Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha de S. Paulo


MÍDIA vs. LULA
Folha de S. Paulo


Equipe da Folha é agredida por segurança


‘A reportagem da Folha foi agredida por um segurança da Presidência da República que acompanhava a primeira-dama, Marisa Letícia, em evento que arrecadava brinquedos, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília.


O repórter-fotográfico da Folha Lula Marques foi barrado pelo segurança, que o agrediu com socos e agarrões e quebrou seu flash. O repórter da Folha Eduardo Scolese tentou separá-los, mas foi empurrado e teve seu gravador lançado ao chão.


Procurada, a Secretaria de Imprensa da Presidência da República informou que a Chefia da Segurança vai apurar o ocorrido para só então se pronunciar.’


MERCADO EDITORIAL
Marcelo Sakate


Indústria editorial não tem visão’, afirma Livraria Cultura


‘Prestes a inaugurar no Conjunto Nacional, em São Paulo, a maior loja da livraria que se tornou uma rede, a Cultura, 59, afirma que cresce apesar do mercado editorial brasileiro.


A crítica é do paulistano Pedro Herz, 66, dos quais 37 à frente da Livraria Cultura. ‘A indústria editorial é defasada. Há muito tempo é assim.’


Herz reclama que falta visão à indústria editorial nacional. Diz que ela não trata o livro como negócio, pouco aposta em marketing e depende muito de compras governamentais.


E não se trata de avaliação conjuntural, motivada por episódio recente. Ele se recorda da criação da loja virtual. ‘Quando lançamos o site [em 1995], pedimos aos editores que nos enviassem textos sobre os livros. Mas, no início, demoravam para mandar [as informações], leitores reclamavam. No exterior, a prática já era comum.’


O filho de dona Eva, a fundadora da Cultura numa época em que o serviço consistia apenas no empréstimo de livros, não deixa, porém, de reconhecer os próprios erros, explicitados quando busca explicar por que a livraria tem crescido.


‘Fomos obrigados a fechar as filiais nos anos 70 e 80. A que abrimos na estação São Bento [do metrô paulistano] tinha 40 m2. Nunca havia no estoque o que o cliente queria’, recorda.


Aprimorar o serviço tornou-se uma obsessão.


A unidade prevista para fevereiro reflete esse pensamento. Substituirá as quatro lojas do Conjunto Nacional -a primeira aberta em 1969- e terá auditório, restaurante do grupo Viena e espaço para exposições, no local onde, por quatro décadas, funcionou o Cine Astor. Serão 4.000 m2, ou cem vezes o tamanho da antiga filial.


As demais cinco unidades da rede, todas em shoppings, foram inauguradas nos últimos seis anos, um ritmo acelerado para uma livraria que teve um único ponto até 2000 -as quatro lojas do Conjunto Nacional são consideradas uma só unidade. Visão, entretanto, não compartilhada pelo livreiro.


‘Não é acelerado. A estrutura é a mesma para todas as lojas e nos permite crescer’, insiste Herz. Segundo ele, condições de negociação de despesas mais favoráveis explicam o início das operações da Cultura em shoppings, em 2000.


Já a opção por lojas maiores é definida pelo livreiro como ‘uma questão de mais espaço físico para os clientes’.


Mas pode ser também uma questão de sobrevivência. ‘As livrarias que não se modernizaram, com um número maior de títulos, a criação de sites ou no atendimento, por exemplo, fecharam. Foi o que ocorreu com muitas pequenas livrarias de bairro’, avalia Eduardo Yasuda, presidente da ANL (Associação Nacional de Livrarias).


O diagnóstico se aplica ao mercado dos últimos anos, mas evidencia também em que bases a Cultura se sustentou.


Marketing emocional


Uma delas é a tecnologia, presente, por exemplo, no cadastro informatizado com dados de mais de 950 mil clientes, que permite ações direcionadas para fidelizar o leitor. É a estratégia definida como ‘marketing emocional’ por Sérgio, 35, o primogênito de Pedro.


Ele e o irmão, Fábio, dois anos mais novo, ajudam o pai a administrar a Cultura desde o início dos anos 90, quando ela já gozava de prestígio entre autores e intelectuais, mas deixava a expansão de lado.


‘Não somos anunciantes. Não acho que se conquista leitores pela mídia’, diz Herz.


Além da falta de apreço a esse marketing, ele se diz cético quanto à eficácia de práticas como descontos agressivos ou parcelamentos sem juros.


‘Acho que há outros fatores para os quais o leitor dá importância além do preço’, diz. É uma alusão ao orgulho da família, o atendimento qualificado, que possa orientar o leitor. É o outro alicerce da expansão.


O processo de admissão inclui de prova de conhecimentos gerais à aprovação do candidato pelos funcionários que já trabalham em uma loja. ‘Como a remuneração é coletiva, ninguém vai querer alguém sem qualificação’, diz Herz.


Os métodos pouco ortodoxos na gestão do capital humano se refletem na sala que o livreiro ocupa no 11º andar de um edifício na avenida Paulista.


Ele tem como companhia pouco mais de uma dezena de jovens de calça jeans e camiseta, que trabalham no núcleo de atendimento ao site, na ante-sala. Não há secretária, só uma telefonista para o andar.


‘Para quê secretária? Eu mesmo marco meus compromissos’, conta Herz enquanto mostra o palmtop que utiliza para organizar sua agenda.


O mesmo raciocínio é aplicado nos negócios. Em vez de contratar uma construtora para a futura unidade no Conjunto Nacional, a família Herz decidiu montar uma equipe própria de engenharia, que terceiriza o serviço. A decisão traz economia e flexibilidade para alterar projetos, diz Sérgio.


Não que a rede esteja em má situação financeira. Neste ano, o faturamento deve chegar a R$ 151 milhões, alta de 26% em relação a 2005. Desde 2001, a expansão média anual tem sido de 29%. Já o mercado editorial, no mesmo período, cresceu a um ritmo médio de 4,5%.


As perspectivas favoráveis -o cronograma prevê uma unidade nova por ano até 2010- levam Pedro Herz a não se preocupar em planejar com exatidão o futuro. Ele diz apenas que o caminho é a profissionalização da gestão.


‘Já decidimos que a geração familiar [à frente da Cultura] acaba aqui. Está nos estatutos. Não quero meus netos envolvidos. Talvez entre um sócio ou podemos abrir o capital.’


Tais mudanças, porém, não ocorrerão tão cedo. ‘As perspectivas são favoráveis nos próximos anos. Não temos por que pensar nisso agora.’’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Atores nordestinos invadem o Acre da Globo


‘A próxima minissérie da Globo, ‘Amazônia – De Galvez a Chico Mendes’, que contará a história do Acre, lançará 16 atores em sua primeira fase _a mais longa, com 40 capítulos, de um total de três etapas.


Dos 16 estreantes em televisão, 11 foram escolhidos fora do eixo Rio-São Paulo. Desses, nove terão destaque. E entre os nove, seis são nordestinos (três pernambucanos, uma paraibana, uma cearense e um baiano).


Os nordestinos simplesmente foram escolhidos por terem fichas no banco de dados da Globo ou por terem sido indicados por profissionais da rede.


José Ramos, por exemplo, é um experiente diretor de teatro em Pernambuco. Foi escolhido por ter ficha na Globo. Já a cearense Suyanne Moreira, que interpretará uma índia, foi indicada pelo ator e diretor Pedro Vasconcelos, que a viu no filme ‘Árido Movie’. História parecida tem a pernambucana Magdele Alves, que será mãe da personagem de Giovanna Antonelli: ela foi ‘descoberta’ através de uma reportagem de jornal sobre um curta em que atuou.


A Globo até que se esforçou para dar mais espaço aos atores do Estado homenageado pela produção. Fez testes com 600 pessoas do Acre. Sete foram selecionadas, mas só uma terá destaque e pode ser chamada de ‘lançamento’: Brendha Hadad, 20. Ela atuará nas três fases de ‘Amazônia’. Será Ritinha, mas interpretará também a mãe e a neta da personagem.


MANOELASA Globo está tentando contratar as quatro protagonistas do seriado ‘Antônia’ para seu banco de atores. Mas as moças não querem saber de contrato (e novelas). Argumentam que são cantoras, não atrizes.


MANDRAKE 1Marcos Palmeira fará breve participação em ‘Paraíso Tropical’, próxima novela das oito da Globo. Será ex-namorado de Paula, a gêmea boa interpretada por Alessandra Negrini.


MANDRAKE 2Palmeira gravará apenas um esbarrão com Paula na rua. A passagem servirá para mostrar ao telespectador que Paula tem trauma de ser filha de uma dona de bordel. Foi por isso que o personagem de Palmeira terminou com ela, anos antes, influenciado pela família.


BILHETE 1Diretor-geral da TV Globo, Octávio Florisbal mandou mensagem na semana passada a Jayme Monjardim e Manoel Carlos, respectivamente diretor e autor de ‘Páginas da Vida’, que ele chama carinhosamente de Jayminho e Maneco.


BILHETE 2Na correspondência, Florisbal parabeniza a dupla pela ‘repercussão e sucesso’ que a novela tem alcançado. A mensagem foi fixada com destaque no mural do estúdio em que ‘Páginas da Vida’ é gravada.


RESERVAFernanda Nobre e Claudio Heinrich já estão escalados para a novela da Record que substituirá ‘Vidas Opostas’, há duas semanas no ar. A trama será escrita por Tiago Santiago, autor de ‘Prova de Amor’.’


Laura Mattos


Pingüim questiona a TV politicamente correta


‘Mano, astro do fenômeno de bilheteria ‘Happy Feet’, não dá para negar, é ‘o’ pingüim-celebridade do momento. Mas seus charmosos olhos azuis não são páreo para outro exemplar da espécie, muito mais fofo, que habita a TV e os DVDs: Pingu.


Vista por mais de um bilhão de espectadores nos 155 países onde é veiculada, a série de animação originária da Suíça é exibida no Brasil pela TV Cultura.


Empolgada com a audiência de ‘Pingu’ (já chegou mais de uma vez ao segundo lugar no Ibope), a rede lançou dois DVDs da série, que entraram para a lista dos mais vendidos do país dentre os infantis. No site Orkut, há comunidades ‘Eu amo o Pingu’, uma delas com mais de 8.000 integrantes.


Pingu se insere numa lista de pingüins astros (veja página ao lado). Graciosa, a ave é veterana em Hollywood e atraiu holofotes neste ano com o documentário ‘Marcha dos Pinguins’, vencedor do Oscar, e a animação ‘Happy Feet’, que estreou há duas semanas e bateu a bilheteria do novo filme de James Bond, ‘Cassino Royale’.


Pingu, contudo, apesar de pingüim, representa provavelmente a criança mais normal da programação infantil atual. Esse é, aliás, seu grande trunfo e traz à tona uma reflexão para pais e educadores sobre o papel da TV na formação das crianças. Pingu não é como meninos e meninas estereotipados que obedecem os adultos, adoram estudar, comer legumes e dividem brinquedos com amigos (a turminha do famoso dinossauro roxo Barney é um exemplo).


O pingüim se comporta como qualquer ser humano de quatro, cinco anos. Às vezes faz birra, não gosta de verduras, sente ciúme da irmã menor e deixa a casa de pernas para o ar.


Numa de suas maiores travessuras, puxa a toalha da mesa de jantar derrubando tudo no chão e leva da mãe uns tapinhas no bumbum. A cena, verossímil para famílias da espécie humana, é impensável para muitos dos programas infantis modernos, dominados por uma linguagem politicamente correta.


Pingu, é bom que se diga, não é politicamente incorreto ou um pestinha -o que seria um estereótipo para o outro extremo. É amoroso, inteligente, brincalhão e solidário. Suas traquinadas são sempre contornáveis. Ora são repreendidas por seus pais, ora aceitas como parte de uma infância saudável.


Pequenos adultos


‘Para uma criança, ter contato com um personagem que retrata a sua realidade é muito positivo, mais até do que ver um universo do qual percebe não fazer parte. É importante se identificar e não se sentir a pior criança do mundo quando faz algo errado’, defende Verônica Cavalcante, presidente do Departamento Científico de Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Pediatria.


Em sua avaliação, uma série como ‘Pingu’ pode levar os adultos a repensar as relações familiares. ‘É interessante que se perceba que crianças não são pequenos adultos, como muitos personagens infantis estereotipados. Fazer birra, por exemplo, é parte de seu universo, da falta de compreensão do mundo adulto’, diz Cavalcante.


A série ‘é única por mostrar uma tolerância rara com a infância’, na opinião de Beatriz Rosenberg, coordenadora do núcleo infantil da Cultura. ‘Não é moralizante e se diferencia desse universo muito ‘limpinho’ dos programas para crianças. Pingu, ao mesmo tempo em que é malandrinho e apronta, é afetivo e ajuda os outros. Tem uma complexidade que não vemos em outros personagens infantis’, diz.


O próprio Júlio, astro do fenômeno ‘Cocoricó’, da Cultura, tem o seu papel por servir como modelo para o público, mas está longe de ser uma criança real. Segundo Rosenberg, o personagem deve ganhar densidade nos novos episódios. ‘Ele sentirá inveja da amiga Oriba e não entenderá bem esse sentimento. Acabará entendendo e, no fim, a inveja passa.’


Suíça e pelúcia


Pingu vive com o pai (carteiro), a mãe e a irmã menor, Pingá, em um iglu ‘classe média’: dois quartos, banheiro, um ambiente sala/cozinha com sofá, mesa, fogão e telefone. Eles falam ‘pinguish’ ou ‘pinguinês’, língua cheia de sons estranhos. A compreensão independe das falas, e a série torna-se mais universal. ‘Pingu’ foi criada em 1986 para uma TV suíça. Usa a técnica ‘stop motion’, desenvolvida a partir de bonecos de massinha e outros materiais. Apesar de estar a milhas da sofisticação de ‘Happy Feet’, é muito bem produzida e tem roteiros criativos. Foi chamada de ‘genial’ por Álvaro de Moya, veterano da TV e um dos maiores especialistas do país em quadrinhos.


Em 2004, a produtora e distribuidora internacional Hit Entertainment, sediada nos EUA e na Inglaterra, comprou os 105 episódios originais da série, que completou 20 anos em 2006, e produziu outros 52 (a nova safra é veiculada desde o início do ano pela Cultura, que também levou ao ar uma versão mais antiga, na década de 90).


Proprietária da bem-sucedida produção infantil ‘Barney’, entre outras, a Hit passou a centrar seus investimentos em ‘Pingu’ após a decadência do famoso e educativo dinossauro. Em entrevista à Folha, Natalie Petrou, relações públicas da Hit, informou que novas temporadas com o pingüim serão lançadas, agora em um novo formato, com episódios de 30 minutos de duração (os primeiros têm apenas cinco). Os inéditos passam a ter um narrador -e aí mora o perigo de se distanciar da idéia original, em que as ações são suficientemente claras para a compreensão dos telespectadores.


Ao todo, foram vendidos 320 mil DVDs. No Brasil, a venda ultrapassa 20 mil em menos de quatro meses, significativa para um produto segmentado e com divulgação nula. Dentre os infantis, está em terceiro lugar na livraria Cultura e quinto na Fnac.


Outros dois DVDs serão lançados no país, um no próximo mês e outro em março. A Cultura Marcas negocia ainda o licenciamento de produtos, como iglus de brinquedo e Pingu de pelúcia. ‘Happy Feet’ que se cuide.’


***


Brasil produz quatro séries de animação com o Canadá


‘A TV Cultura anunciou na última semana o programa ‘Anima Brasil’, que inicialmente apoiará a produção de quatro séries de animação infantis. Cada uma será tocada por uma produtora brasileira e uma do Canadá, o segundo maior produtor de animação do mundo e um dos líderes em co-produção de cinema e televisão.


Uma das séries, ‘Anabel’, já tem uma versão simplificada sendo veiculada pela TV Rá-Tim-Bum, o canal infantil pago da Fundação Padre Anchieta (que administra a Cultura). Gira em torno de uma garota de sete anos que adora comer e ler livros de Edgar Allan Poe.


Outra será ‘Riff e Raf’, dois adolescentes que adoram videogame, TV e besteiras, mas precisam se tornar heróis. A série ‘Magnikita’ fala do planeta homônimo onde mora a sonhadora garota Meg, de nove anos, que tem de enfrentar suas dificuldades de relacionamento.


Por último, há ‘Mitos do Mondo’, que busca explicar de forma lúdica como o mundo funciona e aborda a diversidade cultural de diferentes regiões.


Cada uma das séries, segundo os produtores, terá um custo de cerca de US$ 5 milhões. No Brasil, R$ 2,4 milhões (só 5% do que será gasto com as quatro) poderão ser captados por meio da Lei Rouanet. As produtoras tentarão buscar recursos por meio de leis de incentivo do Canadá, além de patrocínio privado e canais interessados na veiculação. A previsão é que a exibição na Cultura se inicie em 2008.’


Luiz Fernando Vianna


Coleção revive trilhas de antigas novelas da Globo


‘Cinco anos depois de devolver às ruas o som de produções históricas como ‘Saramandaia’ e ‘Dancin’ Days’, a Som Livre lança mais 26 CDs que recuperam trilhas da TV Globo. Para os mais novos, é uma chance de saber que diabos eram ‘O Bofe’ e ‘O Rebu’.


Ou de descobrir que nem sempre músicas de vários compositores foram o pano de fundo das novelas. ‘Infelizmente não existem mais trilhas encomendadas.


Escolher algumas dessas foi um dos critérios da seleção’, diz Charles Gavin, baterista dos Titãs e emérito pesquisador dos acervos de gravadoras, já tendo relançado cerca de 400 títulos desde 1999.


É no nicho das trilhas encomendadas que entram ‘O Bofe’ (1972/73) e ‘O Rebu’ (74/75). A primeira, história de Bráulio Pedroso com o experimentalismo que se permitia às 22h, ganhou 12 faixas de Roberto e Erasmo Carlos.


Eles não cantam nem há obras-primas, mas o fato é único. Também de Pedroso e muito mais experimental, ‘O Rebu’ tinha uma trilha só de Raul Seixas e Paulo Coelho. O LP chegava a ser negociado em sebos a R$ 150.


Com Nelson Motta e André Midani entre seus pais, o modelo da encomenda teve Marcos Valle como o compositor-protótipo. Depois de criar temas para três novelas, ele e o irmão Paulo Sérgio fizeram toda a trilha de ‘Selva de Pedra’ (72) -relançada em 2001- e depois a de ‘Os Ossos do Barão’ (73), que agora vira CD.


‘Sempre gostei de passar por vários ritmos, e numa novela é preciso ter essa variedade. Eu ficava muito feliz com os resultados e gostaria de fazer de novo’, afirma Valle.


Formato engessado


O modelo foi adotado com qualidade em outras novelas, como ‘O Bem-Amado’ (73, de Toquinho e Vinicius de Moraes, já relançada) e ‘O Semideus’ (73/74, de Baden Powell e Paulo César Pinheiro, agora em CD). E com qualidade irregular em ‘O Primeiro Amor’ (72) e ‘Supermanoela’ (74), ambas de Antônio Carlos e Jocafi, e ‘Cavalo de Aço’ (73), de Guto Graça Mello e Nelson Motta.


‘Acho um trabalho absurdamente ruim. Não tinha a menor noção de como se fazia’, afirma Graça Mello, que depois se tornou um especialista no ramo, produzindo as trilhas da Globo por 18 anos.


Foi ele quem, chamado a três dias da estréia para fazer as músicas de ‘Pecado Capital’ no lugar de uma trama que a emissora vetara, ajudou a criar em 75 o formato atual: várias músicas de várias gravadoras. ‘Esse formato engessou.


Acho que seria um excelente momento para convidar dois ou três compositores para fazer uma trilha’, opina ele, que se orgulha de trabalhos como os infantis que estão na nova coleção: ‘Pirlimpimpim’ (82), ‘Plunc Plact Zum’ (83) e ‘A Era dos Halley’ (85).


Alguns valem por marcar uma época e pela qualidade: ‘Locomotivas’ (77), ‘O Astro’ (77/78) e ‘Malu Mulher’ (79/ 80). E há os bons e raros: ‘Norminha’, que já foi vendido por R$ 250 em sebos, é um hilário disco em que Jô Soares canta como a sua personagem do programa ‘Faça Humor, Não Faça a Guerra’ (70/72); os três volumes de ‘Novela das Seis’ reúnem compactos, pois na década de 70 não havia LPs para esse horário.


COLEÇÃO SOM LIVRE MASTERS Quanto: R$ 25 cada, em média’


Lucas Neves


Musical é arma em guerra da TV


‘A TV Globo foi buscar em uma escola secundária de Albuquerque, no árido estado norte-americano do Novo México, a resposta à ducha de água fria que levou da Record (que exibia ‘Titanic’) no último domingo.


Mostrado das 15h25 às 18h30, o filme cravou média de 15 pontos no Ibope, contra 22 da Globo. Mas, em seus 18 minutos finais, a fita campeã de bilheteria deixou o ‘Domingão do Faustão’ para trás.


A emissora carioca nega a intenção de revide, mas não será por acaso que incluiu na programação do início da tarde de hoje ‘High School Musical’, telefilme da Disney que é fenômeno de audiência nos Estados Unidos (37 milhões de espectadores) e na TV paga brasileira (500 mil, número alto para o segmento). Os protagonistas são arquétipos da fauna escolar ianque: o líder do time de basquete (Troy) e a novata nerd (Gabriella).


Eles se conhecem em uma festa de Réveillon, cantam juntos uma balada romântica num videokê e se reencontram quando, na volta do recesso, (surpresa!) a garota entra para a sala de Troy. Bastará que a professora de teatro abra os testes de elenco de um novo musical para que eles reeditem o dueto (e, óbvio, coloram de vez sua amizade).


Antes disso, enfrentarão a oposição de suas respectivas ‘tribos’: a equipe de basquete teme que, às vésperas da decisão da liga intercolegial, os trinados distraiam o capitão, e o clube de ciências não quer ceder a garota para frivolidades dramatúrgicas. Nos interstícios, tome refrão ‘chiclete de ouvido’ e coreografia grupal…


Estratégia


A Central Globo de Comunicação nega que a escalação do filme para a tarde de hoje esteja relacionada ao ‘susto’ dado pela concorrente na semana passada. Segundo a CGCom, ‘a escolha de exibição de filmes […] faz parte de uma estratégia de programação […] de longo prazo’. E completa: ‘Toda estratégia de programação deve ter agilidade em sua essência’.


Ágil está sendo a Disney, que prepara uma versão brasileira do filme e, para isso, negocia a exibição de um concurso ‘caça-talentos’ no ‘Caldeirão do Huck’. Segundo a Globo, a exibição do filme hoje seria um ‘abre-alas’ para a seletiva.


A gigante do entretenimento certamente espera repetir aqui o frenesi causado nos EUA, onde o elenco acaba de dar a partida em uma turnê orçada em US$ 8,5 milhões (R$ 18,5 mi) que passará por 40 cidades nos próximos dois meses. O show itinerante visa ‘alimentar’ a fixação dos fãs até o lançamento de ‘High School Musical 2’, previsto para o meio de 2007.


Na rede virtual de relacionamentos Orkut, onde os brasileiros são maioria, a gurizada já está ganha: há mais de mil comunidades dedicadas ao filme.


A maior delas, criada por um internauta paulistano, tem cerca de 41 mil membros. Boa parte deles deverá incluir na lista de presentes de Natal o DVD do programa, cuja versão em português chega às lojas na próxima quarta-feira, dia 6.


Já a nova tiragem do CD com a trilha sonora mira os irmãos mais velhos da legião de aficionados: uma das canções ganha releitura da banda Ludov. Esperteza pouca é bobagem…


HIGH SCHOOL MUSICAL


Quando: hoje, às 12h55


Onde: TV Globo’


Bia Abramo


Ritmo policial faz novela masculina


‘NOVELEIROS CONTUMAZES não têm do que reclamar: entre SBT, Globo, Record e Bandeirantes, há dez novelas no ar no horário nobre. Mesmo descontando as duas enlatadas do SBT, esse verdadeiro ‘boom’ da produção de ficção seriada dá o que pensar em termos da permanência e renovação do formato.


Por exemplo, tanto a Record quanto a Bandeirantes apostaram, acertadamente, no horário das 22h.


Embora os resultados de audiência não sejam homogêneos -’Paixões Proibidas’, da Bandeirantes, ainda não emplacou; enquanto ‘Vidas Opostas’, da Record, registrou números bastantes expressivos tanto para a emissora quanto para o horário nestas duas primeiras semanas de exibição-, há uma espécie de volta de temáticas mais duras e mais adultas nas duas experiências.


Enquanto a Globo patina com mais uma novela santarrona de Manoel Carlos, com a devida violência disfarçada (aparentemente, agora é a vez de Regiane Alves, a noiva chata do jovem executivo, entrar na linha à base de sopapos), ‘Vidas Opostas’ leva um universo mais masculino, com policiais corruptos, executivos golpistas e bandidos de verdade.


Tudo isso emoldurado por uma história de amor na linha Romeu e Julieta e da clássica exploração dos mundos dos ricos e dos pobres no cenário extrapropício do Rio de Janeiro. A desigualdade social, de tão naturalizada entre nós, já se tornou um pano de fundo quase clichê.


Claro que há os equívocos de sempre -o Romeu rico é um matemático (?!?!) de sucesso; a noiva arrogante e o ex-namorado traficante são caricatos, alguns atores estão bem aquém de seus papéis etc.- mas, pelo menos até agora, a simples visão um tantinho mais amarga do contraste entre a favela e o asfalto tem conferido um certo interesse à novela. Se continuar a acertar no ritmo policial e na ambigüidade de certos personagens, sobretudo dos policiais interpretados por Marcelo Serrado e Márcio Garcia, e não se deixar levar pelas obviedades do amor do menino rico com a menina pobre, ‘Vidas Opostas’ pode representar uma inflexão na maneira de fazer novela.


É, de longe, a tentativa mais vigorosa da emissora no gênero -em ‘Cidadão Brasileiro’, a vasta experiência como roteirista de Lauro César Muniz não deu lá muita conta de uma produção meio capenguinha e uma direção insegura- e também a mais ousada. Resta saber se a Record tem cacife para bancar o que aprender com isso.’


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