Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha critica a
déia da TV Pública


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 19 de março de 2007


TV PÚBLICA
Folha de S. Paulo


Aparelho na TV


‘A PRIMEIRA resposta do governo Lula aos reclamos petistas pela ‘democratização’ da mídia foi anunciar a criação de uma TV chapa-branca. Só a título de implantação, a chamada Rede Pública do Executivo sacaria do contribuinte R$ 250 milhões, na estimativa oficial -avaliações realistas elevam esse custo para, no mínimo, R$ 500 milhões.


O ministro Hélio Costa (Comunicações) diz que o governo encontra dificuldades em ‘mostrar suas idéias’ nos canais privados e que, ‘até por segurança nacional, não se pode prescindir de uma rede pública’. Falta ‘liberdade de circulação de opinião’, afirma seu colega Tarso Genro, agora na Justiça.


São argumentos pueris, reiterados na tentativa de dourar a pílula de uma iniciativa que visa tão-somente à autopropaganda dos governantes. Os problemas do presidencialismo brasileiro, no que tange à sua exposição e à sua influência nos meios de comunicação, dizem respeito a excesso, e não a carência.


Por conta da formação histórica do país e do atraso econômico e institucional a que estão entregues vastas porções do território, o Executivo federal no Brasil sofre de hipertrofia também no campo da mídia. As verbas publicitárias do governo e das estatais sustentam as finanças de uma miríade de veículos. As concessões de rádio e TV são das mais prolíficas moedas de troca com oligarquias regionais.


Além disso, um considerável aparato de comunicação estatal veio se amontoando com os anos sob os auspícios do governo federal. A Radiobrás, com mais de mil jornalistas e orçamento anual de R$ 100 milhões, congrega duas agências de notícias, quatro rádios e duas TVs -entre elas um canal dedicado à divulgação das ‘idéias’ do Executivo, o NBR, produzido para TV a cabo.


O arsenal amazônico de comunicação do Estado brasileiro não se limita à esfera federal. A última década assistiu à expansão frenética de veículos de divulgação institucional, como os canais do Senado, da Câmara, da Justiça, das Assembléias estaduais. Sob a saudável diretriz de dar transparência aos atos dos Poderes, criou-se uma máquina gigantesca, que extrapola o objetivo original. Apenas no âmbito do Legislativo, 58 TVs foram criadas no país em 12 anos.


Os 26 maiores canais estatais de TV consomem por ano mais de R$ 400 milhões em recursos dos impostos. Apesar de gastarem tanto, esses notáveis cabides de emprego atraem audiência desprezível. Como costuma acontecer com veículos dirigidos sob a lógica da política partidária, do corporativismo e do clientelismo, as TVs estatais brasileiras se transformaram no império da irrelevância.


Uma TV pública interessante, moderna e dinâmica só terá chances de vingar no Brasil se tiver autonomia em relação aos governos. Uma fração dos recursos torrados no sistema estatal bastaria para lançar uma iniciativa inovadora nesse campo.


O PT e o governo Lula, no entanto, optaram pela marcha a ré. Sequiosos por deixar gravada sua marca no telecoronelismo nacional, desejam abrir uma nova sucursal de autopromoção para acomodar apaniguados, à custa do erário. A idéia de criar a TV do Executivo é um despropósito.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Em Copacabana


‘Surgiu como ‘exclusiva’ no site do francês ‘Le Figaro’, que confirmou informação prestada à agência France Presse pela Polícia Federal, e depois se estendeu pelas manchetes de ‘Le Monde’ e dos italianos ‘La Reppublica’, ‘Corriere Della Sera’, ‘La Stampa’. E tomou as chamadas da Globo, com Zeca Camargo. É a prisão ‘em Copacabana’ do ‘ativista de extrema esquerda’, na descrição do ‘Figaro’, Cesare Battisti, citado pelo jornalista Guillaume Perrault, também do ‘Figaro’ e autor de um livro sobre ele, como ‘a má consciência da extrema esquerda’. De organização ligada às Brigadas Vermelhas, Battisti causou menos barulho em sua Itália original do que na França que adotou depois e onde se tornou escritor -e do que no Brasil, onde foi preso. O ‘Monde’ ajuda a entender por que sob o título ‘apoiadores de Battisti denunciam prisão eleitoral’, referência à campanha presidencial francesa. Em tempo, nos sites italianos e nos brasileiros, ele é chamado de ‘terrorista’. Não nos franceses, nem sequer no conservador ‘Figaro’.


PÓS-EMERGENTES


Sob o título ‘Os meninos malvados do investimento crescem’ (The Bad Boys of Investing Grow Up), a coluna Valores de Mercado do ‘New York Times’ saudou na edição de sábado como alguns mercados emergentes antes dados como ‘voláteis e autodestrutivos’, a saber, Cingapura, Brasil, Coréia do Sul, ‘mostraram durante as últimas semanas turbulentas que não são mais crianças’. Os três citados e outros, diz o texto, ‘evoluíram a ponto de serem mais emergidos do que emergentes’. Seriam ‘mercados pós-emergentes’ (post-emerging markets), preparados para o que vier.


NOVAS VELHAS IRMÃS


O ‘Financial Times’ soltou editorial no sábado sobre as ‘novas Sete Irmãs’ do petróleo. São todas estatais, e o propósito do editorial foi identificar o que vem por aí, agora que ‘o chicote’ voltou às mãos do Estado. Desde logo lamenta que, enquanto algumas ‘reinvestem’ em pesquisas e produção, como Saudi Aramco, Petrobras e Petronas, outras adotam outras prioridades, caso da venezuelana Pdvsa e também da mexicana Pemex, que nem é das novas irmãs. Dentre as velhas irmãs, diz o ‘FT’, BP e Shell têm priorizado distribuir dividendos, ao contrário da Exxon, que segue na luta.


A GRANDE ONDA


Em destaque nos sites de edição social no final da semana, o ‘Financial Times’ e depois outros noticiaram que ‘a censura na internet se espalha mundialmente’. Segundo um relatório de especialistas das universidades de Harvard, Toronto, Cambridge e Oxford, ‘há uma grande onda em direção’ de restrições, em países como China, Arábia Saudita, Zimbabwe, Burna, Tunísia. Vários deles estariam ‘aprendendo com a China’, que tirou do ar a Wikipédia, entre outras ações, as técnicas mais eficazes de censura.


NO WTC


O blog Boing Boing, tido como o mais acessado no mundo, trouxe no fim de semana fotos da visita de George W. Bush ao Brasil, tiradas do alto do hotel onde ficou a comitiva do americano. O autor das fotos não revelou o nome


AS PLATAFORMAS


Com sacos de dinheiro, a Record avança sobre os direitos de transmissão. Daniel Castro, na Folha, informou que o canal ‘está disposto a gastar’ meio bilhão de reais para ‘tirar o Campeonato Brasileiro da Globo a partir de 2009’. Lauro Jardim, na Veja On-line, disse que a rede negocia a compra do campeonato carioca 2009. E já tem o gaúcho, o catarinense e o baiano. O site Tela Viva acrescentou a compra dos Jogos Olímpicos 2012, com direitos em ‘todas as plataformas’. Não só TV nem só aberta.


O SAL DOS MISERÁVEIS


À Laura Mattos, na Folha, o presidente da Record disse que planeja passar a Globo em ‘não menos que cinco anos e não mais que dez’. Na Folha Online, Carmen Pompeu ouviu de um animado diretor comercial que o canal vai ‘bater a Globo’ antes, até 2009. Comentário do blog de Xico Sá: ‘Que azar o deste país. Quando chega a vez de uma emissora, com bala na agulha, encarar a … eis que a emissora vem a ser a Record, à custa do sal dos miseráveis e de uma programação tão desgraçada quanto’.’


BOLÍVIA
Folha de S. Paulo


Morales nega cercear direitos da imprensa


‘O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse ontem à Sociedade Interamericana de Imprensa que é ‘falso’ que ele não respeite a liberdade de informação e afirmou que em seu país os meios podem ‘acusar falsamente’. Morales disse que ‘suportará as humilhações de alguns meios’ e continuará sua obrigação de dotar a população boliviana de rádios comunitárias, projeto incentivado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez. A SIP havia informado, no sábado, que na Bolívia há sinais de deterioração da liberdade de imprensa.’


SS vs. OFICINA
Guilherme Wisnik


Davi x Golias no Bexiga


‘MAIS UM capítulo na disputa entre o Grupo Silvio Santos e o teatro Oficina: depois de induzir o destombamento e a demolição de sobrados de interesse histórico nos terrenos que adquiriu para a construção de um shopping, o Grupo SS continuou a ‘limpeza’ da área demolindo a sinagoga Ohel Yaacov, uma das primeiras de São Paulo. Com os entulhos, tapou duas janelas do teatro, envolvendo-o em escombros. Zé Celso, por sua vez, encontrando uma estrela de Davi metálica em meio aos destroços, passou a usá-la em cena como um amuleto contra a ofensiva do Golias-Silvio Santos. Seu poder é revelar os teatros latentes por trás de cada personagem, incluindo o seu próprio, e reteatralizá-los.


Encaixadas sob os arcos de tijolo do paredão dos fundos do Oficina, as janelas foram abertas durante a montagem de ‘Os Sertões’, indicando a intenção de expansão do espaço cênico atual (um palco-pista, como um sambódromo) para a desejada ‘apoteose’ do teatro de estádio no terreno de trás, hoje um estacionamento.


Nascido de uma colaboração inédita entre os arquitetos e a companhia teatral, o teatro Oficina é um dos maiores patrimônios da cultura brasileira viva e um exemplo de radicalidade única no mundo. Radicalidade que não nasceu nem se alimentou de caprichos ou meros interesses expansionistas, mas, ao contrário, de uma necessidade artística: um auto-sacrifício ritual, masoquista como a própria estética tropicalista. Essa é a história inscrita no seu espaço, e determinante na decisão aparentemente insana de se demolir o antigo teatro para a construção do atual, acarretando mais de uma década de impasses em que o Oficina permaneceu em ruína.


O projeto anterior, feito por Flávio Império, ‘aproveitava’ a estreiteza e declividade do lote construindo uma única arquibancada em frente a um ‘palco italiano’. Ocorre que, com o tempo, o experimentalismo vanguardista da dramaturgia ultrapassou a sua estrutura física, ainda presa ao ilusionismo estático da caixa cênica. Era o coro que tomava posse do espaço, em uma concepção de encenação que tendia para o ritual, abandonando o paradigma do teatro como um lazer burguês, e radicalizando sua condição de festividade de massa, em aproximação com o Carnaval. Inspirado na tragédia grega e no teatro nô japonês, o projeto de Lina Bo Bardi e Edson Elito assumiu o terreno existente como uma pista em rampa, um ‘teatro de passagem’, ligando a rua a um parque festivo.


Com o poder da grana e das ‘leis do mercado’, Silvio Santos vem comendo por fora e cercando o teatro, ameaçando encapsulá-lo. Cabeça dura, e ainda mais ambicioso que o seu adversário, Zé Celso responde na mesma moeda: não faz concessões e pleiteia a cessão do terreno do ‘inimigo’ para a construção do parque-estádio que completará o projeto original do Oficina. Sua ousadia desafia um dos maiores tabus da nossa sociedade: o direito de propriedade. Pois ele bem sabe que se o Brasil for capaz de eleger e cultivar os patrimônios que o mantêm vivo, Davi poderá vencer Golias.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


TV Globo vai ‘relançar’ ‘Paraíso Tropical’


‘A Globo começa nesta semana a bombardear chamadas da novela ‘Paraíso Tropical’ em quase todos os intervalos de seus programas. Será um esforço para tentar aumentar a audiência da novela, a pior estréia da faixa das 21h na década.


Nas chamadas, a Globo contará as histórias da novela desde o começo, de forma bem didática. O recurso é chamado de ‘relançamento’. Visa apresentar a trama ao telespectador que ainda não viu a produção.


Dessa forma, a Globo espera atrair o telespectador que rejeitou ‘Paraíso Tropical’ em suas duas primeiras semanas, mas que não migrou para nenhuma concorrente. Telespectadores que representam pelo menos seis pontos no Ibope simplesmente deixaram de ver novela com o fim de ‘Páginas da Vida’. São pessoas que se sentiram frustradas com os desfechos da novela de Manoel Carlos.


Na Globo, é quase unanimidade que ‘Paraíso Tropical’ é uma boa novela. Mas a cúpula da TV ainda tenta descobrir o motivo da rejeição. Pesquisas com grupos de telespectadores, que costumam ser feitas no 40º capítulo, foram antecipadas para a semana que vem.


Até agora, a única mudança visível foi a interrupção do uso de software que dava um acabamento nas imagens um tanto granulado, acizentado, de documentário para cinema. Isso gerou reclamações de telespectadores, para os quais ‘Paraíso Tropical’ estava ‘pesada’.


PARCERIA 1


A JB TV, que será lançada em abril pelo empresário Nelson Tanure, negocia parceria com a TV Gazeta. A nova rede ocupará os canais da CNT, que não tem geradora em São Paulo -apenas uma retransmissora, no canal 26, de baixa potência.


PARCERIA 2


Para piorar, o transmissor de 60 quilowatts da CNT quebrou, e a JB TV entrará no ar com um de apenas 10 quilowatts. Sem um bom sinal aberto em São Paulo, a JB TV terá dificuldades para crescer.


PARCERIA 3


Segundo Daniel Barbará, superintendente do grupo de mídia de Tanure, as negociações avançam. Como a programação da JB TV no início será das 18h às 24h, a rede deverá absorver o programa de Ronnie Von.


COMEÇOU


Em baixa no Ibope, o ‘SBT Brasil’ terá novo horário a partir de hoje. Entrará no ar no mínimo meia hora mais tarde -até a semana passada, era às 20h15, mesmo horário do ‘JN’.


ADESÃO TOTAL


Nem as empresas do grupo Globo resistiram ao crescimento da Record. A Net será patrocinadora das transmissões do Pan na rede de Edir Macedo. E a Sky comprou uma cota de patrocínio de ‘O Aprendiz 4 – O Sócio’.


MARÉ BAIXA


Reflexo da baixa audiência de ‘Paraíso Tropical’: apesar das cenas picantes, nenhuma reclamação contra a novela das oito foi registrada pelo departamento de classificação indicativa do Ministério da Justiça até a última sexta-feira.’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 19 de março de 2007


TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
Pedro Doria


Um novo padrão para fotos


‘Faz pouco mais de um ano que, com algum estardalhaço, a Microsoft lançou o Windows Media Photo. Não colou, fizeram o que fazem em geral: mudaram o nome. HD Photo. É para lembrar HDTV, que anda na moda pelos EUA, e puxa pela alta definição.


A ambição da empresa não é pequena: quer substituir o jpeg, formato universalmente utilizado para fotografias digitais.


Parece ironia dizer que o nome de marqueteiro quer puxar pela sensação de boa qualidade, mas não é. HD Photo produz imagens com melhor qualidade em menos espaço de disco, o que é exatamente aquilo que um novo formato deveria fazer para ter chances de dar certo.


O próximo passo da Microsoft, já insinuado em entrevistas mas não concretizado, é incluir o padrão na lista de código livre embora registrado pela empresa. Quer dizer que Bill Gates se mantém dono mas não processará ninguém que fizer uso. Ou seja, qualquer um pode fazer com que seu browser veja imagens com esse padrão, com que sua câmera tire fotos com ele, que seu programa salve no formato.


Não aconteceu. Quando acontecer, quem sabe terá uma chance.


A Microsoft tem uma arma para forçar a solução: o Internet Explorer. Como tem um bocado de gente que o usa para navegar pela rede, e como ele como vê HD Photos, de repente estimula uma meia dúzia a incluir fotos com melhor qualidade em seus sites.


Não é pequena a ambição de substituir um dos formatos de arquivo mais universais e antigos da grande rede. Quando surgiu o browser gráfico, chamava-se Mosaic, não dava para ler jpeg na web. Dava para ler gif, que produz decentemente traços com cores chapadas mas não reproduz qualquer variação sutil de tons. O segundo browser e primeiríssimo Netscape tinha entre suas novidades anunciadas justamente a capacidade de apresentar fotografias. Porque lia jpeg.


Então lá se vão doze anos de web com jpeg. Mas quais são realmente as chances de substituição?


São quase imprevisíveis os motivos que levam o público a trocar de padrão. Mas, quando há esta troca, é rápido e em massa.


Por que alguém se daria ao trabalho de substituir o jpeg? Há alguns anos, talvez fizesse sentido. O processamento de máquina necessário para abrir uma imagem jpeg é maior do que o necessário para abrir uma HD Photo, verdade, mas ambos são irrelevantes com os computadores atuais.


Vá: mais relevante é a questão dos tamanhos de arquivos. Com banda larga, no entanto, jpegs com alguns kilobytes a mais que HD Photos passam com tanta rapidez quanto. E nossos discos rígidos são grandes o suficiente para gravarem muita imagem vinda da web. Afinal, aturam filmes e músicas.


Aí está o pulo do gato: isso é verdade para nossos computadores. São rápidos, armazenam gigantescas quantidades. Só que não é fato para nossas câmeras. Menos processamento por mais qualidade quer dizer que a câmera digital pode estar pronta para a próxima foto mais rápido, permitindo seqüências. Menor tamanho quer dizer que, num cartãozinho de memória, caberão mais fotos. E como as fotos digitais que tiramos são muitas e têm resolução para impressão, essas, sim, ocupam muito espaço em nossos discos.


A Microsoft têm lá sua chance de substituir o padrão jpeg por um seu mas, desta vez, ter o Windows ou o Internet Explorer não fará a mínima diferença. São as fábricas de câmeras digitais que decidirão se HD Photo será adotado, ou não. A internet é conseqüência.’


Camila Viegas-Lee


Livro digital é o futuro da academia


‘Apesar de ser historiador – e portanto o que os franceses chamam de passéiste, sempre voltado ao passado -, o professor Robert Darnton, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, explica que ‘de vez em quando bate o olho no retrovisor e capta relances do futuro.’


Darnton, que já presidiu a Associação Histórica Americana, é um dos maiores defensores da combinação de publicações digital e impressa. Ele está no Brasil onde participará de uma conferência organizada pelo Projeto Copesul Cultural, em Porto Alegre, no dia 27 de março.


Para o professor, as publicações eletrônicas têm vantagens evidentes como acessibilidade e facilidade de pesquisa. ‘O preço para desenvolver mecanismos de busca e programar links deverá cair na medida em que bibliotecas e usuários aumentarem a demanda por esses serviços’, diz. Além disso, ele explica, já existem impressoras por demanda que podem produzir livros tradicionais a partir de e-books (livros eletrônicos) e facilitar leituras prolongadas.


‘Práticas como essa vão mudar a indústria editorial incluindo impressão, estoque e distribuição’, diz ele.


Darnton defende que, passadas as fases de entusiasmo utópico e desilusão das publicações eletrônicas, estamos entrando numa fase de pragmatismo. ‘E-books podem incrementar o livro tradicional. Nunca me ocorreu que uma nova forma de comunicação sairia da internet, mas estou feliz que ela esteja aqui.’


Darnton está escrevendo a história do comércio de livros na França durante o século XVIII. O livro deve ser publicado parte em papel pela Oxford University Press e parte na internet. ‘Não se trata do acúmulo de dados, como uma nota de rodapé elaborada’, diz. ‘Vou organizar o texto em camadas como uma pirâmide em que o cume é o livro impresso, e as camadas debaixo são monografias aprofundando temas citados no livro, dossiês em francês, transcrições interpretativas de documentos, cópias de cartas originais e assim por diante.’


Para escrever esse livro, Darnton conta que, desde 1965, leu cerca de 50 mil cartas originais de praticamente todos os tipos de pessoas envolvidas no comércio de livros na época, incluindo autores, editores, impressores, distribuidores e vendedores, arquivadas em uma pequena editora em Neuchâtel, na Suíça. O professor explica que a censura francesa no século XVIII era severa e que os livros mais ousados vinham de lugares que hoje são a Bélgica, a Holanda e a Suíça.


Darnton vai descrever como os livros entravam clandestinamente na França, a partir da viagem de cinco meses de um vendedor ambulante em 1778. O personagem é verídico e o professor encontrou as cartas que ele escreveu durante a viagem. ‘A maioria das cartas é de prestação de contas, mas há momentos em que ele conta que teve de vender o cavalo e que passou cinco dias viajando debaixo de chuva. Divertido.’


Por causa do formato, o leitor poderá ler o material tanto na horizontal quanto na vertical. ‘A beleza da nova tecnologia está aí. O leitor ganha autoridade e se torna um colaborador ativo capaz de fazer associações diferentes das minhas’, diz entusiasmado.


Contudo o entusiasmo diminui quando o professor comenta que estudantes do outro lado do mundo mandam perguntas sobre o iluminismo por e-mail. ‘Eles têm que estudar por conta própria. Às vezes recebo e-mails extremamente informais do tipo ‘oi Bob’. Antigamente eu respondia a todos, hoje já não dá mais tempo.’


Apesar do entusiasmo com a tecnologia e de ser autor de projetos online, o professor garante que sempre haverá espaço para o livro tradicional. ‘O livro tem provado ser uma ferramenta excelente e não vai desaparecer.’ Para ele, o livro é fácil de manusear, resistente, confortável, bonito e permite rápido acesso à informação, sem depender de bateria ou de conexão à internet.


Além disso, ‘quando toma nota de informações contidas em livro, o pesquisador passa por um processo de interpretação, entendimento e síntese’. Darnton mesmo guarda suas anotações, centenas de cartões cuidadosamente catalogados, em cerca de 20 caixas de sapato em seu escritório em Princeton. ‘Quando escrevo, coloco os cartões na mesa e vou organizando as informações que me interessam.’’


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Espaços para teses online


‘O professor da Universidade de Princeton Robert Darnton defende a publicação de monografias online como a saída mais saudável para a crise financeira das editoras universitárias e a redução do orçamento para monografias nas bibliotecas norte-americanas.


Para ele, programas como Gutenberg-e (site) e History E-Book (site) combatem o preconceito que ainda existe nas universidades contra monografias online. E definem os padrões para publicações de alta qualidade.


Segundo Darnton, com o aumento do preço dos periódicos, principalmente os científicos, as bibliotecas dos EUA, que antigamente dedicavam metade do orçamento para monografias, agora investem de 10% a 20% do dinheiro disponível.


Se antes, toda a vez que uma editora universitária decidisse publicar uma monografia no país ela poderia contar com a venda de 800 cópias para bibliotecas, hoje o número caiu para cerca de 200 exemplares.


Não é a toa que doutores recém-formados têm mais dificuldade em publicar suas teses. E, se não publicarem, eles não crescem na profissão, ficam estagnados como professores adjuntos ou palestrantes. ‘No caso de história, uma disciplina em que a crise da publicação acadêmica é particularmente aguda, a solução do e-book é especialmente interessante.’


É nesse ponto que Darnton identifica nos projetos de publicação de monografias online a possibilidade de ajudar a nova geração de doutores.


O Gutenberg-e – colaboração da editora da Universidade de Columbia e da Associação Histórica Americana com o apoio da Fundação Andrew W. Mellon – publica cerca de 34 monografias por ano e premia as melhores.


Já o History E-book – colaboração de mais de 75 editoras com a biblioteca da faculdade de Michigan – publica gratuitamente cerca de 350 livros de alta qualidade por ano na área de humanas.


Esse projeto já inclui cerca de 1.400 livros eletrônicos, dos quais 300 estão disponíveis para impressão por demanda.


Darnton diz que, embora esses projetos estabeleçam padrões altos, ainda é necessário vencer barreiras para a popularização da publicação através de meios eletrônicos. E também que é preciso explorar melhor o uso de som, de imagem e a capacidade de permitir caminhos novos para a leitura de um texto em livros eletrônicos.


‘Quando essas questões forem resolvidas, o livro eletrônico pode ser produzido e distribuído de maneira econômica, reduzindo o custo de produção para editoras e o espaço de prateleira nas bibliotecas’, pondera o professor.


‘Agora só falta vencer o preconceito do e-book nas universidades. E veteranos como eu temos um papel importante nessa jornada.’’


INTERNET
Eduardo Kattah


BH usa internet para plebiscitos


‘O prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT), está recorrendo à internet para pôr em prática um conceito próprio de democracia direta. Enquanto se discute a facilitação ou não dos dispositivos que prevêem a realização de plebiscitos e referendos no País, Pimentel, em seu segundo mandato, inovou e tem utilizado a rede mundial de computadores para chamar a população a se pronunciar sobre temas específicos.


A primeira experiência ocorreu no fim do ano passado. O chamado Orçamento Participativo Digital contabilizou pouco mais de 500 mil votos de eleitores na capital mineira. A votação definiu a aplicação de R$ 20,3 milhões em obras na cidade, entre 2007 e 2008.


O resultado entusiasmou Pimentel. Em janeiro, o prefeito vetou um projeto aprovado pela Câmara Municipal proibindo a abertura do comércio aos domingos e feriados e decidiu lançar uma consulta digital sobre o tema. A idéia era mediar a disputa entre comerciantes, favoráveis à abertura, e comerciários, contrários. Até o dia 5 de abril, eleitores poderão utilizar a página da prefeitura na rede mundial de computadores para opinar sobre o assunto.


Uma nova consulta já está engatilhada: a adoção ou não de um rodízio de veículos na cidade. ‘A idéia da democracia direta, que é o que a gente pratica quando faz esse tipo de consulta, não deve ser excludente da democracia representativa’, observa Pimentel, se adiantando às eventuais críticas por supostamente retirar poder do Legislativo. ‘É um instrumento adicional, importante, imprescindível, eu diria, que fortalece a democracia representativa.’


O endereço eletrônico da prefeitura avisa que o resultado da consulta pública irá contribuir para a elaboração do projeto de lei sobre o funcionamento do comércio, que será enviado à Câmara Municipal. A justificativa foi a necessidade de uma discussão mais profunda sobre o assunto, que envolvesse além de empregados e empregadores do setor comercial, também os consumidores.


Mas, ao contrário do orçamento participativo, o tema atual despertou pouco interesse. Até a última sexta-feira, haviam sido contabilizados somente 10.291 votos, com ampla vantagem para os interesses dos comerciários. A opção ‘funcionar nos domingos que antecedem datas festivas/comemorativas (dia das mães, dos namorados, dos pais, das crianças e Natal)’ tinha 51,4% das preferências ou 5.293 votos. É justamente assim que o comércio funciona hoje.


Outra alternativa, a de ‘funcionar somente de segunda a sábado’, contabilizava 32,7%, num um total de 3.363 votos. Por fim, a opção ‘funcionar todos os domingos e feriados, sem limites de horários’ tinha apenas 797 votos, equivalentes a 7,74% do total. Mas a consulta continua até os primeiros dias do próximo mês.


O cientista político Fábio Wanderley Reis, professor emérito da faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), alerta que o resultado, apesar do universo bem pequeno ouvido na consulta, pode contaminar o trâmite de um assunto no Legislativo municipal. ‘Você cria uma santificação de algo que é visto como correspondente à vontade popular’, avalia, em tom crítico.


Para Cláudia Volpini, da Associação Comercial de Minas (AC Minas), a consulta carece de base científica para que o resultado seja ‘compatível com a realidade’. Para ela, trata-se de ‘resultado inexpressivo em termos populacionais’, que não serve de base para o prefeito tomar uma decisão.


SEM COMPUTADOR


Não é preciso procurar muito para encontrar exemplo de distorção que a consulta pela internet pode gerar. No caso da discussão sobre o funcionamento do comércio, o sindicato da categoria tem trabalhado para aumentar a participação de seus filiados.


O diretor do Departamento de Imprensa e Comunicação do Sindicato dos Comerciários, Milton Mathias Diniz, disse que a entidade mobilizou como pôde a categoria. ‘Como a maioria dos trabalhadores não tem computador, a gente tem buscado o pessoal para votar aqui no sindicato’, explicou.’


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Há distorção, diz pesquisador


‘O fato de serem feitas pela internet é uma ‘distorção evidente’ das consultas de Belo Horizonte, acredita o pesquisador Fábio Wanderley Reis. Para ele, a amostra não é representativa da população, mas o resultado do levantamento acaba sendo supervalorizado por conta do que chama de ‘mitificação dos mecanismos de democracia direta’.


O prefeito Fernando Pimentel rebate o suposto aspecto ‘elitista’ da idéia. ‘Alguém pode dizer que eu estou falando de um segmento muito pequeno da classe média. Não é verdade. Você vai na favela e está cheio de lan house’, disse, referindo-se às casas que alugam computadores para jogos pela internet. O prefeito faz uma concessão: no caso de votações baixas, ele admite que o resultado não expressa a opinião da maioria dos cidadãos. Mas isso não tira sua crença no mecanismo de consulta.


No caso do rodízio, ele espera que ocorra uma espécie de plebiscito digital. A consulta ainda depende de um estudo técnico sobre o fluxo da frota da capital, que deve atingir 1 milhão de veículos neste ano. ‘Chegando a sugestão técnica, vamos ouvir a cidade pela internet’, promete.’


LIBERDADE DE IMPRENSA
O Estado de S. Paulo


Jornalistas vêem maus tempos nas Américas


‘Efe – Dificuldades com o governo em Cuba e na Venezuela, violência no México, Colômbia e Brasil e um clima de ameaça nos Estados Unidos são os maiores problemas da imprensa no continente, segundo relatório divulgado pela Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). A entidade está reunida na Colômbia desde o dia 18.’


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Band X RedeTV!


‘A RedeTV! tem distribuído ao mercado publicitário comparativos de audiência de seus programas com os horários relativos a eles na Bandeirantes, indicando que os resultados lhe são favoráveis pelo Ibope na Grande São Paulo.


Na média do mês, a Band, até fevereiro, ainda vencia a outra – por curta distância. O balanço do início de março, no entanto, tem endossado tendência de crescimento na RedeTV!. Agora, de 1º a 13 de março, a média diária fechada entre 7 h e 24 h era de 4,8 pontos para a RedeTV! a 4,4 pontos para a Band. É empate técnico, mas, a se considerar a tradição da Band, não é resultado a se desprezar. As alterações na grade da Band, até em função da volta do futebol, não têm permitido que a rede se beneficie da queda do SBT com a mesma eficiência que Record e RedeTV! têm alcançado.


Para reforçar o conceito de grade, que leva o público a emendar um programa no outro e cria identidade, a RedeTV! vai transferir o Encontro Marcado, para as 19 h. Ele passará a anteceder o TV Fama, que vai bem para os padrões da casa (5 pontos) e tem abastecido a audiência do RedeTV News e do Superpop’


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Canal pop VH1 anuncia dez estréias


‘O VH1, canal da Viacom – uma boa alternativa para quem gosta de programas musicais, mas já passou da idade de assistir à MTV -, vai estrear, ao longo do ano, dez atrações voltadas para o público de 25 a 49 anos. A Escola de Rock de Gene Simmons é a grande aposta e vai ser lançada em 13 de maio. Outra aposta, o reality Super Group, já está no ar. As atrações no estilo E!Entertainment – A Vida Glamourosa, All Access, entre outros – continuam na grade do canal. A Viacom também anuncia a estréia de 11 programas em seu canal infantil Nickelodeon.


entre-linhas


A atriz Sandra Oh, a dra. Cristina Yang da série Grey’s Anatomy, estará hoje no Late Show with David Letterman, às 21 horas, no GNT. O apresentador entrevista também o ator Chris Rock.


Gisele Bündchen é uma das celebridades que passam pelo estúdio de tatuagem de Chris Garver na segunda fase do reality Miami Ink, no People+Arts, às terças, às 21 horas. Robert Downey Jr. e David Arquette também farão uma visita.


Nando Reis, que foi eleito o Artista do Mês da MTV, está no RockGol de hoje, às 22 horas.’


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O Globo


Sexta-feira, 16 de março de 2007


LÍNGUA PORTUGUESA
Luiz Garcia


O estado do Estado e dos estados


‘A revista ‘Veja’ comunicou outro dia ao seu eleitorado que não mais escreverá ‘estado’ com inicial maiúscula quando estiver falando da nação politicamente organizada. É um ato de brava rebeldia contra o Houaiss e o Aurélio.


Ninguém tem nada com isso (ressalva indispensável exatamente quando a gente se prepara para se meter na vida alheia). Em geral, os dicionários sabem mais do que a gente, mas o idioma e seus usos não são estáticos: às vezes, a voz do povo descobre caminhos que os lexicógrafos levam anos para pôr no mapa.


De qualquer maneira, a rebelião hebdomadária serve como pretexto para uma discussãozinha sobre a inicial maiúscula, essa desconhecida. Para que mesmo a usamos? Para designar, diz o dicionário, ‘nomes com que se nomeiam individualmente os seres – pessoas, nações, povoações, montes, mares…’


É importante, mesmo que óbvia, lembrar essa definição. Ela ajuda a desmontar o velho conceito de que a letra grande seria indicação de status: para autores antigos ou desatualizados, a ‘Verdade’, por exemplo, só teria sua nobreza reconhecida quando grafada com a inicial maiúscula. Já se usou muito a inicial maiúscula com essa função. Dizem que na oratória baiana de tempos passados dava para se ouvir as letras grandes. Algumas eram ensurdecedoras.


Hoje em dia, quem escreve direito sabe que a importância de cada termo é conseqüência inseparável e única de seu significado. O porte da inicial, tanto quanto o talhe da letra, não é qualquer indicação de relevância. Tamanho realmente não é documento.


Até aí, a decisão revolucionária da revista parece fazer sentido: ao contrário do que muitos pensaram e legiões escreveram, a fé remove montanhas com a mesma facilidade que a Fé afasta pedrinhas.


Mas, sem falar nos chamados nomes próprios, a inicial maiúscula pode ter uma serventia especial. É precisamente o caso de ‘Estado’, quando se trata da organização política que preside a nação. Nessa acepção, os dicionaristas nos pedem que usemos a inicial não com indicação de status, mas para ajudar a compreensão. Assim mostramos que falamos da organização política que preside a nação, não de uma condição ou situação, nem de uma unidade federativa.


E preservar a diferença tem utilidade especial nesse caso, particularmente em texto jornalístico, onde freqüentemente convivem – e até se enfrentam – o Estado e os estados. Fica mais fácil entender a informação quando a inicial indica exatamente do que estamos falando.


Acho, mesmo sem autoridade para isso (confesso que tenho de ir ao dicionário para saber o que quer dizer mesmo ‘lexicógrafo’), que ‘Veja’ errou. Com boa intenção também se pisa na bola.


É pena. Se estou certo, a decisão da revista não merece imitação: terá sido bala perdida no bom combate contra o uso abusivo de letras grandes pomposas e cheias de si.


(*) Colunista de O Globo – texto publicado na edição de 16/03/2007.’


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