Thursday, 19 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Folha de S. Paulo

TELEVISÃO

Daniel Castro e Lúcia Valentim Rodrigues

Internet assombra festa da TV paga

‘A TV paga brasileira comemora 20 anos sob ameaça da internet. O serviço chegou tardiamente ao Brasil, viveu anos de glória entre 1994 e 1998, sofreu com recessões e escassez de investimentos no início desta década e se recuperou nos últimos cinco anos.

Seu renascimento foi impulsionado pela oferta de ‘combos’. Segundo a Net, maior operadora do país, de cada dez novos assinantes, sete compram pacotes combinando TV paga, telefone fixo e internet.

Hoje, são 6,35 milhões de domicílios com TV por assinatura, o equivalente a 12% das residências com televisores no país, ou pouco mais de 20 milhões de telespectadores, de acordo com estimativas.

Bem mais recente, a internet já atinge 62 milhões de usuários, segundo o Ibope. Os pontos de banda larga, que servem para baixar os mesmos seriados e filmes da TV paga, a maioria deles ilegalmente, já são 10,4 milhões. Dessas conexões, 2,8 milhões são pelos mesmos cabos da TV por assinatura.

A internet já está transformando o mercado de televisão. Nos EUA, a gigante Disney coloca em seu site, gratuitamente, seriados como ‘Desperate Housewives’ e ‘Lost’, logo após a exibição pela TV.

No Brasil, o portal Terra transmite atualmente a terceira temporada de ‘Ugly Betty’, que nem tem previsão de estreia na TV paga (canal Sony).

Sob pressão

O avanço da web sobre a TV por assinatura só não é maior por causa da pressão das operadoras, principalmente a Net.

Em maio, o Sony teve de tirar de seu site as séries que compra da Disney. Elas eram colocadas gratuitamente na internet no dia seguinte à primeira exibição pelo canal. A Net o obrigou a só fazer isso quando os seriados estivessem disponíveis para TV aberta. Ou seja, após muitas reprises na TV paga.

Para André Mantovani, diretor dos Canais Abril, a TV paga repetirá a história das gravadoras. ‘No mundo digital, todo grande intermediário entre o produtor e o consumidor está perdendo sua função. Isso ficou muito forte com a música, quando o download gratuito quebrou as gravadoras. Paradoxalmente, nunca se consumiu tanta música como agora. Bandas como Radiohead só vieram ao Brasil porque precisam fazer shows para ganhar dinheiro, não vivem mais de CDs’, diz.

Mantovani faz um paralelo entre TV paga e indústria fonográfica. ‘As gravadoras empacotavam CDs de 15 faixas. A TV paga vende pacotes de 150 canais, dos quais o assinante não vê a maioria. Quando o consumidor pode, ele compra só o que necessita’, diz, referindo-se a modelos como o da Apple, que vende conteúdo à la carte.

Essa ideia, chamada de ‘video on demand’, estava presente desde os primórdios da TV por assinatura, mas nunca virou realidade no Brasil.

Reinvenção

Talvez por isso os estúdios estejam modificando seus contratos muito rapidamente. ‘De forma lúcida, o detentor dos direitos autorais está percebendo que a internet pode ser uma oportunidade de negócio, em vez de uma ameaça com a pirataria’, comenta Paulo Castro, diretor-geral do Terra no Brasil. ‘A rede tem a vantagem de o espectador poder montar sua própria grade e assistir quando e quantas vezes quiser.’

Entretanto, Castro não decreta o fim da TV paga. Acha que as duas mídias podem ser complementares e até alavancar a audiência uma da outra.

Para Alberto Pecegueiro, diretor-geral da Globosat (maior produtora de conteúdo de TV paga do Brasil), e José Felix, presidente da Net, o modelo seguido pelo Terra e pela Disney não tem futuro. ‘Não acredito em conteúdo de alta qualidade de graça. Não vejo modelo de negócios nisso. Não vejo o produtor e o artista vivendo sem dinheiro’, afirma Felix.

Tanto Felix quanto Pecegueiro desdenham das previsões pessimistas de que a internet matará a TV paga. Pecegueiro acredita que daqui a 20 anos a TV paga passará pela internet, mas continuará sendo paga. Uma coisa é certa: a TV terá de se reinventar.’

 

***

Audiência da TV paga se recupera e cresce

‘A audiência dos canais pagos voltou a crescer no último ano. Entre meados de 2006 e de 2008, enquanto a base de assinantes aumentava a taxas de 15%, o público dos canais caiu. Voltou ao patamar de 2005.

Em junho do ano passado, os canais eram vistos por 243 mil pessoas por minuto, na média das 24 horas do dia, nas oito regiões metropolitanas em que o Ibope mede a audiência. Em junho passado, o público saltou para 344 mil, uma alta de 42%.

Segundo Alberto Pecegueiro, diretor-geral da Globosat, a queda de audiência entre 2006 e 2008 coincide com a digitalização das operadoras de cabo. Quando o serviço era analógico, era comum uma família pagar pelo ponto da sala de estar, por exemplo, e ter pontos extras piratas em dois quartos. Com a nova tecnologia, isso ficou inviável. Com menos pontos extras, a audiência retraiu.

O consumo de TV paga, no entanto, está no mesmo patamar de 2005. Em média, o telespectador fica 2 horas e 10 minutos diante dos canais por assinatura. Sinal de que a atratividade da TV não cresceu, ao contrário da web -cujo consumo subiu de 48 minutos, em 2003, para 1 hora e 18 minutos.

Muitos assinantes pagam para ver TV aberta. Mais de 67% da audiência vai para emissoras como Globo e Record; só 27% é de canais pagos, principalmente os infantis e de esportes, como indica o quadro ao lado.

Portaria definiu início

O marco escolhido para a celebração das duas décadas é, na verdade, arbitrário. A Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA) escolheu 1989, quando foi baixada a portaria que regulamentou o setor.

Nessa época, as primeiras operadoras ofereciam pacotes com poucos canais, como CNN e ESPN, que não eram 24 horas, e usavam frequências codificadas de UHF e de microondas.

O começo foi duro para o telespectador, que lidava com conteúdo estrangeiro, às vezes sem legenda. Algo que até hoje ainda se repete na programação de alguns canais.

Em 1997, com Sky e DirecTV, as operadoras aumentaram a oferta, o que impulsionou a base de assinantes. Mas a expansão da cobertura geográfica hoje ainda é muito aquém da imaginada no início, bem diferente da presença da internet, em todos os municípios do país.

Outro problema que vem afugentando os consumidores é a demora na chegada de programas de sucesso nos EUA e que estão mais à mão na internet. Paulo Castro, do Terra, diz que vai ser cada vez mais difícil construir uma superaudiência simultânea que não aconteça numa transmissão ao vivo, como uma final de Copa do Mundo. ‘A fragmentação é grande. Se houver mais oportunidades para ver um programa, haverá mais público agregado. O modelo de exibição única é falido.’’

 

Clarice Cardoso

Pacotes engessados, preços e reprises irritam consumidores

‘Poderia ser um paraíso: dezenas de canais com filmes, séries e programas do mundo todo. Seria, não viessem colados uns aos outros e fossem como penetras para a casa de quem só convidou um deles para a festa.

‘Detesto esses pacotes que enfiam na gente goela abaixo’, reclama o empresário Mário Sérgio de Marchi, 48, que assina mais de cem canais. Se muito, assiste a seis. Apaixonado por TV, logo aderiu à alta definição. ‘Era um sonho de consumo, virou uma decepção. Há poucas opções de canais e vira e mexe as legendas ficam fora de sincronia ou o som sai picotado. Mata todo o clima do filme.’

Cansado de pagar caro por canais ‘inúteis’, o webdesigner João Batista da Silva Filho, 31, cancelou sua assinatura. Ele se irritava com canais de compras e com infomerciais, que anunciam produtos nos intervalos. ‘Sempre queria ver alguma coisa de manhã e vários canais passavam esses anúncios por uma, duas horas seguidas. Somando no fim do mês, dá uns dois ou três dias pagos à toa.’

O advogado Joaquim Pereira da Silva, 59, notou aumento na publicidade nos últimos dez anos. ‘Hoje tem muito mais propaganda, intervalos intermináveis anunciando as séries do canal. E como cansa ver 200 vezes o mesmo pedaço do filme do próximo mês…’

Mas, se algo une a classe dos assinantes, é a luta contra as reprises. ‘É a coisa mais chata que tem, deixa muito monótono. O mês inteiro você dá de cara com o mesmo filme, com a Sandra Bullock, com o Tom Cruise…’, afirma a arquiteta Ana Paula de Oliveira, 33.

Se o velho se repete, o novo se atrasa. ‘Quando as séries finalmente estreiam aqui, depois de meses, já li na internet e sei o que acontece’, diz a secretária-executiva Mônica Smith, 54.

Mudanças para aumentar a audiência também incomodam assinantes como a engenheira química Mônica Krutzler, 41. ‘Tenho medo da imposição da programação dublada. Em vários casos as teclas SAP e de legenda não funcionam. Pago caro e não tenho nem como assistir o programa original.’’

 

André Forastieri

Mutante como um vírus, futuro da TV é cheio de risco

‘O meio digital destrói barreiras entre computador, celular, televisor, videogame. E entre produtores e consumidores de conteúdo. As TVs pagas são intermediárias entre as duas pontas. Como todos nesta posição, precisam se reinventar ou morrer. É fútil lutar contra o progresso.

Vai haver quem baixará tudo de graça? Sim. Mas a natureza fez de nós bichos preguiçosos e covardes. Prezamos a conveniência e a segurança, como prova o disque-pizza. Já é viável para a CBF ou a Liga das Escolas de Samba transmitir diretamente o Campeonato Brasileiro e o desfile de Carnaval. Sem envolver nenhum emissora de TV. A tecnologia é trivial. O custo, aceitável, ainda mais ficando com 100% do valor dos patrocínios. Para que dividir com um intermediário? O conteúdo quer ser grátis e bancado por publicidade. Não é o único modelo. Mas venceu na TV aberta, rádio e internet. Se você quer saber como será a TV do futuro, visite o YouTube.

O cenário: durante o episódio da novela, um sistema de busca esquadrinha o conteúdo em vídeo e oferece: Gostou do brinco da Christiane Torloni? Clique aqui para comprar. Gostou do filme ‘Transformers’? Clique aqui para comprar o boneco, a lancheira, para jogar o game on-line. Está vendo o ‘Programa do Gugu’ no domingo à noite? Clique e peça uma pizza já. E, claro: quer desativar os pop-ups de links patrocinados?

A versão premium custa só R$ 29,90 por mês.

Quanto vale o show?

Este sistema não é o ideal para todo tipo de conteúdo. Não é a cara de Discovery Channel, TV educativa ou filmes clássicos. Mas pago feliz R$ 4,99 às 22h31 de uma quarta-feira para comprar ‘Ladrões de Bicicleta’ em três cliques (em Full HD com extras mil). Mesmo sabendo que em 15 minutos podia baixar tudo pirata. Não quero chateação nem encrenca. Só quero ver meu filme e jantar sossegado.

É pouco R$ 4,99? Qual a justificativa para cobrar o mesmo preço por um filme lançado em 2009 e um clássico de 1948? Qual a justificativa para as atuais leis de direitos autorais?

Preço justo é um conceito flexível. Os estúdios de cinema, que não querem ter o mesmo destino das gravadoras, sabem disso. O mesmo DVD que custa R$ 80 para o dono da locadora sai por R$ 9,99 em supermercados da periferia paulistana.

A operadora banca sua TV

Uma alternativa interessante é o produtor de conteúdo (ou a operadora) subsidiar a sua conexão digital.. É uma evolução do modelo do celular. Você assina um contrato de fidelidade dois anos com pagamentos mensais mínimos (ou não). O contratado subsidia sua conexão e seu aparelho TV-PC, que saem na faixa ou quase. E ganha percentuais de todas as transações financeiras virtuais que você fizer.

Quem não arriscar morre. Mas arriscar pode sabotar toda a cadeia de negócios que hoje sustenta grandes empresas. Mesmo que o lucro esteja minguando, é um salto no escuro. Por isso a maioria dos novos modelos bem-sucedidos virá de empresas pequenas e iniciativas independentes. Elas têm menos a perder.

Cada pessoa, cada empresa que produz conteúdo -o que hoje vai da blogueira de 12 anos ao artista, a corporações- vai lidar de maneiras diferentes com este desafio. Sobreviverá quem experimentar mais. Quem tem taxa de mutação rápida, como os vírus. Não haverá modelo hegemônico. O futuro será múltiplo. A única garantia é a de fortes emoções.

ANDRÉ FORASTIERI, 43, é diretor editorial da Tambor Digital.’

 

Daniel Castro

Novela das oito terá falsa ‘Playboy’ para cinquentonas

‘Em ‘Viver a Vida’, próxima novela das oito da Globo, Lília Cabral interpretará uma ex-modelo que produzirá simulações de revistas ‘Playboy’ para mulheres maduras que buscam auto-estima ou melhorar a relação com o parceiro.

Tereza, a personagem de Lília, se associará à fotógrafa Ingrid (Natália do Valle). Elas terão ‘um estúdio especializado em fotos ousadas de mulheres maduras, algumas na terceira idade, que querem viver a experiência e as emoções de uma garota da revista ‘Playboy’, segundo o autor, Manoel Carlos.

‘O estúdio produzirá essas mulheres, oferecendo maquiagem e roupas, e fará uma ‘Playboy’ fake, sem o nome da revista, obviamente. Isso atende ao ego dessas mulheres, que oferecem essas fotos ao marido, ao amante, ou simplesmente se admiram ou mostram à família e aos amigos’, diz.

O autor se inspirou em agências reais. ‘Esses estúdios fotográficos existem. Minhas pesquisadoras assistiram a uma sessão dessas fotos, feitas em um motel aqui do Rio, por uma equipe de São Paulo’.

No passado, a personagem de Lília abandonou a carreira de modelo por pressão do marido, Marcos (José Mayer). ‘Quando a novela começa, ela acabou de se divorciar dele. O casal tem três filhas, sendo uma adotada. Mesmo divorciada, Tereza sofre muito ao se ver substituída por uma mulher mais jovem e modelo como ela foi. Esse é o papel de Taís Araújo (Helena). Ela se sente amargurada, mas não perde o humor’, diz.

O tema central de ‘Viver a Vida’, no ar a partir de meados de setembro, será a superação.

Menino precoce

Vinicius Ricci, 17, vai longe, apostam diretores do SBT. O menino acaba de entrar em ‘Vende-se um Véu de Noiva’, mas já é bem experiente. ‘Aos nove anos, eu já fazia teatro profissional na praça Roosevelt [em São Paulo]’, conta. Na TV, estreou como um adolescente drogado na série ‘9MM’, da Fox. Repete a dose agora no SBT, com Felipe. ‘O Felipe vai além, é aquele cara que tem overdose, é internado em clínica de reabilitação, rouba para comprar droga’, diz. ‘Ele também vai engravidar a namorada’, completa.

A PEGADORA

A modelo Lívia Maria de Azevedo Senador (foto), 24, mudou. Há dois anos, quando participava do reality ‘Brazil’s Next Top Model’, do canal Sony, ela ameaçou não participar de um ensaio sensual, porque isso poderia magoar o namorado. Pois é, ela virou a mais nova apresentadora de ‘As Pegadoras’, programa erótico do Multishow. Interpreta uma moça descolada, Erika, que divide apartamento com duas amigas. As três narram histórias eróticas enviadas por teles-pectadores.. ‘Estou achando [a experiência] muito bacana, bicho! É um assunto muito sério e gostoso’, diz Lívia, que tem 12 tatuagens -uma delas vai do pescoço às pernas.

COISA FEIA

O Warner Channel está exibindo um programete em que erra o nome do último título da série ‘Harry Potter’, o principal produto da Warner nesta década. Diz que está em cartaz nos cinemas ‘Harry Potter e o Mistério do Príncipe’. O subtítulo certo é ‘O Enigma do Príncipe’. O canal não comentou.

ADESÃO

Xuxa Meneghel, enfim, aderiu ao Twitter. Começou na última segunda-feira.

MÃE NOVELA

Em ‘Cama de Gato’, próxima novela das seis da Globo, Camila Pitanga, 33, será mãe de quatro filhos, uma delas já adolescente. Os nomes -Glória, Tarcísio, Francisco e Regina- são homenagens a Glória Pires, Tarcísio Meira, Francisco Cuoco e Regina Duarte. Camila será a faxineira Rose, a mocinha.

OUTRO IRÃ

O GNT exibe dia 18 o documentário ‘O Outro Irã’, sobre o impacto da internet no país.’

 

Bia Abramo

‘Bela, a Feia’ explora bem os clichês

‘A NOVA novela da Record, ‘Bela, a Feia’, respira clichê, mas neste caso é um acerto. A franquia iniciada com uma novela colombiana e que se tornou um enorme sucesso com a minissérie ‘Ugly Betty’ é mesmo baseada em um amontoado de caricaturas e situações previsíveis.

Moça feia, mas boa e inteligente, vai trabalhar como secretária de um bonitão, mas irresponsável, em empresa sofisticada do mundo da moda e cheia de mulheres bonitas. Sua aparência desajeitada é motivo de chacota, mas ela vence com sua dedicação e competência e, de quebra, lá pelo final, vai revelar-se um cisne.

Aqui, ela se tornou Bela, em vez de Betty. Em vez da poderosa revista de moda da série americana, Bela vai trabalhar em uma agência de publicidade na versão da Record (de seg. a sex., às 20h30; livre) e ganhou como protagonista Gisele Itiê, que até que se sai bem em um papel cômico.

A versão, por ora, imita bastante ‘Ugly Betty’, o que, de novo, pode ser considerado um acerto. Afinal, relido para o formato de série foi que o roteiro original, sobre a história da patinha feia (e gorda) num mundo de homens e mulheres regidos pela vaidade e pela obsessão da beleza (e da magreza), ganhou um alcance pop mais amplo do que a novela colombiana.

Os escorregões são poucos – há, digamos, um excesso de latinidade na caracterização de Bela, o que faz sentido para a Betty de origem mexicana e que mora no Queens, mas nem tanto para a personagem brasileira. Podem, no entanto, ser creditados na conta do cômico.

Pelo jeito, essa pegada mais pop e, de certa forma, mais antenada com o mundo das séries vem se tornando uma espécie de marca da teledramaturgia da Record. OK, a saga dos mutantes se estendeu excessivamente, mas foi uma bola dentro.

De resto, a novela tem colorido e alarido; e algumas surpresas no elenco como Simone Spoladore, que, num papel entre Amanda e Wilhelmina, deve se sair bem como vilã, e Bemvindo Sequeira, simpático como o pai amoroso de Bela.

O que deveria, definitivamente, ser erradicado das telenovelas é o princípio de que o telespectador é débil mental. No capítulo de estreia, para deixar bem claro que o personagem Rodrigo é um playboy irresponsável e ‘bon vivant’, foram preciso nada menos do que quatro cenas em que o ator Bruno Ferrari aparece em uma casa em Angra cercado de duas gostosas a sua disposição. Ah, e em todas tocava o mesmo trecho de sua horrível música-tema.’

 

CASO SARNEY

Carlos Heitor Cony

Liberdade de opinião

‘RIO DE JANEIRO – Muitos colegas e leitores estão estranhando o fato de mais uma vez eu estar remando contra a maré, embarcando no que consideram uma canoa furada, não fazendo parte da união nacional e do consenso da mídia sobre o caso Sarney.

Os mais comedidos argumentam que, sendo eu colega do próprio na Academia Brasileira de Letras, deveria me dar como impedido de comentar o assunto. Citam o caso do juiz que, sendo amigo de Sarney, censurou um jornal sem se dar como impedido. Acontece que o juiz não deu uma opinião. Deu uma sentença, que tem poder de justiça e, conforme o caso, de polícia. Tal poder não tenho nem pretendo ter.

Mal e porcamente tenho o direito de dar opiniões que não precisam ser necessariamente aceitas pelos outros. Em 1964, durante quase um mês, dei minha opinião sobre o golpe daquele ano, contrariando a unanimidade da mídia de então. Fui expulso do Sindicato de Jornalistas da então Guanabara. E o presidente da ABI recusou atender ao pedido do meu advogado para depor a meu favor no processo que me foi movido pelo então ministro da Guerra, Arthur da Costa e Silva.

Com as duas entidades da classe me considerando um energúmeno, fui condenado pelo delito de opinião -naquela ocasião como agora não tinha o poder de justiça e polícia, aliás, nunca tive poder algum.

O caso que está agitando a política nacional e a mídia está seguindo o trânsito legal e democrático. O Supremo Tribunal, em outra ocasião, determinou que recortes de jornal não fazem prova de atos ilícitos. A Comissão de Ética e mais tarde o plenário do Senado têm todos os elementos para punir culpados ou o culpado. Atender o pedido de emprego de uma neta não é crime previsto no Código Penal de nenhum país regulado por leis e não por ressentimentos.’

 

REPORTAGEM

Felipe Seligman

Para analistas, jornal pode gerar investigação

‘Especialistas em direito e ministros do STF (Supremo Tribunal Federal) avaliam que reportagens jornalísticas, por si só, não servem como prova para uma possível condenação, mas podem servir para desencadear uma investigação.

Ao arquivar sumariamente na última semana os pedidos de investigação contra o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), o presidente do Conselho de Ética do Senado, Paulo Duque (PMDB-RJ) utilizou o mesmo argumento em todos os casos: os fatos foram baseados somente em reportagens de jornal.

Para o ex-presidente e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Carlos Velloso, ‘se a publicação jornalística está vinculando fatos verdadeiros, comprovados e notórios, então ela vale, sim’.

‘Cabe ao administrador abrir uma investigação, uma sindicância ou um inquérito diante de uma notícia de algo malfeito. Se, diante de uma notícia deste tipo, nada for feito, o administrador incorre no crime de prevaricação’, afirmou.

A Folha conversou anteontem com ministros do Supremo que concordaram com a visão de Velloso.

Eles entendem que as reportagens podem servir para a abertura de investigações, mas nunca como prova capaz de condenar alguém.

‘Flexível’

Os magistrados também afirmam que, no caso do Conselho de Ética, no qual ocorre um julgamento político, as regras são mais ‘flexíveis’ do que aquelas de um processo judicial.

Recentemente, por exemplo, o Supremo decidiu excluir os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Tarso Genro (Justiça) da lista de possíveis investigados do inquérito da Polícia Federal que apura a produção e o vazamento do dossiê sobre gastos do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002).

Na decisão do ministro Ricardo Lewandowski, referendada por um parecer da Procuradoria Geral da República, ele apresenta como um dos principais argumentos o fato de que as acusações contra os ministros do governo Lula eram baseadas unicamente em reportagens jornalísticas retiradas da internet.

De acordo com o advogado e diretor do Conselho Federal da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), Alberto Zacharias Toron, para que uma notícia publicada em jornal ou revista possa desencadear uma investigação, ela deve estar acompanhada de ‘outros elementos’, como ‘provas materiais ou testemunhais’.’

 

JANDYRA DE CAMARGO MOQUENCO (1921-2009)

Estêvão Bertoni

A dona do jornal centenário e os seus meninos

‘Todos os funcionários de dona Jandyra de Camargo Moquenco, a primeira linotipista mulher do país e proprietária do centenário jornal ‘A Cidade’, em Ribeirão Preto, eram tratados por ela como ‘meus meninos’.

E, se os meninos dela estivessem certos, ela os defenderia até o fim, lembra a filha Vera. Não foram poucas as vezes em que dona Jandyra peitou autoridades na cidade pelos seus repórteres.

Certa vez, expulsou a vassouradas políticos que foram até o jornal reclamar de textos que os incomodavam. Filha de um guarda-livros que saiu de SP para se aventurar em Ribeirão e que acabou comprando o jornal com a renda das marmitas que a mulher vendia, Jandyra começou cedo a trabalhar -fez de tudo na profissão, até dobrar e entregar jornal. Por um tempo, a família morou em cima da empresa.

‘Quando as máquinas paravam, todo mundo acordava e esperava dez minutos para voltarem.. Se não voltassem, alguma coisa estava errada, e a família descia para ver o que era’, lembra Vera.

Jandyra costuma ir ao jornal todos os dias e, mesmo aos 88 anos, a última palavra nos negócios ainda era dela -hoje, o jornal é parceiro da EPTV (afiliada da Globo). ‘Ela era uma pessoa ultrassimples, mas de gestos nobres’, diz o neto Zeca.

Morreu na quarta, após sofrer uma parada cardíaca. Deixa quatro filhos, oito netos e sete bisnetos. A missa de sétimo dia será na terça, às 19h30, na nova igreja dos estigmatinos, em Ribeirão.’

 

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