Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha de S. Paulo

TV PÚBLICA
Fernando de Barros e Silva

Mal-estar na Cultura

‘Paulo Markun foi para Portugal e perdeu o lugar. O dito popular, neste caso, descreve com incrível fidelidade o que se passou na sucessão da presidência da TV Cultura em São Paulo.

Em 12 de abril, foram eleitos 8 novos conselheiros (de um total de 47) da Fundação Padre Anchieta, que administra a emissora. Ali ficou acertado que Markun seria reconduzido ao cargo, na eleição marcada para 10 de maio. Ele tinha a palavra do ex-governador José Serra, do atual governador, Alberto Goldman, e do provável futuro, Geraldo Alckmin. Deles, Serra era o fiador.

Markun viajou então a Portugal. Quando voltou, no dia 20, foi convocado em caráter de urgência por Luiz Antônio Marrey, atual chefe da Casa Civil do governo. Ficou sabendo que João Sayad, secretário da Cultura, queria o seu lugar.

O episódio tem todos os ingredientes de um golpe palaciano. É esse o aspecto que primeiro salta à vista na sucessão da nossa ‘TV pública e educativa’. Ficou claro, mais uma vez, que o conselho da fundação, onde há gente séria e respeitável, é um órgão decorativo. Mais do que isso: que a TV vive refém e a reboque de conveniências políticas.

As razões da queda de Markun já foram expostas. Havia a necessidade de acomodar Andrea Matarazzo no governo tucano. Ele deve substituir Sayad. Que encontrou em Goldman um aliado disposto a aplicar a rasteira em Markun. Contaram todos com a omissão de Serra.

A esse enredo se soma a insatisfação real com os resultados da emissora. O prestígio da TV Cultura já foi maior, a programação está desgastada, os custos da operação são altos, há pendências trabalhistas que se arrastam há anos. Markun não soube desatar o nó corporativo.

Sayad assumirá com o estigma do chefe que tomou o lugar do subordinado. Não é um homem de TV. Terá condições políticas e pessoais para liderar uma mudança que contemple a vocação pública e a viabilidade da Cultura? Ou será um novo personagem a encenar o próximo ato da mesma intriga paroquial?’

 

CAMPANHA
Fernando Rodrigues

Ideologia zero

‘Está aberta a temporada de leilão dos tempos de TV e de rádio no horário eleitoral. O partido mais cobiçado do momento é o PP (ex-Arena, ex-PDS). É a legenda que sustentou a ditadura militar (1964-1985) e hoje abriga Francisco Dornelles e Paulo Maluf.

Quando começar a propaganda para presidente, o PP terá perto de um minuto e meio na TV e outro tanto equivalente no rádio durante os blocos mais longos. Além disso, poderá veicular cerca de três comerciais diários de 30 segundos cada. Esses spots, como se diz no jargão da publicidade, são um canhão. Passam em todas as emissoras de TV e rádio do país ao longo de 45 dias, sem interrupção.

Nem Casas Bahia ou Petrobras têm tantos comerciais assim. Vale ouro esse benefício. Ocorre que várias legendas não terão candidato a presidente. O Brasil tem 27 agremiações e bem menos de 15 vão se aventurar na corrida ao Planalto.

No caso do PP, o episódio tem uma peculiaridade. A sigla é hoje aliada do governo Lula no plano federal. Comanda o Ministério das Cidades. Ainda assim, seus dirigentes saem por aí afirmando terem dúvida sobre se apoiam Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB) para presidente. Por que um partido estaria dentro de um governo e apoiaria o candidato de oposição? Simples: para obter vantagens.

Não há ideologia envolvida nesse processo. É só um escambo de caráter utilitário. Primeiro, o PP verificará se elegerá mais deputados, senadores e governadores apoiando o candidato a presidente do PT ou o do PSDB. Em seguida, avaliará qual dos dois tem mais chance de vitória. Por fim, dará seu apoio jurando fidelidade ao escolhido -que receberá os preciosos minutos na TV.

Esse horário eleitoral custa dinheiro. As emissoras têm compensação fiscal para ceder o tempo aos políticos. Quem paga, portanto, é o eleitor. Mas quem faz a festa da ideologia zero são os partidos.’

 

CESAR MAIA
Pesquisas eleitorais!

‘SEMPRE QUE as pesquisas eleitorais são publicadas, surgem os questionamentos. Em geral as críticas se baseiam nos resultados diferentes entre institutos, além da margem de erro. Uma pesquisa de opinião pública, sobre qualquer questão, depende de a informação ter chegado às pessoas. Fazer uma pesquisa de opinião no Brasil sobre os conflitos subnacionais na Bélgica neste momento não dará nenhum resultado, mesmo que parte das pessoas marque uma resposta. Da mesma forma, quando a informação a ser pesquisada é restrita, a pesquisa não testa opinião pública. Por exemplo: você acha que o Copom vai aumentar, diminuir ou deixar os juros iguais?

O processo básico para que uma pesquisa eleitoral traduza o que pensa a opinião pública é que o ‘jogo de coordenação’ (expressão técnica) tenha se desenvolvido. Num processo eleitoral, a opinião das pessoas vai se formando em contato com a opinião de outras pessoas.

Elas recebem informações dos candidatos e dos meios de comunicação e conversam entre si. É esse processo de tomada de decisão, a partir das conversas entre as pessoas, o que se chama de ‘jogo de coordenação’. Longe do processo eleitoral, quando os partidos ainda não iniciaram suas campanhas, sem sua própria TV/rádio, e a imprensa ainda não priorizou a cobertura, as informações que chegam aos eleitores ainda são diluídas. Vale a memória dos nomes.

No caso da eleição presidencial deste ano, um dos candidatos tem o nome mais conhecido por sua participação em outras eleições e em governos. O presidente da República, por um ano e meio, foi reduzindo essa vantagem, divulgando o nome de sua candidata e buscando colá-la às realizações do governo.

Mas quando o processo se abre e a mídia amplia os espaços pré-eleitorais é que se inicia o ‘jogo de coordenação’. Os candidatos procuram colocar seus nomes e propostas no meio desse ‘jogo’, assim como desqualificar os seus adversários. As pessoas passam a tratar do tema progressivamente. O ‘jogo’ esquenta quando entra a TV dos candidatos.

As pesquisas, portanto, medem, de início, opiniões frias, e vão retratando de forma crescente a tendência efetiva da opinião eleitoral, a meio do ‘jogo de coordenação’.

Os fatos eleitorais vão afetando esta opinião pública, mantendo ou alternando tendências. Dessa forma, as pesquisas divulgadas nestes meses falam da opinião pública, antes do ‘jogo de coordenação’.

Os candidatos, em suas campanhas, vão influenciando esse ‘jogo’ de maneira a que as conversas estimuladas pela propaganda, direta e indireta, produzam, no final, decisões a seu favor.

E as pesquisas, que no início apenas faziam diagnóstico, no final passam a fazer prognóstico.’

 

PROPAGANDA
Licitação para publicidade passa a ser obrigatória

‘O presidente Lula sancionou ontem, com veto parcial a um artigo, a lei que regulamenta a contratação de agências de publicidade pelo poder público.

A lei, de autoria do deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), estabelece regras com o objetivo de ‘moralizar’ os contratos de propaganda assinados com governo federal, Estados e municípios. A nova legislação foi elaborada depois da revelação do mensalão, em 2005.

O mensalão era um esquema de repasse de verba para parlamentares da base que usava agências do publicitário Marcos Valério como fachada.

A lei veta o pregão e determina o respeito à Lei de Licitações (8.666/93) para contratar publicidade. Para o presidente da Associação Brasileira de Agências de Publicidade, Luiz Lara, as medidas são benéficas.’

 

INTERNET
Flávio Ferreira

Projeto prejudica investigação de crime na web, dizem especialistas

‘A proposta de lei sobre direitos e deveres relativos à internet elaborada pelo Ministério da Justiça traz uma regra prejudicial às investigações sobre autores de crimes cometidos com o uso da rede, segundo afirmaram especialistas em direito eletrônico em debate ontem na OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo.

As críticas recaíram sobre o artigo do projeto de lei (intitulada Marco Civil da Internet) que determina que provedores não poderão manter registros de acesso de usuários a serviços na web sem autorização expressa dos internautas. Os especialistas dizem que hoje a guarda desses registros pelos provedores permite o rastreamento de autores de delitos.

A preocupação com o projeto foi apresentada pelo gestor de inteligência da Secretaria Nacional de Segurança Pública, Emerson Wendt, e pelos advogados Coriolano Santos, Renato Opice Blum e Juliana Abrusio.

O secretário interino de Assuntos Legislativos do Ministério da Justiça, Felipe de Paula, defendeu o texto. ‘Guardar acessos individuais seria obrigar, em analogia à nossa vida pessoal, a falar por onde eu ando e fazer um monitoramento’, disse.’

 

Após 33 anos, belga recebe resposta a mensagem em garrafa pelo Facebook

‘‘Sou um garoto de 14 anos e vivo na Bélgica. Não sei se você é uma criança, uma mulher ou um homem. Navego em um barco de 18 metros.’

Assim o belga Olivier Vanderwalle começou, em 1977, a escrever uma mensagem para colocá-la em uma garrafa, enquanto navegava pela costa sul da Inglaterra. O que ele não imaginava é que receberia uma resposta 33 anos depois, e por meio de uma ferramenta ainda não existente à época: a rede social Facebook.

Vanderwalle passava as férias a bordo do iate de sua família quando teve a ideia de escrever o texto. Então ele arrancou uma página de um livro de exercícios e achou uma garrafa de vinho que serviria para seu intento.

Mais de três décadas depois, a britânica Lorraine Yates encontrou a garrafa na praia de Swanage, em Dorset. Ignorando o endereço residencial deixado por Vanderwalle no texto, ela decidiu procurá-lo no Facebook.

Ao jornal britânico ‘The Sun’, Vanderwalle -hoje com 47 anos, pai de dois filhos e morador da cidade de Ostend, no norte da Bélgica- disse: ‘Eu não tinha ideia do que ela estava falando quando entrou em contato comigo. Então ela mencionou o nome do barco do meu pai, Tamaris, ao qual eu havia me referido em minha mensagem, e eu lembrei’.

‘Nunca pensei que veria [a mensagem] de novo, mas do nada surgiu essa mulher britânica’, completou.

Segundo o belga, que trabalha como garçom, colocar uma mensagem dentro de uma garrafa ‘é uma das coisas que toda criança faz’.

Yates enviou a Vanderwalle uma cópia da mensagem, que permaneceu intacta e legível por todos esses anos dentro da garrafa.

O perfil dos dois no Facebook mostra que, agora, eles são ‘amigos’.’

 

TELEVISÃO
Silvana Arantes

Beijo gay eleva a audiência de novela argentina

‘E veio aquele beijo! Foi depois que Lalo (Ezequiel Castaño), revelação do futebol argentino, teve uma crise de angústia ao imaginar que o temperamento explosivo, o histórico de encrencas e a tumultuada relação com Giselle (Florencia Peña) fariam recair sobre ele a suspeita do assassinato dela.

Pior. Lalo acha que ninguém se importa com sua sorte. O veterano craque da bola ‘Flaco’ Rivero (Cristian Sancho) quis demonstrar que se importa. Muito! Com ingredientes de trama policial movida pela dúvida ‘Quem matou Giselle?’, a novela ‘Botineras’ (marias-chuteira) exibiu o beijo gay que causou ‘frisson’ entre noveleiros argentinos.

Castaño e Sancho, atores héteros e famosos, tornaram-se figurinhas constantes nas capas de revistas e nos programas da tarde na televisão. Desde o início do romance entre os jogadores, a audiência de ‘Botineras’ cresce, conforme medição dada à Folha pelo Ibope.

Com a evidência do interesse do público, o folhetim, que tem apenas dois capítulos gravados de frente em relação ao que está no ar, destacou as cenas de amor de Lalo e ‘Flaco’.

A primeira transa começou com um desvestindo o outro e terminou com a câmera captando do alto a imagem deles nus, abraçados na cama. ‘Parti do princípio de que um gay é um homem. Evitei amaneiramentos. Se caíssemos no clichê, a história de amor não seria vista com respeito’, diz Sancho, que também é modelo de campanhas de roupa íntima.

Castaño, 28, é um rosto conhecido na TV há 15 anos, desde que começou a atuar em ‘Chiquititas’. ‘Com Lalo, tenho a oportunidade de mostrar muito do que aprendi como ator ao longo desse tempo.’

Nesta altura da trama, ‘Flaco’ vive o conflito de querer amar Lalo sem machucar a linda mulher e os dois filhos.

Não se sabe o fim da história. ‘Mas acho que ‘Flaco’ vai hastear cada vez mais essa bandeira emocional de honestidade com seus sentimentos e sua sexualidade’, diz Sancho. Ou seja, ‘Botineras’ vai seguir ao ritmo de ‘bésame mucho más’.’

 

‘Pais’ de ‘The Office’ fazem série com anões

‘Um ator anão será a estrela de ‘Life’s Too Short’ (a vida é curta demais, em tradução livre), nova série que Ricky Gervais e Stephen Merchant, os criadores de ‘The Office’, estão escrevendo para o canal britânico BBC 2 e para a HBO americana. A comédia, que terá 30 minutos de duração e participações ocasionais dos dois criadores, retratará a vida diária do ator Warwick Davis, que interpreta o professor Flitwick na franquia ‘Harry Potter’.’

 

 

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