Thursday, 14 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Folha de S. Paulo

‘Morreu ontem o fotógrafo norte– americano Richard Avedon, cujos retratos e ensaios de moda ajudaram a definir uma imagem de estilo, beleza e cultura dos Estados Unidos nos últimos 50 anos. Ele tinha 81 anos e havia sofrido uma hemorragia cerebral no último sábado na cidade de San Antonio, Texas, onde produzia material sobre as eleições presidenciais norte– americanas para a revista ‘The New Yorker’.

‘Nós perdemos uma das grandes imaginações visuais da última metade de século’, afirmou David Remnick, editor da publicação.

Durante o período em que a moda se transformava e entrava em um processo de popularização, as fotos de Avedon conseguiram injetar vida e dramatizar retratos de estilos distintos, fosse a sofisticação de Milão ou o pragmático estilo esportivo desenhado em Nova York. Indo do realismo à fantasia, com toques de experimentalismo, seu modo de trabalhar chegou a servir de inspiração para o personagem Dick Avery, interpretado por Fred Astaire no filme ‘Cinderela em Paris’ (1957).

Com seus retratos, Avedon também delineou os parâmetros que definiam uma celebridade – se alguém era capturado por suas lentes, certamente era famoso. Uma multidão de fotógrafos tentou replicar sua assinatura, que ficou conhecida como o ‘estilo Avedon’. Em uma reportagem de 2002, o jornal ‘The New York Times’ o intitulou ‘o fotógrafo mais famoso do mundo’.

Museus importantes como o Metropolitan de Nova York e a National Gallery de Washington exibiram retrospectivas de Avedon, que também emprestava sua marca em campanhas publicitárias de empresas como Revlon e Christian Dior.

‘Eu já fotografei quase todo mundo’, disse Avedon uma vez. ‘Mas o meu objetivo é fotografar pessoas que signifiquem algo, não celebridades, e ajudar a determinar essa diferença.’

Seus retratos de Charles Chaplin, do poeta Ezra Pound e do escritor Allen Ginsberg e principalmente de Marilyn Monroe ajudaram a construir a fama de Avedon como um fotógrafo que tinha a capacidade de penetrar uma imagem pública cuidadosamente construída.

Quando ele começou a trabalhar para a ‘New Yorker’ em 1992 – que até então não dava destaque às fotos em suas edições– , o jornal ‘USA Today’ afirmou que ter Avedon como fotógrafo contratado era como chamar Michelangelo para pintar uma casa.

Entre os fotografados por Avedon para a revista estão a senadora Hillary Clinton, os escritores Saul Bellow e Toni Morrison e o atual candidato democrata à presidência norte– americana, John Kerry. Seu arquivo, com imagens da atriz Audrey Hepburn e do bailarino Rudolf Nureyev, também foi usado pela ‘New Yorker’.

Apesar de associado ao glamour da moda, Avedon também desenvolveu um trabalho de apoio à defesa dos direitos civis e de outras causas sociais. Em meados da década de 60, treinou jovens fotógrafos negros com intuito de registrar as marchas e protestos no sul dos Estados Unidos.

A partir dos anos 70, se dedicou a capturar um crescente senso de desilusão sobre as possibilidades do ‘american way of life’. Quando voltou do oeste norte– americano com retratos de ex– detentos, alcoólatras e pessoas com duras histórias de vida, seu trabalho foi considerado cínico pelos críticos.

‘Minhas fotografias não vão além da superfície. Elas são leituras do que está na superfície. Eu tenho grande fé em superfícies. Uma boa superfície está cheia de pistas’, afirmou.’



JANET LEIGH
Folha de S. Paulo

‘Atriz Janet Leigh morre aos 77 nos EUA’, copyright Folha de S. Paulo, 05/10/04

‘A atriz norte– americana Janet Leigh, estrela do clássico ‘Psicose’, de Alfred Hitchcock, morreu na tarde de anteontem em sua casa em Beverly Hills, nos Estados Unidos, aos 77 anos, vítima de vasculite, inflamação nas vias circulatórias. Há um ano ela lutava contra a doença.

O marido de Leigh, Robert Brand, e suas filhas Kelly Curtis e a também atriz Jamie Lee Curtis estavam com ela quando morreu, segundo Heidi Schaeffer, porta– voz de Lee Curtis.

Leigh teve uma longa e diversificada carreira cinematográfica, que incluiu papéis importantes em filmes como ‘A Marca da Maldade’ (1958), de Orson Welles, e ‘Sob o Domínio do Mal’ (1962), de John Frankenheimer.

Mas o grande destaque de sua carreira é ‘Psicose’ (1960), filme em que sua personagem Marion Crane é assassinada em uma cena clássica, que deixou a imagem da atriz gravada na memória de todo o público. O papel rendeu a Leigh a indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante.

Hitchcock gravou a seqüência do chuveiro de 70 formas diferentes, cada uma delas com dois a três segundos, por isso Leigh passou sete dias no banho.

Na época, circulavam rumores de que a atriz estava nua durante as filmagens, mas ela estava usando uma roupa cor da pele. Embora leve para os padrões atuais, a cena era chocante para a época por conta de sua brutalidade.

Leigh conta em seu livro ‘Psycho: Behind the Scenes in the Classic Thriller’ (Psicose: Por Trás das Câmeras no Suspense Clássico, de 95) que foi fácil fazer a cena até os últimos 20 segundos, quando ela teve que expressar horror total, pois sua personagem começava a ser retalhada.

A atriz dizia também que depois do filme muitas vezes não conseguia tomar banho. ‘Não é exagero, não é algo que eu pense que seja um bom marketing’, insistia ela. ‘Por Deus, é verdade.’

Jeanette Helen Morrison nasceu em Merced, na Califórnia, no dia 6 de julho de 1927. Ela ainda era estudante quando a estrela aposentada Norma Shearer viu uma fotografia dela em uma estação de esqui. Shearer recomendou a adolescente à agente de talentos Lew Wasserman, que negociou o contrato da estreante na MGM, a US$ 50 por semana.

Primeiro filme

Em 1947, já batizada como Janet Leigh, aos 19 anos, a atriz estrelou seu primeiro filme, ‘Reconciliação’ (1947), dirigido por Roy Rowland, no qual interpretava a ingênua Lissy Anne MacBean, contracenando com Van Johnson. O salário dela subiu para US$ 150 por semana, tornando– se uma das estrelas mais requisitadas da MGM. Só em 1949 atuou em seis filmes.

Entre seus filmes, estão ‘Quatro Irmãs’ (1949), de Marvyn LeRoy, a primeira versão a ser filmada do livro ‘Mulherzinhas’, ‘Duas Vidas se Encontram’ (1949), de Don Hartman, ‘Será Pecado?’ (1951), de Melvin Frank, ‘O Preço de um Homem’ (1952), de Anthony Mann, ‘Living It Up’ (1954), de Norman Taurog, ‘Jet Pilot’ (1957), e ‘Adeus, Amor’ (1963), de George Sidney.

Janet Leigh casou– se duas vezes antes de ir para Hollywood: com John K. Carlyle, em 1942, e com Stanley Reames, com quem ficou entre 1946 e 1948. Em 1951 casou– se com o ator Tony Curtis. O casal trabalhou junto em produções como ‘Houdini, Vikings – Os Conquistadores’ e ‘Who Was That Lady?’ e era um dos alvos preferidos das revistas de celebridades. Divorciaram– se em 1963. Leigh se casou com Robert Brand em 1964.

Nos anos 80, sua carreira se resume a alguns papéis em filmes para a TV. Em 1998, reaparece ao lado de sua filha Jamie na seqüência comemorativa da série de terror ‘Halloween’, ‘Halloween H20 – 20 Anos Depois’.’