MEMÓRIA / ACM
ACM
‘O SENADOR Antonio Carlos Magalhães participou da política brasileira ao longo dos últimos 50 anos. Parlamentar, prefeito de Salvador, governador da Bahia em três mandatos, ministro de Estado e presidente do Senado, exerceu influência nacional seja durante o regime militar, seja após a democratização de 1985 -além de predominar na política baiana por quase quatro décadas.
Poucos políticos foram tão amados e odiados; poucas trajetórias enfeixaram aspectos tão contraditórios.
ACM foi um dos sustentáculos regionais do regime militar, período em que se formou o domínio de tipo oligárquico que ele exerceu na Bahia, recorrendo não raro a métodos autoritários, à intimidação de adversários e ao uso da máquina oficial para se perpetuar no poder. Seu mandarinato também se apoiava nas alianças que o senador sempre buscou manter com o poder federal, bem como na manipulação da mídia local, da qual ele era em parte proprietário.
Mas ACM também foi uma das pontes na transição pacífica da ditadura à democracia, quando teve a argúcia de insuflar, em 1984, a dissidência no partido oficial que assegurou a vitória do oposicionista Tancredo Neves nas eleições indiretas do ano seguinte, as quais selaram o fim do período militar.
A partir daí ACM emergiu como liderança dotada de indiscutível respaldo popular em seu Estado, numa evidência de que setores expressivos da população, sobretudo a mais carente, aprovavam seu modo de fazer política ou ao menos consideravam sua atuação benéfica para o Estado.
Sob influência por muitos atribuída a seu filho e herdeiro político Luís Eduardo, morto prematuramente em 1998, ACM amenizou os traços mais truculentos de sua personalidade. Embora não tenha feito a revolução administrativa que admiradores lhe creditam, não há dúvida de que a Bahia se desenvolveu sob sua hegemonia nem de que ele tenha revelado um punhado de bons gestores, comprometidos com métodos mais modernos de administração pública.
Antonio Carlos Magalhães foi um expoente da elite política brasileira, tanto no que ela possa ter de retrógrado, patrimonialista e autoritário, como na sua capacidade de conciliar diferenças, de se adaptar a novos tempos e de encarnar, em momentos decisivos, as aspirações e os sentimentos populares.’
Folha de S. Paulo
ACM morre aos 79 anos em São Paulo
‘O senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) morreu às 11h40 de ontem, aos 79 anos, no InCor (Instituto do Coração), em São Paulo, vítima de falência múltipla dos órgãos provocada por um quadro de insuficiência cardíaca e renal.
Governador da Bahia por três vezes (1971-1975, 1979-1983, 1991-1994), duas delas por via indireta, e ministro das Comunicações (1985-1990), ACM, como ficou conhecido, estava no hospital havia 37 dias. Será enterrado hoje, às 18h, no cemitério do Campo Santo, em Salvador, ao lado do filho Luís Eduardo Magalhães, morto em 1998, aos 43 anos.
O velório estava marcado para ter início na noite de ontem no Palácio da Aclamação, antiga sede do governo baiano. Seu filho Antonio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA) assumirá a vaga do pai no Senado.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva divulgou nota no início da noite, mas não deverá comparecer ao enterro. Ele também telefonou para Júnior, filho mais velho de ACM. No Senado, a CPI do Apagão fez um minuto de silêncio.
Adversário que impôs uma dura derrota ao grupo político de ACM nas urnas em 2006, o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), decretou luto oficial de cinco dias no Estado.
Após a informação sobre a morte de ACM ter sido divulgada, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), o senador Romeu Tuma (DEM) e o presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, foram ao InCor dar condolências à família.
‘A mensagem que deixei à família em uma hora como esta é a de que o Brasil perdeu um grande homem público’, disse o presidente da Fiesp.
Família
Ao lado do senador, entre outros familiares, estavam a viúva Arlete, os filhos Júnior e Teresa Helena, e o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA). O corpo foi transportado por um bimotor da FAB (Força Aérea Brasileira) cedido pela Presidência da República.
Dez carros acompanharam o trajeto do InCor até a base aérea de Guarulhos, onde o avião decolou às 18h17.
O corpo chegou à base aérea que fica ao lado do aeroporto Luís Eduardo Magalhães por volta das 20h30 e foi levado em cortejo num caminhão do Corpo de Bombeiros até o palácio da Aclamação.
Cerca de 300 carros integraram o percurso desde o seu início. A maioria dos veículos portava bandeiras da Bahia.
O cortejo percorreu as principais vias de Salvador e durou pouco mais de duas horas. A pedido de familiares, o padre Gaspar Sadock, amigo do senador, vai celebrar a missa de corpo presente. ‘Ele modernizou a Bahia’, disse ele.
Pela programação, por volta das 17h o cortejo fúnebre deve seguir para o Campo Santo.
A Prefeitura de Salvador anunciou que o trânsito será interditado no entorno do cemitério uma hora antes da chegada do corpo.
Internação
O senador, que era diabético, deu entrada no InCor no dia 13 de junho, com problemas cardíacos. Foi a terceira internação neste ano. Em seguida, seu estado de saúde se agravou por conta de complicações renais.
Até a semana passada, ACM vinha melhorando gradativamente graças a uma diálise peritonial. Estava prestes a receber alta, mas uma infecção agravou seu estado e terminou por levá-lo à morte. Na madrugada de ontem, a equipe do dr. David Uip decidiu mantê-lo em coma induzido.
No período em que esteve internado, ele recebeu visitas dos senadores José Sarney (PMDB-AP) e Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente da Casa, e do governador de São Paulo, José Serra. Segundo ACM Neto, o avô sempre procurou se manter informado sobre a vida política do país.’
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ACM POR ELE
‘Não apóio [Paulo] Maluf porque ele carrega consigo o estigma da repulsa da sociedade. E mais: eu acho que esse estigma lhe faz justiça
Em 22/8/1984
Sou de centro, detesto a direita e simpatizo com a esquerda
Em 24/8/1985
Se Lula ganhar de Collor no segundo turno, quem lucra é a cultura: quem puder passar cinco anos fora do Brasil voltará certamente mais instruído
Em 18/11/1989
Brizola é catedrático do atraso, do retrocesso e também da corrupção. Nessa matéria, roubou até do Fidel
Em 18/12/1991
Sem rasgar a Constituição, não há caminho legal para o impeachment
Em 30/7/1992
O Fernando Henrique, com aquele risinho de aeromoça, não pode continuar enganando a nação. Gostaria de desafiá-lo a um debate
Em 30/1/1994
Lula só será presidente do Brasil se errarmos
Em 31/12/1995
Perdi a minha vida. Por que não fui eu?
Em 22/4/1998, sobre a morte do filho’
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ACM POR ELES
‘‘Se houvesse uma forma de se medir o mau-caratismo, o Antonio Carlos seria a unidade padrão’
JOÃO BAPTISTA FIGUEIREDO, em 2/7/1988
‘A democracia dá urticária nele’
MARIO COVAS, em 1º/11/1988
‘Antonio Carlos é uma espécie de PhD em corrupção’
LEONEL BRIZOLA, em 13/12/1991
‘Eu acho que a gente deveria se livrar desse tipo de político, livrar a nós e a ele próprio de ser assim. Eu gostaria que Antonio Carlos se adequasse aos novos tempos’
CAETANO VELOSO, em 28/2/1995
‘Se a devoção que ele diz dedicar à Bahia fosse traduzida em políticas públicas quando ele era o imperador do Estado, a grande maioria dos baianos não enfrentaria tanta pobreza’
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, em 31/5/2001
‘Foi a primeira vez em sete meses que o Antonio Carlos veio ao palácio. Entrou aqui, fez um pedido e saiu com aquela bazófia’
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, em 23/8/1995
‘Tudo o que não presta na história republicana tem o ACM’
CIRO GOMES, em 26/6/1999′
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REPERCUSSÃO
‘Lula lembra divergências; FHC diz que senador marcou história
Leia as declarações sobre Antonio Carlos Magalhães:
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, presidente da República:
‘O Brasil sabe que estivemos muitas vezes em campos opostos na política, mas tenho para mim que a verdadeira democracia é feita de divergências, não de inimizades.’
FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, ex-presidente da República:
‘Ele marcou a história da Bahia e do Brasil. Era importante, forte, rápido, respeitoso, polêmico e encantador quando queria. Um inimigo temível para quem estivesse no campo oposto. Diferentemente dos políticos tradicionais, tinha preocupação com a eficiência e a competência. Embora tivéssemos tido momentos de dificuldade em nosso relacionamento político, ele ajudou decisivamente o meu governo e o Brasil.’
JOSÉ SARNEY, senador e ex-presidente da República (PMDB):
‘Fizemos parte de uma geração que chega ao término. Éramos os últimos representantes da legislatura que vinha do Rio. Tínhamos temperamentos diferentes, mas fomos amigos a vida inteira.’
WALDIR PIRES, ministro da Defesa, ex-governador da Bahia:
‘O Brasil e a Bahia sabem que tivemos desde sempre profundas divergências na atividade e no pensamento político. Desejo que Deus lhe dê paz.’
CÉSAR BORGES, senador e ex-governador da Bahia (DEM):
‘No Senado, ACM era o balizador. Para mim, a perda tem dimensões pessoais e familiares. Há 25 anos o acompanho.’
GEDDEL VIEIRA LIMA, ministro da Integração Nacional:
‘Não tinha relação pessoal com Antonio Carlos Magalhães. Pessoa que tinha imensos defeitos políticos, que os políticos da Bahia devem evitar. Tivemos relação conturbada, de ataques pessoais. A Bahia deve olhar para o futuro.’
CESAR MAIA, prefeito do Rio de Janeiro (DEM):
‘O senador é das grandes lideranças nacionais do pós-guerra. Exemplar na formação de quadros para a administração pública. Talvez o único presidente do Congresso que garantiu independência em relação ao Executivo e Judiciário.’
PAULO SOUTO, ex-governador da Bahia (DEM):
‘Convivi com o senador por quase 30 anos e posso afirmar com convicção absoluta que ele não conheceu limites quando o assunto era a defesa da Bahia.’
ALOIZIO MERCADANTE, senador (PT):
‘Ele fará muita falta ao debate político. Sentirei saudades dos grandes enfrentamentos que tivemos no Senado.’
DONA CANÔ, 99, mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia:
‘Ninguém fez mais pela Bahia que ele. Todos nós, independentemente de partidos, vamos sentir a falta dele. Também não tenho como agradecer o que o senador fez por mim e minha cidade [Santo Amaro].’
MÁRCIO THOMAZ BASTOS, ex-ministro da Justiça:
‘Eu conheci bem o ACM. Grandes virtudes, grandes defeitos. Fui seu adversário político durante o regime militar. Depois, fui seu advogado e, ultimamente, éramos muito amigos. O apreço que o ACM tinha pela amizade era marcante.’
RENAN CALHEIROS, presidente do Senado (PMDB):
‘Deixa um vazio muito grande devido à sua forte participação e influência na política.’
ARLINDO CHINAGLIA, presidente da Câmara (PT):
‘Sempre foi pessoa de muita influência na vida nacional, inclusive com bancada própria de seguidores. Sua importância é medida pela liderança exercida nos seus partidos e na Bahia.’
GERALDO ALCKMIN, ex-governador de São Paulo (PSDB):
‘Foi um homem público com a marca da coragem, de posições claras e de grande trabalho pelo povo da Bahia e do Brasil.’
CIRO GOMES, deputado federal (PSB):
‘Paralelamente ao seu estilo pessoal e polêmico de lidar com adversários, impôs-se como administrador competente e descobridor de talentos, muitos dos quais o ajudaram a posicionar a Bahia na liderança política e econômica do Nordeste.’’
Fernando Rodrigues
Político baiano passou meio século próximo a presidentes
‘Amor e ódio não faltaram na vida do baiano Antonio Carlos Peixoto de Magalhães, detentor de uma das mais longevas trajetórias na política nacional. Morreu aos 79 anos como senador depois de passar o último meio século em diversos cargos públicos. Foi deputado estadual, deputado federal (três vezes), prefeito nomeado de Salvador, governador da Bahia (três vezes, duas delas por via indireta), presidente de estatal, ministro de Estado e presidente do Senado. Após fazer carreira no regime militar em cargos ‘biônicos’, tornou-se um político popular e terminou a vida pública com grandes votações.
Era o portador de três características: 1) soube, como ninguém, viver colado aos governos do país nas últimas mais de cinco décadas; 2) procurava fazer indicações não só políticas, mas de técnicos competentes para funções públicas de destaque e 3) adorava se relacionar com a mídia -durante anos fez a festa de dezenas de colunas.
Seu sonho maior era chegar à Presidência. Sublimou o desejo e o projetou para seu filho predileto, o deputado federal Luís Eduardo Magalhães, que morreu de infarto em 1998. ACM perdeu então a frieza típica que lhe havia rendido no passado o apelido de ‘Toninho Malvadeza’ -fama cultivada com gosto.
Sem um sucessor, no início desta década pensou em se candidatar a presidente. Resultados desalentadores de pesquisas de opinião particulares em 2000 e em 2002 o demoveram da idéia. Concentrou suas esperanças em Antônio Carlos Magalhães Neto, eleito deputado federal em 2002 pela primeira vez. Mas mesmo a presença do neto não foi capaz de reanimar o patriarca. Nos últimos anos sua energia esvaneceu gradualmente, enquanto sua saúde dava sinais de deterioração.
Em sua última eleição, em 2002, declarou um patrimônio de R$ 4,110 milhões. Não atribuiu, porém, valores a vários de seus bens, como a TV Bahia.
Trajetória
Nascido na ladeira da Independência, em Salvador (BA), em 4 de setembro de 1927, ACM era médico -como seu pai. Graduou-se em 1952 pela Universidade Federal da Bahia e exerceu a profissão brevemente em 1953, quando também foi professor de higiene na universidade. Trabalhou ainda como redator de debates da Assembléia Legislativa e redator do jornal ‘Estado da Bahia’.
Mas tudo na vida do baiano era acessório na comparação com sua paixão pela política. Começou em 1954, elegendo-se deputado estadual pela UDN (União Democrática Nacional).
Depois foi eleito deputado federal três vezes: 1958, 1962 e 1966. Uma de suas marcas foi a coerência: pertenceu a poucos partidos, todos de direita -além da UDN, a Arena (Aliança Renovadora Nacional), o PDS (Partido Democrático Social) e o PFL (Partido da Frente Liberal, atual Democratas).
A habilidade maior de ACM, porém, foi encostar-se no poder, não importando a coloração ideológica. No final dos anos 50, durante o governo de Juscelino Kubitschek, ainda um jovem deputado udenista, telefonava para o presidente da República por volta das 7h da manhã, já com os jornais lidos e interpretados. Ganhou o apelido de ‘despertador do JK’.
A popularidade e o círculo de amigos cultivados nos primeiros anos de vida pública fizeram com que fosse nomeado prefeito de Salvador pelo governador Luís Viana Filho, em 1967. Em 1970 foi indicado pelo presidente-general Emílio Garrastazu Médici para ser o governador da Bahia e foi eleito pela Assembléia Legislativa. De 1971 a 1975, fez mais de 200 quilômetros de esgoto, urbanizou Salvador com largas avenidas e consolidou a Bahia como pólo turístico, com novas estradas, museus e hotéis.
Em 1975, o presidente Ernesto Geisel nomeou-o presidente da Eletrobrás. Em 1978, voltou a ser eleito indiretamente governador da Bahia. Com a reforma partidária, ACM filiou-se ao PDS em 1980. Em 1982, elegeu o sucessor, João Durval. Em 1984, o baiano anteviu a derrocada do regime: afastou-se de Paulo Maluf (PDS) e aderiu à candidatura do oposicionista Tancredo Neves (PMDB).
Concessões de TV
Com a morte de Tancredo e a posse de José Sarney na Presidência, em 1985, assumiu o Ministério das Comunicações. Apoiou os cinco anos de mandato para o então presidente e, para angariar votos na Constituinte, distribuiu 958 concessões de rádio e TV a políticos e seus aliados -um recorde.
Nessa época consolidou sua mais sólida amizade no mundo empresarial: com Roberto Marinho (1904-2003), da TV Globo. No final dos anos 80, a família Magalhães -dona, desde 1979, do jornal ‘Correio da Bahia’- passou a ser detentora dos direitos de retransmissão da Globo em Salvador. Quando Marinho morreu, ACM declarou: ‘Nós nos amávamos’.
Em 1990, ACM ganhou pela terceira vez o governo da Bahia -a primeira pelo voto direto. Com um tino quase infalível para sair do barco antes do naufrágio, só errou o prognóstico com o presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992), a quem acompanhou até a queda.
Não conseguiu se aliar a Itamar Franco (1992-1994). Acuado, dizia ter um dossiê sobre corrupção no governo. Recebido por Itamar no Planalto, sofreu uma grande humilhação: o presidente deixou a imprensa entrar na sala e assistir à apresentação das acusações. Nada havia de inédito nelas. Colou no baiano a pecha de mais ameaçar que cumprir o prometido. Enfraquecido em Brasília, continuava um campeão de votos na Bahia. Em 1994, elegeu-se senador, fez o sucessor e apoiou a eleição de Fernando Henrique Cardoso ao Planalto.
Aliança com FHC
FHC e o senador baiano viveram em lua-de-mel enquanto esteve vivo Luís Eduardo Magalhães, o filho em quem ACM projetava o que gostaria de ter sido. Protagonista do jogo sucessório em 2002, morreu em 21 de abril de 1998, deixando o pai órfão de futuro político. Eleito presidente do Senado em 1997, usou seu poder para conseguir incentivos para indústrias na Bahia: ‘Vocês de São Paulo pensam que a Bahia só pode produzir rapadura. Nós vamos provar que podemos ser também um Estado industrial’.
Reeleito para o cargo em 1999, não conseguiu conseguiu fazer seu sucessor na Casa, em 2001. Afastou-se de FHC e entrou em uma disputa inglória contra Jader Barbalho (PMDB-PA). Renunciou ao mandato para não ser cassado por violar o sigilo do painel do Senado.
Conseguiu se recuperar: em 2002, foi eleito senador com 2.995.559 votos (30,6% do total) e apoiou Ciro Gomes (PPS) a presidente em 2002. No segundo turno, outra guinada: embarcou na canoa do antes rival Luiz Inácio Lula da Silva. ACM teve uma relação conturbada com Lula no primeiro mandato (2003-2006). Enxergou no Planalto alguém que apenas o tolerava, o que não impediu ACM de exercer certa influência no governo, sobretudo a partir de 2004, quando Lula enfrentou várias crises. O ministro José Dirceu procurava ACM com freqüência. Em 15 de março de 2004, ACM voltou ao Planalto pela primeira vez desde o governo FHC: ‘Fui lá de noite, por volta das 21h. Não tinha ninguém para me ver’.
Em junho de 2005, quando explodiu o mensalão, ACM teve a expectativa de ter mais um presidente nas mãos: ‘O Lula agora fica até o fim, faz um grande acordo e não se candidata à reeleição’. Um ano depois, sua previsão não virou realidade: o petista não deu importância ao partido de ACM, ganhou mais quatro anos no Planalto e ajudou a eleger o petista Jaques Wagner para o governo baiano, impondo forte derrota ao carlismo.
Na campanha de 2006, o baiano acusou o petista de ‘ladrão’, e Lula chamou ACM de ‘hamster’ -uma alusão aos dentes do senador. As ofensas se diluíram após a posse de Lula, quando a saúde de ACM entrou em sua fase mais instável. O petista fez um check-up no Incor em São Paulo em março último, ocasião em que o baiano estava internado no mesmo local. O presidente foi ao quarto do adversário para abraçá-lo. Casou-se em 1952 com Arlete Maron, com quem teve quatro filhos: Antonio Carlos Júnior (seu suplente no Senado), Teresa Helena, Luís Eduardo (morreu em 1998) e Ana Lúcia (suicidou-se em 1986).
Colaborou o Banco de Dados’
Janio de Freitas
ACM ou Toninho Malvadeza
‘ANTONIO CARLOS MAGALHÃES teve a mais extensa carreira de êxito dentre os políticos que conheceram a notoriedade no começo da década de 1950. Mas não precisou dos últimos ataques de doença para ostentar o cansaço pesado do homem batido. Desde dez meses antes, Antonio Carlos Magalhães era o próprio homem que, no fim, se vê derrotado e sem tempo ou sem motivos para lutar pela reversão. Derrota que jamais desnudaria em público, mas sabia quem, como, onde e a que preço fora urdida.
A vitória de Jaques Wagner para o governo da Bahia, que se confunde com a derrota política de Antonio Carlos Magalhães, foi feita com a compra do apoio, longamente encoberto, do PMDB baiano ao candidato petista de improváveis perspectivas próprias. Negócio autorizado por Lula: a vitória de Jaques Wagner valeria o Ministério da Integração Nacional -aquele dos bilhões da transposição do São Francisco- para o negociador e presidente do PMDB baiano Geddel Vieira Lima, até então opositor muito mal visto por Lula.
Até ali, a extensão incomum da carreira de êxito de Antonio Carlos Magalhães deveu-se a um faro político excepcional, para traçar o rumo até cada objetivo seu. Mas também a duas características levadas a extremo incomum mesmo no ambiente da política, onde fazem parte do convencional.
Uma delas: é impossível ter visão mais utilitária das relações pessoais do que teve Antonio Carlos Magalhães. Não consta que fosse, em qualquer tempo, verdadeiramente amigo de alguém. Seu convívio partidário, mesmo nos casos de maior freqüência e cordialidade, sempre manteve certa distância, aqueles limites ‘de cerimônia’. Os fatos autorizam a supor que isso se devesse, também, à precaução recomendada por suas surpreendentes passagens do tratamento amistoso a atitudes de agressividade odienta.
Desde o começo de sua vida política, o partido de Antonio Carlos Magalhães foi o individualista Antonio Carlos Magalhães. Daí que tenha sido juscelinista na UDN obcecada em destruir Juscelino. Daí também que, depois de tanto servir e servir-se da ditadura, frustrasse no início a investida dos militares para permanecerem no poder, investida na qual deveria ter papel político importante. Sacou de suas informações íntimas a insinuação de negociatas em obras de aeroportos, calou o avanço do ministro da Aeronáutica e avançou ele em direção à abertura política, que o faro político pressentia mais promissora.
A outra característica extremada: nenhum escrúpulo seria justificável quando se tratasse de demolir alguém visto como adversário ou um aliado suspeito de tender à independência. Desde lançar-lhes ataques esquartejadores por meio da Receita Federal, o que conseguia com freqüência e facilidade nos governos militares, ao arruinamento de emissoras, jornais e profissionais por meio de ameaças a anunciantes. Mesmo relações sem política estiveram sujeitas à indistinção de métodos pela vontade de Antonio Carlos Magalhães.
Não é despropositado, no entanto, o pranto da Bahia. O extraordinário desenvolvimento do Estado deve-se aos governos de Antonio Carlos Magalhães. Não lhe faltou visão administrativa, sua determinação como empreendedor nunca fraquejou, soube sempre revelar e dotar a Bahia e Salvador de executivos competentes e criativos como Mário Kertész, Paulo Souto, Antônio Imbassahy e outros.
ACM e Toninho Malvadeza eram o mesmo, mas deixaram memórias diferentes.’
VENEZUELA
RCTV pode ter de transmitir falas de Chávez
‘Na semana em que voltou ao ar via TV paga, a emissora oposicionista RCTV já se envolveu em nova disputa com o governo de Hugo Chávez. Agora, a polêmica envolve a obrigatoriedade ou não de o canal transmitir as cadeias nacionais obrigatórias de rádio e televisão.
Em nota divulgada ontem, o diretório de responsabilidade social da Conatel (Comissão Nacional de Telecomunicações) diz que, apesar não transmitir mais por sinal aberto, a RCTV deve cumprir com a lei que prevê as cadeias, pois se trata ‘de serviços de produção nacional’.
Apesar de não ser uma decisão oficial, é um indicativo de que a Conatel, dominada por chavistas, deve emitir uma resolução nesse sentido.
A RCTV, porém, diz que não é obrigada a transmitir as cadeias porque sua sede oficial passou de Caracas a Miami (EUA). Trataria-se agora, portanto, de um canal internacional. A emissora RCTV voltou às telas venezuelanas na segunda-feira, 49 dias após ter perdido a concessão para transmitir por canal aberto.’
ESPANHA
CHARGE TIRA PERIÓDICO DAS BANCAS
‘Um juiz ordenou o recolhimento do humorístico espanhol ‘El Jueves’, que trazia na capa uma caricatura do príncipe Felipe, da Espanha, fazendo sexo com a sua mulher, onde ele diz: ‘Se você engravida… Isso será o mais parecido com trabalho que já fiz na minha vida!’. A piada é referente à medida recente do governo que garante o pagamento de 2.500 aos casais do país por criança nascida.’
MERCADO EDITORIAL
Venda de ‘Harry Potter’ inicia; texto na net era original
‘O texto de ‘Harry Potter e as Relíquias da Morte’ que vazou há alguns dias na internet era original, confirmaram leitores após o início da venda do sétimo e último livro da série de J.K. Rowling, à 0h01 de ontem para hoje em Londres (20h01 no Brasil). Na Livraria Cultura do shopping Villa-Lobos (SP), cerca de 500 pessoas aguardavam a abertura das caixas com os volumes em inglês. Segundo uma leitora, a autora faz ‘uma verdadeira chacina’ na história.’
TELEVISÃO
Record tem desempenho pífio com o Pan
‘O telespectador que ligou a TV para assistir à primeira semana do Pan do Rio sintonizou principalmente a Globo. Poucos foram buscar o evento esportivo na Record, que investiu R$ 20 milhões nele.
A audiência diária (das 7h à 0h) da Record cresceu apenas 2,8% na semana de 13 (sexta) a 19 de junho (quinta), comparada com o período entre 29 de junho (sexta) a 5 de julho (quinta). O crescimento é de 6% se a comparação for com a semana anterior à abertura do Pan, mas esse período deve ser descartado por ter tido um feriado no meio (9 de julho). Há que se considerar ainda a coincidência com o acidente aéreo envolvendo avião da TAM, o que aumentou a audiência.
O crescimento da Record com o Pan foi de apenas 0,2 ponto (de 7,2 para 7,4), o equivalente a 11 mil domicílios na Grande SP. A emissora cresceu durante o dia, mas caiu no horário nobre. Sua participação no bolo da audiência, que era de 16,6%, encolheu para 15,7%.
Já a Band subiu de 2,4 pontos para 3,0 (aumento de 25%) e a Globo, de 18,3 para 20,7 (crescimento de 13%). O número de televisores ligados foi de 43,6% para 47,4%, um aumento de 8,7%. A Globo abocanhou mais da metade (2,4 pontos) dos 3,8 que a TV agregou durante a primeira semana do Pan.
A Record chegou a perder a vice-liderança para o SBT em dois dias do Pan. O SBT não caiu nem cresceu com os Jogos.
EXPOSIÇÃO DUPLA 1
Executivos das TVs concorrentes da Globo estão possessos com o fato de os patrocinadores do Pan serem os mesmos das transmissões da rival. Assim, a CEF, por exemplo, aparece nas placas das arenas do Pan, na Globo e na Band e na Record. Isso desagrada os patrocinadores das transmissões da Record e da Band.
EXPOSIÇÃO DUPLA 2
O ‘problema’ é que a Globo fez acordo com CO-Rio (comitê organizador do Pan), em 2004, para realizar a venda casada das cotas de patrocínio. Os patrocinadores pagaram R$ 51 milhões à Globo e outros R$ 10 milhões aos organizadores do evento. Já o CO-Rio vendeu os direitos de exibição para as TVs brasileiras por R$ 7,5 milhões (cada uma) e contratou uma empresa para gerar as imagens.
BARRIGA
É cascata a história de que Lúcia (Glória Pires) irá ficar grávida de Cássio (Marcello Antony) em ‘Paraíso Tropical’. Essa versão constava da sinopse original da novela, que não vale mais. ‘Quando vimos a Glória Pires e o Tony Ramos juntos, percebemos que não dá para destruir o amor do casal’, diz o autor Ricardo Linhares.
GOL
Já a ‘informação’ de que Taís (Alessandra Negrini) será assassinada pode ter sido um chute certeiro.
NACIONAL
Com a conclusão do processo em que a Globosat (programadora da Globo) se tornou controladora da Playboy TV, o canal Sexy Hot (também Globo) passará a investir mais em filmes pornográficos brasileiros.
Marco Aurélio Canônico
Série sobre banda dá maus exemplos
‘‘The Naked Brothers Band’, série infantil que estréia hoje na Nickelodeon, é um programa de família: a mãe, Polly Draper, criou o seriado; o pai (Michael Wolff) e os filhos (Nat e Alex) atuam e ainda incluíram uma prima (Jesse Cook).
Baseada em um filme independente que contava a história da tal ‘banda dos Irmãos Pelados’, um conjunto real, liderado pelos irmãos Nat e Alex -de 11 e 8 anos, respectivamente-, a série é como se a história do Hanson (os irmãos cantores-mirins, do hit ‘MMMBop’) fosse filmada.
As tramas mostram Nat (o compositor, vocalista e líder da banda) e Alex (o baterista) lidando com temas como a rivalidade entre irmãos, os primeiros romances e as aventuras com os amigos (a banda tem outros quatro integrantes).
A série é gravada ao estilo reality show, com os personagens interagindo com as câmeras que os seguem.
Musicalmente, a banda é até engraçadinha, um Balão Mágico modernizado e mais produzido, mas a série em si não é tão bem-sucedida: além de ser excessivamente americanizada em alguns momentos, tem passagens pouco educativas ou lúdicas, como a ironia contra imigrantes e a sugestão dada a uma das crianças, no primeiro episódio, para que use de violência como solução de problemas.
THE NAKED BROTHERS BAND
Quando: hoje, às 20h
Onde: Nickelodeon’
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CHAPOLIN COLORADO VIRA ANIMAÇÃO NO MÉXICO
‘Chapolin Colorado, o herói atrapalhado vivido e criado pelo humorista Roberto Gómez Bolaños, vai virar animação pelas mãos de seu filho, o produtor Roberto Gómez Fernández, que anunciou o projeto anteontem. Em dois meses, começará a pré-produção do filme, que não teve orçamento nem diretor divulgados. ‘Chaves’ em versão animada estreou no México em outubro.’
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