Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Folha de S. Paulo

PROJETO GRÁFICO
Folha integra redações e finaliza reforma

Está em fase final de preparação uma ampla reforma editorial e visual da Folha, com estreia prevista para o fim de maio. Parte desse processo de mudanças já está em curso. Desde a última quarta-feira, as redações da Folha e da Folha Online foram integradas e passaram a ser uma só, unificadas sob um mesmo comando.

A Folha é o primeiro grande veículo da imprensa brasileira a promover o que vale chamar de ‘fusão orgânica’ entre o jornal impresso e a versão on-line.

O objetivo é que ambas as plataformas noticiosas passem a conversar de maneira mais ágil e completa do que já ocorre hoje, ampliando as possibilidades de acesso do leitor a informações e serviços de seu interesse e necessidade. Ferramentas e recursos para facilitar essa integração serão incorporados aos dois suportes do noticiário -o papel e a tela.

Sem desconsiderar a identidade de cada plataforma, a Direção de Redação da Folha acredita que uma maior sintonia entre os dois meios é, mais do que simplesmente inevitável, benéfica ao leitor. A integração impõe ao jornal o desafio de oferecer um noticiário que seja ágil e ao mesmo tempo preserve a sua qualidade.

Desde a última quarta, o comando editorial da Folha Online está subordinado à editoria-executiva da Folha. Os editores dos cadernos do jornal impresso passaram a contar com editores-adjuntos da área digital. Foi criado ainda o cargo de secretário-assistente da área digital, responsável pela homepage (a página de rosto da Folha Online). Cerca de 60 profissionais que trabalhavam na Folha Online, entre repórteres e redatores, passam a integrar as equipes das áreas correspondentes da Folha.

Essa integração orgânica aprofunda e dá sequência à unificação física das redações, realizada no segundo semestre do ano passado, após a reforma do prédio onde fica o jornal.

‘O objetivo é fazer da Redação um centro captador de notícias 24 horas por dia, que serão entregues ao leitor de acordo com sua preferência e seguindo os princípios editoriais da Folha’, diz o editor-executivo, Sérgio Dávila. ‘É um novo momento do Projeto Folha, que revolucionou o jornalismo brasileiro nos anos 80.’

Outras mudanças

A Folha também vai estrear no fim de maio uma série de mudanças visuais e de conteúdo que estão sendo gestadas ao longo dos últimos meses, parte delas há mais de um ano.

A Folha terá novos cadernos, novos colunistas e novas seções. A mudança vai impactar o jornal como um todo, da Primeira Página aos suplementos semanais. Alguns deles, como o caderno de Informática, o Equilíbrio e a Folhinha, serão reformulados.

O caderno Vitrine, que circulava aos sábados até o mês passado, será incorporado, com aperfeiçoamentos e inovações, a uma nova revista dominical. Haverá ainda outras mudanças envolvendo o jornalismo cultural e sua interface com o mundo acadêmico.

Todas essas alterações serão simultâneas à reforma gráfica do jornal. Concebida desde setembro do ano passado por uma equipe sob a coordenação da designer Eliane Stephan, a reforma objetiva tornar a Folha mais legível e prática. Há a preocupação de devolver ao jornal uma identidade visual mais homogênea, corrigindo excessos de disparidades entre os cadernos e entre as páginas de um mesmo caderno.

Stephan, que trabalhou como editora de Arte do jornal nos anos 90, foi a responsável pela reforma gráfica realizada em 1996, quando a Folha passou a ser totalmente impressa em cores. Depois daquela reforma, o jornal promoveu ainda outras duas, uma em 2000 e outra em 2006.

Com a integração das redações do jornal impresso e do on-line e as reformas gráficas e editorial, a Folha busca avançar na direção de um jornalismo que atenda melhor às demandas do leitor, oferecendo um produto mais conciso e mais legível, mais sintético na forma e analítico no conteúdo.

O esforço de mudança e atualização, porém, não altera o compromisso com os princípios editoriais que norteiam o jornalismo da Folha -apartidarismo, espírito crítico e pluralismo.

 

TAILÂNDIA
Reuters

Jornalista é morto no embate mais violento em 18 anos

Um repórter cinematográfico da agência Reuters foi morto ontem em Bancoc, capital da Tailândia, enquanto cobria protestos de oposição ao governo central.

Ao menos 521 pessoas ficaram feridas e quatro civis e quatro soldados morreram. O protesto foi considerado o mais violento dos últimos 18 anos no país.

O jornalista Hiro Muramoto, um japonês que trabalhava anteriormente em Tóquio, recebeu um tiro no peito. A origem da bala não foi identificada. Segundo as autoridades, os manifestantes também possuíam armas.

‘Estou terrivelmente entristecido com a morte do nosso colega Hiro Muramoto nos confrontos de Bancoc’, disse David Schlesinger, editor-chefe da Reuters.

‘O jornalismo pode ser uma profissão muito perigosa, já que aqueles que tentam contar a história para o mundo se arriscam no centro da ação’, declarou Schlesinger.

Os camisas vermelha, como são conhecidos os civis que se confrontaram com os soldados, exigem que o primeiro-ministro Abhisit Vejjajiva dissolva o Parlamento e convoque novas eleições.

As manifestações fazem parte de uma longa disputa entre a população rural e pobre, que apoia o ex-primeiro-ministro Thaksin Shinawatra, e a elite urbana, acusada pelos camisas vermelha de ter orquestrado um golpe militar em 2006 para remover Thaksin do poder.

Os embates de sábado se estenderam para além do entorno do Monumento à Democracia, onde normalmente ocorrem, e atingiram também a localidade turística de Khao San Road.

 

GUANTANAMO
Andrea Murta

Durante visita, jornalistas têm cada passo vigiado por militares

Na sala de imprensa da base militar de Guantánamo, os telefones trazem um aviso: ‘Não discuta informação confidencial. Esta linha é monitorada o tempo todo. Uso do telefone constitui consentimento ao monitoramento’.

A imprensa só chega a Guantánamo autorizada pelo Pentágono, e do momento em que os jornalistas aterrissam na ilha até o retorno a Washington, todos os passos são vigiados de perto. As únicas movimentações oficialmente permitidas sem acompanhante são para o banheiro e até a sala de imprensa, a alguns metros de distância do local de hospedagem.

Há estrito controle sobre o que é visto e divulgado. As informações são vagas: ninguém diz quantos detentos há em cada complexo ou onde estão os presos que, pelos planos do governo, ficarão detidos sem julgamento indefinidamente.

Ao fim de cada dia, um militar confere todas as fotos e vídeos feitos. Se algo for considerado inadequado, o jornalista é obrigado a apagar o material. Nenhuma foto sai de Guantánamo sem passar pelo sistema de censura -a Folha teve fotos deletadas diariamente.

As regras são informadas previamente. Não se pode capturar imagens internas ou externas dos tribunais onde as comissões militares operam. Durante as sessões, a imprensa fica em uma sala separada por uma parede de vidro, e o sistema de áudio tem atraso de alguns segundos. Isso permite a um censor sentado ao lado da juíza cortar o som caso sejam discutidas informações confidenciais. Mesmo assim, é proibido levar gravador.

Fotos dos militares, só com consentimento expresso. ‘Se algum soldado quiser fazer pose de herói para vocês, ótimo’, disse uma militar. Mas a maioria deles só permite fotos do pescoço para baixo. Citam temores de retaliação posterior por parte das redes a que os presos supostamente pertencem, como a Al Qaeda.

Imagens dos detentos feitas durante os tours nas prisões não podem mostrar o rosto nem exibir características que facilitem sua identificação, como manchas de pele. Não se pode falar com os presos.

Também não se podem capturar imagens com mais de uma torre de vigilância ou de torres vazias -é preciso evitar que o mundo veja que nem todas elas estão ocupadas o tempo todo. Antenas, câmeras, radares e infraestrutura considerada crítica, como plantas de energia, são barradas. E tomadas de vídeo devem ser curtas para impedir que seja feito um ‘mapa’ de Guantánamo.

Textos não sofrem censura, mas algumas conexões de internet expõem avisos de que o material transmitido também será monitorado.

Os jornalistas ficam acampados na chamada Tent City (cidade de tendas), em barracas militares com capacidade para seis pessoas. Banheiros (latrinas) e chuveiros estão em barracões próximos, separados por sexo.

Atualmente, só ficam na Tent City visitantes como repórteres e membros de ONGs: os militares ficam em casas ou apartamentos na cidade, longe da mídia. Todo mundo se encontra, porém, nas refeições nos restaurantes locais ou nos refeitórios. Nesses momentos, apesar do controle -ou talvez por causa dele-, a simpatia é regra entre os oficiais.

 

CINEMA

New York Times

Hollywood quer vetar apostas em filmes

Em uma demonstração de solidariedade, muitos dos grandes grupos do setor de cinema e alguns legisladores simpáticos à causa se alinharam em um esforço de último minuto para bloquear a adoção de novos instrumentos financeiros que permitiriam a negociação em Bolsa de contratos de ‘swap’ relacionados aos resultados de bilheteria de filmes.

Uma coalizão liderada pela MPAA, a associação setorial dos grandes estúdios de cinema, solicitou à Comissão de Operações de Commodities e Futuros (CFTC, na sigla em inglês) norte-americana que rejeite o pedido de criação de um mercado futuro para contratos de filmes, apresentada pela Veriana Networks. Alguns dos maiores sindicatos e organizações profissionais de Hollywood apoiaram o esforço. A MPAA representa estúdios como 20th Century Fox, Paramount Pictures, Sony Pictures Entertainment, Universal Studios, Walt Disney Studios e Warner Brothers.

Duas empresas, a Cantor Fitzgerald e a Veriana Networks, haviam solicitado autorização para lançar mercados em que produtores, distribuidores e estúdios poderiam apostar no desempenho de bilheteria de determinados filmes. Com isso, afirmam que eles poderiam fazer um hedge (proteção) dos seus investimentos nos filmes. Ao longo das duas últimas semanas, duas senadoras, Barbara Boxer e Dianne Feinstein (ambas da Califórnia, onde fica Hollywood), enviaram à comissão uma carta conjunta na qual recomendam cautela na aprovação à negociação de contratos. Deputados federais enviaram cartas de teor semelhante.

Em meio a pressões, a CFTC, no fim da tarde de anteontem, anunciou que adiou a decisão sobre o tema para o dia 16. Para os estúdios, a iniciativa traz uma série considerável de problemas, entre os quais o risco de manipulação de mercado em um setor tão influenciado por boatos quanto o do cinema.

Eles apontam risco de conflitos de interesses entre funcionários do estúdio e prestadores terceirizados de serviços, que poderiam apostar a favor ou contra os filmes em que estão envolvidos; possibilidade de que o desempenho de bilheteria dos filmes seja influenciado por apostas adversas no mercado futuro; dificuldade em obter ou reter salas de exibição para filmes vistos como fracos pelas atividades nos mercados futuros; necessidade de adotar rigorosos controles internos para prevenir a possibilidade de transações com uso de informações privilegiadas.

Entre os potenciais abusos, alegam os estúdios, está a possibilidade de que um especulador divulgue uma primeira versão de um filme na internet e lucre posteriormente quando ele sofrer nas bilheterias.

As duas empresas disseram ter a esperança de que seus pedidos fossem aprovados. ‘Se eles desejam um diálogo aberto, para nós, isso é ótimo, e não vemos problema em reiniciar o processo de aprovação do produto’, disse Rob Swagger, presidente-executivo da Veriana.

Richard Jaycobs, presidente da Cantor Fitzgerald Exchange, disse que vem realizando reuniões com investidores em cinema desde que a MPAA divulgou, em março, uma circular na qual desaprovava os novos mercados. Para ele, os mercados ajudariam a promover maior transparência no setor.

Em carta na qual responde a objeções prévias da MPAA, Jaycobs revela que a empresa procurou a associação em março de 2009 para discutir o mercado. Mas a MPAA se limitou a reconhecer o contato e não ‘apresentou resposta ou objeção substantiva’ até a carta do mês passado, escreveu Jaycobs.

Tradução de Paulo Migliacci

 

TELEVISÃO
Andréa Michael

João Doria não gosta de demitir e quer ‘Aprendiz’ para nerds

‘Empresário de sucesso, João Doria Junior, 52, tem uma frase pronta para cada momento, até para demitir alguém: ‘Todo erro é construtivo. Sábio é aquele que sabe construir dos seus erros seus próximos acertos’. É assim, com um toque de ‘doçura, mas com firmeza’, que ele estreia no dia 15, na Record, a sétima temporada do ‘Aprendiz Universitário’.

‘Eu não gosto de demitir. E esse será meu principal desafio’, diz. O formato do programa prevê a eliminação dos candidatos com um ‘você está demito’ anunciado por Doria. O vencedor entre 16 concorrentes levará o prêmio de R$ 1 milhão, além de emprego garantido pelo apresentador. Diferentemente das outras versões, nesta o programa só terá provas de conhecimento, sem disputas físicas.

‘Não acredito em sonhos sem estudos e trabalho. Acredito em sorte com trabalho.’ Com o pai, o deputado João Doria, exilado na França durante a ditadura, Doria Júnior começou a trabalhar aos 13 anos como assistente de rádio e TV em uma agência.

‘Pode parecer de pouca importância, mas para mim era a glória. Tinha uma mesa, um telefone e lanche.’ Hoje, é dono de um grupo de cinco empresas, com 170 funcionários, e sócio de empreendimentos em diferentes ramos. Sem modéstia, apresenta sua meta no ‘Aprendiz’: ‘Quero liderar pelo exemplo’.

FILHO EM 2010

Na virada do ano, Isabella Fiorentino, 32, sentiu ‘uma vibe’, um sinal. Em 2010, firmou-se como apresentadora do ‘Esquadrão da Moda’, o programa do SBT que coloca cafonas e bregas na linha da elegância. Ainda em abril, chega às livrarias seu primeiro livro, ‘Na Moda com Isabella Fiorentino’ (Nova Cultural). E … ‘até o final do ano espero realizar o sonho de engravidar e ser mãe’, contou à coluna. Um conselho: ‘As pessoas não devem usar tudo que é tendência. Precisam ter estilo’.

ALMANAQUE

Os números acima estão no ‘Guia Ilustrado TV Globo – Novelas e Minisséries’. Recém-lançada, a publicação revela bastidores de produção em 45 anos de história da emissora.

 

James Cimino

Série mistura ‘Zorra Total’ e novela das 7h

As séries médicas se tornaram um clichê bastante lucrativo na televisão americana e mundial. Aqui no Brasil, no entanto, sucessos como ‘Grey’s Anatomy’, ‘ER’ e ‘House’ vão muito bem na TV paga, mas têm pouco apelo na programação gratuita.

O SBT, que tem vários desses títulos na grade, geralmente os exibe na madrugada. Apenas ‘ER’ foi ao ar pela Globo, na década de 1990, após a novela das oito, sob o título de ‘Plantão Médico’. E, mesmo com George Clooney, não durou muito na grade, embora sua última temporada tenha sido exibida nos EUA só no ano passado.

Por isso parece estranho que a Globo resolva investir nesse filão ao lançar, no domingo passado, ‘S.O.S. Emergência’, uma comédia escrita pelos roteiristas Daniel Adjafre e Marcius Melhem, de ‘Casos e Acasos’, sobre o cotidiano de um hospital, digamos, ‘muito louco’.

O horário da atração, logo após o ‘Fantástico’, já foi ocupado pelo ‘Sai de Baixo’, que, com ‘A Grande Família’ e ‘Toma Lá, Dá Cá’, são as três séries humorísticas de maior sucesso da emissora nas últimas décadas. Em comum, têm o fato de retratar a chamada comédia da vida privada, com situações restritas ao núcleo familiar.

Um assunto que a Globo domina e que a audiência aprecia.

Diferentemente dos americanos, a emissora nunca fez uma série médica e, a julgar pelo primeiro episódio, não fez nem a extensa pesquisa de situações, doenças, nomenclaturas, procedimentos cirúrgicos e especialidades necessária para dar àquele microcosmo o tal do sentido que a ficção precisa ter.

Inspirada em ‘Scrubs’, uma série que satiriza o ambiente hospitalar, ‘S.O.S. Emergência’ inova no formato, mas preenche o conteúdo com o recorrente pastelão.

Talvez tenha sido uma opção ‘estética’ pela superficialidade, já que a linguagem médica é pouco acessível à audiência média, mas isso fez a emissora produzir uma série ‘inovadora’ com linguagem ultrapassada. Parece novela das sete misturada com ‘Zorra Total’ no horário de ‘Sai de Baixo’.

E, embora o elenco seja bom, os personagens são fracos. Não há um Caco Antíbes, uma Dona Nenê ou um Seu Ladir, com o bordão ‘É mara!’.

Quando os americanos resolveram fazer ‘Scrubs’, já tinham um vasto know-how em séries médicas, por isso a sátira foi bem-sucedida. Isso faz lembrar o que disse a crítica de teatro Barbara Heliodora à Folha, no ano passado, ao criticar a obsessão pelo experimentalismo no teatro, ‘não se pode fazer a variação antes do tema’.

S.O.S. EMERGÊNCIA

Quando: dom., às 23h10, na Globo

Classificação: livre

Avaliação: regular

 

POLÍTICA NOS EUA
Stephanie Clifford

Obama antes da fama

‘David Remnick, o editor da revista ‘The New Yorker’, não é homem de desperdiçar uma oportunidade. Em fevereiro do ano passado, após acompanhar o funeral do escritor John Updike [1932-2009], passou pela Escola de Direito da Universidade Harvard para entrevistar alguns dos antigos professores do presidente Barack Obama.

‘Escrevi simplesmente para ver se seria capaz de fazê-lo’, disse Remnick, 51. ‘Será que isso ia me interessar ou a sensação seria simplesmente de que esse é um sujeito que fez faculdade de direito… E daí?’ Remnick continuou a escrever, e o resultado é seu sexto livro -’The Bridge’ [A Ponte].

A biografia se debruça sobre a vida e a identidade racial de Obama, com trechos sobre a política queniana, a tese de doutorado da mãe (sobre o trabalho dos ferreiros na Indonésia) e até mesmo a transcrição de uma gravação de Obama, adolescente, em sessão de piadas com os amigos.

Para Remnick, a questão não era se seria possível escrever o livro e também cuidar da ‘New Yorker’ -alguns cafés dariam conta disso-, mas se sua curiosidade iria perdurar. ‘É preciso estar incrivelmente interessado, e isso não é algo que acontece a cada cinco minutos.’ Em ‘A Ponte’, Remnick pareceu se interessar especialmente por Obama como alguém que consegue ‘mudar de forma’, como ‘Obama conseguia mudar de estilo sem abrir mão de seu caráter genuíno’.

Remnick faz reportagens, escreve textos e edita. Ao mesmo tempo, como o objeto de seu livro, aparentemente calmo e focado, Remnick se esforça muito para dar a impressão de não estar se esforçando.

‘Ele gosta de fazer de conta que é tudo fácil’, disse Malcolm Gladwell, redator da ‘New Yorker’ e velho colega de Remnick do ‘Washington Post’. ‘Percorre a Redação, bate papo com as pessoas e depois desaparece e escreve milhares de palavras em 15 minutos. Tudo isso faz parte dessa coisa de ‘fazer parecer que é tudo fácil’.’

Redução de custos

Hoje em dia, é difícil fazer com que o fato de comandar qualquer publicação, mesmo a ‘New Yorker’, pareça uma empreitada fácil. As páginas de anúncios da revista diminuíram 24% no ano passado, pouco menos que a média do setor.

Mas Remnick conseguiu que ela tivesse um pequeno lucro operacional, mesmo assim (excluindo os custos gerais corporativos), graças à redução de custos, como vem fazendo há anos.

Mas Remnick se destaca na sede da revista, no endereço Times Square, nº 4, também de outras maneiras.

Vai ao trabalho de metrô e não possui a atitude imperiosa ou volúvel própria de outros editores-celebridades, incluindo sua antecessora, Tina Brown. Tende a evitar os restaurantes da moda, dando preferência ao Ouest, um bistrô americano mediano próximo a seu apartamento.

Remnick passa seu dia andando de um lugar a outro. ‘Ele faz questão de percorrer o circuito inteiro da Redação todos os dias, fazendo visitas rápidas às pessoas’, disse a editora- adjunta Pamela Maffei McCarthy. ‘Durante esse percurso, junta muitas informações sobre o que está acontecendo por aqui.’

‘Ele é bom em avaliar o temperamento emocional de diferentes jornalistas e em saber como arrancar o que cada um possui de melhor’, diz o redator Michael Specter, velho amigo de Remnick. Remnick frequentemente diz que não gosta de atrapalhar seus jornalistas e editores.

‘Não quero criar obstáculos nesse relacionamento delicado’, diz. Mas é assíduo quando se trata de enviar bilhetes de agradecimento a jornalistas, que ‘fazem você sentir que está fazendo parte de algo importante’, lembra Gladwell.

‘Preciso me lembrar sempre de que escrever é realmente difícil’, disse Remnick. ‘Espero que eu respeite isso muito.’ Quanto à empresa, os publishers dizem que Remnick vem ajudando como pode: almoços com anunciantes, festas em sua casa para clientes.

Ele também estudou o orçamento da revista, reduzindo os valores reservados para mensageiros, táxis, refeições e festas e reduzindo também os valores pagos por artigos não utilizados (que, sob a direção de Tina Brown, eram altos).

Renovação

Sob a direção de Remnick, a circulação da revista subiu 23%, para mais de 1 milhão, ao mesmo tempo em que ele dobrou o preço de cada exemplar -embora as vendas nas bancas tenham caído recentemente.

O índice de renovação de assinaturas é de 84,3%, contra 77,3% no início de 1999. Os índices de circulação e de renovação de assinaturas tiveram quedas ligeiras entre 2008 e 2009, como teve o índice de circulação no setor geral das revistas. O clima agitado que cercava a revista antes comandada por Tina Brown se foi, sendo substituído por reportagens como as de Seymour Hersh sobre o Iraque e de Jane Meyer sobre a tortura e o terrorismo.

Embora certamente existam leitores que preferem as extravagâncias de Brown aos instintos jornalísticos de Remnick, este é amplamente respeitado por manter-se calmo em um prédio e uma profissão repletos de neuróticos agitados.

‘Acho que ele vê o trabalho do editor como sendo o de não ceder à loucura’, disse Finder. Durante o ano que passou escrevendo ‘A Ponte’, acordava diariamente às 5h30 para escrever e ficava acordado até depois da meia-noite.

Sem fins de semana

Esther B. Fein, sua mulher, contou que ‘ele se levantava muito cedo, voltava ao trabalho depois de jantar com as crianças e passou mais de um ano sem tirar férias nem folgar nos fins de semana’.

Uma leva de livros sobre Obama está prevista para este ano, e a Knopf se apressou para lançar o de Remnick. Sua primeira tiragem é de 130 mil exemplares, mais que os livros anteriores de Remnick.

As expectativas de Remnick permanecem modestas -intelectualmente, pelo menos. ‘Compreendo a diferença entre jornalismo e erudição, que chega 20 anos mais tarde’, observa, falando da biografia que escreveu.

‘Sou um jornalista -não sou um Robert Caro [biógrafo duas vezes ganhador do Pulitzer]. Tenho um emprego regular, e é um emprego que me consome bastante -e me dá alegria.’

Ao término do jantar com a repórter -no Ouest, naturalmente-, Remnick tomou um expresso duplo com um cubinho de açúcar. Já passava das 22h, mas ainda tinha coisas a fazer.

A íntegra deste texto saiu no ‘New York Times’.

Tradução de Clara Allain.

ONDE ENCOMENDAR – ‘The Bridge’ (ed. Knopf, 672 págs., US$ 29,95, R$ 53), de David Remnick, pode ser encomendado pelo site www.amazon.com’

 

PESQUISA
Folha Memória define vencedor

‘Um livro sobre a história da imprensa gay no Brasil foi o vencedor da primeira edição do concurso Folha Memória, cujo objetivo é financiar pesquisas sobre história do jornalismo brasileiro.

De autoria de Flávia Helena Péret, 31, o texto ‘Imprensa Gay no Brasil – Entre a Militância e o Consumo’ deverá ser publicado pela Publifolha. Péret e os outros dois finalistas do Folha Memória -Marcel de Souza Gomes, 31, e Ewerthon Tobace, 33- receberam uma bolsa por seis meses para o desenvolvimento de seu projeto de pesquisa, sob a orientação do jornalista Hélio Schwartsman, articulista da Folha.

Gomes pesquisou a vida e a atuação profissional de Orlando Criscuolo, um dos repórteres que, nos anos 1940, desenvolveram o jornalismo policial no Brasil. Tobace investigou a evolução da mídia brasileira no Japão.

A escolha final ficou a cargo de três avaliadores: o historiador Nicolau Sevcenko, Cristiane Santos, gerente de comunicação corporativa da Pfizer -empresa patrocinadora do concurso-, e a jornalista da Folha Eleonora de Lucena.

Segundo Nicolau Sevcenko, os três textos são bons e se equilibram em suas qualidades.

Para ele, que é professor de história da cultura na USP e na Universidade Harvard (EUA), o trabalho de Péret, além de rico em informações, ‘trata com rigor e propriedade um tema que muito facilmente resvala pela caricatura, pela simplificação ou pelo estigma’.

Para Cristiane Santos, o ponto alto dos trabalhos foi a dedicação de cada um de seus autores na apuração. ‘Sobretudo o trabalho ‘Imprensa Gay no Brasil’, que, além de resgatar a memória da imprensa, aborda um tema atual e também propicia reflexão.’

Eleonora considerou ‘Imprensa Gay no Brasil’ um texto com boa elaboração, estrutura e acabamento e que teve sucesso na reconstituição de um certo período da história de uma parcela da imprensa.

461 inscritos

O concurso teve início em maio do ano passado. A primeira fase encerrou-se em julho, com a pré-seleção de 30 projetos entre os 461 inscritos. Esses 30 foram avaliados por uma primeira banca, que selecionou os três finalistas para receberem bolsa e orientação.

Além de ter seu livro publicado, Flávia Péret receberá como prêmio um laptop.’

 

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