COPA
Com Galvão e Arnaldo, jogo vira um novelão mexicano
‘Foi ousadia de minha parte, mas interessante. Aumentei a TV em vez de baixar e desprezei toda a tecnologia da transmissão gerada pela Fifa. Fiquei só eu, Deus e a voz do Galvão Bueno.
Segundos antes de cerrar as pálpebras, apreciei o travelling aéreo de um ataque e pensei que talvez Joseph Blatter seja fã de Juan José Campanella, diretor da sequência infernal gravada num estádio que aparece em ‘O Segredo dos Seus Olhos’.
Mas abandonei Messi e procurei visualizar o jogo pela narração. Tudo adquire tons lancinantes sob a capa dramática de Galvão. O goleiro Enyeama perde o nome após a enésima defesa. Com Arnaldo César Coelho, ouço um novelão mexicano.
Ouvir Arnaldo e Galvão pisarem um no calo do outro é como testemunhar a ceia de Dia dos Namorados de um casal velho de guerra. É melhor que futebol na TV.
JOCA REINERS TERRON é autor de ‘Do Fundo do Poço se Vê a Lua’ (Cia. das Letras)’
TELEVISÃO
Lázaro, o inventor
‘O ator Lázaro Ramos, 31, tirou 2010 para ‘inventar coisas, produzir e se voltar para o Brasil de onde saiu’. Disse não à peça ‘Orfeu’.
‘Adoraria fazer, mas há muito tempo estou batalhando e agora começo a realizar alguns sonhos.’
Criou e dirigiu o quadro ‘O Curioso’, exibido pelo ‘Fantástico’ (Globo), um meio de explorar temas variados entrevistando pessoas comuns pelo país.
Após sete anos, conclui a obra infantil ‘A Velha Sentada’. E produz o ‘Espelho na Estrada’ (Canal Brasil).
Inquérito investiga se Globo discrimina seus figurantes
O Ministério Público do Trabalho do Rio de Janeiro investiga a Globo por suspeita de que a emissora discrimina os figurantes com os quais trabalha. O caso é alvo de um inquérito civil público instaurado em março.
Vinte testemunhas vão depor em setembro.
Uma denúncia anônima encaminhada ao MP do Trabalho afirma que na Globo os figurantes são ‘destratados e humilhados. Acrescenta que se reclamam desta situação são colocados em uma ‘lista negra’, não obtendo mais nenhuma oportunidade de trabalho nessa área’.
‘Há elementos mínimos para que se instaure uma investigação’, disse a procuradora do Trabalho responsável pelo inquérito, Daniela Ribeiro Mendes.
Ela afirma que a denúncia contra a Globo tem caráter coletivo e que, portanto, é atribuição do MP do Trabalho acompanhá-la, diferentemente de uma individual.
É comum que as denúncias desse tipo sejam anônimas. As pessoas não se identificam com medo de serem perseguidas depois.
A Globo informou que não se pronuncia sobre processos em andamento.
PERSONAGEM DO YOUTUBE
Apresentadora do ‘Planeta EXPN’ (ESPN), Anita Paschkes virou Tássia do Brasil e estará no YouTube durante a Copa -seu programa saiu da grade para dar lugar aos jogos. No canal ‘Palpita Brasil’, ela circulará por São Paulo entrevistando anônimos. Desse jeito aí…
Teens? Para compor a banda que vai estrelar ‘Rebelde’, a Record só quer contratar jovens maiores de idade. É que os atores (cantores e dançarinos) precisarão viajar e fazer shows até a madrugada, o que se torna mais complicado se forem menores. Haverá uma linha de vestuário e acessórios na onda da novela.
Vuvuzela Com uma equipe de 150 pessoas na África do Sul, 21 das quais destacadas para cobrir exclusivamente a seleção brasileira, a Band precisou emitir 360 passagens aéreas para garantir os deslocamentos pelo interior do país. Pagará também 700 diárias de hospedagens.’
Bia Abramo
Novela atrai com sexo entre idosos e duplas dinâmicas
‘Silvio de Abreu pode irritar com a italianice reiterativa e caricata. Pode até ter decalcado a vilania e o sex appeal de Clara e Fred dos pares centrais de ‘Celebridade’ e ‘Paraíso Tropical’, as últimas novelas de Gilberto Braga.
Nada disso, entretanto, empana o brilho daquela que é, de fato, sua maior especialidade: criar duplas de personagens e situações para que bons atores deitem e rolem. E deitar e rolar, neste caso, nem é só força de expressão: em ‘Passione’, há sexo safado, pícaro, divertido para todas as idades. Mesmo.
Cleyde Yáconis e Elias Gleiser, patroa e chofer, vivem se enfurnando num quarto. O que acontece lá não se sabe, mas todos os indícios levam a desconfiar que a dupla reencena o velho diálogo de Adão e Eva… Irene Ravache e Francisco Cuoco, o casal emergente, resolvem suas diferenças com beijos e afagos. Nas mãos de outro autor, o sexo na terceira idade, como acontece ou ao menos se insinua entre duas duplas, viraria uma daquelas campanhas pseudopedagógicas.
Nas narrativas de Abreu, a educação das massas pelo bom exemplo e pela reiteração de discursos mal ensaiados é a última das preocupações, se é que ela existe.
De um humor herdado da chanchada e, talvez, do teatro cômico, o autor aproveita o aspecto aparentemente deslocado e absurdo para reiterar a graça de seu texto.
E, claro, a sexualidade não é privilégio dos mais velhos da novela: Maitê Proença laça qualquer bonitão que lhe aparecer na frente, de Daniel Oliveira a um rapaz colhido em plena avenida Paulista; Reynaldo Gianecchini e Mariana Ximenes planejam seus ardis entre lençóis etc.
DUPLAS
Não é só com sexo, entretanto, que Abreu está respondendo por momentos em que a novela parece sair da vala comum do entretenimento televisivo.
Desde ‘Guerra dos Sexos’, quando Fernanda Montenegro & Paulo Autran e mesmo Tarcísio Meira & Glória Menezes davam show, ele usa o mesmo recurso de montar duplas interpretadas por atores experientes, que servem como peças de resistência.
Leonardo Villar e Cleyde Yáconis fazem o casal da vez: ela, implicante e mal-humorada, ele, mais fragilizado, são atores tão excepcionais que a gente até esquece a aritmética doida que os fazem ‘sogros’ de Fernanda Montenegro.
E Ravache e Cuoco, num diapasão mais caricato, mais popularesco, devem estar fazendo muita gente ligar a televisão na hora da novela.’
Vanessa Barbara
Volta, ‘Walk Talk Show’
‘‘OLÁ. POSSO te conhecer?’, pergunta Robson de Andrade Gonçalves, entrevistador do extinto programa ‘Walk Talk Show’ (TV USP).
Com o microfone na mão, seu trabalho era abordar populares que passavam pelo campus, sem pauta e nem objetivo específico. ‘Oi. Tudo bom?’, ele insistia, e havia quem respondesse: ‘Não’.
Isso nunca foi motivo de constrangimento para Robson, codinome Rob Ashtoffen. O programa ‘que fala, fala, fala, e anda, anda, anda’ durou duas temporadas e não tinha nem sombra de roteiro.
Num episódio típico, o destemido repórter se aproximava de alguém e perguntava o que lhe desse na telha, seguindo ocasionais sugestões transmitidas via walkie-talkie pelo diretor do programa.
Só na conversa fiada, ele descobriu coisas extraordinárias, como a biblioteca do centro acadêmico da USP-São Carlos, que abre inclusive aos domingos, quando ‘é só chamar ali no portão que eu abro’, segundo a encarregada.
É a única instituição acadêmica a ter um cachorro residente, o Bob, e dois morcegos, o Maconha e o LSD, que vêem tudo de ponta-cabeça.
A bibliotecária-chefe aparece em fotos institucionais mostrando o dedo do meio. Foi ela quem, em 1983, causou tumulto: ‘Peguei um carrinho de pedreiro, invadi o alojamento e recuperei os livros atrasados’.
Robson costumava aparecer de forma inesperada e, diante da falta de assunto, perguntava coisas como: ‘Você pretende ter filhos?’ ou ‘Você acha que a criação da sua mãe te influenciou a não ter sonhos?’, esta último a um calouro da faculdade sem objetivos de vida. ‘Não estou me empenhando muito por nada’, o sujeito confessou.
A um professor de astronomia, papeou sobre manchas solares e questionou se o apocalipse estava próximo. A uma moça que pregava anúncios no mural, extraiu a constatação muito íntima de que ‘os meus cartazes são bem colados’. Sociabilizou com a moça do hot dog, um maluco local e duas estátuas.
‘Não sou um entrevistador, sou uma pessoa que conversa’, declarou. Para o rapaz, o ofício de entrevistar ‘é que nem boiar na água, né?’. Robson, talvez o melhor entrevistador da TV, é um insólito estudante de biblioteconomia.’
IRÃ
‘Há exatamente um ano, começava em Teerã a mais grave crise política da história recente do país.
Multidões tomavam as ruas diariamente para protestar contra a reeleição do presidente Mahmoud Ahmadinejad, suspeita de fraude. Em poucos dias, porém, o aparato repressor se refez.
Nascido em Teerã, o jornalista iraniano-canadense Maziar Bahari foi uma das mais notórias vítimas dessa ação.
Repórter da revista americana ‘Newsweek’, foi preso por integrar um complô ocidental antirregime.
Levado à prisão de Evin, passou 118 dias sob tortura psicológica e física. Isolado, recorreu aos exercícios e à música para resistir à ideia de cortar os pulsos usando cacos das lentes do óculos.
Foi libertado em outubro, a tempo de testemunhar o nascimento da filha.
Em março, foi julgado à revelia e condenado a 13 anos de prisão e 74 chibatadas por diversos crimes, inclusive insultar o líder supremo. Com isso, está formalmente impedido de voltar ao Irã.
Falando à Folha por telefone, de Nova York, Bahari defendeu que superar o ódio dos torturadores é uma forma de derrotá-los.
PRISÃO
Muitas coisas foram terríveis. A tortura foi muito grave. Mas a injustiça foi o pior de tudo. Minha prisão foi simbólica de muitas outras. Acho que o que aconteceu comigo aconteceu com muita gente.
Teria sido muito pior se não tivesse tido o apoio da ‘Newsweek’ e do ‘Washington Post’. Acho que ainda estaria na prisão, assim como muitos iranianos continuam presos ou impedidos de sair do país por não terem a sorte que tive de contar com uma organização internacional.
Há gente que vive com medo. Mas as pessoas tentam ter vidas normais. Claro que muitos não podem, por causa da situação política, mas o povo iraniano é resiliente. Passou por tanto em sua história que não permite que o medo tome conta.
AMEAÇAS
No mês passado, eles me ameaçaram por meio dos meus familiares. Disseram que algo imprevisível pode acontecer, que não devo pensar que eles não podem me atingir só porque não estou no Irã. Sim, eles podem me pegar, mas e daí? Irão me sequestrar, me matar?
Preciso tomar cuidado onde quer que vá. Mas como muitos iranianos, não permito que [as autoridades iranianas] mudem minha vida.
ÓDIO
Me ressinto do fato de que um grupo obscuro tenha tomado conta de um país de gente inteligente e educada. Mas o que posso fazer? O que me dá paz é que o povo iraniano superará os obstáculos. Vejo um bom futuro para o povo, pelo fato de estar insatisfeito com esse país.
Todos os dias, me sinto infectado pela tortura. No meu caso, ela não foi apenas psicológica, foi também física. Então é claro que eu os odeio.
Mas, se eu me tornar uma pessoa amargurada, isso significará que tiveram sucesso, que conseguiram fazer de mim um deles. Me ressinto, às vezes, tenho raiva do que aconteceu comigo e com o país, mas não posso deixar isso tomar conta.
LULA
Entendo o motivo pelo qual o presidente Lula queira manter uma relação com o Irã, já que o Brasil é uma potência emergente e quer ter voz em questões internacionais, mas, como ex-ativista trabalhista, ele devia pensar nos que estão presos no Irã só porque queriam expressar sua raiva.
Não acho que se possa esperar que os iranianos vão seguir o acordo nuclear com o Brasil, se eles não cumprem os acordos que têm com a própria população.
Lula também deveria saber que esse governo mudará com certeza -talvez não agora, mas mudará- e que, ao ajudar esse regime a durar alguns anos mais, pode prejudicar os laços bilaterais futuros. Esse é um regime que perdeu sua legitimidade. Eles só governam pela força, e nenhum regime pode governar apenas pela força.’
INTERNET
‘O Google News iniciou um serviço, ainda em fase de experimentação, em que algumas das suas notícias de destaque são escolhidas por editores de verdade, que trabalham em publicações parceiras do Google (como ‘The Washington Post’, BBC e Reuters), e não apenas por algoritmos, informou o site Nieman Journalism Lab. O serviço, por enquanto, só pode ser visto por alguns usuários do Google, que afirmou que nenhum parceiro pagou para participar.’
PUBLICIDADE
‘As empresas estão pagando para jornais e revistas até cinco vez mais para colocar seus anúncios nos aplicativos de iPad dessas publicações do que no site normal. O ‘USA Today’ cobra da rede de hotéis Marriott US$ 50 por mil anúncios que aparecem no seu aplicativo no aparelho da Apple. Para a publicidade em seu site, o jornal cobra, em média, menos de US$ 10. No jornal impresso, um anúncio de página inteira sai por US$ 103 para cada mil exemplares.’
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