentado no Rio por Wagner Montes.’



LOST
Bia Abramo

‘Terror e aventura funcionam em ‘Lost’’, copyright Folha de S. Paulo, 24/04/05

‘Você estava num avião e ele caiu. Numa ilha deserta, a milhares de quilômetros de sua rota original. Acorda no meio dos destroços e há gente morta, ferida e desesperada. E quando nada mais poderia ser pior, você ouve um uivo aterrorizante. Nenhum animal conhecido pode uivar daquela maneira.

‘Lost’, série que vem sendo exibida no canal de TV paga AXN, é uma combinação de dois gêneros clássicos -a aventura da sobrevivência em um lugar inóspito e o terror do invisível e inominável- com um toque de modernidade. Funciona e bem, embora os atores sejam quase todos bonitos e jovens demais.

A luta pela sobrevivência mais básica é uma experiência muito distante do espectador de TV e , por si só, já um tanto terrível. Mimados, esquecemos de onde vem a água, o abrigo do tempo, a comida, os remédios. É sempre mobilizador para homem civilizado se imaginar de volta a um estado mais primitivo – não à toa, versões contemporâneas do Robinson Crusoe sempre foram e continuam sendo ressuscitadas no cinema (‘O Náufrago’) e em programas do tipo ‘Survivor’.

À dureza da sobrevivência, se adicionam os dramas e segredos de cada personagem – outra situação típica e profícua da aventura. Desde Júlio Verne, não há aventura, expedição ou ilha deserta que não abrigue um certo mistério. Da mesma forma que o herói se manifesta nas dificuldades, o vilão também acaba se revelando -e, claro, sempre com conseqüências funestas.

Em ‘Lost’, além da vilania, também aparecem as mais variadas subtramas contemporâneas -pai e filho que se desconhecem, as drogas, o excesso de individualismo, o preconceito racial e étnico etc. Como na bem-sucedida ‘E.R.’, que se manteve por muitos anos no topo da audiência, há uma sintonia bastante fina entre a ação e o drama, que permite a aproximação de públicos distintos.

O achado de ‘Lost’ é adicionar um terror insidioso, sem forma e sem nome, mas que se manifesta de diversas maneiras. Agressivo e sangrento, sim, mas também inesperado -algo mais para H.P. Lovecraft na literatura ou o primeiro ‘Alien’ do cinema do que os banhos de sangue para adolescentes descerebrados.

O mal, em ‘Lost’, pode assumir virtualmente qualquer formato -e não é à toa que a série parece ser uma bem costurada trama de referências, que vão do horror de ‘Apocalipse Now’ (e sua caricatura pós-moderna: ‘A Praia’) até os climas sobrenaturais dos livros de Stephen King e dos filmes de Shyalaman.

Desde ‘Arquivo X’ não havia uma série com suspense tão sofisticado. Onde ‘Arquivo X’ estava preso aos OVNIs e ETs e às teorias conspiratórias, ‘Lost’ opta, até agora pelo menos, pela impossibilidade de explicação, que é a raiz mais funda do terror.

Agora, que os atores não precisavam parecer modelos de comercial da Gap, isso não precisavam.’



FRIEDMANS NA TV
Lilian Fernandes

‘‘Na captura dos Friedmans’, ou o ‘American way of life’ em xeque’, copyright O Globo, 25/04/05

‘No fim da década de 90, o diretor Andrew Jarecki gravava um despretensioso documentário sobre recreadores de festas infantis quando conheceu o animador e mágico David Friedman. A empatia foi imediata. Com o convívio, Jarecki percebeu que o rapaz escondia uma triste e estranha história familiar e decidiu investigá-la. Este foi o ponto de partida para ‘Na captura dos Friedmans’, documentário sobre uma família arruinada quando o pai e o filho caçula são presos sob a acusação de pedofilia – sendo tudo, os momentos de alegria e os de tristeza, fartamente registrado em vídeos caseiros. Indicado ao Oscar da categoria em 2004 e vencedor do Sundance Festival e da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o filme estréia hoje, às 21h, na TV brasileira, via HBO.

Os Friedmans, pai, mãe e três filhos, pareciam uma família respeitável aos olhos dos vizinhos e da sociedade de Long Island, subúrbio de Nova York, até que, em novembro 1987, a polícia invadiu sua casa e encontrou dezenas de revistas pornográficas com fotos de menores. Arnold Friedman, um professor de computação, e seu filho caçula, Jesse, foram presos.

Cerca de dez anos depois, Jarecki começou a entrevistar a família Friedman, policiais, supostas vítimas (crianças entre aquelas que tinham aulas de informática com Arnold), advogados. Como mostra o filme, ouviu as mais diversas versões para o caso, ao longo de três anos e meio. Mas o que mais chama a atenção são as cenas pinçadas dos vídeos domésticos de uma família obcecada por se filmar, muito antes da explosão dos reality shows .

– Eu já estava trabalhando no filme há muito tempo quando David disse: ‘Olha, se você realmente precisa fazer um filme sobre nós, devo dizer que tenho horas e horas de fitas caseiras de minha família. Também tenho muito material em vídeo do que aconteceu depois.’ Fiquei perplexo – contou Jarecki na época do lançamento do documentário.

Supostas vítimas fizeram campanha contra o Oscar

Arnold se suicidou na prisão; Jesse cumpriu pena de 13 anos e, quando saiu, pediu anulação da condenação, alegando que o documentário trazia dados que não foram levados em conta no seu julgamento e poderiam tê-lo beneficiado. Mas Jarecki garante que não pretendia tomar partido – tanto é, argumenta, que, assistindo ao filme, não é possível saber se pai e filho eram mesmo culpados.

As famílias das supostas vítimas, por sinal, reclamam da ambigüidade de ‘Na captura dos Friedmans’. Quando souberam que o documentário poderia ganhar o Oscar, foram a público protestar e afirmaram que, para tentar fazer um filme isento, o diretor propositalmente ignorara dados eloqüentes – entre eles, um depoimento de Jesse ao talk-show de Geraldo Riviera, em 1989, no qual contava que o pai abusara dele na infância. Provavelmente, a pressão contribuiu para que ‘Na captura dos Friedmans’ perdesse a estatueta para ‘Sob a névoa da guerra’ (‘The fog of war’).’