O FUTURO DO JORNAL
Sérgio Dávila
Mídia dos EUA debate conteúdo pago
‘No dia seguinte à final do campeonato de futebol americano, que é o principal evento esportivo dos EUA, no início deste mês, os maiores jornais do país amanheceram com uma página inteira de anúncio ilustrada por uma bola oval feita de papel-jornal. ‘Mais pessoas lerão jornais hoje do que assistiram ao jogo ontem’, dizia o texto amarelo sobre fundo azul.
Não era mentira. Segundo dados do instituto Nielsen, 98,7 milhões de espectadores viram pela TV o time de Pittsburgh bater o do Arizona. Pois, de acordo com o Newspaper Project, a organização que pagou os anúncios, 100 milhões de norte-americanos em média leem jornais ou acessam seus sites todos os dias. É um universo nada desprezível de pessoas que inclui 1 em cada 3 habitantes do país.
‘Reconhecemos os desafios que os jornais enfrentam hoje, em que a indústria da mídia muda rapidamente’, disse Donna Barrett, diretora do projeto, criado recentemente por executivos de imprensa para circular novas ideias sobre um setor que apenas nos EUA fatura US$ 55 bilhões por ano. ‘Rejeitamos, no entanto, a noção de que os jornais e seu conteúdo valioso feito por jornalistas não tenham futuro.’
O anúncio e a fundação da organização fazem parte da contrainsurgência que começa a ganhar corpo nos EUA, de analistas, jornalistas e empresários que discutem e propõem novas soluções para um modelo de negócios em crise, sim, mas recusam a ideia propagada principalmente por blogs e publicações on-line de que o fim dos jornais está próximo.
O ‘movimento’, se pode ser chamado assim, ganhou visibilidade com reportagem de capa da revista ‘Time’ da semana retrasada. Assinada por Walter Isaacson, defendia a volta da cobrança pelo acesso às versões on-line dos diários norte-americanos, que hoje, com exceção do ‘Wall Street Journal’ e poucos outros, são gratuitas.
No texto, Isaacson, ex-editor da revista e atualmente presidindo o Aspen Institute, centro de pensamento baseado em Washington, sugeria que fosse aplicado aos artigos e publicações o modelo utilizado pela Apple na loja virtual iTunes, em que cada música é vendida separadamente, por US$ 0,99, que o internauta paga com um clique de mouse.
Pensamento no ar
A loja surgiu em 2001, quando a venda de CDs começou a despencar no mundo. Desde então, vendeu perto de 4 bilhões de músicas, com um faturamento em dólares próximo dessa cifra -a Apple não revela os números exatos. A variação ‘iNews’ de Isaacson apenas colocou em ordem um pensamento que já estava no ar.
Bill Keller, editor-executivo do ‘New York Times’, dissera dias antes, durante bate-papo com leitores, que o jornal mais prestigioso do mundo não descartava a hipótese de cobrar por seu conteúdo on-line. Em troca de e-mail com a Folha, o jornalista reiterou a informação, de que o modelo ‘pode valer uma olhada mais de perto’.
Outros concordam com ele. ‘A notícia pode querer ser de graça, mas os filhos dos jornalistas querem ser alimentados’, disse o empresário Steve Brill, referindo-se ao lema ‘news wants to be free’ (de dupla leitura: a notícia quer ser livre e a notícia quer ser de graça). Calcula-se que a operação anual de captação de notícias do ‘New York Times’ esteja em torno de US$ 200 milhões.
Só o escritório em Bagdá consome algo entre US$ 1 milhão e US$ 3 milhões por ano. Mantê-lo e fazer jornalismo de qualidade custa dinheiro que a venda de anúncios apenas -seja on-line ou no papel- não cobre. ‘O blogueiro não tem verba para ir ao Iraque nem paciência para cobrir a sessão interminável da Assembleia Legislativa’, diz Brill, criador da CourtTV e do ‘Brill’s Content’, por um tempo importante revista sobre mídia (leia entrevista nesta página).
‘É razoável levantar essa questão de pagar por conteúdo nesse momento, embora eu não ache que seja uma discussão que vá se resolver tão cedo’, disse à Folha Rick Edmonds, analista da indústria jornalística do Poynter Institute, baseado na Flórida. Uma das alternativas seria cobrar de alguns leitores por um serviço ‘premium’ e oferecer um pacote gratuito básico aos outros, algo que o ‘Times’ já tentou.
Outros ainda sugerem fazer do problema parte da solução: começar a cobrar royalties de sites agregadores de notícias como o Google News, que existem quase exclusivamente graças ao conteúdo gerado por empresas tradicionais. ‘A tese de que ‘informação quer ser livre’ é absurda quando o mecanismo de entrega [das notícias] está ganhando uma fortuna e os criadores estão recebendo perto de nada’, escreveu Peter Osnos, da The Century Foundation, baseada em Nova York.’
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Para academia, jornais podem virar fundação
‘E se os principais jornais americanos se transformassem em fundações e com isso deixassem de depender de anunciantes e de cobrar por seu produto ou passassem a cobrar uma quantia simbólica? Por mais absurda que pareça, a ideia foi defendida nas páginas do próprio ‘New York Times’.
Assinado por David Swensen e Michael Schmidt, respectivamente executivo de finanças e analista financeiro da Universidade Yale, o artigo sugeria que o modelo serviria à indústria jornalística norte-americana atual.
A dupla fazia mesmo as contas: num investimento que rendesse 5% ao ano, aquele diário norte-americano precisaria de uma doação de US$ 5 bilhões para sobreviver pelo resto dos tempos.
A proposta não era nova, mas sua divulgação na prestigiosa página de artigos do jornal reacendeu a discussão. Houve quem calculasse quanto seria necessário para que todos os principais jornais norte-americanos virassem fundações: US$ 114 bilhões, segundo o laboratório de jornalismo da Fundação Nieman, de Harvard -ou o equivalente ao corte de impostos para a classe média aprovado no pacote do presidente Barack Obama anteontem.
A ideia foi bombardeada por todos os lados. ‘Sem disciplina de mercado, como um jornal vai saber se está sendo bem-sucedido ou não?’, escreveu Jack Shafer, crítico de mídia da revista eletrônica ‘Slate’, em troca de e-mails com a Folha, referindo-se a um artigo em que criticou a proposta.
O especialista Steve Brill concorda e cita um caso para reforçar seu argumento. Em pesquisa informal feita com seus alunos de jornalismo em Yale, ele viu espantado metade da classe levantar a mão quando perguntou ‘quem aqui acha que o ‘New York Times’ é uma empresa que não visa lucro?’.
‘Eis mais uma razão para eles não darem conteúdo de graça’, disse à Folha. Para Brill, depender da caridade de estranhos não é maneira de atingir a independência jornalística. ‘É bom que os jornais estejam na praça para ganhar dinheiro. Assim se preocupam com seus leitores e com fazer um produto de qualidade que as pessoas queiram ler.’’
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‘Modelo atual é suicida’, afirma especialista
‘Na semana passada, o meio jornalístico norte-americano se agitou com um memorando reservado escrito por Steve Brill que propunha um novo modelo de negócio para o ‘New York Times’ e acabou no site de Jim Romenesko, colunista do Poynter Institute, especializado em estudos de mídia.
O texto basicamente sugere o fechamento do acesso gratuito ao site e inova nas maneiras de cobrar por ele. Uma: são 20 milhões de visitantes por mês. Se cada um pagar US$ 1 mensal (33 centavos por dia), o jornal faturará US$ 240 milhões por ano, ou US$ 40 milhões a mais do que gasta na operação de captação de notícia.
Hoje empresário bem-sucedido do ramo de segurança, Brill é o criador entre outros da CourtTV, que o enriqueceu durante o julgamento de OJ Simpson, e da extinta revista ‘Brill’s Content’, de crítica à mídia. Dá aula de jornalismo num curso criado a partir de doação dele e da mulher à Universidade Yale. Leia trechos de sua entrevista à Folha.
FOLHA – Eu li o seu memorando. O sr. pode resumi-lo?
STEVE BRILL – Na longa história do jornalismo, jornais e revistas dependem de alguma maneira das pessoas que leem e pagam algo por isso. Quando os jornais dos EUA abandonam esse modelo e oferecem esse conteúdo de graça na internet, esse modelo se torna suicida.
FOLHA – O sr. acha que os americanos estão dispostos a pagar por jornalismo de qualidade on-line. E se não estiverem?
BRILL – É simples. Agora, ninguém paga. Se todos continuarem não pagando, ninguém mais vai receber nada, porque não haverá dinheiro para continuar produzindo o noticiário. Não é possível ter repórteres cobrindo guerras e prefeituras a não ser que alguém pague por isso e, na internet, o faturamento com os anúncios não é suficiente.
FOLHA – O que aconteceria se o ‘New York Times’ fechasse o acesso gratuito amanhã?
BRILL – Primeiro, isso não acontecerá da noite para o dia, será gradual. Segundo, não será totalmente fechado. Há testes, algumas combinações possíveis. Você oferece os três primeiros parágrafos e exige assinatura ou pagamento para que a pessoa leia o resto ou que pague só por aquele artigo. Há várias possibilidades. Nos primeiros três a nove meses, o faturamento inicial do site cairá, mas prevejo que retomará aos poucos e o jornal terá um novo modelo de negócios em que se basear. Eu ouço muito que não vai funcionar. Pois bem: o de hoje já não está funcionando. A mudança é simples: voltar ao modelo anterior, em que você cobra um pouco dos leitores e mais dos anunciantes, que se dispõem a pagar mais se os leitores forem pagantes também.’
RELATÓRIO
Sérgio Dávila
Liberdade de imprensa ainda corre risco na América Latina, diz ONG
‘Apesar dos avanços políticos e sociais que a América Latina viveu nos últimos anos, a liberdade de imprensa continua sob risco na região e é premente a necessidade de reforma em relação ao setor. A conclusão é de relatório divulgado na sexta pelo Diálogo Interamericano, entidade não-governamental baseada em Washington.
O texto, baseado em conferências realizadas em janeiro de 2008, ressalta a ‘importância de se desenvolver propostas realistas e efetivas para uma reforma séria da mídia na América Latina’. Quatro questões são levantadas: leis e regulações do setor; concentração de propriedade; censura indireta; e o papel do jornalismo na qualidade da democracia.
Não há censura direta na maior parte dos países, mas a interpretação de leis antigas pode dar margem a práticas não condizentes com a norma democrática, diz o texto, intitulado ‘Mídia e Governança’.
Outro problema é a falta de leis que garantam o acesso à informação pública, segundo o relatório, que critica ainda a divisão política de verbas publicitárias federais como maneira de os governos protegerem ou prejudicarem veículos.
São citados ainda os ‘conglomerados de mídia’, que ‘exercitam poder sem controle, o que pode sufocar as vozes independentes de fontes mais fracas de notícias -diários independentes ou empresas regionais- ou aqueles que defendem posições dissidentes’.
Nesse último contexto é citado o Brasil, ‘onde as duas maiores emissoras dominam 76% da fatia de mercado’ -nomes não são mencionados. Em geral, no entanto, a imprensa escrita do país é elogiada como exceção no padrão latino-americano.
‘Diferentemente da maioria dos países da região, o Brasil sustenta mais de um jornal [de circulação] nacional’, diz. ‘Em 2008, o jornal brasileiro Folha de S.Paulo contratou seu décimo ombudsman, cargo criado originalmente em 1989 para melhorar a qualidade da cobertura noticiosa nas páginas do maior diário de São Paulo’.
‘Alguns atribuem o pluralismo da mídia brasileira a um foco maior na profissionalização e sua reputação por jornalismo investigativo de qualidade’, diz a ONG, para dar o exemplo de Fernando Collor de Mello (1990-1992). ‘A imprensa escrita está diretamente envolvida no impeachment’ do então presidente, ‘como resultado de investigação extensa e denúncia de escândalos’.
‘Outros conectam o legado de uma imprensa de alta qualidade à morte em 1975 de um jornalista nas mãos do Estado, um evento catalisador que assegurou o papel da mídia no esforço de derrota da ditadura militar’, conclui o texto, referindo-se à morte de Vladimir Herzog em 75 numa cela do extinto DOI-Codi, em São Paulo.
Na parte brasileira, há imprecisões que não comprometem o todo: Collor renunciou antes de ser afastado; apesar de dez mandatos, são nove os ombudsmans da Folha até hoje.’
PROPAGANDA
PACs e palanques
‘ENTRARAM em voga, tal a insistência da propaganda oficial, as três letras que compõem o Programa de Aceleração do Crescimento. Fala-se animadamente em PACs para a Educação, para a Cultura e mesmo para a Copa do Mundo de 2012, numa evidência do sucesso da sigla em termos de marketing político.
É natural que, numa conjuntura de crise, e depois de um longo período em que escassearam os recursos para obras de infraestrutura, planos no estilo do PAC sejam vistos positivamente pela opinião pública, ainda mais se acompanhados de medidas de estímulo ao crédito e de diminuição da carga fiscal.
Refutando, por razões óbvias, a denominação de ‘PAC paulista’ para um pacote de incentivos à economia, anunciado com grande pompa nesta quinta-feira, o governador José Serra (PSDB) não deixa de seguir o figurino desenhado por seus adversários no governo federal petista. Das 33 medidas divulgadas anteontem, sob a legenda bem menos sonora EAE (o programa se intitula ‘Estímulo à Atividade Econômica’), 17 são novas.
Em dezembro do ano passado, o governador já havia anunciado, com idêntica solenidade, iniciativas como a abertura de linhas de crédito da Nossa Caixa para os setores de máquinas e autopeças ou o programa de incorporação à formalidade de microempreendedores individuais.
Ocasiões para eventos desse tipo não faltam: sempre se pode comemorar o envio de um projeto de lei à Assembleia Legislativa, repetir a festa quando o projeto é aprovado e voltar à cena a qualquer pretexto.
Não cabe minimizar a importância de iniciativas para reaquecer a economia. O pacote do governador José Serra vai na direção correta, trazendo por exemplo novas iniciativas de alívio tributário (mas os setores a serem beneficiados só serão conhecidos daqui a um mês), ao lado de investimentos em obras de transporte e saneamento público (que já estavam previstas).
Tampouco é nova, como se sabe bem, a prática de anunciar, sob a roupagem de um magnífico pacote, programas que já estavam encaminhados, ou que não caminham absolutamente. A ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, dispõe de inigualável know-how nessa área.
Divulgou-se há cerca de uma semana uma ampliação dos investimentos do PAC; na verdade, reunificaram-se sob a mágica sigla projetos conhecidos, como o trem de alta velocidade ligando São Paulo, Rio de Janeiro e Campinas, ou investimentos da Petrobras que já haviam sido anunciados na semana anterior.
O êxito mercadológico da sigla ocasiona não apenas esse tipo de cosmética orçamentária, mas a criação de suas variantes estaduais. Também o governador de Minas, Aécio Neves, tem o seu ‘PAC’. Em suas várias versões, e com tudo o que de economicamente desejável contenham, os diversos ‘PACs’ admitem uma tradução revista: trata-se, sem segredo para ninguém, de Programas de Aceleração das Campanhas à sucessão presidencial.’
Catia Seabra
Barões do marketing político assumem publicidade em SP
‘Nomes expressivos do marketing político, os baianos Duda Mendonça, Nizan Guanaes e Fernando Barros se lançaram em disputa pelas contas de publicidade do governo do Estado de São Paulo.
Num momento em que o governador José Serra lidera as pesquisas para a Presidência da República, as agências desses publicitários -a Duda Mendonça & Associados Propaganda, a 3P Comunicações e a Propeg- têm participado, desde o ano passado, de concorrências no Estado. Hoje, cada uma é responsável por uma conta milionária na área de transportes metropolitanos.
O movimento coincide com outro: o de tucanos que pressionam para que Serra convide um marqueteiro de fora de São Paulo para o comando de sua campanha em 2010.
Interlocutores do governador -entre eles, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), e o embaixador Sérgio Amaral- insistem na ideia de que o jornalista Luiz González, responsável por sua vitória em 2004 e 2006, funciona bem em São Paulo, mas não conhece o resto do país.
Prova disso, segundo essa linha de raciocínio, seria a derrota de Geraldo Alckmin para o presidente Lula em 2006.
Segundo tucanos, Guerra intercedeu pessoalmente em favor de Duda, sugerindo que Serra não feche as portas para o publicitário, que coordenou a comunicação da campanha de Lula em 2002.
Nizan, por sua vez, conta com a simpatia do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em 2002, comandou a campanha de Serra para a Presidência. Os dois romperam. No fim de 2007, Nizan buscou uma reaproximação com Serra, a quem ofereceu um jantar. Apesar do desfecho da campanha de 2002, manifestou sua admiração e elogiou o prefeito Gilberto Kassab (DEM).
Segundo o vice-presidente da 3P-MPM, Rui Rodrigues, a agência decidiu participar de concorrências em São Paulo porque só agora oferece estrutura para contas desses porte’.
Já Fernando Barros -que tem trânsito com parlamentares do DEM e do PSDB- afirma que o volume de contratos é atraente.
Em novembro, a Propeg, de Barros, venceu uma concorrência para prestação de serviços de publicidade para a CPTM. Com prazo de seis meses, o contrato é de R$ 14 milhões.
No dia 28 de outubro, a Duda Mendonça foi contratada, por outros R$ 14 milhões, para divulgação das obras de expansão do Metrô. O contrato também é de seis meses.
A 3P Comunicações, de Nizan, também foi contratada pelo Metrô, a R$ 11 milhões, por um período de seis meses.
Segundo dados do Diário Oficial, as três agências participaram de outras concorrências, incluindo as realizadas pela Secretaria de Comunicação do Estado, além de Dersa e Sabesp.
Para a escolha das agências, o governo adota um critério de pontuação que leva em conta qualificação técnica e preço.
O Metrô e a CPTM informaram, por intermédio de sua assessoria, que ‘o governo de São Paulo contratou em 2008, através de licitação, cinco empresas para executar serviços de comunicação para o Metrô e para a CPTM. O total da verba licitada é de R$ 57 milhões. Esse investimento será feito em campanhas de esclarecimento e informação dos usuários e da população em geral, assim como para comunicar as medidas de modernização e ampliação da rede de transporte coletivo sobre trilhos na região metropolitana de São Paulo, que está recebendo verbas superiores a R$ 20 bilhões no período 2007-2010, aplicadas em seu Plano de Expansão’.’
Ana Flor
Valores recebidos por Duda do governo Lula voltam a crescer no pós-mensalão
‘A investida de Duda Mendonça em mercados importantes como o governo de São Paulo não significou o abandono de campanhas para o governo federal. Em 2008, a agência do publicitário recebeu mais de R$ 12 milhões por trabalhos para o Ministério da Saúde. Somando-se os restos a receber de 2007 (valores pagos em 2008 por serviços prestados em 2007), a empresa do publicitário recebeu mais de R$ 15 milhões no ano passado.
A DM&AP, empresa de Duda, já chegou a receber R$ 63 milhões em um ano (2004) por contratos com o governo Lula. Em 2005, ano em que foi envolvido no escândalo do mensalão, houve uma queda para quase R$ 39,5 milhões. Os contratos diminuíram progressivamente, até chegarem em R$ 9,57 milhões em 2007.
No ano passado, os valores totais voltaram a crescer. A agência de Duda foi responsável por campanhas de planejamento familiar, aleitamento materno e tuberculose.
O contrato entre a DM&AP e a pasta da Saúde é de 2005. A agência venceu licitação para prestar serviços. Foi, depois, prorrogado até abril deste ano.
O levantamento foi feito pela Folha no Portal da Transparência, da Controladoria Geral da União. Os dados foram complementados pelas informações obtidas no Siafi, o sistema de acompanhamento de gastos do governo, com a ajuda da ONG Contas Abertas.
Duda e sua sócia, Zilmar Fernandes, estão entre os 40 acusados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) no caso mensalão -39, incluindo os dois, permanecem réus da ação.
A empresa de Duda foi colocada sob suspeita na CPI dos Correios em agosto de 2005. À CPI ele disse ter sido orientado por Marcos Valério, apontado como o operador do esquema, a abrir uma empresa ‘offshore’ no exterior para receber dívidas do PT com campanhas. Ele disse que teria recebido R$ 10,5 milhões no exterior.
No final do ano passado, a defesa de Duda pediu o desbloqueio de seus bens ao Supremo -que ainda não decidiu.
Depois de ficar afastado de campanhas políticas em 2006 -segundo ele, por causa do escândalo do mensalão-, Duda voltou ao marketing político no ano passado, vencendo campanhas em Fortaleza, Belém, São Luís e Belo Horizonte.’
Maria Clara Cabral e Ranier Bragon
Deputado critica ampliação da TV Câmara
‘A Câmara possui hoje uma ampla rede para divulgação da atividade de seus 513 deputados, o que inclui jornal diário, site, rádio e TV de alcance nacional, além de verba mensal individual para cada um dos 513 congressistas.
E essa estrutura tende a aumentar caso seja implantada a promessa de Michel Temer (PMDB-SP) de fazer a TV Câmara acompanhar os passos dos deputados nos Estados.
O atual ‘pacote’ de comunicação da Câmara dos Deputados abrange hoje duas esferas, a individual e a institucional, e tem gastos anuais que ultrapassam R$ 40 milhões.
O primeiro item do ‘pacote’ é a estrutura de comunicação institucional, com orçamento previsto de R$ 36 milhões para 2009 -a TV Câmara consumirá a maior parte da verba: são R$ 24,5 milhões para seu custeio e mais R$ 10 milhões de investimentos, como a compra de novos equipamentos e outras melhorias.
A TV cobre todo o território nacional, em pacotes por assinatura, via satélite ou com sinal aberto. A ‘comunicação oficial’ pauta-se, principalmente, pela transmissão ao vivo e pela reprise das sessões plenárias, das comissões temáticas, além de debates e entrevistas individuais com parlamentares. A maioria dos funcionários da comunicação trabalha no canal televisivo (235 de 452).
Responsável pelas finanças da Câmara, o primeiro-secretário, Rafael Guerra (PSDB-MG), diz que a proposta do presidente da Câmara é ‘impraticável’. ‘Acho impossível a TV Câmara fazer isso, imagine o custo de equipamentos e funcionários em 27 Estados’, diz ele, para quem a exposição dos deputados na TV da Casa é suficiente.
Apesar de ser contra, ele aposta suas fichas em investimentos não menos polêmicos. Para ele, o mais apropriado seria aumentar o investimento em veículos de alcance nacional. A compra de espaços publicitários, como já fazem alguns órgãos do governo, e uma maior aproximação dos deputados com os jornalistas são algumas das opções apontadas.
Temer defende espalhar equipes da TV Câmara pelos Estados com o argumento de que é necessário acabar com a impressão de que congressista só trabalha de terça a quinta, únicos dias da semana com alguma atividade razoável no Congresso Nacional.
Verba indenizatória
Além da comunicação institucional, o deputado conta com verba mensal de R$ 15 mil, o que inclui a rubrica chamada ‘divulgação da atividade parlamentar’. Isso se resume a edição de jornais, sites e métodos menos ortodoxos de penetração na imprensa local -é usual o pagamento a rádios e jornais do interior pela veiculação de ‘notícias’ sobre o deputado.
Levantamento feito pela Folha mostra que no ano passado os deputados usaram R$ 7,3 milhões dos cofres públicos justamente sob o argumento de divulgarem os mandatos em seus redutos eleitorais.
Entre os que mais usaram a verba está a deputada Gorete Pereira (PR-CE), que foi reembolsada em R$ 81,8 mil, a maior parte, segundo ela, devido à produção de folhetos informativos sobre a lei Maria da Penha. Gorete afirma que o folheto vem apenas com uma pequena ressalva de que o material é feito pelo seu gabinete e, diz, não serve para promoção pessoal. ‘Precisamos divulgar essa lei tão importante e vou continuar gastando’, disse.
Outro com gastos elevados na rubrica foi o candidato derrotado a prefeito de Belo Horizonte, Leonardo Quintão (PMDB-MG). ‘Faço jornais, mensal, bimestral, e mando cartas, como quando tive que explicar a aposentados um voto que dei. O jeito mais fácil de manter o eleitor informado sobre o que eu faço é produzindo jornal e mandando carta’, afirma ele, que gastou R$ 58,3 mil.
Um exemplo do que é produzido com a verba começou a circular na semana passada: um jornal tabloide de quatro páginas, com praticamente um único tema: a eleição de Inocêncio Oliveira (PR-PE) para a Mesa da Casa. Além de uma entrevista com o deputado sobre as articulações para sua eleição, o informativo trazia uma página com registro de vários elogios feitos pelos deputados pela eleição do colega.’
TELEVISÃO
Bárbara de época
‘Vencedora da primeira ‘Casa dos Artistas’, em 2001, Bárbara Paz, 34, logo voltou para sua trilha original, de atriz alternativa. Atualmente, grava para a TV Cultura a microssérie ‘Unidos do Livramento’, baseada em contos de Machado de Assis. Interpreta ‘uma típica mulherzinha, que ama o marido e só espera filhos’, mas que se envolve com outro homem. Também dirige e apresenta um novo programa para o Canal Brasil, o ‘Curta São Paulo’, sobre curtas. Iria para a Globo? Claro. ‘Estou esperando um grande convite. Enquanto esse personagem não vem, sigo em busca da credibilidade’, diz.
Globo desiste de ‘Faça Sua História’ e ‘Casos & Acasos’
A programação que a Globo estreia em abril não terá mais série nacional aos domingos, após o ‘Fantástico’. A realização de uma nova temporada de ‘Faça Sua História’, com Vladimir Brichta, foi suspensa neste ano. Oficialmente, a emissora informa que o programa poderá voltar em 2010, mas o mais provável é que não retorne.
Fim semelhante terá ‘Casos & Acasos’, com elenco variável, que a emissora exibiu em 2008, após ‘A Grande Família’.
No lugar de ‘Casos & Acasos’, em abril entrará um novo seriado, policial, com Murilo Benício, Milton Gonçalves e Fabiula Nascimento.
Aos domingos, pelo menos no primeiro semestre, não haverá substituto para ‘Faça Sua História’. ‘Domingo Maior’ começará mais cedo.
A justificativa da Globo para as ‘férias’ de ‘Faça Sua História’ e ‘Casos & Acasos’ é que os dois programas tiveram temporadas longas em 2008 e precisam ‘descansar’. Mas ‘Guerra & Paz’, que teve temporada curta às sextas, não retorna. Em abril, a novidade após ‘Globo Repórter’ será ‘Tudo Outra Vez’ (título provisório), de Lícia Manzo, sobre famílias compostas por pais que vêm de casamentos anteriores.
A grade da Globo para o primeiro semestre já está praticamente fechada. Às terças, continuará a dobradinha ‘Casseta & Planeta’ e ‘Toma Lá, Dá Cá’. Às quintas, ‘A Grande Família’ está garantida.
No meio do ano, os seriados do segundo horário darão lugar à minissérie ‘Som & Fúria’, de Fernando Meirelles. No segundo semestre, haverá nova temporada de ‘Ó Paí, Ó’.
A ANTAGONISTA
Vanessa Giácomo (foto), 25, emplacará com ‘Paraíso’ sua terceira novela das seis baseada em original de Benedito Ruy Barbosa (as outras foram ‘Cabocla’ e ‘Sinhá Moça’). Mas, desta vez, a personagem será um pouco diferente. Interpretará Rosinha, a antagonista. Rosinha é apaixonada pelo irmão de criação, José Eleutério (Eriberto Leão), por sua vez apaixonado por Santinha (Nathalia Dill). ‘A Rosinha é muito bacana, mas vive um conflito. Ela fala o que pensa, é rica, intensa, muito diferente de tudo o que já fiz’, diz Vanessa.
RESERVAS
No ar em ‘Caminho das Índias’, Tony Ramos já está reservado para a novela de Silvio de Abreu, que substituirá a próxima das oito, de Manoel Carlos, em 2010. Abreu também ‘bloqueou’ Reynaldo Gianecchini, Fernanda Montenegro e Mariana Ximenes.
EMBOSCADA
‘Cilada’, seriado estrelado pelo ator e roteirista Bruno Mazzeo no Multishow, sobre as ‘roubadas’ da vida, vai virar filme. José Alvarenga, que acaba de dirigir para a Globo o segundo longa-metragem ‘Os Normais’, comandará as filmagens, em novembro.
TV FAMA
O Blog Log, portal de blogs de artistas da Globo, vai lançar um canal de TV na internet. O primeiro programa da TV Blog será apresentado pelo ator Cacau Hygino. ‘Nós e Nossos Cães’, nome da atração, trará famosos contando suas ‘histórias de vida com seus animais’.’
Bia Abramo
‘A Lei e o Crime’ ganha fôlego dramático
‘‘A LEI E O CRIME ‘ (Record, seg., às 23h15; não indicado a menores de 14 anos) explora as fronteiras esgarçadas entre ordem e desordem. O crítico Cássio Starling Carlos foi demasiadamente severo em sua análise do seriado na Ilustrada (7/ 1). Apontou inconsistência no projeto e padrão pífio na qualidade da produção. Por ter sido escrita após a estreia (5/1), talvez não tenha sido possível observar certas qualidades do roteiro. Nos últimos episódios, a série ganhou ritmo, fôlego dramático e alguma consistência.
Ainda que parta de premissas meio bestas -o pobre trabalhador é atirado no crime por uma espécie de acaso e torna-se o rei da cocada preta (e da branca) no morro; a delegada rica é descendente da nobreza-, as tramas têm se tornado mais amarradas e envolventes.
A entrada do personagem de Heitor Martinez, Leandro, um sujeito com motivações não muito esclarecidas, contribui para que os limites entre a lei e o crime fiquem ainda mais embaraçados.
E é daí, da exploração dramática desses limites que se esgarça à medida que história avança, que o seriado vai ganhando consistência. (O fato de o nome ecoar o famoso ‘Law and Order’ soa mais como ironia do que como falta de imaginação). A outra experiência bem-sucedida da Record nesse terreno da teledramaturgia-favela, a novela ‘Vidas Opostas’, também tinha nisso o seu ponto forte.
Mais ou menos verossímil, parece estar em jogo uma ansiedade de representação. Se, para retomar Starling, o projeto da telenovela global acertou ‘ao aparar as improbabilidades romanescas de Gloria Magadan’ e criar uma padrão realista, também vem errando ao insistir num realismo de mão única, ou seja, se o real mudou de feição, arquive-se o real e voltemos à nossa zona de conforto.
A última favela a aparecer em novela, a Portelinha de ‘Duas Caras’, era um exemplo típico: seu autor criou uma favela-gente boa, regida por um coronel transplantado das novelas ‘nordestinas’, e com um bordel cheio de raparigas que pareciam saídas de um romance de Jorge Amado… Ou seja, um pot-pourri de uma certa representação do ‘povo brasileiro’ talvez tenha feito algum sentido, mas agora…
Starling tem razão quando classifica a produção de pífia. É de amargar que, com tanto investimento (R$ 500 mil por episódio), não se achem coadjuvantes decentes, cenários que não recendam a amadorismo, trucagens minimamente profissionais… Há cenas tão precárias que desestimulam o espectador a prosseguir.’
CINEMA
Daniel Filho atira!
‘As próximas semanas prometem boas notícias para Daniel Filho, diretor artístico da Globo Filmes, braço cinematográfico das Organizações Globo. Com quase 5 milhões de espectadores, ‘Se Eu Fosse Você 2’, dirigido por ele, já é a maior arrecadação da retomada do cinema nacional e caminha para bater o recorde de público de ‘2 Filhos de Francisco’. Feliz da vida, o cineasta, que foi diretor da TV Globo por mais de 30 anos, conversou com a coluna:
FOLHA – Seu filme está batendo os recordes do cinema nacional.
DANIEL FILHO – ‘Se Eu Fosse Você 2’ é um cinema de entretenimento, algo que eu sempre defendi e defendo. As grandes bilheterias do mundo são ocupadas por entretenimento popular. Até ‘2 Filhos de Francisco’, um melodrama, não deixa de ser apoiado em dois astros sertanejos que falam da vida deles e cantam suas músicas de sucesso. Então fica a indagação para nós, que fazemos cinema: o que o público quer ver? Como a gente faz para tirar alguém de casa para ver filme nacional?
FOLHA – Os cineastas brasileiros não estão conseguindo fazer filme para os brasileiros?
DANIEL – Ultimamente a gente tem visto que não muito, né?
FOLHA – Falta competência?
DANIEL – Você não vai querer que eu diga isso, né? Eu mesmo, daqui a pouco, posso quebrar a cara. Mas, se você vê a minha filmografia, percebe que estou sempre buscando histórias que se comuniquem com o público. Sou até acusado por isso.
FOLHA – Falta compromisso? Porque os produtores de cinema captam dinheiro incentivado e tiram daí a própria remuneração. E não precisam fazer um filme de sucesso porque, afinal, já garantiram seus ganhos. Isso afeta?
DANIEL – Eu acho que sim. Eu vejo muitos diretores fazendo filmes e correndo para ver se pegam o festival de Cannes, o de Berlim. ‘Ah, eu vou pro [festival de] Sundance, eu vou pra não sei o quê’. É uma preocupação muito grande com o exterior. E eu sou o camarada que acredita no ditado: agrade a sua vila que você vai agradar ao mundo. Você tem que agradar aqui, no Brasil. O público quer ver esse filme? Ou é você que quer fazer esse filme? Queremos ser todos Godard e Glauber Rocha? A crítica aplaude esses filmes meio malditos, que têm pouco público. É uma dicotomia entre o que a crítica pensa e o que o público quer ver.
FOLHA – E o que o público quer ver?
DANIEL – Filme bem realizado, que diverte, que te completa. E não é só comédia. Se olharmos as dez maiores bilheterias do cinema nacional em dez anos, vamos ver que existe uma variedade de assuntos. Tem duas biografias, ‘2 Filhos de Francisco’ e ‘Cazuza’; temos ‘Cidade de Deus’ e ‘Carandiru’.
FOLHA – O que acha dos filmes nacionais recentes? ‘Última Parada – 174’, de Bruno Barreto?
DANIEL – Eu sou produtor associado do filme. Agora que já foi, posso dizer: é um longa bem realizado, mas não consegue atingir emocionalmente o público. O rapaz que faz aquele coitado, aquele maluco que ficou preso no ônibus, é excelente; mas não gosto da direção das atrizes que fazem a mãe, ele [Bruno] não conseguiu atingir a parte emocional daquela mãe que perdeu o filho. E o público não comprou a história dessa pessoa [Sandro, morto pela polícia ao assaltar o ônibus] que, para nós, é vista como um furioso assassino, mesmo que tenha havido erro da polícia.
FOLHA – E ‘Linha de Passe’, do Walter Salles?
DANIEL – Eu não gosto. É um filme gelado. Gelado. Falta afeto. Não é um bom filme do Walter, não. Ele não me leva a nenhuma emoção a não ser a de assistir e dizer: eu não me emocionei. Creio que o público achou a mesma coisa. É uma proposta intelectualizada do Waltinho para um assunto esgotado.
FOLHA – Qual assunto?
DANIEL – A vida vem em ondas como o mar, já dizia Vinicius de Moraes. Às vezes vem a onda do filme de terror. Agora veio a onda da favela. Com o sucesso de ‘Cidade de Deus’, todos os diretores brasileiros quiseram mostrar a preocupação social com a favela, com os desvalidos, com a ascensão do Lula, com ‘óóó’, com… Então haja favela! Haja favela! Haja favela! E chega um determinado momento em que o povo diz: ‘Ah, meu Deus, eu não quero mais ver filme de favela, não. Não quero mais ver filme de traficante que mata traficante’. Você não quer ver esse filme que não te conduz a nada.
FOLHA – E ‘Tropa de Elite’, do diretor José Padilha?
DANIEL – Não chega aos pééés de ‘Cidade de Deus’. É um grande thriller, um filme de exército feroz bem realizado. Podia ser também um filme de exército americano invadindo o Iraque e tomando tiro dos iraquianos. Mas, se eu tiver distanciamento, eu percebo que já vi esse filme outras vezes.
FOLHA – ‘Tropa’, que foi pirateado, teve menos espectadores que ‘Se Eu Fosse Você’. Vocês não foram pirateados?
DANIEL – [Rindo] Fomos. Mas nós não quisemos fazer esse tipo de publicidade. Eles [os produtores de ‘Tropa’] usaram isso um pouco demais, né? Um filme que venda 3 milhões de DVDs, piratas ou não, é um campeão absurdo. E eu não conheço nenhum DVD no Brasil que tenha vendido isso tudo. O pessoal exagerou. Aproveitou o embalo e partiu para a publicidade em cima.
FOLHA – E ‘Ensaio sobre a Cegueira’, de Fernando Meirelles?
DANIEL – Eu gosto do filme. Apesar de o Fernando ter me dito que ele achou que o filme ficou frio, eu considero…
FOLHA – Ele te falou isso?
DANIEL – Falou, falou: ‘Eu acho que errei a mão, Daniel. O filme não saiu o que eu queria’. Mas Fernando é hoje o melhor diretor de cinema do Brasil.
FOLHA – Você já disse que a Globo tinha que mexer na programação e afirmou que não vê mais TV.
DANIEL – Nenhum programa na televisão me atrai, nenhum. Eu não ligo a televisão. É um cansaço meu, sei lá. Nem o ‘Jornal Nacional’ eu preciso ver mais. Eu leio jornal, a internet te bota no dia- a-dia do que está acontecendo. Não sei o que você acha. Mas eu acredito que, pela audiência que a TV tem tido, essa sensação deve ser geral. Eu vejo a audiência dos programas caindo. A TV já foi um ‘must’ nosso e hoje não é mais. Ficou meio morninha. Não mexe mais com as pessoas, não vejo mais dizerem: ‘Eu preciso ver isso’. Não vejo ninguém discutindo o capítulo ou o programa exibido no dia anterior. Eu vejo isso com seriados americanos.
FOLHA – A TV ficou velha?
DANIEL – Sem dúvida nenhuma. Eu não diria velha… Eu ainda estava na televisão em 1990, por aí, e já percebia que, com os canais fechados, a TV aberta iria virar o AM e a TV fechada seria o FM. Ou seja, a televisão tendia a se popularizar mais. E houve isso. Praticamente todas as famílias brasileiras têm hoje um aparelho de televisão. Então, mudou o tipo de público. Agora, é importante registrar: eu estou afastado [da TV]. Portanto, eu não sei com que público eles estão trabalhando, para quem estão falando nem para quem desejam falar.
FOLHA – Nem o ‘Fantástico’, que ajudou a criar, você vê?
DANIEL – O ‘Fantástico’ perdeu a dimensão há muitos anos. Perdeu. Era um programa que pertencia ao meu domingo e que foi, pelas suas matérias, pela sua estrutura, me tirando dele. Agora, eu só vou em baile em que eu queira entrar. A TV tem esse problema: você pode desligar. Então eu não quero dar a minha opinião porque eu não sei com quem eles estão falando. Eu sei que comigo eles não estão falando. Tudo o que está sendo apresentado ali não me interessa.’
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