Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo destaca
ascensão da direita na mídia


Leia abaixo os textos desta quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006


DIREITA NA MÍDIA
Marcos Augusto Gonçalves e Rafael Cariello


Direita, volver!


‘De repente passou a ser bacana o sujeito, numa festa ou numa mesa de bar, rodopiar a taça de vinho e desfilar frases do tipo ‘essa canalha bolchevique do PT não sabe nem falar português’, seguidas de elogios à atuação de George W. Bush no Iraque ou de incursões ‘teóricas’ das quais a principal lição a ser retirada é que só é pobre quem quer.


Cada vez mais à vontade no país que se seguiu à estabilização monetária e, principalmente, ao tombo ético da administração petista, uma nova direita esbalda-se no Brasil de Luiz Inácio Lula da Silva.


Foi-se o tempo em que a direita parecia se concentrar sobretudo na economia -cujo ‘bunker’ é a PUC do Rio, hegemônica na área desde o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.


Com rosto mais ‘cultural’, na imprensa, articulistas como Diogo Mainardi, da revista ‘Veja’, Reinaldo Azevedo, da revista-site ‘Primeira Leitura’, e Nelson Ascher, desta Folha, encarnam a renovação da tendência. São as versões atualizadas de intelectuais como o ‘decano’ Olavo de Carvalho [leia entrevista na página seguinte] ou de polemistas como José Guilherme Merquior (1941-1991) e Paulo Francis (1930-1997).


Antes ‘oprimida’ pela hegemonia cultural de esquerda -vigente no país desde pelo menos a década de 60-, a nova direita foi crescendo em desembaraço e afetação à medida que a esquerda, golpeada por crises, enfiava o rabo entre as pernas e se via representada por figuras duvidosas, como as do PT, anacrônicas, como Fidel Castro, ou patéticas, como o presidente da Venezuela, Hugo Chávez (é preciso reconhecer que o material é estimulante).


Para o pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento) Marcos Nobre, identificado com a esquerda, o fenômeno ‘está apenas começando’. Ele acredita que os novos arautos da direita se unem numa atitude ‘raivosa’ e também num discurso sedutor. Mas é nas suas linhas mais sofisticadas, diz ele, representadas por nomes como o do economista Eduardo Giannetti, que mora o ‘perigo’ maior.


Já para Reinaldo Azevedo, o perigo são os esquerdistas, que se mostram dispostos a sacrificar a legalidade, mesmo a democrática, em nome de um entendimento peculiar do que seja justiça social. ‘Eu fico com a legalidade. Nesses termos, eu seria da direita democrática’. E acrescenta, provocando: ‘Se quiserem, no entanto, que eu defenda juros reais de 13% ao ano, podem tirar o cavalo da chuva. Essa direita é o Lula’.


O poeta e tradutor Nelson Ascher, colunista da Folha, diz repelir rótulos ideológicos, mas considera que não é um equívoco ser chamado de ‘direita’, se forem seguidas ‘as regras que aqueles que se denominam ‘de esquerda’ usam para classificar opiniões diferentes’. Para ele, ‘se a religião já foi apelidada de ‘o ópio do povo’, o esquerdismo é o jeans da intelectualidade’.


Marcos Nobre considera que o tom adotado por essa vertente revela uma espécie de identificação com o agressor. ‘Acho que eles apanharam tanto da esquerda, que dizem: ‘Agora é a nossa vez’.’ Ele vê nesse traço o reflexo de uma crença ‘revolucionária’ da nova direita, que trataria de impor ao Brasil, pela primeira vez na história (segundo seu julgamento), um choque de capitalismo.


‘A lógica é que eles se consideram a vanguarda de uma coisa nova no Brasil, que é o capitalismo. Por isso são tão raivosos’, diz. Mas ele considera que há ‘um lado extremamente positivo, que é a consolidação da democracia. É uma direita que legitimamente pode mostrar sua cara.’


A opinião é compartilhada em parte por João Cezar de Castro Rocha, professor de literatura comparada na Uerj (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). ‘Trata-se de fenômeno positivo para o ambiente democrático. Afinal, durante décadas, houve uma hegemonia quase incontestada do pensamento de esquerda. Assim, bastava empregar o tom ‘adequado’ para ser considerado um intelectual ‘engajado’, portanto, na posição ‘correta’, diz.


Mas ele vê problemas com os argumentos dos novos direitistas. ‘Hoje o que vemos predominar são comentários raivosos e ressentidos, como se os casos de corrupção do PT legitimassem a pilhagem do Estado brasileiro realizada por décadas pelos partidos políticos conservadores. E o nível intelectual? Não há nenhuma comparação possível com o alto calibre de [Mario Henrique] Simonsen, Roberto Campos e [José Guilherme] Merquior.’


Luiz Felipe de Alencastro, professor de história do Brasil da Universidade de Paris-Sorbonne, também de esquerda, concorda com Castro Rocha e Nobre ao considerar que o governo Lula foi responsável pelo fortalecimento desse discurso.


‘Razões para criticar não faltam’, diz Nobre. ‘A atuação raivosa vem de antes. Mas no governo Lula é sopa no mel. Mistura tudo, até preconceito de classe.’


Castro Rocha é mais duro com os petistas. ‘Em medida maior do que talvez desejássemos, a força do discurso da direita é uma conseqüência direta da crise política, que é especialmente uma crise simbólica. Ora, se um partido como o PT pôde fazer o que fez, então como impor uma barreira ética à voragem histórica da direita brasileira?’


E Giannetti, o ‘perigoso’? De cara, o economista, professor do Ibmec São Paulo, rejeita toda classificação desse tipo. ‘Isso é um cacoete intelectual brasileiro -achar que vai desqualificar o pensador atribuindo a ele um rótulo. A minha disposição é discutir problemas e idéias. Não acho que dê para resumir a complexidade de um pensador reduzindo tudo a um rótulo.’


Ele, no entanto, critica a esquerda. ‘No Brasil, todas as pessoas que eu conhecia se imaginavam de esquerda, revolucionárias, ultraprogressistas, e no entanto a realidade é essa que está aí. Acho que essa história de as pessoas se imaginarem de esquerda no Brasil é que é um tremendo auto-engano. É muito gostoso ficar posando de esquerdista e achando que está com as idéias mais avançadas da sua época. Muitos intelectuais brasileiros nutriram durante muito tempo essa fantasia.’


‘A esquerda no Brasil se confundiu muito com o populismo. Com a idéia de que existe um atalho indolor para o crescimento econômico.’


A difusão de um novo discurso contrário à esquerda vai produzir mudanças no meio cultural? Reinaldo Azevedo gostaria, mas acredita que não. ‘Diretores de teatro e de cinema continuarão a pregar a revolução com o patrocínio da Petrobras, que nos arranca o couro com o seu monopólio, mas patrocina proselitismo ideológico para as classes médias mais ou menos intelectualizadas. No país em que se tem uma esquerda dessas, quem tem um olho logo vira direitista’, diz.’


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Regime militar ainda é um estigma


‘A direita ameaça sair do armário, mas o problema é: com que roupa? Ainda é forte no país a percepção de que a farda militar de outros tempos lhe cai bem.


Mesmo seus mais notórios representantes traduzem essa dificuldade com a hesitação em assumir o rótulo. Embora a esquerda tenha forte tradição autoritária, décadas de regime militar no Brasil terminaram por criar uma relação quase automática entre direita e ditadura.


Não à toa, o filósofo Denis Lerrer Rosenfield [leia entrevista na página ao lado] repele a caracterização, para depois se dizer da ‘direita moderna’. ‘As pessoas ficam identificando a direita com regime militar. Aí não dá, né?’


Um dos traços que unificam essa nova corrente, no entanto, é justamente a defesa das liberdades e dos direitos individuais. ‘Se ser de direita significa defender as liberdades, então sou de direita’, diz Rosenfield. ‘E por liberdades quero dizer as liberdades políticas, de opinião, de expressão, econômica e direitos civis.’


O colunista da ‘Veja’ Diogo Mainardi acha difícil ser enquadrado na classificação de nova direita. Ele se diz apenas um antilulista. ‘Amolo o governo, só isso.’ O jornalista Reinaldo Azevedo, da revista-site ‘Primeira Leitura’, embora aceite o rótulo ‘direita democrática’, não quer ser confundido com uma direita genérica. O mesmo se aplica ao colunista da Folha Nelson Ascher.’


Laura Capriglione


‘O povo brasileiro é maciçamente de direita’


‘Talvez a obra mais conhecida do filósofo Olavo de Carvalho, 58, seja a edição do site Mídia sem Máscara (www.midiasemmascara.org), há anos na rede para denunciar o que chama de ‘viés esquerdista da grande mídia brasileira’.


Carvalho hoje escreve no ‘Diário do Comércio’, órgão da Associação Comercial de São Paulo. Escreve à distância. Desde maio de 2005, mora em Richmond, a duas horas de Washington. É na capital americana que, duas vezes por semana, garimpa material para o livro ‘A Mente Revolucionária’, em que pretende dissecar o pensamento moderno de esquerda. ‘Um grupo de empresários do Paraná me deu uma verbinha para eu terminar o livro’, explicou.


Folha – O que aconteceu com a esquerda no Brasil?


Olavo de Carvalho – Para começar, eles criaram esse mito de que são santos, de que têm o monopólio da bondade humana. De repente, o Brasil inteiro vê que não é nada disso. É uma decepção tremenda, mas era óbvio que isso ia acontecer. Você não pode colocar um sujeito que é inteiramente analfabeto na Presidência, burro desse jeito, sem critério. Ele não sabe a diferença entre certo e errado, entre bem e mal, então é claro que ia ser essa sem-vergonhice.


Folha – A alternativa, então é…


Carvalho – O PSDB é que não é. O PSDB é um partido da Internacional Socialista que está comprometido com o globalismo de esquerda, com todos esses valores politicamente corretos. É a direita da esquerda. No Brasil, infelizmente, a política ficou reduzida a isso: uma luta entre a esquerda da esquerda e a direita da esquerda. Quem é conservador mesmo não se deixa enganar por PSDB.


Folha – Não há ninguém no PSDB que sirva?


Carvalho – Veja o Geraldo Alckmin. Ele aprovou uma lei que multa o rabino que ouse expulsar de sua sinagoga uma drag queen. Mesmo que ela tenha entrado lá só para provocar. Quem faz uma lei dessas não é conservador. É politicamente correto.


Folha – Como o senhor interpreta a versão petista de que é vítima de uma conspiração da direita?


Carvalho – O surgimento de um pensamento de direita, qualquer sinalzinho, já deixa esse pessoal aterrorizado: eles já se vêem todos na cadeia. Fica um negócio paranóico. Mas a verdade é que o pensamento conservador no Brasil ainda é uma raridade. Existiu em Joaquim Nabuco, em João Camilo de Oliveira Torres, em Minas Gerais, em Gilberto Freyre, em Pernambuco. Mas é pouca coisa. A tradição cultural do Brasil é toda de esquerda. Não há um movimento intelectual conservador. Eu acho que sou o primeiro cara que está tentando fazer isso.


Folha – Do jeito que o senhor está falando, parece que o Brasil é um paraíso da esquerda…


Carvalho – É até engraçado, porque o pessoal de esquerda vive dizendo que a burguesia cria seu aparato cultural e ideológico. Só que a esquerda convenceu a burguesia a financiar o aparato ideológico esquerdista. Durante a ditadura já era assim. As universidade eram todas de esquerda, as instituições culturais idem.


Folha – Será que a fraqueza do pensamento conservador não reflete a dificuldade de convencer alguém de que é bom conservar as coisas do jeito que são no Brasil?


Carvalho – O resultado do referendo sobre as armas, o apoio de parcela expressiva da população à pena de morte e outras indicações mostram que o povo brasileiro é maciçamente de direita no que se refere a cultura, moral, costumes. Mas, como só existem partidos de esquerda, acaba-se votando na esquerda. É hora de criar uma opção partidária de direita. Um verdadeiro partido conservador não tem de defender apenas o livre mercado, mas tem de defender um estilo de vida.


Folha – Qual seria o programa de um verdadeiro partido de direita no Brasil?


Carvalho – 1. Anticomunismo. Não queremos comunismo na América Latina. Tchau, tchau e bênção. Adeus, Fidel Castro; adeus, Hugo Chávez, não queremos nada disso; 2. Livre empresa e respeito à propriedade; 3. Moral judaico-cristã; 4. Educação clássica. As pessoas têm de ter os valores fundamentais da civilização; 5. A verdadeira liberdade de discussão. 50% a 50%. Equilíbrio entre as correntes.


Folha – Como é repudiar o comunismo, Cháves e Fidel, e ser favorável a um equilíbrio entre as corrente de direita e esquerda?


Carvalho – Uma coisa é ser de esquerda, e outra coisa, bem diferente, é essa tradição marxista, comunista. Isso tem de acabar. Porque se trata de ideologia genocida, criminosa.’


Uirá Machado


A esquerda prepondera, diz Rosenfield


‘No começo da entrevista, o filósofo Denis Lerrer Rosenfield, 55, titubeou ao ser questionado se suas idéias são de direita. ‘Se for algo pejorativo, é um equívoco completo’, disse. Depois, fez questão de procurar a reportagem para acrescentar que sim, é de direita. Mas que fique claro: ele fala de uma ‘direita moderna’.


Professor de filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e editor da revista ‘Filosofia Política’, Rosenfield está entre os que vêem espaço para o surgimento de uma nova direita, desvinculada das idéias de um Estado totalitário e corrupto e identificada com a boa gestão administrativa e a defesa das liberdades.


A seguir, trechos da entrevista.


Folha – O sr. considera um equívoco ou um acerto suas idéias serem classificadas como de direita?


Denis Rosenfield – Se se trata de algo pejorativo, e, portanto, a pessoa está querendo me agredir, é um equívoco completo. No fundo, direita ou esquerda, hoje, são conceitos relativos. Não têm maior conteúdo ideológico. Mas o que ocorre é que, no Brasil, havia e há ainda uma preponderância do pensamento de esquerda marcado pela influência petista. Mas o PT no governo mostrou que essa esquerda não tinha idéia nenhuma. Frente a essa questão, se coloca a necessidade de uma direita moderna.


Folha – Como ela seria?


Rosenfield – Definiria assim: economia de mercado, Estado de Direito, democracia representativa, Estado menor e menor carga tributária. E acrescentaria um ponto fundamental: no mais amplo reino de liberdades. E isso não se confunde minimamente com selvageria ou com barbárie.


Folha – O escândalo do ‘mensalão’ abriu espaço para essa direita moderna intensificar seu discurso?


Rosenfield – Certamente. Mas, para que esse discurso da direita moderna se fortaleça, ele precisa de uma bandeira ética, de defesa da moralidade. Identificar a direita com a corrupção é um despropósito completo. No Brasil, a questão da corrupção está vinculada a um outro problema que eu considero central: o tamanho do Estado e a questão dos impostos.


Folha – Mas não é mais ‘defensável’ um Estado que dê sustento à população do que um Estado que deixe as pessoas ao deus-dará?


Rosenfield – Estou de acordo. Mas eu não estou defendendo a idéia de que o Estado enxuto vai deixar as pessoas pobres ao deus-dará. Digo o seguinte: vamos fazer um choque de gestão e ter outras idéias do ponto de vista de melhor atender os destinatários.


O que você coloca como questão, que eu acho muito boa, é o discurso. Mas temos que confrontar o discurso com a realidade.


Folha – Então, a crise abre um espaço para que o discurso da direita moderna seja mais ouvido?


Rosenfield – Disso estou convencido. O que me surpreende é que os partidos políticos ainda não tenham entrado nessa via. A crise do PT abre um espaço enorme para essa proposta que eu chamo de direita moderna.


Folha – E que não seja mais vista de forma pejorativa?


Rosenfield – Sim.


Folha – Sua primeira resposta, quando perguntei se suas idéias eram de direita, foi defensiva, dizendo que, se fosse pejorativo…


Rosenfield – Pois é, que poderia ser entendido como pejorativo…


Folha – Mas se eu tivesse perguntado a alguém se tais idéias são de esquerda, acho que essa pessoa não começaria se defendendo…


Rosenfield – Exatamente. Estou de acordo com você.


Folha – Isso pode se inverter?


Rosenfield – Acho ainda muito difícil. Se considerarmos as últimas eleições presidenciais, tivemos quatro candidatos de esquerda. Isso é único no mundo. Diria até patológico. Em nenhum lugar do mundo é assim. Aqui é. E por quê? Porque, aqui, todos dizem que ser de direita é pejorativo, né?


Mas podemos ter uma direita moderna identificada a um partido de centro. Uma direita moderna, atenta às questões sociais.


Folha – Em termos ideais, o sr. não concorda com que um Estado mais ausente deixa os ‘fracos’ mais expostos ao domínio dos ‘fortes’?


Rosenfield – Isso sim. Estou de acordo com você, mas depende da função reguladora do Estado. É uma questão que se coloca.


Folha – Podemos dizer que a direita está saindo do armário?


Rosenfield – Se for uma direita moderna, vai saber sair do armário. Se não for, fica lá dentro. Porque as pessoas ficam identificando a direita com regime militar. Aí não dá, né? E deixa eu acrescentar uma coisa: se ser de direita significa defender as liberdades, então sou de direita. E por liberdades quero dizer as liberdades políticas, de opinião, de expressão, econômica e direitos civis.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


O despertador


‘Na Band News, ao longo da tarde, ‘Lula venceria todos os candidatos, com folga, no segundo turno’.


Na Globo News, ao longo da tarde, nada da pesquisa. Nem no ‘Globo Notícias’, no ‘Hoje’, no ‘Bom Dia Brasil’.


No ‘Jornal Nacional’, nada. Já na escalada do SBT:


– A volta por cima. Lula reage nas pesquisas e aparece vencendo todos os oponentes.


Da campanha eleitoral, no ‘JN’, só ataques dos oponentes a Lula. E quanto mais oponentes, melhor.


Em outras Globos foi diferente. Até o meio da tarde, o portal Globo.com trazia na manchete, em maiúsculas:


– Lula dispara.


A pesquisa era manchete também no Globo Online.


Depois ambos mudaram, o primeiro para ‘Corações em verde e rosa’, sobre ensaio na Mangueira. O segundo para ‘Quadrilha de garotos roubou R$ 10 mi via internet’.


Para registro, nos portais globais, ao mesmo tempo em que saía a manchete da pesquisa, surgia um enunciado:


– Edir Macedo é processado por fraude.


Anteontem, vale recordar, o blog de Josias de Souza na Folha Online ouviu o candidato petista no Rio, Vladimir Palmeira -que confirmou ‘entendimentos de Lula com Marcelo Crivel- la’, também candidato no Rio e ligado a Edir Macedo.


De volta à pesquisa, ela atravessou o dia nas manchetes de internet, do portal UOL ao site da Agência Nordeste, dos algoritmos do Google Notícias à Veja On-Line. Nesta última, lia-se na home page:


– Virada total.


Pelo mundo, o despacho da agência Associated Press pronunciava Lula, no título, ‘favorito à reeleição’.


Da Reuters à Bloomberg, as razões dadas pelas agências para a recuperação do brasileiro se vincularam à economia. Da primeira, em reportagem de Todd Benson reproduzida nos sites de ‘New York Times’ e ‘Washington Post’:


– Com o escândalo morrendo e a economia ganhando força, a popularidade de Lula está crescendo novamente.


Para a segunda, a popularidade voltou ‘quando a nascente recuperação econômica tirou a atenção das acusações’.


Para além de Lula e da economia, os sites de ‘Financial Times’ e ‘Wall Street Journal’, este com a agência Dow Jones, acrescentaram que ‘a oposição está se arriscando a perder o barco’. No wsj.com, foi até um dos títulos:


– Pesquisa é um alarme de despertador para os partidos de oposição.


ALTO TRÁFEGO


A home page do blog Primeira Leitura


A grande onda de cobertura e repercussão da pesquisa CNT/Sensus começou num blog, na madrugada. Band e outras haviam adiantado alguma coisa, mas foi o Blog do Alon, do jornalista Alon Feuerwerker, ex-assessor de Marta Suplicy e José Serra, que detalhou os números e deu início à febre. A tal ponto que enfrentou problemas técnicos pelo ‘alto tráfego’.


O blogueiro registrou que ‘o avanço de Lula vem no momento mais delicado da disputa interna no PSDB e no PMDB’. Do PMDB pouco se falou. Mas o PSDB foi o tema que concentrou o dia nos blogs, entre outros, de Fernando Rodrigues e Josias de Souza, anunciando-se que ‘o impacto da pesquisa’ levou os líderes tucanos a ‘apressar a escolha do anti-Lula’.


Noutros blogs, o petista Bué de Bocas, de Nelson Perez, tripudiou sobre ‘todo o destempero tucano’ da última semana, dizendo que ‘eles sabiam que a vaca estava indo para o brejo’.


Já o E-Agora, de Eduardo Graeff, e o Primeira Leitura, de Reinaldo Azevedo, argumentaram que os números não eram tão desfavoráveis assim, para Serra. Depois, a partir de um e-mail do ‘ex-blog’ de Cesar Maia, hoje uma lista de spam, passaram a questionar a pesquisa, ‘completamente inconsistente’.


A relação 1


O tucano Geraldo Alckmin, na rádio Bandeirantes, atacou sites que ‘apóiam individualmente’ um candidato de partido, em vez de todos os candidatos do mesmo partido.


Em seguida, entrou o petista Paulo Frateschi dizendo não querer que ‘a relação’ entre os pré-candidatos Marta Suplicy e Aloizio Mercadante seja como a dos presidenciáveis tucanos.


A relação 2


Mas Mercadante já está em campanha de TV, como se viu sábado nos comerciais e ontem nas imagens do aniversário do PT, ao lado de Lula.


Marta reage. Em bate-papo no portal iG, disse que ‘a questão do gênero também conta’:


– O século 21 é das mulheres.’


CRISE DAS CHARGES
Folha de S. Paulo


Muçulmanos da Dinamarca aceitam parte da culpa


‘Protestos suscitados por charges com imagens do profeta Muhammad inicialmente publicadas em um jornal dinamarquês transformaram-se em ataques contra o Ocidente que, ontem, resultaram em duas mortes no Paquistão. Na Dinamarca, líderes muçulmanos admitiram ‘parte’ da culpa pela caótica repercussão das charges.


Em Lahore e Islamabad, manifestantes incendiaram estabelecimentos de multinacionais, aos gritos de ‘morte aos EUA’.


Foi em Lahore que morreram dois manifestantes, baleados pelo segurança de um banco que tentavam invadir. Havia cerca de 15 mil pessoas no protesto.


Grupos extremistas islâmicos são acusados de incitar os protestos, almejando voltar a população contra o ditador Pervez Musharraf, que é pró-Ocidente. A polícia é acusada de omissão.


No Iraque, as charges também se tornaram uma questão de política internacional. A Província de Basra exigiu a retirada dos 530 soldados dinamarqueses da região se o governo da Dinamarca não se desculpar pelas charges. Os europeus dizem que não podem se desculpar pela ação do jornal.


Ontem, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, apoiou a posição dinamarquesa. Em entrevista ao ‘Jyllands-Posten’, primeiro jornal a publicar as charges, ele declarou: ‘É melhor publicar demais do que não ter liberdade’.


O muçulmano dinamarquês Ahmad Akkari disse ontem que os líderes religiosos estão prontos para aceitar parte da responsabilidade pela violenta reação às charges -o governo e o ‘Jyllands-Posten’ também deveriam compartilhar o fardo. Ele e outros líderes foram representar os muçulmanos dinamarqueses no Líbano, no Egito e na Síria e mostraram cópias das charges nesses países.


Guerra de charges


Michael Leunig, desenhista australiano, negou ter submetido uma charge ao concurso que tem o Holocausto como tema, promovido pelo jornal iraniano ‘Hamshari’. Ele se disse satisfeito por haverem retirado sua charge do site do concurso. Leunig se diz ‘antiguerra’ e disse que está ‘acostumado com truques sujos dos defensores da guerra’.


A lista das charges passou a ser encabeçada por um desenho atribuído ao brasileiro Carlos Latuff, que se recusou a falar à Folha.’


TELEVISÃO
Fernando Bittencourt


TV aberta: a evolução tecnológica é agora


‘Se fosse possível trazer o primeiro televisor que foi vendido no Brasil há mais de 55 anos e colocá-lo em operação hoje, ele funcionaria normalmente, recebendo todos os canais de televisão aberta.


A televisão aberta, pelas suas características de comunicação de massa e pela responsabilidade de atender gratuitamente e sem discriminação a população de todas as classes sociais, tem o compromisso de manter a sua tecnologia sempre compatível para proteger o investimento do consumidor.


A única alteração tecnológica que houve ao longo desses 55 anos foi a transição de preto-e-branco para cores, na década de 70. Cientistas e engenheiros foram então obrigados a desenvolver uma engenhosa tecnologia de cores compatível com os aparelhos preto-e-branco daquela época.


Dessa forma, os aparelhos preto-e-branco continuaram recebendo as transmissões, mesmo quando estas eram coloridas, não onerando os que não podiam comprar os primeiros televisores em cores.


Hoje, enquanto todas as outras mídias já são digitais, a televisão aberta permanece, como há 55 anos, analógica.


Estamos agora, finalmente, no limiar da transição para a TV digital. Como não será possível dessa vez manter a compatibilidade, a solução será iniciarmos a nova tecnologia em novos canais de televisão. Esses novos canais transmitirão digitalmente, com uma oferta de novidades tecnológicas, como a televisão de alta definição, a televisão em aparelhos portáteis e móveis.


O prazer em assistir televisão vai aumentar com a qualidade de cinema e com a interatividade, além das novidades de tê-la fora de casa, no carro, no ônibus, no aparelho portátil e no telefone celular.


Quem inicialmente não puder comprar os novos aparelhos digitais continuará com a televisão analógica normalmente. Quando toda a população de cada cidade já estiver assistindo aos canais digitais, então as transmissões analógicas serão encerradas.


O modelo da televisão aberta na era digital continuará sendo livre e gratuito, com o compromisso de preservar os gastos da população com os receptores digitais. Assim, o momento de escolha da melhor e mais avançada tecnologia é agora. A próxima oportunidade de transição tecnológica, quem sabe, só daqui a três ou mais décadas.


Estamos acompanhando a evolução dos sistemas digitais existentes no mundo por meio de um grupo de trabalho da SET (Sociedade de Engenharia de Televisão e Telecomunicações). Os Estados Unidos e a Europa iniciaram suas transmissões em 1998. O Japão iniciou no ano de 2003.


Essas evoluções, constatadas e testadas no laboratório do Instituto Mackenzie em SP, têm sido pequenas e incrementais. Isso por quê? Pelas mesmas razões explicadas acima, cada sistema tem compromisso com os seus primeiros televisores lançados no primeiro dia de vendas. Não se pode implementar nenhuma alteração tecnológica não-compatível com esses primeiros receptores, o que, obviamente, é um limitador.


Esse compromisso com o passado permanecerá até o fim de cada uma das tecnologias digitais, como já mencionei, por três décadas ou mais.


Esse fenômeno não acontece com tecnologias de outras mídias ou de outros serviços.


O melhor exemplo é o da informática. Alguém tem um computador com mais de três ou quatro anos com um bom desempenho? Com certeza, a resposta é… Não! Algum computador com dez anos de uso funciona? A resposta é… ‘Foi para o lixo’. Isso porque a evolução tecnológica da informática tem pouco ou nenhum compromisso com o passado. O mesmo acontece com outros aparelhos.


O sistema de som nas últimas décadas já passou do LP e da fita para o minidisc e para o CD. Estamos na era do ipod. Com certeza, virão outros . Ou compramos os aparelhos mais avançados ou ficamos com os obsoletos até eles se tornarem sem uso.


Assim, pelo exposto, o aspecto mais importante a ser observado na definição do sistema de televisão digital para o Brasil é, sim, a tecnologia e o que ela pode oferecer de vantagens às emissoras, ao consumidor e aos fabricantes.


É uma ilusão acharmos que as características e deficiências tecnológicas dos sistemas existentes (americano, europeu e japonês) irão se alterar significativamente nas próximas décadas. Todos têm compromissos com os seus primeiros receptores vendidos.


Por tudo já estudado e testado no Brasil por meio da SET, do Instituto Mackenzie e todos os estudos sérios realizados pelos consórcios estabelecidos pelo projeto SBTVD (Sistema Brasileiro de TV Digital) criado pelo governo, nossa conclusão é que o sistema ISDB-T adotado no Japão é o mais avançado tecnologicamente e o único a oferecer as características de alta definição, mobilidade e portabilidade no mesmo canal de televisão, como é desejo das emissoras e o melhor para o mercado consumidor.


Como o sistema ISDB-T é um sistema já desenvolvido há oito anos, há propostas a partir dos estudos brasileiros para sua atualização tecnológica que serão incorporadas ao sistema para a adoção no Brasil e, possivelmente, em outros países da América do Sul.


Teremos um sistema de TV digital compatível com a qualidade e a importância da televisão brasileira, uma das melhores televisões abertas do mundo.


Fernando Bittencourt, 59, engenheiro, é diretor da Central Globo de Engenharia e coordenador do grupo Set/Abert (Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão e Telecomunicações/ Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e TV) para estudar e planejar a introdução da TV digital no Brasil.’


Daniel Castro


Globo Esporte’ vira ‘freguês’ de ‘Chaves’


‘A novela ‘Prova de Amor’, da Record, assusta, mas o maior carrasco da Globo nos últimos meses tem sido o ingênuo ‘Chaves’. O ‘trintão’ mexicano, que começou a ser produzido em 1971, tem massacrado o ‘Globo Esporte’ no Ibope da Grande São Paulo.


Desde outubro, ‘Chaves’, do SBT, impõe um ciclo de humilhações à Globo. Naquele mês, derrotou a Globo (entre 12h45 e 13h15) quatro vezes. Em dezembro, colecionou 15 vitórias ou empates. Em janeiro, o desempenho de ‘Chaves’ caiu (11 vitórias em 22 disputas), mas neste mês seu aproveitamento está impecável.


Até anteontem, ‘Chaves’ engatava uma série de cinco vitórias consecutivas (não perde desde a terça, 7). Neste mês, bateu a Globo em oito dos dez dias em que foi ao ar (perdeu no dia 6 e empatou ontem). Anteontem, pela primeira vez, venceu o ‘Globo Esporte’ numa segunda-feira.


O ‘Globo Esporte’ só é líder ‘absoluto’ aos sábados, quando ‘Chaves’ não compete com ele. A maior vitória do seriado do SBT foi em 12 de dezembro (16 a 10).


Na Globo, já se cogitou até escalar Galvão Bueno para apresentar o ‘Globo Esporte’ um dia por semana, mas o esportivo continua sem alterações.


Para a emissora, as vitórias atuais de ‘Chaves’ são uma ‘situação episódica em São Paulo’ (o seriado perde no restante do país), como já ocorreram ‘de forma pontual’ em 1995 e 2002.


OUTRO CANAL


Oficial Último investimento de Silvio Santos, Carlos Nascimento será a partir de março o âncora do ‘Jornal do SBT’ (0h30), divulgou ontem o SBT em nota oficial. Nascimento também implantará um novo projeto na emissora, ainda mantido em sigilo por ele e Silvio Santos. Hermano Henning, atualmente apresentador do ‘Jornal do SBT’, vai para o ‘Jornal do SBT – Manhã’ (6h).


Freguês Mesmo sem Carlos Nascimento, o ‘Jornal da Band’ ganhou do ‘SBT Brasil’ durante a meia hora em que ficaram no ar simultaneamente anteontem, por 4,7 pontos a 4,2. O ‘Jornal da Band’ foi apresentado por Ricardo Boechat.


Torcida 1 Quem se deu bem com ‘Rebelde’ das 18h30 às 19h15, anteontem, foi a Record. Sem concorrência da mexicana, ‘Prova de Amor’ marcou 19 pontos. Na Globo, já não se disfarça mais a torcida para que Silvio Santos exiba ‘Rebelde’ no mesmo horário de ‘Prova de Amor’, tirando uns seis pontos da Record.


Torcida 2 Ontem, o SBT voltou a exibir ‘Rebelde’ até as 19h45, rifando ‘Family Feud’ (que na segunda entre das 19h15 às 19h45).


Negócios Vão bem as vendas em ‘pay-per-view’ do ‘reality show’ ‘Big Brother Brasil 6’, da Globo. ‘BBB 6’ já vendeu mais, proporcionalmente, do que ‘BBB 5’. Além da boa audiência do programa, houve aumento da base de assinantes de TV paga.’


CINEMA & JORNALISMO
Marcelo Coelho


Boa noite, e mais sorte da próxima vez


‘Está certo que as pessoas fumavam demais nos anos 50. Mesmo assim, em ‘Boa Noite e Boa Sorte’, de George Clooney, presenciamos um exagerado, obsessivo balé de isqueiros que se acendem, de bitucas que se esmagam, de finos novelos de fumaça brilhando na escuridão (graças à bela fotografia em preto-e-branco de Robert Elswit, uma das seis indicações do filme ao Oscar).


Acho que desde ‘O Informante’, de Michael Mann, com Al Pacino e Russell Crowe, não se fumava tanto num filme de Hollywood. Coincidência ou não, os dois filmes têm como heróis os jornalistas da rede CBS de televisão. Num caso, o detalhe se explica: no papel do repórter Lowell Bergman, Al Pacino desvendava segredos infames da indústria tabagista. Trabalha com garra, mas sofre todo tipo de pressão e termina professor de jornalismo numa universidade.


Ameaças semelhantes, no filme agora em cartaz, pairam sobre o apresentador Edward R. Murrow (David Strathairn, outro ‘oscarizável’), que teve a coragem de se contrapor, em 1953, ao anticomunismo histérico do senador Joseph McCarthy. Com uma bem-organizada campanha de delações e com os métodos inquisitoriais de sua comissão parlamentar sobre ‘atividades antiamericanas’, o macarthismo parecia a ponto de varrer as liberdades democráticas do território americano.


‘Boa noite e Boa Sorte’ é o refrão com que Murrow terminava seu programa semanal de comentários e entrevistas, patrocinado, entre outros, pelos cigarros Kent. O apresentador, como era comum na época, fumava diante das câmeras, com os lábios espremidos e o queixo em ponta, enquanto submetia os entrevistados ao exame implacável de seus olhos de navalha.


Saímos do cinema achando Murrow o maioral, ainda mais na charmosa, enxutíssima interpretação de David Strathairn. Filmes desse tipo fazem falta: ética e coragem nem sempre ganham a parada no mundo real, e é raro que estejam associadas a virtudes não muito aeróbicas (e em tese mais jornalísticas) como a boa articulação verbal e o espírito de livre pensamento.


Na medida em que os EUA de Bush se entregam a ondas de histeria semelhantes ao macarthismo, aprovando leis que limitam seriamente as liberdades individuais, ‘Boa Noite e Boa Sorte’ não tem como não empolgar platéias de esquerda -ou ‘liberais’, no sentido americano do termo.


Num discurso logo no início do filme, Murrow se torna o porta-voz não só dos que condenavam o macarthismo mas de todos aqueles que, ontem como hoje, lamentam a utilização da TV como um veículo de desinformação e entretenimento estúpido, em vez de instrumento de esclarecimento e busca da verdade.


Talvez seja por isso que os heróis do filme terminem fumando tanto: é para que não pareçam tão heróicos e politicamente corretos assim. Afinal, trata-se de jornalistas. Merecem que os encaremos com certa desconfiança, e nada melhor para diminuir um pouco a identificação entre o espectador e os personagens do que mostrá-los imersos em comportamento reprovável, como o de fumar. ‘Boa Noite e Boa Sorte’ se torna, então, emocionalmente mais nuançado e complexo.


Pausa para um pigarro.


Seria muito bom se o que escrevi acima fosse verdade. O problema é que, assim que se encerrou a projeção do filme, meu entusiasmo político-jornalístico foi arrefecendo e, quanto mais o tempo passa, mais insatisfatório e simplista me parece o filme de Clooney.


Começo discordando do próprio comportamento de Murrow. Se as coisas de fato ocorreram como aparece no filme, o jornalista da CBS fez um programa mostrando os métodos e idéias de McCarthy -até aí, tudo bem-, mas terminou a transmissão com um editorial veemente (ainda que sóbria e magnificamente escrito) contra o senador republicano. Não teria sido mais correto, do ponto de vista jornalístico, entrevistar pessoas de várias opiniões, ou organizar um debate entre diversos senadores?


Editoriais pela TV, qualquer a tendência que tenham, parecem-me terrivelmente perigosos; talvez por uma questão de hábito, os códigos da linguagem escrita, a invisibilidade de quem escreve, o baixo poder hipnótico do papel impresso, são fatores que tendem a proteger o público do estado de passividade que a televisão é capaz de produzir.


Seja como for, ‘Boa Noite e Boa Sorte’ falha um bocado na caracterização dramática dos personagens. Para que Murrow e seus companheiros sejam os heróis do filme, tudo é feito de modo a nos informar o mínimo sobre cada um deles. Ninguém tem vida íntima, hesitações, passado, dúvidas, gostos ou convicções sobre qualquer assunto real. Fora da tela de TV ou do estúdio, os personagens praticamente não existem; sintomaticamente, algumas das cenas em que os vemos relaxando e conversando amenidades são silenciosas; nenhum deles tem muito o que dizer, além do discurso político que o espectador terá de ouvir.


Claro, o filme não se sustentaria sem alguns percalços para os personagens; há um jornalista que não resiste a pressões e outros com pequenos segredos a esconder. Mas as dificuldades desaparecem logo do horizonte, assim como o próprio McCarthy. Terá sido tudo tão fácil assim? Qual o jogo político e social por trás do surgimento e da derrota do macarthismo? Vemos pouquíssimo do que se passa fora dos estúdios sacrossantos da CBS.


Personagens, situação política, discussão ética acabam tendo, afinal, a profundidade de um simples (ainda que acima da média) programa de TV. Em ‘Boa Noite e Boa Sorte’ tudo fica, sem trocadilho, no ar. Especialmente a fumaça, é claro.’


INTERNET
Folha de S. Paulo


Google mescla e-mail e bate-papo


‘Nem tudo o que o Google faz dá certo. A iniciativa de integrar o serviço de correio eletrônico Gmail (www.gmail.com) ao comunicador instantâneo Google Talk foi uma prova disso.


Sem conquistar grande popularidade junto aos internautas, o programa de bate-papo Google Talk foi engolido pelo primo mais bem-sucedido. Agora é possível trocar mensagens instantâneas pela janela da caixa postal do Gmail.


Apesar de ainda ser possível usar o Talk separadamente, o movimento mostra a falta de força do programa, que tem como meta incomodar os concorrentes MSN Messenger e Skype.


Na prática


Ainda em caráter experimental, a função de chat no Gmail está disponível apenas para uma parte dos usuários do serviço, que só aceita membros convidados.


Nos testes realizados pela Folha, a função de bate-papo apareceu e desapareceu várias vezes durante a semana. Quando funcionou, a ferramenta mostrou-se fácil de usar e bastante rápida, se comparada a outros mensageiros.


Uma caixa lateral exibe os contatos que estão on-line e outra caixa serve para trocar mensagens. Em conversas com mais de um usuário, as caixas ficam primeiro dispostas lateralmente e depois são empilhadas. O destaque da integração entre o Talk e o Gmail é a possibilidade de fazer buscas no histórico de mensagens trocadas.


Outras novidades


O Gmail ganhou outras melhorias mais discretas. Entre elas, está uma barra de notícias que exibe informações de fontes RSS selecionadas e um botão para apagar as mensagens. Antes, para remover um e-mail, era preciso escolher a função Mover para a lixeira, no menu de opções.


Outras novidades adicionadas foram a criação de grupos de destinatários e a seleção de contatos freqüentes.’


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O Globo


Quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006


GUERRA DAS CHARGES
Editorial


Valor universal


‘A crise deflagrada pela reação no mundo muçulmano à publicação na Europa de charges com a figura de Maomé, a começar por um jornal dinamarquês, produziu uma onda de irracionalidade. Hoje, há provas sólidas de que o caso foi industrializado por lideranças radicais, principalmente do Irã, da Síria e da Arábia Saudita, para produzir um clamor de grandes proporções no momento em que cresce o contencioso entre Washington e Teerã, por causa do programa nuclear iraniano, e está em fase de difícil digestão por israelenses e americanos a vitória eleitoral do Hamas.


Mais importante que essas maquinações, a crise coloca em questão o princípio da liberdade de expressão, tão fundamental para as democracias quanto menosprezado por teocracias – regimes fechados, autoritários.


Entre 30 de setembro, dia da publicação das charges pelo ‘Jyllands-Posten’, e 26 de janeiro, quando a Arábia Saudita retirou seu embaixador da Dinamarca, e estabeleceu o boicote à importação de produtos dinamarqueses, houve gestões diplomáticas em Copenhague e de lideranças muçulmanas locais por alguma reparação.


Pelo menos uma das gestões se deu pelos caminhos normais, por por meio da Justiça. Mas esta, após investigar as alegações, não encontrou base para processar o jornal porque não viu na publicação das charges a intenção de ofender dogmas religiosos. Os muçulmanos dinamarqueses deveriam ter insistido na via legal. Mas preferiram ações impertinentes, como uma carta de dez embaixadores ao primeiro-ministro Anders Fogh com o pedido de providências – como se o executivo dinamarquês fosse uma casa real do Oriente Médio.


Revelava-se, assim, a incapacidade de segmentos islâmicos de respeitarem o direito dos cidadãos de defenderem qualquer opinião, e dos meios de comunicação de difundi-la. Preferiram o atalho dos protestos de massa e da violência. Mas é a lei o único instrumento para mediar conflitos. Uma opinião – se as charges são ou não intencionalmente ofensivas – não pode prevalecer pela pressão de grupos religiosos, políticos, étnicos, o que sejam. Cada veículo de imprensa tem normas internas, as quais podem ou não sancionar a publicação de charges com símbolos religiosos. Mas é inconcebível que se estabeleçam regras gerais para toda a sociedade com a determinação do que pode e não pode ser dito, escrito e publicado, a partir da vontade de um grupo. Qualquer grupo. Uma proibição dessa ordem levaria a uma escalada sem limite, que feriria de morte o livre trânsito de idéias.


Desenhar a figura de Maomé não é aceito pelos muçulmanos. Que não podem, no entanto, tentar impor pela força um preceito religioso a uma sociedade laica. Nem a outra religião. O mesmo vale para fiéis de qualquer crença, pois não há religião superior a outra. Esses conceitos universais precisam ser defendidos com vigor num mundo em que o radicalismo de raízes religiosas tem avançado e ocupado espaços. Às vezes de forma sub-reptícia, como na tentativa da Organização da Conferência Islâmica de fazer a ONU incluir no projeto de um novo órgão voltado à defesa dos direitos humanos a condenação a ‘blasfêmias’. Ora, quem definirá ‘blasfêmia’?


O caso das charges não é um simples incidente. Ele alerta os defensores da liberdade no mundo, inclusive muçulmanos, a resistirem ao uso da intimidação e da violência como instrumentos de imposição de idéias.’


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Paquistão: dois mortos em protestos contra charges


‘ISLAMABAD. Milhares de paquistaneses participaram ontem de protestos enfurecidos em Lahore e Islamabad, nas mais violentas manifestações no país contra as charges que satirizaram o profeta Maomé. Manifestantes puseram fogo em prédios, bancos, lojas e hotéis de redes ocidentais. Duas pessoas foram mortas em Lahore, e a polícia suspeita que grupos extremistas incitaram a violência.


Em Lahore, homens pareciam direcionar ataques. A polícia usou gás lacrimogêneo, atirou para o alto e revidou com cassetetes pessoas que atacaram uma agência do Citibank, uma loja do McDonald’s e uma lanchonete KFC, onde puseram fogo. Dois manifestantes foram mortos a tiros por seguranças ao tentar incendiar um banco. Houve um princípio de incêndio na Assembléia Legislativa e dezenas de carros foram queimados.


Na capital, Islamabad, cerca de 400 estudantes fizeram um protesto na região fortemente policiada onde ficam as embaixadas estrangeiras. Eles atirando pedras contra uma agência do banco britânico Standard Chartered e foram dispersados com gás lacrimogêneo.


Em Teerã, manifestantes atiraram pedras na Embaixada da Alemanha, depois de um jornal do país publicar uma charge em que jogadores de futebol iranianos apareciam envoltos em explosivos num jogo contra guardas alemães. A embaixada britânica também foi alvo de manifestações. Numa entrevista à CNN, o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse que Irã, Síria e outros governos que não conseguiram proteger embaixadas estrangeiras das manifestações deveriam pagar pelos prejuízos.


Numa ação que deve causar embaraço ao governo italiano, o ministro das Reformas, Roberto Calderoli, mandou fazer camisetas estampadas com as charges de Maomé. Calderoli, um integrante do partido antiimigração Liga Norte, disse que vai distribuir as camisetas.


Já o cartunista australiano que teve uma charge relacionada ao Holocausto publicada num site iraniano disse ontem que o trabalho era antigo e que ele não o enviou, nem autorizou sua publicação.


– Foi uma fraude, um trote de alguém aqui da Austrália – disse Michael Leunig.’


TV DIGITAL
Mônica Tavares


Gil considera prazo para TV digital suficiente


‘BRASÍLIA. O ministro da Cultura, Gilberto Gil, disse ontem que considera suficiente o prazo de 10 de março para a definição do padrão de TV digital a ser implantado no país. Segundo Gil – que conversou sobre o tema ontem com o presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP) – o calendário não está apertado porque as discussões estão bastante adiantadas.


– Falta muito pouco para que o governo possa ter elementos suficientes para tomar uma posição. Acho que um mês será suficiente – disse Gil.


Ele disse que, do ponto de vista tecnológico, os três padrões – japonês, americano e europeu – têm condições de atender às necessidades do país. Segundo o ministro, pesarão mais na decisão o modelo de negócios e de serviço e a questão regulatória.


Gil disse que não cabe ao Ministério da Cultura se posicionar sobre o padrão tecnológico da TV digital, pois só interessam à pasta suas implicações na cultura brasileira, além da democratização e da regionalização do acesso.’


JK NA GLOBO
Artur Xexéo


Superpopulação atravanca cenários de ‘JK’


‘Numa novela que tenha um elenco de 60 atores, que fica no ar por até oito meses, com capítulos de segunda a sexta-feira que duram mais ou menos uma hora, haverá sempre tempo para que todo mundo brilhe. Mas, numa minissérie, a história é diferente. No ar por apenas três meses, com episódios de 40 minutos e exibição de terça a sexta, os atores acabam brigando por uma fala. É o que está acontecendo em ‘JK’. Com um elenco que supera a inacreditável marca de uma centena de nomes, muitos atores de primeiríssimo escalão estão sendo usados como figurantes. Há superlotação de cenários. E, às vezes, os protagonistas aparecem num capítulo só para dizer ‘oh’, ‘ah’ e, principalmente, ‘uai’. Em ‘JK’, frases como ‘O Lacerda vai acabar com o Juscelino’ ou ‘O Juscelino vai acabar com o Lacerda’ já podem ser consideradas ‘bifes’, como são chamadas, na linguagem teatral, as falas muito longas de um só personagem. Na temporada atual, é o maior desperdício de talento por centímetro quadrado na tela de TV.


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O DW, o canal alemão de TV a cabo, exibiu de surpresa, na noite de segunda-feira, como atração principal do programa ‘In focus’, o documentário brasileiro ‘Berlinball’, de Anna Azevedo, premiado no último fim de semana no Festival de Berlim. ‘Berlinball’ não propõe nenhuma revolução estética, não faz experiências com linguagem, tem uma narrativa para lá de tradicional. Mas o tema que aborda é tão fascinante que é impossível desgrudar os olhos da tela durante seus 15 minutos de duração. Anna Azevedo levou sua câmera para Campina Grande, na Paraíba, onde um herói alimenta os sonhos da população, principalmente da população infantil. O herói é o jogador de futebol Marcelinho Paraíba, que tirou a sorte grande ao ser contratado pelo Hertha Berlim, time alemão. O Hertha tornou-se o clube mais popular da cidade. É com seu uniforme que os times amadores locais jogam suas peladas. E é no Hertha que as crianças dos subúrbios de Campina Grande sonham jogar para sair da miséria. Como Marcelinho Paraíba. Os depoimentos das crianças sobre como imaginam o que seria viver em Berlim são sempre emocionantes. Em ano de Copa do Mundo na Alemanha, foi um gol de placa.


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Sei que é cedo, muito cedo, para tomar qualquer decisão sobre a mala do ano. Até já chegaram alguns votos para Ana Carolina, mas ainda há muito 2006 para acontecer e tudo indica que a malice provocada por ‘É isso aí’ tocando sem parar nas estações de rádio será suplantada por outros acontecimentos. Mas desde já quero reservar um lugarzinho ente os dez mais para o astronauta brasileiro Marcos Cesar Pontes. Ô, mala! O sujeito até que teve uma boa idéia: levar para o espaço o chapéu de Santos Dumont e assim chamar a atenção do planeta para o centenário do vôo do 14 Bis. Mas é claro que o chapéu estava mofado, e os russos vetaram a homenagem temendo a contaminação da estação. Pensando bem, até que a idéia não foi tão boa assim. No mais, o jecanauta é de uma malice sem fim. Ele está compondo uma música instrumental especialmente pra tocar na estação espacial internacional e se intitula ‘o violeiro das galáxias’ (pobres companheiros de viagem!). Disse que, quando estiver no espaço, estará ligado à Terra por um ‘cordão umbilical de 400 quilômetros’. Para substituir o chapéu vetado, nosso astronauta vai levar ao espaço um retrato da mulher, umas fitas do Bonfim e uma imagem de Nossa Senhora. E a bandeira do Brasil, é claro. Para completar a festa do jecanauta, só falta o Galvão Bueno narrar sua chegada à estação orbital.


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Esta coluna inicia um concurso para estabelecer qual é a pior estação de TV a cabo. Isto posto, já damos logo o resultado: é a People & Arts. Ou alguém consegue assistir muito a uma emissora que dá a impressão de estar sempre exibindo o mesmo programa, ‘American chopper’? Bem, isto é só uma impressão. Mas o pior é que os intervalos comerciais, estes, sim, são sempre os mesmos. É impossível acompanhar um programa de uma hora, com quatro intervalos em que os anúncios são sempre os mesmos. Pior: são anúncios do resto da programação, ou seja, de ‘American chopper’. De vez em quando, eles passam também um anúncio com a participação de Lucélia Santos no programa ‘Minha casa, sua casa’, que já foi ao ar muitos meses atrás. Além disso, a People & Arts tem o péssimo costume de exibir reality shows pulando alguns episódios, ou simplesmente interrompendo a transmissão no meio da temporada ou – pecado dos pecados – tirando do ar o último bloco do último episódio. Isso não é uma emissora de televisão profissional. É uma estação amadora que brinca de fazer TV. E a gente ainda paga por isso.


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É preciso resolver: ou a lista é de VIPs ou a lista é organizada por Alicinha Cavalcanti. As duas condições são excludentes.


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Não existe nada mais VIP atualmente no Rio do que fazer parte da lista de não-convidados para a área VIP do show dos Rolling Stones.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 15 de fevereiro de 2006


GUERRA DAS CHARGES
O Estado de S. Paulo


Paquistão: 2 mortos em protesto


‘REUTERS, ASSOCIATED PRESS E FRANCE PRESSE ISLAMABAD – Policiais paquistaneses lançaram bombas de gás lacrimogêneo e dispararam para o ar para dispersar milhares de manifestantes que protestavam contra as caricaturas dinamarquesas do profeta Maomé na cidade de Lahore, leste do Paquistão. Duas pessoas morreram nos distúrbios e pelo menos 41 ficaram feridas. O ministro do Interior do Paquistão, Aftab Ahmed Khan Sherpao, disse que seguranças de um banco atacado pela multidão foram os responsáveis pela morte dos dois manifestantes.


Milhares de pessoas incendiaram quatro prédios em Lahore, capital da Província de Punjab, que abrigavam um hotel, dois bancos, uma lanchonete do KFC, uma do McDonald’s e o escritório da companhia telefônica norueguesa Telenor.


Na capital, Islamabad, mais de 400 estudantes que gritavam ‘morte à Dinamarca’ e ‘expulsem os embaixadores europeus’ marcharam até o bairro que abriga várias sedes diplomáticas. Funcionários das embaixadas americana e britânica permaneceram em um dos prédios atacados até que a polícia dispersou os manifestantes com bombas de gás lacrimogêneo.


Testemunhas disseram que os manifestantes destruíram mais de 200 automóveis, dezenas de lojas e um grande retrato do presidente paquistanês, Pervez Musharraf, criticado por sua ligação com os EUA. Também romperam as vidraças do Hotel Holiday, de uma loja da Pizza Hut, de um McDonald’s e da sucursal do banco britânico Standard Chartered.


Praticamente todos os dias têm ocorrido protestos em cidades paquistanesas por causa das charges, mas nunca com tamanho furor. Funcionários do serviço de inteligência paquistanês suspeitam que a violência tenha sido incitada por grupos islâmicos proscritos – entre eles o Jamaat al-Dawat e o Sipah-e-Sahaba -, que tentam depor o governo de Musharraf.


Muitos nesse conservador país muçulmano, e em outros do mundo islâmico, ficaram ultrajados com as caricaturas do profeta Maomé, publicadas originalmente pelo jornal dinamarquês Jillands-Posten em setembro e depois reproduzidas em vários jornais europeus em nome da liberdade de expressão. A lei islâmica proíbe qualquer divulgação da imagem do profeta.


No Irã, centenas de manifestantes jogaram pedras e coquetéis molotov nas Embaixadas da Alemanha e da Grã-Bretanha em Teerã. Os manifestantes, na maioria estudantes religiosos, cantavam ‘Morte a Tony Blair’, ‘Morte à Grã-Bretanha’ e ‘Morte à América’ ao lado de burros ostentando nomes dos líderes dos EUA e da Dinamarca e um cão com a bandeira israelense. Violentos protestos já haviam ocorrido diante das Embaixadas da Dinamarca, Noruega, Áustria e França.


O governo norueguês insiste em que não pode ser responsabilizado pela publicação das charges e o primeiro-ministro Anders Fogh Rasmussen disse ontem que não vê uma solução para o fim da crise. Segundo ele, o caos provocado pelas caricaturas é o maior desafio político enfrentado pela Dinamarca desde a 2ª Guerra Mundial. O jornal desculpou-se pelas charges, mas os países islâmicos disseram que não era suficiente e pediram sua punição.’


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A guerra das charges


‘Um cartunista do jornal alemão ‘Tagesspiegel’ recebeu ontem ameaças de morte após a publicação de uma caricatura mostrando a seleção de futebol do Irã usando cinturões de explosivos perto de quatro soldados alemães, sob o título ‘Por que os militares precisam de qualquer modo serem enviados à Copa do Mundo’. O cartunista Klaus Stuttmann disse que não pretendia insultar os iranianos ou outros muçulmanos e a Embaixada do Irã na Alemanha exigiu desculpas por escrito do jornal berlinense.


Um dos cartunistas mais conhecidos da Austrália, Michael Leuning, disse ontem que retirou duas de suas caricaturas de sua página na internet depois que alguém ‘maliciosamente’ as enviou para o concurso de charges sobre o Holocausto que o jornal iraniano ‘Hamshahri’ está organizando. Leuning disse que viu na noite de segunda-feira que duas caricaturas que ele tinha feito quatro anos atrás, e cuja publicação tinha sido rejeitada, tinham sido enviadas para o concurso, lançado em represália às charges do profeta Maomé.


O ‘Hamshahri’ tinha divulgado em seu site as duas caricaturas de Leuning e outra que teria sido enviada pelo cartunista brasileiro Carlos Latuff. O jornal dinamarquês ‘Jillands-Posten’, que originalmente publicou as 12 caricaturas de Maomé, e os jornais ‘Die Welt’, da Alemanha, ‘Le Monde’, que reproduziram as charges, não publicaram ontem os primeiros desenhos enviados para o concurso sobre o Holocausto.’


Jamil Chade


Polêmica bloqueia mudança nas Nações Unidas


‘As caricaturas do profeta Maomé publicadas no jornal dinamarquês Jillands-Posten, que provocaram uma onda de violência em vários países islâmicos, agora estão bloqueando um acordo nas Nações Unidas. A entidade negocia a criação de um Comitê de Direitos Humanos – órgão que substituirá a Comissão de Direitos Humanos, que existe desde a fundação das Nações Unidas, mas que se tornou obsoleta após passar a ser usada apenas como instrumento político para acusações mútuas entre governos.


O problema agora é que os países muçulmanos propuseram há poucos dias que o tratado que cria a nova entidade preveja a proteção contra a violação de símbolos religiosos e referências a profetas, independentemente da religião.


Essa seria uma forma, segundo os governos de países islâmicos, de garantir que no futuro elementos sagrados sejam respeitados. Mas para muitos diplomatas ocidentais essa não passa de uma manobra dos países muçulmanos para mostrar seu desagrado em relação à forma como estão sendo tratados na ONU.


O secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, enviou um comunicado aos países islâmicos alertando que essa referência não poderia entrar no debate da criação do comitê, já que se trataria de um tema específico de direitos humanos.


Fontes diplomáticas em Genebra indicam que a preocupação dos países islâmicos deverá ser traduzida em um texto que peça o respeito pelos valores religiosos e culturais, mas sem referência a profetas, como querem os países muçulmanos. Um diplomata de um país ocidental ironizou a situação: ‘Por que só profetas? e os santos? e Buda?’


Já o governo brasileiro estima que a Constituição do País separa o Estado e a religião, portanto, que não caberia a governos nenhuma manifestação sobre o tema.


A reunião anual da Comissão de Direitos Humanos está prevista para começar em março, mas deverá ter uma duração reduzida por causa do fato de estar sendo substituída por outra organização.


A mudança na Comissão de Direitos Humanos será a primeira conseqüência visível da reforma das Nações Unidas promovida por Kofi Annan.’


CHINA
O Estado de S. Paulo


Ex-funcionários do PC criticam censura


‘Ex-altos funcionários do Partido Comunista chinês lançaram severo ataque contra o modo como a informação e a mídia do país estão sendo controladas. Em carta aberta, denunciaram fechamento do jornal investigativo Bingdian. Disseram que a rígida censura pode ‘espalhar as sementes do desastre’ para a transição política da China. A crítica é ainda mais surpreendente por ter vindo de signatários como Li Rui, um ex-assessor de Mao Tsé-tung, e o ex-editor do Diário do Povo, Hu Jiwei.’


INCLUSÃO DIGITAL
Andrea Vialli


Computador de R$ 800 é aposta para promover inclusão digital


‘Um computador simplificado, cuja tônica é o acesso à internet, com preço na faixa de R$ 800 e voltado à população de baixa renda é a principal aposta da empresa de microprocessadores AMD em um programa global de inclusão digital, chamado de Iniciativa 50X15. A meta é viabilizar a inclusão digital de 50% da população mundial até 2015. No atual ritmo dos programas internacionais com essa ênfase, a inclusão dessa população só seria feita em 2032.


O PIC (sigla pra Personal Internet Communicator), depois rebatizado de FIC Conectado, foi lançado em caráter experimental em setembro de 2005 e se tornou disponível para o consumidor em dezembro, a partir de uma parceria com a Telefônica, responsável pela comercialização do produto.


O computador permite acesso à internet discada e uso de processadores de texto, planilhas e e-mail. ‘É um equipamento mais simples, para pessoas que tem acesso à informática pela primeira vez’, diz Otto Stoeterau, gerente do projeto PIC da AMD no Brasil. ‘É muito parecido com um eletrodoméstico e foca na internet, que é o que o usuário quer.’ Vem com processador Geode GX, da AMD, memória de 128 Megabytes, disco rígido de 10 Megabytes e utiliza o sistema operacional Windows CE, da Microsoft, além de monitor de 15 polegadas, mouse e teclado.


Em vez de doar computadores ou patrocinar telecentros, a AMD preferiu se concentrar no desenvolvimento de tecnologias voltadas à inclusão social, dentro de sua estratégia de negócios. ‘O FIC Conectado é um dos produtos que materializam a iniciativa 50X15’, diz Valter Cegal, gerente de projetos especiais e relações governamentais da AMD. O produto foi lançado inicialmente no México, e a intenção é expandir para outros países emergentes.


A AMD está estruturando uma fundação para melhor gerir os programas e para conseguir o apoio de outros parceiros da área de tecnologia, como a Microsoft, a Cisco e o Massachusetts Institute of Technology (MIT).


Segundo a Telefônica, a procura pelo produto tem se mostrado acima das expectativas. Desde o lançamento comercial do FIC Conectado, em dezembro, a empresa recebeu 100 mil ligações de pessoas interessadas, e em torno de 10 mil pedidos se converteram em vendas. ‘Com o projeto, ganhamos a fidelidade dos clientes, que passam a usar também nossos serviços de internet. Além de gerar dividendos sociais’, diz Odmar Andrade, vice-presidente de negócios residenciais da Telefônica.


GOVERNO


Os pilotos do FIC Conectado foram testados em setembro do ano passado, em uma loja da Telefônica em Bauru. Depois, por meio de uma parceria com o governo paulista, foram colocados 15 equipamentos na unidade do Poupatempo de Santo Amaro, onde foi registrado um acesso de 500 pessoas/dia por aparelho. Foi feita ainda uma parceria com o governo do Mato Grosso, para facilitar a compra do equipamento para funcionários públicos.


No entanto, as empresas envolvidas no projeto do FIC Conectado esbarram na não inclusão do produto no programa Computador para Todos (antes chamado de PC Conectado) do governo federal. Na visão do governo, o produto não tem as especificações de um microcomputador padrão – CPU, unidade de CD-ROM e 26 programas, além do uso do software livre – e acabou ficando de fora do pacote de vantagens que permitirão que esse produtos se tornem mais acessíveis. Entre eles, o repasse de recursos do BNDES para o varejo.


‘O produto não veio para competir com o desktop padrão. É uma unidade de acesso à internet, um produto complementar para o mercado’, diz Luciano Lamoglia, presidente da Phihong FIC do Brasil, fabricante taiwanesa de eletrônicos localizada em Santa Rita do Sapucaí (MG). A empresa, responsável pela fabricação do FIC Conectado, está tentando retomar as conversas com o governo para enquadrar o produto no programa Computador Para Todos. Já conseguiu redução de impostos, como PIS e Cofins, de 9,25%, e do IPI, que baixou de 15% para 0,75%.


O produto, financiado pelas financeiras Losango e Aymoré, ainda tem um valor de parcela alto – de R$ 42,90, em 36 vezes – que pesa no bolso das classes C e D. ‘Se conseguirmos o apoio do governo, ganharemos escala e o valor da parcela se tornará mais acessível’, diz Lamoglia. ‘Produzido em maior escala, esse sim será o computador de US$ 100’, alfineta, em alusão ao projeto do laptop de US$ 100 lançado pelo MIT e visto com simpatia pelo governo federal.’


INTERNET
Renato Cruz


Comitê Gestor ensina a combater o spam


‘As mensagens indesejadas de correio eletrônico – também chamadas de spam – já respondem por cerca de 70% do e-mail que circula no mundo, de acordo com algumas estatísticas internacionais. ‘Acho que pode ser ainda mais’, afirmou Henrique Faulhaber, coordenador da Comissão de Trabalho Antispam do Comitê Gestor da Internet no Brasil. Para ajudar no combate a essa praga digital, o comitê lançou ontem um site, no endereço www.antispam.br, com recomendações a usuários e administradores de rede.


Em janeiro, o Centro de Estudos, Resposta e Tratamento de Incidentes de Segurança no Brasil, mantido pelo Comitê Gestor, recebeu 286,7 mil reclamações sobre spam, um crescimento de 46% sobre o mês anterior. Em 2005, o número de reclamações recebidas pelo centro ficou em 2,4 milhões.


Segundo Faulhaber, uma grande ameaça aos usuários de internet, principalmente os de banda larga, é ter seu computador transformado em zumbi. ‘Alguns sintomas são máquina lenta e o modem funcionando direto, sem que o usuário esteja fazendo nada’, explicou o conselheiro do Comitê Gestor. Existem vírus que transformam o computador, sem que seu dono perceba, em uma máquina de enviar spams. O site criado pelo Comitê Gestor dá algumas dicas para evitar que isso aconteça, como utilizar software de proteção (antivírus, antispam e firewall) e mantê-lo atualizado; não clicar em links vindos por correio eletrônico; e não executar arquivos recebidos por e-mail sem passá-los pelo antivírus.


A Comissão prepara um relatório para ser apresentado ao Congresso, para servir como recomendação aos projetos de lei antispam. Ela também trabalha com operadoras e provedores no combate ao spam.’


EDITORA ABRIL
O Estado de S. Paulo


Grupo Abril divulga nova estrutura


‘O Grupo Abril anunciou ontem sua nova estrutura administrativa. Com a saída de Maurizio Mauro, que deixa a empresa no fim do mês, Roberto Civita, presidente do Conselho de Administração, volta a assumir a presidência executiva. O grupo passa a contar com uma vice-presidência executiva, que será ocupada por Giancarlo Civita. Os vice-presidentes comercial e de serviços compartilhados e os diretores gerais passam a responder a Giancarlo.’


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Carlos Franco


Publicidade de empresas de crédito cresce 139%


‘O empréstimo consignado, tanto para trabalhadores da ativa como aposentados, fez com que o investimento publicitário de bancos, financeiras e outras empresas de crédito desse um salto de 2004 para 2005, passando de R$ 279,4 milhões para R$ 670,2 milhões. O crescimento foi de 139%, que valeu ao setor a 10ª posição no ranking Ibope/Monitor do investimento publicitário em 2005. No ano anterior, o setor de financiamentos ocupava a 25ª posição.


Já a liderança do investimento publicitário continuou com as lojas de departamento, o que, pelo critério do Ibope/Monitor, inclui redes de lojas como Casas Bahia e Magazine Luiza. Em 2005, as Casas Bahia lideraram o ranking de anunciantes, com investimento de R$ 2,4 bilhões, que resultou na liderança da Y&R, de Roberto Justus, que responde pela comunicação da rede, no ranking de agências de publicidade.


Em segundo lugar no investimento publicitário estão as auto-revendas e concessionárias de automóveis, apesar da queda no investimento, que saiu de R$ 2,2 bilhões em 2004 para R$ 1,6 bilhão em 2005. Nesse valor, o Ibope/Monitor não inclui investimentos de R$ 491,3 milhões das montadoras em veículos de passeio nacionais – que foram de R$ R$ 439,5 milhões em 2004.


O setor de construção civil e incorporação, impulsionado por facilidades de crédito ao consumidor, ampliou o investimento publicitário de R$ 1,1 bilhão em 2004 para R$ 1,6 bilhão em 2005, ocupando a terceira posição no ranking. Em quarto lugar aparece o setor de super e hipermercados, que investiu R$ 1 bilhão em 2005, ante R$ 867 milhões em 2004.


O varejo de montadoras, que investiu R$ 52 milhões em 2004 e nem sequer figurava na lista dos 30 maiores investidores do mercado publicitário, encerrou 2005 na quinta posição do ranking, com investimento de R$ 971 milhões.


O valor é reflexo do esforço das montadoras para vender, numa disputa acirrada por liderança, que foi capitaneada por Volkswagen, Fiat, GM e Ford, entre outras, que abriram pátios e ofertaram diretamente seus produtos. A GM, por exemplo, chegou a recorrer à dupla Sandy e Júnior nessa disputa em que a Ford resgatou histórias infantis para falar de quão incríveis eram suas ofertas.


O entretenimento também esteve em alta em 2005, com o setor de excursões e viagens, capitaneado pela CVC, investindo R$ 557,7 milhões, ante R$ 387,1 milhões em 2004. O que explica o lançamento este ano da agência G-7, que tem à frente Gustavo Paulus, filho do controlador da CVC. Para esse bolo também contribuíram os investimentos da BRA, que acabou se tornando companhia aérea regular.


Essa movimentação do segmento de excursões e viagens pôs a categoria à frente do disputado mercado de cerveja, no qual as empresas reduziram o investimento de R$ 531,7 milhões em 2004 para R$ 495,8 milhões em 2005. Já o setor de refrigerantes apresentou movimento inverso, com o investimento passando de R$ 266,6 milhões para R$ 307,8 milhões, liderado pela Coca-Cola.’


GLOBO NO CINEMA
Patrícia Villalba


Assim é fácil fazer filme


‘Está em produção, enfim, um filme brasileiro sem ajuda de leis de incentivo fiscal e/ou patrocínio de estatais. É Seus Problemas Acabaram, o novo longa-metragem da turma do Casseta & Planeta, que a Globo Filmes roda no Projac, bancando do próprio bolso. É o primeiro de uma série que a rede pretende fazer, para quem sabe, revolucionar o mercado de cinema no País. Em abril, será a vez do longa de A Grande Família, e se tudo der certo, outros programas e seriados globais terão o mesmo destino, como A Diarista, de Cláudia Rodrigues.


Nessas duas primeiras experiências, a Globo Filmes terá como parceira a distribuidora Europa, além de patrocinadores diretos. ‘Estamos testando mais uma possibilidade de financiamento para os filmes nacionais, aliando recursos de infra-estrutura, administração e divulgação da produção da TV Globo, recursos próprios da distribuidora Europa Filmes para produção e lançamento, e recursos de patrocinadores que investirão em merchandising e exposição de suas marcas com recursos de seus orçamentos de marketing e promoções’, detalha o diretor de Operações da Globo Filmes, Carlos Eduardo Rodrigues.


Rodrigues explica que a Globo Filmes está ‘otimizando recursos’. O set de filmagem é montado na própria central de produção da Globo em Jacarepaguá, o Projac. E como o programa já foi testado na TV, chega ao cinema com vantagem na batalha pela bilheteria. ‘Mesmo assim, dá muito medo, não é pouco, não’, observa o diretor José Lavigne, há 15 anos no comando do Casseta & Planeta. ‘Temos de conseguir transportar o programa para o cinema, mas sem ser o programa propriamente dito. Senão, o espectador se pergunta ‘por que eu paguei para ver esta porcaria, se eu já vejo o programa toda a terça-feira na TV?’.’


Esses dois fatores – o barateamento da produção e o fato de serem adaptações de programas que já fazem sucesso na TV – são os que tornam a aventura viável, por reduzir os riscos do investimento.


Sem ilusões, no entanto, Rodrigues ressalta que a produção não está livre do fracasso, e avalia que, por enquanto, ela só pode mesmo ser aplicada a um tipo específico de filme. O que significa também que o ‘cinema normal’ – aquele com roteiro original e feito fora dos muros da Cinecittà da Globo – continuará dependendo das leis de incentivo. ‘Existe risco, e estamos administrando este risco através da otimização do orçamento, velocidade de produção, planos de produção sendo executados à risca’, sublinha ele. ‘O fato de estas marcas serem bastante conhecidas e testadas na TV também reduz o risco, mas cada filme é um filme, e o sucesso de público sempre vai depender do filme e receptividade do mesmo junto ao espectador que vai ao cinema. Ainda estamos experimentando estas possibilidades.’


Em resumo, a Globo Filmes busca repetir agora a excelente performance de Os Normais, adaptação do sitcom com Fernanda Torres e Luiz Fernando Guimarães, que em 2004 levou mais de 3 milhões de pessoas ao cinema – ali, a produção contou com incentivo fiscal em torno de R$ 1,5 milhões para bancar parte do orçamento, e o filme foi quase todo rodado no Projac. A produtora também quer aparar arestas para que a bilheteria do novo filme dos cassetas supere a do anterior, A Taça do Mundo é Nossa, que em 2003 fez 800 mil espectadores – o que não é pouco, mas ficou aquém do esperado.


No caso de Seus Problemas Acabaram, a Globo Filmes não fala em cifras – fala-se em R$ 4 milhões, valor não confirmado. Mesmo com o cronograma de filmagens apertado nas cinco semanas que foram reservadas pela Globo Filmes no Projac, Lavigne diz que vê esse novo modelo de produção com otimismo. ‘É extremamente confortável fazer o filme aqui dentro do Projac, que é a melhor estrutura que temos no Brasil’, diz ele. ‘Para um filme como o nosso é ótimo, porque se eu não posso gravar uma cena numa praia de verdade, construímos uma praia no estúdio, o que fica estilizado e mais engraçado. E se precisamos de um tribunal, fazemos um aqui mesmo. É bem melhor do que usar uma locação.’’


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Novo filme do Casseta será mais parecido com a TV


‘O diretor José Lavigne busca para Seus Problemas Acabaram um equilíbrio entre algo que remeta ao Casseta & Planeta e que, ao mesmo tempo, se diferencie do programa que o grupo de humoristas apresenta todas as terças-feiras na Globo. Parece ser a fórmula ideal para os ‘blockbusters de berço’ que adaptam sucessos da TV ao formato de uma hora e meia de duração, como Os Normais.


Nesse espírito, o filme deve parecer bem ágil, à moda das esquetes do programa. O papel principal – do advogado dr. Botelho Pinto – é de Murilo Benício. Ele dá início ao embate jurídico ‘do século’, ao processar as Organizações Tabajara, questionando a eficácia dos produtos vendidos pela firma que ficou famosa por apresentar soluções nada ortodoxas para praticamente todos os males modernos.


Fora Benício, o filme terá as participações de Luana Piovani, Juliana Paes e Marcos Pasquim. E dezenas de personagens – novos e já conhecidos – interpretados pelos cassetas Bussunda, Helio de la Peña, Marcelo Madureira, Cláudio Manoel, Beto Silva, Hubert, Reinaldo e Maria Paula. ‘Não estamos mantendo a estrutura do programa, mas aproveitando algumas coisas dele que o público gosta, como a variedade de personagens que os cassetas fazem na TV’, explica Lavigne, adiantando que a dupla de policiais mal dublados Fucker and Sucker, o Peludão da Sauna Gay, Seu Creysson, entre outros, estarão no filme.


Sem crise, Lavigne diz que o formato do novo filme é bem diferente do anterior, A Taça do Mundo É Nossa, de 2003, dirigido por Lula Buarque de Hollanda numa parceria entre a Globo Filmes e a Conspiração Filmes. ‘Aquele filme foi feito num outro momento e qualquer dia vai virar cult. Agora, os cassetas se voltaram para dentro e, naturalmente, quando a gente se junta, o resultado vai ter a ver com o que a gente faz. Não é uma questão de tentar se redimir, mas de que a gente tem de dar ao público o que ele quer ver.’’


Antonio Gonçalves Filho


O que vale na Europa poderia valer para o Brasil


‘Ao contrário do esquema da Globo Filmes, que não arrrisca em projetos autorais, a produção de filmes por redes de televisão na Europa visa justamente o autor. Só para lembrar, foi o Channel Four inglês, por intermédito de sua produtora FilmFour, que lançou o diretor Stephen Frears ao produzir seu filme Walter, em 1982. Naquele mesmo ano, dois outros diretores fizeram sua estréia no cinema graças ao canal inglês: Peter Greenaway e Neil Jordan. Esses três grandes nomes seriam suficientes para atestar a filosofia da produtora inglesa, que aposta na originalidade de seus protegidos. No entanto, além de Frears, que continuou produzindo bons filmes para o Channel Four , a produtora atraiu outros grandes autores de países pequenos ou distantes, apostando em filmes difíceis como Dançando no Escuro, do dinamarquês Lars von Trier, ou projetos pessoais como Diários de Motocicleta, do brasileiro Walter Salles, que ajudou a lançar.


A FilmFour investe principalmente no talento. Não quer dizer que rejeite produções de grande orçamento ou rejeite projetos pelo gênero (ela também produziu ótimas comédias). A média anual varia de seis a oito produções e os investimentos são da ordem de 10 milhões de libras. Esse dinheiro, óbvio, precisa voltar para que a produtora continue existindo. Com recursos privados e também governamentaios (do United Kingdom Film Council), ela tem acumulado alguns êxitos que não se restringem ao público. Wasp, um curta experimental, deu o Oscar de melhor curta no ano passado à diretora Andrea Arnold .


A exemplo da Inglaterra, onde o Channel Four concorre com a BBC para ver quem produz os filmes de melhor qualidade, a França tem uma grife similar, o Canal Plus, cuja produtora StudioCanal também acredita no filme de autor – e não na produção de fórmula certa. Exemplo disso é o novo filme de Alain Resnais, Petites Peurs Partagées, que deverá ser lançado em novembro. Em tempo: outro brasileiro se beneficiou do crédito europeu, o cineasta Fernando Meirelles, cujo O Jardineiro Fiel foi co-produzido pelo Canal Plus (com a independente americana Focus).’


TELEVISÃO
Ubiratan Brasil e Taíssa Stivanin


Novela mencionará Araguaia


‘Antes de se aventurar, com Missão Impossível, em grandes produções inspiradas em séries de TV, o diretor Brian de Palma já buscara na tela pequena material para seus filmes. E, se o orçamento foi menor, o resultado compensa. É o caso de Os Intocáveis, que o AXN (Net, Sky, TVA, DirecTV) exibe às 22 horas.


Conta a história de um jovem policial (Kevin Costner)que, nos anos 1930, tenta colocar um fim às ações criminosas dos gângsteres chefiados por Al Capone (interpretado por Robert De Niro). Ele forma um grupo de incorruptíveis, conhecido por ‘intocáveis’. Entre eles, um velho policial à beira da aposentadoria, vivido por Sean Connery, que lhe oferece as mais valiosas lições de combate à corrupção.


Connery faturou merecidamente o Oscar de melhor coadjuvante por um papel que lhe cai como uma luva. São dele as melhores frases do filme, além de uma das cenas capitais, em que sua violência é utilizada para convencer um membro da gangue de Capone a detalhar a lista de corruptos. Mérito também para o roteiro de Lawrence Kasdan, que se revela melhor escritor que diretor.


Cineasta das referências, Brian De Palma deixa de fazer aqui homenagem a Alfred Hitchcock, para dirigi-la a Sergei M. Eisenstein, recriando de forma brilhante a célebre cena da escadaria de Odessa em O Encouraçado Potemkin. Inesquecível.O autor Lauro César Muniz vai abordar o desaparecimento de presos políticos e a guerrilha do Araguaia em sua nova novela, Cidadão Brasileiro, que estréia no dia 13 na Record. A temática vem ao encontro das inúmeras discussões sobre as famílias de ex-militantes que pedem a abertura de inquérito para investigar as mortes e identificar o que ocorreu com os corpos na guerrilha. Na década de 70, o grupo perdeu 59 combatentes. Apenas um foi identificado até hoje – Maria Lúcia Petit.


Entre os anos de 1991 e 2001, corpos foram retirados de cemitérios no Estado do Tocantins (TO) e de uma aldeia indígena no Pará (PA), mas eles ainda não foram identificados.


A personagem envolvida na guerrilha do Araguaia será Tereza, vivida pela ex-global Luíza Tomé. Ela será uma professora, ativista política e simpatizante do Partido Comunista, que se envolve em 1970 com a guerrilha do Araguaia buscando sua filha, Eleni, que se engajou na luta armada, segundo o autor. Lauro César vai retratar, anos depois – a novela passa-se em três fases e um epílogo, de 1955 a 2006 -, o drama da família em busca do corpo de uma parente morta. Ele não confirma, mas provavelmente é Tereza. ‘Mostrarei as conseqüências de uma personagem que desapareceu nos ‘porões’ da ditadura, morta durante a guerrilha, e cujo corpo leva muito tempo para ser entregue à família. Isso será bem perto do final da novela, nos anos 90’, diz.


O lado da repressão terá representatividade em Atílio, personagem de Floriano Peixoto. ‘Ele acaba por ser o representante da ditadura em sua cidade, mantendo vigilância sobre os prefeitos eleitos’, conta o autor. Atílio será vilão, antagonista de Antônio Maciel (Gabriel Braga Nunes), o protagonista da história e personagem-título da trama.’


Adriana Del Ré


Chico Buarque chega ao fim, com o início da carreira


‘A série Chico Buarque, exibida pela DirecTV, chega ao último episódio hoje, sob o título de Roda Viva. Após uma maratona que atinge agora a 12.ª edição, o programa retrata o início da carreira artística de Chico Buarque, desde a infância até sua participação nos festivais de música, durante os anos 60.


Dirigida por Roberto de Oliveira, a série fez, a cada episódio, um recorte na trajetória do cantor e compositor, enfatizando temas e momentos marcantes na música, na literatura, no cinema e no teatro. Além do registro audiovisual de sua carreira, com recursos da Ancine, o projeto Chico Buarque traz o próprio personagem-título analisando sua obra e vida.


Depois de usar locações como Roma e Paris, Oliveira levou Chico ao antigo prédio da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP), em São Paulo, onde o cantor relembra sua trajetória como estudante e se diverte ao contar dos projetos pouco arquitetônicos que apresentava aos professores. Chico não foi estudante exemplar, como ele mesmo afirma, mas essa vida o fez conhecer o cotidiano da boemia, em companhia dos amigos, do violão, o que, mais tarde, o levou à profissionalização.


Com o golpe de 64, a vida na FAU se tornou difícil, com a restrição às atividades artísticas, o fechamento do grêmio e a demissão do diretor e de professores. Mas foi um período importante para Chico, pois foi como estudante que ele compôs e gravou seu primeiro compacto, que trazia Pedro Pedreiro de um lado e Sonho de um Carnaval do outro.


Ele fala também do ambiente musical que dominava sua casa, de seu pai, o historiador Sergio Buarque de Hollanda, e da mãe, Maria Amélia. Relembra como foi parar na cadeia com os amigos, ainda adolescente, depois de roubar um carro para passear e sobre a difícil relação com o sucesso, após sobretudo o furor causado por A Banda no Festival da Record.(canal 605)


(SERVIÇO)


Chico Buarque Especial. Roda Viva. Estréia hoje. Horários: 12h, 14h, 16h, 18h, 20h, 22h e 0h (com reapresentações de 16 a 22/2). DirecTV’


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