Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Folha de S. Paulo


MÍDIA & RELIGIÃO
Bia Abramo


A peleja da bispa e do apóstolo contra o diabo


‘ENQUANTO A sétima edição do ‘Big Brother’ se arrasta em casinhos pré-fabricados e a minissérie ‘Amazônia’ em draminhas paradidáticos, o que há de mais fervilhante na TV acontece na Rede Gospel. Trata-se da defesa cerrada às raias do nonsense da bispa Sônia e do apóstolo Estevam na emissora.


Para quem não sabe, a bispa e o apóstolo formam o casal Hernandes, que fundou a Igreja Renascer em Cristo em 1986 e que, em pouco mais de duas décadas, amealhou uma considerável fortuna.


Donos de redes de televisão e de emissoras de rádio, além de uma gravadora e de uma instituição de ensino superior, Estevam e Sônia Hernandes foram acusados de lavagem de dinheiro, estelionato e falsidade ideológica pelo Ministério Público e tiveram prisão preventiva decretada. Foragidos desde novembro de 2006, foram presos em 9 de janeiro deste ano pelo FBI ao tentar entrar nos EUA com valor maior do que o declarado para a imigração.


Na Rede Gospel, trava-se uma batalha: de um lado, a mídia (como se uma rede de televisão não fosse também parte dela) contra a Renascer, por obra do diabo. De outro, os fiéis, os presbíteros, os pastores e pastoras, os bispos e bispas erguem suas espadas ‘pelo Senhor, pelo apóstolo Estevam e pela bispa Sônia’.


O clamor se levanta em todos os momentos e de todas as maneiras. ‘80% de tudo que está saindo na mídia brasileira é mentira’, diz a pastora Fernanda, por telefone, dos Estados Unidos. A bispa Blanche, que substitui a bispa Sônia como âncora no programa vespertino ‘De Bem com a Vida’, pergunta: ‘O apóstolo e a bispa estão bem?’. ‘Eles estão muito bem’, responde Fê, a pastora (a intimidade com Deus e suas autoridades é uma das marcas registradas dessa igreja). Como não estarão, a gente se pergunta, se é tudo ‘uma grande armação’ dele mesmo, do diabo?


‘Quando você faz a doação, você não sabe a bênção que sente’, dizia a bispa Blanche com voz teremelicante de emoção dia desses. A coisa é simples: você acredita na obra de Deus? Então, ligue já e se torne um gideão da conquista. Adquira um carnê -não, não se trata apenas do vil metal, mas de um compromisso com Ele mesmo, o Senhor- e, automaticamente, você começará a ‘tropeçar em milagres’.


‘Tivemos um ano de Isaac, de muitas bênçãos, de muita prosperidade’, mas não pensem que é fácil. No anúncio, que mostra palavras como ‘carro’, ‘casa’, ‘família’ e ‘casamento’ flutuando sobre imagens de homens e mulheres, isso tudo só chega ‘para quem assume o posicionamento de fazer o carnê’. Ora, Silvio Santos não diria o mesmo?’



Lilian Christofoletti


Ex-funcionários comprometem Renascer


‘Após pedir a prisão e a extradição dos fundadores da Renascer em Cristo, Estevam e Sônia Hernandes, o Ministério Público de São Paulo avança agora sobre a contabilidade da igreja.


Em depoimentos sigilosos, dois ex-funcionários da Renascer e um advogado descreveram supostos esquemas ilegais operados pelo casal, como a emissão de duplicatas frias, o uso do dinheiro na compra de imóveis particulares, os ‘golpes’ aplicados em fiéis e a constante preocupação em aumentar a captação de verbas.


Os nomes dos informantes são mantidos em sigilo pelos promotores do Gaeco, grupo especial do Ministério Público de combate ao crime organizado, que investiga o caso.


Pelo depoimento de uma das pessoas, ao qual a Folha teve acesso, os cheques doados por fiéis durante os cultos são depositados em uma das 21 contas correntes da Renascer. Os pré-datados são vendidos para factorings ou bancos.


Uma relação detalhada com centenas de números de cheque, valores e contas favorecidas foi entregue à Promotoria.


O Gaeco diz ter provas de que as doações financiaram projetos pessoais do casal Hernandes, como a aquisição do haras em Atibaia (SP) por R$ 1,8 milhão e de uma casa de praia no Estado da Flórida (EUA) por R$ 1,27 milhão.


Ajuda aos templos


As testemunhas afirmaram desconhecer a existência desses bens. Uma delas disse que o envio de dinheiro para os EUA sempre foi justificado como ajuda aos templos daquele país.


Uma das pessoas narrou aos promotores que, no período em que trabalhou no departamento financeiro da Renascer, emitiu duplicatas simuladas, que não correspondiam a nenhuma prestação do serviço.


A ordem de emissão, disse, era dada por Estevam. O filho do casal que trabalhava no mesmo setor, Felipe (Tid), segundo a testemunha, ‘raramente’ pedia a emissão ilegal.


As operações, disse, eram feitas pelas seguintes factorings e os bancos: Terranova, Banco Daycoval, Banpar, Múltipla Factoring, Banco Safra, Schain, Banco Cidade e Bradesco.


Com exceção da Terranova, que pertence a um fiel, não há qualquer evidência de que as demais empresas soubessem da origem das duplicatas.


O advogado ouvido disse que o representante da Terranova, Sérgio Mortari, teve um prejuízo de cerca de R$ 7 milhões em créditos a receber da igreja. Amigo pessoal de Estevam, a dívida teria sido abatida com a transferência de imóveis.


As outras modalidades supostamente praticadas pela Renascer, como narrou a testemunha do departamento financeiro, envolvem os fiéis.


Numa delas, os nomes dos fiéis foram usados como fiadores de imóveis locados pela Renascer. Muitos contratos foram rompidos por falta de pagamento, e os fiéis tiveram os bens pessoais penhorados.


Segundo a testemunha, ao mesmo tempo em que a igreja se perdia em dívidas com os fiéis, tornava mais rígidas as metas de arrecadação de cada templo, ora para a aquisição de uma torre de TV, ora para a aquisição de uma rádio.


Se não cumprisse a meta, o pastor era punido com uma transferência.


O projeto mais importante, disse, é o carnê Gideão, feito por meio de faturas enviadas aos fiéis com a promessa de conquistas e vitórias. ‘Jamais se esqueça de que o seu milagre sempre será maior que a sua oferta’, diz o site da igreja.’


***


Depoimentos não têm valor, diz advogado


‘Luiz Francisco Borges D’Urso, advogado no Brasil dos fundadores da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, disse que não irá se manifestar sobre ‘provas secretas’ reunidas por promotores de Justiça que, segundo ele, não têm o poder de investigar -a prerrogativa seria exclusiva de policiais.


‘Tais depoimentos, se é que existem -porque não vi no processo, não fui informado das oitivas e, pelo que entendo, foram colhidos de forma secreta por promotores que extrapolaram suas funções-, são obviamente ilegais, não têm valor jurídico algum’, afirmou.


Para D’Urso, Estevam e Sônia Hernandes respondem hoje a um processo que já está na Justiça, não a uma investigação sigilosa mantida pelo Ministério Público de São Paulo.


A discussão sobre o poder de investigação de promotores está no Supremo Tribunal Federal e ainda não há uma decisão final sobre isso.


Como presidente da seção paulista da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Luiz D’Urso sempre foi um crítico do poder de investigação de promotores e procuradores.


O representante da Terranova, Sérgio Mortari, disse à Folha que não tem nenhum contrato de trabalho com a Igreja Renascer em Cristo e nem é amigo de Hernandes.


‘Sou apenas um fiel, não sei nada sobre duplicatas.’, disse Mortari.’




INTERNET
Andréa Michael


INSS vai ‘monitorar’ troca de e-mails de seus funcionários


‘Em resolução publicada no ‘Diário Oficial’ da União, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) definiu regras por meio das quais irá ‘monitorar’ os e-mails dos servidores do órgão.


Conforme a regulamentação, a correspondência eletrônica deve se restringir a assuntos profissionais, sob pena de o funcionário público infrator se tornar alvo de um processo administrativo.


O monitoramento de mensagens eletrônicas recebidas e enviadas será realizado pela administração do ‘Correio Eletrônico da Previdência Social’, a pedido do ‘Oficial de Segurança da Informação do INSS’, que é um servidor nomeado pela instituição.


De acordo com a resolução do órgão, tal prática ‘não implica violação de correspondência ou comunicação para qualquer finalidade’.


A Associação Nacional dos Servidores da Previdência Social promete questionar no STF (Supremo Tribunal Federal) a constitucionalidade das novas regras, que começam a vigorar a partir do próximo dia 16 de fevereiro.


Pretende ainda denunciar o que julga ser violação de privacidade diante da OIT (Organização Internacional do Trabalho), da Procuradoria Geral da República, do presidente Lula e da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).


Volta do censor


‘É a volta do censor, da ditadura. Sabemos que isso é para coibir a comunicação dos sindicatos em época de mobilização’, afirmou, em nome da associação, Rolando Medeiros, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Previdência e Assistência Social do Rio de Janeiro, o maior da categoria em todo o país.


Se for para coibir fraudes -e ainda assim será um mecanismo muito frágil-, afirmou Medeiros, é imprescindível consignar na resolução explicitamente que todos os nomeados para cargos comissionados, inclusive o presidente do INSS, Valdir Moysés Simão, estarão sujeitos ao monitoramento das mensagens.


Para o constitucionalista Luís Roberto Barroso, a resolução não configura quebra do direito constitucional ao sigilo. ‘Sabendo do monitoramento, o indivíduo que usa e-mail para fins pessoais estará expondo sua privacidade por decisão própria. É natural que a utilização inadequada seja detectada e, se for o caso, punida disciplinarmente’, disse.


Para Barroso, ‘haverá invasão à privacidade apenas no caso de serem violados e-mails pessoais ou de monitoramento de e-mails profissionais sem que se dê ciência disso aos empregados ou servidores’. No setor privado, afirmou o constitucionalista, já há jurisprudência a favor do monitoramento, desde que informado antes aos funcionários.


Bom funcionamento


Por meio de sua assessoria de imprensa, o INSS refutou a acusação de que o sistema de monitoramento busque violar o sigilo dos servidores. O mecanismo seria para garantir o bom funcionamento da rede de comunicação.


Ainda de acordo com a assessoria, o acompanhamento das mensagens seria feito por um software, sem leitura do conteúdo em um primeiro momento, e teria como alvo eventual troca de mensagens com arquivos executáveis, muitos dos quais são condutores de vírus, e com imagens, se por ventura fugirem ao perfil das necessidades de trabalho do servidor emissário ou destinatário do e-mail.’


Richard Waters


Google quer dominar toda a publicidade


‘DO ‘FINANCIAL TIMES’ – O setor de publicidade está à beira de uma revolução tecnológica, e, se existe uma empresa que pode ser vista como a líder da nova tecnologia, com certeza se trata do Google. O grupo, que já se tornou o rei da publicidade vinculada a buscas, decidiu agora disputar presa muito maior: todo o mercado mundial de publicidade, avaliado em US$ 424 bilhões.


Para o Google, o esforço para dominar os mercados convencionais de publicidade pode representar o segundo ato daquilo que já se tornou uma das maiores histórias de sucesso empresarial dos anos recentes.


O primeiro ato, construído quase que inteiramente com base no mercado de publicidade vinculada a buscas, que nem mesmo existia no começo da década, levará a empresa a um faturamento próximo de US$ 11 bilhões neste ano. Ambição não falta ao Google.


A tecnologia de publicidade que a empresa já criou é ‘100% relevante para atividades não relacionadas a buscas’, diz Tim Armstrong, diretor de vendas publicitárias do grupo para a América do Norte.


A rede de publicidade já instalada pelo grupo permite que anunciantes façam lances on-line para a exibição de publicidade em formato de texto ao lado de resultados de buscas relacionados aos produtos que desejem divulgar.


Agora, a empresa planeja automatizar a venda de todas as formas de publicidade on-line, incluindo aquela em vídeo e mídia externa. E também deseja usar a mesma plataforma para vender espaço e tempo em rádio, TV e mídia impressa.


Nos últimos 12 meses, o Google se expandiu para o vídeo (com a aquisição do YouTube, por US$ 1,65 bilhão, para criar um veículo de publicidade em vídeo); áudio (com a aquisição, por até US$ 1,24 bilhão, da dMarc, uma rede automatizada de venda de publicidade em rádio); e mídia impressa (com um acordo para vender publicidade em 66 jornais americanos).


Agora, quer coroar as decisões com um acordo histórico. O grupo negocia há meses para fechar acordo com um grande conglomerado de mídia que permita que o YouTube se integre à mídia convencional, com a exibição de conteúdo protegido por direitos autorais no site em troca de uma participação nas receitas publicitárias que isso possa vir a gerar.


Para Jessica Reif Cohen, analista de mídia no Merrill Lynch, um acordo com a CBS parece provável no curto prazo, e o Google adquiriria uma parcela do tempo comercial de rádio de que a parceira dispõe, para venda por meio da rede dMarc.


Vantagens


Enquanto o Google tenta se libertar de suas raízes no setor de buscas, é bastante provável que se beneficie especialmente de três dos atributos de sua tecnologia de publicidade.


Primeiro, a rede do Google atinge o que se tornou conhecido na web como a ‘cauda longa’ dos anunciantes: o imenso número de empresas que investem pouco individualmente, mas, somadas, representam mercado substancial.


Antes de experimentar a publicidade vinculada a buscas do Google, muitas dessas companhias estavam limitadas às páginas amarelas locais, afirma Sheryl Sandberg, encarregada das vendas de publicidade a pequenas empresas no Google.


Os mesmos recursos estão sendo aplicados à publicidade em rádio e, no futuro, serão estendidos a outros mercados.


Alguns executivos nas empresas tradicionais de compra de mídia argumentam que o Google jamais terá muito a oferecer aos grandes anunciantes. Mas os executivos do Google defendem a tese de que uma estratégia dirigida a pequenos anunciantes também pode funcionar com os grandes, que têm milhares de produtos, muitas vezes com vendas relativamente baixas em categorias dotadas de verbas publicitárias modestas ou inexistentes.


Uma segunda promessa da tecnologia do Google é a transparência e a liquidez que ela pode gerar em alguns dos maiores mercados de compra de mídia.


No momento, os anunciantes negociam diretamente com os proprietários dos veículos e têm pouca idéia sobre o que os concorrentes pagam.


Trata-se de um método que o Google pretende levar a outros mercados, ou por meio da aquisição de grandes blocos de espaço ou tempo publicitário para revenda ou ao trabalhar como intermediário em nome dos proprietários de mídia.


A terceira, e talvez mais importante, característica da tecnologia publicitária do Google é a capacidade que ela oferece de direcionar anúncios às pessoas que têm maior chance de se interessar por eles. Um fator correlato é sua capacidade de medir a resposta a anúncios e depois usar essa informação para aperfeiçoar a mensagem.


Automatizar as porções de um processo publicitário, por exemplo, pode oferecer ao Google acesso a dados em tempo mais curto do que seus rivais. Armados de informações melhores, os anunciantes podem julgar melhor as partes de suas campanhas que estão funcionando e ajustar os gastos.


Mas, se essas tendências tecnológicas amplas apontam para o potencial de longo prazo do Google em muitos mercados publicitários diferentes, a empresa terá de superar sérios desafios no curto prazo.


Considerem o YouTube, a grande esperança do setor de vídeo na internet: enquanto o site seguir como um lugar em que se assiste a vídeos produzidos por usuários, talvez não seja capaz de atrair um grande número de anunciantes.


O Google também precisa aprender a conquistar a confiança de empresas de mídia, anunciantes e outros, o que não é fácil a uma empresa jovem, especialmente se for conhecida pela arrogância de sua cultura dominada por engenheiros.


O Google, porém, aplica ao problema dois recursos de que parece dispor em abundância: dinheiro e inteligência.


Além de aquisições de destaque como as do YouTube e do dMarc, a empresa passou 2006 recrutando alguns dos melhores cérebros nos ramos de compra e planejamento de mídia, dizem executivos do setor.


Embora as linhas gerais de nova abordagem na publicidade estejam começando a tomar forma, será preciso tempo para que o processo se concretize, segundo Armstrong. ‘Creio que o caminho seja claro, mas, nesse setor, há dez ou 15 anos de trabalho por realizar.’ Tradução de PAULO MIGLIACCI’




TECNOLOGIA
Connie Guglielmo


Sem Steve Jobs, valor da Apple seria US$ 20 bi menor, dizem analistas


‘DA BLOOMBERG – A Apple deverá descobrir que seu ativo mais valioso é uma coisa que a empresa não consegue proteger por meio de patentes ou da confidencialidade: seu principal executivo e fundador, Steve Jobs.


Se Jobs deixasse a empresa, as ações da Apple cairiam 25% ou mais, dizem analistas. Isso ceifaria cerca de US$ 20 bilhões do valor de mercado da Apple.


‘Seria uma catástrofe’, disse Gene Munster, analista da Piper Jaffray & Cos., que mantém a classificação de ‘acima da média do mercado’ para as ações da Apple desde junho de 2004. ‘Seria quase impossível substituí-lo’, afirmou.


A dependência da fabricante de computadores em relação a seu principal executivo foi ilustrada pelos acontecimentos da última semana de dezembro passado, quando os papéis da Apple chegaram a cair até 5,8% após a publicação ‘The Recorder’ ter noticiado que a empresa falsificara documentos para antedatar opções de ações.


Em 29 de dezembro, a companhia disse que sua própria investigação, encabeçada por um diretor, o ex-vice-presidente dos EUA Al Gore, eximiu Jobs de qualquer delito. Isso atenuou as preocupações de que Jobs poderia ter de deixar o cargo e fez com que as ações registrassem alta de 4,9%.


O relatório de Gore, porém, pode não ser suficiente para absolver Jobs aos olhos das autoridades reguladoras e do Departamento de Justiça, disse James Post, professor da Universidade de Boston.


Jobs pode estar mais estreitamente vinculado às perspectivas da Apple do que qualquer outro principal executivo arrolado entre os 500 maiores pela revista ‘Fortune’, disse Charlie Wolf, analista da Needham & Co. Inc. O valor da Apple pode cair em até um terço se Jobs deixar a empresa, disse.


‘Ele tem a percepção mais apurada do mundo quando se trata de definir não apenas o design mas os recursos que vão atrair o maior número de pessoas’, disse Wolf.


Nos últimos cinco anos, Jobs, 51, consolidou sua imagem de principal estilista tecnológico do mercado com o iPod, que se tornou o aparelho mais vendido nos EUA. E transformou os sisudos lançamentos de produtos em eventos badalados.’




MEMÓRIA / ART BUCHWALD
Plínio Fraga


Sobre sorrisos, morte e café


‘Jornalistas raramente fazem os leitores sorrir. Os poucos que detêm tal qualidade merecem registro. Ben Bradlee, ex-diretor de redação do ‘Washington Post’, definiu assim o jornalista e humorista norte-americano Art Buchwald, morto na quarta-feira passada aos 81 anos.


Internado em um hospital, havia desistido de fazer hemodiálise. ‘Recebi prêmio literário, fui eleito homem do ano. Não imaginei que morrer podia ser tão divertido’, escreveu às vésperas da morte.


No obituário que publicou, o ‘New York Times’ registrou como um dos seus textos mais engraçados uma viagem à Turquia em busca dos banhos turcos -estufa onde se reveza a exposição do corpo ao vapor d’água em alta temperatura com a imersão em água gelada.


A graça desse texto de Buchwald estava na descoberta -entendida aqui como o ponto de vista de um norte-americano – da não-existência de banhos turcos na Turquia.


Uma das míticas reportagens da imprensa – ‘Frank has a cold’, escrita por Gay Talese- mostra o fracasso do repórter em entrevistar Sinatra, acometido por gripe que causa efeitos colaterais em uma centena de pessoas da sua equipe.


Como se vê, o talento pode estar em enxergar a notícia em um não-acontecimento. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, bradou na sua despedida que a imprensa brasileira se submete ao imperialismo americano. Uma bobagem. Os problemas do jornalismo brasileiro são outros. O pior deles é transformar uma não-notícia num acontecimento. Em Brasília, os palácios, os ministérios e o Congresso parecem ser o cativeiro reprodutivo da não-notícia que desabrocha em acontecimento.


Em homenagem a Buchwald, revela-se aqui uma notícia de um não-acontecimento: não há café carioca (aquele mais ralo) no Rio.’


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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.


Folha de S. Paulo – 1


Folha de S. Paulo – 2


O Estado de S. Paulo – 1


O Estado de S. Paulo – 2


Carta Capital


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