Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Filha de telepastores foi funcionária-fantasma na Assembléia paulista


Leia abaixo os textos de quinta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


A gente aprende…


‘Ao vivo por TV Câmara e canais de notícias e com algum atraso no ‘Jornal Nacional’, acabou o segundo turno e Arlindo Chinaglia levou, por pouco mas levou. Nas cenas ao vivo do ‘JN’, comemorou com Paulo Maluf, depois José Mentor, Geddel Vieira Lima etc.


Mas a votação se arrastou e a cobertura da web à TV se concentrou no desfilar de celebridades, por assim dizer, do Congresso. Em especial na TV Câmara, com reprodução nos portais, as imagens faziam lembrar o ‘tapete vermelho’ do Oscar, ao vivo do Salão Verde, com Ciro Gomes e Patrícia Pillar, Collor e Caroline Medeiros, Manuela D’Ávila, Clodovil. ‘Posts’ de igual teor eram os ‘+ lidos’. A Globo fez até locução, à tarde:


– Brasília faz festa… Na entrada, a moda. Para as mulheres, vestidos longos ou curtos. Para os homens, terno. O deputado e estilista Clodovil veio de branco. E chapéu. Tem também uma nova musa, Manuela D’Ávila. E velhos políticos. [Paulo Maluf:] ‘Não tenho dúvida de que esta legislatura vai resgatar a anterior.’ O ex-presidente Fernando Collor foi recebido com abraços calorosos. ‘A gente aprende no sofrimento’.


BLOGOSFERA…


E ontem foi dia de estréia do Blog dos Blogs, de Helena Chagas, Alon Feuerwerker e Tales Faria. O tom foi aquele, com ‘cenas da posse’ como ‘Suplicy e Supla dão as boas vindas a Collor’ ou ‘Eliseu Padilha e João Paulo Cunha lado a lado, rostinho colado, fazendo contas de Chinaglia’, que era ‘candidato dos dois’.


O novo blog, no iG, apontou um alto ‘Índice de Traição no Ar, ITA’. Lauro Jardim, na Veja On-line, falou em ‘ITH, Índice de Traição Habitual’.


BRASILIENSE


Josias de Souza, na Folha Online, destacou o ‘Collor cristão’, que ‘desfilou com a nova mulher, beijou-a’, e o ‘Maluf transparente’. Ambos ‘santificados pecadores’.


Ricardo Noblat, além de manter a tradição e errar a aposta, derramou machismo com o ‘teste da esteira’ de Manuela D’Ávila, ‘aprovada com louvor’ pela ‘multidão de marmanjos que se voltou à passagem dela’, e o suposto ‘assédio sexual’ de Clodovil a um repórter do próprio blog.


ARÁBIA SAUDITA DO ETANOL


O ‘Wall Street Journal’ deu vários textos sobre o ‘boom’ do consumo de etanol nos EUA, apontando sobretudo dificuldades de distribuição do combustível produzido no país -e sublinhando que ‘as importações estão crescendo’, em especial do Brasil.


Apesar da alta tarifa protecionista, foram importados 418 milhões de galões de etanol do Brasil em 2006, até o mês de novembro, contra 31 milhões ‘em todo o ano de 2005’. Um colunista do ‘WSJ’ até perguntou se não é o caso de derrubar a tarifa. Mas ‘fazendeiros do cinturão do milho’ dos EUA reagem -e ‘já chamam o Brasil de ‘Arábia Saudita do etanol’.


ÁGUA FRIA NO TIGRE


De um lado, a agência Reuters, no site do ‘New York Times’, relatou o ‘frenesi de mídia’ na Índia, com títulos tipo ‘O império ataca novamente’ -e editoriais dizendo que a compra da Corus pela indiana Tata simboliza a entrada do país ‘como grande jogador no jogo da globalização’, no ‘Times of India’.


De outro lado, lamentando ter que jogar ‘água fria’ na festa indiana, a ‘Economist’ deu capa (acima) para o tigre que simboliza o país, mas com o rabo queimando. Avisou que sua economia não tem estrutura para crescer na velocidade atual, que já pressiona a inflação e leva as indústrias a produzir no limite. Estaria ‘quente demais’.’


MANDA BALA
Silvana Arantes


Fotógrafa de ‘Manda Bala’ foi ‘barrada’ na entrevista com Jader


‘Premiada no Festival de Sundance, na semana passada, pela fotografia do documentário ‘Manda Bala’, sobre corrupção e violência no Brasil, Heloísa Passos pilotou a câmera em todas as entrevistas do filme, exceto uma: a do deputado Jader Barbalho (PMDB-PA), acusado de desvio de dinheiro público em sua gestão como ministro da Reforma e do Desenvolvimento Agrário (1987-88).


O diretor do filme, o norte-americano Jason Kohn, ‘achou que não deveria ter nenhum brasileiro na equipe’, conta Passos, e reuniu-se com o deputado acompanhado apenas de seu assistente, o também norte-americano Joe Frank.


Passos acha que, de fato, os brasileiros ficam mais à vontade para dar depoimentos a um filme americano. ‘Tive a sensação de que ele [Jason Kohn] conseguiu depoimentos que talvez cineastas brasileiros não conseguissem’, diz.


Ao lado de Kohn, Passos ouviu um seqüestrador na periferia de São Paulo e teve a equipe recebida sem reservas por um um cirurgião plástico que reconstitui orelhas de vítimas de seqüestro.


‘Acho que ele ficou seduzido pelo fato de ser um cineasta americano. Ficou muito disponível, sem querer entender exatamente que filme é esse’, afirma a fotógrafa.


‘Manda Bala’, eleito melhor documentário em Sundance, dividiu opiniões dos brasileiros no festival. ‘Amigos meus viram defeitos e méritos no filme’, conta Passos. ‘Como fotógrafa, estou orgulhosa do filme. Acho que ele não cai no clichê. É um quebra-cabeças’, diz.


De Utah, onde assistiu à estréia de ‘Manda Bala’ no Festival de Sundance, Passos seguiu para o Recife, onde filma agora um documentário de Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso.


Segundo ela, Kohn planeja exibir seu filme no Festival do Rio e na Mostra de São Paulo.’


UBALDO INTERNADO
Folha de S. Paulo


João Ubaldo É Internado


‘Com arritmia e sintomas de cansaço e sonolência, o escritor João Ubaldo Ribeiro, 66, foi internado anteontem na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital da Bahia, em Salvador. Ele passou mal na ilha da Itaparica (a 22 km da capital). Ontem, de acordo com um boletim médico, ele foi transferido para um quarto depois que a sua freqüência cardíaca se estabilizou. ‘O escritor está em observação clínica, orientado e lúcido’, diz o comunicado. Até o início da noite, os resultados dos exames aos quais ele foi submetido não haviam sido divulgados.’


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007


MÍDIA & RELIGIÃO
Angélica Santa Cruz


Filha de fundadores da Renascer foi funcionária fantasma na Assembléia


‘Fernanda Hernandes Rasmussen, filha dos fundadores da Igreja Renascer em Cristo – Estevam e Sonia Hernandes -, foi funcionária fantasma da Assembléia Legislativa de São Paulo de fevereiro de 2005 a setembro de 2006, recebendo salário-base mensal de R$ 5.754,78, sem contar as gratificações. Marido de Fernanda e superintendente artístico do canal mantido pela denominação, a Rede Gospel de Televisão, o ex-modelo Douglas Adriano Rasmussen está na folha de pagamento da Casa desde 20 de março de 2003 e recebe vencimentos de R$ 7.412,93. Ambos nunca foram vistos cumprindo expediente na Assembléia.


Fernanda e Douglas Rasmussen estão lotados no gabinete do deputado estadual Geraldo Tenuta, conhecido como Bispo Gê (PFL) – apresentador de programas na Rede Gospel, eleito em 2002 com 96. 845 votos e um dos parlamentares com maior variação patrimonial da última legislatura.


Em sua primeira declaração ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE), o deputado afirmou ter patrimônio de R$ 228 mil. Na última – entregue ao TRE no ano passado, quando tentou se eleger deputado federal -, afirmou ter bens no valor de R$ 1 milhão. Uma evolução de 248% em quatro anos.


Conhecida pelos fiéis da Renascer como ‘pastora Fê’ e apresentadora do programa Clip Gospel, que vai ao ar todos os dias na Rede Gospel, Fernanda Rasmussen foi nomeada para o cargo de Assistente Técnico Parlamentar no ato normativo 644 de 18 de fevereiro de 2005, como mostra o Diário Oficial do Estado de 11 de março de 2005. Foi exonerada em 11 de setembro de 2006.


Nos 19 meses em que esteve lotada no gabinete do deputado Bispo Gê, recebeu pelo menos R$ 95 mil, contando com descontos na folha de pagamento. Os vencimentos, no entanto, podem ser turbinados com a aprovação de gratificações. Em 23 de março de 2005 – 35 dias após ser nomeada -, Fernanda Rasmussen teve direito a gratificação de representação de 272% calculada sobre 170% de seus vencimentos líquidos. A gratificação foi válida até 12 de setembro do ano passado.


Douglas Adriano Rasmussen foi designado Assessor Especial Parlamentar, conforme o Diário Oficial de 20 de março de 2003, e ainda recebe salário.


NINGUÉM VIU


A filha dos fundadores da Renascer em Cristo e seu marido foram incluídos na cota de 16 nomeações permitidas para cada gabinete da Assembléia de São Paulo. Deputados costumam afirmar que alguns de seus funcionários de confiança recebem atribuições fora de seus gabinetes – como a de receber demandas de eleitores em sua base eleitoral. Portanto, não precisariam obrigatoriamente cumprir expediente no local.


As eventuais atividades profissionais de Fernanda e Douglas Rasmussen na Assembléia, no entanto, são negadas até mesmo pelos funcionários do gabinete do deputado Bispo Gê. Por cinco dias – e ao longo de duas semanas – a reportagem do Estado telefonou para o gabinete e ouviu de diferentes funcionários que o casal nunca teve atuação profissional ligada ao deputado, não trabalha ou trabalhou na Casa e nem mesmo aparece de vez em quando. Na Rede Gospel de televisão, funcionários informaram que, até ir para os Estados Unidos com os pais – onde estava até ontem – Fernanda Rasmussen participava de gravações de seus programas todos os dias.


Além de ter seu nome em nomeações e exonerações no Diário Oficial do Estado, Fernanda Hernandes Rasmussen movimenta conta no Banco Nossa Caixa S.A da Assembléia Legislativa, agência que recebe apenas os vencimentos dos servidores da Casa. Cópia de cheque de R$ 1.400,00 assinado por Fernanda em fevereiro de 2006 e obtida pelo Estado informa que ela tem conta na agência desde março de 2005.


Procurado pelo Estado, o deputado Bispo Gê não retornou as ligações. Na tarde de ontem, uma funcionária de seu gabinete atendeu o telefone, não quis se identificar e disse que não passaria o recado para ele, porque ‘a grande imprensa está toda comprometida com essa campanha contra o povo de Deus e só publica mesmo o quer’. Fernanda Hernandes Rasmussen está nos Estados Unidos, onde seus pais, Estevam e Sonia Hernandes, aguardam audiência em liberdade condicional.


CARGOS E CONFUSÕES


O deputado Geraldo Tenuta encerra seu mandato de deputado estadual em março. Candidato a deputado federal, não foi eleito. A Renascer conseguiu, no entanto, eleger deputado estadual o candidato José Antonio Bruno (PFL), conhecido como Bispo Zé Bruno – com 73.968 votos.


A nomeação de pessoas ligadas à hierarquia da Renascer para cargos comissionados de seus candidatos eleitos é freqüente – e já gerou confusões. Em maio do ano passado, a vereadora Lenice Lemos, conhecida como Bispa Lenice, foi expulsa da Igreja e revidou exonerando todos os seus funcionários, que haviam sido indicados pela denominação.’


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Parentes respondem por lavagem de dinheiro


‘Os filhos e o genro dos líderes da Igreja Renascer agora também respondem pelos crimes de lavagem de dinheiro, evasão de divisas e estelionato contra fiéis. Fernanda Hernandes Rasmussen, seu marido, Douglas Adriano Rasmussen, e seu irmão, Felippe Daniel Hernandes – conhecido como Bispo Tide -, foram incluídos como réus no processo que tramita na 1ª Vara Criminal de São Paulo e já resultou na decretação da prisão preventiva e no bloqueio dos bens de Sonia e Estevam Hernandes.


Os filhos e o genro dos fundadores da Renascer ainda não foram citados, mas tiveram seus nomes incluídos no processo no início desta semana. O juiz da 1 ª vara Criminal, Paulo Antônio Rossi, acatou denúncia do Ministério Público e os transformou em réus por conta de sua participação em algumas das dez empresas que teriam sido usadas para a prática de lavagem de dinheiro.


Fernanda é dona do Haras Agropastoril Reobot, em Atibaia (SP), já bloqueado pela Justiça. Felippe Hernandes e Douglas Rasmussen são sócios de outras quatro empresas, entre elas a Fundação Evangélica Trindade, dona da concessão da Rede Gospel.


Mantidos em liberdade condicional na Florida por tentar entrar em Miami com dólares não declarados, Estevam e Sonia Hernandes continuam pregando para os fiéis da Igreja, por meio da internet. Em suas falas atribuem seus problemas a judiciais a perseguições contra o povo evangélico.’


GOVERNO SERRA
O Estado de S. Paulo


Serra se atrita com as universidades


‘Algumas medidas que o governador José Serra tomou na área universitária, em seu primeiro mês de gestão, estão produzindo tensão nas relações entre o Executivo e as três instituições estaduais de ensino superior – USP, Unicamp e Unesp. Os órgãos colegiados das três universidades estão marcando reuniões para decidir o que fazer, as associações de professores começaram a se mobilizar e alguns pró-reitores e reitores, ainda que de forma muito cuidadosa, já deixaram clara a disposição de resistir às medidas do governador.


No plano financeiro, José Serra não repassou integralmente a porcentagem da arrecadação do ICMS a que as universidades têm direito e contingenciou 15% dos recursos relativos ao exercício de 2007. Foi a primeira vez que isso ocorreu desde que a Assembléia, há vinte anos, concedeu à USP, Unicamp e Unesp 9,57% da arrecadação do ICMS. Com o contingenciamento, a Unesp deixou de receber R$ 10,3 milhões em janeiro, tendo sido obrigada a usar reservas próprias para manter o hospital universitário e pagar bolsas. A Unicamp e a USP receberam respectivamente R$ 5,5 milhões e R$ 11,5 milhões a menos que o previsto.


O que mais preocupa as três universidades, contudo, são os Decretos nº 51.460 e 51.461 que Serra assinou no dia em que tomou posse, criando a Secretaria de Ensino Superior, transferindo para sua alçada o Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas (Cruesp) e mudando a composição do órgão. O Conselho, que era integrado pelos secretários de Educação e de Ciência e Tecnologia e pelos reitores da USP, Unicamp e Unesp, cabendo a estes três a presidência do órgão, pelo sistema de rodízio, agora, terá mais um integrante, o secretário de Ensino Superior, a quem caberá a presidência do Cruesp.


Com isso, o chefe do Executivo passou a deter a maioria no órgão, pois, nos casos de empate, o secretário de Ensino Superior tem direito ao voto de Minerva. ‘Houve uma redução da autonomia universitária com a perda das prerrogativas dos reitores no Cruesp. A dissolução do formato do Conselho foi interpretada como um gesto preparatório para medidas mais contundentes’, diz o reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge. ‘À diferença do modelo anterior, em que os recursos eram repassados sob demanda, segundo a política do pires na mão, a autonomia tornou possível às universidades projetar seu futuro’, conclui. ‘A mudança do modelo de autonomia coloca em risco a manutenção da qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão nas três universidades’, endossa o vice-reitor da Unesp, Herman Jacobus Voorwald.


O único a defender publicamente as medidas de Serra foi o secretário de Ensino Superior, José Aristodemo Pinotti, que já foi reitor da Unicamp. Ele negou que o governador pretenda acabar com a autonomia universitária e, numa iniciativa surpreendente, anunciou que abrirá mão da presidência do Cruesp. Informalmente, assessores do governador afirmam que, graças aos dois decretos, ele terá mais poderes que seus antecessores para comandar as negociações salariais com os professores.


Seja lá qual for o objetivo de Serra, o fato é que o regime de autonomia financeira com vinculação orçamentária em vigor há vinte anos produziu importantes resultados, tendo permitido às universidades paulistas trabalhar com mais tranqüilidade com previsões orçamentárias e realizar investimentos de acordo com o fluxo das demandas sociais. A USP, a Unicamp e a Unesp, que hoje são responsáveis por metade da produção acadêmica do País, aumentaram o número de dissertações e teses defendidas e o número de artigos publicados em revistas internacionais, no período. Além disso, expandiram o número de vagas nos vestibulares e elevaram a oferta de matrículas no período noturno. ‘Os números mostram que a universidade pública paulista soube responder à prerrogativa da autonomia com a contrapartida da plena responsabilidade administrativa e acadêmica’, diz o reitor da Unicamp.


Evidentemente, Serra tem todo o direito de propor mudanças que acredite que irão melhorar ainda mais o desempenho das três universidades públicas estaduais. Mas não será reduzindo a autonomia universitária e substituindo um modelo de gestão que vem dando certo que irá atingir esse objetivo.’


VOZ DO BRASIL
O Estado de S. Paulo


‘A Voz do Brasil’ só pode ir ao ar às 19h


‘O juiz Marcelo Rebelo Pinheiro, da 1ª Vara Federal do Distrito Federal, concedeu mandado de segurança impetrado pela Associação Brasileira de Radiodifusão, Tecnologia e Telecomunicações (Abratel) e determinou que 115 emissoras de rádio do Norte e Nordeste devem retransmitir o programa A Voz do Brasil às 19 horas de cada local. A Radiobrás, que distribui o sinal do programa do governo, queria obrigar as emissoras que seguem fusos horários diferenciados a transmitir às 19 horas de Brasília. Assim, o programa iria ao ar às 16 horas no Acre, que no horário de verão tem 3 horas menos que Brasília.’


UBALDO INTERNADO
O Estado de S. Paulo


João Ubaldo Ribeiro é internado em Salvador


‘O escritor João Ubaldo Ribeiro, de 66 anos, está internado no Hospital da Bahia, em Salvador. Ele chegou ao hospital às 19 horas de quarta-feira, com quadro de arritmia cardíaca e sonolência, e foi internado na UTI. Ontem, com a evolução do quadro, o escritor foi transferido para um quarto e passou por exames durante o dia. Nova avaliação de seu estado deve ser feita hoje.’


TELEVISÃO
Etienne Jacintho


Band conquista bons índices


‘O único evento futebolístico importante que a Band adquiriu fora da parceria com a Globo, o Sul Americano Sub-20, deixou a emissora bem com a audiência e com os anunciantes. O Sul Americano foi uma espécie de aquecimento para o Campeonato Paulista – atualmente no ar – e o Brasileirão.


A final do Sub-20, entre Brasil e Colômbia, no dia 28 de janeiro à noite, rendeu à Band a segunda colocação no ibope, com média de 8,5 pontos de audiência e pico de 11 pontos. No horário de transmissão, das 23 horas à 0h49, a Globo marcou 23 pontos de média e o SBT, 7,7. A Record ficou em quarto lugar, com 5,4 pontos de média.


A partida final foi a de maior audiência de todo o campeonato, é claro, com a vitória brasileira. Durante toda a competição, de 7 a 28 de janeiro, a Band teve bons índices, com média geral de 6,3 pontos.


ANUNCIANTES


Comercialmente, apesar de a emissora não divulgar dados, o Sub-20 também serviu de termômetro para o ensaio da emissora de voltar a ser o ‘canal do esporte’ – apesar de a Band negar o fato.


Segundo levantamento do Controle da Concorrência, empresa que monitora as inserções comerciais na TV, a Band conquistou, durante o campeonato, 64 anúncios da operadora Tim, 19 da Cervejaria Petrópolis – que adquiriu uma cota de patrocínio para a Itaipava, com vinhetas de abertura e de encerramento dos jogos -, 12 inserções da Embratel e do Etna e 10 da Marabraz.


A competição teve mais 12 anunciantes como a Ticketmaster e a Polishop, além de Volkswagen, Chevrolet e Grupo Votorantim. A Band ainda veiculou – além das propagandas e patrocínios – 32 ações de merchandising da operadora TIM e mais 7 da Embratel.


entre-linhas


Ratinho saiu do ar anteontem do SBT. O apresentador já estava pronto, maquiado e foi avisado do corte cinco minutos antes de iniciar a gravação. Há ameaça de demissão na equipe de Ratinho.


Ainda sobre o SBT: Silvio Santos está testando uma nova bancada para o SBT Brasil. Ele quer popularizar o noticiário e já misturou até Carlos Nascimento com Cynthia Benini. A ex-Casa dos Artistas também gravou com César Filho. Hermano Henning já foi testado por Silvio.


Vem aí a Record News, a exemplo de Globo e Band.’


CRÔNICA


Ignácio de Loyola brandão


Valdir, que conhece ruas


‘Quando cheguei a São Paulo, em 1957, Anselmo Duarte estava dirigindo Absolutamente Certo e parte das filmagens eram nas oficinas do jornal Última Hora onde eu trabalhava. Sorte minha que adorava cinema. Nos intervalos conversava com Anselmo, com Aurélio Teixeira, ator no auge da carreira, e com Maria Dilnah, lindíssima estrelinha nascida em Araraquara e que se foi há dois anos, no ostracismo. O que me fascinava era o roteiro. História de um linotipista – profissão extinta, arqueologia das artes gráficas – das listas telefônicas que sabia de cor todos os números de São Paulo e concorria a um programa de televisão que dava prêmios milionários. Você dizia o nome do assinante, o linotipista dava o número. Ou dava o número e ele revelava o assinante. Situações que mexem com a memória sempre me fascinaram.


Passaram os anos, exatamente 50. Dia desses, em Araraquara, acompanhei minha mulher ao Departamento de Planejamento da prefeitura, ela precisava de informações sobre um projeto. Fomos bem atendidos numa repartição do quinto andar, todos amáveis, coisa invulgar em matéria de funcionalismo público, e enviados para outro andar, onde Cláudia, a responsável, veio ao balcão. Veio porque era sua função, nem sabia que havia um jornalista e escritor conhecido na cidade, o pedido do encontro havia sido feito em nome de minha mulher. Cláudia, atenciosa, qualidade rara nas pessoas, tímida, um riso suave. Paciente, ouviu indagações, contou o que sabia, deu as fontes, comentou, rebateu dúvidas, acrescentou. Uma hora, a coisa empacou. Qual o nome da rua onde estaria o projeto? Periferia. Era perto de uma rodovia, mas não era rodovia, era uma avenida marginal, ou o quê? Cláudia solicitou a uma funcionária, Cecília: ‘Me chame o Valdir.’ Chegou um homem de uns 30 e poucos anos, ar modesto, com um papel imenso, amarelado, enrolado debaixo do braço. Abriu e Araraquara se esparramou no balcão, estilhaçada em milhares de quadradinhos, as quadras. Valdir viu o lugar, sacou o nome da avenida, a localização, a rua que passava atrás, o nada existente no terreno vizinho.


‘Ele sabe tudo, tem a cidade na cabeça’, comentou Cláudia.


Fiquei olhando e, desconfiado, perguntei: ‘Onde é a Rua Benevenuto Colombo?’ Endereço da Valéria Ferrare, uma professora que eu precisava localizar. Ele rebateu: ‘Jardim Eliana.’ Esta foi por acaso, pensei. Saquei outra: ‘E a Rua Antonio Maria Brandão?’ Sim, meu pai é nome de rua em minha cidade. Ele, sem hesitação: ‘Jardim Cruzeiro do Sul.’ Sim, e a Rua Professor Jorge Correa? É o pai do Zé Celso. Valdir: ‘São Geraldo.’ Eu: ‘Rua Joffre David?’ Um radialista que fez história no rádio araraquarense. Valdir: ‘Jofre Rodrigues Davi, Parque Residencial Vale do Sol.’ Ao menos, colocaram o Joffre em um bairro com nome bonito. Pensei, pensei, saquei: e Graciano R. Affonso, o homem dos cinemas, legado que ele passou ao filho Roberto, um apaixonado? Valdir: ‘Graciano é o nome de uma estrada vicinal e o R é de Ressurreição.’ Levei 50 anos para decifrar o R do homem. Fiquei numa saia-justa. Deveria continuar? Na mesma hora me veio o linotipista do filme Absolutamente Certo. O que tinha a lista na cabeça. Que travessas, becos, vielas Valdir não conhece? Como pegá-lo? Porque nossa vontade – terapeutas explicam – nessa hora é pegar a pessoa de jeito. Não queremos desvendar os truques dos mágicos? Nas touradas na Espanha, sempre torci pelo touro. Valdir me olhava com um ar simples e desafiador. Como se dissesse: pergunte que respondo! Simples, mas despachado, consciente do que sabe, nos olhos dele eu vi orgulho. Pela eficiência, por saber seu trabalho e principalmente por conhecer a cidade. Conhecer é uma forma de amar.


Cartografia teria sido (ou é) a paixão de Valdir José Martins da Silva? Ver mapas, desenhar mapas, colocar as cidades dentro deles. Teria a mania de colecionar Atlas? Conheceria pioneiros clássicos como Guillaume Delisle (1675-1726) e seu fundamental Orbis Romani Descriptio Seu Diviso Post Heraclii Tempora? E a cartografia de Johann Mathias Has (1684-1742), de Lunceau de Boisgermin, de Rizzi-Zanoni (1736-1814), o Atlas de Le Sage (1829), a obra de Emil Reich, de Ramsay Muir e dezenas de outros que passaram suas vidas debruçados em pranchetas, recolhendo os contornos do mundo, desenhando mapas – muitos imaginários – e neles inscrevendo a Terra? Se eu colocasse Valdir num avião e observássemos a cidade do alto, ele saberia dizer: aquela rua é tal, aquela ali, tal, esta bem pequena se chama assim. Do alto, tudo muda. Lembrei-me que, quando jovem, tinha uma bicicleta Monark e nos fins de tarde pedalava por lugares desconhecidos, estranhos, a cidade era relativamente pequena, devia ter 40 mil habitantes. Hoje ela quintuplicou e percorro lugares que jamais imaginei, bairros que não sei quais são, perco-me na periferia. Reconheço e não reconheço mais, é e não é mais a minha cidade.


Quando saí da prefeitura, naquela tarde de sol – mas uma chuva nos pegou logo – vim pensando: e se Valdir, com seus conhecimentos insólitos, participasse de um programa de tevê, respondendo sobre ruas e localização? E se eu escrevesse um conto com esse personagem? Um homem inquieto, temendo que novas ruas fossem abertas na calada da noite sem que ele fosse informado. Alguém que desejava desenhar o mapa perfeito. Há disso em Jorge Luis Borges. Um cul de sac, uma rua sem saída, uma rua clandestina? Um homem que, por isso mesmo, anda sem parar, dia e noite, desesperado, procurando saber se as ruas estão nos lugares. Ou, então, um personagem que, a certa altura, surta e começa a mudar as ruas de lugar, deixando a população atônita. E a ficção começou a me dominar, esqueci a realidade. Assim nascem as histórias, é simples.’


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