‘A mídia britânica não mediu palavras para noticiar a divulgação do segundo maior índice de desmatamento da História na Amazônia. Se na quinta-feira houve duras críticas por parte do jornal ‘Financial Times’ e a rede de TV BBC (que dedicou amplo espaço para o assunto em seu canal 24 horas, com direito até a uma proposta de boicote à soja brasileira por parte do grupo ambientalista Amigos da Terra), ontem foi a vez do ‘Independent’. O principal jornal britânico em questões ambientalista dedicou nada menos do que sua capa ao desmatamento na Amazônia, com grande foto de uma área da devastação e a manchete ‘O estupro da floresta’.
Segundo levantamento divulgado quarta-feira pelo governo Lula, o desmatamento na Amazônia atingiu uma área total de 26.130 quilômetros quadrados de agosto de 2003 a agosto de 2004, 6% a mais que os 24.597 quilômetros quadrados registrados entre 2002 e 2003. Foi a segunda mais alta taxa de desmatamento da História do país.
Área corresponde a uma Bélgica
Ainda na primeira página, uma foto do governador de Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), classificado pelo ‘Independent’ de o ‘homem por trás de toda a destruição’. O jornal fez questão de detalhar um histórico do desmatamento desde a chegada de Maggi ao poder, ressaltando seu papel como principal empresário do plantio de soja no Brasil. Também ocupou destaque o cálculo da área desmatada entre 2003 e 2004, que em proporções européias equivale a uma extensão territorial maior do que a da Bélgica.
O ‘Independent’ também abordou a questão num de seus editoriais, ainda que falasse em outros casos de desmatamento de florestas tropicais na Ásia e na África. O jornal ao menos abordou o problema de forma mais abrangente, lembrando a participação de empresas britânicas no comércio ilegal de madeira da Amazônia e o fato de que a crise do mal da vaca louca no Reino Unido, em 1998, foi um estopim para o aumento da demanda da soja como matéria-prima para a produção de alimentos para animais de fazenda.
Ao contrário de EUA e Argentina, o Brasil ainda não adotou a soja geneticamente modificada como base de sua produção do cereal, que hoje responde por 65% das importações do gênero pela União Européia. Mas a reportagem, assinada pelos jornalistas Michael McCarthy e Andrew Buncombe, ironizou declarações dadas por Maggi em 2004, em que o governador minimizava o aumento de 40% no desmatamento da floresta. O ‘Independent’ destacou também os lucros de US$ 600 milhões registrado pelas empresas de Maggi no ano passado.
Já a revista ‘Economist’ criticou duramente o governo brasileiro. Em reportagem intitulada ‘A economia avança, as árvores desaparecem’ reconheceu o fato de o governo ter criado uma série de leis de proteção ambiental para a Amazônia, mas criticou a falta de mais ação, lembrando ainda os planos de recuperação da BR-163, que a revista classifica como um incentivo para aumentar a destruição da floresta.
‘As instituições responsáveis pela proteção da floresta brasileira são fracas, mal coordenadas, corruptas e vulneráveis ao lobby dos fazendeiros e madeireiros’, diz a reportagem, que ressaltou ainda o fato de a outra grande floresta brasileira, a Mata Atlântica, hoje estar praticamente extinta.
Já o canal de notícias Sky News resolveu traduzir em termos leigos o avanço do desmatamento da Amazônia, dizendo que uma área equivalente a nove campos de futebol é destruída a cada segundo.
Especialista diz que região virou pasto
O ‘Independent’ entrevistou um integrante do programa de florestas tropicais do Greenpeace, John Sauven, que disse que o avanço da soja está transformando a Amazônia num pasto.
O jornal ouviu também a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e lembrou que ela é de um estado amazônico. Há também uma entrevista com o coordenador de Amazônia do Greenpeace, Paulo Adário, que acusa o governo Lula de não levar em conta a proteção da floresta como prioridade.
A ‘Economist’ calcula que a mata estará totalmente destruída em 200 anos e diz que a política de erradicação da pobreza do governo Lula é baseada num crescimento econômico intenso. A revista diz ainda ter esperanças de que as autoridades brasileiras entendam que a preservação da floresta não é tratada como prioridade. E aponta o aumento de conscientização da classe média como uma esperança de maior lobby em prol da floresta.’
CASAL INELEGÍVEL
Fábio Amato
‘Garotinho se diz vítima de PT, Globo e bancos’, copyright Folha de S. Paulo, 21/05/05
‘O primeiro Seminário de Prefeitos e Vice-Prefeitos do PMDB paulista, realizado ontem em Campos do Jordão (167 km a nordeste de São Paulo), acabou se transformando em palanque para o ex-governador do Rio Anthony Garotinho, um dos pré-candidatos do partido à Presidência da República nas eleições de 2006.
Em discurso de cerca de uma hora durante o evento, Garotinho anunciou novamente sua candidatura ao Palácio do Planalto, fez uma série de ataques ao governo federal e acusou o PT de formar uma aliança com a Rede Globo e os banqueiros com o objetivo de tirá-lo da disputa presidencial.
‘Eu não tenho a menor dúvida de que os bancos, a Globo e o PT estão preocupadíssimos com a possibilidade de eu ser candidato [a presidente]. Porque, como diz aquele comercial da Globo, a Globo, os bancos e o PT têm tudo a ver’, disse ele, fazendo um trocadilho com a vinheta da emissora que diz ‘Globo e você, tudo a ver’.
A Central Globo de Comunicação divulgou uma nota curta sobre as acusações de Garotinho. A Central Globo de Comunicação informou que é ‘obrigação da TV Globo como de qualquer outro veículo de comunicação noticiar o que é de interesse público’
Procurados pela reportagem, o presidente nacional do PT, José Genoino, e a Febraban (Federação Brasileira de Bancos) não quiseram comentar as declarações.
Além de Garotinho, participaram do seminário o presidente do PMDB, deputado federal Michel Temer, o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, e o presidente do PMDB em São Paulo, Orestes Quércia, que teve o nome lançado para a disputa do governo do Estado. Dos 154 prefeitos e vice-prefeitos convidados, apenas 28 compareceram.
Garotinho voltou a acusar o PT e o Palácio do Planalto, seus ‘inimigos políticos’, de estarem por trás da decisão proferida há uma semana pela Justiça Eleitoral do Rio que tornou ele e a mulher -a governadora do Rio, Rosinha Matheus (PMDB)- inelegíveis até 2007 sob a acusação de crime eleitoral durante a campanha para a prefeitura de Campos (RJ), base eleitoral do casal.
‘Eu seria o único candidato em condições de vencer o Lula. Eu acho que deve ser preocupação do PT [a decisão da Justiça Eleitoral], né? Eu acho que, neste momento, eu incomodo a três setores que se consideram os donos do Brasil: os bancos, as Organizações Globo e o PT.’
O ex-governador disse que ‘não há nenhum risco, nenhum perigo’ de a sentença tirá-lo da disputa para a presidência. ‘A sentença só tem validade quando transitada em julgado em última instância. Ela ainda está na primeira. Já recorri e tenho confiança que venceremos’, disse.
O ex-governador declarou ainda que Lula tem ‘medo’ de enfrentá-lo na disputa eleitoral de 2006. Terminou defendendo a candidatura própria do PMDB para a Presidência da República e confirmou mais uma vez a sua pré-candidatura ao cargo pelo partido.
‘Eu estou aí. Apresento o meu nome ao meu partido. Se o partido entender que o Rigotto deve ser o candidato, eu mergulho de cabeça, está ótimo. Se entender que o Requião [Roberto Requião, governador do Paraná] deve ser o candidato, eu mergulho de cabeça, está ótimo. Mas se entender que o candidato deve ser o Garotinho, se preparem. Vai ser um Garotinho contra o Golias, contra a trinca’.’
CRIVELLA SOB SUSPEITA
O Globo
‘‘IstoÉ’: Crivella tem duas empresas nas Cayman’, copyright O Globo, 21/05/05
‘Documentos publicados pela revista ‘Isto É’ deste fim de semana confirmam que o senador Marcello Crivella (PL-RJ) é um dos donos das empresas Cableinvest e Investholding, com sede nas Ilhas Cayman. Os documentos são da Procuradoria Geral da República. O Ministério Público investiga transações financeiras das empresas e suspeita de que foram a base de um esquema que facilitou a compra da TV Record, em 1992, pela Igreja Universal.
Até agora, Crivella vinha negando qualquer participação acionária nas empresas, inclusive em depoimento à Polícia Federal. Segundo a revista, contas de bispos da Universal e de laranjas foram abastecidas com remessas irregulares dessas empresas, num total de US$ 18 milhões. Os documentos obtidos na Receita Federal são parte do inquérito iniciado em 1999.
Na semana passada, o procurador-geral da República, Claudio Fonteles, reiterou o pedido de quebra do sigilo fiscal da Universal. O relator do caso no Supremo Tribunal Federal, Carlos Velloso, aguarda documentos da Receita para decidir.
A procuradoria, afirma a reportagem, tem provas do funcionamento do esquema financeiro da Universal, que tem isenção de Imposto de Renda. O dinheiro seria trocado em dólares nas empresas das Cayman, por intermédio de doleiros. De lá, explica a revista, iria para contas dos bispos e dirigentes da Universal. Seguiria para bancos internacionais, em Nova York ou Miami, e então remetido para bancos de investimento do Uruguai, antes de voltar ao Brasil.
Crivella, diz a revista, tem poderes para fazer movimentações e abrir novas contas nos bancos das Ilhas Cayman.’