COLETIVA
Compasso de espera
‘EM SUA primeira entrevista como presidente eleito dos Estados Unidos, na sexta-feira, Barack Obama surgiu diante das câmeras como alguém que não tinha nenhum tempo a perder.
O semblante carregado, assim como a ausência de frases protocolares de agradecimento no seu breve discurso inicial, visavam a transmitir, sem dúvida, uma exclusiva preocupação com os desafios econômicos do presente, sem prolongar o clima de comemorações com o recém-alcançado triunfo eleitoral.
Não era para menos: no mesmo dia em que a imprensa era convocada para seu encontro com o presidente eleito, vieram à luz informações alarmantes sobre o desemprego e a situação da indústria automobilística dos Estados Unidos, a que Obama não deixou de fazer grave e lacônica menção.
O ar de urgência com que Obama abriu a entrevista não se refletiu, entretanto, em nada que pudesse saciar a curiosidade da opinião pública quanto ao que será feito nos primeiros dias de sua administração. Repetiram-se linhas gerais do discurso de campanha, como a promessa de cortar impostos para a grande maioria da população e de intensificar o estímulo governamental à atividade econômica. Acrescentem-se a isso novos benefícios aos desempregados, e nada de mais específico se adiantou.
Frustraram-se expectativas, alimentadas ao longo do dia, de que já fosse anunciado o nome do futuro secretário do Tesouro, cargo equivalente ao de ministro da Fazenda no Brasil. Perfilados logo atrás do presidente eleito e de seu vice, Joe Biden, os membros de um numeroso comitê de assessores econômicos puseram-se diante das câmeras com a impassibilidade, vá lá a expressão, dos ‘suspeitos de sempre’.
Questionado sobre as medidas que adotará de imediato, Obama não revelou nem mesmo a habilidade oratória que marcou sua campanha; se em alguma resposta alcançou fluência, foi sem dúvida naquela em que explicou -com mais detalhes do que em qualquer outro ponto da pauta- os critérios que orientarão a escolha do cachorrinho da família.
Sim, o cachorrinho, porque uma venerável tradição norte-americana exige que cada novo presidente conte com um mascote ao ocupar a Casa Branca.
Que seja. Certamente, não há sentido em esperar decisões fulgurantes e anúncios de impacto logo nos dias seguintes à eleição. Mais do que ninguém, Obama parece estar convencido dos riscos inerentes à inflação de expectativas que acompanha sua meteórica ascensão na vida política americana.
‘Festina lente’ (‘apressa-te devagar’), reza um provérbio latino. Mas a cenografia tensa da entrevista não deixou de contrastar com sua rarefeita relevância. Se o que se pretendia era um anticlímax, as primeiras declarações de Obama como presidente eleito foram inegável sucesso. Enquanto isso, do nome do cachorrinho ao do secretário do Tesouro, o campo continua aberto para as expectativas e especulações dos interessados.’
Eliane Cantanhêde
Vira-lata? Nem tanto
‘BRASÍLIA – Barack Obama recebeu cumprimentos de todo o mundo, até do controvertido Irã, mas só deu nove telefonemas no primeiro lote de agradecimentos: para França, Reino Unido, Alemanha, Coréia do Sul, Israel, Japão, Austrália e os vizinhos Canadá e México -único agraciado da América Latina.
Isso diz muito do que tende a ser a política externa de Obama: não se esperem dele invasões de países alheios nem que dê de ombros para protocolos climáticos, mas talvez tenha sido excessiva a expectativa de mais abertura para emergentes.
Sai Bush, entra Obama, mas a crise migra de um para o outro e os EUA continuam sendo os EUA.
Como diz Celso Amorim, os EUA podem até ficar mais humildes com a crise, mas nunca serão franciscanos. Têm tanto poder que a tentação do unilateralismo está na alma, seja republicana, seja democrata.
Na primeira entrevista depois de eleito, Obama falou com simpatia dos ‘vira-latas, como eu’, mas escolheu telefonar para os Buldogs, Hottweilers, Labradores e, claro, fez política de boa-vizinhança.
Onde ficam os orgulhosos emergentes? E o Brasil, líder da América do Sul? A região está e vai continuar fora do foco de Washington, até porque Obama tem prioridades na fila, desde costurar a classe média, esgarçada com menos 240 mil empregos num mês, até se mostrar para os parceiros que importam.
Para Amorim, a reunião do G-20 no próximo sábado será o ‘grande teste’ do multilateralista Obama, cuja liderança será decisiva para mudar o funcionamento e a própria essência de organismos como o FMI. Eles sempre fiscalizaram os pobres, mas quem tem o poder sobre a vida de milhões são os ricos.
Amorim avisa que a reunião não pode ser só ‘para tirar foto’, e Guido Mantega dispensa idas ao G-8 ‘só para o cafezinho’. Mas, mesmo que consiga uns minutinhos com Obama, Lula vai a Washington justamente para isso: tirar foto e tomar cafezinho. Colombiano, claro.’
Carlos Heitor Cony
O presidente
‘RIO DE JANEIRO – Perguntaram a um amigo meu: ‘É verdade que você se casou com uma negra?’. Ele respondeu: ‘Não. Eu me casei com uma mulher’. Penso nele sempre que ouço ou leio quando se referem a Barack Obama como ‘presidente negro’.
A mídia tinha motivos quando, no início da campanha, informava que o candidato democrata era filho de uma norte-americana e de um queniano, ou seja, era um afro-americano. Insistiu muito no detalhe, uma vez que era geral a quase certeza de que os Estados Unidos jamais elegeriam um negro para presidente da República.
Bem verdade que, apesar da segregação racial que dominou naquele país até os anos 70, muitos negros se elegeram prefeitos ou governadores e foram nomeados para cargos importantes no cenário mundial, como o general Colin Powell e Condoleezza Rice. Sem falar no enorme e brilhante escalão de artistas e atletas que ocupam o pódio do interesse popular.
Acho que todos estão suficientemente convencidos da origem de Barack Obama, não vejo necessidade da informação suplementar e constante de que se trata de um negro. Como não há necessidade de acentuar o fato de Bento 16 ser um alemão. Um é o papa, o outro será o presidente dos Estados Unidos. Basta.
Na virada do ano 2000, respondi a uma enquete sobre a personalidade mais importante do século 20. Votei em Martin Luther King, apesar da sua conturbada vida sexual.
É natural que Obama, durante seu mandato, seja criticado por isso ou por aquilo. Mas não pelo fato de ser descendente de um africano. Não há razão para lembrarmos todos os dias a raça a que ele pertence. Devemos esquecer sua origem e atentarmos apenas para o que ele fará ou deixará de fazer. Os norte-americanos não votaram num negro. Votaram num homem.’
Euclides Santos Mendes
Fazendo a mídia
‘Os meios de comunicação deram à campanha norte-americana atenção e espaço poucas vezes vistos numa disputa eleitoral. Mas, para a professora da Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro Ivana Bentes, a mídia não ‘elegeu’ o democrata Barack Obama. ‘Mesmo seduzida por ele, a mídia não tem fidelidade a nenhum candidato’, diz na entrevista abaixo.
FOLHA – Por que a crise financeira e a eleição presidencial nos EUA monopolizaram a mídia mundial por várias semanas, mesmo havendo hoje um acesso inédito a múltiplos meios de informação?
IVANA BENTES – Os dois ‘fenômenos’ andam juntos. A eleição de Obama e a crise financeira apontam para um cenário de co-dependência global em que as crises, celebrações e lutas explodem as fronteiras nacionais e trazem o vislumbre do que poderia ser, potencialmente, uma mídia e uma democracia globais e também um ‘presidente das multidões’. A eleição do primeiro presidente negro dos EUA foi uma resposta ao Estado militarizado de Bush e ao terrorismo econômico dos mercados financeiros. Só que a mídia não politiza a crise financeira, apresentada na TV como se fosse uma ‘catástrofe natural’. A ‘resposta Obama’, de uma mudança possível, seduz eleitores, a mídia e o imaginário global diante desse terrorismo de Estado e de mercado.
FOLHA – Até que ponto os meios de comunicação contribuíram para alavancar a imagem do candidato democrata?
BENTES – Não foi a mídia que elegeu Obama, mas, sem dúvida, a sua biografia e a postura ‘cool’, de um afro-americano que, nos discursos de campanha, saudou negros e brancos, gays e héteros, hispânicos, africanos, as mulheres etc. Ao mesmo tempo, a mídia e o próprio Obama apelaram para a imagem do ‘pós-negro’, para um multiculturalismo esvaziado de conflitos. É claro que isso seduz, simbolicamente, num país tão atravessado por clivagens raciais e com uma política tão dura contra os ‘outros’. Mas ninguém foi ‘manipulado’ pela mídia. Mesmo esse multiculturalismo soft, diante da era de intolerância e racismo do governo Bush, tem um poder simbólico grande. Mas, mesmo ‘seduzida’ pela novidade, a mídia não tem ‘fidelidade’ a nenhum candidato. Basta ver o exemplo brasileiro. Lula começou o primeiro mandato na bancada do ‘Jornal Nacional’, com telebiografia celebratória de sua trajetória, tão fabulosa quanto a de Obama, e, quatro anos depois, quase foi destituído na crise político-midiática, antes da reeleição.
FOLHA – As novas mídias, sobretudo a web, tiveram papel central na campanha. Após esta eleição, o que muda na relação da mídia tradicional (jornal, TV, rádio) e das novas mídias com a política?
BENTES – Os eleitores de Obama mobilizaram a blogosfera. O candidato teve recorde de doações pela internet para sua campanha, sendo financiado pelos próprios eleitores, fato inédito. Respondeu a acusações postando vídeos no YouTube, disseminando imagens no Flickr, mensagens diretas para os celulares dos eleitores e mensagens instantâneas no Twitter, seguidas por milhões na rede. A possibilidade de uma ‘democracia participativa’ (apesar do caráter representativo e indireto do sistema de votação nos EUA) surge nessa forma potencial de uso das redes sociais, de relacionamento e compartilhamento. Por meio delas, o eleitor constrói a informação, intervém nos discursos, reage contra a mídia tradicional, repercute, interage e se mobiliza numa forma de ativismo que coloca em xeque a centralidade da mídia tradicional e da democracia representativa. TVs e jornais tiveram que se associar à internet, ao YouTube, fazer debates on-line com a participação dos internautas. Um dos primeiros fatos midiáticos na campanha de Obama surgiu quando uma eleitora escreveu o nome do candidato no traseiro, criou um jingle divertido e postou esse vídeo de ‘agitprop’ no YouTube, obtendo milhões de cliques de atenção na mídia global. Num só ato, sublinhou a caretice do marketing político tradicional e apontou para uma questão decisiva: cultura política descentralizada, heterogênea e novas formas de ativismo.
FOLHA – Obama seria o ‘Príncipe Eletrônico’ (conceito pautado na relação entre política e mídia) preconizado pelo sociólogo Octavio Ianni?
BENTES – Obama me parece estar num lugar de passagem, em que está em jogo a crise da democracia representativa, a emergência de uma democracia participativa, a descrença no mercado financeiro, a crise do Estado-nação, dos nacionalismos e ‘soberanismos’, a emergência de uma democracia global.
No que nos diz respeito, ele é o devir-periférico do mundo.’
ACELERAÇÃO
Correndo para onde?
‘SÃO PAULO – A propósito da coluna sobre a aceleração dos tempos, publicada anteontem, recebo comentários assustados de Edwin Lima, antigo interlocutor, um salvadorenho formado no Brasil e que hoje trabalha na Holanda, uma espécie de atestado ambulante da globalização.
Diz Edwin: ‘Venho me perguntando faz algumas semanas até que ponto o mundo está preparado para receber tanta informação com tamanha velocidade, a velocidade da internet. Para mencionar somente as Bolsas: antes, para saber os resultados, havia que ligar para o corretor ou esperar o telejornal à noite ou então o jornal no dia seguinte.
Hoje, tudo flui ‘na velocidade do pensamento’ (lembra de Bill Gates?). Hoje, neguinho não tem que esperar o corretor para comprar ou vender; ele é o corretor, é ele quem compra e vende. É exatamente essa dinâmica que move o humor do mercado (leia-se compradores e vendedores)’.
Aí, da velocidade de hoje à de antigamente, escreve Edwin: ‘Entretanto, a economia real continua a caminhar na mesma velocidade de antigamente. Nós ainda demoramos o mesmo tempo de sempre para comprar uma calça ou fazer supermercado. Ou seja, há um descompasso ainda maior entre o mercado financeiro e a economia real; entre o valor real das coisas e o valor nominal de uma empresa. Hoje uma empresa pode estar muito bem, amanhã pode ter quase falido porque o valor das suas ações, em virtude de um espirro no mercado financeiro, foi lá pra baixo’.
Meu amigo virtual chega a duvidar da crise: ‘Tem hora que eu não acredito mais na crise; ela hoje é, amanhã não mais, e depois de amanhã, quem sabe? Uma loucura’.
Edwin termina com uma dúvida que eu tenho sempre: ‘Esse descompasso entre economia real e mercado financeiro é realmente algo de que a humanidade precise?’.
Precisa?’
GRAMPOLÂNDIA
Judiciário autoriza mais de mil grampos por dia no país
‘Dados oficiais das operadoras de telefonia enviados à CPI dos Grampos e compilados por técnicos da comissão revelam que foram feitas pelo menos 375.633 escutas telefônicas com autorizações judiciais em 2007 -ou seja, em média foram iniciadas mais de mil interceptações a cada dia.
A análise dos dados revelou irregularidades explícitas, como grampos determinados por varas de família -a lei diz que a escuta só pode ser usada em investigação criminal. Também foram dadas ordens para interceptações por período superior ao limite de 15 dias. Há casos de grampos contínuos por 190 dias, sem os devidos pedidos de prorrogação na Justiça.
O levantamento é a espinha dorsal da investigação da CPI, que apontará o abuso na utilização do instrumento de investigação, segundo o presidente da comissão, deputado federal Marcelo Itagiba (PMDB-RJ): ‘Esses dados inéditos comprovam o descontrole total e absoluto de todas as instituições que lidam com os grampos, da Justiça às polícias, passando pelas operadoras, que são concessionárias de serviço público e muitas vezes não têm controle dessas atividades’, diz Itagiba, ex-secretário de Segurança do Rio e ex-superintendente da Polícia Federal no Estado.
Não é possível dizer que foram grampeadas 375.633 linhas telefônicas, já que um mesmo número pode ter sido alvo de ordens judiciais diferentes. E, dentre os pedidos atendidos pela Justiça, também pode haver casos de prorrogações de escutas em curso.
Versão do CNJ
Ainda assim, o número contrasta com as declarações do corregedor do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), Gilson Dipp, responsável por elaborar um cadastro dos grampos no país. Com base em informações recebidas pelo CNJ, Dipp afirmou que o número de escutas foi ‘infinitamente menor’ do que dizia a CPI dos Grampos.
O corregedor referia-se à estimativa da CPI de que 409 mil interceptações foram realizadas ano passado, feita a partir de depoimentos de representantes das operadoras à comissão. Porém, o número calculado agora pela CPI com base nas informações prestadas pelas operadoras é apenas 8% menor do que a primeira estimativa.
Na sexta, a Folha procurou o corregedor para que ele comentasse os novos dados, mas, segundo a assessoria de imprensa do órgão, Dipp estava no Chile e não foi localizado.
Em razão de respostas incompletas enviadas pela maioria das 13 operadoras acionadas, a CPI só pôde fazer um mapeamento parcial dos grampos. Baseado nos dados de apenas três operadoras, de nomes não divulgados, que responderam aos questionários na íntegra e disseram ter feito 150 mil interceptações, a comissão diz que 23% delas foram em telefones do Estado de São Paulo.
Celulares
Considerando apenas celulares, essas três operadoras fizeram 85,7 mil escutas, a maioria em telefones de São Paulo: 21,7 mil (um em cada quatro grampos). Em seguida vieram os grampos em celulares do Paraná (13,3 mil), Santa Catarina (6,3 mil), Minas Gerais (5 mil) e Pernambuco (4,8 mil).
A CPI não informou o nome dessas operadoras nem daquelas que prestaram informações incompletas: quer evitar novos problemas com a Justiça, como a liminar do Supremo Tribunal Federal que desobrigou as empresas de enviarem à comissão cópias dos mandados judiciais que ordenaram os grampos.
Para Itagiba, a entrega dos mandados judiciais seria a única forma de a CPI fazer um mapeamento completo das escutas no país e levantar os casos de abuso de poder, como os de grampos ilegais ‘enxertados’ em investigações sem relação com os donos dos aparelhos.
Em cartas enviadas aos presidentes da Câmara e do Senado, Itagiba queixou-se dos ‘atos de intervenção’ do STF nas atividades da Congresso. ‘Da forma como o Supremo vem se comportando, a caixa-preta dos grampos continuará fechada’, diz ele, lembrando que a Justiça já transferiu ao Congresso o sigilo de dados confidenciais, como nas CPIs dos Bingos e dos Sanguessugas.
Apesar de afirmar que a CPI já diagnosticou excesso no uso de grampos pelas polícias, Itagiba diz que não é contrário ao uso desse expediente: ‘É um instrumento fundamental para investigação de crimes como corrupção, tráfico de drogas, terrorismo, seqüestros e outros. E é justamente por isso que não se pode permitir que caia no descrédito’.’
Sergio Torres
Juiz recordista de grampos alega sofrer ameaças
‘Recordista nacional na autorização de escutas telefônicas, o juiz Rafael de Oliveira Fonseca, da Vara Criminal de Itaguaí (cidade a 75 km do Rio), diz que está sendo ameaçado de morte, vive sob proteção policial e que o número de grampos que liberou é menor do que o divulgado pela CPI dos Grampos.
A CPI recebeu das operadoras Oi/Telemar, Brasil Telecom e Claro a informação de que em 2007, com autorização da vara criminal de Itaguaí, foram grampeados 2.147 telefones. Como o IBGE estima a população do município em 103.515, a relação é de uma escuta para cada 48 habitantes. Naquele ano, em todo o Estado do Rio, foram autorizadas 7.145 interceptações.
Em entrevista por e-mail, o juiz Fonseca afirma que ‘o número [de escutas] é significativamente menor e todas as medidas cautelares de interceptação telefônica deferidas pelo juízo foram revestidas de todas as formalidades legais, com intervenção prévia do Ministério Público e operacionalizadas pela Polícia Federal’.
Fonseca, 36, não informou quantas escutas autorizou.
O juiz disse que, por causa de ameaças, o Tribunal de Justiça o mantém sob proteção policial, com escolta em Itaguaí e no Rio. Sobre a razão de ter autorizado as escutas, ele diz que Itaguaí é atravessada pela Rio-Santos, ‘rodovia federal de intenso fluxo’, conectada a ‘outras rodovias importantes como a Dutra e a antiga Rio-São Paulo’.’A criminalidade é conexa. Por certo, não foram terminais ou cidadãos de Itaguaí os monitorados, em sua maioria’, afirmou.
Convocado duas vezes para depor na CPI, o juiz não compareceu, amparado por habeas corpus concedido pelo Supremo Tribunal Federal. ‘O juiz deveria vir à CPI dizer que os números estão errados, esclarecer isso ao público’, diz o presidente da CPI, deputado Marcelo Itagiba (PMDB-RJ).’
TELEVISÃO
Ela se acha
‘A modelo Isabella Fiorentino, 31, não era a preferida do SBT, mas levou a vaga de apresentadora do reality ‘Esquadrão da Moda’ porque era a única entre as postulantes que tinha alguma experiência em TV -ela substituiu Ana Hickmann no extinto ‘Tudo a Ver’ (Record). Mas Fiorentino está dando trabalho à emissora. Erra muito, o que atrasa as gravações do programa, que ocorrem em locações, como lojas, e no mesmo estúdio de ‘Casa dos Artistas’. Ela divide o programa com o stylist Arlindo Grund. Na atração, faz comentários sobre o guarda-roupas dos participantes e dá dicas de vestuário. Ainda não há previsão de estréia.
Novela das oito vai mostrar vida ‘infernal’ de professores
Próxima novela das oito da Globo, ‘Caminho das Índias’ vai retratar o ‘inferno’ em que trabalham professores, principalmente de escolas públicas. Na trama, Sílvia Buarque e Deborah Bloch serão professoras. Duda Nagle interpretará um bad boy, filho de pais permissivos, que vive a infernizá-las.
‘Há tempos venho conversando com professores na internet. Discutimos os problemas que eles vivem hoje nas salas de aula, enfrentando o desrespeito dos alunos, que atendem celulares, escutam MP3, papeiam livremente durante as aulas, indiferentes aos esforços do professor para se fazer ouvido. Isso quando a coisa não degringola em agressões, que vão parar no noticiário policial’, conta a autora, Glória Perez.
Nos últimos meses, Perez recebeu relatos impressionantes de professores. Um deles afirmou ter recebido uma gravata (golpe em que a vítima fica imobilizada) de um aluno, enquanto os demais passavam as mãos em suas nádegas. Ele teve um colapso nervoso e mudou de profissão.
Perez irá comparar o ensino no Brasil e na Índia. ‘Vamos falar de educação, que é mais do que ensinar a ler e a escrever. Também é ensinar valores. Por isso a comparação com a Índia, onde se reverencia aquele que transmite alguma sabedoria ou alguma experiência.’
Além dos maus alunos, Deborah Bloch, que interpretará Sílvia, terá de enfrentar a vilã Yvone (Letícia Sabatella), que Perez define como psicopata.
OLHA O LAQUÊ!
Aracy Balabanian (foto) gravou na última quinta participação em ‘Toma Lá, Dá Cá’. Foi uma festa. Ela reencontrou Miguel Falabella e Marisa Orth, parceiros em ‘Sai de Baixo’, sucesso no final dos anos 1990. O texto do episódio que ela gravou, é claro, faz várias referências ao antigo humorístico. Numa delas, Marisa Orth comenta com Falabella: ‘Ela não te lembra alguém? Talvez com um cabelo mais armado, com mais laquê?’. Em ‘Sai de Baixo’, Aracy era chamada de ‘Cabeção’ e ‘Rainha do Laquê’. Falabella improvisou diversas falas. Elenco e produção tiverem vários acessos de riso.
NÃO, OBRIGADA
Até ator desconhecido está esnobando o SBT. Procurada para renovar contrato, Renata Ricci disse não. Ela gravou ‘Revelação’, que está para estrear desde maio, o que prejudica atores em futuros trabalhos. ‘Claro que o fato de ‘Revelação’ ainda não ter ido ao ar contribuiu’, disse a atriz, em nota.
ELENCO
Flávia Alessandra, Julia Lemmertz, Nicette Bruno e Juan Alba foram escalados para ‘Nada Fofa’, especial de fim de ano da Globo estrelado por Leticia Spiller.’
Laura Mattos
quem precisa da TV aberta?
‘O que restou na televisão aberta para os ‘baixinhos’, como diz Xuxa, passada a era das apresentadoras loiras?
Com raras exceções, como o ‘Cocoricó’, da Cultura, a TV aberta se mostra cada vez menos capaz de criar fenômenos entre crianças e os chamados ‘tweens’, os pré-adolescentes. As ‘paixões’ da meninada hoje são ‘Backyardigans’, ‘Ben 10’, ‘High School Musical’ e outros programas totalmente gestados em canais pagos, que estampam milhares de subprodutos, de DVDs a cuecas e macarrão instantâneo.
Essa transformação se relaciona diretamente ao fato de as grandes redes abertas terem reduzido significativamente o investimento em programas infantis, considerados caros.
Além disso, a TV paga aumentou sua penetração no país. Em 2003, quando voltou a crescer, eram 3,5 milhões de domicílios, hoje são mais de 5,5 milhões, 80% da classe AB.
Por fim, os canais infantis ampliaram substancialmente a base de assinantes e estão entre os líderes de alcance. O Discovery Kids, pré-escolar, tem mais assinantes do que qualquer canal pago. De 2,2 milhões em 2002, já ultrapassou 4,8 milhões, contra 4,1 milhões da Warner e 3,9 milhões do Multishow, populares canais de entretenimento. O Cartoon tem 3,8 milhões, o Disney e o Nickelodeon, 3,6 milhões cada um, o Jetix, 3,2 milhões e o Boomerang, 2,8 milhões. A TV Rá-Tim-Bum, único infantil fechado nacional, está com 1,6 milhão (‘Mídia Fatos’ 2008).
No Discovery Kids, os telespectadores adoram ‘Hi Fi’, ‘Lazytown’, ‘Charlie & Lola’ e os ‘Backyardigans’. Os pequenos têm mochilas, pelúcias e fazem festas de aniversário com esses personagens. Garotos maiores são fãs, entre outros programas, de ‘Ben 10’, desenho criado pelo Cartoon que já virou filme para a TV. Ben, garoto que se torna herói ao girar o relógio, estampa mais de mil produtos só no Brasil.
Já os pré-teens são ávidos consumidores dos mais de 500 produtos do ‘High School Musical’, filme realizado e exibido pelo Disney Channel no qual uma banda se forma na escola, e seus ‘filhotes’ com enredos semelhantes, como ‘Hannah Montana’ e ‘Camp Rock’.
Muitos desses programas chegam à TV aberta -’Backyardigans’ passou pela Rede TV!, ‘Ben 10’ vai ao ar no SBT e ‘High School’ foi exibido pela Globo. Mas quando isso ocorre, o fenômeno já está consolidado, ainda que possa ser alavancado, segundo executivos entrevistados pela Folha, visto que a TV fechada está em menos de 10% dos lares.
‘Quando ‘Ben 10’ chegou ao SBT, já era sucesso no Cartoon. Mas a venda de licenciados foi multiplicada talvez por dez. Não podemos ignorar a classe C, que não tem TV paga e é ávida por consumo’, diz Adriana de Souza, diretora de licenciamento do Cartoon no Brasil.
Para Herbert Greco, diretor de marketing da Disney no Brasil, a TV aberta nem sempre tem esse poder. ‘Quando os programas vão para canais abertos, já estouraram. Às vezes, espera-se aumento das vendas e isso não ocorre.’
O êxito de canais infantis é ligado também à segmentação da TV fechada. ‘Pensamos 24 horas em crianças. Na TV aberta, isso não acontece’, afirma André Rossi, gerente de programação do Discovery Kids.
E aí vem a segmentação da segmentação. Disney e Nickelodeon acabam de lançar Playhouse Disney e Nick Jr., que disputam com Discovery Kids. São três canais só para ‘baixinhos’ de zero a cinco anos.
Não há Xuxa que dê conta.’
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‘Backyardigans’ terá dinossauro em nova fase
‘Os bichinhos mais adorados pelas crianças na TV vão ganhar um novo amigo. Na terceira temporada de ‘Backyardigans’, que estréia no próximo dia 17 no Discovery Kids, o alce Tyrone, a hipopótamo Tasha, o pingüim Pablo, o canguru Austin e Uniqua (um animal inventado) vão receber, em alguns episódios, a visita de um dinossauro chamado Boy.
Quem contou a novidade à Folha foi Janice Burgess, criadora da série animada exibida em 54 países, com mais de 800 produtos licenciados.
O programa se destaca por valorizar a imaginação infantil, uma vez que a turma transforma o quintal em palco de aventuras fantásticas, que podem se passar em oceanos ou desertos. Seus pontos altos são as canções em vários estilos e a ginga dos bichos. Cada coreografia é desenvolvida por dançarinos profissionais. O trabalho, dirigido por um coreógrafo, é filmado e serve de referência para que os animadores coloquem os personagens para dançar.
Em entrevista por telefone, Burgess falou das novidades, revelou de onde tirou a idéia para a série e se disse ‘triste e com raiva’ de ver seu ‘trabalho de anos’ ser usado na venda de produtos piratas.
FOLHA – De onde você tirou a idéia de criar uma série em que os personagens vivem grandes aventuras no quintal?
JANICE BURGESS – Quando recebemos a encomenda de criar algo, nossa experiência é muito importante. E eu, quando era criança, costumava brincar com meus amigos no quintal.
FOLHA – Por que inventou a personagem Uniqua, que não é nenhum bicho de verdade?
BURGESS – É uma das minhas personagens mais queridas. As pessoas são diferentes e únicas, assim como ela é.
FOLHA – Por que usa estilos tão diversos nas canções, da música clássica ao rock?
BURGESS – Porque posso usar. O compositor me diz: ‘Não quero ter que pensar em algo novo para todos os episódios!’. E eu respondo: ‘Deixa que eu penso’. Não há muita razão, escolhemos diferentes ritmos para ter diversidade.
FOLHA – O Brasil verá um episódio com samba e Carnaval?
BURGESS – Carnaval não, mas terá um com samba na terceira temporada.’
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Crianças agora querem novelinhas, afirmam canais
‘‘Live action’. Esse é o termo do momento entre os canais para crianças e pré-adolescentes. Engloba tudo o que não é desenho animado, mas produzido com pessoas ‘de verdade’, como séries, programas com apresentadores, ‘reality shows’ e até novelinhas.
‘É um fenômeno recente entre crianças a partir de uns sete, oito anos. Esses programas geram uma identificação imediata com o público. Eles gostam de tramas que falam do primeiro romance, de moda, da escola, que tenham algo ‘real’. Mesmo os desenhos animados para essa fase estão se aproximando do ‘real’, diz Carolina Vianna, diretora de marketing no Brasil da Viacom, da Nickelodeon.
André Rossi, gerente de programação do Discovery Kids, observa a tendência entre pré-escolares. Por isso, o canal investiu em novas atrações com pessoas, como ‘As Aventuras de Bindi’, com uma garota que fala da natureza, e ‘Mister Maker’, no qual o apresentador ensina a fazer trabalhos manuais. Na opinião de Vianna, isso tem a ver com ‘a precocidade das crianças, o avanço da tecnologia, a internet’.
Entre os sucessos do Nickelodeon nessa área estão o ‘reality’ ‘The Naked Brothers Band’ (dois irmãos que tocam rock) e o seriado ‘iCarly’ (cantora que começa a carreira na escola). Como se pode ver, são ‘parentes’ do megafenômeno do ‘live action’, o ‘High School Musical’, do Disney Channel.
Tem também ‘Karku’, a primeira novela teen exibida no Nickelodeon, do Chile. No próximo ano, estréiam uma trama da Venezuela e outra realizada na Argentina. E já está nos planos a produção de uma novela no Brasil.’
Bia Abramo
Max Headroom está de volta
‘E A princesa Leia, de ‘Guerra nas Estrelas’ no distante 1977. E o teletransporte de ‘Jornada nas Estrelas’, a série de TV dos ainda mais distantes anos 60. E ‘Minority Report’, do mais próximo ano de 2002, e o repórter-cabeça, gerado por computador dos anos 80 que dá o título à coluna.
Todos esses personagens e truques da ficção científica do século 20 concentraram-se em uma cena de pouco mais de quatro minutos da cobertura da CNN no dia das eleições presidenciais norte-americanas. Do quartel-general, em Nova York, o âncora Wolf Blitzer chamou a repórter Jessica Yellin, que estava em Chicago. Em vez de aparecer no vídeo, a repórter materializou-se como imagem holográfica diante Blitzer para fazer o boletim sobre o clima de rua na apuração dos votos.
A qualidade da imagem em três dimensões produzida pelo holograma tem algo ainda de precário -os contornos e extremidades do corpo são menos nítidos e ‘traem’ a ilusão da tridimensionalidade. Ao mesmo tempo, sugerem a ‘mágica’ do teletransporte, tecnologia trekker que consistia em desintegrar num lugar e reintegrar em outro objetos, pessoas e alienígenas, uma das grandes atrações do seriado ‘Jornada nas Estrelas’.
Não à toa, Blitzer usou a expressão ‘beam in’ (a partir de irradiar, emitir) para descrever a operação de ‘aparecimento’ da repórter holográfica na redação em Nova York. Em ‘Jornada nas Estrelas’, o capitão Kirk dava a ordem ao chefe dos transportes para entrar ou sair da nave Enterprise dizendo: ‘Beam me up, Scotty’ (traduzida, por aqui, como ‘leve-me para cima, Scotty’).
O outro truque tecnológico da CNN usado nas eleições foi a ‘parede mágica’ (‘magic wall’), uma espécie de monitor gigante cujas imagens são manipuláveis diretamente na tela. O efeito é menos impressionante do que a repórter virtual em três dimensões, uma vez que tecnologias semelhantes já são usadas em alguns computadores e no iPhone -e, claro, já tínhamos visto coisa parecida no ‘Minority Report’ anos atrás e na cobertura da Globo da Olimpíada.
Se a presença holográfica é quase que uma curiosidade, a parede mágica significa um passo significativo da transformação da experiência de ver TV em algo mais próximo daquela que temos diante do computador.
A técnica, entretanto, não superou a história. As imagens de fato impressionantes desta semana que passou foram produzidas simplesmente pela alegria que tomou conta dos eleitores de Barack Obama festejando a vitória.’
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