Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

MICHAEL JACKSON
Editorial

Michael Jackson

‘NÃO É é apenas pelo talento incomum de Michael Jackson, nem pela comoção mundial provocada por sua morte repentina, que a dramática trajetória do cantor norte-americano suscita comentário neste espaço.

Talvez nenhuma outra figura contemporânea tenha concentrado o conflito entre a esfera pública e a vida pessoal que marca o mundo contemporâneo.

No caso de Michael Jackson, o conflito não se encenou apenas durante o período em que o ídolo esteve envolvido com acusações de pedofilia. Durante a própria infância, o cantor conheceu a cisão entre uma rotina de aparições felizes diante das câmeras e uma realidade familiar marcada pela violência e pela exploração.

Sem dúvida, outras estrelas infantis viveram situações semelhantes. Mas um traço tipicamente contemporâneo de sua biografia talvez tenha sido o fato de que a divisão entre êxito público e trauma privado adquiriu, com Michael Jackson, uma tradução visual e midiática.

As modernas tecnologias de manipulação cosmética do corpo humano foram distanciando o cantor, do ponto de vista da aparência física, do garoto que começou sua carreira nos anos 70.

Submetido a intervenções cirúrgicas em série, com resultados cada vez mais excêntricos, Jackson parecia esvair-se da própria identidade, transformando-se aos poucos numa espécie de máscara -como se o próprio conceito de ‘ídolo’ recuperasse, em seu rosto esculpido, o significado original de ícone religioso, bizarro e inumano.

Não se trata de reeditar aqui as críticas, preconceituosas no fundo, a respeito do que o teria levado a rejeitar sua ‘negritude’. É notável em nossa época, ao contrário, um processo simultâneo de afirmação das identidades (sexuais, étnicas, religiosas), ao lado de um crescimento das possibilidades individuais de reinventá-las, com inédita liberdade.

Poucas pessoas terão pago um preço tão alto por essa dupla situação, expondo-a publicamente, quanto Michael Jackson. No brilho e no drama de sua biografia, o cantor se inscreve como um símbolo inquietante das contradições de nosso tempo.’

 

Ruy Castro

Mortes paralelas

‘RIO DE JANEIRO – Na manhã de 26 de dezembro de 1929, o ilustrador Roberto Rodrigues, filho do jornalista Mario Rodrigues, foi baleado por uma mulher na redação do jornal ‘Crítica’.. Seria a manchete natural para todos os vespertinos cariocas naquele dia. Só que, na mesma hora, perto dali, o deputado pernambucano Souza Filho foi morto a tiros na Câmara Federal pelo seu colega da oposição, o gaúcho Simões Lopes.

A morte do político governista já refletia a tensão que, meses depois, levaria à Revolução de 1930. Portanto, Souza Filho foi a manchete, não Roberto -até mesmo no jornal do pai deste. Claro que, com Roberto também morto dali a dois dias, ‘Crítica’ passaria os meses seguintes dando sua foto na primeira página e exigindo justiça. Conto essa história no meu livro ‘O Anjo Pornográfico’, sobre o irmão de Roberto, Nelson Rodrigues.

No dia 22 de dezembro de 1940, o escritor americano Nathanael West morreu em um acidente de carro. Não era famoso -ninguém dera bola para seus livros, um deles ‘O Dia do Gafanhoto’. De qualquer maneira, os jornais não teriam muito espaço para West. Na véspera, morrera em Hollywood seu amigo F. Scott Fitzgerald, para quem a imprensa estava abrindo páginas.

A 22 de novembro de 1963, Aldous Huxley morreu em Los Angeles. Era um totem do pensamento moderno. Mas deu a pouca sorte de que, poucas horas antes, o presidente John Kennedy fosse assassinado em Dallas. Os jornais quase o ignoraram.

E, nesta quinta, a estrela Farrah Fawcett perdeu sua batalha contra o câncer. Sua bravura passará despercebida, porque ela morreu no mesmo dia que Michael Jackson. É cruel, mas isso nos poupará de vê-la decaída. Na fantasia dos homens, Farrah será sempre aquela suma de olhos, dentes e cabelos que iluminou os anos 70 em fotos e na TV.’

 

Painel do Leitor

Michael Jackson

‘‘A manchete de ontem impressiona o mundo: ‘Michael Jackson morre aos 50’.

Morre o ícone, imortaliza-se o mito. Quem nunca tentou imitar o seu modo de dançar? O julgamento da sua vida pessoal é puro moralismo. A verdade é que o mundo perde um excelente artista.’

MÁRCIO ALEXANDRE DA SILVA (Assis, SP)

‘O mundo perdeu anteontem um de seus maiores artistas.

Quando criança, ele já empolgava plateias com sua voz suave. Depois de adulto, foi um fenômeno nas suas apresentações.

Sempre explorado por muitos oportunistas de plantão, inclusive familiares, Michael foi à falência, mas, em julho próximo, certamente daria a volta por cima com as dezenas de shows que faria na Europa -com os ingressos todos vendidos antecipadamente. Segundo a mídia especializada, os espetáculos renderiam mais de US$ 50 milhões.

Michael Jackson foi um ídolo em toda as partes do planeta.

Aqui no Brasil, há milhares de jovens chamados Maicon, nome dado aos filhos pelos pais em homenagem ao astro. Lamentável que uma parada cardíaca nos tenha levado precocemente o cantor e ‘showman’ de apenas 50 anos de idade. Tudo produto de suas manias e cismas em querer ser branco, o que repercutiu violentamente em seu organismo e na sua saúde.

Que ele descanse em paz! Seus LPs, CDs e clipes estarão sempre conosco para nos lembrarmos.’

FERNANDO CEZAR (Petrópolis, SP)

‘Infeliz a maneira como o cantor Paulo Ricardo iniciou o seu texto a respeito da morte de Michael Jackson (‘Obra-prima ‘Thriller’ custou a vida de Michael’).

Não quero ofender, mas, se Michael Jackson já estava morto, o que acontece com Paulo Ricardo?

Se Michael Jackson já estava morto, o que significaram os ingressos esgotados para os seus 50 shows em Londres?

Lamentável a Folha ter escolhido Paulo Ricardo para falar sobre um astro mundial. O Brasil tem artistas mais bem qualificados para isso.’

ADRIANA FRANCO (São Bernardo do Campo, SP)

‘Morreu Michael Jackson, uma grande perda para o mundo artístico. Para mim, sua vida merece duas reparações: primeiro, renegou sua raça, mudando por meios artificiais a cor da sua pele; segundo, modificou completamente a sua fisionomia por meio de operação plástica no rosto.

Concordo com Paulo Ricardo quando diz que o cantor morria à medida que perdia sua cor.’

ANTONIO BRANDILEONE (Assis, SP)’

 

Ronaldo Lemos

TMZ representa o mundo em transição

‘Em paralelo às notícias da morte do Rei do Pop, outra notícia que ganhou destaque em menor escala foi a de que as TVs, os rádios e os jornais do mundo foram ‘furados’ pelo site TMZ, especializado em fofocas de celebridades.

Enquanto a mídia tradicional lutava contra o tempo para confirmar a morte do astro, o TMZ já proclamava que ele havia sofrido uma parada cardíaca. E, pouco tempo depois, destemidamente afirmava que Jackson havia morrido.

Essa notícia paralela chama a atenção por pelo menos dois pontos. O primeiro é o mais óbvio. A internet, em toda a sua diversidade e complexidade, estabelece um canal direto muito mais rápido para a produção de notícias. Cada vez mais, ela terá impacto mais direto na esfera pública.

A criação de ‘notícias’, antes privilégio da mídia tradicional, tornou-se e irá se tornar cada vez mais descentralizada, valendo-se de Twitter, Facebook, YouTube, blogs, celulares e o que vier depois. Esse fato, em si, chama para a reinvenção da mídia tradicional. É preciso se reinventar para não se tornar caixa de ressonância do que todo mundo já ficou sabendo antes. Já vi teses de doutorado e editores de jornal dizendo que a situação atual é a inversa. Que a internet é a caixa de ressonância da mídia tradicional. Há um quinhão de verdade nisso. Mas a tendência, como o caso Michael Jackson denota, é que a situação se inverta.

O segundo ponto é verificar que o TMZ, que vem sendo apontado como herói das ‘novas mídias’, na verdade é ligado à Time-Warner. Nada mais mídia tradicional do que isso. No entanto, vale notar que seu formato é muito mais próximo de um blog/tablóide do que de um jornal tradicional.

É como se o navio Time-Warner tivesse lançado uma lancha de alta velocidade no oceano das notícias. Essa ‘lancha’ não tem as amarras do jornalismo tradicional, pode se mover a uma velocidade muito maior e, sobretudo, não tem de obedecer aos protocolos de segurança do grande navio.

Em outras palavras, as regras de cautela, apuração e confiabilidade não são as mesmas para o site. Ele pode correr riscos. E, por conta disso, por ser um produto híbrido entre nova e velha mídia, talvez tenha sido destemido ao afirmar com tanta segurança a morte de Michael Jackson.

A morte de Michael Jackson e a forma como foi noticiada simbolizam um mundo em transição. Ninguém sabe ainda para onde irá o jornalismo e como será formada a esfera pública nos próximos anos. E os desafios são enormes. Como reinventar não só as formas de participação, mas também uma ética nova para a rede, uma ética que não seja nem ingênua nem obsoleta? E que não seja imposta, mas sim construída.

O fato é que não existe marcha a ré nesse processo, para desespero dos saudosistas e das viúvas do velho mundo. Vamos ter de aprender a reinventar tudo a 1.000 quilômetros por hora. É hora de experimentação. É hora de renovação de paradigmas. E de lembrar que o mundo em que foi possível existir alguém como Jackson não existe mais.’

 

TRANSPARÊNCIA
Fernando Rodrigues

Um copo meio vazio

‘BRASÍLIA – É tolice acreditar em promessas de políticos sobre transparência. A adoção de práticas mais abertas é algo atípico no âmbito do serviço público. A prestação de contas espontaneamente não existe como um valor estabelecido na cultura brasileira.

Quando eclodiu a onda de escândalos no Congresso neste ano -já são mais de 60 casos-, os presidentes da Câmara, Michel Temer, e do Senado, José Sarney, sacaram rapidamente do coldre o velho discurso de ‘transparência total’.

Seria má vontade só desprezar os resultados apresentados. Alguma coisa foi colocada à disposição na internet. Mas há ainda um caminho longo pela frente.

O caso das verbas indenizatórias é emblemático. Um salário disfarçado, o benefício existe há quase uma década. O valor mensal é de R$ 15 mil (senadores) e varia de R$ 23 mil a R$ 34,2 mil (deputados). Só a partir de abril deste ano o uso do dinheiro passou a ser divulgado em detalhes. O passado foi enterrado.

Foram perdoados, por tabela, os sabe-se lá quantos delitos cometidos no emprego desses recursos. Não se fala mais a respeito.

Agora, o Senado ameaçou divulgar os nomes e os salários de todos os cerca de seus 10 mil funcionários. Outra promessa cumprida pela metade. Só apareceram os nomes. Nada de divulgar o valor dos vencimentos de cada um.

Já é um avanço ter a lista de nomes de quem trabalha no Senado. Na Câmara, esse documento não existe para consulta pública.

Nos próximos dias, o Senado promete também permitir consultas mais avançadas em seu site, com o cruzamento de nomes e de valores de despesas. Será mais um degrau na criação de um mecanismo de cobrança de responsabilidade.

Esses pequenos movimentos ainda representam um copo mais vazio do que cheio. Mas são bons efeitos produzidos pela atual crise.’

 

Planalto colocará blog no ar em 30 dias, diz ministro Franklin

‘O anúncio foi reforçado por Dilma Rousseff, que afirmou que há mais de 1 milhão de blogs no Brasil e 75% dos blogueiros têm até 25 anos. Em Porto Alegre, Lula elogiou os blogs e disse que a rapidez da internet mudou a forma como as pessoas se informam. ‘A imprensa não tem mais o poder que tinha. A informação já não é mais uma coisa seletiva, em que os detentores podem dar golpe de Estado.’’

 

Presidente ataca ‘denuncismo desvairado’

‘Em entrevista ao grupo de mídia RBS, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou de ‘denuncismo desvairado’ as revelações de irregularidades no Congresso e disse que nenhum senador vai renunciar ao mandato em razão dos escândalos. ‘Eles vão se acertar e prestar contas.’

Com a declaração, Lula reiterou o apoio que tem dado ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), desde que a crise começou, e indica que o petista vai se manter fiel ao aliado, apesar das sucessivas denúncias.

O presidente chegou a argumentar que o foco nas irregularidades do Senado, em lugar de atenção ao que considera números positivos da economia, prejudica o combate à crise financeiro-econômica mundial.

‘Não critico a imprensa por conta do Senado. É pelo denuncismo desvairado que às vezes não tem retorno. Há uma prevalência da desgraça sobre as coisas boas. (…) A nação precisa de boas notícias, de autoestima para poder vencer esse embate com a crise internacional’, disse.’

 

ESCÂNDALOS
Cesar Maia

Ken Starr e Joseph McCarthy

‘ESCÂNDALOS envolvendo políticos são tão antigos quanto a própria história. Hoje esses registros, feitos com imagens, vozes e documentos gravados, são multiplicáveis ao infinito. Investigados e investigadores são atores deste drama. Os poderes têm regras para investigar e penalizar.

As pessoas, associações civis e meios de comunicação podem ser parte desses processos, investigando, denunciando ou opinando. A luminosidade dada a certos fatos, destacando os que investigam, denunciam e acusam, algumas vezes os atrai para o ‘estrelato’ e o objetivo passa a ser a autoexaltação.

Dois documentários tratam de situações desse tipo. Um deles, ‘A Caça ao Presidente’, de H. Tomason e N. Perry, é sobre o promotor que tratou por anos de escândalos com Clinton. O outro, ‘Os Anos McCarthy’, especial da CBS com Walter Cronkite, é sobre o embate entre o legendário jornalista Ed Murrow e o senador McCarthy.

No primeiro, a ‘estrela’ era o promotor Ken Starr, investigador pleno da vida de Clinton, das amantes até o caso Whitewater (um negócio imobiliário do qual os Clinton participaram). A busca desesperada por depoimentos terminou com polpudas indenizações às ‘namoradas’, com um suicídio e a condenação a dois anos de prisão de quem nada tinha a ver com nada. Os ‘namoros’ de Clinton não implicavam em seu impedimento para governar. O caso Whitewater terminou em tragédias pessoais por efeito colateral, sem chegar ao alvo alucinante de Ken Starr: Bill Clinton.

O senador Joseph McCarthy (1950 e 1954) abriu fogo contra tudo e todos os que poderiam ter qualquer relação com o que ele entendia por comunismo. Fatos de 20 anos antes, mera leitura de jornais sindicais etc., eram evidências pré-julgadas.

Ed Murrow -com seu foco no detalhe- destacou dois casos de pessoas simples incluídas pela mente doentia de McCarthy: um tenente, cujo pai e irmã teriam tido algum contato socialista, foi julgado e expulso da Aeronáutica; uma servente que teria trabalhado no setor de decodificação do Pentágono e cujo marido teria comprado, uma vez, um jornal de esquerda.

Ed Murrow desintegrou as duas acusações, gerando uma solidariedade ampla com os acusados (‘poderia ser qualquer um de vocês’).

O tenente foi readmitido. A servente não havia trabalhado no setor -era homônima. Desmoralizado nos dois casos, McCarthy declina e termina denunciado pelos excessos, no próprio Senado. Ed Murrow, na última locução sobre o caso, olhando como sempre para a câmera, em diagonal, de baixo para cima, arrematou: ‘A fronteira entre a investigação e a perseguição é uma linha tênue’. Anos depois, essa mesma máxima serviu para vestir Ken Starr.’

 

PUBLICIDADE
Cristiane Barbieri

Em Cannes, publicitários apoiam ação contra aquecimento global

‘Juntar o poder da comunicação e a criatividade dos principais publicitários e anunciantes do mundo para pressionar os líderes globais. Essa foi a proposta feita ontem pelo Nobel da Paz Kofi Annan, pelo músico Bob Geldof e por outras personalidades no lançamento da campanha ‘tck tck tck Tempo de Justiça para o Clima’, no Festival Internacional de Publicidade de Cannes.

A campanha visa criar um movimento global para que sejam tomadas medidas eficientes para a redução da emissão de carbono e do aquecimento global, durante a reunião que substituirá o Protocolo de Kyoto, a ser realizada em Copenhague, em dezembro.

‘Vocês são as pessoas que influenciam outras pessoas a tomar decisões de consumo, a mudar de um produto para o outro’, afirmou Annan.

Além de contar com sugestões dos próprios publicitários, a campanha envolve diversas iniciativas. Numa delas, agências e empresas poderão colocar em seus próprios anúncios o logotipo da campanha. Gratuito, está disponível na página da internet timeforclimate justice.org. A BrasilPrev pediu à sua agência para usá-lo na campanha que será lançada domingo.

Quem quiser participar do movimento poderá baixar a canção ‘Beds Are Burning’, reescrita pela banda Midnight Oil para a campanha. Nos moldes de ‘We Are the World’, do movimento USA for Africa, a música está sendo regravada por vários artistas e estará disponível em setembro, no mesmo site. Cada download contará como uma assinatura, numa petição digital pelo tema.

Também há a possibilidade de gravar o tique-taque do relógio, que a campanha tenta reproduzir com o ‘tck tck tck’, no site. A ideia é mostrar que o tempo que as pessoas têm para mudar a situação de risco é curto. Há ainda braceletes e cordões, vendidos como forma de apoio ao movimento.

‘Existe uma grande relação entre os países desenvolvidos e o aumento da pobreza causada pelas mudanças climáticas’, afirmou Geldof, que lamentou a morte de Michael Jackson, coautor de ‘We Are the World’ com Quincy Jones. ‘Corremos o sério risco de ver a raça humana desaparecer, Mais importante do que gastar trilhões com a crise financeira é voltar todos os esforços para evitar catástrofes como as que já estamos vivendo.’

Geldof descreveu tragédias que ocorrem na África, onde continua trabalhando. Lembrou que Cannes nem qualquer outro lugar do mundo se salvará com o aumento da temperatura e uma desertificação global. Ao lado de Annan, Geldof foi longamente ovacionado.

Publicitários e clientes pareciam ter gostado da ideia de colocar o movimento em suas campanhas. Entre as empresas que já o adotaram, estão o banco HSBC e a francesa EDF.’

 

***

Brasil deve encerrar festival com 32 prêmios

‘O Brasil deve encerrar o 36º Festival Internacional de Publicidade de Cannes com 32 Leões. Apesar de no ano passado o país ter conseguido 41 prêmios, o resultado obtido em 2009 não é ruim. Agências e anunciantes brasileiros inscreveram neste ano 40% menos peças do que em 2008. A premiação, porém, caiu 22%.

Em 2008, o país conquistou apenas um Leão de ouro. Neste ano, a expectativa é que sejam sete de ouro, 11 de prata e 16 de bronze.

Os dados finais serão divulgados hoje, com a revelação dos vencedores das categorias filmes e Titanium, a área das novas ideias.

Segundo informações extraoficiais, o Brasil teria conquistado três Leões em filmes, sendo um ouro para o comercial ‘Cachorro-Peixe’, feito pela AlmapBBDO para o SpaceFox da Volkswagen.

Em Titanium, mais uma vez o Brasil não teve nenhum classificado. Os EUA criaram 14 das 23 finalistas da categoria. Entre elas, a campanha política que levou Barack Obama à Presidência do país. Essa é a franca favorita a levar o prêmio máximo.

A agência brasileira mais premiada neste ano foi a DM9DDB, com nove Leões no total. ‘Cannes tem o lado da competição, que é muito importante, mas tem também o lado do aprendizado’, afirma Sérgio Valente, presidente da DM9. ‘É o que fazemos aqui’, diz.’

 

LITERATURA
Marcos Strecker e Sylvia Colombo

Festa de vaidades

‘Um cantor, um biólogo, um historiador superstar, um jornalista da velha-guarda, um crítico de música erudita, uma artista plástica, uma crítica de arte, vários quadrinistas.

A Festa Literária Internacional de Paraty, que chega à sua sétima edição na próxima quarta-feira, está menos literária?

O diretor de programação Flávio Moura discorda. ‘Essa é uma característica da Flip desde o início’, disse. ‘Quem pensa na primeira edição (2003) logo se lembra de Eric Hobsbawm, que era historiador. A Flip tem o caráter de uma festa dos livros, é um evento cultural.’

Optar por nomes que se notabilizaram fora do mundo literário talvez seja a forma de compensar a falta de estrelas da literatura. Certo, o português António Lobo Antunes fará uma visita histórica. Mas é o único ficcionista que pode-se dizer com carreira de peso. E é mais famoso no resto do mundo lusófono do que no Brasil.

Anne Enright, Edna O’Brien e James Salter são nomes premiados e reconhecidos. Mas estão longe do status de estrelas de primeira grandeza que já caminharam pelas ruas da cidade histórica, como Ian McEwan, J.M.Coetzee, Orhan Pamuk, Salman Rushdie, Toni Morrison, Nadine Gordimer, Paul Auster e Martin Amis.

Fogueira das vaidades

Se não representa propriamente o primeiro time dos romancistas contemporâneos, a seleção 2009 inclui nomes acostumados à fama que prometem mobilizar muitos fãs.

Estarão na festa nomes acostumados a viajar para falar a grandes públicos, que têm experiência em fazer debates-show e são recebidos com muita festa e atenção midiática.

Chicólatras não vão perder a segunda participação do cantor Chico Buarque na Flip (a outra foi em 2004).

Para quem é chegado em ciência, o neodarwinista Richard Dawkins desembarca embalado pelas comemorações do bicentenário de nascimento de Charles Darwin. Explicará seu ceticismo com a religião.

Simon Schama, historiador pop e divulgador científico de sucesso na BBC, fala sobre os EUA da era Obama. Gay Talese, um dos papas do ‘new jornalism’, discorre sobre literatura e sobre o futuro do jornalismo.

Uma mesa que promete é a do casal encrenca: a artista plástica Sophie Calle e o jornalista Grégoire Bouillier, ex-namorados, usam suas vidas privadas como fonte para prosas experimentais.

A crítica de arte Catherine Millet também deve fazer barulho -foi ela quem escandalizou a França com os relatos pornoconfessionais de ‘A Vida Sexual de Catherine M.’, que vendeu mais de 1,2 milhão de exemplares.

Os fãs de HQ poderão ouvir os quadrinistas Fábio Moon, Gabriel Bá, Rafael Grampá e Rafael Coutinho. Críticos do regime comunista e radicados no exterior, Ma Jian e Xinran discutem o futuro da China. Para quem gosta de música erudita, o crítico da ‘New Yorker’, Alex Ross, fecha o time.

E, para lembrar que a festa também é literária, vale comentar o nome forte que deve defender a honra dos ficcionistas: António Lobo Antunes, que há mais de 25 anos não vem ao país. Polêmico, considera José Saramago um rival.

Menos autores

Sobre a diminuição do número de convidados (de 42 para 33), Moura diz que isso aconteceu apenas para abrigar melhor nomes consagrados, como Richard Dawkins -que fazem aparição-solo em suas mesas.

A Flip conseguiu projeção internacional pelas estrelas que frequentaram suas primeiras edições. Mas já entrou na agenda dos festivais literários internacionais? Influencia escritores, editores e agentes?

O agente literário Andrew Wylie, famoso por cuidar de autores como Philip Roth, diz que os escritores ‘adoram a Flip’.

Anne-Solange Noble, diretora de direitos estrangeiros da editora Gallimard, diz que ouve falar do festival há bastante tempo, principalmente ‘pelos amigos ingleses’, por causa da importância da fundadora Liz Calder. ‘Mas a Flip é conhecida sobretudo no mundo anglo-saxão.. Se o festival deseja se desenvolver de uma forma realmente internacional, deve ficar aberto ao mundo ‘não’ anglo-saxão.’ Pura vaidade gaulesa.

Para a fundadora Liz Calder, que atualmente tem um papel de colaboradora e uma espécie de ‘cartão de visitas’ da Flip, a festa ‘é respeitada porque aqueles que já participaram falam dela de forma calorosa’. Segundo ela, Tom Stoppard, a estrela de 2008, ‘disse que recomendaria a Flip a todos os seus amigos’. Ela lembra que algumas pessoas ‘diziam que o Brasil é muito distante e perigoso. Isso foi um problema no início, mas diminuiu’.

Orçamento

Apesar do momento econômico difícil e da diminuição dos convidados, não se fala em crise. O diretor-geral da Flip, Mauro Munhoz, diz que o custo do evento será parecido com o de anos anteriores -cerca de R$ 3 milhões. Moura diz que ‘nenhuma questão orçamentária bateu na programação’.

A Casa Azul, ONG que organiza a Flip, planeja reformar a praça da Matriz. A ideia é construir bancos e rampas de acesso, enquanto parte do piso será cimentado. Para o projeto, já foi aprovada a captação de R$ 900 mil pela Lei Rouanet.’

 

Raquel Cozer

Chico é o autor mais concorrido da Flip

‘Richard Dawkins e Gay Talese nem chegaram perto. O maior fenômeno de venda de ingressos desta Flip -e de todas as edições desde, pelo menos, 2005- foi Chico Buarque.

‘Nunca vi nada parecido’, diz Wellington Leal, coordenador financeiro do evento há cinco edições, tempo em que viu passarem por Paraty nomes como Salman Rushdie, Will Self e Neil Gaiman. ‘Ele foi disparadamente o mais concorrido.’

Mesmo com a lentidão na venda pelo site e pelo telefone, os 850 ingressos para ver o autor de ‘Leite Derramado’ na Tenda dos Autores esgotaram-se em uma hora -as outras mesas da tenda principal tiveram ingressos por até quatro horas.

Chico também foi o primeiro autor cujos ingressos para a Tenda do Telão acabaram em menos de 24 horas, diz Leal. Devido à procura, a tenda passou de 1.200 para 1.400 lugares depois do início das vendas.

Ainda é possível comprar entradas para ver, no telão, outros grandes nomes desta edição, como Alex Ross, Simon Schama, Catherine Millet e Anne Enright. Estão lotadas as duas tendas de Dawkins, Talese, António Lobo Antunes e Sophie Calle. Como nos anos anteriores, pode ser possível conseguir ingressos em Paraty se houver desistências. ‘Só não recomendo expectativa para ver o Chico ou o Dawkins’, ressalva Leal.

As vendas continuam, enquanto houver ingressos, até a meia-noite de terça, pelo site www.ingressorapido.com. br, nos pontos de venda e pelo tel. 4003-1212 (sem DDD). A partir do dia 1º/7, os ingressos que restarem serão vendidos só em Paraty, a R$ 10 (Tenda do Telão) e R$ 30 (Tenda dos Autores, no caso de desistências).

Até dia 5, quanto termina o evento, será possível ainda ver na Casa da Cultura autores como o afegão Atiq Rahimi (atração também da Tenda dos Autores) e o norte-americano Jon Lee Anderson (que esteve na Flip de 2005), com ingressos a R$ 10, vendidos também a partir do dia 1º em Paraty.’

 

TELEVISÃO
Gustavo Villas Boas

Fenômeno da internet, Twitter conquista a TV

‘O apresentador da MTV Marcos Mion queria poder ter mandado um recado para Sílvio Santos falar na TV, ao vivo, nos anos 1980. Não poderia, já que naquela época não havia twitter, sistema de troca de mensagens supercurtas que cresceu dez vezes em um ano.

E quem imagina Silvio e seu microfone na lapela usando o microblog? A ‘missão’ ficou a cargo de sua filha Patrícia Abravanel que usa o Twitter para cutucar a concorrência ou falar sobre a novela ‘Véu de Noiva’.

A lista de personalidades da TV brasileira que aderiu ao Twitter é variada. Também estão lá a superpop Luciana Gimenez e o tradicional ‘Roda Viva’. Assim como o ‘Descarga’, de Mion, que exibe mensagens enviadas pelo site.

‘Sempre me mandam coisas engraçadas’, diz Mion. Ele considera o serviço uma forma de fidelizar a audiência. ‘Imagina, quando eu era moleque, ouvir o Sílvio falar: ‘olha o que o Mion mandou’. Agora eles [público] podem’.

‘É a TV multiplataforma. Eu acompanhei a final da NBA [há duas semanas] pela televisão e vi os comentários do Shaquille O’Neal pelo Twitter. Você tem ideia do que é isso?’, conta.

O astro do basquete é uma das pessoas mais seguidas no serviço. Entre os brasileiros, as contas pessoais dos apresentadores do ‘CQC’, o perfil do ‘Fantástico’, o técnico do Corinthians Mano Menezes e Marcos Mion estão entre os mais populares..

Luciano Huck entrou há 20 dias e já está nesse rol. Ele, que nunca teve ‘MySpace, Orkut, nem nada’ acha o Twitter eficiente, mas minimiza o retorno em audiência proporcionado pelo microblog -e nem pretende misturar as coisas.

‘O legal é falar como pessoa física, dar links de músicas, dicas’, diz. No entanto, ele já falou sobre os bastidores de seu programa no site.

Século 21

Foi uma megacelebridade da televisão norte-americana a responsável por fazer o Twitter deixar de ser um site adotado por usuários intensivos de internet e se tornar conhecido por pessoas comuns. Em abril, a apresentadora Oprah Winfrey disse ‘se sentir no século 21’ por adotar o site.

No dia seguinte, 37% de todos os acessos era de novos visitantes, de acordo com a empresa de pesquisa Hitwise.

Antes da entrada de Oprah no Twitter, o ‘Roda Viva’ já experimentava o recurso. ‘Usar essas ferramentas interativas no ‘Roda’ é uma forma de dialogar com uma audiência muito importante para a ‘Cultura’, os jovens’, diz Ricardo Mucci, coordenador de novas mídias da emissora.

O programa de entrevistas já convidou twitteiros -como são chamadas as pessoas que mandam mensagens pelo serviço- para participar da gravação do programa. ‘Eles falam sobre o clima da gravação, sobre as reações do entrevistado.’

‘É uma forma de atrair e tornar fiel uma audiência nova para o programa. Eles também conseguem assistir ao vivo pela internet e até mandar perguntas pela página do ‘Roda’, diz.’

 

 

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