CRISE POLÍTICA
O problema do Serra é ser prefeito de São Paulo
‘Se eu tivesse de fazer uma lista com o nome dos 20 brasileiros mais habilitados, independentemente da viabilidade eleitoral, a assumir a Presidência da República, não teria dúvida de incluir José Serra -aliás, dificilmente alguém com um mínimo de isenção e conhecimento sobre nossos políticos o deixaria de fora dessa hipotética lista.
Os motivos são óbvios. Serra tem sólida formação acadêmica e estuda sistematicamente os problemas do país. Integra um partido de expressão nacional, com forte articulação no Congresso, base no empresariado e prestígio nas classes médias urbanas. Colecionou as mais diversas experiências em administrações federal, estadual e, agora, municipal. Conheceu em detalhes a vida parlamentar, em que atuou como deputado e senador. Obteve avaliação positiva na maioria dos cargos que ocupou, reconhecido, muitas vezes, por seus desafetos. Não se sabe, pelo menos até aqui, de algum fato envolvendo-o em desvio de dinheiro público.
O Datafolha mostrou, na quinta-feira passada, que, além de habilitado técnica e politicamente, Serra é o favorito na disputa presidencial. Mas, como escrevi no título desta coluna, seu maior problema, capaz de inviabilizá-lo, é ser prefeito de São Paulo. Se fosse prefeito de qualquer outra cidade ou governador de qualquer Estado, mesmo em início de mandato, talvez não enfrentasse tamanho dilema.
Serra enfrentou uma acirrada eleição contra Marta Suplicy, que, com todos os seus erros e afetações, tinha uma obra para mostrar: implementou uma série de programas sociais importantes. Em nenhum outro lugar implantou-se uma rede tão extensa de programas de renda mínima, articulando recursos federais, estaduais e municipais. Ninguém pode dizer, seriamente, que a cidade não tenha ficado melhor depois da administração petista. Os CEUs podem ser educacionalmente questionáveis, mas são socialmente corretos, por criar pólos de excelência de convivência comunitária. Para vencer, Serra comprometeu-se a melhorar uma administração bem-avaliada.
Nesse contexto, fazia sentido ele prometer que a prefeitura não seria um trampolim para a Presidência. O paulistano, afinal, vive angustiado com suas doses diárias de caos e, pragmáticos, viram em Serra uma solução -e, por enquanto, como revela pesquisa Datafolha sobre seu desempenho administrativo, o eleitor está satisfeito. Nunca um prefeito foi tão bem-avaliado em apenas um ano de mandato.
São Paulo é uma espécie de Cidade-Estado, sede dos dois maiores partidos -PSDB e PT- dos quais, pelo menos segundo as pesquisas, deve sair o próximo presidente. Lula mora em São Bernardo, mas sua base política é paulistana.
É uma comunidade degradada, mas cada vez mais articulada, educada e exigente. É o núcleo do capital humano brasileiro e porta do país para o mundo. Não vai aqui nenhum bairrismo porque, na verdade, sua força é ser a síntese dos brasileiros; o melhor daqui é a sua diversidade.
Quem não vê São Paulo só pela repetição de chavões do caos (mais do que reais) nota uma efervescência econômica, educacional e cultural. Essa efervescência explica a queda da violência em bairros periféricos em proporções jamais vistas no país. Explica também a propagação de cursinhos pré-vestibulares gratuitos, a disseminação de centros de pesquisas em hospitais privados ou a remodelação de escolas públicas através das mais diversas parceiras comunitárias. Vivemos um início de processo de renasci- mento.
Para dar as costas a essa comunidade, que lhe depositou confiança e, ainda, até por uma questão de falta de tempo, não teve a devida retribuição, Serra necessitaria de um excelente argumento para que esquecessem do papel que assinou (entregue, aliás, para mim em debate feito pela Folha), comprometendo-se a ficar até o último dia de seu mandato.
Ele teria de mostrar que o Brasil está um caos e ele seria seu salvador. Mas o país não é está um caos. Se não ocorrer um acidente, haverá, no próximo ano, mais empregos, mais investimento social, avanço na distribuição da renda e redução da miséria, tudo isso com estabilidade econômica.
Precisaria também mostrar aos eleitores que, sem ele, Lula é imbatível. Não é o que sugere o Datafolha: Geraldo Alckmin já está empatado com Lula no segundo turno e existem evidências de que o governador dispõe de espaço para crescer se fizer alianças no Nordeste.
Se o prefeito disputar sem levar em conta essas duas condições, sobraria apenas a constatação de que a cidade ficou em segundo lugar e foi desdenhada; e que o tal documento apenas iludiu a opinião pública. Aí saberemos até que ponto o descumprimento da palavra vai ter impacto numa eleição em que, inevitavelmente, a ética será a principal discussão.
P.S. – Mais um complicador. Há uma forte possibilidade, como mostrou o Datafolha, de Marta Suplicy ser candidata, com boas chances, ao governo de São Paulo. Se isso ocorrer, o que estará em julgamento será a administração dela na cidade -e, por conseguinte, a de Serra. Que acontecerá se ele estiver fora da prefeitura, tendo pouca coisa a oferecer de concreto sobre sua gestão?’
GRAMPO NOS EUA
Bush admite grampo e diz que não recua
‘O presidente George W. Bush admitiu ontem ter autorizado a Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês) a espionar, grampear telefones, monitorar correspondências e e-mails e vigiar moradores dos EUA e turistas sem autorização da Justiça, com o objetivo de identificar conexões terroristas no país nos meses que se seguiram aos atentados de 11 de setembro de 2001.
Bush também declarou que não tem a intenção de suspender o programa de espionagem. ‘É um programa crucial para nossa segurança nacional’, afirmou em um pronunciamento por rádio. ‘Pretendo prosseguir com ele enquanto nossa nação continuar sendo ameaçada pela Al Qaeda e por grupos ligados a ela’, disse.
‘Essa autorização é um instrumento vital em nossa luta contra os terroristas. O povo americano espera que eu faça tudo o que está a meu alcance, sob nossas leis e nossa Constituição, para proteger a eles e a suas liberdades civis, e é exatamente o que continuarei a fazer enquanto for presidente dos EUA.’ Reiterando que o programa estava ‘de acordo com as leis e a Constituição americanas’, Bush disse também que líderes do Congresso, sem citar nomes, foram monitorados várias vezes.
Membros do Congresso ficaram irritados e pediram explicações ao Executivo sobre o programa de espionagem, revelado anteontem pelo ‘New York Times’. Segundo o jornal, centenas, talvez milhares, de pessoas tiveram seus passos observados sem saber.
Para o senador democrata Russell Feingold (de oposição), as explicações do presidente foram ‘surpreendentes de tão extremas’ e afirmou ser absurdo Bush amparar-se em seu cargo de presidente para autorizar os grampos. ‘Ele é o o presidente Bush, não o rei George Bush’, afirmou.
Em Londres, o secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, disse que a prática de levar terroristas de um país a outro não é nova, e os europeus não devem ficar surpresos com isso. ‘Eles não podem ficar chocados quando esse tipo de coisa acontecer.’
A CIA é acusada de manter prisioneiros ilegais em território europeu e ter usado aeroportos no continente para o transporte de pessoas detidas ilegalmente. Com agências internacionais’
ECOS DA GUERRA
Ex-assessor de Powell revela poder de Dick Cheney
‘O vice-presidente dos EUA, Dick Cheney, esteve por trás das mais importantes decisões que levaram o país a invadir o Iraque e militares e agentes dos serviços de inteligência americanos, sobretudo a CIA, a torturar prisioneiros em busca de informações sobre grupos ou planos terroristas.
A afirmação é do coronel da reserva americano Lawrence Wilkerson, que foi chefe-de-gabinete do ex-secretário de Estado americano Colin Powell até janeiro e diretor da Faculdade de Guerra do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA. Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.
Folha – Que tipos de instrução Cheney deu, oficial ou extra-oficialmente, aos responsáveis pelos interrogatórios de presos?
Lawrence Wilkerson – Quem conhece nossa história e a Constituição sabe que muitas coisas podem ser feitas pelo Executivo sem que investigadores consigam encontrar rastro das ordens dadas. Há ambigüidades e muito segredo. Assim, não existem provas irrefutáveis. Uma das razões mais importantes disso tem relação com o fato de que nossos pais fundadores perceberam que, quando tanto poder é dado a alguém, é preciso que haja margem de manobra.
Isso dito, ficou claro para mim que Cheney teve implicação em duas questões: nos maus-tratos infligidos aos detentos e no planejamento da reconstrução do Iraque após o conflito militar. Havia nessas duas áreas muito segredo e muitas coisas obscuras. Não tenho certeza de que o presidente tivesse conhecimento dessa situação, que produziu algumas decisões desastrosas cujas conseqüências observamos hoje.
No centro dessas decisões estava Cheney. Este, a propósito, é o vice-presidente mais poderoso da história dos EUA. Sei disso porque sou um acadêmico e estudei a história do país profundamente.
Folha – Cheney deveria ser julgado por crimes de guerra?
Wilkerson – Como disse recentemente à BBC, trata-se de uma pergunta interessante. Afinal há violações às leis internacionais e às americanas. Em 1988, quando era vice-secretário de Estado, John Whitehead foi à ONU e assinou a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Punições Cruéis, Desumanos ou Degradantes. Desde então os EUA passaram a ter de respeitar as determinações daquele texto.
No Congresso ficou, então, definido que as leis nacionais americanas deveriam ser reformadas para contemplar o respeitos aos pontos do tratado. Assim, há uma lei doméstica contra a tortura, além, é claro, da legislação internacional. Nesse contexto, sua questão é intrigante. Não digo que Cheney deva ser julgado por crimes de guerra, mas também não afirmo que ele não deva sê-lo.
Embora sejam a maior potência mundial atualmente, os EUA, por conta disso e de seus valores, não devem ter o direito de escapar às estruturas, às restrições e aos deveres que insistem em que outros países respeitem.
Folha – É, portanto, possível interpretar que as imagens que vimos da prisão de Abu Ghraib, no Iraque, não eram exceções?
Wilkerson – Os culpados por aquelas terríveis imagens são tanto militares que não respeitaram seus valores políticos e culturais nem o senso comum quanto o sistema como um todo. Este é ainda mais responsável pelos maus-tratos impostos a prisioneiros que os que praticaram as violações.
Afinal, o sistema criou duas situações graves. Primeiro, pôs pressão nos militares de baixa patente e nos agentes da CIA para que produzissem informações. Segundo, permitiu o afrouxamento das regras de interrogatório. Fui militar durante 31 anos e sei que, quando alguém coloca esse tipo de pressão em militares de baixa patente, um terrível peso é posto nas costas de líderes pouco experientes ou de comandantes.
As informações são produzidas, mas o modo como isso é feito deixa de ser importante, e as normas estritas que, normalmente, regem os interrogatórios são esquecidas. Quando um militar de alta patente diz a seus subordinados que eles podem fazer algumas coisas que, de hábito, seriam proibidas, fica aberta a caixa de Pandora.
Não podemos afirmar que os casos de maus-tratos sejam raros. Houve mais de 200 casos nos últimos três ou quatro anos que terminaram em processos. Sabendo que apenas 10% ou 20% deles são descobertos, podemos ter uma idéia da dimensão do problema. Já contabilizamos mais de cem casos de pessoas que morreram sob custódia americana, e 27 deles foram considerados homicídios. Não estamos, portanto, falando de tortura leve. A idéia de que somente um pequeno grupo é responsável por isso é absurda.
Folha – De onde vinha a pressão?
Wilkerson – Ela vinha do secretário da Defesa [Donald Rumsfeld] e do vice-presidente dos EUA.
Folha – O Departamento de Estado também sofreu essa pressão?
Wilkerson – Não. No processo legal de tomada de decisões, as pessoas tinham o direito de divergir, e ambos os lados davam suas opiniões. De um dos lados, havia o [então] secretário de Estado [Powell], às vezes a [então] conselheira para Segurança Nacional [Condoleezza Rice, hoje secretária de Estado], o advogado do secretário de Estado e o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas.
Do outro lado, ficavam o vice-presidente Cheney, o secretário Rumsfeld e vários de seus gurus intelectuais, como David Addington e Alberto Gonzales, que era conselheiro da Casa Branca e hoje é ministro da Justiça. E as decisões tomadas pelo presidente eram uma solução de compromisso entre as visões de ambos os lados.
A solução levava em conta que os membros da Al Qaeda e do Taleban constituem um novo tipo de combatente e que, em alguns casos, talvez as Convenções de Genebra não devessem ser aplicadas. Porém o presidente esclarecia que, respeitando os valores americanos, os detidos deveriam ser tratados de modo humano.
Ademais, as pessoas detidas no Iraque, onde fica Abu Ghraib, eram prisioneiros de guerra no sentido clássico e, portanto, deveriam ter direito às prerrogativas das Convenções de Genebra. Elas não eram da Al Qaeda nem do Taleban. Ou seja, nem tinham sido contempladas na solução de compromisso de [George W.] Bush.
Este tomou uma decisão bastante razoável, mas o modo como suas ordens foram executadas pelo Departamento da Defesa foi bem diferente do espírito da decisão inicial. O Pentágono simplesmente desrespeitou as ordens do presidente a esse respeito.
Folha – O Pentágono preparou a apresentação de Powell na ONU antes da invasão, na qual ele mostrou supostas instalações em que o ex-ditador Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa?
Wilkerson – Devo dizer que preparei a apresentação do então secretário de Estado na ONU, ocorrida em 5 de fevereiro de 2003. Trata-se de um dos pontos baixos de minha carreira profissional. Afinal, hoje percebo que fomos completamente enganados.
Folha – Quem os enganou?
Wilkerson – Minhas pesquisas indicam que o caso envolveu um grupo inteiro de pessoas, incluindo a comunidade dos serviços de inteligência, o Pentágono e o gabinete do vice-presidente. Isso mostra Ahmad Chalabi [político iraquiano à época exilado] e seu Congresso Nacional Iraquiano, que eram muito ouvidos pelas autoridades dos EUA, queriam enganar os americanos ou foram inicialmente enganados e nos passaram informações erradas.
Não creio que as pessoas que declararam abertamente que Saddam dispunha de armas de destruição em massa, incluindo o secretário Rumsfeld, o vice-presidente e até a então conselheira para Segurança Nacional, estivessem manipulando informações provenientes dos serviços de inteligência. Penso que eles realmente acreditassem em suas palavras.
No caso do Departamento da Defesa, porém, creio que Douglas Feith, subsecretário para Políticas de Defesa [até agosto passado], manipulasse informações. O problema é que parte considerável das distorções e das manipulações daquele gabinete chegou de alguma forma ao vice-presidente, a Rice e ao presidente. Contudo não acredito que eles estivessem por trás dessas ações, embora devessem ter checado bem as informações de que dispunham.
Minha preocupação é com os serviços de inteligência porque participei da maior parte das reuniões às quais Powell esteva presente e ouvi as informações que lhe passaram os líderes desses serviços e de agências de outros países, como o Reino Unido, a Alemanha e a França. Todos disseram que Saddam ainda tinha armas de destruição em massa.
Só havia diferenças sobre quantas armas químicas ele tinha e de que tipo elas eram ou sobre a quantidade de suas armas biológicas, no entanto todos acreditavam que ele as tivesse. Ora, como os serviços de inteligência das grandes potências mundiais podem se enganar dessa maneira?
Folha – Havia uma predisposição a fazer a guerra contra Saddam?
Wilkerson – Sem a menor dúvida, e não penso nos serviços de inteligência, mas na cúpula do governo. Certamente, Cheney estava muito inclinado a atacar Saddam, provavelmente o presidente e outros também o estivessem.
Folha – Como, então, o pós-guerra foi tão mal planejado?
Wilkerson – Muitos de nós acreditávamos que a situação não fosse ser tão simples quanto alguns influentes formuladores de políticas de Washington pensavam. O general Powell era chefe do Estado-Maior das Forças Armadas em 1991, quando travamos a Guerra do Golfo contra Saddam e o presidente George Bush [pai do atual presidente] decidiu não invadir Bagdá para depor Saddam.
Estudamos tudo isso minuciosamente e sabíamos que corríamos o sério risco de nos encontrar na situação em que estamos agora. Não posso, contudo, dizer por que o vice-presidente e o presidente não deram atenção aos relatórios que diziam isso. Só posso afirmar que o que vi sobre o planejamento do pós-guerra, que foi concebido sob a égide do vice-presidente e de Rumsfeld, era tão inepto e tão incompetente que se tornou uma das razões pelas quais decidi falar a esse respeito.
Folha – Hoje o sr. diria que a guerra foi um erro?
Wilkerson – Não, mas o planejamento do pós-guerra foi tão errado e tão ruim que estamos sofrendo muito agora por conta disso. Só recentemente a cúpula do governo deixou de lado suas soluções improvisadas e passou a tomar iniciativas estratégicas e táticas que poderão levar alguma estabilidade, alguma segurança e, eventualmente, alguma prosperidade ao Iraque. Temo, todavia, que tenhamos desperdiçado dois anos e que nossos erros tenham sido tão graves que talvez seja tarde demais para corrigi-los.’
FUTEBOL & MÍDIA
A CBF e a imprensa
‘Ricardo Teixeira não prima por ser habilidoso. É tão óbvio e previsível que dá dó.
Ele resolveu, como se esperava, punir esta Folha pela contratação deste colunista.
Consta até que a assessoria de imprensa da CBF, aparentemente constrangida, deixou a situação clara, ao avisar que o jornal passaria a ser tratado a pão e água.
E tem sido assim.
Recentemente somente a Folha, entre os três maiores jornais do país, ficou sem a informação sobre os locais de concentração da seleção brasileira antes da Copa do Mundo, na Suíça, em Weggis, e durante, na Alemanha, em Frankfurt.
O diário ‘Lance!’, o maior especializado em futebol na América Latina, também foi excluído, como está excluído até da programação publicitária da Nike, por mais adequado que seja para tanto, não só por sua relevante circulação auditada e pelo público que atinge.
Isso tem um nome, que parecia banido no Brasil: perseguição política, algo típico dos coronéis de repúblicas bananeiras.
É óbvio que os veículos que são críticos sabem que pagam um preço por sua independência.
É óbvio, ainda, que os jornais que foram privilegiados com as informações da CBF não abrirão mão de sua independência editorial em troca de favores.
Não é disso que se trata e não é esse o objetivo principal, por primário que seria.
A intenção é ainda mais infantil. É a de castigar um veículo porque este tem fulano ou sicrano como seu colaborador.
Teixeira tem todo o direito de dar entrevistas para quem quiser e de não dar para quem considere que o trate mal.
Só que não pode esquecer que a CBF não é dele e que há um tipo de informação que não pode ser fornecida a uns e ocultada de outros, sem mais.
Há muito tempo que o técnico da seleção brasileira, por exemplo, não antecipa a convocação dos jogadores para um jornalista mais seu amigo. Convoca-se em entrevistas coletivas.
E não imagine, caro e raro leitor, que há aqui algum queixume. Nada disso.
Trata-se apenas de constatar a pequenez de uma perseguição, até porque este colunista está entre aqueles que sabem que as melhores informações são dadas pela oposição, raramente pela situação.
Aprendiz de ACM, que um dia disse que jornalistas são comprados de duas maneiras, com dinheiro ou com notícia, Teixeira desconhece a existência de um terceiro tipo, o que não se vende nem por uma coisa nem por outra, algo que o desnorteia.
Então, ele pune, ele castiga, severo com a petulância.
E se desmoraliza, mais e mais, diante até dos que eventualmente protege, que hoje estão num veículo, amanhã noutro.
Fosse mais sofisticado, ele não discriminaria assim de maneira tão acintosa e causaria prejuízos muito maiores aos desafetos.
Mas para tanto é necessária uma sutileza que elefantes em lojas de louças, definitivamente, não têm.
Só leia se…
É possível que você já saiba quem é o novo campeão mundial. Daí, a sugestão: só leia a nota abaixo se o São Paulo for o tricampeão. Em caso contrário, leia só a última nota.
Deu Tricolor!
A conquista do São Paulo, que merecerá uma coluna inteira amanhã, deveu-se à estratégia de poupar o time no Brasileirão. Ter focado no Mundial permitiu a concentração que deu no que deu. O São Paulo ganhou tudo o que quis em 2005: Paulista, Libertadores e Mundial.
Não deu!
A derrota brasileira ensina: não se deve abdicar de um torneio como o São Paulo fez no Brasileirão porque o time perde o ritmo de jogo.’
O MUNDO É PLANO
Elio Gaspari
Um livro muito bom: ‘O Mundo é Plano’
‘Um negócio da China: começar 2006 lendo ‘O Mundo é Plano’, do jornalista Thomas Friedman, do ‘New York Times’. É uma cápsula de 460 páginas para um vôo por um caminho novo, inteligente e empreendedor.
‘O Mundo é Plano’ mostra que há uma nova globalização por aí. Ela achatou o planeta e explodiu as noções de distância, tempo e trabalho. Recriou a China e a Índia. Ao contrário da globalização financeira dos anos 90, nessa há lugar para brasileiros. Na primeira, ganhava quem tinha dinheiro. Agora, pode ganhar quem tem educação, quer aprender mais e acredita no seu trabalho.
A contabilidade de um mercado no Texas é processada em Bangalore, na Índia. A enciclopédia aberta Wikipedia recebe mais consultas que a Britannica. Um garoto de Bangu e uma menina de Bancoc vêem, ao mesmo tempo, dez preciosos desenhos de Van Gogh expostos em Nova York. O buscador Google atende a 1 bilhão de consultas por dia. O sistema de voz sobre o IP transformou as tarifas de ligações interurbanas em micos de operadoras anacrônicas, como as brasileiras.
O mundo de Friedman é plano, mas nele a familiaridade com a língua inglesa é uma cordilheira de obstáculos. Como o inglês não será substituído pelo português, pouco há a fazer. Na província de Dalian, na China, há 22 universidades, com 200 mil estudantes. Todos, até mesmo os alunos de letras, passam um ano estudando inglês (ou japonês) e ciência da computação.
Friedman prenuncia um mundo dirigido pelos zippies. Esse personagem está em qualquer cidade do mundo, tem entre 15 e 25 anos e uma fé absoluta na sua capacidade. O hippie dos anos 60 era americano ou europeu. O zippie de hoje é indiano, chinês ou russo. É nessa hora que se abre espaço para Pindorama. Se os jovens brasileiros começarem a brigar para que haja mais computadores em suas casas, suas escolas e seus locais de trabalho, a brincadeira terá começado.
Como Friedman é antes de tudo um repórter, a primeira metade do livro, descritiva, é melhor que a segunda, catequética. Mesmo quando ele diz coisas com as quais não se concorda, é muito melhor lê-lo do que ouvir um companheiro chamando caixa dois de ‘recursos não contabilizados’.
‘O Mundo é plano’ não arruma emprego para os seus leitores, mas ensina como eles acabam, onde reaparecem e como reapareceram.’
JORNALISMO & CIÊNCIA
Pesquisador admite ter recebido propinas de lobista
‘Um pesquisador sênior do Cato Institute, respeitada organização especializada na análise de políticas públicas com base em Washington, pediu demissão após admitir que recebeu propinas para escrever colunas favoráveis aos clientes de Jack Abramoff, um dos mais poderosos lobistas da capital americana.
O acadêmico, Doug Bandow, que também escrevia uma coluna para o Serviço de Notícias Copley, confessou aos executivos da organização que recebeu dinheiro de Abramoff após a divulgação de uma reportagem da ‘BusinessWeek Online’.
‘Ele admitiu ter cometido uma falha de julgamento’, disse Jamie Dettmer, diretora de comunicações da Cato. ‘Estamos muito tristes’. A coluna de Bandow na Copley foi suspensa.
A notícia vem à tona ao fim de um ano de revelações sobre pagamentos partidários a escritores supostamente independentes, incluindo Armstrong Williams, colunista conservador e apresentador de televisão, que recebeu pagamentos do Departamento Federal de Educação no tempo em que promovia as políticas educativas do governo Bush em suas colunas. O governo tem sofrido pressão crescente para que se torne mais transparente em sua política de comunicação desde as denúncias de que pagou pela publicação de artigos em jornais iraquianos como parte de sua campanha de propaganda.
Bandow não recebeu dinheiro do governo, mas a fonte de seus pagamentos -cerca de US$ 2 mil por artigo- é não menos controversa. Seu patrocinador eventual, Jack Abramoff, está no centro de uma ampla investigação penal de corrupção que envolve vários membros do Congresso.
Outro acadêmico, Peter Ferrara, do Institute for Policy Innovation, admitiu na mesma reportagem do ‘BusinessWeek Online’ que também recebeu dinheiro de Abramoff para escrever alguns artigos de opinião. Mas Ferrara não pediu desculpas por isso. ‘Faço isso o tempo todo’, disse.
Jack Abramoff, que construiu um poderoso esquema de lobby principalmente graças a seus clientes indígenas no fim da década de 90, pagou Bandow para promover as causas de clientes, como a das Ilhas Marianas do Norte, no Pacífico, e a da tribo indígena choctaw, de Mississippi.
Em uma coluna de 2001, ele exaltou o sistema de livre mercado que permitiu que as Marianas prosperassem, afirmando que a luta contra o terror não é desculpa para ‘intromissões econômicas’ -a mesma posição que Abramoff era pago para defender.
O governo federal ‘deveria respeitar as políticas independentes das Marianas, que permitiram que as ilhas saíssem da pobreza evidente em outras partes da Micronésia’, escreveu Bandow.
Em um artigo de 1997, Bandow defendeu os empreendimentos em jogos de azar dos choctaws. ‘Certamente não há nenhum indício de que as operações de jogos dos índios prejudiquem a comunidade local’, escreveu.
Abramoff, cujo trabalho já foi objeto de audiências no Senado, é suspeito de iludir as tribos sobre o modo como usou dezenas de milhões de dólares em pagamentos. Ele foi indiciado em outro caso na Flórida, pelo qual será julgado no dia 9 de janeiro sob a acusação de fraudes numa operação de compra de cassinos-flutuantes.
Embora Abramoff não tenha sido indiciado por nenhum caso de lobby, seu dinheiro é considerado tão manchado que na última sexta-feira, pela segunda vez em uma semana, um senador que recebera contribuições de campanha de clientes e sócios do lobista anunciou a devolução do dinheiro.’
INTERNET
Quem tem medo da Wikipédia?
‘Wikipédia -guarde este nome, ou melhor, inclua-o nos favoritos de seu navegador de internet (pt.wikipedia.org em português, en.wikipedia.org em inglês). Ao lado do Google, é um dos fenômenos da web, mas tem uma diferença crucial: vem capitaneado por uma fundação e não tem por objetivo dar lucro. Nas últimas semanas, a primeira enciclopédia livre da internet andou sob um escrutínio intenso, mas saiu dele melhor do que entrou.
Em pauta esteve a confiabilidade da Wikipédia, cujos verbetes podem ser criados e modificados por qualquer pessoa. A idéia é que essa edição contínua do conteúdo pelo público aumente sua precisão. O outro gume está em que tanta abertura é também um prato cheio para aventureiros.
Estão disponíveis na Wikipédia coisa de 3,7 milhões de artigos, em 200 línguas. Desde que foi fundada, em 2001, já acumulou mais de 45 mil usuários registrados, só na versão em inglês. Em outubro, recebeu a média de 1.500 novos artigos. Por dia.
A controvérsia foi disparada por uma coluna furibunda do jornalista americano John Seigenthaler no diário ‘USA Today’ de 29 de novembro. Seigenthaler denunciava a 37ª página mais consultada da internet por manter 132 dias no ar uma biografia sua com informações ofensivas. Entre outras coisas, dizia que ele chegara a ser suspeito de envolvimento nos assassinatos de John e Robert Kennedy.
A página foi enfim retirada do ar, depois de um périplo eletrônico de Seigenthaler na Fundação Wikimedia e noutros sítios que reproduzem conteúdo da Wikipédia. O jornalista chegou a apelar diretamente para um dos criadores da enciclopédia, Jimmy Wales, que preside a fundação baseada na Flórida (EUA). De lá para cá, o vândalo foi identificado: Brian Chase, de Nashville, Tennessee, que pediu desculpas diretamente a Seigenthaler -por carta.
Wales defendeu a Wikipédia dizendo que essa foi uma falha excepcional, que escapou ao exército de escrutinadores de novas entradas. Por via das dúvidas, tornou a enciclopédia um pouco menos livre. A partir de agora, não será mais possível criar ou modificar verbetes de maneira anônima.
No meio da tempestade, a voga ‘wiki’ -da expressão havaiana ‘wiki wiki’, rápido- ganhou um reforço inesperado do mais prestigiado periódico científico do mundo. Nesta semana, a revista ‘Nature’ traz o resultado da aplicação de seu método de controle de qualidade, a revisão por pares (‘peer review’), à Wikipédia. No confronto direto com a ‘Britannica’, mãe de todas as enciclopédias, perdeu por pouco: 4 a 3.
A ‘Nature’ enviou 42 pares de verbetes sobre ciência para dezenas de especialistas. Na média, foram constatadas 4 imprecisões por verbete da Wikipédia e 3 da ‘Britannica’, a maioria pequenas. Dos totais respectivos de 162 e 123 erros encontrados, só 8 foram considerados graves pelos revisores, 4 em cada uma.
A lição a tirar não é só que a Wikipédia não é 100% confiável, mas que nenhuma fonte o é. Ela, ao menos, está aí para ser vigiada e posta na linha por qualquer um. Mãos à obra.
Marcelo Leite é doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, autor dos livros paradidáticos ‘Amazônia, Terra com Futuro’ e ‘Meio Ambiente e Sociedade’ (Editora Ática) e responsável pelo blog Ciência em Dia (cienciaemdia.zip.net). E-mail: cienciaemdia@uol.com.br’
TELEVISÃO
Bia Falcão ‘ressuscita’ no final de ‘Belíssima’
‘Apesar da campanha de fãs na internet, Fernanda Montenegro vai deixar a novela ‘Belíssima’ no capítulo 64, no ar em 19 de janeiro, como previsto inicialmente.
Mas não é certo que Bia Falcão, a festejada vilã que Fernanda interpreta, morre nesse capítulo. Certo mesmo é que Bia desaparecerá, será dada como morta pelos demais personagens da novela, mas voltará no final. Um alto executivo da Globo confidenciou à Folha que Silvio de Abreu, autor de ‘Belíssima’, pediu a ‘reserva’ da atriz para as últimas semanas da novela, que acaba em julho.
Abreu faz suspense. Ele trata o sumiço de Bia (seu corpo nunca será encontrado) como ‘morte’. ‘Ela morre, só ainda não decidi de que maneira. Pela sinopse, será num acidente de carro. Pode ser que eu mude’, despista.
Mas, em seguida, vacila: ‘Realmente não sei se ela [Bia] volta ou não volta [no final]. Terei que ver o andamento da novela’.
A ‘vaga’ de grande vilão deixada por Bia Falcão deverá ser ocupada pelo aparentemente bonzinho André (Marcello Antony). Nos próximos capítulos, ele induzirá Júlia (Glória Pires) a repousar, para cuidar de estresse. Diariamente, levará documentos para a mulher assinar. Até que um dia conversa com ela sobre os riscos que corre ao andar com papéis tão interessantes. Ela lhe dará uma procuração para assinar em seu nome. Será o início de um golpe que deixará a heroína pobre.
OUTRO CANAL
New face A Globo apresenta amanhã o mais novo rosto de seu jornalismo. Ex-TV Vanguarda (São José dos Campos), a recifense Michelle Loreto, 25, assume o quadro do tempo do ‘Globo Rural’, ‘Bom Dia SP’ e ‘Bom Dia Brasil’, no lugar de Flávia Freire, que vai para o ‘Jornal Hoje’, na vaga de Fabrício Bataglini (‘Mais Você’).
Neocapitalista Silvio Santos está mudando o tratamento que dá a seus artistas. Em 2006, deixará claro que não é íntimo de ninguém, que antes de mais nada é empresário que visa lucro. Um diretor artístico será contratado para ser seu interlocutor com o elenco.
Movimento Nesta semana será desencadeada no SBT uma operação para ‘baixar a bola’ de artistas e/ou programas que estão com audiência e/ou faturamentos baixos. A primeira vítima será Hebe Camargo. Em janeiro, seu programa deixa as segundas (quando costumar perder para a Record) e vai para os sábados.
Punido Moacyr Franco já tomou conhecimento do ‘novo’ Silvio Santos. Foi advertido formalmente por ter se referido ao ‘patrão’ como ‘Joaquim’ em evento, há três semanas, fazendo piada de proibição de se falar o nome de Silvio Santos em programas do SBT.
Carência O nada belo José Dumont (o Bóia de ‘América’) teve seu dia de Reynaldo Giannechini, na quinta. Foi agarrado, beijado e até chamado de lindo por mulheres ao lançar biografia em Macapá.’
Sylvia Colombo
Maria perde as cores e ganha a palavra
‘Sem as cores, desvestida do aparato cênico e da ambientação fantástica, ‘Hoje É Dia de Maria’ chega às prateleiras com a pretensão de causar, por meio do texto, o mesmo encantamento atingido pela minissérie -que acaba de levar o grande prêmio da crítica da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) em TV.
Em forma de roteiro, o épico sertanejo escrito por Luiz Fernando Carvalho e Luís Alberto de Abreu a partir da tradição oral e das histórias populares brasileiras expõe agora sua linguagem e estrutura peculiares aos olhos do leitor-telespectador.
Carvalho está hoje escrevendo uma nova série para TV, sobre a literatura contemporânea do Brasil. A atração focará a produção regional e terá textos de Milton Hatoum, João Paulo Cuenca e Luiz Ruffato, entre outros ‘excluídos da mídia por razões diversas’.
Leia trechos da entrevista que Carvalho, 45, concedeu à Folha.
Folha – ‘Hoje É Dia de Maria’ foi considerada inovadora pela utilização de recursos múltiplos e inusitados. Entrar nela pelo roteiro permite desvesti-la de todo esse aparato. O que prevalece no texto?
Luiz Fernando Carvalho – A energia dos contos populares. São eles a coisa, e em última instância, devem permanecer.
Folha – A minissérie promove um diálogo da tradição literária e oral do Brasil com contos de fadas tradicionais, como ‘Cinderela’ ou ‘A Vendedora de Fósforos’. Como foi amarrar essas referências?
Carvalho – Nossa tradição oral é herdeira, em grande parte, da tradição clássica européia, e da popular também, centrada principalmente na península Ibérica. Essas fábulas aqui chegaram na época do descobrimento e se misturaram às lendas indígenas e com o que trouxeram outros navegantes, povos do Mediterrâneo, árabes, judeus. Depois, elas se miscigenaram com a tradição dos negros e até hoje, lá onde o Brasil é mais Brasil, elas seguem sendo recriadas e recontadas, como se fossem pequenos mitos totalmente incorporados à nossa cultura. Daí a força de ‘Hoje É Dia de Maria’.
Folha – Ler um roteiro de cinema não é o mesmo que ler uma obra literária ou teatral. Por que publicar o texto dessa maneira?
Carvalho – O texto foi conservado na forma em que foi filmado. Não acredito que isso trará grandes problemas para a leitura de um leigo. Mas, certamente, pode vir a somar para os jovens estudantes de comunicação, de cinema, de teatro ou televisão. Um material ao mesmo tempo técnico e lúdico. Essa foi a razão principal.
Folha – Como você concebeu Maria?
Carvalho – Minha intenção era a de fazer com que o espectador sentisse o imenso valor dos tempos da infância real. Falo sobre o valor da infância em geral, da de Maria, da nossa, das infâncias que estão se perdendo pelas ruas. Ou seja, toda e qualquer alteração desse ciclo, me parece claro, é mesmo obra do demônio.
Seja na realidade ou na minissérie, onde aquele era apenas uma máscara, uma metáfora, quis que o espectador pudesse desmascarar seu Asmodeu. Era esse jogo com a realidade que me guiava.
Folha – O que mais o cativa no texto?
Carvalho – Como em uma colheita, trabalhamos para devolver ao Brasil o fruto que o próprio povo semeou em meio à sua formação. Os contos populares são essa semente. Aos olhos do mundo globalizado de hoje, sinto que é um trabalho de uma responsabilidade imensa. Usando um clichê, diria até de resistência, já que não há país que resista, abrindo mão de suas memórias. Mas o desafio maior seria a tentativa de continuarmos a sonhar. Vivemos todos costurando nossas asas, nossas precárias máquinas voadoras, costurando nossos sonhos.
Como eternos Ícaros, tentamos voar alto -mas, como eternas Penélopes, tecemos e desmanchamos bordados. E essa é a sorte de alguns poucos. Isso nos alimenta e nos impede de nos tornarmos trágicos Sísifos.
Folha – Você já fez novela e minissérie. Parece ter gostado mais desse último formato, estou certa?
Carvalho – Fazer novela requer talento específico, que não sinto possuir. Admiro quem o tenha. Meu caso é meio perdido. Minha melhor contribuição foi mesmo ‘Renascer’, a primeira, quando me sobrava entusiasmo ou, se preferir, ingenuidade. Depois fui minguando. Quando veio ‘O Rei do Gado’, que a todos era sinônimo de sucesso, me soou como um doloroso fracasso.
Folha – Evocar um tema sertanejo, que faz uma oposição clara entre vida no campo e vida na cidade, num veículo popular como a TV, acaba tendo um efeito de tomar o partido do homem do campo. Acredita que a minissérie pode ser lida/vista como uma fábula anticapitalista para as massas?
Carvalho – Sem dúvida buscamos alcançar uma reflexão sobre a idéia de felicidade que nos é vendida nas cidades grandes. Apontei minha câmera para o consumismo e também para todo o tipo de inversão de valores que ele provoca nas sociedades ditas modernas.
Mesmo assim, ‘Hoje É Dia de Maria’ também não me parece fazer uma apologia do campo, mas sim da esperança e da coragem que cada um de nós traz até o dia em que, movidos por dores e batalhas, tudo parece que se perde. Não vamos ficar aqui pegados aos mitos, afinal eles existem para nos explicar a realidade, e é aí que mora o perigo, onde os Asmodeus lambem os beiços. É na realidade! Talvez tenha sido isso o que gostaríamos de dizer, que a realidade, sempre com seu final invertido, nos ilude, pois sempre começa como um conto de fadas.
Hoje É Dia de Maria
Autores: Luiz Fernando Carvalho e Luís Alberto de Abreu
Editora: Globo
Quanto: R$ 38 (591 págs.)’
Bia Abramo
Homens americanos preferem os ‘durões’ na TV
‘A audiência masculina adulta norte-americana prefere os durões, sobretudo quando eles, aqui e ali, transgridem umas tantas quantas normas sociais. O detalhe é que, agora, o sujeito pode realmente sair da linha em termos morais. Pode matar, roubar, torturar, espancar com violência; pode também ser um sujeito orgulhoso de suas características anti-sociais e continuar sendo considerado um cara ‘legal, do bem’.
Isso explicaria a recorrência e o sucesso de tipos como Sawyer, de ‘Lost’, do dr. House, da série homônima, do policial brutamontes de ‘The Shield’. Essa é a conclusão de uma pesquisa feita por uma nova rede de TV voltada para esse público, a Spike TV. A pesquisa e sua repercussão foram objetos de uma reportagem publicada no jornal ‘The New York Times’ semana passada.
De uma cultura que produziu heróis como os caubóis matadores de indígenas de John Wayne e o exterminador de vietcongues encarnado por Sylvester Stallone nos vários Rambos, não chega a ser surpreendente. A diferença é que esses novos ‘modelos’ da masculinidade na ficção de TV norte-americana não têm mais nenhuma causa que se assemelhe a coletiva. O caubói conquistava o Oeste e construía uma nação, Rambo assegurava as benesses da democracia liberal no Oriente, enquanto que esses personagens são movidos pelo mais extremado individualismo.
House é um médico brilhante, capaz de diagnosticar com segurança doenças complicadas, mas completamente refratário à idéia de que haja algum traço de solidariedade e generosidade envolvida no exercício da medicina. Sawyer, por sua vez, recusa qualquer possibilidade de ação coletiva e de esforço conjunto e reage com verdadeira ferocidade a qualquer traço de preocupação e consideração pelo outro. Em ‘The Shield’, a vaidade e a arrogância, mais do que o senso de justiça, são os motores de Vic Mackey.
Para um escritor entrevistado pelo ‘New York Times’, é como se esses personagens estivessem afirmando algo do tipo: ‘A vida é dura. Homem que é homem precisa fazer o que deve fazer, e, se algumas pessoas vierem a morrer nesse processo, que seja assim’.
O problema está em que, na selvageria neoliberal, aquilo que define o que é mesmo que se precisa fazer passa a ser única e exclusivamente o mercado, que, em última instância, pede uma completa submissão às suas regras e modos de funcionar. Em contrapartida à emasculação imposta pelo mercado, supervalorizam-se os traços mais agressivos, egoístas e violentos associados à masculinidade para além dos limites de várias barreiras morais civilizatórias.’
Ivana Bentes
Canais abertos
‘Espero que em 2006 fique cada vez mais evidente que a televisão brasileira é uma concessão do Estado e da sociedade brasileira, e não o contrário, o Estado brasileiro e a sociedade reféns da televisão. Sendo concessões públicas, as TVs em 2006, além de usarem a concessão para ganhar dinheiro ou como máquina político-eleitoral, poderiam quadruplicar sua contrapartida pública, social, cultural, experimental, educativa, para além do mercado, do lucro e da chantagem política.
Como a TV é importante e influente demais para ficar na mão apenas dos executivos, do marketing e dos altos índices de audiência, espero que em 2006 seja aberta a caixa-preta da TV para os conselhos de ética, à produção independente, à produção regional e exibam na TV aberta o cinema, à videoarte e aos curtas-metragens brasileiros.
Espero que o Brasil não perca a oportunidade histórica, com a implantação da TV digital, de democratizar o mais poderoso meio de comunicação do país. Dependendo do que for decidido agora, no início de 2006 será possível aumentar e disponibilizar novos canais (multicanais) para novos atores, movimentos sociais, ONGs, favelas, para o cinema brasileiro, para os coletivos de arte, as universidades etc. ou manter as emissoras de TV sob o controle dos mesmos, de uma minoria.
Democracia interativa
Agora, implantar o sistema de alta definição (HDTV) em 2006 só para transmitir a Copa do Mundo da Alemanha e faturar milhões em anúncios é um negócio que só as emissoras de TV e o ministro das Comunicações, Hélio Costa, defendem. Nenhuma linha a mais de definição na tela é necessária para ver um jogo de futebol, e interatividade para clicar e comprar produtos na tela da TV não tem nada a ver como democracia participativa!
Espero que seja revista a Lei Geral de Comunicação de Massa e que televisão, cinema, vídeo, internet e toda produção audiovisual possam ser finalmente reguladas e regulamentadas por um só órgão, a Ancinav (Agência Nacional de Cinema e Audiovisual). Agência que foi abortada por questões políticas, lobby e pressão das emissoras de televisão.
Espero que, em 2006, todo telespectador brasileiro, associação, grupo, rede, organização tenham direito de resposta na TV, podendo ocupar o tempo necessário, na TV aberta ou a cabo, sempre que forem lesados em seus direitos de cidadão.
Esteticamente, espero que os núcleos de experimentação de novas linguagens cresçam e apareçam, que a interatividade inteligente e os novos formatos, como os ‘reality shows’ e games, não se esgotem na sua versão comercial, que se invista em documentários que produzam conhecimento novo, que investiguem a realidade, e não apenas ilustrem o que já sabemos com ‘faits-divers’ e imagens sensacionalistas.
Novo nacionalismo
Que os criadores da TV descubram a televisão segundo Jean-Luc Godard, Peter Greenaway, The Kitchen [centro de vídeo, música, performance, dança, filme e literatura em Nova York], descubram o documentário experimental e uma nova iconografia para expressar o Brasil que não seja só o nacional-popular, o nacionalismo engessado, o neopopulismo, mas as novas imagens e forças, transnacionais, que nos habitam e que a TV ainda não conseguiu mapear.
Que as imagens das favelas nos telejornais não sirvam apenas para produzir o medo, o preconceito, os discursos de repressão e o estado de exceção, imagens e reportagens que legitimam o assassinato diário de favelados pela polícia e que produzem um novo conservadorismo que pede a remoção das favelas e a expulsão dos pobres de nosso campo visual.
Em 2006, espero que a televisão não faça campanha eleitoral nos seu programas de entretenimento, nos ‘talk shows’, nos telejornais e que não eleja nem derrube nenhum candidato a presidente da República. É pedir demais?
Ivana Bentes é professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e autora de ‘Joaquim Pedro de Andrade’ (ed. Relume-Dumará).’
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Folha de S. Paulo
Sábado, 17 dezembro de 2005
SERRA vs. IMPRENSA
Casa do Saber
‘O prefeito José Serra nunca pediu a saída dos jornalistas presentes à aula promovida pela Casa do Saber, diferentemente do que foi publicado ontem em reportagem à página A7 (‘Serra exige que imprensa deixe evento’). A solicitação foi feita pela própria direção da Casa do Saber diante da justa recusa do prefeito em prosseguir com a palestra ao tomar conhecimento, no intervalo, da inesperada presença de jornalistas. A assessoria do prefeito foi clara ao solicitar previamente à Casa do Saber que a aula fosse direcionada aos alunos do curso de forma que o prefeito, ali na condição de professor, pudesse tecer comentários de maneira livre, como o fez, sem se preocupar com as repercussões extra-acadêmicas que a eventual publicação dessas opiniões pudesse ensejar. A Casa do Saber interpretou erroneamente essa solicitação e, por isso, desculpa-se com o prefeito, com sua assessoria e também com os profissionais e órgãos de comunicação envolvidos. Agradece ao professor Serra por ter, apesar do imprevisto, prosseguido com a aula programada.’ Mario Vitor Santos, diretor-executivo da Casa do Saber (São Paulo, SP)’
SIGILO DA FONTE
Ministro do STF defende possibilidade de vazamento de informação sigilosa
‘O ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Celso de Mello defendeu a possibilidade de vazamento de informações sigilosas por CPIs se houver interesse público nelas, ao negar liminar pedida pelo corretor de valores Renato Luciano Galli contra a CPI dos Correios. ‘O que esta Suprema Corte tem censurado e desautorizado é a divulgação indevida, desnecessária, imotivada ou sem justa causa dos registros sigilosos’, afirmou Mello em sua decisão.
Renato Galli moveu mandado de segurança para impedir a divulgação de relatório parcial que contenha dados sobre ele obtidos a partir da quebra de sigilos. Mello examinou o pedido de liminar na condição de relator da ação. ‘A divulgação de relatórios parciais traduz a legítima expressão do necessário diálogo democrático.’
A legalidade do vazamento de dados sigilosos por CPIs é controversa no STF. Três liminares concedidas por outros ministros -Sepúlveda Pertence, Eros Grau e Cezar Peluso- suspenderam ou proibiram a divulgação da quebra de sigilo de envolvidos na investigação sobre fundos de pensão.’
GRAMPO NOS EUA
Bush grampeou à margem da lei, diz ‘Times’
‘O presidente norte-americano, George W. Bush, autorizou a Agência de Segurança Nacional (NSA, em inglês) a espionar, grampear telefones, monitorar correspondências e e-mails e vigiar moradores dos EUA e turistas sem autorização da Justiça, com o objetivo de identificar conexões terroristas no país nos meses que se seguiram aos atentados de 11 de setembro de 2001. Desde então, centenas -talvez milhares- de pessoas tiveram seus passos observados sem saber.
Divulgada ontem pelo ‘New York Times’, a notícia veio a se somar a outras preocupações sobre as tradicionais liberdades civis norte-americanas. A permissão, segundo o diário, foi concedida à NSA por meio de uma ordem assinada por Bush alguns meses depois dos atentados.
Outro exemplo de ordem desse tipo voltou a permitir que a CIA (Agência Central de Inteligência) ‘eliminasse’ terroristas quando houvesse oportunidade, sem autorização expressa do presidente.
Bush negou-se ontem a comentar a notícia. ‘Não falamos das operações de inteligência em curso para proteger o país. Não falamos das fontes nem dos métodos’, afirmou Bush. ‘Existe um inimigo que nos acossa e que gostaria de saber exatamente o que estamos fazendo para detê-lo.’
As ordens presidenciais assinadas por Bush são consideradas sigilosas, uma vez que se relacionam à segurança nacional. Em sua reportagem, o ‘Times’ informa que ouviu quase uma dúzia de atuais funcionários e de ex-funcionários do alto escalão do governo para confirmar os dados.
Mesmo assim, o jornal deixou claro que omitiu algumas informações para evitar danos à segurança dos EUA -a pedido do governo. Uma primeira versão da reportagem foi concluída há cerca de um ano, e, também por solicitação de Washington, o jornal manteve o assunto suspenso enquanto apurava mais detalhes.
Espionagem
No texto publicado ontem, o jornal conta que o monitoramento começou em 2002, quando foi preso Abu Zubaydah, suposto integrante da Al Qaeda, no Paquistão. A NSA começou a grampear telefones citados em agendas e computadores apreendidos com Zubaydah, ampliando o foco com o passar dos meses.
De acordo com o ‘Times’, apenas ligações para ou provenientes do exterior foram monitoradas. Telefonemas de Washington para o Texas, por exemplo, continuavam precisando de amparo legal. A espionagem prosseguiu até o ano passado, quando foram adotadas mais restrições, a pedido do senador John Rockfeller e do juiz que chefia a corte de vigilância de inteligência estrangeira -um tribunal secreto que julga assuntos de segurança nacional.
A reportagem diz que a NSA monitora cerca de 500 pessoas nos EUA, em média, todos os meses. Os nomes variam de mês a mês, uns sendo retirados, outros, adicionados. Fora do território americano, o total de espionados pela NSA gira entre 5.000 e 7.000 pessoas.
O governo citou como exemplo de bom resultado da iniciativa a prisão de Iyman Faris, que em 2003 se declarou culpado por tramar a explosão da ponte do Brooklyn (Nova York). As pistas, porém, nem sempre deram o mesmo resultado. Um médico iraniano foi investigado porque teria ligações com o terrorista Osama bin Laden, mas não houve prova para acusá-lo formalmente.
Segurança e privacidade
A Casa Branca defende suas medidas com o argumento de que não houve atentados terroristas em solo americano após 2001.
Mas a oposição insiste em que é preciso dosar segurança com o respeito constitucional aos direitos dos cidadãos, como a privacidade.
Também argumenta que o Congresso deve fiscalizar mais de perto o governo, como diz a lei.
Esse debate voltou a dominar o Senado ontem, enquanto se discutia a renovação do Patriot Act, um conjunto de leis que dá poderes de exceção às polícias, também proposto por Bush em 2001. Se não renovado, o texto perde efeito no dia 31 de dezembro.
A Câmara aprovou a prorrogação, na quarta-feira, com modificações, mas o governo não conseguiu os votos necessários no Senado, que acabou bloqueando a medida.’
FSP
CONTESTADAPainel do Leitor
Luz
‘‘Diferentemente do que foi publicado na reportagem ‘Comissão aponta indícios de crime de Marta’ (Brasil, 14/12), a Eletrobrás não ‘repassou R$ 187 milhões à Eletropaulo para a modernização de 430 mil pontos de iluminação’. A Prefeitura de São Paulo firmou com a Eletropaulo a contratação do Reluz em outubro de 2002, prevendo um financiamento com a Eletrobrás de R$ 113,4 milhões para a troca de aproximadamente 420 mil lâmpadas de mercúrio pelas de sódio, tendo por base custos orçados no ano 2000. O município assumiu contrapartida de 25%. Em 2004, foi assinado um aditivo ao contrato de 2002, atualizando em 23% os valores da operação. Não houve alteração nas quantidades de trocas de lâmpadas programadas, e foi incluída cláusula que permite a utilização dos materiais retirados como parte de pagamento, uma economia da ordem de R$ 7 milhões. Com esse ajuste, o empréstimo foi corrigido para R$ 140,2 milhões, e a contrapartida do município foi para R$ 46,7 milhões, perfazendo R$ 187 milhões de investimentos na melhoria da iluminação pública. O desembolso inicial foi da ordem de 10% do empréstimo de R$ 140,2 milhões por parte da Eletrobrás à Eletropaulo. Novas liberações da Eletrobrás aconteceriam à medida dos avanços do cronograma físico (medição dos serviços executados) ao longo do contrato.’ Valdemir Garreta, ex-secretário municipal de Abastecimento e Projetos Especiais na gestão Marta Suplicy (São Paulo, SP) Nota da Redação – Leia abaixo a seção ‘Erramos’.’
INTERNET
Ação do UOL estréia na Bolsa com alta de 17%
‘As ações da empresa de internet Universo Online, o UOL, estrearam ontem no pregão da Bolsa de Valores de São Paulo.
A ação preferencial do UOL registrou uma valorização de 16,67%, encerrando o pregão negociada a R$ 21,00. Foi o papel mais negociado no pregão, girando o equivalente a R$ 241,25 milhões, o que representou 17% dos negócios totais feitos na Bovespa.
Os papéis do Universo Online foram listados no Nível 2 da Bovespa, segmento que exige das companhias uma maior transparência e requisitos na prática da governança corporativa.
Raymundo Magliano Filho, presidente da Bolsa de Valores de São Paulo, afirmou que a estréia das ações do UOL no mercado foi ‘uma bela forma de se encerrar o ano, em que foi registrada a entrada de diferentes novas empresas no pregão’. Foram nove companhias até agora em 2005, contra sete no ano passado.
O início das operações foi marcado por uma cerimônia simbólica de abertura do pregão da Bolsa. Representaram o UOL seu diretor-geral, Marcelo Epperlein, e o diretor de produtos e estratégia, Victor Ribeiro.
Criado em 96, o UOL, empresa do Grupo Folha e da Portugal Telecom, é líder entre os provedores de internet pagos. São aproximadamente 1,4 milhão de assinantes, e há oferta de acesso em mais de 3.000 municípios no país.
No ano passado, o portal registrou cerca de 55 bilhões de páginas vistas (‘page views’). Cerca de 6,5 milhões de pessoas diferentes visitaram o UOL a cada mês.
Pregão
O Ibovespa, índice que reúne as 57 ações mais negociadas na Bolsa de São Paulo, registrou valorização de 0,30% ontem.
Na semana, a Bolsa paulista acumulou uma alta de 1,12%. Dos papéis do Ibovespa, 35 tiveram ganhos na semana.
A valorização no mês de dezembro está em 4,31%.
A ação ON (ordinária, com direito a voto) da Embraer liderou as valorizações na semana dentre os papéis do Ibovespa. A ação da empresa acumulou uma alta de 9,52% no período. Logo atrás ficou o papel preferencial da Sadia, com 8,81% de aumento.
A maior baixa da semana ficou com a ação preferencial da Contax. O papel recuou 5,96%. Bem perto ficou a ação ON da Light, que caiu 5,95%.’
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