Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Folha de S. Paulo

TECNOLOGIA

Cristina Fibe

iPad testa o poder de inovação da Apple

‘Depois de invenções como o iPod e o iPhone, Steve Jobs, fundador da Apple, diz que agora, sim, criou um produto ‘mágico e revolucionário’: o iPad. Versão simplificada de um laptop, o ‘tablet’ permite navegar na internet, ler livros e gerenciar arquivos como música, fotos e filmes.

A expectativa em torno do iPad, lançado ontem nos EUA, fez com que a empresa vendesse mais de 200 mil aparelhos antes mesmo de ele chegar às lojas. Não há previsão de data para estreia no Brasil.

Segundo estimativas, no primeiro ano o iPad deve vender algo entre 2,7 milhões e 5 milhões de unidades, ao custo mínimo de US$ 499 (pouco menos de R$ 900).

Isso porque a Apple, os poucos que conheceram o iPad antes de seu lançamento oficial e a maior parte da mídia americana o propagandearam como um artefato que privilegia a simplicidade e a relação intuitiva com o consumidor.

O iPad, como o iPhone, não tem teclado ou mouse acoplados, sua tela obedece ao toque do dono. E, embora não funcione como telefone nem possua câmera, tem as outras facilidades com que os usuários do iPhone já se acostumaram, só que com mais velocidade e tela muito maior, de 24 cm por 19 cm, e só 1,25 cm de espessura.

Com acesso permanente à internet (Wi-Fi), bateria com durabilidade de dez horas e cerca de 700 gramas, o aparelho une e-mails, música, filmes, games, e-books, GPS, agenda, fotos -e, é claro, o navegador Safari e a loja do iTunes, que garante à Apple que o usuário continue rendendo mesmo depois de desembolsar mais de US$ 499 no aparelho.

O pacote causou alvoroço na mídia americana. Capa da ‘Newsweek’ de 5 de abril questiona: ‘What’s so great about the iPad?’ -o que é tão formidável no iPad?, em tradução livre-, e responde: ‘Tudo’.

Nas seis páginas internas, afirma que o produto ‘mudará o jeito como você usa computadores, lê livros e assiste à TV, desde que esteja disposto a fazê-los à maneira de Steve Jobs’. A revista diz ainda que o executivo da Apple tem a habilidade para criar aparelhos ‘que não sabíamos que precisávamos, mas sem os quais de repente não podemos viver’.

A revista ‘Time’ chegou às bancas com o mesmo assunto na capa. Enviado em nome do veículo, o ator e comediante Stephen Fry pareceu deslumbrado depois de conversar com Steve Jobs e manipular o iPad durante dez minutos.

Ontem, o jornal ‘The New York Times’ organizou um ‘live blogging’ com repórteres de plantão para relatar as filas nas lojas da Apple (e na Best Buy, aonde o aparelho também chegou) e consumidores comentando o iPad.

O ‘Washington Post’ foi um dos poucos a reagir e publicar que, com tudo isso, Steve Jobs pouco precisaria investir em publicidade -além do fato de que os jornais e as revistas também estão interessados em transformar os seus conteúdos para a leitura no aparelho.

No YouTube, consumidores postaram vídeos ontem para mostrar o iPad sendo desempacotado e fazer os primeiros comentários sobre a novidade. Entre os poucos defeitos apontados pela ‘Newsweek’, o fato de que Steve Jobs subverte a liberdade de escolha característica da internet, fechando o sistema e obrigando os usuários a navegar no Safari e a fazer as compras no iTunes.

Outra reclamação é o fato de não ler imagens desenvolvidas com a plataforma Flash, da Adobe, responsável por cerca de 75% dos vídeos na internet. E um defeito do iPhone que por ora se repetirá: o novo computador da Apple não é multifuncional, ou seja, só é possível abrir um aplicativo de cada vez.’

 

Com versão inicial só em wifi, produto tenta encontrar nicho

‘Um dos desafios da Apple é convencer consumidores da necessidade de adquirir o iPad. O produto não substitui o computador normal para a maioria das pessoas e é relativamente grande para ser carregado como celular. O consumidor ideal deve ser alguém que queira, por exemplo, se sentar no sofá e navegar na internet. A versão disponível nos EUA vem só com conexão sem fio (WiFi). O modelo mais completo da Apple chega ao mercado no fim do mês.’

 

Brad Stone e Claire Cain Miller,NYT

Consumidores questionam grau de necessidade

‘Se o tão promovido iPad quiser se tornar sucesso entre os consumidores convencionais, a Apple terá de fazer com que pessoas como Jon Byron mudem de ideia.

Byron, 54, executivo bancário em Connecticut, saiu da loja da Apple na Quinta Avenida na semana que passou em Manhattan com sérias dúvidas em relação à funcionalidade do aparelho.

‘Posso fazer tudo aquilo nos meus MacBook Pro, celular e BlackBerry’, disse Byron. ‘Não preciso de mais um aparelho. Já tenho seis números de telefone e quantidade suficiente de coisas para recarregar à noite.’

Muitos consumidores não compreendem o propósito do aparelho ou por qual razão as pessoas precisariam de ainda mais uma engenhoca, além do computador e do celular inteligente (smartphone). Afinal, os celulares vêm executando gama cada vez mais ampla de funções.

‘Os primeiros 5 milhões serão vendidos muito rapidamente’, disse Guy Kawasaki, empresário do Vale do Silício que foi executivo de marketing na Apple nos anos 80. ‘Mas vejamos: não se pode telefonar com o aparelho, ou tirar fotos, e passa a ser necessário pagar por acesso a conteúdo pelo qual as pessoas antes não pagavam. Parece uma parada difícil.’

A Apple e outras empresas de tecnologia que estão introduzindo no mercado uma série de computadores ‘tablets’, controlados por telas de toque, enfrentam um desafio difícil. Os ‘tablets’ têm por objetivo permitir que as pessoas assistam a vídeos, naveguem pela web, joguem videogames e leiam jornais, livros e revistas em toda parte, sem que precisem da inconveniência de carregar um volumoso notebook.

As pessoas que já encomendaram um iPad ou foram às lojas da Apple ontem ‘são tecnófilos, e a expressão ‘tecnologia de ponta’ lhes causa arrepios de excitação’, diz Eitan Muller, professor de marketing de tecnologia na escola Stern de administração de empresas, parte da Universidade de Nova York.

Mas essas pessoas respondem por apenas 16% do mercado potencial do iPad, diz Muller. ‘O mercado amplo é formado por consumidores pragmáticos, e aquela mesma expressão causa engulho a eles’.

Os grupos de pesquisa de tecnologia estão tentando avaliar o ceticismo existente no mercado, antes do lançamento do iPad. Uma delas, a NPD, constatou em estudo que 18% dos consumidores expressaram interesse em ter um iPad.

Entrevistas com diversas pessoas, ao longo da semana passada, enfatizaram essa incerteza. Havia uma sutil sensação de frustração entre os consumidores convidados a adquirir mais um aparelho dispendioso em uma vida já repleta de telas com manchas de dedos e cabos de força retorcidos.

‘Eu só queria saber para que o aparelho deve ser usado’, disse Ebony White, 21, assistente social infantil em San Francisco que conversou sobre o iPad com amigos, todos os quais decidiram que não pretendem comprar o aparelho. ‘Se eu fosse gastar tanto dinheiro comprando alguma coisa, seria um computador e pronto, porque o preço é o mesmo, mas o laptop faz muito mais coisas.’

John Morgan, 48, por exemplo, já é cliente devoto de Steve Jobs, presidente da Apple. ‘Sou de uma família com seis iPods’, disse. Mas prometeu que sua família compraria ‘zero iPad’: ‘É caro demais’. Seu filho, Alex, explicou que eles já têm um iPod Touch ‘e, portanto, não precisamos do iPad’.

Talvez seja cedo demais para avaliar o interesse dos consumidores pelo iPad. Os programadores ainda não tiveram chance de criar aplicativos para o aparelho, e a Apple ainda não se dedicou muito a uma de suas especialidades: a publicidade.

Gene Munster, analista da Piper Jaffray, estima que a Apple investirá US$ 515 milhões em publicidade neste ano e que 15% do total será destinado à promoção do iPad.

E, em certo sentido, o tempo também favorece a Apple. O preço do iPad inevitavelmente cairá, e os programadores independentes criarão aplicativos e inventarão outros usos, como fizeram com o iPhone.

Tradução de Paulo Migliacci’

 

Cristina Fibe

Aparelho ainda não mostra a que veio

‘Minha expectativa com relação ao iPad era a mais alta possível. Depois de passar semanas acompanhando a extensa cobertura na mídia americana e de ter lido críticas elogiosas nos principais veículos, esperava nada menos do que um aparelho do qual eu não pudesse mais abrir mão.

Mas, ontem, ao final do test-drive que descrevo a seguir, a sensação é a de que o iPad ainda não mostrou a que veio.

Do início: recebi o aparelho via correio, ao meio-dia de ontem, depois de passar a manhã inteira pensando que teria sido mais garantido enfrentar filas para conseguir o meu. O carteiro tirou sarro da minha ansiedade. Não devia ser o primeiro iPad que entregava.

O impacto inicial, positivo, foi parecido com o que senti quando abri os dois outros aparelhos da Apple nos quais me viciei, o iPod e o iPhone -devo dizer que, no mais, não sou uma ‘garota Apple’. Belo design, leve e, aparentemente, simples.

Nem tanto. Aos poucos, o iPad foi me devolvendo à realidade. Primeiro, é necessário um computador com iTunes (loja virtual da Apple) para que comece a funcionar. Quando o iPad liga, percebo outro fator do ‘sistema fechado’ da Apple: o aparelho não carrega quando ligado a um PC, diferentemente do iPod.

Próximo obstáculo: o iPad não encontra uma conexão Wi-Fi (sem fio) livre no meu apartamento. Sem conexão, a novidade não tem graça nenhuma.

Por sorte, alguém esquecera um AirPort por aqui, uma base da Apple que, ligada à tomada e ao modem, transforma a banda larga em sinal sem fio. Sem isso, talvez o meu iPad fosse inútil.

O uso do Safari (navegador da Apple) é como no iPhone, só que mais confortável, por causa da tela maior e de um teclado que, embora também sensível ao toque, tem mais espaço entre as letras e é fácil de manipular. O Flash Player (programa da Adobe) é um problema: proibido, faz com que parte dos sites e mais da metade dos vídeos na web fiquem inacessíveis.

‘Apps’

Mas YouTube e sites como o da TV ABC já trataram de fazer versões especiais para a Apple; o primeiro, que já vem no desktop do iPad, traz novo formato, com vídeos em definição mais alta. A ABC oferece um aplicativo gratuito que dá acesso a várias séries -e, embora elas estejam repletas de propagandas indesejadas, se adaptam perfeitamente à tela do iPad.

Entre os inúmeros outros ‘apps’ (aplicativos), há ainda aqueles para usar redes sociais, jogar, ler jornais, revistas e livros -até o Kindle (leitor de livros da Amazon) já tem sua versão para o aparelho, embora a Apple também possua um aplicativo, o iBooks.

Nele, as páginas, coloridas, obedecem ao toque e viram imitando a dobra das folhas de um livro ‘real’, com velocidade controlada pelos dedos. Ícones permitem mudar o tamanho das letras e viajar a qualquer parte do livro. A biblioteca da Apple, porém, é bem menor do que a que a Amazon oferece.

Minha vontade era a de baixar todos os aplicativos de livros possíveis. Temia que, ao levar o aparelho para as ruas, ele não achasse uma conexão Wi-Fi e passasse a ser apenas uma mistura de leitor eletrônico e iPod (a Apple disponibilizará versões mais caras, com conexão 3G, no fim do mês).

Também poderia pagar por filmes e games, na tentativa de abastecer o iPad para ter vontade de sair com ele. Ou seja: depois de desembolsar US$ 499 em sua versão mais simples (16 GB), eu teria um sem-fim de opções para continuar gastando dinheiro.

No fundo, o iPad é uma loja gigante, onde a internet faz o caminho oposto ao que estamos habituados: menos conteúdo é disponibilizado de forma grátis, aberta e livre.

No fim do dia, passei a considerar a reclamação de alguns consumidores irritados com o preço salgado -para que eu preciso de um iPad se já tenho laptop e celular inteligente? Os netbooks, que chegam a custar menos da metade, são multifuncionais e, embora maiores do que um iPad, suficientemente práticos de carregar.

Após horas usando o novo grande lançamento da Apple, tudo o que consigo responder é: não sei. Não compraria um.’

 

TELEVISÃO

Andréa Michael

‘Marca’ Lula é a segunda mais forte em lista de celebridades

‘A força do nome Lula só perde para a do piloto Ayrton Senna -tricampeão mundial de Fórmula 1morto em1994-em ranking de celebridades.

O levantamento, da agência Young & Rubicam, coloca o petista na frente de estrelas como o jogador Ronaldo, a apresentadora Ana Maria Braga (Globo) e a atriz Fernanda Montenegro.

Esse é o resultado de uma pesquisa internacional que a Young faz somente para uso interno como referência para definir suas campanhas publicitárias.

A mais nova versão brasileira do trabalho tem dados de 2009 e foi disponibilizada com exclusividade para a coluna.

Em 3.000 questionários, os entrevistados deram notas para 98 celebridades, nomes escolhidos pela área de planejamento da agência.

Pontuaram quesitos como liderança, inteligência, glamour, estilo, polidez, confiabilidade, autenticidade e saúde.

As características são organizadas em uma equação matemática que, resolvida, gera as notas do ranking. As notas mais altas de Lula foram para inteligência e liderança.

Entre as mais baixas, estão glamour, estilo e saúde. Em todos os quesitos, Ana Maria Braga teve notas acima da média das celebridades.

Destacou-se em liderança, confiabilidade, estilo e glamour.

De políticos, além de Lula, a lista incluiu a petista Dilma Rousseff e os tucanos José Serra e Aécio Neves. Disputaram em pé de igualdade com figuras que têm história na TV, como Silvio Santos, Xuxa, Tony Ramos e Suzana Vieira.

Nos 44 países em que realiza a pesquisa, a Young avalia o poder de 20 mil marcas, que estão organizadas em divisões, como produtos e serviços, entre as quais está a lista de celebridades.

A matéria-prima é colhida em 500 mil entrevistas.

ESPAGUETE 1

Escolhidas para ‘Passione’, próxima novela das oito da Globo, as províncias toscanas de San Quirico e Montepulciano também ambientaram cenas de ‘Gladiador’ e ‘Lua Nova’. Para produzir a trama, a parceria entre a emissora brasileira e a Mestiere Cinema tem uma equipe de cem profissionais, além de 200 figurantes selecionados em Siena. A direção é de Carlos Araújo.

ESPAGUETE 2

O trabalho de produção da trama escrita por Silvio de Abreu começou em setembro de 2009 com a pesquisa de locações. Em novembro, foram feitas cenas da colheita das azeitonas. Em janeiro, houve captação de paisagens de chuva e neve. Agora, de céu azul sobre os campos verdes da Toscana, onde começa a primavera.

ÍNDIO DE ESTÚDIO

Marcos Palmeira diz que levará boas lembranças de ‘Cama de Gato’ (Globo), que termina dia 9. ‘Essa novela me resgatou um certo frescor na televisão.’ Agora, o ator volta à Cultura para retomar um de seus projetos mais queridos na TV, o ‘A’Uwe’ -’povo indígena’ na língua xavante. ‘Não sou um especialista, mas esse é um universo que faz parte da minha realidade há 20 anos’, diz o ator, que morou com os xavantes na adolescência. Nesta terceira temporada, segundo Palmeira, o programa buscará corrigir ‘informações truncadas sobre as questões indígenas que são repassadas nas escolas’.’

 

Novela de guerra

‘As histórias de três fuzileiros da Primeira Divisão de Infantaria da Marinha dos EUA, conhecida como ‘a velha raça’ por ser a maior e mais antiga em serviço, compõem a aguardada minissérie ‘The Pacific’, que estreia no canal pago HBO no próximo domingo, às 22h.

A produção narra as batalhas entre americanos e japoneses no oceano Pacífico, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A história começa após o ataque a Pearl Harbor, em 1941, e acaba em 1946.

Estimado entre US$ 120 milhões e US$ 200 milhões, o programa foi considerado o mais caro da história da TV, o que o canal não confirma.

A direção é de Carl Franklin, David Nutter, Jeremy Podeswa, Tony To, Tim Van Patten e Graham Yost, mas o destaque são os produtores Steven Spielberg e Tom Hanks. Juntos, têm no currículo dois premiados produtos ambientados na guerra: ‘O Resgate do Soldado Ryan’, de 1998 (oito Oscars), e a série ‘Band of Brothers’ (seis Emmy e um Globo de Ouro).

Na estreia, o HBO estará disponível para todos os assinantes da NET. E, na TV aberta, a Band tem os direitos para 2011.’

 

Ricardo Bonalume Neto

Conflito no Pacífico foi mais brutal do que na Europa

‘Realmente impressiona a caracterização de época da minissérie ‘The Pacific’.

Não são apenas os detalhes de equipamento, uniformes, linguagem; a própria reconstituição dos combates é de tirar o fôlego, pela precisão.

A guerra no oceano Pacífico entre japoneses e Aliados foi infinitamente mais brutal do que aquilo que aconteceu na Europa, e a luta entre alemães nazistas e soviéticos não era caracterizada pelo respeito das leis da guerra e do bom tratamento dos prisioneiros.

Os japoneses simplesmente não se rendiam e desprezavam o inimigo que o fizesse. Preferiam o suicídio à ‘desonra’ da rendição e tratavam como escravos ou executavam os prisioneiros aliados.

A minissérie é realista porque foi fiel às histórias de três veteranos fuzileiros navais americanos, dois deles autores de seminais livros de memórias, e outro ganhador da principal medalha americana por bravura, a ‘Medal of Honor’, do Congresso.

Os três participaram das batalhas mais importantes e dramáticas do conflito, como Iwo Jima e Okinawa. O primeiro episódio mostra a invasão americana de Guadalcanal, a primeira contraofensiva aliada no Pacífico.

Cenas assustadoras

Os japoneses tentaram desalojar a cabeça de praia americana em vários ataques selvagens. Um deles, mostrado neste episódio, foi uma tentativa de flanquear a posição americana através da foz de um riacho no flanco direito americano, batizado pelos marines de ‘alligator creek’.

Fotos da época, dos cadáveres japoneses, impressionam pela escala da mortandade; a reconstituição está assustadoramente perfeita.

Dado o pedigree dos produtores, entre eles Steven Spielberg, Gary Goetzman e Tom Hanks, previamente envolvidos em clássicos da filmografia de guerra, como ‘O Resgate do Soldado Ryan’ (1998) e ‘Band of Brothers’ (2001), esta minissérie promete.’

 

Inácio Araujo

Convencional, minissérie se dá bem ao investir no realismo das batalhas

‘A primeira advertência vem da música balofa durante os letreiros. Mas esse tem sido o padrão musical da Hollywood recente, grandiloquente e vazio -então, toca em frente.

O que segue aponta para uma surpresa: a de ver Steven Spielberg e Tom Hanks envolvidos com uma minissérie das mais chochas. A guerra no Pacífico é uma das mais bem documentadas e filmadas de que se tem notícia. Não faltam filmes, reais e fictícios, da época ou posteriores, pró ou contra, dando conta das atrocidades que ali aconteceram. E foram atrozes.

‘The Pacific’ começa estranho, fincando pé na vida pré-guerra dos pracinhas, tipo namoros e vida familiar. Parece novela de TV. Passa batido por um dos aspectos mais interessantes do início das hostilidades: o intenso, brutal treinamento dos recrutas para a guerra. É o que se vê em ‘Iwo Jima -O Portal da Glória’ (Allan Dwan, 1949), para ficar com o exemplo mais célebre.

Após uma introdução que aparentemente deve apresentar o conflito à garotada, vamos quase que em linha reta para a batalha de Guadalcanal, vitória decisiva e sangrenta.

O filme se dá bem na reconstituição das batalhas, em especial na parte sonora. Esse parece ser o investimento principal: as batalhas e sua intensidade sonora. Ao mesmo tempo, logo no início, constroem-se personagens e situações convencionais. Desde o oficial com indefectível discurso de Estado Maior até pracinhas com incurável otimismo que, aos poucos, descobrem o terror da guerra.

É compreensível que os personagens não sejam muito desenvolvidos em meio a tantas bombas e mortes (algumas das melhores cenas dizem respeito ao final das batalhas, quando a sangueira enfim se mostra em toda crueza). Podia-se esperar que as coisas evoluíssem melhor na Austrália, onde os rapazes chegam após exaustivos combates e dispostos a não menos exaustivos namoros com as garotas australianas. Mas os namoros (assim como as bebedeiras e tal) têm pouco a mostrar, apoiam-se na convenção.

Pode ser que mais adiante tudo mude. Por ora, a série está à altura da música de abertura. O espectador terá mais a ver a respeito da guerra no Pacífico procurando por filmes de Raoul Walsh, Otto Preminger, Samuel Fuller, John Ford e Clint Eastwood sobre o tema.

Algo de inquietante se desprende dessa série: os filmes clássicos sobre a Segunda Guerra foram feitos no momento dos combates (o chamado ‘esforço de guerra’), em instantes de autocrítica (no momento do Vietnã), como apoio à Guerra Fria ou como reflexão pacifista. Por que ‘The Pacific’ se abalaria até o distante Oriente, hoje, que as ameaças japonesa e comunista estão conjuradas? Terá a China algo a ver com isso?

THE PACIFIC

Quando: a partir do dia 11, às 22h, na HBO (reprises às ter., às 21h)

Classificação: 16 anos

Avaliação: regular’

 

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