Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Folha de S. Paulo

CRISE NO SENADO
Saulo Ramos

Pode repetir-se o castigo

‘SOUBE QUE José Sarney foi avisado para não se candidatar a presidente do Senado porque o mundo desabaria sobre ele como um vulcão de coisas impossíveis. Já às vésperas das eleições para a Presidência da República e para o Congresso, com renovação de dois terços do Senado, a empreitada seria temerária. Ele seria o primeiro alvo.

Aceitou a candidatura já provocando o primeiro impossível: PSDB e PT juntos do lado contrário. E cometeu a segunda impossibilidade: ganhou as eleições.

A despeito de sua história de serviços prestados ao Brasil, a despeito de uma vida parlamentar de mais de 30 anos sem nenhuma acusação, tornou-se, de uma hora para a outra, o alvo de todas as raivas, a Geni de todos os ansiosos para virar notícia de jornal, com acusações de todos os naipes alinhavadas, umas atrás das outras, para alimentar um noticiário continuado contra sua permanência no cargo.

Houve uma época em que todo o mundo acusava Sarney de haver distribuído rádios e televisões aos constituintes para obter um mandato de cinco anos. Depois ficou demonstrado que seu mandato era de seis anos e que a acusação era ridícula, pois ele renunciou a um ano. Ninguém mais falou no assunto.. Mas, agora, o que acontece agora?

Seria simples revanchismo dos derrotados na eleição da Mesa Diretora, dentre os quais há um especializado em vinganças miúdas? Ou, tendo o início nessa motivação, vislumbrou-se atribuir os escândalos do Senado concentrados a um único senador para atingir a estabilidade da instituição e evitar a apuração das responsabilidades por atos acusados de ilícitos e que ele próprio mandou apurar?

Ou, como ocorre quando aguçadas ambições políticas, sem respaldo popular, desesperaram-se e pretendem tumultuar a governabilidade do país para colher frutos eleitorais no próximo ano, que os ameaça com estiagem de votos? Ou é tudo isso conexo, misturado, conjugado e orquestrado? A vida pública de Sarney foi sempre pautada pelos valores da democracia. Daí seu apego ao diálogo, ao entendimento, às formas consensuais para a solução dos problemas.

Com esse comportamento, fez com que o país, em momentos relevantes de sua história, se reconciliasse e reencontrasse o seu destino de grande nação democrática. No momento em que o Brasil esteve na iminência de sofrer um retrocesso para o totalitarismo, apaziguou as partes em conflito e administrou com humildade os ânimos extremistas que desejavam impedir a volta do Brasil ao Estado de Direito.

Convocou a Constituinte, ajudou, com serenidade, os trabalhos da institucionalização do país submetida a enormes embates e tensões. Foi acusado de não dar murros na mesa. Soube conduzir o Brasil para a legalidade estabilizada, da qual desfrutam as novas gerações com plenas liberdades públicas e políticas. Para que serviu tudo isso? Para os jornais aceitarem futricas plantadas sobre atos secretos do Senado ocorridos durante os últimos 15 anos como se todos tivessem sido por ele praticados nos últimos 15 dias?

Não se pode admitir que uma obra dessa grandeza e de mais de meio século seja, em minutos, esfarelada por intrigas de interesses subalternos, provocadas por ambições eleitorais a serem tentadas no próximo ano, quando, passadas as eleições, ninguém mais falará em nada nem o acusará de coisa alguma, como não o fizeram durante 30 anos de Congresso e não o haviam feito enquanto não se tornou presidente do Senado em véspera de ano eleitoral.

Culpado é o Sarney. Fora, Sarney! Mas como chegar a essa conclusão doidivanas se por ele foram acionados todos os mecanismos de controle e investigação disponíveis, o Ministério Público, o Tribunal de Contas da União e a Policia Federal, para investigar tudo naquele templo de mistérios que é o Senado Federal?

Sarney tem algo que não agrada ao imediatismo da crítica popular. Quer fazer tudo dentro da lei porque a lei é a razão isenta de paixão. Contra isso levanta-se o ódio de algumas pessoas, sob a hipócrita justificativa de que a isenção seria assegurada pelo seu afastamento, e não pela aplicação do direito. Na Roma antiga, Sêneca já advertia: a razão quer decidir o que é justo, a cólera quer que se ache justo o que ela já decidiu.

Nosso país precisa aprender com as lições do passado. Sarney já foi submetido a um linchamento igual, pelos mesmos políticos, os mesmos veículos de comunicação, com pequenas variações, o mesmo estilo de acusações destituídas de seriedade até pelo volume crescente e diário da campanha sistemática sem verdade alguma que se comprovasse. Tudo igual. O resultado daquela primeira vez levou o Brasil a ser governado por um Fernando Collor. O castigo pode repetir-se.

JOSÉ SAULO PEREIRA RAMOS, 80, é advogado. Foi consultor-geral da República e ministro da Justiça (governo Sarney). É autor do livro ‘Código da Vida’.’

 

Mônica Bergamo

Senatour

‘Em visita de dois dias, repórter circula pelas dependências do Senado e, em meio à crise, ouve explicação atrás de explicação.

***

José Sarney está abatido. Na cadeira em que preside a sessão do Senado, na terça-feira, tem o ar grave, circunspecto. Todos os partidos, fora o PMDB, pedem que saia do cargo. ‘Eu sou médico, cirurgião, pós-graduado. Pode colocar aí: o presidente Sarney não está deprimido’, diz o senador Mão Santa (PMDB-PI). ‘Ele tem é um comportamento compatível com a idade dele. E outra: você deve muito a esse homem. José Sarney fez a transição democrática neste país sem o registro de nenhuma morte!’

Mas, senador, o presidente parece pálido, talvez a crise… ‘Que crise? Crise nenhuma!! Um jornal e um repórter valem pela verdade que dizem, meu caro!! Sabe o que dizia Wisom Xôchou?’. Quem? ‘Winston Churchill’, diz o assessor, ajeitando a gravata do chefe.

Os jornalistas que fazem reportagens sobre o Senado ficam em um cercadinho na margem esquerda do plenário. Para conversar com um parlamentar, é preciso esperar que ele olhe (sem ignorar). Com o dedo polegar e o indicador, fazendo sinal de ‘por favor, só um minutinho’, o jornalista deve usar uma expressão de clemência (foi assim com Mão Santa). Quase sempre o parlamentar atende ao apelo.

Quando o jornalista cruza com um senador do lado de fora do plenário, tem de estar preparado para correr atrás dele, em galerias cobertas por grossos tapetes azuis. O repórter Paulo Sampaio, enviado na semana passada a Brasília, apressa o passo atrás de Renan Calheiros. O senador pernambucano Jarbas Vasconcelos, do PMDB, dissera há pouco que Renan ‘manda em todo mundo no Senado, menos em mim e no Pedro [Simon] (PMDB-RS)’. Renan acelera. O repórter quase corre atrás dele. ‘Não quero falar. Eu também fui presidente, isso acaba sendo divulgado…’, diz o senador.

A terça-feira foi particularmente agitada na Casa. Comemoravam-se os 15 anos do Plano Real, com as presenças de Fernando Henrique Cardoso e Aécio Neves, acomodados entre Sarney e a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, alvo de investigação que apura improbidade administrativa em seu Estado.

‘Coitados, sentaram os dois [FHC e Aécio] entre os ‘caindo de podres’. Olha a cara do Aécio’, ri baixinho um jornalista. À saída, Aécio é cercado por câmeras de TV e por um bolinho de assessores e jornalistas. Acha que a Yeda queimou seu filme, governador? ‘Nada, isso não contamina, não. Cada um tem seus problemas.’

Os jornalistas podem frequentar também o café que fica ao fundo do plenário do Senado e se sentar com os parlamentares para tomar um chazinho, um suco e comer bolachinhas. O lugar tem as paredes brancas, mesas redondas e um biombo na entrada da cozinha. Ali, é um permanente entra-e-sai. Mesmo quem está envolvido em alguma situação delicada parece tranquilo. É o caso do primeiro-secretário Heráclito Fortes (DEM-PI). Responsável, no momento, por ‘moralizar a crise’, empregou em seu gabinete Luciana Cardoso, filha do ex-presidente FHC, que recebia para trabalhar em casa.

Heráclito leva à boca uma colherada de um minifrapê diet de abacaxi, servido pela copeira do café. Depois que se submeteu à cirurgia de redução do estômago, ele precisa fazer sete refeições pequenas por dia. Já perdeu 25 kg (de 125 kg).

O democrata diz que Luciana foi ‘injustiçada’. ‘A menina precisava trabalhar pra viver. Quando o Fernando Henrique foi embora do Palácio da Alvorada, me disse: ‘Nossa maior preocupação é a Luciana, que precisa ficar em Brasília’. O marido dela é funcionário público, trabalha no Itamaraty, entende? Então, eu disse: ‘Não se preocupe, presidente’. Ela organizava recortes para montar uma biografia minha. A Luciana é tão correta que, quando a dona Ruth estava muito mal, em São Paulo, ela pediu autorização para ficar com a mãe. Depois da morte, ela me ligou perguntando se podia ficar mais uns dias. Numa situação daquelas, ainda perguntou se podia, entende?’

Tião Viana (PT-AC), um dos mais atuantes do ‘grupo ético’, atende ao chamado de ‘um minutinho’ do repórter e prega, pela enésima vez, o afastamento do maranhense José Sarney da presidência do Senado. Quando se pergunta como sua filha conseguiu gastar R$ 14 mil em telefonemas de celular, disparados do México e pagos pelo Senado, Viana faz uma expressão de quem acabou de comer um pirarucu estragado. ‘Já disse o que tinha de dizer sobre isso. Deixa cicatrizar. O Jarbas Vasconcellos passou dois meses sem falar, eu também tenho direito. O dinheiro não é do Senado, é meu.’ Vai pagar em quantas vezes mesmo? 72? ‘Depois a gente fala, amigo…’ Na galeria atapetada, o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM) dá entrevista para uma TV e defende a saída de Sarney. A reportagem aproveita o ensejo. Senador, ficou a dúvida: foram R$ 10 mil ou US$ 10 mil (emprestados a ele por Agaciel Maia)? ‘R$ 10 mil’, diz ele, com a bochecha intumescida e vermelha. ‘Eu estava numa situação, mestre, em que você faria a mesma coisa [pedir R$ 10 mil a um assessor que pediu ao diretor-geral do Senado]. Naquela situação, não existe santo. Qualquer ser humano faria. Já está tudo saldado.’

Logo depois, o repórter recebe um telefonema de Sandra Ibiapina, assessora de Virgílio, convidando para um cafezinho no gabinete. ‘Você pegou o senador meio acelerado, venha até aqui conversar comigo com calma’, sugere.

Apesar dos escândalos administrativos, a pauta do dia entre as secretárias e assessores parlamentares é o bunker de cerca de 140m2 que Agaciel mantinha, entre o andar de seu gabinete e o debaixo, para reuniões secretas e, segundo a revista ‘Época’, encontros íntimos [teriam sido encontrados no local um DVD do filme pornô ‘Tardes Molhadas’ e um tubo do lubrificante KY pela metade, com validade de dezembro de 2009]. A matéria também fala do BMW de Cristiane Tinoco, secretária de Agaciel.

Sandra Ibiapina conta que Cristiane -que começou como secretária- mandou um e-mail aos senadores explicando que é solteira e que o BMW foi comprado por ela para realizar um ‘sonho de final de juventude’.

Nos túneis de mármore e corredores que ligam os vários prédios anexos do Senado, funcionárias usando sapatos altos e bolsas grandes recebem beijocas sapecadas por parlamentares de passagem. Às vezes, eles param para cumprimentá-las olhos nos olhos, segurando no queixo, alisando a escova definitiva. ‘O Senado sempre foi uma casa de tolerância’, diz no plenário o senador Cristovam Buarque (PDT-DF). Depois, tenta explicar: ‘Quis dizer que a Casa sempre teve muita tolerância nas relações pessoais. Entendeu?’

Volta e meia toca uma sineta estridente, tipo recreio, ouvida em todo o prédio. É para chamar os parlamentares para sessões ou avisar que algum deles falou demais, além do tempo regulamentar. Nesse caso, o presidente Sarney, que passa a maior parte do tempo estático, mexe os dedinhos em um painel para abaixar o volume do microfone de quem abusou no discurso.

Num intervalo, a reportagem sobe ao 9º andar do Anexo 1, para visitar e entender melhor o setor que cuida dos serviços de ‘Direitos e Deveres’ e o de ‘Qualidade de Vida e Reabilitação Funcional’. Entra na primeira sala, onde há três funcionários. Pergunta que direitos e deveres são aqueles. ‘Menino do céu, todos os que a lei 8.112 regulamenta’, explica uma senhora de bochechas artificialmente rosadas, sombra colorida e batom forte.

Entre outros direitos, a lei 8.112 regulamenta horas extras, gratificação natalina e adicional por atividades penosas. No rol dos deveres, está cumprir as ordens superiores, exceto as manifestamente ilegais.

Na sala da qualidade de vida e reabilitação funcional, a chefe, Denise Costa, se senta ao lado de uma bolsa preta lustrosa Guess. Apesar do cargo, ela diz que não tem autonomia para falar sobre o programa: ‘Diante da situação da casa, nós não podemos dar informações’. Muita gente a ser reabilitada, Denise? Ela precisa de autorização da ‘doutora Dóris Marize’, diretora de RH, para responder.

Denise pede para o repórter aguardar a chegada do assessor de imprensa. Na presença dele, ela já pode falar. Mas é difícil entender quais são as ‘várias ações do programa’. Ela começa pelas ‘não ações’. ‘Funcionário comissionado não é contemplado’, explica. A ‘atividade corporal de integração vai ser implementada com o tempo’. E ‘outras atividades, no segundo semestre’.

De volta ao plenário, a coluna avista a cabeleira do senador Wellington Salgado (PMDB-MG), vulgo ‘Cabelo’, que pagou com verba de seu gabinete uma jornalista da rádio Itatiaia, de BH, para fazer releases radiofônicos do ministro Hélio Costa, das Comunicações. ‘Eu não vou enfartar por causa dos outros. Se você quer saber, tô perdendo dinheiro aqui. Meu valor HH (homem-hora) lá fora é muito maior’, diz o senador, que é dono de universidade.

No entendimento de Salgado, o que deflagrou escândalo na Casa foi ‘a modernidade e a informática, que tornaram tudo muito transparente’. ‘Você tem que ver que o Senado é uma casa de idosos, de gente da época do telefone.’’

 

AURÉLIO
Carlos Heitor Cony

O morfema

‘RIO DE JANEIRO – Estava mais ou menos distraído quando, de repente, me vi diante de uma palavra que me derrubou: ‘morfema!’. Que diabo seria isso? Com alguns livros publicados, reeditados, traduzidos e devidamente espinafrados pelas cultas gentes, teria a obrigação elementar de saber o que era morfema.

Pelo som da palavra, pensei em morfeia, em morféticos, em coisas assim, mas não fazia sentido com a frase que estava lendo. Quando sofro um assomo de sabedoria e me considero razoavelmente informado, costumo ler bulas de remédio para sentir a humilhação de não entender nada do que estou lendo.

O morfema não estava numa bula de remédio, mas em texto erudito de um crítico literário. Não tive outro jeito. Fui ao ‘Aurélio’, na esperança de saber o que era, o que podia ser, o que fazia um morfema na complicada faina do saber.

‘Morfema – elemento que confere o aspecto gramatical ao semantema, relacionando-o na oração e delimitando a função e significado. (Pode ser dependente [afixo, desinências, etc.] e independente (preposição, conjunção etc.).’

Tremi em minhas bases. Fiquei sabendo mais ou menos o que era morfema, mas ampliei minha ignorância ao deparar com a palavra ‘semantema’. Era mais desafiadora do que o próprio morfema, que, aliás, tem palavras parecidas. O remédio era ir ao dicionário outra vez, e como o ‘Aurélio’ me pareceu muito simples, preferi o ‘Houaiss’, que é mais extenso e complicado.

Por Júpiter! Só de pegar o volumoso dicionário, editado pelo Roberto Feith, percebi que ficaria melhor se continuasse ignorando o que era semantema. Para quem não ficou sabendo o que era morfema, nada mais podia me interessar. Apesar disso, meu amigo e companheiro Evanildo Bechara teve a paciência de mitigar minha ignorância.’

 

TELEVISÃO
Daniel Castro

Galera Maneira

‘Preste atenção nesses corpinhos. Luke, 13, Mateus, 15, Xande, 15, Pedro, 15, e João Werneck, 17, formam a WWW, banda de irmãos e primos que conduz a trama de ‘Ger@l.com’, minissérie adolescente que a Globo estreia dia 20, em um cruzamento de mídias. Eles estão prontos para o sucesso, mas com os pés no chão. ‘A gente quer ver primeiro a repercussão e depois marcar show, show e mais show’, diz Xande, o vocalista, que está achando ‘muito maneiro’ bancar o ator.

Globo muda regra para evitar ‘figuração de luxo’ em novela

A Globo adotou novas regras para a reserva de atores para futuras produções. A medida visa principalmente evitar a ‘figuração de luxo’, em que um ator importante passa uma novela inteira em um personagem inexpressivo, enquanto outras obras da casa têm de se contentar com nomes menos expressivos ou menos adequados.

A partir de agora, se um autor quiser reservar, por exemplo, Letícia Sabatella para uma novela que irá escrever em 2011, terá que apresentar uma sinopse da obra e um perfil do personagem que imagina para a atriz.

A decisão final caberá a Manoel Martins, diretor-geral de entretenimento. Ele diz que ‘a decisão agora é corporativa’, ou seja, uma ‘decisão de empresa’. O novo sistema, afirma, leva em consideração ‘visão de conjunto, planejamento e crítica de cruzamento de elenco’.

Em outras palavras, será mais difícil um ator como Paulo José passar uma novela inteira com raras aparições, como vem ocorrendo em ‘Caminho das Índias’. Será mais raro também atores repetirem personagens e novelas apresentarem temáticas semelhantes.

O novo sistema já influiu na escalação da próxima novela das oito, ‘Viver a Vida’, de Manoel Carlos. Ela terá menos personagens que as produções do autor (cerca de cem), e metade do elenco é de novatos ou de lançamentos em TV.

Apesar da reserva, em alguns casos sobressai o bom senso. Foi o caso de Paola Oliveira. Ela estava reservada para a novela que substituirá ‘Viver a Vida’, em 2010. Mas Silvio de Abreu, que escreverá a história, a liberou para a próxima trama das seis, em que terá um papel de maior relevância -será a vilã.

METÁFORA DO BRASIL

Autor de ‘Vidas Opostas’, Marcílio Moraes (foto) já trabalha na próxima novela da Record, a que substituirá ‘Poder Paralelo’ no início de 2010. Desta vez, o realismo dos morros cariocas dará lugar a uma trama ambientada em uma pequena cidade, sem compromisso com a atualidade. Segundo Moraes, ‘Rio do Tempo’ (nome provisório) será uma ‘novela mais de personagem’ e com forte ‘pegada’ política. ‘Existe ali [na fictícia cidade] uma articulação política misteriosa, uma conspiração’, adianta. Mas não pretende ser um painel do Brasil em ano eleitoral. ‘No máximo, será uma metáfora’, diz.

PELO TELEFONE

O canal Multishow começa a gravar em agosto uma série juvenil em que o telefone celular aparecerá em todas as cenas. A produção será da Endemol-Globol. ‘O formato originalmente foi produzido na França. Mostra relacionamentos entre jovens, o que eles fazem, as baladas, as famílias, tudo pelo telefone celular’, explica Guilherme Zattar, diretor do canal. Todos os diálogos são falas por telefone ou SMS.

BABADO ANIMAL

Uma disputa pela guarda de uma cadela sem raça definida paralisou o ‘Dr. Pet’, quadro do ‘Domingo Espetacular’. A dona de Sofia, a mascote do apresentador Alexandre Rossi, não quer mais deixar o animal gravar. TV estressa o bicho, argumenta a mulher, de quem Rossi se separou recentemente. Ela até permite que a cachorra fique com o ex durante o dia, mas sem TV. Há duas semanas, ‘Dr. Pet’ não é gravado.

SIMULTÂNEO

Os próximos seriados da Globo terão lançamento de seu conteúdo em DVD imediatamente após a exibição do último episódio da temporada. Começará com ‘Aline’. Para tanto, a edição para TV e a finalização em DVD será feita quase ao mesmo tempo.

NO TELHADO

O projeto ‘Quadrante’, que já rendeu ‘A Pedra do Reino’ e ‘Capitu’ e deveria ter mais duas séries, está temporariamente suspenso. A Globo poderá fazer novos programas, mas só via produtora independente. A produção pela própria Globo é inviável, por ser muito cara.’

 

Bia Abramo

A TV redescobre o teatro

‘ESTREAR no mesmo dia da cerimônia-show fúnebre de Michael Jackson pode ter sido um golpe de azar para ‘Som & Fúria’ (Globo, entre terça e sexta, com início variando entre 22h30 e 23h50). A série, adaptada da canadense ‘Slings and Arrows’ por Fernando Meirelles, teve de concorrer com a comoção planetária. Por outro lado, pode também ter sido um golpe de sorte: numa coincidência incrível, no primeiro capítulo (serão 12 no total) também houve uma cerimônia fúnebre, concebida mais ou menos nos mesmos moldes do ‘memorial’ de MJ. O morto em questão é o diretor acomodado e decadente de uma companhia shakesperiana fixa e que se tornará, digamos, o espectro que vai rondar toda a série. A ironia proporcionada pelo acaso reforça o humor, que é o traço marcante de ‘Som & Fúria’. O funeral do capítulo de estreia acaba em desastre cômico, mas é o que devolve à companhia como diretor um sujeito ultratalentoso, inquieto e ‘louco’. Ex-ator e amigo do diretor Lourenço Oliveira, Dante Vianna ‘enlouquece’ de ciúme (como Otelo) da atriz principal Elen quando está fazendo um inesquecível Hamlet, que dura apenas três apresentações. Essa tensão camarada e divertida entre o diretor defunto, mas sensato, e o diretor vivo, mas meio amalucado, ambos igualmente empenhados em tirar a companhia da decadência criativa, constitui o eixo principal da série. Em torno desse núcleo, gravitam atores e atrizes, aspirantes com e sem talento, técnicos, funcionários do teatro e burocratas. Filmado no Teatro Municipal de São Paulo, a série revela um universo pouco conhecido ao público de televisão -os bastidores do teatro, com ensaios, dificuldades de botar de pé uma encenação teatral e brigas pelo dinheiro. E, claro, ali encena-se Shakespeare, o que tem a vantagem adicional de desmitificar o autor -há mesmo uma preocupação didática, no melhor sentido, de traduzir em miúdos algo do sentido das peças, dos personagens etc. Não se pode deixar de dizer que o projeto de Meirelles é, digamos, confortável -trata-se de uma adaptação, afinal. Isso, entretanto, é um pouco a marca do diretor: apostar em projetos de cara vencedores e fazê-los com capricho e, neste caso, bastante graça. Não é pouco e, além disso, pode apontar um caminho para as séries brasileiras. Há muito sobre a competência narrativa das séries do mundo de língua inglesa a aprender e, talvez, como já se faz com a telenovela, a adaptação seja um excelente jeito.’

 

Lúcia Valentim Rodrigues

TV se abre para a animação nacional

‘O mercado de animação brasileiro anda a passo de papa-léguas. É a opinião de Cesar Coelho, diretor do Anima Mundi, que percebeu o momento fértil do setor e reunirá os produtores nacionais para o fórum do festival, que começa na próxima quarta, apenas no Rio.

‘No princípio do Anima Mundi a gente promovia esse tipo de encontro, mas nunca com convidados locais, porque a produção não existia. Nesta edição, resgatamos o projeto e só com séries brasileiras. É um momento histórico, que reflete a conquista de mercado’, diz.

Sete seriados já têm contratos de exibição -alguns deles também englobando canais internacionais. A ideia é discutir os casos de sucesso para entender o que funciona e viabilizar outras parcerias com distribuidores estrangeiros.

Também de olho nisso, Coelho criou o Anima Business, em que um comitê internacional avalia projetos interessados em coprodução ou distribuição lá fora (inscrições em www.animamundi.com.br).

Andrés Lieban tem dois desenhos já comprados: ‘Quarto do Jobi’ é curto, com um minuto de duração, e veiculação na TV Rá-Tim-Bum e na TV Brasil; mais longa, com 52 episódios de 11 minutos cada um, ‘Meu Amigãozão’ vai passar na TV Brasil e no Canadá, que é coprodutor da série. A parceria permite utilizar os fundos de incentivo estrangeiros.

Lieban vê potencial para crescer, mas acha que o Brasil ainda está se estruturando e precisa criar uma indústria. ‘A forma artesanal não seduz o investidor. Então ainda é preciso um empurrão governamental. Acho que o mercado demanda novos estilos. A produção autoral daqui vem a calhar.’

Coelho faz coro: ‘O mercado é cruel, mas a gente tem uma cultura antropofágica, que permite passar os programas em outros países. Tem grande trânsito essa absorção de conteúdo que fazemos’.

A produção é essencialmente infantil, porque é a faixa etária de maior consumo. Por outro lado, é também onde tem mais concorrência atualmente.

A série ‘Peixonauta’, hoje líder no horário no Discovery Kids, montou o projeto em 2004. Os autores, Kiko Mistrorigo e Célia Catunda, demoraram dois anos para fechar o contrato. É o primeiro projeto do canal na América Latina.

Independentes

‘No Brasil, a TVs querem produzir tudo o que veiculam’, diz Mistrorigo. Só agora, com o custo mais baixo para as emissoras, as produtoras independentes estão conseguindo mais espaço. ‘O mercado quer o sucesso de um novo ‘Bob Esponja’, mas sem correr riscos. Reage mal a novidades. É maluco.’

Para a Discovery, o risco valeu a pena.. A série já foi vendida para a rede Al Jazeera, que a exporta para 27 países do Oriente Médio. Também lidera o horário na Colômbia, por exemplo. No ano que vem, vai virar longa-metragem e peça teatral.

‘Escola pra Cachorro’, de Stefan Leblanc, também investiu nos canais fechados primeiro. A série começa a ser exibida em outubro na Nickelodeon. Só no ano que vem entra na TV Cultura. Antes, deve estrear em duas redes canadenses.

‘As Aventuras de Gui & Estopa’, de Mariana Caltabiano, está em formato de longa (fora de competição) no Anima Mundi, mas sua versão em pequenos episódios entra no ar no Cartoon Network em agosto.

Ale McHaddo, do premiado curta ‘A Lasanha Assassina’, acha que pode ter outro modelo para viabilizar uma animação.

Sua produtora, em parceria com a Videobrinquedo, lançou ‘Escola de Princesinhas’ direto em DVD. Com 12 episódios prontos, venderam os direitos para a TV Rá-Tim-Bum.

A infanto-juvenil ‘Cordélicos’, sobre um bando de cangaceiros que enfrenta o Cabra da Peste no futuro, ainda não foi comercializada para a TV.

Mas ele não vai esperar. Deve lançar os primeiros quatro episódios em DVD enquanto as emissoras não decidem apostar no desenho.. ‘É difícil quando só se tem o mercado brasileiro para pagar a conta’, reclama.’

 

***

‘Hit de Bob Esponja não se repetirá’

‘O desenho animado ‘Bob Esponja’ completa dez anos na próxima sexta.

O que podia ser motivo de comemoração é visto com preocupação por Linda Simensky, atualmente vice-presidente de programação da rede pública americana PBS (Public Broadcast System)..

‘Um sucesso na TV hoje é conseguir manter o programa no ar. ‘Bob Esponja’ funciona no mundo todo, mas é representativo que ele tenha feito uma década no ar e não tenha surgido nada igual. Nem acho que vá surgir’, afirma.

Isso porque a forte concorrência entre os canais favoreceu uma procura por atingir públicos cada vez mais específicos. ‘Antigamente, a programação infantil era de dois a 11 anos. Hoje, acho difícil encontrar um desenho que meu filho de nove e minha filha de quatro anos possam assistir juntos.’

Também terminaram os canais infantis para variadas idades. Novas emissoras apareceram, e os desenhos são divididos entre menores faixas etárias.

‘As pesquisas também são muito eficazes. Agora é fácil fazer um programa que cumpra exatamente o que uma audiência segmentada procura. Estamos criando microalvos.’

Com 25 anos de experiência, Linda Simensky ajudou a criar uma identidade para o Cartoon Network e a Nickelodeon.

Sua palestra será na abertura do fórum, ao lado de Beth Carmona, que já cuidou da programação de TV Cultura, Discovery Kids, Disney e Fox Kids.

Elas vão discutir os atuais conteúdos na animação e a necessidade de preocupação educacional.’

 

SAÚDE
Julio Abramczyk

Propaganda que precisa de controle

‘No domingo passado, abordamos o trabalho de Álvaro César Nascimento, da Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca/Fundação Oswaldo Cruz. Ele citou a RDC (Resolução de Diretoria Colegiada) 102/ 2000, da Anvisa. Agradecemos aos leitores Márcio C. O. Sila, pelo envio da RDC 96/2008 -que entrou em vigor em 16/6 em substituição à RDC 102/ 2000-, e Rogério Salgado, pelo alerta sobre a mudança. Para Nascimento, conforme publicado no Informe ENSP, o efeito da RDC 96/ 2008 em substituição à 102/2000 é inócuo, ao contrário do que pode ocorrer com quem toma remédio demais por conta própria. Ele defende a introdução, no Brasil, do modelo adotado na França, em Portugal e em outros países. A indústria submete ao setor regulador as peças com propaganda de medicamentos isentos de prescrição e acolhe a decisão governamental sem maiores discussões. E isso vale para qualquer peça publicitária a ser veiculada em rádio, TV, outdoor, jornal e revista. O leitor Adilson Minossi de Oliveira sugere proibir a propaganda de medicamentos na TV, já que muitos desconhecem seus efeitos colaterais, principalmente daqueles para controlar a dor. Acrescenta que veterinários não prescrevem esses medicamentos para cães e gatos pela toxicidade que podem desencadear. No dia 10/6 (antes da vigência da nova RDC), a leitora Fernanda Favier encaminhou à Anvisa uma denúncia sobre um medicamento, prescrito por seu médico, que lhe trouxe transtornos. Ao ver propaganda na TV sobre o produto, leu na bula que ele pode apresentar efeitos colaterais que não estavam sendo divulgados e que o remédio era vendido sem receita e sem bula. E conclui em sua denuncia: ‘Julgo criminoso vender dessa forma um medicamento que tem, sim, sérios efeitos colaterais. Porque no Brasil ainda são permitidas propagandas de medicamentos?’.’

 

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