Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

COPA
Clóvis Rossi

Os Ronaldos de 2010

Às vezes, em conversas com estudantes de jornalismo, procuro explicar que ter fontes, muitas e confiáveis, é uma das grandes armas para uma boa reportagem. É assim porque boa parte do que sai nos jornais não é testemunhada diretamente pelo repórter. Depende, pois, de que os participantes do evento (as tais fontes) relatem o ocorrido.

Jogos de futebol eram uma das exceções à regra, porque ocorrem à vista de todos, público e jornalistas. Não dependemos, pois, de fontes para dizer o que ocorreu.

Até que, na final da Copa de 98, veio o piripaque de Ronaldo, que só os integrantes da seleção testemunharam, e que com certeza teve forte influência no que os demais vimos na derrota do Brasil para a França.

José Henrique Mariante, hoje editor de Esporte da Folha, fez a reconstituição com total competência. Mas, como é óbvio, só pôde concluí-la dias depois, quando já estavam beatificadas todas as lendas que costumam circular em ocasiões assim.

O jogo Brasil x Holanda foi a repetição de 1998, com diferenças essenciais: o piripaque não foi de um só, mas de todos, e se deu à vista do mundo inteiro. E, como em 1998, não houve explicação. Só José Geraldo Couto e, na véspera, José Trajano (ESPN Brasil) ousaram afirmar que Dunga transmitiu seu descontrole aos jogadores.

Pode ser, mas acho difícil. Não era uma seleção sub-17, mas um grupo de marmanjos curtidos. Como é que se descontrolariam com o gol holandês Maicon, Lúcio e Júlio César que, não muito antes, haviam superado garbosamente o trauma de tomar em casa o primeiro gol (Internazionale 3 x Barcelona 1, semifinal da Champions League)?

Explicar o que houve só com um divã bem grande, que permita uma viagem à mente de toda a seleção. É tarefa para Contardo Calligaris. Fico esperando, caro Contardo.

 

Janio de Freitas

A pátria sem chuteiras

A SELEÇÃO DUNGA trouxe à tona um remanescente, na vida brasileira, de que o país tanto deveria se livrar quanto se recusa a encarar. Tudo na seleção, desde o primeiro momento, baseou-se em um exíguo corpo de ideias, e consequentes práticas, que caraterizam o mais deslavado autoritarismo. Era a velha e sempre viva regra: contra a liberalidade descontrolada, não a busca do equilíbrio, mas o autoritarismo.

No estilo anos 30 do século passado, o instrumento simbólico foi o patriotismo (com ou sem aspas). Os chamados à seleção seriam os que Dunga considerasse ‘dispostos a defender a seleção brasileira com todos os sacrifícios’. Se assim foi o começo, no fim derrotado Dunga exaltava ‘esses jogadores que ficaram 52 dias distantes de tudo’. Proibidos de contato com a vista do seu público, proibidos de conversar com jornalistas, proibidos de reunir-se a familiares, proibidos, proibidos. Os 52 dias não foram de concentração, foram de repressão de uma parte e sujeição passiva de outra.

Exigência que Dunga estendeu à imprensa, posta, com bastante passividade, sob a boçalidade como tratamento pessoal e a censura como prática, nas proibições ao trabalho habitual de reportagem e na exiguidade das informações permitidas à população ansiosa. Autoritarismo explícito, na forma mais sentida pela imprensa, e nem por isso mais intolerada. Críticas houve, sim, cautelosas e superficiais; reação, nenhuma. Nem quando Dunga investiu, ao vivo e em cores, contra um comentarista equilibrado, competente, sempre bem humorado e educado, Alex Escobar, nem aí houve sequer um mínimo ato representativo de repulsa ao autoritarismo.

Dunga brindou-se como um ser coerente e foi consagrado como tal, nas ressalvas incluídas pelos críticos às próprias críticas. Ficou dado, assim, um novo nome para a prática da injustiça. Na concepção ‘coerente’ de Dunga, de nada valeram o esforço e o mérito de ser o melhor ou estar melhor. Se jogadores caídos na reserva em seus times são chamados a preterir jogadores em fase de excelência, que seleção é essa? E o que significa para os preteridos? E com que autoridade representa o estágio verdadeiro futebol do país? Apenas valeu o voluntarismo autoritário.

Neste sentido, Dunga fez uma síntese exemplar, quando explicou a convocação de um jogador que está como terceiro goleiro no seu time: ‘Quando eu convoquei o Dani da primeira vez, ele veio contra a vontade do técnico dele e por isso foi posto na reserva quando voltou pra lá. E o que os outros jogadores iam dizer agora? ‘Olha o que o Dunga fez com ele…’. A prioridade não era a seleção, no sentido esperado, eram considerações particulares. Impostas a partir do poder. Não da coerência, do reconhecimento justo e dos deveres da função.

A todas as críticas, ou ao que sua visão paranóide tomou por tal, Dunga ofereceu como contraste a devoção e a entrega dos seus cativos à pátria. Não por acaso, na hora de partir para a cruzada patriótica a seleção fora receber a bênção do primeiro mandatário e de sua mulher devidamente paramentados em verde e amarelo.

Mas brasileira é que a seleção não foi, nunca. Futebol fosco e tosco, de gente insegura e desnorteada ante a possível adversidade, nenhum momento de brilho verdadeiro, jamais um encanto de brasilidade. E um histérico à beira do campo ao ver que seu autoritarismo não transpunha fronteiras. Tudo não passou de uma manifestação a mais, e inconteste, do autoritarismo persistente na vida brasileira.

 

Marcos Augusto Gonçalves

Mick Jagger volta a brilhar e Caio emite bons comentários

Alguém aí falou em Copa América? A mídia toda falou. Futebol é danado para quebrar a cara de jornalista, comentarista, torcedor -e técnico. No fim das contas, cresceram as chances de uma revanche dos holandeses contra os alemães. Mas ainda sou Uruguai. /o/

A Alemanha foi desde o início apontada como bom time. Tem os ‘meninos da Vila’ que deixamos em casa. :/ Bueno, Maradona, el gordutchito marrento, sifu. El señor Mick Jagger, gran cuervo inglés, sigue 100%. Pena a Larissa Riquelme! Pô, Paraguai!

E o Caio mandou bem no ‘Central da Copa’, anteontem. Sereno, apontou os erros pontuais e o essencial: Dunga quis montar uma seleção que contraria princípios básicos do futebol brasileiro.

Tiago Leifert cresceu na competição, mas embarcar nessa de forçar a barra para sacanear argentino é provincianismo mané. Djá êra.

 

ELEIÇÃO
Daniel Roncaglia

Tucano e petista têm mais de 50 ações por propaganda antecipada

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, terminou a pré-campanha com mais representações por propaganda antecipada do que a adversária Dilma Rousseff (PT). Os petistas, porém, receberam mais condenações.

Levantamento do TSE mostra que já foram ajuizadas 29 ações contra os tucanos. O PT sofreu 28 ações. Marina Silva (PV) teve uma representação, já arquivada.

Os petistas têm mais derrotas. Dilma recebeu duas multas, no valor de R$ 5.000 cada. Lula teve seis, que somam R$ 42,5 mil. Como cabe recurso, não foram pagas.

O partido também teve o programa do primeiro semestre de 2011 suspenso. Outros dez casos foram julgados improcedentes.

Contra a campanha tucana só uma multa foi aplicada. Em seis casos a propaganda partidária foi suspensa. Cinco ações foram arquivadas.

A maioria das representações contra Serra foi protocolada em junho e, por isso, só será julgada em agosto.

Para a vice-procuradora-geral eleitoral, Sandra Cureau, a oposição foi estimulada a fazer propaganda depois dos programas do PT com Dilma em maio.

‘Foi o divisor de águas. A partir dali a gente não teve mais controle’, afirmou.

 

TELEVISÃO
Laura Mattos

Atriz da série ‘9 MM’ vai parar na delegacia

Mulher do ministro de Esportes, a atriz Ana Petta, 34, foi parar em uma delegacia. E passou dias nas mãos da delegada Patrícia Gil, 34.

Lá, descobriu o que é uma caneta-espiã, um chupa-cabras que rouba a memória de um celular e uma central de escutas telefônicas.

Patrícia foi professora na criação da corregedora linha dura que interpreta na série ‘9 MM’, sobre a polícia de São Paulo, da Fox. Na segunda temporada, que acaba de ser filmada, o papel crescerá.

‘Dou palpite em tudo. Já reclamei até do figurino. Não é porque é delegada que tem que se vestir como brucutu’, diz Patrícia, cabelos com tintura loira escovados, salto alto, terno vermelho, esmalte cinza francesinha, revólver guardado em bolsa prata.

Ana aprendeu a interrogar. ‘Ensinei como se movimentar na sala e até a ficar mexendo em um objeto com as mãos. Isso irrita o interrogado’, conta Patrícia, que passou dois anos no 1º Distrito Policial (Sé) e está há oito anos na corregedoria.

‘Mais importante foi entender o que leva uma mulher com filha pequena a uma profissão que investiga policiais, recebe ameaça de gente que anda armada’, diz Ana, mãe de uma menina de 3 anos. ‘É o senso de justiça.’

Entre os casos de Patrícia, está o de Porto Feliz (interior), com policiais suspeitos de matar quatro pessoas na frente de três crianças.

BOCA LOKA

Murilo Benício e Malu Mader são Suzana e Ariclenes, ou Victor Valentim, pais de Luti (Humberto Carrão), no remake de ‘Ti-Ti-Ti’, que estreia no dia 19

Viver a vida Manoel Carlos está nos EUA, de férias, com dez pessoas de sua família. Contratado da Globo até 2015, segue com o plano de fazer série baseada no romance ‘Vale Abraão’, da portuguesa Agustina Bessa-Luís. ‘É a Madame Bovary transposta para os dias atuais’, conta.

Menos você A Record está soltando rojão. O matutino ‘Fala Brasil’ completou em junho um ano em primeiro lugar nas médias mensais do Ibope, empatado ou à frente do ‘Mais Você’, da Globo. A média gira em torno de 7 pontos (cada ponto equivale a 60 mil domicílios na Grande SP).

SILVEIRINHA

Ary Fontoura grava em Diamantina a série ‘A Cura’, sobre médico com poder mediúnico, que estreia na Globo em agosto; ele será diretor do hospital

 

Cristina Fibe

Viver e morrer na TV

‘Você me ouve? Qual é o seu nome?’ ‘Phil.’ ‘Você consegue sorrir para mim? Levantar as bochechas?’ A paramédica cutuca o rosto de Phil, mas ele permanece imóvel, com os olhos virados.

O paciente é Phil Harris, 53, capitão do barco Cornelia Marie e uma das estrelas do reality show ‘Pesca Mortal’, do Discovery Channel. A morte de Phil está marcada para o próximo dia 13, três semanas após ter um derrame em rede nacional, nos EUA.

Na vida real, o coração do pescador parou de bater em 9 de fevereiro, 11 dias depois de um AVC derrubá-lo, causando paralisia parcial. Na TV, a sua agonia terá durado quatro episódios, vistos por uma multidão de curiosos.

O primeiro, descrito acima, foi exibido no dia 22 e levou o canal pago aos melhores índices de audiência da história da série sobre pescadores de caranguejo -5,4 milhões de espectadores.

O recorde anterior era da estreia da sexta e atual temporada, que atraiu 4,6 milhões de pessoas ávidas por acompanhar a edição da morte anunciada.

Foi o suficiente para gerar comentários na mídia sobre os limites dos realities.

O Discovery Channel nega que tenha feito da tragédia uma oportunidade de lucro. Executivos do canal dizem ter seguido o desejo do próprio Phil, que escreveu um bilhete ao sair do coma induzido, após o derrame: ‘Continue gravando. É preciso que essa história tenha um fim’.

O operador de câmera que acompanhava Phil, Todd Stanley, disse ao ‘New York Times’ que procurou manter o bom gosto, evitando imagens que o ‘desumanizassem’, como a troca do penico sob a cama do hospital.

Segundo Josh Harris, filho do capitão, a presença das câmeras foi limitada para evitar o estresse do doente, e elas não capturaram o momento da morte. Josh disse ao jornal que a família não pediu o corte de nenhuma cena, ‘queremos que [a série] seja o mais real possível’.

O Discovery justifica a sequência como uma forma de ‘homenagem’ ao capitão. O episódio em que é encontrado caído foi anunciado no site do canal como o clímax de ‘Pesca Mortal’.

LIMITES

Em 2005, quando foi lançado, o programa era propagandeado como ‘o mais real dos realities’. Desde então, outras séries passaram a testar os limites do público.

Recentemente, a protagonista de ‘Pretty Wild’, por exemplo, foi presa depois de ter os meses prévios ao seu julgamento televisionados.

Os barracos das ‘Real Housewives’, que chegam a envolver a polícia, se multiplicam, em novas versões, por cidades americanas.

‘Os realities estão cada vez mais extremos. Estão contratando as pessoas mais loucas, que fazem qualquer coisa por aquilo. Assim, os programas acabam se afastando da realidade’, diz a pesquisadora Sarah Coyne, da Brigham Young University.

Os momentos dramáticos, afirma Coyne, são os mais ‘empolgantes’. Exibir o derrame e a agonia de alguém à beira da morte, no entanto, é ‘um pouco de exagero’.

 

Rodrigo Russo

Radicalismo vai em direção oposta ao que o público brasileiro quer

Copiar ideias estrangeiras é algo que a televisão brasileira sempre soube fazer -e às vezes até aperfeiçoando os originais. Mas a proposta de radicalização dos reality shows não deve vingar em solo tupiniquim.

A relação do brasileiro com a programação de TV reflete alguns traços da nossa sociedade, dentre os quais a hipocrisia, um certo desejo de justiça social e uma vontade de se tornar celebridade. Misturar esses três ingredientes é sucesso garantido.

Morte ou maldade explícitas, pelo contrário, causam fuga da audiência e a caça aos responsáveis por tais atrocidades. Basta perceber a queda de audiência da última edição do ‘radical’ ‘No Limite’, da Globo.

Uma exceção deve ser feita ao final dos anos 90, quando programas como ‘Ratinho Livre’ conseguiam liderar a audiência com um circo de bizarrices e horrores, mas não escapavam dos processos judiciais.

Atualmente, o grande filão é dar alguma coisa a desconhecidos: de fama instantânea -alguém sabe onde anda Zina, aquele do bordão ‘Ronaldo’, ou mesmo a hoje bonita Gorete?- a bens materiais, como as casas oferecidas pelos programas de Gugu, Huck e Portiolli.

Mesmo em novelas, o desejo de justiça social se faz presente. Novela sem final feliz é coisa impensável, e os atores que interpretam vilões não raro são alvo de agressão verbal e até mesmo física por parte de pessoas que não sabem distinguir o campo ficcional da realidade.

Dessa forma, radicalizar os realities iria em direção oposta ao que o público brasileiro gosta de consumir na TV: as ilusões de que está tudo bem e de que tudo tem final feliz.

 

Fernanda Ezabella

Steve Carell quer saída tranquila de ‘The Office’

O pior chefe do mundo está deixando a empresa. Mas certamente seus funcionários não ficarão felizes, ainda que eles consigam manter seus empregos em ‘The Office’, que estreia nova temporada em setembro nos EUA -no Brasil, a sexta temporada é exibida pelo canal FX.

Será a sétima e última com o comediante Steve Carell, cujo protagonista Michael Scott, um líder egocêntrico e folgado que gerencia, aos trancos e barrancos, uma empresa de venda de papel.

‘Acho que tem de ser uma saída suave’, disse Carell a um pequeno grupo de jornalistas em Los Angeles, do qual a Folha fez parte. ‘O seriado é sobre um escritório na Pensilvânia, pessoalmente acho que tem de ser uma coisa simples.’

‘The Office’, inspirado na série original da BBC de Ricky Gervais, vai ao ar nos EUA desde 2005, com uma das melhores audiências do canal aberto NBC.

Carell, um dos comediantes mais populares do momento, ganhou fama com ‘Todo Poderoso’ (2003), ao contracenar com Jim Carrey, e ao estrelar ‘O Virgem de 40 Anos’ (2005) e ‘Agente 86’ (2008), baseado no seriado de sucesso dos anos 60.

Os filmes ajudaram a manter a popularidade de ‘The Office’, seriado que se finge de documentário, registrando o dia-a-dia de um bando de funcionários lunáticos.

Mas Carell diz ter certeza que o ‘show vai continuar’. ‘Pode ser bom alterar a dinâmica um pouco’, disse o ator de 47 anos, ganhador de um Globo de Ouro pelo seu trabalho na série.

‘Para mim, simplesmente deu certo. Não é questão de negociar, queria cumprir meu contrato. Mas agora é hora de mudar.’

Para o ator Oscar Nunez, que faz o empregado gay Oscar, não há série sem Carell. ‘O seriado deveria acabar, está feito, foram sete anos’, disse o ator à Folha. ‘Acho que os produtores estão atrás de outro ator, alguém como Paul Giamatti. Mas é um papel muito difícil.’

IMPROVISADOR

Nunez divide com Carell uma das cenas memoráveis do seriado, quando Michael Scott obriga Oscar a contar a todos no escritório que é gay. Para mostrar a naturalidade do anúncio, o chefe ainda lhe dá um beijo na boca.

A cena foi feita no improviso, como muitas de ‘The Office’ e dos filmes de Carell, como gostam de salientar seus colegas de sets de gravação.

O ator iniciou sua carreira no teatro, depois de se mudar para Chicago. ‘Sempre tive metas na vida. Depois do teatro, pensei em outras. Achei que, se conseguisse um comercial na TV, seria um cara de sucesso’, disse rindo, lembrando-se de uma propaganda que fez para a rede McDonald’s quando tinha cerca de 25 anos.

‘Sou bastante cauteloso, vivo como se nada tivesse acontecido. Se daqui um ano tudo acabar, vou continuar sendo feliz.’

Apesar da agenda cheia de filmes, o ator pretende voltar a fazer roteiros de cinema, o que não acontece desde ‘O Virgem de 40 Anos’. ‘Quero tirar um tempo para escrever, tentar outros tipos de personagens e de filmes.’

 

Vanessa Barbara

Campeões de audiência

A cada programa de TV que vai ao ar, dúzias de projetos sem nexo ou possibilidade de audiência são rejeitados. Pois a série ‘Campeões de Audiência’ (Canal Brasil, 0h; livre) aposta justamente nesse rico filão.

Em 13 episódios, o ator e diretor Michel Melamed desenvolve 26 ideias que canal nenhum, em plena e sã consciência, teria coragem de produzir. ‘São programas com temas tão estapafúrdios que nem traço no Ibope tentarão’, explica.

Se algumas dessas ideias são pretensiosas, outras mereciam ir imediatamente para o horário nobre. Como o ‘Game do Fodido’, em que dois pobres-diabos disputam para ver quem é o mais desafortunado. ‘Eu mesmo não almocei’, observa Melamed, gabando-se.

Um dos concorrentes é mudo, tem pontes de safena, tifo, tumor, lepra e nome no SPC. O outro é cego, tem asma, arteriosclerose, tétano, tuberculose e tentou o suicídio oito vezes. Como se não bastasse, é judeu, negro e índio.

Acirrada, a disputa seria resolvida nos detalhes (‘Uma diarreia! Piolho! Unha encravada!’). Há programas que certamente enriqueceriam nossas tardes: ‘Joelho TV’ faz do salgado de presunto e queijo uma estrela. ‘Aqua Mondo’ exibe uma degustação de águas com celebridades. ‘TV TV’ é um debate aberto ao público num sofá no largo da Carioca.

‘Favela Planet’, por sua vez, é um especial de viagens dedicado às periferias. ‘Agora a gente vai pegar o bondinho e encontrar o Guedes’, ele anuncia, no Morro de Santa Marta, cujos pontos turísticos são a laje do Michael Jackson e a imagem da santa. ‘Quais são as opções de estadia por aqui?’, pergunta a um morador, com o guia na mão.

Já o programa ‘Os Melhores Açougues, Arames Farpados e Solos de Bateria do Mundo’ é exatamente o que diz o título. ‘Celebrity Sono TV’ entrevista atores como Rodrigo Santoro, que dá um boa-noite literal à câmera e passa cerca de seis minutos dormindo em rede nacional.

‘As Mais Belas Lágrimas do Mundo’ passa a receita do ‘kit choro’: cebola, cânfora, colírio e cuspe. O convidado Matheus Nachtergaele é pedido para interagir com um pneu e se emocionar. ‘Eu pensei em começar dizendo: ó, pneu, quanto você já rodou. Mas depois eu percebi que você é novo’, diz, inconsolável. E chora.

 

Novela estreia em site antes de canal

O canal Telemundo, o segundo maior nos Estados Unidos entre o público hispânico, anunciou que a novela ‘Las Aparicio’ será exibida primeiramente na internet, em agosto, e depois terá sua estreia na televisão. A série, que conta a história de três irmãs solteironas, terá legendas em inglês.

 

Débora Mismetti

Seriado expõe conflitos de adolescentes gordos nos EUA

‘Todos querem que a gente odeie o próprio corpo. Eu me recuso.’

A fala da protagonista do seriado ‘Huge’ (imenso), que começou a passar na TV americana nesta semana, resume o principal conflito da história: gordos devem querer ser magros?

A ação acontece em um acampamento para gordos, um ‘fat camp’. Internados ali, os adolescentes devem fazer exercícios, comer porções mínimas e emagrecer.

A protagonista Willemina, vivida por Nikki Blonsky (do filme ‘Hairspray’), deixa claro o seu descontentamento com as regras do lugar.

Não quer tirar fotos de maiô, esconde balas no xampu e guarda comida no fundo falso da mala. Seu objetivo é engordar, não emagrecer.

‘Não quero mudar. Por que eu deveria? Só porque meus pais têm vergonha de mim?’, pergunta.

Segundo o endocrinologista Alfredo Halpern, do grupo de obesidade do HC, muitos adolescentes adotam discurso parecido.

‘Alguns dizem que não querem emagrecer porque não vai dar certo. Controle alimentar é algo tão distante para eles, que já desistem.’

Para outros, o problema é de autoestima. ‘Eles acham que emagrecer não vai fazer tanta diferença assim.’

O mantra da Dra. Rand, comandante do Camp Victory, é que a mudança de hábitos é boa e que o foco do programa é melhorar a saúde dos teens.

Mas, claro, não é só uma questão de saúde. Will aponta para a colega Amber (Hayley Hasselhoff), a menos gorda e mais bonitinha, e pergunta: ‘Acha que ela está aqui por causa da saúde?’

É fácil perceber que a aspiração à magreza é uma constante na vida da escolada Amber: ‘Faço dietas desde dez anos. É a coisa que eu faço melhor na vida’.

 

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