Folha de S. Paulo

‘O coordenador de Fiscalização da Propaganda Eleitoral no Rio de Janeiro, juiz Luiz Márcio Victor Alves Pereira, determinou ontem que não sejam mais veiculadas imagens do programa ‘Coisas da Vida’ (exibido por Record e CNT) que estariam fazendo propaganda subliminar de Marcelo Crivella (PL), candidato à Prefeitura do Rio.

No programa realizado na madrugada de quarta– feira, o bispo Clodomir dos Santos, da Igreja Universal do Reino de Deus, conclamou fiéis a participarem, no dia da eleição, da campanha ‘Rio ao pé da cruz’. Segundo ele, será distribuído no domingo o Salmo 22, ‘o salmo da vitória’. O número eleitoral de Crivella é 22.

Clodomir recebeu uma ligação, durante o programa, de um telespectador indignado com o que considerou ‘crime eleitoral’. Vladimir Magalhães Noronha disse no ar: ‘O que vocês estão fazendo é confundir o povo a votar no 22 e isso não é a palavra de Deus’. Constrangido, o bispo Clodomir interrompeu a ligação logo após.

Pastores da Igreja Universal também falaram no Salmo 22 no ‘Fala que Eu te Escuto’, outra produção veiculada na Record e na CNT. O juiz Alves Pereira requisitou as duas fitas às emissoras e decidiu que as imagens constituíam propaganda para Crivella. O Salmo 22 diz: ‘Deus, meu Deus, por que me desamparaste? por que estás afastado de me auxiliar e das palavras do meu bramido?’.

Segundo o diretor– executivo da Record Rio, Alexandre Raposo, houve ‘censura prévia’.’

‘O coordenador de Fiscalização da Propaganda Eleitoral, juiz Luiz Márcio Victor Alves Pereira, determinou ontem à noite a retirada da TV Record do Rio do ar por 24 horas, devido à propaganda subliminar para o candidato do PL a prefeito do Rio, Marcelo Crivella, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus. No começo da madrugada, a emissora foi tirada do ar. O juiz tomou a decisão depois de analisar pedido do Ministério Público, baseado em denúncia de que a emissora exibiu programas da Universal convocando fiéis para o evento ‘Rio ao pé da cruz’ no dia da eleição.

Ontem, após analisar as cópias do programa ‘Coisas da Vida’ enviadas pela Record e pela CNT, a promotoria eleitoral pediu que a emissora fosse punida com a suspensão por 24 horas de sua programação porque essa não foi a primeira vez que a Record fez propaganda subliminar a favor da candidatura de Crivella. O juiz também determinou que a cada 15 minutos seja exibido um aviso de que a emissora foi retirada do ar por desobediência à lei eleitoral.

Há dias, os bispos que apresentam os programas convocam fiéis para o encontro na catedral da seita em Del Castilho, Zona Norte do Rio. O programa informa que, no evento, será distribuído o Salmo 22, identificado pelos religiosos como o ‘Salmo da Vitória’. O juiz entendeu que a convocação caracteriza propaganda subliminar para Crivella, cujo número de registro é 22.

Semana passada, a TV Record já tentara exibir uma reportagem sobre o Projeto Nordeste, desenvolvido por Crivella na Fazenda Nova Canaã, na Bahia. Por isso, a emissora foi tirada do ar por 22 minutos na noite do dia 20, enquanto a reportagem era veiculada. Na manhã seguinte, a Record desafiou a Justiça e voltou a exibir imagens da Nova Canaã no programa ‘Fala Brasil’.

Em outra decisão, Luiz Márcio determinou que o programa ‘Coisas da Vida’ veiculado pela CNT deixe de fazer menção ao Salmo 22. O programa, semelhante ao exibido pela Record, fez uma convocação na última segunda– feira para o evento em 3 de outubro, além de receber ligações ao vivo de fiéis e mostrar vinhetas com imagens de favelas e de hospitais do Rio.

Na decisão, Luiz Márcio criticou a atitude da seita: ‘Mais uma vez verifica– se que a campanha de apoio ao candidato Marcelo Crivella, organizada pela Igreja Universal do Reino de Deus, está subestimando o Poder Judiciário e a inteligência de toda a população da cidade do Rio de Janeiro’. O juiz afirma que a Universal faz publicidade eleitoral de Crivella ostensivamente, ‘misturando religião com interesses políticos’.

O prefeito Cesar Maia, adversário de Crivella, defendeu investigação do Ministério Público sobre o uso da Record para fazer propaganda eleitoral do pastor.’

‘Apesar de advogados da Rede Record Rio terem entrado com um mandado de segurança, a emissora ficou fora do ar durante todo o dia de ontem, como determinou a Justiça Eleitoral. A Record saiu do ar à 0h46m de ontem, depois de ser punida por ter veiculado, segundo o Tribunal Regional Eleitoral, propaganda subliminar e irregular para o candidato do PL a prefeito do Rio, Marcelo Crivella, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus.

A decisão judicial que tirou do ar a Record, assinada pelo coordenador da Fiscalização Eleitoral, juiz Luiz Márcio Victor Alves Pereira, atingiu não apenas o município do Rio, alvo da punição, mas toda a Região Metropolitana. As regiões Sul e Serrana do estado receberam a programação normal, já que são atendidas por outro transmissor.

Parte da decisão do juiz, no entanto, não pôde ser cumprida. A ordem determinava que, a cada 15 minutos, entrasse no ar uma mensagem avisando que a programação havia sido suspensa por desobediência à lei eleitoral. O aviso, porém, manteria as torres de transmissão conectadas com a emissora, permitindo que a programação fosse restabelecida de maneira irregular.

A emissora não informou qual foi o prejuízo com a suspensão da programação. Segundo a assessoria de comunicação da TV Record, no lugar dos programas normalmente gerados ao vivo do Rio, entraram no ar reprises.

Marcelo Crivella não quis se pronunciar sobre a suspensão da programação da TV Record. O Ministério das Comunicações também preferiu não se manifestar sobre o assunto, alegando que só age quando uma denúncia formal é apresentada, o que até agora não aconteceu.’

‘A equipe do TRE que retirou a TV Record do ar precisou ir até o Sumaré, onde ficam as torres de transmissão, para interromper a programação. O chefe dos oficiais de Justiça, Luiz Fernando Santa Brígida, comandou a equipe e precisou ameaçar de prisão os funcionários da emissora que estavam na torre:

– Quando chegamos no Sumaré, pouco depois da meia– noite, os funcionários que cuidavam do equipamento quiseram resistir e demoraram a acatar a ordem judicial. Só depois que ameaçamos prendê– los e eles viram que não íamos desistir é que desligaram tudo.

Os equipamentos da emissora foram lacrados. Os oficiais de Justiça notificaram o candidato Marcelo Crivella após o debate e, ontem, comunicaram a decisão à Igreja Universal.’

‘O Salmo 22 é considerado uma profecia sobre a vinda do Messias, que os cristãos acreditam ser Jesus Cristo. O primeiro verso, ‘Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Por que estás afastado de me auxiliar, e das palavras do meu bramido?’, teria sido dito por Jesus perto de sua morte.

Em pelo menos um programa da Igreja Universal, exibido pela TV Record esta semana, houve uma convocação para o evento ‘Rio ao Pé da Cruz’, que será realizado amanhã. Pastores da Universal anunciaram no programa que será distribuído o Salmo 22, identificado como o ‘Salmo da Vitória’. O número de registro de Marcelo Crivella também é 22.’

‘Em lugar de auxílio espiritual, aconselhamento eleitoral. O serviço oferecido pela Igreja Universal para confortar fiéis está sendo usado para orientá– los a votar no candidato do PL a prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que é bispo da seita, e no vereador bispo Jorge Braz (PMDB), também ligado à Universal. O telefone do SOS Espiritual (2582– 0500) foi divulgado na madrugada de ontem no programa ‘Coisas da Vida’, produzido pela Universal e exibido pela TV Record do Rio.

A mesma atração levou a emissora a ser tirada do ar por 24 horas pela Justiça Eleitoral, na madrugada da última sexta– feira, por convocar fiéis para receber o Salmo 22, número de registro de Crivella, no evento ‘Rio ao pé da cruz’, que será realizado hoje na catedral da seita, em Del Castilho, Zona Norte do Rio.

Após denúncias de leitores de que a Universal estava usando seu serviço espiritual com fins eleitorais, repórteres do GLOBO ligaram para o número divulgado na TV.

No primeiro telefonema, o repórter se disse indeciso sobre qual candidato escolher. Do outro lado da linha, o atendente, que se identificou como pastor, não teve dúvidas.

– Crivella, irmão – exclamou ele.

Depois, desconfiado, disse que o voto é secreto e, afirmando que outras pessoas aguardavam atendimento, desligou bruscamente.

Na segunda ligação, a repórter também pediu conselhos sobre a eleição, tendo com o pastor o seguinte diálogo:

– A senhora sabe que o voto é secreto, né? Mas aconselhamos as pessoas a votar no Crivella. Não estamos obrigando ninguém a votar no Crivella. Ele é o meu candidato, tenho o direito de falar isso para a senhora.

– Agora, eu não sei, por exemplo, de vereador, como é que eu faço… Porque eu não conheço nenhum…

– Então vota no Jorge Braz, também, o 15.600.

– O bispo Jorge Braz?

– É.

– E ele é bom?

– Com certeza, senhora.

– Eu não o conheço, ele prega onde?

– Ele não prega. Ele vem muito aqui na catedral. É um bispo muito bacana. Não estamos elegendo essas pessoas porque são bispos da igreja. São boas pessoas, e lá, na Câmara dos Deputados (sic), vão fazer coisas pelo povo brasileiro.

Ao fim da ligação, a repórter quis saber se o candidato a vereador tinha chance de se eleger. O pastor, que não se identificou, garantiu que Braz está bem cotado e concluiu o telefonema com uma conclamação para o voto em Crivella.

– E ele tem chance?

– Com certeza. Ele vai ser bem votado.

– Muito obrigada.

– Sim, senhora. E 22.’