ANOREXIA & AMNÉSIA
Ditadura em moda
‘A MORTE de uma modelo em São Paulo em conseqüência de anorexia nervosa reavivou discussões em torno de medidas voltadas a evitar os efeitos trágicos da chamada ‘ditadura da moda’ entre os jovens. A Espanha chegou a proibir de desfilarem manequins com um índice de massa corpórea (IMC) inferior ao considerado saudável.
A anorexia é uma doença psiquiátrica grave, cujas causas não são bem conhecidas. A taxa de prevalência em países industrializados é de cerca de 1%. Mulheres jovens de classes sociais mais elevadas e envolvidas com profissões ligadas ao corpo, como modelos e bailarinas, são as vítimas preferenciais. O tratamento é difícil, e a taxa de mortalidade a longo prazo chega a 10%.
É difícil, num transtorno tão complexo e freqüentemente associado a outras doenças, estabelecer uma hierarquia de causas. O fator genético, segundo um estudo sueco recente, é preponderante em 56% dos casos.
O estímulo ambiental, porém, também está entre as causas importantes da moléstia. Debates públicos como o que agora se trava ajudam a conscientizar pais, escolas, agências e produtores de moda sobre os perigos associados ao padrão de beleza cultivado nas passarelas. É provável que toda essa discussão redunde na criação e no aperfeiçoamento, nesses setores sociais, de mecanismos de prevenção da doença.
É possível, até, que a pressão leve produtores de moda a flexibilizar o protocolo de esqualidez que exigem de garotos e garotas. Mas informação e conscientização é o máximo que se deveria esperar desse debate -jamais medidas liberticidas, como vetar modelos ‘magras demais’.
Seria inaceitável que, a título de combater a ‘ditadura da moda’ -um termo que tem validade no campo simbólico-, se instituíssem mecanismos que recendem a ditaduras de fato.’
Danuza Leão
A moda que mata
‘É MUITO TRISTE saber que uma menina que tinha como sonho ser modelo internacional morre aos 21 anos de anorexia, que podemos quase apostar que surgiu da necessidade de estar de acordo com os padrões que a profissão exige.
Já pensei muito sobre essas garotas que correm atrás do sucesso para serem famosas e milionárias aos 18 anos -já que nessa profissão, aos 22, 23, elas já acabaram. Algumas ganham fortunas num curto espaço de tempo, mas essas são poucas.
Sempre me impressionei com certas características dessa profissão. Existem profissionais dedicados especialmente a descobrir meninas com potencial -altas, magras, bonitas-, que são buscadas até mesmo em portas de colégios, com a sedução de poderem ser as novas Giseles Bündchens. E que garota não se sentiria atraída por essa possibilidade?
Aí começam os concursos para eleger a Top Model do ano, e muitas concorrem com 13, 14 anos. Se têm a chance de se destacarem por algum traço especial, passam uma fase morando num pequeno apartamento com mais três ou quatro também pretendentes a modelos, dormindo em beliches e andando de ônibus, esperando que a carreira deslanche.
O máximo para qualquer uma delas, sobretudo quando se trata de uma menina vinda do interior, é ir para Milão ou Tóquio. Vamos reconhecer: é preciso ter a cabeça feita -e com 13 anos isso é raro- para preferir estudar geografia e matemática a ser modelo internacional. Elas vão, muitas vezes sozinhas, e se têm uma dúvida, um problema, com quem se aconselham? Com seus agentes, é claro. Estarão sempre sendo convidadas para todas as festas, rodeadas pelos mais sedutores playboys, aqueles, que passam a vida esperando pela safra do ano.
Há alguns anos houve um juiz de menores no Rio, Siro Darlan, que proibiu menores de 18 anos de desfilar. Foi um escândalo; o juiz foi acusado de querer publicidade, o tempo passou e não se falou mais nisso.
Mas vamos ter a coragem de ser caretas, por uma vez na vida: é possível jogar uma menina de 13 anos num mundo cheio de seduções e esperar que ela tenha uma cabeça privilegiada para saber o que deve ou não fazer? Uma minoria se dá bem, mas a maior parte delas, da qual nem ouvimos falar, acaba mal. E algumas, como essas duas pobres garotas que morreram nesta semana, não tem noção de até onde devem ir, para obedecer às regras do mercado. Porque para ser uma modelo de sucesso, a primeira, primeiríssima condição, é a magreza absoluta.
Para isso, qualquer sacrifício é válido: desde tomar comprimidos para tirar a fome até se habituar a não comer e ficar anoréxica. Gostei muito quando soube que na Espanha as modelos que tivessem medidas abaixo de um certo padrão estavam proibidas de desfilar.
Eles estão certos: medir 1,75m e pesar 50 quilos é loucura, é doença, mas uma doença que o mundo aplaude como digna de louvor.
Umas pessoas gostam das magras, outras preferem as gordinhas, e há lugar para tudo neste mundo, desde que sem exageros.
O Brasil poderia bem copiar a Espanha e exigir um peso mínimo para quem pretende encarar a passarela.
E começar a pensar também em determinar uma idade mínima para começar a profissão. Quem tem 13 anos, mesmo no mundo de hoje, é ainda uma menina.
Estaríamos quase sós nessas duas campanhas, mas com a certeza de estar fazendo o certo. Mesmo contra a opinião do mundo em geral e das agências de modelos em particular.’
INTERNET
Coreografia vira super-hit do YouTube
‘O maior fenômeno do YouTube é um sujeito meio careca, meio fora de forma, meio malvestido e que se define como ‘uma mistura de Robin Williams com Anthony Robbins’ (aquele ex-vendedor de aspirador de pó que ganha a vida escrevendo livros como ‘Desperte o Gigante Interior’).
É assim a ‘estrela’ do ‘The Evolution of Dance’, vídeo que no início deste mês chegou aos 35 milhões de acessos, liderando pelo sexto mês a lista dos mais vistos do site, e que deve ganhar agora em dezembro uma segunda edição, o ‘The Evolution of Dance Revisited’.
A esquete cômica com seis minutos de coreografias burlescas, em imitações de Elvis Presley ao rapper Jay-Z, nada mais é que um número de encerramento das palestras de auto-ajuda (!) que o americano Judson Laipply, 30, dá há seis anos em faculdades e empresas, na linha ‘aprenda a ser o líder perfeito’.
Não é inovadora, tampouco surpreendente. Mas foi ela que fez a trajetória de Laipply se tornar tão vertiginosa quanto suas promessas de ensinar ‘a vender areia no deserto’. ‘Foi muito empolgante e muito estranho passar por isso’, disse o comediante à Folha, por telefone, de Los Angeles, onde deu palestras na semana passada.
Laipply colocou o vídeo no YouTube em abril, atendendo a pedidos de pessoas que haviam presenciado suas palestras e pretendiam mostrar o número a conhecidos. Sua única propaganda, conta, foi avisar aos então 200 amigos no MySpace (hoje são 3.144) que o vídeo estava no ar. ‘Passei a ver diariamente o número de acessos, até que um dia eu estava lá, no topo. Foi difícil acreditar.’
Enquanto não decidia se acreditava, resolveu capitalizar. A exposição na internet e na TV -desde junho, Laipply vem participando de atrações como ‘Good Morning America’ e ‘Today Show’, em que invariavelmente termina ensinando os apresentadores a dançar- permitiu que se sentisse à vontade até para vender em seu site (www.theevoluti onofdance.com) uma camiseta similar à que usa no vídeo, por US$ 16,95 (R$ 36,50).
Suas palestras, que eram de uma média de 60 a 70 por ano, devem passar de 170 de hoje a novembro de 2007. Até lá, já tem visitas marcadas a empresas como Verizon, American Airlines e Herman Miller. ‘Definitivamente, falo para públicos maiores, de empresas maiores, gente que não teria ouvido falar de mim antes.’
Para o fim deste mês, está previsto o lançamento da JudsonTV (www.judson.tv), dentro da rede LiveLoudTV (www.liveloud.tv), em que Laipply vai entrevistar e, claro, dançar com famosos e anônimos ‘que estejam fazendo coisas extraordinárias’. ‘A princípio, é só na internet. Quem sabe futuramente não seja lançado na TV’, sonha.
Seu segundo vídeo, uma variação do mesmo tema, está quase pronto. ‘É outra linha do tempo da dança, com novas músicas. Tem ‘My Girl’, dos Temptations, ‘Vogue’, de Madonna, e por aí vai.’ Falta resolver pendências autorais com os donos das canções para não reincidir num erro: como não pagou pelos direitos das músicas do primeiro vídeo, ainda não pôde lançá-lo em DVD. A resolução da questão autoral permitirá ainda o download do novo trabalho. ‘Quero que seja visto de celulares, de iPods.’
‘Viver é mudar’
O comediante nascido em Cleveland (Ohio) nunca estudou dança nem tem compromisso com a idéia de fazer uma performance correta. Sua opção por elaborar a linha do tempo coreográfica, diz, foi apenas para permitir ‘uma melhor visualização’ de uma mensagem recorrente em suas palestras, a de que ‘viver é mudar’.
‘Queria algo que tivesse energia e que fosse engraçado. Pensei no quanto seria divertido mostrar as danças esquisitas que fazíamos há alguns anos.’ Sem querer, esbarrou no que considera uma fórmula universal -e o segredo de seu êxito na internet. ‘A língua pode ser uma barreira entre as pessoas, mas, quando há música, elas dispensam outra linguagem.’’
TELEVISÃO
Novela ‘Malhação’ vira filme sério em 2007
‘No ar desde 1995, a novela-seriado ‘Malhação’ vai virar filme em 2007. A Globo já agendou as filmagens para outubro.
O filme se chamará ‘Malhação 24 Horas’ e marcará a estréia no cinema de Ricardo Waddington, um dos diretores mais prestigiados na Globo.
Segundo Waddington, ‘Malhação 24 Horas’ será um longa sobre férias, mas não um típico filme de férias (como os de Xuxa e Renato Aragão): ‘Pretendo abordar temas do universo adolescente com um olhar mais profundo, que não dá para colocar na TV por causa do horário. Quero fazer um filme sério’.
Waddington adianta que toda a história se passará em um único dia da vida de um grupo de jovens de férias em Fernando de Noronha. O elenco será diferente do da novela-seriado.
Depois de ‘Malhação 24 Horas’, o workaholic Waddington, hoje responsável pela novela adolescente e por ‘Pé na Jaca’, pretende tirar férias da Globo durante um ano.
Nesse período, ele planeja rodar dois outros filmes. O primeiro será o romance etnológico ‘Maíra’, de Darcy Ribeiro, com produção de seu irmão, Andrucha Waddington (diretor de ‘Casa de Areia’). Segundo Waddington, a adaptação de ‘Maíra’ será do francês Jean-Claude Carrière, roteirista de ‘A Bela da Tarde’ (1967), clássico dirigido por Luis Buñuel.
Em 2009, Waddington quer filmar o livro ‘Lúcia McCartney’, de Rubem Fonseca.
PÉ NA CPI 1 Nova novela das sete da Globo, ‘Pé na Jaca’ vai tirar uma casquinha do escândalo do mensalão. Na semana que vem, o personagem de Murilo Benício, Arthur Fortuna, irá depor numa Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
PÉ NA CPI 2’ Ele é acusado de criar o ‘fortunaduto’, um esquema para desviar dinheiro de fundos de investimentos privados para pagar suborno de membros do Poder Legislativo’, diz Carlos Lombardi, numa alusão ao ‘valerioduto’. ‘Mas leva a culpa sem merecer’, esclarece.
MERCHANDISING Autora da Globo que mais investe em merchandising social, Glória Perez parou de fumar _o que não deixa de ser um merchandising antitabaco.
FAMÍLIA MUSICAL Mulher de Silvio Santos, Íris Abravanel aproveitou as gravações de ‘Ídolos 2’ em Campinas, na última quinta, para conferir os bastidores do ‘reality show’, dirigido por uma de suas filhas, Daniela Beyruti.
PAQUITO O ator e ex-paquito Claudio Heinrich é o mais cotado para apresentar um quadro de namoro na TV que estréia em janeiro na Record, no final do ‘Tudo a Ver’ vespertino.
NO AR Um novo personagem entrará nos próximos capítulos de ‘Páginas da Vida’. Será um soropositivo, pelo qual a freira interpretada por Letícia Sabatella irá se apaixonar. O ator será Miguel Lunardi, que atuou nos filmes ‘Benjamin’ e ‘Mauá: O Imperador e o Rei’.’
Laura Mattos
Pé no Jaca
‘‘Pé no Jaca’, título desta reportagem, é uma brincadeira. Peter Ketnath, 32, o galã alemão que participará de ‘Pé na Jaca’, nova novela da Globo, fala bem o português.
Com um currículo de mais de 20 filmes e seriados na Alemanha, ele é ainda um ilustre desconhecido para quase todos os telespectadores brasileiros.
Alguns poucos deverão reconhecê-lo como o protagonista do premiado longa-metragem ‘Cinema, Aspirinas e Urubus’, que, apesar da fraca bilheteria, foi o título escolhido pelo país para tentar uma vaga no Oscar 2007 (veja texto nesta página).
No meio cinematográfico brasileiro, os cabelos loiros de Ketnath já têm fãs de longa data. O ator gerou burburinho na festa do Festival de Cinema do Amazonas do ano passado, quando divulgava o filme, dirigido pelo pernambucano Marcelo Gomes. Tímido, discreto, faz de tudo para não chamar a atenção, mas acabou atraindo mais olhares do que a espalhafatosa atriz espanhola Victoria Abril, ex-musa de Pedro Almodóvar, que interpretava clássicos da bossa nova num palco.
História de amor
A ligação de Ketnath com o Brasil é ‘uma história de amor’, em suas palavras. Há seis anos, ele se casou com uma cozinheira de Salvador radicada em Berlim. Um ano depois, viajou à capital baiana para conhecer a família e a terra natal de sua mulher. ‘Ela me falava bastante de Salvador, de como era o Pelourinho, e queria ver. Gostei muito e acabamos ficando três meses por lá. Já voltei à Alemanha falando português’, conta Ketnath, em entrevista à Folha, por telefone, de Berlim.
‘Em Salvador, quase ninguém fala inglês. Ou você fica surdo, cego e não fala nada ou aprende. No primeiro mês, eu não conseguia dizer quase nada, no segundo já comecei com piadas. É um bairro popular e você pega a gaiatice da rua.’
O aprendizado da língua rendeu a ele o convite para ‘Cinema, Aspirinas e Urubus’. No filme, ele interpreta Johann, um alemão que deixa seu país durante a 2º Guerra Mundial e cruza o sertão nordestino num caminhão para vender aspirinas nos pobres vilarejos.
O diretor procurava um ator alemão que falasse espanhol ou português e recebeu a indicação de Ketnath. O primeiro contato com a produção do longa se deu no Festival de Berlim de 2003. ‘Quis fazer o filme porque achei essa história muito importante, com um certo olhar diferente dessa época tão difícil para o mundo’, avalia.
Depois desse longa, ele filmou também ‘Deserto Feliz’, de Paulo Caldas, que estréia nos cinemas no próximo ano.
Global
Após o mergulho numa das mais prestigiadas produções do cinema nacional, Ketnath chamou a atenção de Ricardo Waddington, que assina a direção de ‘Pé na Jaca’. O ator, que já conhecia o sucesso de crítica e fracasso de público no Brasil, foi convidado pelo diretor da Globo a experimentar, na televisão, o ‘outro lado’. Uma novela das sete bem-sucedida pode ultrapassar os 40 pontos de audiência no Ibope, o que representa 2,2 milhões de domicílios só na Grande São Paulo.
Em ‘Pé na Jaca’, o alemão será francês. Ketnath interpreta Jean Luc, nobre parisiense falido, que tenta manter o status. Ele é casado com a modelo internacional Maria, papel da também modelo Fernanda Lima, uma das protagonistas.
O ator, que aparece sem roupa em uma das primeiras cenas de ‘Cinema, Aspirinas e Urubus’, por ironia estréia justamente em uma novela de Carlos Lombardi (‘Uga Uga’, ‘O Quinto dos Infernos’ e ‘Kubanacan’) conhecido por explorar peitos nus de seus galãs.
Ketnath, contudo, não fará parte do núcleo de descamisados, liderado, como sempre, pelo ator Marcos Pasquim.
Grande parte de suas cenas foram gravadas no rigoroso inverno de Paris, com pesados casacos e cachecol. Na semana passada, o ator gravou o restante de sua participação no Projac (central de estúdios da Globo, no Rio). Sua atuação, a princípio, está restrita aos primeiros 30 capítulos da novela. Seu personagem deverá morrer, e Maria voltará ao Brasil.
Sangue baiano
Nascido e criado em Munique, Ketnath fez o primeiro longa aos 21. Atualmente, grava um seriado televisivo no estilo de ‘CSI’. A série será veiculada por uma das maiores redes européias, a RTL, na Alemanha, Suíça, Áustria e Bélgica.
Apesar do sucesso em cinema e na TV, Ketnath afirma não ser uma celebridade na Alemanha. ‘Não dou autógrafos na ruas. Aqui não tem esse culto ao ator. Se alguém faz novela, pode ser que um grupo peça autógrafos, mas é raro.’
Enquanto filmava ‘Cinema, Aspirinas e Urubus’, nasceu seu filho, Cauã, 3, em Salvador, que fala melhor o português do que o alemão. Ketnath, que hoje divide seu tempo entre o Brasil e a Alemanha, adoraria morar de vez em Salvador, onde mantém uma casa. Se ele emplacar na Globo, poderá seguir o caminho de Johann, seu personagem de ‘Cinema, Aspirinas e Urubus’, e se jogar de vez na aventura de ser brasileiro.
Colaborou SILVANA ARANTES, da Reportagem Local’
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Nova novela é do autor dos ‘descamisados’
‘Marcos Pasquim está sem camisa na televisão? Não tenha dúvida, você está diante de uma telenovela de Carlos Lombardi.
O autor de ‘Uga Uga’, ‘Quinto dos Infernos’ e ‘Kubanacan’ volta ao ar a partir de amanhã com ‘Pé na Jaca’, novela das sete que substitui a bem-sucedida ‘Cobras & Lagartos’.
Com a nova trama, a Globo prova estar mesmo disposta a transformar Fernanda Lima em estrela da casa. Apesar do trauma com o fracasso de ‘Bang Bang’, protagonizada por ela, ser ainda recente (a novela terminou em abril), ela volta como uma das principais personagens de ‘Pé na Jaca’. Desta vez, a emissora facilitou e criou para ela o papel de modelo, que ela também interpreta na vida real.
‘Pé na Jaca’ gira em torno de cinco personagens centrais, que se conhecem quando crianças na cidade fictícia Deus me Livre, no interior de São Paulo, e voltam a se cruzar 25 anos depois. Além de Fernanda Lima e Marcos Pasquim, o grupo é formado por Murilo Benício, Deborah Secco e Juliana Paes.
Em festa de lançamento da novela, há uma semana em São Paulo, Lombardi admitiu sem culpas seu lado ‘chanchadista’. Disse que, ‘claro’, vai mostrar Paes com pouca roupa.
A novela antecessora, ‘Cobras & Lagartos’, teve boa audiência. Até outubro, mais de 56% das TVs ligadas no horário estavam sintonizadas na história de João Emanuel Carneiro. Com essa responsabilidade nas costas, Lombardi está longe de poder enfiar o pé na jaca.’
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Sucesso de crítica, filme quer público
‘Primeiro longa-metragem do cineasta pernambucano Marcelo Gomes, 43, ‘Cinema, Aspirinas e Urubus’ é um hit em festivais e entre a crítica de cinema, mas ainda luta para ser sucesso de público no Brasil. O título acumula quase 30 prêmios em festivais nacionais e internacionais e foi escolhido pelo Brasil para tentar uma vaga na disputa pelo Oscar de melhor filme estrangeiro em 2007. Com todas essas credenciais, o filme continua na casa dos 100 mil espectadores no Brasil e não teve a bilheteria alavancada nem após ser o escolhido do país para tentar a vaga no Oscar.’
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Novela adere à estética de ‘Cidade de Deus’
‘Na Globo, por enquanto, a favela está restrita aos telejornais, quadros da Regina Casé e a séries independentes, como ‘Cidade dos Homens’ e ‘Antônia’, que estreou anteontem.
Na Record, a influência do longa-metragem ‘Cidade de Deus’ (2002) chegará às novelas a partir desta terça, às 22h.
A emissora estréia ‘Vidas Opostas’, escrita pelo ex-global Marcílio Moraes, co-autor de ‘Roque Santeiro’, ‘Roda de Fogo’ e ‘Mandala’, entre outras.
Na novela, a mocinha Joana (Maytê Piragibe) é pobre, como muitas outras na história da teledramaturgia. A diferença é que ela mora na favela e não em um subúrbio carioca reproduzido em cidade cenográfica por belas casinhas coloridas.
Além de seu núcleo, de ‘gente de bem’, haverá outros dois na favela, formados por traficantes. Da ala ‘do mal’ farão parte dois protagonistas de ‘Cidade de Deus’, Phellipe Haagensen (o Bené do filme) e Leandro Firmino (que fez Zé Pequeno). Entre outros temas, ‘Vidas Opostas’ abordará a guerra entre facções inimigas do tráfico e não faltarão seqüências de tiroteio, com arsenal de metralhadores e fuzis.
As tomadas desse universo estão sendo gravadas na favela Tavares Bastos, no Catete (Rio). ‘Escolhemos esse local porque o Bope [Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar] está instalado lá e a situação está mais tranqüila’, explica o autor da novela.
Na história, a mocinha da favela apaixona-se pelo galã milionário Miguel (Leo Rosa) -daí o nome ‘Vidas Opostas’. O problema é que um ex-namorado que virou traficante sai da cadeia e resolve tomar de volta a amada, além da boca-de-fumo. ‘A população, oprimida pela polícia e pelos bandidos, revolta-se contra o traficante e, em meio à confusão, ele acaba sendo morto’, conta Moraes.
O autor se inspirou na peça ‘Fuente Ovjuna’ (1612), do escritor espanhol Lope de Vega, que narra a rebelião de um povoado contra o governador. ‘A novela tem um pouco dessa obra, um clássico para a esquerda marxista, por abordar, sob viés político, a opressão vivida por moradores da favela.’
Para Moraes, as telenovelas seguem uma ‘estética da exclusão’ ao não retratar as classes sociais mais baixas. ‘A novela é um investimento alto que precisa de retorno financeiro e, por isso, tem sido dirigida ao público consumidor e não aos excluídos. ‘Vidas Opostas’ ousa nesse sentido, e acredito que não haverá rejeição do mercado porque ela traz todos os elementos clássicos do folhetim.’
‘Vidas Opostas’ tem ex-globais como Lucinha Lins, Cecil Thiré, Raul Gazolla e outros. Substitui ‘Cidadão Brasileiro’, de Lauro César Muniz, que termina amanhã após manter a audiência em torno dos 12 pontos, bom resultado para a Record.’
Bia Abramo
‘Antônia’ canta a amizade feminina
‘‘ANTÔNIA’ INAUGURA uma nova modalidade: a minissérie de TV que se antecipa à exibição do longa nos cinemas. É exatamente o contrário de ‘Cidade dos Homens’, série que continuou a história de dois personagens de ‘Cidade de Deus’.
O negócio parece ousado, mas talvez não seja propriamente arriscado: quando o filme de Tata Amaral entrar nos cinemas, personagens, ambientação e músicas já estarão circulando e certamente arrebanhando fãs -sobretudo entre as garotas. É que, para além de estratégia, ‘Antônia’, a minissérie, traz para a TV imagens, sons e temas que não são contemplados pela estreiteza dos critérios televisivos.
O filme conta a história da ascensão e queda de Antônia, um grupo de hip hop formado por quatro amigas da Brasilândia. A minissérie passa-se dois anos depois quando Preta (Negra Li), Bárbara (Leilah Moreno), Maia (Quelynah) e Lena (Cyndi Mendes) retomam a banda.
OK, de imediato, trata-se de uma série em que as protagonistas são mulheres e negras; os personagens secundários são homens e mulheres e crianças igualmente negros; o sotaque é o da periferia de São Paulo pontuado pelo paulistaníssimo vocativo ‘meu’; e o ‘skyline’ da grande cidade é uma visão distante.
Nada disso é usual na televisão, embora aqui não se possa deixar de registrar o pioneiro ‘A Turma do Gueto’. Dar visibilidade ao invisível é (quase sempre) um mérito, mas o risco do recorte sócio-antropológico é imenso. Só que ‘Antônia’, num diapasão não-denuncista, tem mais.
O que sustenta o interesse é a linda e sutil tessitura da amizade entre essas quatro mulheres, às voltas com a tripla condição ‘subordinada’ de gênero, raça e classe social. Procurando sua identidade, autonomia e um jeito de sobreviver com dignidade numa cidade hostil a elas em todos os aspectos.
A via é a música, o hip hop feminino mais melódico, em que as vozes (e letras) são tão assertivas quanto as masculinas, mas o canto procura uma expressão mais suave e sensual.
As atrizes da série, todas cruas de TV, são de fato cantoras -e que cantoras!-, e encontram uma fluência rara diante da câmera. Destaca-se também o trabalho de resgate da música negra brasileira: Maia, cantora em um bar de samba-rock, interpreta clássicos do brega simpático; a mãe de Preta, interpretada por Sandra de Sá, cantarola sambas de Candeia etc.
Otimista, mas sem ilusões, ‘Antônia’ brilha e tem tudo, como dizem as garotas, para bombar.’
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