ELEIÇÕES NOS EUA
O preço da democracia
‘RIO DE JANEIRO – Não me dei ao respeito de acompanhar a complicada e dispendiosa sucessão presidencial dos Estados Unidos. Ao contrário da mídia internacional, que se empolgou desde cedo com a possibilidade do candidato Obama sair vitorioso na próxima terça-feira, preferi ficar na minha, com ocupações e preocupações de um alienado assumido.
Agora, na reta final da campanha, fiquei sabendo que o Partido Democrata gastou uma baba para comprar um horário nas principais redes de televisão norte-americana. Tudo legal, dentro das regras do jogo de um país que adota o capitalismo liberal.
Pessoalmente, sou descrente da democracia representativa tal como ela vem sendo operada em todas as partes do mundo em que há eleições para a renovação dos quadros dirigentes. O poder econômico, que se expressa no poder financeiro, é invariavelmente o fator decisivo para a vitória de um ou outro candidato. A criatividade do animal político -o homem- ainda não encontrou alternativa para processar a consulta ao povo. Prevalece o princípio da força, nem sempre militar, mas sempre econômica: quem não pode não se estabelece.
Não tenho esta fórmula alternativa nem pretendo tê-la. Tampouco me preocupo com isso. Simplesmente constato que as eleições, desde a do síndico de um prédio a de um novo papa, sempre pagam algum tributo (ou todos os tributos) aos poderosos da vez.
As conseqüências são inevitáveis. George W. Bush, o satã mais ostensivo do nosso tempo, foi eleito e reeleito pelo mesmo sistema. Em 1933, a democracia de Weimar elegeu Adolf Hitler. Nos países totalitários, há eleições periódicas sempre ganhas pelo ditador de plantão. Há que se descobrir um tipo de democracia que não compre nem bajule a vontade do cidadão.’
Sérgio Dávila
Menos negro, menos herói
‘A PRIMEIRA MENÇÃO ao nome Barack Obama no arquivo do jornal ‘New York Times’ é de 6 de fevereiro de 1990. O título da reportagem: ‘Primeiro negro eleito para comandar a ‘Law Review’ de Harvard’. Uma das primeiras citações do jornal ao nome de John McCain é de 28 de outubro de 1967: ‘Filho do almirante McCain, sobrevivente do ‘Forrestal’, está desaparecido em ataque’.
A primeira se refere à prestigiosa publicação da Escola de Direito da Universidade Harvard. A segunda, à queda do avião no então Vietnã do Norte que o tenente da Marinha pilotava -’Forrestal’ era um porta-aviões destruído em incêndio quatro meses antes, e do qual McCain era um dos sobreviventes.
Na entrevista de 1990, dada a Fox Butterfield, prêmio Pulitzer por ter trabalhado na revelação dos ‘Papéis do Pentágono’, sobre os desmandos dos EUA no Vietnã, um Obama de 28 anos dizia que o fato de ter sido eleito mostrava ‘progresso’ e ‘encorajava’: ‘Mas é importante que não se usem histórias como a minha para dizer que tudo vai bem para os negros’, argumentava: ‘Você tem de se lembrar que, para cada um como eu, há centenas ou milhares de estudantes negros com pelo menos o mesmo grau de talento que não têm chances’.
Na reportagem de 1967, assinada de Saigon por R. W. Apple Jr. (1934-2006), que viraria um dos nomes mais importantes do jornal, o repórter lembrava que, após o incêndio do porta-aviões, o filho do almirante tinha tido um ataque de consciência. ‘É difícil dizer’, afirmou McCain, meses antes da queda, ‘mas depois que eu vi o que as bombas e o napalm fizeram ao pessoal do nosso navio, não estou certo se quero mais jogar essas coisas no Vietnã do Norte’.
Dentro de dois dias, na eleição presidencial mais empolgante e também das mais longas das últimas décadas, os Estados Unidos decidem quem colocam na Presidência do país, se Barack Obama, 47, ou John McCain, 72.
Não será injusto dizer que o primeiro chegará menos negro ao cargo. Durante a campanha, o democrata deixou de lado seu discurso pelas minorias e se apresentou ao país como ‘pós-racial’. Foi a maneira que encontrou de atrair parte da classe média que reluta em votar num não-branco e sem a qual não se ganha eleição nos EUA.
Também McCain chega à reta final menos herói. Assim como não levou adiante o desejo de não bombardear o inimigo em 1967 -foi atingido em missão de ataque a uma usina-, o republicano abriu mão da independência que marcaria sua carreira política por ataques negativos que mancharão para sempre sua biografia.
Ainda assim, não importa o escolhido, será um pleito histórico.
SÉRGIO DÁVILA é correspondente da Folha em Washington.’
Paul Krugman
O dia D [de dólar]
‘Um ano atrás eu achava que sabia o que aconteceria nesta eleição: seria um referendo sobre as políticas econômicas conservadoras, levando a uma grande vitória democrata e a uma mudança fundamental na direção do país. Então, durante alguns meses agônicos, pareceu que eu poderia estar completamente errado. Mas, a esta altura, pouco antes de os eleitores irem às urnas, volto à minha previsão inicial.
Em meu último livro, ‘The Conscience of a Liberal’ [A Consciência de um Liberal], afirmei que o movimento conservador que hoje domina o Partido Republicano adotou políticas que promovem a desigualdade e a insegurança e deixaram a grande maioria dos americanos em pior situação.
O GOP [Grand Old Party, como é conhecido o Partido Republicano], não obstante, conseguiu vencer eleições por meio de políticas de identidade -principalmente explorando o ressentimento racial branco.
Mas, argumentei, as políticas de identidade estavam perdendo a eficácia, porque os Estados Unidos se tornaram mais tolerantes e, grosso modo, menos brancos. Em conseqüência, a era do predomínio conservador havia terminado.
A eleição legislativa de 2006, que pôs um fim abrupto à permanente maioria republicana, pareceu confirmar minha tese.
Aquela eleição deu aos democratas uma maioria mais ampla na Câmara do que os republicanos jamais alcançaram em seu reinado de 12 anos.
Além disso, essa nova maioria democrata é muito mais solidamente progressista do que a aliança pré-1994 entre os liberais do norte e os ‘dixiecratas’ [ala de direita dos democratas sulinos].
E eu esperava que a eleição de 2008 continuasse e cimentasse essa mudança de poder, levando por sua vez a uma transformação das políticas federais -um novo ‘New Deal’ [plano de recuperação econômica dos anos 1930].
Sem o fio da meada
Por um momento, porém, os democratas em geral, e Barack Obama, em particular, pareceram ter perdido o fio da meada.
Em vez de atacar o histórico econômico republicano, Obama passou a temporada das primárias e as primeiras semanas da campanha para a eleição geral pintando-se como um político ‘pós-partidário’, alguém que transcenderia a divisão política tradicional.
Em seus discursos, ele tendeu a culpar igualmente os dois partidos pelos problemas do país, denunciando igualmente os fracassos políticos da direita e da esquerda.
E, quando falava de economia, parecia fazer o possível para evitar marcar pontos políticos: no início de agosto, ainda falava sobre como as rendas tinham aumentado ‘durante a década de 1990’ e caído ‘nos últimos anos’, de certa forma deixando de mencionar que os anos bons haviam sido sob um presidente democrata e os anos maus, sob um republicano.
A falta de uma narrativa econômica firme por parte de Obama permitiu que a campanha de John McCain, hoje dirigida por discípulos de Karl Rove [estrategista das campanhas eleitorais de George W. Bush], fizesse duas coisas.
Primeira, conseguiu apagar a questão de quem oferecia ‘mudança’ -porque, se mudança não fosse definida claramente como uma rejeição às políticas econômicas conservadoras, John McCain também poderia alegar ser um candidato pró-mudança.
Segunda, sem a economia em primeiro plano, havia espaço para uma nova versão da antiga política de identidades.
Não importam os detalhes da política, era a mensagem de McCain, Obama não é um de nós -ele é uma celebridade, não como Sarah Palin, a ‘mamãe do hóquei’.
E as táticas de McCain foram eficazes.
No início de setembro, parecia que o aparentemente impossível poderia acontecer: uma vitória republicana em um ano em que tudo -a situação da economia em curto prazo, a estagnação da renda dos americanos em longo prazo e a antipatia do público pelo governo Bush- favorecia extremamente os democratas.
Mas tudo isso mudou nas últimas semanas. Parte do que mudou, é claro, foi o agravamento da crise financeira -a queda do Lehman Brothers, o pânico nos mercados e a admissão pelo governo Bush da necessidade de uma enorme ajuda do Estado.
Mas algum crédito também deve ir para Obama, que reagiu a sua queda nas pesquisas tornando-se muito mais eficaz ao transmitir a mensagem econômica democrata.
Veredicto final
Hoje em dia, ele não tenta culpar igualmente a direita e a esquerda, mas denuncia ‘uma filosofia econômica que diz que devemos dar cada vez mais àqueles que têm mais e esperar que a prosperidade escorra para todos os outros’ e descreve a crise como ‘um veredicto final sobre essa filosofia fracassada’.
Em outras palavras, soa muito como Bill Clinton em 1992. E isso é bom.
Então a eleição será um referendo sobre as políticas econômicas, afinal. E, embora em política nada seja garantido, as probabilidades são de que esse referendo realmente produza uma grande vitória de Obama e seu partido.
O que vão fazer com essa vitória é outra questão, mas, por enquanto, pelo menos, as perspectivas de um novo ‘New Deal’ parecem promissoras mais uma vez.
PAUL KRUGMAN é professor de economia e relações internacionais na Universidade Princeton e colunista do ‘The New York Times’. Ganhou há duas semanas o Prêmio Nobel de Economia.
Este texto saiu no ‘New York Review of Books’. Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves .’
Timothy Garton Ash
Cá entre nós
‘Do meu posto de observação em Stanford, Califórnia, e de minha condição de inglês, europeu e viciado em notícias via TV a cabo e internet 24 horas por dia, percebo que muitos norte-americanos continuam a sofrer de uma tocante ilusão de que a atual eleição é assunto deles.
Curioso. Eles não compreendem? Essa eleição é nossa. A eleição do mundo. Nosso futuro depende dela, e a vivemos de maneira tão intensa quanto os norte-americanos. A única coisa que nos falta é o voto.
O mundo pode não ter voto, mas tem candidato. Uma pesquisa do serviço mundial da BBC, conduzida em 22 países nos últimos meses, constatou que Barack Obama leva vantagem por margem de 4 a 1 sobre John McCain.
Quase metade dos entrevistados afirmaram que uma vitória de Obama ‘mudaria fundamentalmente’ sua percepção dos EUA. E uma mudança é certamente necessária. Ao longo dos dois mandatos do presidente George W. Bush, o Pew Global Attitudes Project, que administra uma série de pesquisas mundiais de opinião pública, documentou aquilo que qualquer pessoa que viaja pelo mundo sabe: uma perda substancial de posição, credibilidade, atração -e, portanto, poder- por parte dos EUA.
No contexto dos EUA, Obama é ‘negro’ ou ‘afro-americano’. Sua candidatura expõe uma vez mais como o fator anacronicamente designado como ‘raça’ -ou seja, o legado da escravatura e da segregação- representa o fundamento oculto da política dos EUA.
No contexto internacional, Obama é três coisas: primeiro, é um de nós -filho de um mundo cada vez mais misto e, agora, aspirante ao posto de homem mais poderoso nele.
Verdadeiramente cosmopolita: não apenas afro-americano, mas também um pouco havaiano, queniano, do Kansas, indonésio.
Auto-imagem
Segundo, ele não é George W. Bush. John McCain tampouco é Bush, mas é bem menos não-Bush. Por fim, personifica tudo aquilo que os estrangeiros ainda amam nos EUA.
Quando vou a Oxford e viajo pela Europa, sempre me encontro com jovens enfurecidos com os EUA. ‘Eu sou muito pró-européia, sabe?’, me disse uma estudante britânica.
Minha curiosidade foi despertada pelo fato raro -uma britânica pró-Europa!-, e perguntei o motivo. ‘Basicamente porque sou antiamericana, acho.’ Mas a verdade é que ela nada tinha de antiamericana, e eu apostaria meu último euro em que ela hoje é obamaníaca.
Em termos culturais, sociais e estéticos, ele representa os EUA que vivem profundamente na imaginação cotidiana dos jovens europeus, inspirados pelo suave poder do cinema, da música, da literatura e das séries de TV norte-americanas, como ‘Friends’, ‘ER’, ‘The West Wing’, ‘The Fresh Prince of Bel-Air’ e até mesmo ‘Jornada nas Estrelas’.
É algo que se pode ouvir em qualquer café em Oxford, vindo de um eslovaco, alemão ou chinês. Que alguém de origens modestas e imigrantes como Obama possa subir tanto também serve para renovar a imagem poderosa e positiva dos EUA como terra da oportunidade -uma auto-imagem americana que boa parte do mundo acatou, por menos que corresponda aos fatos estatísticos e à baixa mobilidade social para a qual apontam.
Alta expectativa
Caso seja eleito, descobrirá em poucos meses quanto da proporção da hostilidade mundial classificada frouxamente como ‘antiamericanismo’ é antiamericanismo de fato e quanto dela representa apenas uma violenta alergia -da qual muitos norte-americanos compartilham- a um presidente específico, a um dado conjunto de políticas e a uma determinada versão do americanismo.
Mas essa popularidade do candidato faz com que aquilo que esteja em jogo na eleição ganhe alarmante importância.
Porque as esperanças internacionais cresceram tanto, a decepção, caso Obama fracasse, seria devastadora.
O choque seria ainda maior dada a escolha de Sarah Palin como vice por McCain, já que ela, como Bush, reforça todos os clichês europeus sobre a alteridade (a excentricidade, o comportamento ao modo caubói e a caipirice) dos norte-americanos.
Essa decepção pode representar injustiça diante do real conteúdo da política externa de John McCain, mas, na política internacional, como nos mercados financeiros, a percepção responde por larga porção da realidade.
Caso os norte-americanos escolham McCain e Palin, depois de reelegerem Bush em 2004, não creio que seja exagero dizer que muitos europeus desistiriam deles.
É claro que os governos europeus não o fariam, mas teriam de operar nos limites que a decepção popular traçaria para sua realidade. Isso faria diferença para os EUA mesmo em um bom momento. E faria ainda mais diferença nos tempos em que vivemos.
Mesmo antes da crise financeira, a lista de problemas que se empilham nas caixas de correio do novo presidente dos EUA já era formidável.
Aliados e influência
Antes mesmo que a atual crise acrescentasse US$ 1 trilhão a uma dívida nacional já formidável, o poderio relativo dos EUA para realizar objetivos sem ajuda -isto é, de modo unilateral- havia se reduzido significativamente ao longo dos oito anos passados, e não menos devido ao renascimento de grandes potências como Rússia e China.
Alguma data próxima ao ano 2000 poderá ser definida pelos historiadores do futuro como o apogeu do poderio norte-americano. Em um mundo assim, a necessidade de aliados e credibilidade internacional é maior que nunca.
TIMOTHY GARTON ASH é professor de estudos europeus na Universidade de Oxford e autor de ‘Nós, o Povo’ (Cia. das Letras). Este texto saiu no ‘New York Review of Books’. Tradução de Paulo Migliacci.’
Stephen Humphries
O vilão midiático
‘Durante seus oito tumultuados anos no posto, o presidente George W. Bush foi retratado pela cultura pop como um caubói arrogante, uma marionete manipulada por Dick Cheney e o maior agressor à língua inglesa desde Dogberry, personagem de Shakespeare em ‘Muito Barulho por Nada’.
A cinebiografia do presidente por Oliver Stone (‘W.’) chega até mesmo a se concentrar nas dificuldades que supostamente existem entre ele e o pai.
E essas são as descrições mais gentis. Em ‘Let’s Impeach the President’ [Vamos Fazer o Impeachment do Presidente], o músico Neil Young o chama de mentiroso.
O cineasta Michael Moore, em ‘Fahrenheit 11 de Setembro’, o acusa de estar mancomunado com empresários petroleiros sauditas. E uma montagem de vídeos sobre a devastação causada pelo furacão Katrina leva o título ‘George Bush Não Liga Para os Negros’.
Bush não é de forma nenhuma o primeiro ocupante da Casa Branca a ser alvo de invectivas de artistas e intelectuais, e os confrontos desse tipo tendem a ser ácidos quando opõem um republicano a pessoas criativas e de esquerda.
Mas o governo do 43º presidente dos EUA representa um ponto de inflexão crucial no relacionamento entre a cultura popular e a política.
A proliferação de novas formas de mídia -junto com uma democratização nas comunicações que permite a qualquer pessoa com um modem se tornar cineasta, apresentador de TV ou comentarista- implicou que o atual presidente sofresse ataques muito mais severos do que qualquer de seus predecessores.
E, tendo em vista esse pano de fundo, Bush certamente encontrará muita dificuldade para controlar a narrativa final sobre os seus anos de governo.
‘Creio que o legado final de Bush será inteiramente determinado pela cultura pop’, diz Leslie Kreiner Wilson, diretora executiva do Americana – Instituto de Estudo da Cultura Popular dos EUA.
‘A cultura pop sempre teve algum impacto sobre a nossa percepção quanto aos presidentes, mas a explosão de mídia acontecida depois dos anos 1980 tornou as coisas muito mais difíceis para os presidentes do período, como Bill Clinton e George W. Bush’, diz.
Imitadores
Mas existe uma diferença profunda na paisagem de mídia atual, argumenta Donick Cary, criador de ‘Lil’ Bush’ e ‘The Adventures of John McCain’, desenhos animados do canal Comedy Central.
‘Há 40 anos, a sátira de um comediante ao presidente durava os 13 episódios anuais de ‘Saturday Night Live’, argumenta. ‘Agora, no dia seguinte a qualquer debate [presidencial], há 100 mil piadas e interpretações na internet e em programas na TV.’ De fato, o YouTube e a blogosfera produziram milhares de comentaristas, obcecados pela política presidencial.
Bush compreendia bem a importância eleitoral da cultura popular.
Em sua campanha de 2000, procurava acentuar sua imagem de homem comum. ‘Não creio que tenha sido por acaso que, por alguns anos, sempre ouvimos que Bush queria voltar ao seu rancho, capinar um pouco’, diz John Matviko, organizador de ‘The President in Popular Culture’ [O Presidente na Cultura Popular].
Mas essa imagem de caubói terminou por se voltar contra ele por dezenas de imitadores que, em programas de humor e no YouTube, criticavam Bush como um caipira que ‘subestima’ a importância da pronúncia correta.
‘Toda a presidência de Bush foi uma projeção de imagem, e o grande número de representações suas na cultura popular deriva logicamente disso’, diz Bernie Heidkamp, colaborador da ‘PopPolitics’.
Se era evidente que Bush não herdaria o manto de Ronald Reagan como ‘grande comunicador’, o 11 de Setembro lhe deu a oportunidade de se apresentar ao país como grande unificador.
Quando subiu em uma pilha de destroços no local das Torres Gêmeas e discursou com um megafone, sua aprovação nas pesquisas disparou.
Mas, por mais cuidadosamente coreografadas que fossem as imagens, não havia como resistir à crescente inquietação entre artistas e humoristas do país quanto à Guerra no Iraque e as cláusulas de restrições das liberdades civis na Patriot Act, a lei abrangente de combate ao terrorismo.
Não demorou para que os artistas da costa do Pacífico, boa parte dos quais esquerdistas, começassem a confrontar as crenças dos americanos comuns -e houve momentos em que as coisas ficaram bem feias.
Bush nunca deixou de ter defensores na blogosfera, mas até mesmo alguns de seus partidários terminaram por se desiludir com a condução da guerra pelo governo e sua reação ao furacão Katrina.
Pior, começaram a surgir questões cada vez mais freqüentes quanto à possibilidade de que o governo tivesse iludido o povo deliberadamente sobre as supostas armas de destruição em massa iraquianas.
Reviravolta
O momento em que Bush perdeu de vez a guerra cultural talvez tenha sido a temporada em que o seriado ‘24 Horas’, inicialmente uma espécie de animador de torcida para a postura do governo quanto à guerra contra o terrorismo, retratou o presidente fictício dos EUA como um vilão traiçoeiro.
Mas os defensores de Bush ainda acreditam que seu ‘histórico’ aos olhos da cultura pop será negado pela vitória, no longo prazo, de sua guerra contra o terrorismo.
‘Muita gente via Ronald Reagan como tolo ou como um caubói, mas a imprensa começou a perceber que ele pode ter ajudado a encerrar a Guerra Fria’, diz Ronald Kessler, autor de ‘A Matter of Character – Inside the White House of George W. Bush’ [Questão de Caráter – Na Casa Branca de George W. Bush]. ‘Em certa medida, a situação de Bush é igual.’
A íntegra deste texto foi publicada no ‘Christian Science Monitor’. Tradução de Paulo Migliacci.’
PARCERIA
Folha estréia parceria com ‘New York Times’
‘A Folha passa a publicar amanhã, e a cada segunda-feira, suplemento com reportagens do ‘New York Times’, um dos principais jornais dos EUA e do mundo.
O caderno, elaborado pelo ‘New York Times’ especialmente para a Folha, trará reportagens sobre política, economia, mundo, artes, ciência, entre outros temas, além de uma página com editoriais e artigos de colunistas.
O suplemento semanal do ‘New York Times’ é publicado atualmente por outros 25 jornais de Europa, Ásia, África e América. No Brasil, o produto será publicado com exclusividade pela Folha.
Além do suplemento, a Folha continuará a publicar regularmente reportagens do ‘New York Times’ no dia-a-dia, como já faz atualmente.’
TREINAMENTO
Folha encerra 8ª turma de curso de jornalismo gráfico
‘Terminou na última sexta-feira o 8º Programa de Treinamento em Jornalismo Gráfico da Folha. Voltado para estudantes e profissionais interessados na área visual da comunicação, o curso ensina a desenhar páginas e a fazer infografias (gráficos, tabelas e mapas).
O programa, patrocinado pela Philip Morris Brasil e pela Odebrecht, inclui discussões com jornalistas da Folha e cursos com profissionais experientes sobre como produzir elementos gráficos que, além de bonitos, sejam informativos, claros e didáticos.
Os participantes também aprendem a trabalhar com softwares usados pelo jornal, como Photoshop, Quark- Xpress, InDesign e Illustrator.
Nas semanas finais, a turma desenhou e realizou infográficos de um caderno sobre a crise mundial, publicado pela Folha em 18 de outubro (www.folha.com.br/083051).
Para realizá-lo, tiveram aula com William Eid Jr., coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV-SP.
O programa de treinamento em jornalismo gráfico existe desde 1998 e já formou 79 diagramadores e infografistas, dos quais dois terços trabalharam para a empresa após o curso.
O jornal realiza também, semestralmente, treinamento voltado para repórteres e redatores (leia mais sobre os programas de treinamento em jornalismo da Folha em www.folha.com.br/treinamento).’
ELEIÇÕES MUNICIPAIS
É casado? Tem filhos? Você viu notícia por aí?
‘Carlos Eduardo Lins da Silva não gostou do trabalho da Folha no segundo turno das eleições municipais. Como indicava um dos títulos de sua coluna no domingo passado -’Tudo que é sólido se desmancha no fim’-, o ombudsman considerou que a cobertura descarrilou, comprometendo a isenção do jornal. É uma lástima, disse ele, que o esforço crítico e a ênfase nas propostas dos candidatos, que haviam prevalecido no primeiro turno, tenham se dissipado. No cômputo final, concluiu, Kassab foi favorecido.
Durante o primeiro turno, mais de uma vez o ombudsman escreveu que a Folha estava sendo mais crítica em relação a Kassab do que aos demais. ‘Em parte, é natural, já que ele está no exercício do poder. Mas tem ocorrido exageros injustificáveis’, disse ele em 17 de agosto.
É verdade que a Folha dedicou mais espaço a Alckmin e Kassab no primeiro turno, inclusive nas reportagens que resultaram negativas para cada candidato (veja os números do levantamento feito pela editoria no quadro acima).
Tal distorção, que alguém poderia considerar benéfica para Marta Suplicy, se explica por um dado da realidade: desde cedo ficou nítido que os rivais disputavam uma vaga no segundo turno, onde o PT já estava garantido -logo, a notícia se concentrava na disputa travada entre democratas e tucanos, ou serristas e alckmistas.
É claro que a cobertura não deve ficar refém da dinâmica das campanhas ou da evolução das pesquisas -nem foi o caso. Mas também não pode ignorá-las, sob o risco de ser rigorosamente equilibrada, mas, antes disso, autista, centrada em si, não no mundo externo.
A isenção jornalística e o projeto editorial da Folha devem ser exercidos no corpo-a-corpo com os fatos, não à sua custa; no atrito com a realidade, nossa matéria-prima, não num espaço vazio e idealizado, como se a vida bruta viesse se intrometer no resultado que o jornal pretendeu para o jogo antes de a partida começar.
Acredito que o cerne da nossa divergência resida no entendimento do que foi a principal ocorrência, o grande fato jornalístico da campanha paulistana no segundo turno.
Recapitulo: passados apenas três dias do primeiro turno, o Datafolha registrou uma vantagem de 17 pontos a favor de Kassab. Três semanas depois, o TSE proclamava sua vitória, 20 pontos à frente de Marta. Em termos de oscilação do eleitorado, quase nada aconteceu.
Nesse intervalo, a Folha fez sabatinas com os candidatos, realizou debates e entrevistas, criou seções fixas (‘Eu voto em…’ e ‘Lupa na campanha’), voltou a confrontar propostas de governo (muito parecidas) e procurou desconstruir promessas feitas na TV (como no primeiro turno). Tudo isso acabou ofuscado pelo efeito repetitivo e pela previsibilidade do desfecho, mas sobretudo pela campanha que o PT levou ao ar na estréia do horário eleitoral:
‘É casado? Tem filhos?’
Quando decidiu explorar a vida privada do adversário na TV -acreditando que pudesse despertar o preconceito de parcela da sociedade a partir de uma insinuação velada, mas óbvia, de homossexualismo-, Marta rompeu uma barreira e fez uma aposta de risco -ou baixa, a depender do ângulo.
Controvertida sob todos os aspectos, a propaganda ganhava contornos ainda mais polêmicos à luz da trajetória política da candidata, ligada à defesa das minorias e dos gays, em particular. Muita gente ficou escandalizada, inclusive (sobretudo?) simpatizantes do PT. Era preciso algo mais?
Num certo sentido, a discussão sobre os métodos válidos e os limites éticos de uma campanha eleitoral, que o episódio trouxe à tona, ultrapassou o âmbito da disputa local para ganhar interesse mais amplo.
Longe de promover um linchamento da candidata, o jornal foi o primeiro a ouvir a própria Marta, além de entrevistar com exclusividade seu marqueteiro e o chefe-de-gabinete de Lula, entre outros -petistas e opositores. Houve, em resumo, um empenho para fazer a lição de casa diante de uma notícia que gritava à nossa volta.
O ombudsman preferiria uma cobertura bem mais discreta e menos extensiva do episódio, para ele quase uma futrica. É uma opinião para se respeitar. Mas sobretudo para não confundir com o uso que dela fazem alguns petistas quando apontam o dedo para a ‘mídia preconceituosa’, acusando-a de prejudicar Marta. Além de ser moralmente indigente, o argumento agride a inteligência alheia. Já não foi assim em 2006, com os aloprados?’
Ana Flor
Marqueteiro migra para o interior do país
‘A definição de muitos pleitos no primeiro turno, a facilidade de reeleição de candidatos e as mudanças na lei eleitoral afetaram o mercado dos marqueteiros e consultores políticos nas disputas municipais deste ano.
Com a previsão de que a reeleição de candidatos seria fácil na maior parte das cidades, inclusive capitais -como se comprovou pelo baixo número de segundos turnos no país-, muitos marqueteiros buscaram trabalho em cidades pequenas e medianas, onde a lei eleitoral obrigou a uma maior profissionalização das campanhas, em função da limitação da propaganda de rua.
Os publicitários ouvidos pela Folha foram quase unânimes em dizer que a legislação eleitoral praticamente tirou as campanhas das ruas e levou a disputa para o rádio e TV. Em muitos lugares, isso encareceu os custos e enterrou as chamadas ‘campanhas caseiras’, em que candidatos a prefeituras menores faziam programas baratos e investiam mais em banners e showmícios.
O marqueteiro Francisco Cavalcante, que atende o PT nacional, cita o exemplo da proibição dos comícios com músicos, que, originalmente, se apresentavam gratuitamente, em apoio ao candidato. ‘Era uma forma eficiente de divulgação do candidato’, diz. As limitações foram aumentando a importância da televisão. ‘Para os vereadores, ficou muito mais difícil’, diz Cavalcante.
Segundo ele, cada vez mais aspirantes ao Legislativo contratam marqueteiros. ‘O dinheiro está pulverizado’, diz José Roberto Berni, que, entre outras, fez as campanhas de Cadoca (PSC), em Recife.
Além de trabalhar em capitais e cidades grandes com segundo turno, o marqueteiro Chico Santa Rita, que fez campanhas como as de Fernando Collor de Mello, atendeu neste ano cidades pequenas, onde só há primeiro turno. Em Macaé e Rio das Ostras, no Rio de Janeiro, Santa Rita enfrentou campanhas concorridas, mais difíceis, segundo ele, do que Campo Grande, uma capital em que seu candidato, aliado ao prefeito, venceu no primeiro turno.
‘Cidades pequenas enfrentam campanhas concorridas, e o marqueteiro se tornou uma necessidade’, diz.
Outro marqueteiro que trabalhou em duas capitais e preferiu falar sem se identificar, diz que a ‘máquina’ de um governo torna a campanha mais barata, porque boa parte da divulgação do candidato e sua boa imagem são construídas durante o mandato.
Neste ano, apenas um candidato que concorria à reeleição nas capitais não venceu -Serafim Corrêa (PSB), em Manaus.
Entre as campanhas vitoriosas, o destaque entre os marqueteiros ouvidos foi Luiz González, que orientou Gilberto Kassab (DEM) em São Paulo. Apesar de disputar a reeleição, ele tinha 8% das intenções de voto no início da propaganda eleitoral. Além de ‘ter acertado a mão’, segundo os colegas de profissão, González se recuperou da campanha considerada ‘pobre’ de Geraldo Alckmin (PSDB) à presidência em 2006.
Já Duda Mendonça viveu momentos antagônicos. Abandonou algumas campanhas no meio e enfrentou boatos de não pagar suas equipes. Mas venceu em Fortaleza, Recife, São Luís, Belém e ajudou em Belo Horizonte, onde entrou no segundo turno. Em 2004, ele perdeu a campanha de reeleição de Marta Suplicy (SP) e a de Raul Pont, em Porto Alegre. Em 2006, envolvido no escândalo do mensalão, não participou de campanha alguma.’
***
Publicitários ‘reciclam’ idéias com candidatos diferentes
‘Apesar de receberem milhões para montar campanhas criativas e inovadoras, marqueteiros muitas vezes recorrem a idéias, slogans e até cenários de campanhas anteriores. No pleito deste ano não foi diferente.
Na campanha de Gilberto Kassab (DEM), em São Paulo, o marqueteiro Luiz Gonzalez repetiu o estilo utilizado por ele ao moldar corridas tucanas anteriores. Desta vez, quem caminhava por um corredor ou escritório de camisa azul, mangas arregaçadas e no horário político da TV era Kassab. A fórmula -com cenário semelhante- já havia sido utilizada na propaganda do então aspirante à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB) em 2006 e, em 2004, na campanha do então candidato tucano eleito à Prefeitura de São Paulo, José Serra.
Os slogans dos candidatos também passam por ‘reciclagens’. Duda Mendonça, que participou pelo menos seis campanhas neste ano, reutilizou bordões e motes. Antonio Imbassahy (PSDB) teve os slogans ‘testado e aprovado’ e ‘ele fez’ -ambos peças antigas do publicitário. No Rio, durante a campanha de Marcelo Crivella (PRB), utilizou o bordão ‘arrumar a casa’, que foi usado no início do mandato de Lula.
Mesmo ritmo
Quem também espanou, intencionalmente, uma idéia utilizada com Lula foi João Santana, marqueteiro que fez a campanha de Marta Suplicy (PT), em São Paulo. No primeiro turno, a música ‘deixa a Marta trabalhar’ era uma variação do ‘deixa o homem trabalhar’, da campanha de Lula à reeleição, com ritmo idêntico e o mesmo início ‘a voz de Deus é a voz do povo’.’
INTERNET
Arcebispo no PR cria curso on-line de catecismo
‘Um arcebispo católico criou no Paraná um curso inédito de catecismo on-line para facilitar o acesso de fiéis sem tempo para aulas nas paróquias.
A experiência é feita com universitários, professores e funcionários de universidades públicas e particulares de Cascavel (500 km de Curitiba).
Cerca de 50 pessoas se inscreveram para as aulas virtuais. Diferentemente das reuniões tradicionais, com local, hora e dia marcados, o curso on-line permite que o fiel cumpra a programação sem se preocupar com esses detalhes.
‘Percebemos que muitos universitários tinham interesse em concluir a catequese e a crisma, mas estudavam o dia inteiro’, disse o arcebispo de Cascavel e autor da idéia, dom Mauro Aparecido dos Santos.
Tradicionalmente cumpridas na infância e na adolescência, a catequese e a crisma são iniciações a preceitos cristãos pelos quais o católico passa para receber, respectivamente, a comunhão nas missas e ser autorizado a se casar no religioso.
Com uma senha, o fiel acessa uma página no site www.dommauro.com.br para responder por e-mail a questões formuladas nos cinco módulos do curso. Ao fim de cada módulo, os alunos se encontram com freiras que ministram as aulas on-line para tirar dúvidas.
Dom Mauro diz que tem recebido pedidos de fiéis de todo o país para ingressar no curso. ‘Nossa jurisdição é a arquidiocese de Cascavel’, diz.’
TELEVISÃO
Mala pronta
‘Integrante do ‘CQC’ (Band) que mais viaja, o jornalista Felipe Andreoli, 28, embarcou na última quinta para os EUA. Lá, tentará arrancar declarações dos candidatos Barack Obama e John McCain. ‘A idéia é estar onde os caras estiverem. Nosso principal alvo é falar com Obama, chegar perto dele’, diz. Felipe conta como se preparou para a empreitada: ‘Prestei atenção em fotos e programas de TV, onde ficam os seguranças, se eles se aproximam dos eleitores’. Na bagagem, ele levou um livro de Monteiro Lobato, para Obama, e fraldas, para McCain.
VH1 lança novo canal e passa a produzir programa no Brasil
No Brasil desde novembro de 2005, o canal musical VH1 finalmente começa a produzir programas no país. O primeiro estréia no próximo dia 29, com exibição em toda a América Latina. Será um documentário (‘Behind the Music’) sobre a banda Paralamas do Sucesso.
O segundo será um ‘Storyteller’ com Gilberto Gil.
O VH1 é da Viacom, mesmo grupo da MTV. Grosso modo, é uma MTV mais focada em clipes, shows e documentários.
O ‘Storyteller’ lembra o ‘Acústico MTV’. Nele, os artistas executam músicas e contam as histórias delas em um palco, para uma platéia pequena. Já gravaram o programa nomes como Coldplay e David Bowie.
O ‘Storyteller’ de Gil será produzido com recursos da Ancine e em sociedade com a gravadora do músico (que lançará CD e DVD). As gravações serão em fevereiro, em dois dias. ‘O programa é caro. Cada um demora um ano inteiro, entre negociações, escolha de repertório e produção’, diz Jimmy Leroy, vice-presidente de criação.
Já o ‘Behind the Music’ é um formato mais clássico de documentário, voltado para a ‘carreira dramática’ da banda/artista. Leroy diz que escolheu os Paralamas para inaugurar a série por ser ‘a banda brasileira mais atuante’. Ele quer fazer três ‘Behind’ por ano.
Em 2009, a Viacom lança no Brasil o VH1 Classic, com mais clipes e shows dos anos 80. Com o lançamento, o VH1 passará por uma rejuvenescida em sua programação.
ANDRÉ MATIAS MUDOU
Lembra de André Matias, o aspirante do filme ‘Tropa de Elite’ que se envolvia com a personagem de Fernanda Machado? Pois é, ele agora está assim (foto), careca e com cara de mau. É com essa caracterização que o ator André Ramiro, 27, fará seu primeiro papel expressivo na TV. No seriado ‘A Lei e o Crime’, que a Record estréia em 5 de janeiro, interpretará o traficante Tião Meleca. Nos intervalos das gravações, André estuda interpretação e canta. No ano que vem, pretende lançar seu primeiro CD, de rap, em produção independente.
DEBORAH EM ESPECIAL
No ar em ‘A Favorita’, Deborah Secco foi escalada para ‘Decameron’, especial de fim de ano da Globo com pretensões de virar série. Além dela, estão confirmados Lázaro Ramos, Daniel Oliveira, Matheus Nachtergaele, Drica Moraes, Leandra Leal e Tonico Pereira. Escrita e dirigida por Guel Arraes e Jorge Furtado, será vagamente inspirada em ‘Decameron’, Asterix e na obra de Shakespeare.
TALK-SHOW
Depois de atacar de ator, com Camila Pitanga, em seu especial de fim de ano de 2007, Roberto Carlos inova em 2008: dará uma de David Letterman. Fará uma entrevista com Caetano Veloso.
VIROU MODA
Depois de Tiago Santiago fazer ponta em ‘Chamas da Vida’, outro autor da Record, Marcilio Moraes, mostra seu lado ator. Interpretará um escritor na própria série, ‘A Lei e o Crime’.
BARRADO NO BAILE
Jurado de ‘Ídolos’ (Record), Luís Calainho se envolveu em um tumulto na boate ALôca, em SP. Alguém insultou o empresário, que não deixou barato e teve de ser contido por seguranças.
UTILIDADE PÚBLICA
Esqueça Trancoso (BA). O assessor de imprensa de Leão Lobo avisa que o apresentador da Band passa o fim de semana na ‘paradisíaca’ (?) praia de Tabatinga, em Caraguatatuba (SP).’
Bruna Bittencourt
Série ‘Barrados no Baile’ retorna mais ousada
‘‘Parece o Oscar, e todas as garotas são a Scarlett Johansson.’ O espanto dos irmãos Annie e Dixon ao ingressar no colégio West Beverly Hills, no bairro nobre de Los Angeles, é o mesmo de Brenda e Brandon Walsh quando chegaram à escola no começo dos anos 90, no primeiro capítulo de ‘Beverly Hills, 90210’, exibida no Brasil como ‘Barrados no Baile’. Uma das séries adolescentes de maior sucesso dos anos 90, ‘Barrados…’ ganhou em setembro uma comentada nova versão nos Estados Unidos, que estréia na próxima quarta por aqui, no canal pago Sony (veja outras estréias no quadro nesta página). O seriado girava em torno da adaptação dos irmãos Walsh, recém-chegados de Minnesota, a Beverly Hills, entre amigos endinheirados -Kelly, Dylan, Donna, Steve, David e Andrea- e percalços juvenis. O programa só deixou de ser transmitido dez anos depois de sua estréia, em 2000, quando não havia mais conflitos que seus personagens não tivessem enfrentado ou combinações românticas (e outras nem tanto) inéditas entre eles. A nova série mantém semelhanças com o enredo original -como os conflitos óbvios e personagens estereotipados-, mas tem mais ousadia. Logo no primeiro capítulo, por exemplo, fica implícita uma cena de sexo oral; em outro momento, uma personagem é cobrada por dívida de drogas -em tempos de produções como a badalada ‘Gossip Girl’, os conflitos juvenis típicos das primeiras temporadas de ‘Barrados…’ soam definitivamente ultrapassados. Os irmãos Annie (Shenae Grimes) e Dixon (Tristan Wilds) fazem as vezes dos antigos gêmeos protagonistas, com a diferença de que agora o ‘novo’ Brandon é negro e adotado. A família -antes Walsh, agora Wilson- não se muda para a Califórnia só por causa do novo emprego do pai, Harry (Rob Estes), que assume a direção do colégio, mas para ajudar a avó, uma sarcástica ex-atriz às voltas com o alcoolismo. Do antigo seriado, ‘90210’ também herdou um triângulo amoroso: Naomi (AnnaLynne McCord) é a garota rica e mimada que namora Ethan (Dustin Milligan), o atleta popular da escola que teve um romance durante as férias com Annie.
Veteranas
Como nos anos 90, os irmãos dividem o banheiro -importante cenário da antiga versão- e freqüentam com os amigos a mesma lanchonete, Peach Pit, devidamente modernizada e ainda comandada por Nat (Joe E. Tata). Da série original também participam a ex-protagonista Brenda (Shannen Doherty) e Kelly (Jennie Garth), que interpretam seus antigos papéis, quase 20 anos depois. Brenda, que só participa de alguns episódios, retorna ao West Beverly para dirigir um musical da escola, enquanto Kelly é consultora pedagógica e mãe solteira. Depois do fim da série, nenhuma das atrizes repetiu o sucesso da época: Garth protagonizou ‘What I Like About You’, exibida no Brasil; e Doherty, garota-problema de Hollywood nos anos 90 que deixou a série em sua quarta temporada, fez o mesmo em ‘Charmed’. Parte do elenco é ainda mais nostálgico: a mãe dos irmãos, Debbie (Lori Loughlin), atuou em ‘Full House’, e o pai (Rob Estes), em ‘Days of Our Lives’ e ‘Melrose Place’, outra que pode ganhar um remake.
90210
Quando: estréia na quarta, às 21h
Onde: no canal Sony
Classificação: não indicada a menores de 14 anos’
Sylvia Colombo
Para veteranos, ‘Mad Men’ é caricato
‘‘É uma caricatura!’, dizem os mais velhos. ‘Não, as coisas são assim mesmo’, retrucam os mais novos. O mundo da publicidade debate, entra em conflito e ao mesmo tempo se identifica com ‘Mad Men’, o seriado que retrata uma agência do ramo, na Nova York do começo dos anos 60.
Os personagens são jovens criativos, ricos, que fumam desbragadamente, coqueteiam as secretárias e fazem reuniões regadas a uísque, martínis e outros drinques.
Entre uma coisa e outra, têm idéias sensacionais para fazer vender itens de consumo que faziam parte do cotidiano dos EUA de então: cigarros, desodorantes, batons, eletrodomésticos, viagens etc.
Washington Olivetto, 56, da W/Brasil, concorda que houve uma revolução criativa naquela época, mas que o demais está exagerado.
‘Os publicitários nunca foram tão visíveis como aparecem ali. Folclorizaram demais seus hábitos e modos de trabalhar. Quando é sabido que os grandes criadores do período eram tipos muito austeros.’
O veterano Alex Periscinoto, 83, da SPG&A, também acha que há excessos. ‘A série retrata o período como uma novela muito bem-feita, mas a parte publicitária propriamente dita é fraca’, diz Periscinoto.
‘As campanhas apresentadas são primárias, e mostra-se a profissão como um ofício fácil. Não é e nunca foi, trabalha-se muito no meio. É por meio da transpiração que surgem as boas soluções.’
Mito da criação
Já quem está nesse mundo há menos tempo não vê em Don Draper um personagem caricato. O tipo encarnado pelo ator Jon Hamm -que, por conta de seu estilo de galã antiquado, já foi comparado até com Gregory Peck- é um diretor de criação charmoso e mulherengo, que tem idéias para fantásticas campanhas num átimo, entre aventuras sexuais ou corriqueiros porres.
‘Hoje, o modo como se trabalha mudou. Valorizam-se mais as partes de planejamento e pesquisa ao construir uma campanha e não se depende de insights de um só indivíduo. Mesmo assim, na prática, o diretor de criação ainda é o principal ícone. A primeira pergunta que se faz para avaliar a qualidade de um escritório é quem é seu diretor de criação. Ou seja, o estereótipo que Draper representa é bastante fiel e atual’, diz Zé Roberto Pereira, 33, da Buzz Comunicação.
Ele considera, ainda, que apesar de o seriado tratar de um tempo diferente, muito do que está ali é um espelho verdadeiro. ‘Todo esse clima glamouroso e sedutor, os profissionais prepotentes e irônicos, as disputas internas etc. Tudo tal e qual ainda funciona nos dias de hoje’, conclui.
Ambiente masculino
A atualidade de alguns símbolos também é confirmada por Suzana Apelbaum, 35, da agência Hello:
‘Esse cenário de competitividade profunda, em que ser criativo era sexy, é bem verdadeiro. Também hoje, apesar de tudo ter evoluído e as mulheres participarem mais do processo, trata-se de um ambiente muito masculino’.
Para ela, ainda, a série tem o mérito de trazer à tona um estereótipo com o qual os publicitários sempre tiveram de lidar, que é a idéia de que fazem o que for necessário para vender seu produto.
Periscinoto afirma que esse conceito é coisa do passado. ‘Hoje, há muito mais autopoliciamento, e o cliente não quer saber de receber a coisa pronta, ele questiona. Além disso, está aí o Conar [Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária], que ajuda a conter abusos.’
Propagandas mentirosas ou que usam preconceitos raciais, religiosos ou sexuais como ponto de partida eram comuns na época.
Em ‘Mad Men’, vê-se como se usavam argumentos sexistas para vender batons ou como judeus eram tratados em tom de galhofa e incompreensão -algo que se pode conferir, por exemplo, no episódio em que a agência deve criar um comercial para vender Israel como destino turístico e não consegue fugir de lugares-comuns.
Olivetto diz que isso é bem exposto em ‘Mad Men’. ‘Era mesmo uma época de permissividade, e a idéia de politicamente correto nem sequer existia.’
Pereira crê que atualmente os clientes já não são tão ingênuos para deixar que coisas sejam vendidas a partir de mentiras. ‘Ainda assim, muita propaganda é feita em cima de preconceitos e de fórmulas que não mudam. Basta ver como seguem sendo os comerciais de cerveja ou de carro, que vendem a idéia de poder, sedução, conquista de mulheres etc.’’
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Cigarros cenográficos são de ervas
‘O que chama mais a atenção em ‘Mad Men’ é o fato de as pessoas fumarem o tempo todo. A agência em que a história se desenrola está constantemente tomada por fumaça. Não há restrições ao fumo em consultórios ginecológicos ou ambientes com crianças, algo que causa efeito no mínimo incômodo. Mas os produtores dizem que, para que os atores não ficassem muito agitados, substituíram os cigarros reais por uma versão de ervas e sem nicotina.’
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Série expõe sociedade de aparências
‘Donald Draper tem um passado secreto. Seu nome verdadeiro não é este e sua identidade foi construída detalhe por detalhe por ele, quando decidiu abandonar a família e construir um estilo de vida correspondente à carreira de um publicitário de prestígio.
Quando descobre as máculas na trajetória do chefe, o ambicioso Peter Campbell decide denunciá-lo ao dono da agência, na esperança de que Draper seja demitido e ele, por conseqüência, promovido.
Mas o tiro sai pela culatra, e Campbell ouve do superior: ‘Esse país foi construído e é levado por homens com histórias piores do que você imagina’.
Esse é só um exemplo de como ‘Mad Men’, ao lidar com um universo regido pelas aparências, como o da publicidade, toca fundo em questões pertinentes sobre os EUA dos anos 60 vigentes hoje. Uma sociedade que cultua o mito do empreendimento pessoal.
Um de seus principais méritos é mostrar como aquela década foi transformadora dos hábitos sociais no país a partir de pontos de vista diferentes.
Se tipos masculinos expõem a competitividade inescrupulosa reinante, as mulheres oferecem pistas de como começariam a ganhar protagonismo.
É o caso da secretária Peggy, uma moça feia do Brooklyn, que deslumbra-se com Manhattan e vai se tornando vilã, pois descobre que pode usar um talento nato para tirar proveito e sair de sua posição de desvantagem com relação às gostosas do local. Já a mulher de Draper, uma dona-de-casa caricata, afunda-se em depressão, apesar de ter todos os eletrodomésticos de primeira linha e família perfeita para os padrões da época.
Coroada por seis Emmys, a série teve sua primeira temporada exibida no Brasil pela HBO. A segunda deve ir ao ar em 2009, enquanto nos EUA negocia-se a realização de uma terceira.’
Bia Abramo
O espírito dos podres de ricos
‘EM UM REALITY show, garotas esperançosas batalham para participar do mundo da beleza e do glamour. São as candidatas da segunda temporada do ‘Brazil’s Next Top Model’, exibido pelo canal de TV por assinatura Sony. Garotas bonitas de todas as partes do país, selecionadas entre milhares, acreditam que o programa será, enfim, o passaporte para uma carreira de modelo, que vai lhes trazer fama e dinheiro.
A esta altura, já foi eliminada mais da metade, inclusive, na semana passada, aquela que vinha se tornando uma espécie de favorita. Se tudo der muito certo, a que sair vencedora vai ser uma pequena engrenagem da cadeia de consumo de moda, beleza e luxo. Enquanto isso, em outro canal da TV a cabo, o Warner, moda, beleza e luxo são pano de fundo de ‘Gossip Girl’, um daqueles seriados muito bons de tão absurdos. A série trata de um grupo de adolescentes podres de ricos do Upper East Side, reunidos numa escola ultraprivilegiada.
Segundo ‘Gossip Girl’, esses jovens, com poder de compra e autonomia de adultos, são cínicos, malvados, seguros e supersexualizados. Nenhum deles tem, propriamente, dúvidas ou angústias, mas problemas que se resolvem em clínicas de reabilitação, em escolas internas afastadas da metrópole ou em campos disciplinares para crianças e jovens problemáticos. A sacada da série é, justamente, soar e parecer amoral -há drogas, sexo com estranhos, contravenções grandes e pequenas, complôs, furtos, enganação, crueldade, celebração do mal-, ao mesmo tempo em que, no fundo, está sempre pronta a resgatar os personagens -afinal, são tão glamourosos… A ambigüidade, entretanto, não é uma forma de oferecer personagens complexos. É que o perdão a todos os males está na máquina do cartão de crédito.
Tudo, de alguma forma, está justificado pelo poder do dinheiro dos pais e pelo fato de que, bonzinhos ou mauzinhos, esses sujeitos consomem e consomem -as coisas mais caras e exclusivas que a vitrine do capitalismo financeiro pode oferecer. Claro, há o contraponto de um personagem mais ‘pobre’ e alternativo -mora na parte mais descolada do Brooklyn, o pai é dono de galeria de arte e ex-roqueiro-, mas ele, apesar de fazer o papel de grilo falante e torcer um pouco o nariz, também está pronto a aderir àquele mundo. ‘Gossip Girl’ trata, justamente, do fascínio do mundo da riqueza mais glamourosa e enlouquecida, aquele do qual as modelos do reality querem tanto participar -e, agora, que seus fundamentos fizeram água, vai ser ainda mais divertido de assistir.’
REVISTA
Sagrada e POP
‘País com cerca de 75% da população constituída de membros da Igreja Luterana, a Suécia viu, no ano passado, as vendas da Bíblia aumentarem em 50%. Não houve nenhum surto religioso. O mercado, que consome mais de 60 mil exemplares do livro sagrado anualmente, absorveu mais 30 mil cópias do Velho e do Novo Testamento em forma de duas revistas, que transitam entre a ‘Vogue’, com apelo de celebridades e ícones do naipe de Lady Di e Che Guevara, e a ‘Colors Magazine’, publicação quinzenal da Benetton, conhecida por suas leituras pop de temas áridos.
Criador da ‘Bible Illuminated’ (Bíblia ilustrada), o publicitário sueco Dag Söderberg ressalta que, para seu país, que tem cerca de 9 milhões de habitantes, o aumento é ‘um número imenso’. Para ele, o sucesso das publicações foi surpreendente, porque ultrapassou seu leitorado alvo inicial: mulheres entre 25 e 40 anos, grupo que, segundo ele, mais lê revistas.
‘A experiência mostrou que o público é bem mais amplo, vai de pessoas bem mais jovens a mais velhas’, diz Söderberg à Folha. Inicialmente pensamos que alcançaríamos um leitorado não necessariamente religioso, secularizado e urbano. Mas, agora, a Igreja está se aproximando também. A Bíblia é nossa herança, está nas nossas raízes. Muitas coisas como leis, ética, moral etc. vieram dela e não se pode fugir disso. ‘
Mensageiros
Antes de chegar às livrarias comuns na Suécia, o evangelho pop de Söderberg foi vendido em butiques, lojas de design e até em galerias de arte. O texto é a tradução aprovada em 2000 pela Sociedade Bíblica da Suécia, mas a revista também tem apelo ‘jornalístico’, com fotos de uma criança iraquiana ferida em bombardeio, uma escola na Etiópia, Nova Orleans destruída pelo furacão Katrina etc.
O Evangelho de São Marcos é dos mais pop: lá estão celebridades do bem de plantão como Bono e Angelina Jolie, ao lado de Nelson Mandela, Gandhi, John Lennon etc. Söderberg tem uma justificativa para a sua galeria de famosos:
‘Deus disse ‘envio o meu anjo diante de ti: ele preparará o teu caminho’. E cada uma das celebridades e luminares da cultura que aparece tem sido um mensageiro ou embaixador da boa vontade e justiça social nos tempos modernos’, diz o editor. ‘Na Suécia, chegamos a perguntar a várias pessoas, jovens e idosas, liberais e conservadoras, religiosas ou não, quem atualmente incorporaria a mensagem de Jesus. E muitas delas foram incluídas no livro de Marcos.’
Nos EUA
No fim da semana passada, o Novo Testamento de Söderberg chegou ao mercado norte-americano com tiragem inicial de 200 mil cópias e campanha de marketing estimada em US$ 500 mil (mais de R$ 1 milhão), que inclui o site www.illumi natedworld.com.
Com 288 páginas, a revista está à venda na Amazon (www.amazon.com) e custa US$ 35 (quase R$ 75), cerca de US$ 30 a mais do que a ‘Vogue’ americana. O Velho Testamento será lançado nos EUA em 2009 e traz na capa a foto de um homem e uma mulher prestes a se beijarem.
Söderberg disse que chegou a ser procurado por programas de televisão americanos que queriam ‘realmente fazer um drama em relação à revista’.
‘Acho que teremos mais reações adversas do que na Suécia, porque lá somos mais secularizados’, diz. ‘Mas os EUA são vários países. Alguns Estados são mais ortodoxos, outros, menos. De todo modo, o mundo está mudando e também a Igreja americana tem tido dificuldade de se aproximar de novos leitores de uma forma moderna. A revista é uma forma de chegar até estes leitores urbanos e mais secularizados.’
Söderberg conta que vem negociando os direitos na Croácia, Finlândia, Polônia, França, Alemanha, Noruega, Holanda, Rússia e Espanha. Ainda não há previsão, no entanto, para um dos maiores mercados da Bíblia do mundo, o Brasil.’
Luiz Felipe Pondé
Greenpeace e Unicef unidos no coração de Jesus
‘Imagine você andando por uma livraria de aeroporto. De repente, você topa com uma capa lindíssima, com um grande olho feminino verde nela. Maquiado e penetrante. Você começa a folhear a elegante revista, excelente qualidade de papel, e percebe fotos de gente famosa como Che Guevara, Angelina Jolie, Bono e outras personalidades pop.
Continuando sua pesquisa, ainda movida por aquela preguiça de quem olha sem ver muita coisa, você percebe uma frase escrita em letras que lembram a publicidade de jeans -’Repent and sin no more!’ (arrependa-se e não peques mais!), do pôster de Andy Warhol.
Não estranhe se sentir uma leve desorientação. O que é isso?? Na página ao lado, um índice revela a verdadeira identidade daquilo que até então você pensava ser uma revista nova no mercado americano: Matthew, Mark, Luke, John (Mateus, Marcos, Lucas, João).
O que você tem em suas mãos é o Novo Testamento. Mas como pode ser? Depois de uma rápida leitura de alguns trechos, não há qualquer sombra de dúvida. Seguindo adiante, no momento da narrativa do nascimento de Jesus, uma mulher negra com seu bebê no colo é rapidamente identificada como Maria e seu Deus-bebê. Nesta Bíblia pop, Jesus é negro. Marketing multicultural politicamente correto.
A curiosidade toma conta de você e a investigação se aprofunda. Pulando para as últimas páginas, um trabalho sofisticado de imagens te leva ao Book of Revelation (Apocalipse). Aí, uma mistura de crianças famintas, terras inundadas, mundos poluídos, rostos monstruosos, animais trucidados revelam a leitura pop do fim do mundo. Unicef e Greenpeace unidos no coração de Jesus.
Ao final, uma sensual foto em preto-e-branco anuncia o lançamento em 2009 do Velho Testamento: um close no rosto de um homem e de uma mulher revela o último minuto antes de um delicioso beijo na boca. Com certeza uma referência ao erótico livro hebraico Cântico dos Cânticos, conhecido pela tradição judaica como o ‘Santo dos Santos’ entre os livros da Bíblia Hebraica (o Velho Testamento na terminologia cristã clássica), matriz bíblica da reflexão mística posterior.
O que você tem em mãos é uma nova edição integral do Novo Testamento, preparado pela Sociedade Bíblica Americana, conhecida por ter feito traduções da Bíblia no início do século 19 para línguas nativas como delaware, mohawk e cheroqui.
Sensibilidades conservadoras podem sofrer um pouco. Eu adorei.’
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Bíblia é o livro mais lido no Brasil
‘A última edição do estudo ‘Retratos da Leitura no Brasil’, realizado pelo Instituto Pró-Livro em 2007, aponta que a Bíblia é o gênero mais lido no Brasil, à frente de livros didáticos (2º) e romances (3º). Somente a Sociedade Bíblica do Brasil, uma das maiores editoras do segmento, vende mais de 5 milhões de cópias ao ano. No mundo, segundo Dag Söderberg, são vendidas 500 milhões ao ano.’
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