Wednesday, 13 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1313

Folha diz que Lula escolheu
padrão japonês para TV Digital


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 8 de março de 2006


TV DIGITAL
Kennedy Alencar e Humberto Medina


Lula escolhe padrão japonês para TV digital


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu que o Brasil adotará o padrão de TV digital japonês (ISDB), segundo apurou a Folha. O próprio Lula deve anunciar a decisão depois de amanhã.


Após uma dura batalha de bastidores entre os defensores dos padrões japonês, americano (ATSC) e europeu (DVB), o presidente optou pelo primeiro por avaliar que essa proposta trará mais vantagens ao Brasil e às grandes empresas de comunicação do país -entre as quais as Organizações Globo.


Os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Hélio Costa (Comunicações) já negociam um pacote de investimentos em troca da decisão. Houve uma reunião ontem na Casa Civil com autoridades e empresários japoneses.


O governo já obteve do Japão o compromisso de que cerca de US$ 2 bilhões serão investidos para a fabricação de semicondutores (componente usado na fabricação de transístores e microprocessadores, por exemplo) e TVs de plasma. A decisão pelo padrão japonês foi tomada na semana passada por Lula, que orientou seus ministros a negociar com o Japão as contrapartidas para que o anúncio produza ganho político no ano eleitoral.


Além do compromisso de investimentos e da transferência de tecnologia, Lula disse a auxiliares que pesou na decisão o padrão japonês permitir maior tempo de adaptação à era digital dos atuais aparelhos de sinal analógico.


Ou seja, enquanto os americanos e os europeus previam uma fase de transição mais rápida, os japoneses se dispuseram a tornar esse período mais longo num país pobre em que a TV está instalada em mais de 90% dos domicílios.


Uma fase de transição mais longa resultará em menor custo ao consumidor, que terá mais tempo para continuar com seu televisor atual sem precisar comprar um decodificador do sinal digital ou um aparelho novo já com o equipamento.


O presidente também levou em conta o lobby das grandes emissoras de TV do Brasil a favor do padrão japonês. Não seria inteligente do ponto de vista político, avalia Lula, contrariar essas empresas no ano em que disputará a reeleição. Mais: as grandes TVs do Brasil dizem que o padrão japonês permitirá maior controle nacional sobre o conteúdo transmitido. Como o Brasil é um país com uma indústria de entretenimento televisivo de ponta, o governo avalia que é uma decisão estratégica defender os interesses das companhias nacionais.


Parte do PT chegou a fazer pressão a favor do padrão europeu, espécie de segundo colocado nos critérios do governo. Apesar desse lobby e do interesse das operadoras de telefonia no padrão europeu, que permitiria sua entrada na área de conteúdo, o governo não conseguiu dos europeus as contrapartidas oferecidas pelos japoneses. Nas discussões internas, Hélio Costa, ex-repórter da Globo, argumentou que o padrão japonês tinha também maior qualidade técnica e que, do ponto de vista tecnológico, seria superior ao americano e ao europeu.


O padrão de TV digital americano foi o último colocado na avaliação do governo. Os EUA e as empresas americanas se recusaram a fazer transferência de tecnologia e a instalar fábricas no país. Hoje, as empresas que produzem TV no Brasil são praticamente montadoras. A maioria dos componentes de alta tecnologia é importada. No acordo com os japoneses, parcela desses componentes seria fabricada no Brasil.’


Daniel Castro


Redes de TV saem vitoriosas


‘As redes de televisão são as principais (talvez únicas) vitoriosas com a escolha do padrão de modulação de TV digital japonês, que defendem desde 1999, quando fizeram os primeiros testes.


O padrão japonês é melhor para as TVs brasileiras porque é o que trará menos impacto ao seu modelo de negócios. Elas apenas ganharão um novo canal e transmitirão sinal digital nele. Pelo menos por enquanto, não haverá a entrada de novos concorrentes, principalmente as temidas telefônicas.


As redes temiam que a escolha do padrão europeu, por exemplo, trouxesse o modelo de exploração de televisão do continente, em que não há alta definição e empresas de telefonia atuam como distribuidores dos sinais (ou seja, cobram das TVs para distribuí-las).


Segundo as redes, o padrão japonês seria o único que lhes permitiria transmitir um sinal robusto, que ‘pega’ bem em cidades de relevo acidentado, como o Rio, ou com muitos prédios, como São Paulo. Na TV digital, ou o sinal ‘pega’ 100% ou não ‘pega’.


Com a escolha do padrão japonês, as teles perdem -ou deixam de ganhar. Elas reivindicavam parte do espectro de UHF e VHF (usado pela TV) para explorarem serviços de telefonia e de distribuição de audiovisual pago.


Perdem também os defensores da democratização do espectro com a entrada de novos operadores. Para eles, a escolha do padrão japonês significa que o governo sucumbiu ao pragmatismo e quis agradar às grandes emissoras de televisão do país em ano eleitoral.’


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Mudança na TV de casa ainda leva tempo


‘A curto prazo, a TV digital vai mudar pouca coisa na vida do telespectador. A tão falada ‘revolução’ só ocorrerá com o aumento da produção de conteúdo de alta definição, com o desenvolvimento de aplicações de interatividade e com a venda de aparelhos que faça a convergência de mídias (ou seja, que reúna televisão, internet e telefonia) a preços acessíveis.


Se o governo anunciar agora a opção pelo padrão de modulação japonês, as redes prometem inaugurar as transmissões digitais em 7 de setembro. A Globo articula um jogo da seleção brasileira. Pouco antes, na Copa do Mundo, já deverão ocorrer transmissões experimentais, mas com recepção em pontos específicos -não na sua casa.


Para receber sinal digital já em setembro, o telespectador precisará gastar no mínimo R$ 200. Essa é a estimativa otimista do preço mais barato das caixas decodificadoras (set-top boxes). Qualquer televisor comprado nesta década poderá ser transformado em digital com uma caixa dessas. Uma TV de tela plana já terá um ganho surpreendente. A principal diferença será no formato de tela. Vigorará o formato 16:9, na mesma proporção das telas de cinema.


No mercado de fabricantes de eletroeletrônicos, no entanto, há uma dúvida crucial: pode faltar tempo para a indústria produzir set-top boxes em escala suficiente para vendê-las, já em setembro, a preços competitivos. Os fabricantes afirmam que precisam de pelo menos um ano, após a decisão do sistema de TV digital, para começarem a produzir televisores e set-top boxes em escala.


O principal argumento das redes na defesa do padrão japonês é que elas oferecerão imagens de alta definição (HDTV), muito superiores às dos DVDs. Mas não se anime. Em 7 de setembro, as redes já transmitirão em sinal digital, mas pouquíssima coisa será em alta definição. A Globo ainda não produz novelas em HDTV. Só seriados como ‘A Diarista’.


Além disso, são poucos os modelos de TV já disponíveis e realmente prontos para receber em HDTV -e custam a partir de R$ 15 mil. Alguns modelos de plasma e LCD estão sendo vendidos como ‘ready to HDTV’, mas não são. Antes de comprar, verifique qual a resolução das imagens. Só são realmente HDTV os que oferecem definição de 1.080 linhas.


Um sistema de TV digital é composto por quatro elementos: o padrão de modulação, o padrão de codificação, o ‘middleware’ (o sistema operacional, algo como um Windows da TV digital) e a linha de retorno (como se dará a volta da interatividade). Há dúvidas se o governo federal definirá já o middleware, em que se rodarão softwares de interatividade.


A tendência é o governo optar por um middleware nacional, desenvolvido por universidades brasileiras. Como essas tecnologias ainda não foram testadas, há um certo medo rondando as redes de TV. Teme-se, por exemplo, que o middleware nacional seja suscetível a ataques de hackers.


Além disso, a TV digital será implantada gradualmente em todo o país. Primeiro, as redes instalarão novos transmissores em São Paulo, depois no Rio e nas principais capitais. Deverá levar mais de dez anos para cobrir todo o país.’


Humberto Medina


Escolha pode custar mais para consumidor


‘A escolha do governo brasileiro pelo padrão japonês (ISDB) de TV digital poderá significar um custo maior para os telespectadores. De acordo com relatório encomendado pelo próprio governo ao CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), os conversores (aparelhos que serão usados para que aparelhos analógicos recebam sinais digitais) terão preço de venda maior em caso de escolha do padrão japonês.


Baseado em um custo médio de R$ 400 para o conversor, o CPqD estimou que a transição para a TV digital custará aproximadamente R$ 14 bilhões aos consumidores, em um prazo de 15 anos.


Os conversores feitos para funcionar com o modelo japonês de TV digital custariam, segundo o CPqD, entre R$ 276 e R$ 761, de acordo com a complexidade (com ou sem interatividade, com ou sem canal de retorno, por exemplo). Os conversores mais baratos seriam os fabricados em caso de escolha do padrão europeu (DVB): entre R$ 233 e R$ 662. Favorável ao modelo japonês, o ministro Hélio Costa (Comunicações) criticou o relatório, contestou os números e não o divulgou, conforme havia prometido.


De acordo com o estudo, influencia no preço o fator escala: o padrão europeu é usado em 57 países, e o japonês, só no Japão. Segundo o CPqD, a escolha do governo deveria levar em conta ‘as perspectivas de mercado, para gerar maior fator de escala de produção, o que influencia diretamente no investimento necessário no setor produtivo e no preço final ao consumidor’.


Ainda de acordo com o relatório, o fator preço do conversor é fundamental: ‘quanto menor o preço, melhores os resultados em termos de adesão da população, de níveis de produção e de balança comercial’.


Do ponto de vista técnico, a escolha do padrão japonês se encaixa nos critérios que o governo havia estipulado: possibilidade de transmissão em alta definição, mobilidade (conteúdo pode ser transmitido para uma televisão instalada em um ônibus em movimento, por exemplo) e portabilidade (imagem pode ser captada por aparelhos menores, como celulares). Nos estudos técnicos, de acordo com o governo, o padrão japonês é o que se mostrou mais robusto considerando essas características.


Modelo de negócio


A escolha do governo põe fim a uma batalha de bastidores que envolveu ministros de Estado de países estrangeiros, multinacionais fabricantes de equipamentos, operadoras de telecomunicações e redes de TV. Outra etapa da guerra, no entanto, irá continuar quando o governo for regulamentar o chamado ‘modelo de negócios’: nessa fase, poderá ser definido quem poderá participar da nova televisão e se haverá ou não mais competição no setor. O Congresso Nacional, que inicialmente pensou em participar da escolha do padrão, já voltou suas atenções para o ‘modelo de negócios’.’


Luís Nassif


O padrão japonês e a TV digital


‘Da decisão sobre a TV digital brasileira participam quatro ministros: um que pensa que manda, o das Comunicações, Hélio Costa; dois que pensam, Sérgio Rezende, do MCT (Ministério da Ciência e Tecnologia), e Luiz Fernando Furlan, do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior); e uma que pensa e coordena, Dilma Rousseff, da Casa Civil.


Nos últimos anos, uma das grandes conquistas brasileiras foi aprender a negociar o ‘offset’ nas grandes definições de compras ou de padrões definidos pelo governo. Ou seja, os ganhos extras que se obtêm da parte vitoriosa em uma negociação.


Pessoas que participam das negociações atribuem a defesa incondicional do padrão japonês pelo ministro Hélio Costa -que tira poder de barganha dos negociadores brasileiros- a pura desinformação. Melhor assim.


Em contato com a coluna, representantes do padrão japonês apresentam os seguintes argumentos em defesa de sua tecnologia:


1) Em uma banda de 6 MHz, o ISBD (seu sistema) pode ser dividido em 13 segmentos, um para transmissão para aparelhos portáteis e 12 para os mais diversos procedimentos.


2) No mesmo canal, pode-se transmitir para o móvel e para o fixo -e aí fica se entendendo melhor a defesa que os radiodifusores fazem do padrão japonês e a telefonia faz do europeu. O europeu DVBH exigiria uma torre de transmissão à parte para transmissão para os móveis. No japonês, o dono da cancela é o radiodifusor; no europeu, um operador neutro. Os japoneses afirmam garantir que, se a opção for por um operador neutro, seu sistema atende da mesma maneira. Bastará reservar uma faixa de 6 MHz que ele cumprirá as mesmas funções do europeu. E os europeus garantem que, quando o padrão for o MPEG4, uma antena apenas será suficiente para as duas transmissões.


3.) No Japão, o modelo de negócio que cimentou a parceria entre radiodifusores e telefonia celular foi o seguinte: as imagens são distribuídas gratuitamente, os radiodifusores ganham na publicidade, ao conseguir criar alternativas ao horário nobre. Mas os links para compras interativas passam pelos canais da operadora de celular, ajudando a viabilizar a 3G (telefonia de terceira geração). E as operadoras ajudam a colocar aparelhos subsidiados no mercado.


De qualquer modo, dificilmente a programação para o móvel será a mesma para o fixo. No móvel, os programas terão que ser, necessariamente, mais curtos, para se adaptar à condição do telespectador.


Nas negociações, foram apresentadas três exigências pelo governo brasileiro:


1) O sistema evoluir para o MPEG4, o que, aliás, é a tendência de toda geração nova de digitalização.


2)Todo o middleware (os softwares aplicativos) ser desenvolvido no Brasil.


3) O Brasil ter assento no Arib, o consórcio montado para definir o padrão japonês.


Segundo os japoneses, não haveria problemas com a exportação de televisores para outros países. O que diferenciaria os diversos padrões seria apenas um chip que representaria 10% do custo final do produto (os europeus falam em 30%). Mudando o chip, pode-se vender para qualquer país do mundo. Essa opinião não é compartilhada pelos defensores do modelo europeu, pelo CPqD e pelos fabricantes.’


OPUS DEI NA FSP
Dom Javier Echevarría


O mundo precisa do gênio feminino


‘O dia 8 de março tem o seu referencial no passado, porque lembra a história dos esforços para superar a discriminação da mulher. Mas essa tarefa afeta também o presente e estende o olhar para o futuro: podemos imaginar o que acontecerá e quantos benefícios hão de ser alcançados quando a mulher estiver plenamente incorporada a todos os âmbitos da sociedade.


É preciso partir sempre do reconhecimento da igual dignidade entre homem e mulher. Desde o começo da Sagrada Escritura, é revelado que Deus criou o homem e a mulher como duas formas de ser pessoa, duas expressões de uma humanidade comum. A mulher é imagem de Deus, nem mais nem menos que o varão, e ambos estão chamados à identificação com Jesus Cristo, perfeito Deus e perfeito homem.


Com base nessas premissas essenciais da fé cristã, entende-se com especial profundidade a perversão que significa maltratar qualquer pessoa, homem ou mulher. Os maus-tratos assumem, por vezes, forma violenta, e, em outras ocasiões, modalidades sutis: comercializa-se brutalmente o corpo da mulher, considerando-a como coisa, e não como pessoa; ou, então, informam, de modo amável, mas insidioso, que a gravidez é incompatível com o seu contrato de trabalho. Ainda existem muitos motivos para recordarmos a necessidade de nos opormos a essas discriminações.


No Gênesis, há um segundo elemento fundamental: a diversidade. Pensemos, por exemplo, na família: pai e mãe desempenham papéis diferentes, igualmente necessários, mas não intercambiáveis. A responsabilidade é a mesma, mas o modo de participação é diferente.


Um dos problemas mais agudos e atuais da família é a crise da paternidade. O homem não pode ser considerado uma ‘segunda mãe’ nem deve, por outro lado, desentender as responsabilidades do lar. Mas precisa aprender o que é ser pai. O mesmo se pode dizer da sociedade como um todo, na qual o homem e a mulher devem encontrar um lugar. O homem tem o direito de se desenvolver como homem, e a mulher, como mulher -sem dar espaço a mimetismos que produzem crises de identidade, complexos psicológicos e problemas sociais de grande transcendência.


O princípio da igualdade pode extrapolar-se e perder o equilíbrio quando se confunde igualdade (de dignidade, de direitos e de oportunidades) com dissolução da diversidade. Se a mulher se homogeneíza com o homem ou o homem com a mulher, os dois ficam desorientados e não sabem como se relacionar. O princípio da diferença também pode ser extrapolado, quando a distinção é usada para justificar a discriminação.


Nesse contexto, torna-se necessário considerar a virtude cristã da caridade, que Bento 16 quis situar no começo e no centro do pontificado. A caridade ajuda a harmonizar a igualdade e a diferença e convida à colaboração, já que ordena a relação com Deus e as relações de cada um com os demais. Com base na caridade, a igreja promove a comunhão, o respeito, a compreensão, a abertura à diversidade, a ajuda mútua, o serviço.


No começo do Gênesis, lemos que Deus, em sua bondade, confia ao homem e à mulher, juntos, a missão de cuidar do mundo. Esse empolgante projeto compartilhado ajuda a colocar no devido lugar a questão do relacionamento entre os sexos. Estamos ante um desafio positivo e aberto: os homens e as mulheres temos de trabalhar juntos, em prol de uma sociedade melhor, com idêntica responsabilidade, com contribuições adequadas ao gênio próprio de cada um. As qualidades masculinas e as femininas precisam umas das outras nessa tarefa coletiva, pois o bem comum somente se alcança mediante um trabalho conjunto. Assim, a discriminação da mulher não representa apenas uma ofensa para ela. Constitui também uma vergonha para o homem e um problema sério para o mundo.


A tarefa de cuidar juntos do mundo exige abandonar esquemas maniqueístas e tendências para o conflito. São necessárias atitudes de diálogo, cooperação, delicadeza, sensibilidade. O homem tem de exigir mais de si mesmo: escutar, compreender, ter paciência, pensar na pessoa. A mulher precisa compreender, ser paciente, aplicar-se a um diálogo construtivo, aproveitar a sua rica intuição.


Provavelmente, os dois deverão rejeitar os modelos propostos por alguns estereótipos dominantes: essas imagens que impelem o homem a competir com dureza ou que convidam a mulher a se comportar com frivolidade -ou com um penoso exibicionismo. Precisamos de uma nova maneira de pensar, uma nova maneira de olhar para os outros, que supere o domínio e a sedução. Assim, poderá surgir um novo cenário social, sem vencedores nem vencidos.


Na ‘Carta às Mulheres’, João Paulo 2º diz que a contribuição da mulher é indispensável para ‘a elaboração de uma cultura capaz de conciliar razão e sentimento’, bem como para ‘a edificação de estruturas econômicas e políticas mais ricas em humanidade’. O gênio feminino, com a sua aptidão inata de conhecer, compreender e cuidar do próximo, deve estender a sua influência à família e à sociedade inteira.


São Josemaria Escrivá costumava recordar que, ‘perante Deus, nenhuma ocupação é por si mesma grande ou pequena. Tudo adquire o valor do amor com que se realiza’. Quando descobrirmos que o importante é a pessoa, as discriminações terão seus dias contados. A fé cristã possui a capacidade de ser verdadeiro fermento para uma mudança cultural nesse terreno -se as mulheres e os homens soubermos encarná-la na vida cotidiana.


Dom Javier Echevarría, 72, doutor em direito civil e em direito canônico, consultor da Congregação para as Causas dos Santos e da Congregação para o Clero, é bispo prelado do Opus Dei.’


FRANÇA
John Lichfield


Por pressão de Chirac, TV terá âncora negro


‘DO ‘INDEPENDENT’, EM PARIS – Sob pressão do presidente Jacques Chirac, o maior canal de TV da França, o TF1, indicou um jornalista negro para ser o apresentador do noticiário de maior audiência do país.


Em julho, Harry Roselmack, 32, se tornará a primeira pessoa não-branca a apresentar um programa noticioso no horário nobre da TV aberta francesa.


Durante os distúrbios provocados por gangues de jovens suburbanos multirraciais em novembro passado, as emissoras de TV francesas foram muito criticadas por não apresentarem um retrato etnicamente diversificado da sociedade francesa.


Embora jornalistas de origem árabe ou africana, incluindo o próprio Roselmack, tivessem apresentado noticiários em canais menores ou fora do horário nobre, os jornais principais sempre foram reduto reservado aos brancos. Afirmou-se que isso reforça o sentimento de alienação dos jovens árabes e negros nos subúrbios franceses pobres.


Depois dos distúrbios, Chirac exortou a mídia, e especialmente as TVs, a fazerem um esforço maior para contratar jornalistas pertencentes a minorias étnicas.


A TF1 disse ter contratado Roselmack em resposta ao apelo do presidente, mas também porque ele é ‘muito bom jornalista’.


A capacidade profissional de Roselmack é indiscutível. Nos últimos seis meses ele se tornou uma figura popular no canal de jornalismo a cabo i-TELE, voltado ao público jovem. Ele é elogiado por sua apresentação clara e irretocável e por sua capacidade de difundir uma imagem de seriedade e calor humano, e foi descrito por um jornal como ‘tendo a aparência física de um playboy, sorridente e sexy’.


Nascido na ilha caribenha da Martinica, que faz parte da França, Roselmack cresceu em Tours. A partir do verão francês deste ano ele vai apresentar boletins jornalísticos regulares no canal de jornalismo 24 horas LCI, da TF1. E, o que é mais importante, a partir de julho ele será o apresentador do jornal das 20h da TF1 durante as férias do veterano apresentador regular, Patrick Poivre d’Arvor, com uma audiência de mais de 5 milhões de telespectadores.


Para o ministro da Igualdade, Aziuz Begag, a indicação representa ‘um grande passo à frente’, porque a TV é ‘o espelho na qual a sociedade se enxerga’.


Tradução de Clara Allain’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Deus salve


‘Ao vivo, na Band News, cenas do banquete. Mas aquela que ficou, do dia de Lula em Londres, foi mesmo a faixa do Greenpeace na BBC (acima) durante a passagem da carruagem de Elizabeth 2ª:


– Deus salve a Amazônia.


Foi um dia para se diferenciar dos anteriores, de eterno amor ao brasileiro na imprensa.


Não que a cobertura tenha mudado, a começar do próprio canal de notícias da BBC, mas ao menos as ONGs contrastaram.


A BBC Brasil, serviço on-line e audiovisual da corporação, com eco em sites e emissoras brasileiras, destacou desde cedo que elas surgiram primeiro no jornal ‘Independent’, de esquerda.


Um anúncio publicitário de página inteira do Greenpeace, um artigo da representante da Anistia Internacional no Reino Unido e uma reportagem com base na Observatório Social abordaram, respectivamente, desmatamento, violência contra pobres e trabalho infantil.


Segundo a BBC Brasil, outras ONGs, como Oxfam e Survival International, voltadas à fome e aos índios, pediram audiência com Lula, sem sucesso.


Nos sites das mesmas, viam-se suas mensagens, como na home page do Greenpeace.org, ‘Diga a Lula: Salve a Amazônia’.


Curiosamente, o texto remete a outro também do Greenpeace, com elogios a uma decisão de Lula em fevereiro -contra o desmatamento da Amazônia.


Mas a cobertura londrina priorizou ontem o caso Jean Charles. Do canal BBC:


– A visita vem depois de um período de relações tensas que se seguiu à morte do inocente brasileiro pela polícia, em julho.


O ‘Times’ sublinhou que ‘a memória da morte controversa será reavivada [nesta quarta] com a divulgação do relatório sobre a política antiterrorismo de atirar-para-matar’.


A política já era questionada ontem, nos sites britânicos e no programa de TV ‘Panorama’. Mas era nos tablóides, como sempre acontece, que o episódio renascia com estardalhaço.


O ‘Sun’ deu como notícia ‘exclusiva’ que Sir Ian Blair, o chefe da polícia metropolitana, alvo maior da família de Jean Charles, ‘foi cortado’ à tarde da recepção oficial a Lula. A fonte do jornal entregou o motivo:


– A grande preocupação era que o presidente se recusasse a cumprimentar Sir Ian, gerando um incidente diplomático.


Ele estaria depois no banquete do palácio, mas também então ‘mantido à distância’ de Lula.


Ontem, por fim, foi também dia de se iniciarem as pressões comerciais. Como comentou o canal BBC, sobre a presença de Tony Blair como figurante na recepção da rainha a Lula:


– Esta visita de Estado é sinal da importância crescente do Brasil para os líderes europeus. Já um poder regional, sua força econômica também vive alta… Para conversas significativas, o presidente Lula veio com uma equipe muito forte, com nada menos do que sete ministros e 200 líderes empresariais.


Mais ONG. A agência Reuters noticiou o ‘alerta a Lula’ dado pela ActionAid, ‘Mantenha-se firme’. Era um ‘chamamento’ para não ceder à crescente ‘pressão das nações ricas’ por abertura nos serviços, nas tais ‘conversas significativas’.


Ninguém suporta


Na submanchete da Folha Online, ontem no final da tarde, ‘Tasso Jereissati se desencontra de Geraldo Alckmin, mas vê José Serra’. Daí para o título em tom de desabafo, ontem no blog de Jorge Bastos Moreno:


– Ninguém suporta mais!


E daí ao título do comentário on-line de Gilberto Dimenstein:


– Ninguém agüenta mais a novela tucana.


Pergunta e resposta feitas pelo primeiro, no Globo Online:


– Existe assunto mais chato do que a indefinição do PSDB? Mas não há outro remédio…


Ou agüenta


Os dois ecoam, curiosamente, um título no blog de Ricardo Noblat, poucos dias atrás:


– Ninguém agüenta mais.


Falava da CPI dos Correios, que, como anuncia o blog de Fernando Rodrigues, o PFL quer prorrogar, ‘mas o presidente da comissão, senador Delcídio Amaral, não quer nem saber’.


Ano eleitoral


Nem ressurreição eleitoral da CPI nem o cabo-de-guerra dos tucanos -o dia de ontem na campanha ficará marcado pela TV digital (leia em Dinheiro).


Antes mesmo de se divulgar a decisão, sites engajados como NovaE, em manchete, Ibase e Indymedia já criticavam, com o texto ‘TV digital brasileira, do sonho ao ralo’. E tome ataques à ‘pressa’, aos ‘interesses’.


Também em sites setorizados como o Pay-TV ‘a definição foi duramente criticada’ durante a abertura de um evento. Grupos da sociedade civil lamentavam a decisão em ‘ano eleitoral’.


Escalada


Ontem nas manchetes do ‘JN’, finalmente, a viagem:


– Começa a visita oficial do presidente Lula à Inglaterra.


William Bonner notou que Lula sorriu e ‘pareceu se divertir na conversa com a rainha’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Repórter da Globo vai cruzar país de ônibus


‘Os principais repórteres da Globo vão cruzar o país de ônibus, percorrendo 10 mil kms. Entre julho e outubro, eles visitarão 75 cidades (nenhuma capital) e produzirão a série ‘Desejos do Brasil’ para a cobertura das eleições de 2006 do ‘Jornal Nacional’.


Os repórteres viajarão em um ônibus-trailer, que está sendo equipado em Itu (SP). O ônibus terá um quarto com seis beliches, uma redação com computadores, uma sala de reuniões e um fly away, equipamento portátil para a transmissão via satélite.


Cada repórter irá ‘morar’ no ônibus durante 15 dias, período em que o veículo irá percorrer uma região do país.


A cada dia, os repórteres produzirão uma reportagem em uma cidade diferente. A idéia é que as reportagens mostrem os problemas do país e anseios de cada região.


O ônibus partirá do Rio em 26 de julho. Encerrará a viagem em Brasília no sábado anterior ao primeiro turno das eleições.


Uma equipe da Globo traça desde quarta o roteiro do ônibus-trailer. O mapa leva em considerações não apenas o interesse jornalístico, mas também restaurantes, hospitais e até mecânicos.


O ônibus faz parte do projeto ‘Caravana JN’. William Bonner e Fátima Bernardes, alternadamente, também irão ‘morar’ nele durante dois dias a cada 15. A partir de 31 de julho, o ‘JN’ será ancorado, segunda sim, segunda não, de uma região do país.


OUTRO CANAL


Relógio A Globo está exibindo ‘Belíssima’ cada dia mais cedo. Anteontem, a novela começou às 20h45 _o ‘JN’ foi mais curto. Isso faz parte de estratégia para reduzir o impacto da estréia de ‘Cidadão Brasileiro’, segunda, às 20h30, na Record. Quanto menor o tempo em que a novela da Record concorrer com o ‘JN’, menor será o desgaste na média de audiência da Globo. A Globo nega. Diz que o ‘JN’ foi mais curto porque havia menos notícia.


Termômetro Executivos da Record contavam ontem que Gugu Liberato já é 60% da emissora. As negociações já entraram na fase da troca de minutas de contrato.


Novos tempos O SBT agora solta rojão quando bate novela da Record no Ibope. Foi o que aconteceu ontem. A ‘submanchete’ do informativo produzido por sua assessoria de imprensa comemorava que, na segunda-feira, a mexicana ‘Rebelde’ superou ‘Prova de Amor’ por 16 pontos a 12 nos 25 minutos em que ficaram simultaneamente no ar.


Nonsense O ator Guilherme Piva fará uma segunda participação em ‘Bang Bang’. O ‘inédito’ é que ele interpretará um novo personagem, o que faz sentido para uma novela sem sentido. Piva, que já incorporou um fazendeiro, será agora um cozinheiro francês que trabalha para Mauro Mendonça.’


MERCADO EDITORIAL
Laura Mattos


Justiça devolve obra de Lobato a herdeiros


‘A venda de livros de Monteiro Lobato (1882-1948) pode ser suspensa nos próximos dias. Uma decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) rescinde o contrato que o escritor assinou com a editora Brasiliense em 1945 e devolve os direitos autorais aos herdeiros.


A disputa judicial já dura quase dez anos. A família de Lobato acusa a Brasiliense de ter ‘negligenciado’ a obra, que não passou por processos de modernização e apresenta edições ‘pobres’, com ilustrações em preto-e-branco.


Já a editora afirma que foram os herdeiros que barraram qualquer tentativa de atualizar as edições.


O que se constata atualmente nas livrarias é uma dificuldade de encontrar a obra adulta do autor de ‘Urupês’ e ‘Cidades Mortas’. Já os títulos infantis, como ‘O Picapau Amarelo’ e ‘Geografia de Dona Benta’, têm edições bem menos atraentes para as crianças do que a infinidade de opções coloridas e com formatos alternativos das prateleiras.


Com a decisão tomada anteontem pela corte especial do STJ, a família deverá notificar a Brasiliense para que os livros não sejam mais vendidos. Os herdeiros passarão a negociar com outras editoras, segundo Jorge Kornbluh, casado com uma neta do autor e diretor da Monteiro Lobato Licenciamentos. ‘Quando obtivermos a carta de sentença do STJ, a Brasiliense ficará proibida de vender os livros de Lobato e nós poderemos fazer acordo com qualquer outra editora’, disse.


De acordo com Kornbluh, a Globo tem preferência na negociação estipulada no contrato de cessão dos direitos do ‘Sítio do Picapau Amarelo’ para a TV.


‘Claro que, para assinarmos, a proposta da Globo terá de ser melhor editorial e financeiramente.’


Procurada pela Folha, a Brasiliense indicou o advogado do processo, Paulo Magalhães, para comentar a decisão. Ele afirmou que ainda não havia sido notificado judicialmente. ‘Se for isso mesmo, nós infelizmente perdemos. Mas provavelmente vamos entrar com recurso ao STF [Supremo Tribunal Federal]’, declarou.


Para Magalhães, os herdeiros terão dificuldade em negociar a obra no mercado. ‘Essa situação causa uma instabilidade evidente, e é difícil que outra editora queira entrar nesse imbróglio.’


Nelson Ranalli, advogado dos herdeiros, disse que esse não é um processo para o STF. ‘O Supremo cuida de matérias do âmbito constitucional, e essa é uma questão de direito autoral.’


Ainda que a Brasiliense recorra ao STF, segundo Ranalli, isso não suspende a decisão de devolver a obra à família. ‘A editora está apenas exercendo o direito de espernear’, provocou o advogado.


Mercado


Os herdeiros dizem não possuir dados sobre a venda de exemplares. De acordo com Álvaro Gomes, diretor da Monteiro Lobato Licenciamentos, essas informações são repassadas apenas à Justiça pela editora Brasiliense desde que se iniciou o processo.


‘Sabemos que a procura por Lobato é grande, que o mercado é expressivo. O governo, por exemplo, freqüentemente compra os livros para distribuir nas escolas públicas. Mas não temos dados precisos e teremos de levantá-los a partir de agora’, disse Gomes.


Três anos antes de morrer, Lobato, assinou contrato com o dono da Brasiliense, seu amigo Caio Prado Jr. (1907-1990). A validade era ‘ad infinitum’, ou seja, até a obra passar a domínio público, em 2018, 70 anos após sua morte.’


Eduardo Simões


Gênero policial é levado mais a sério, defende Lawrence Block


‘Um dos mais prolíficos autores de romances policiais da atualidade, o americano Lawrence Block, 68, é também um do mais reticentes. Deixa sua retórica para os mais de 40 títulos que já publicou, dez deles já editados no Brasil pela Nova Fronteira e pela Companhia das Letras. Block é a principal estrela entre os convidados estrangeiros da 19ª Bienal do Livro de São Paulo, que começa amanhã no Anhembi e vai até o dia 19 de março. O escritor participa no dia 12, às 15h30, do Salão de Idéias, num debate com o colega e ‘titã’ Tony Bellotto. Na pauta, o romance policial.


‘O gênero ficou melhor do que era há 40, 50 anos, porque passou a ser levado mais a sério tanto por leitores, quanto escritores e editores’, avalia Block, em entrevista à Folha, ainda sem nada na manga para falar na Bienal. ‘Nunca me preparo, mas saberei o que dizer a tempo.’


Considerado pela crítica um hábil manipulador das fórmulas policialescas, Block evita comentar análises de sua obra que sentenciam seus livros como releituras de clássicos noir com roupagem modernosa. Tampouco aceita que apóia uma linguagem simples com elementos sofisticados e intelectuais, presentes em títulos como ‘O Ladrão que Pintava como Mondrian’ ou ‘O Ladrão que Estudava Espinosa’, entre outros.


‘Não me importo com a opinião da crítica. Apenas me preocupo em escrever meus livros, não interessa se eles se encaixam ou não em alguma tradição’, esquiva-se o autor.


Nova York contra o crime


Nascido no dia 24 de junho de 1938 em Buffalo, no Estado de Nova York, Block se iniciou na escrita ainda na adolescência e passou a publicar pequenas histórias já em 1957. Pai de quatro personagens recorrentes -os detetives Matt Scudder, Chip Harrison e Evan Tanner, além do livreiro Bernie Rhodenbarr, que divide seu tempo entre o roubo a residências e a investigação de crimes-, Block situa suas histórias em Nova York, segundo ele, sua fonte de energia.


Sem uma rotina para sua escrita, o autor reflete a realidade da metrópole em suas tramas, como em ‘Cidade Pequena’, que tem os atentados do 11 de Setembro como pano de fundo. Mas diz que não busca, de modo consciente, inserir o mundo real no ficcional.


‘A única coisa importante é contar uma história interessante, de modo interessante. Além disso, não há nada muito consciente ou intencional de minha parte, como observar o mundo ou as pessoas. Muitas pessoas não entendem o papel da imaginação na ficção. O escritor precisa acessar sua imaginação. Quando ele consegue, o livro flui’, afirma o autor, que nega também espelhar nos livros, propositadamente, tipos que o circundam.


‘Embora sejam efetivamente nova-iorquinos, por conta de minhas conexões com a cidade, meus personagens poderiam se adaptar a outra cidade. Eles surgem de algum lugar em minha imaginação’, diz Block, para quem seus tipos tendem a ser um pouco diferentes do normal. ‘Pode-se chamá-los de anti-heróis.’


Block se diz insatisfeito com todas as adaptações de seus livros para o cinema: ‘Nightmare Honeymoon’ (Elliot Silverstein), ‘Burglar – A Ladrona’ (Hugh Wilson, com Whoopi Goldberg) e ‘Right Million Ways to Die’ (Hal Ashby, com Jeff Bridges). Apesar de considerá-los fracassos, pela falta de qualidade, não se interessa em acompanhar as possíveis adaptações de ‘Cidade Pequena’ e ‘Hit Man’.


‘A indústria cinematográfica é muito incerta’, conclui o autor, que não faz a mínima questão de participar da roteirização de suas obras. ‘Não posso controlá-las.’’


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O Globo


Quarta-feira, 8 de março de 2006


ELEIÇÕES 2006
Cristiane Jungblut


PSDB irá à Justiça contra propaganda da Caixa que cita o presidente Lula


‘O secretário-geral do PSDB, deputado Eduardo Paes (RJ), disse ontem que o partido vai recorrer à Justiça contra a propaganda veiculada pela Caixa Econômica Federal (CEF) em emissoras de rádio de todo o país na qual o presidente Lula é citado nominalmente. O PSDB deverá entrar com uma representação no Ministério Público contra o presidente por uso de dinheiro público em propaganda para promoção pessoal (improbidade administrativa), e também com outro recurso no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) acusando Lula de antecipação da campanha eleitoral.


O líder do PFL na Câmara, deputado Rodrigo Maia (RJ), disse que o partido também deve recorrer. Para ele, houve propaganda pessoal do presidente da República e, por isso, o partido quer o ressarcimento aos cofres públicos do gasto com a publicidade.


No programa ‘Converse com a Caixa’, o vice-presidente de Desenvolvimento Urbano da instituição, Jorge Hereda, cita o presidente Lula e o anúncio feito por ele de liberação de R$ 19 bilhões para o pacote da habitação, anunciado com estardalhaço pelo governo no dia 7 de fevereiro. Segundo a Caixa, esse programa foi ao ar uma única vez. A Lei Eleitoral e a Constituição proíbem a citação de governantes em publicidade institucional.


– Isso é inacreditável. Se o TSE não tomar uma atitude nesse caso, será a eleição do vale-tudo. Citar o nome do presidente numa propaganda daquele tipo é o fim do mundo – disse Eduardo Paes.’


TV DIGITAL
Mônica Tavares


Escolha de padrão de TV digital deve ser feita na semana que vem


‘O governo trabalha com a possibilidade de escolher o padrão de TV digital que será implantado no Brasil na próxima semana, cumprindo o cronograma estabelecido no último decreto que tratou do prazo de conclusão dos trabalhos. A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, vai entregar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva nesta sexta-feira, quando ele volta de viagem à Inglaterra, todos os relatórios de estudo sobre TV digital realizados pelo governo. Foram analisados os três padrões tecnológicos – americano (ATSC), japonês (ISDB) e europeu (DVB) – e as contrapartidas comerciais por eles apresentadas.


– Concluímos nesta semana todas as conversações que tínhamos que ter com os três sistemas. Muito especial com os japoneses. Agora com os argentinos. Vamos reportar ao presidente da República, na sexta-feira, as análises e o presidente estará em condições de definir. E só ele pode tomar esta decisão – disse o ministro das Comunicações, Hélio Costa.


Argentinos ainda terão encontro com os japoneses


Ele e Dilma se reuniram ontem com o secretário de Comunicação do Ministério do Planejamento da Argentina, Guillerme Moreno. Há um entendimento entre os dois países de estudar a possibilidade de implantar o mesmo padrão de TV digital.


Hélio Costa contou que os dois países estão trabalhando juntos, mas têm independência para escolher o padrão de TV digital. Guillerme Moreno afirmou que na próxima semana os argentinos vão se reunir com os representantes japoneses.


– Neste momento estamos trabalhando para eleger o mesmo padrão – disse ele.


A Argentina, segundo Moreno, levará em conta, para decidir o padrão de TV digital, as ofertas de redução de pagamentos de royalties, os investimentos a serem realizados pelos grupos e a geração de empregos no país. Para ele, não há vantagens técnicas suficientes nos padrões para que o governo se decida por um deles sem estas contrapartidas comerciais.


Guillerme Moreno acredita que a Argentina também terá condições de decidir o padrão nas próximas semanas. Para ele, a TV digital deverá permitir a reindustrialização do país.’


CHARGES DE MAOMÉ
O Globo


A polêmica sobre as caricaturas de Maomé em debate amanhã no GLOBO


‘Representações diplomáticas em chamas em países tão distantes como Líbano, Irã e Líbia; violentos protestos de milhares de pessoas em grande parte do mundo islâmico; dezenas de mortes em Nigéria, Paquistão, Afeganistão, Somália, Líbia e Turquia; boicotes a produtos europeus; demissões e prisões de jornalistas. A publicação das charges do profeta Maomé desencadeou uma das maiores crises internacionais dos últimos anos e alimentou um discurso sobre o choque de civilizações entre Islã e Ocidente.


A série Encontros O GLOBO realizará amanhã às 19h o debate ‘As charges de Maomé. Respeito à religião ou liberdade de expressão?’ O debate será no auditório do jornal, na rua Irineu Marinho 35, 4 andar. A entrada é gratuita.


Participarão do debate o chargista Chico Caruso, o antropólogo Roberto DaMatta, o xeque muçulmano Ahmad Mazloum, o rabino Nilton Bonder e a teóloga Maria Clara Bingemer.


A crise começou silenciosamente. Em 30 de setembro do ano passado, o jornal dinamarquês ‘Jyllands-Posten’ publicou uma reportagem sobre liberdade de expressão e autocensura. O motivo foi a edição de um livro infantil sobre a vida de Maomé no qual o autor não conseguiu encontrar ilustradores para desenhar o profeta, por temor de retaliações.


Para ilustrar a reportagem, o jornal convidou caricaturistas a desenharem Maomé. Num deles, o profeta trazia uma bomba sobre o turbante. Um grupo muçulmano distribuiu um dossiê com as 12 caricaturas e o assunto foi discutido numa reunião da Organização para a Conferência Islâmica, três meses depois. Os protestos começaram em janeiro e se tornaram bastante violentos. Governos, como Síria, Líbano e Irã, foram acusados de ter insuflado os protestos para usá-los politicamente.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 8 de março de 2006


OESP TUCANO
Editorial


E como ficará São Paulo?


‘A notícia de que o nó górdio da escolha do candidato presidencial do PSDB poderia ser cortado se o prefeito José Serra concordasse em disputar o Palácio dos Bandeirantes, em vez do Planalto, a que concorreria o atual governador paulista Geraldo Alckmin, chama a atenção para um aspecto até agora negligenciado do cenário eleitoral – o que poderá acontecer com São Paulo nos próximos quatro anos. Para os 40 milhões de habitantes do Estado, essa questão talvez seja mais importante do que a da sucessão presidencial.


Em primeiro lugar, porque até onde a vista alcança a permanência de Lula em Brasília até 2010 não prenunciaria propriamente uma catástrofe. Com todas as suas limitações e os seus erros amplamente conhecidos – a que se somou o estrepitoso escândalo dos milhões escusos pagos pelo PT aos seus e a políticos de outros partidos, bem como ao marqueteiro Duda Mendonça, com dinheiro que não caiu do céu -, o presidente manteve o essencial, a política econômica, no caminho responsável aberto pelo antecessor tucano – que foi, aliás, o que lhe permitiu recuperar-se do baque inicial do escândalo do valerioduto.


Com certeza foi sua mentalidade pragmática que levou Lula a entender que, se embarcasse numa canoa populista em matéria de gestão econômica, seria ele próprio vítima fatal dessa aventura. É de esperar, portanto, que se ele continuar presidente também a economia continuará no rumo certo, apesar das renovadas pressões petistas.


Em segundo lugar, São Paulo é outra história. Caso excepcional na crônica político-administrativa da Federação brasileira, o Estado acumula 12 anos de governança austera, competente e progressista, não fosse quem o conduziu a maior parte desse período, o infatigável Mario Covas, o melhor governador de que os paulistas têm memória. Nesse sentido, o risco que eles correm nas próximas eleições é maior que o dos demais brasileiros. Dada a relação de forças no horizonte da sucessão estadual, as chances do PSDB de se manter no governo são notoriamente duvidosas.


É verdade que os índices de aprovação do governador Alckmin são os que qualquer administrador público gostaria de ostentar. Mas popularidade não se transfere – ao menos no grau necessário para a eleição do herdeiro presumível. Tendo acompanhado a amarga experiência dos paulistanos que elegeram prefeito o secretário de Finanças de Paulo Maluf, Celso Pitta, os paulistas decerto aprenderam que a emenda pode sair pior do que o soneto. Conquanto a comparação seja de todo injusta com Alckmin e os tucanos que almejam substituí-lo, ela é um componente – salvo uma reviravolta no cenário – da alta probabilidade de o PT conquistar pela primeira vez o governo estadual, o que lhe daria enorme chance de permanecer no governo federal para além de um eventual segundo mandato de Lula.


Essa reviravolta só estaria praticamente garantida numa hipótese: o lançamento da candidatura Serra. Os cálculos sobre a conveniência dessa hipótese para o partido, o prefeito e o governador levariam às seguintes conclusões: nem o PSDB nem Alckmin sofreriam um baque irrecuperável caso o governador, sendo o desafiante de Lula, fosse batido por ele. Aos 53 anos, não lhe faltarão ocasiões de tentar de novo, já então um nome nacional. Se, no entanto, a alternativa for Serra, 10 anos mais velho, uma segunda derrota para Lula quem sabe marcaria o final de sua trajetória.


Mas o prefeito não aparece nas pesquisas como o único presidenciável capaz de bater o petista? Conviria tomar os números com extrema precaução. Pelo menos parte da intenção de voto em Serra parece resultar antes do ‘efeito recall’ de que falam os publicitários do que expressão de uma escolha fechada. Na verdade, as chances de Lula ser reeleito dependem muito mais dele próprio do que do candidato que terá de enfrentar. Por isso acreditamos que as chances de Alckmin bater Lula não são muito menores que as de Serra. E quanto à promessa de que ficaria na Prefeitura até o fim? Ao contrário do que estão afirmando alguns ‘blogueiros’ não nos parece que descumpri-la para disputar o governo do Estado, cuja capital vem conduzindo e a cujos negócios não ficaria alheio, como governador, teria efeito pior do que se fosse para disputar a Presidência.


O destino de São Paulo, em suma, pode estar nas mãos dos presidenciáveis e dirigentes tucanos.’


ELEIÇÕES 2006
Lisandra Paraguassú


Caixa cita nome de Lula em propaganda


‘Os partidos de oposição já começaram a se movimentar para entrar com mais uma ação contra o que classificam de ‘campanha contínua do governo Lula’. O PSDB já decidiu entrar com duas ações: um pedido de investigação ao Ministério Público Federal por improbidade administrativa e uma ação no Tribunal Superior Eleitoral por campanha antecipada.


‘Se não parar aí vai ser um vale-tudo nessa campanha’, reclamou o secretário-geral do PSDB, deputado Eduardo Paes. ‘É mais uma ação ilegal do governo. Mostra que eles não têm nenhum escrúpulo de usar a máquina pública’, disse o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP).


O PFL também pretende entrar com uma ação até o fim da semana. A assessoria jurídica analisa o que fazer, mas o líder do partido na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), quer que o presidente devolva o dinheiro gasto na propaganda aos cofres públicos. ‘Além de propaganda eleitoral, é propaganda pessoal. Quem tem de pagar é o presidente ou o partido.’


No programa, Hereda responde a pergunta de uma suposta ouvinte, que pergunta sobre recursos para habitação. Hereda afirma que ‘o anúncio do presidente Lula reserva R$ 19 bilhões para a habitação’.


DEFESA


Em nota divulgada no fim da tarde de ontem, a Caixa justifica a citação afirmando que o anúncio dos recursos para habitação foi feito por Lula no Palácio do Planalto em fevereiro. Segundo a Caixa, o ‘programa’ Converse com a Caixa vai ao ar há três anos e ‘tem conteúdo informativo e de orientação aos clientes’, e não de divulgação.


‘A resposta do vice-presidente de Desenvolvimento Urbano da Caixa Jorge Hereda à pergunta que lhe foi formulada apenas reportou-se, no início de sua fala e de modo sucinto, ao anúncio feito pelo senhor presidente da República do valor recorde do orçamento destinado à habitação’, diz a nota. ‘Essa informação foi amplamente divulgada pela imprensa e é de interesse dos clientes da Caixa como principal agente financeiro da habitação.’ COLABOROU: MARIÂNGELA GALLUCCI’


TV DIGITAL
Isabel Sobral


Novela sobre TV digital pode estar perto do fim


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá na sexta-feira todas as informações para decidir sobre o padrão técnico de TV digital que o País adotará, afirmou ontem o ministro das Comunicações, Hélio Costa.


Lula retornará ao Brasil da viagem oficial de à Inglaterra na quinta-feira, mas já na sexta-feira visitará Recife. Por isso, a expectativa é que só seja anunciado oficialmente o sistema escolhido na semana que vem.


‘Concluímos esta semana todas as conversações que tínhamos de ter sobre os três sistemas (americano, japonês e europeu) e vamos reportar ao presidente as nossas análises e ele estará em condições de definir e só ele poderá fazer’, afirmou Costa. Segundo ele, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, é quem vai repassar a Lula as conclusões do comitê de ministros formado para analisar o assunto. Um decreto estabeleceu a sexta-feira como data final para conclusão das análises.


A última reunião que faltava ocorreu ontem. Dilma e Costa reuniram-se com o secretário de Comunicação do Ministério do Planejamento do governo argentino, Guilherme Moreno. Os dois países haviam acertado analisar em conjunto as vantagens e desvantagens dos três padrões de TV digital para chegar a uma escolha comum. ‘Neste momento, temos a vontade política e a expectativa de que seja escolhido o mesmo padrão para os dois países e, se possível, para o Mercosul’, comentou o secretário argentino.’


CHINA
Carlos Franco


Grupo WPP vê internet e China como desafios


‘Quem perguntar a sir Martin Sorrell, de 61 anos, presidente mundial do Grupo WPP, controlador de redes de agências de publicidade, pesquisa, design e relações públicas como Ogilvy, Young & Rubicam, Grey, J.W.T, Milward Brown, Ibope, Hill and Knowlton, Burson-Marsteller e Landor, qual o desafio dos meios de comunicação e da propaganda, ele os resumirá em apenas duas palavras: internet e China.


A internet, porque implica mudanças de hábitos e desafia a comunicação publicitária e as empresas jornalísticas a encontrarem mecanismos novos para vender conteúdo diferenciado num mundo bombardeado justamente por conteúdo, onde cada usuário da rede pode se transformar em mídia. E a China porque é o país que está permitindo ao grupo que Sorrell comanda sustentar expressivo crescimento. Só no ano passado, quando a China cresceu 8%, a WPP chegou a crescer 23%. Ele acha que esse movimento não deve parar.


O comandante do grupo que faturou US$ 46,7 bilhões em 2005 – sobretudo em compra de mídia – também está voltando seus olhos para pequenas e médias empresas, que atuam em nichos de mercado. ‘É por aí que iremos sustentar nosso crescimento orgânico e poderemos fazer aquisições, inclusive no Brasil.’ Ele cita o caso da americana Gepeto, voltada para ações com o público infantil, que hoje pertence à WPP.


Em entrevista ao Estado, Sorrell diz que o modelo de pequenas e médias agências é muito conveniente quando se busca criação e inovação, especialmente para novas mídias que estão surgindo, enquanto as grandes redes são mais vantajosas para a compra de mídia e a demanda de clientes globais. Mas, em ambos os casos, Sorrell defende que se trabalhe com inovação, porque as marcas precisam estar atentas às mudanças de hábitos dos consumidores.


A atenção de Sorrell está particularmente voltada para os países com grandes oportunidades de crescimento, onde ele inclui Brasil, Índia, Rússia, China e outros países asiáticos. A intenção é que esse conjunto de países, que hoje responde por menos de 1/4 dos resultados do grupo, passe a dividir em partes iguais com EUA e Europa esses resultados.


Hoje, diz Sorrell, os negócios relacionados à propaganda movimentam US$ 650 milhões na América Latina – eram US$ 350 milhões há 5 anos – e a WPP tem negócios na região da ordem de US$ 10 bilhões, que podem crescer. É aí, diz Sorrell, que entram novas estratégias, entre as quais a expansão por meio de pequenas e médias empresas. Para ele, a publicidade mundial deve crescer este ano entre 3% e 4% – pode até ser 5%, com o impulso dado pela Copa -, o que não é pouco, levando-se em conta que essa indústria, pelos seus cálculos, movimenta US$ 1 trilhão por ano, dos quais metade vai para a mídia.’


TELEVISÃO
Luiz Carlos Merten e Renata Gallo


Record quer ser CNN


‘No Dia Internacional da Mulher, a TV paga oferece alguns exemplos daquilo que, antigamente, em Hollywood, se chamava de ‘woman’s picture’ – o filme para platéias femininas. Flores de Aço, de Herbert Ross, passa às 19 horas no canal HBO e Diário de Uma Paixão, de Nick Cassavetes, às 21 horas, também no HBO.


Flores de Aço conta a história de várias mulheres cujas vidas se cruzam num instituto de beleza em Louisiana. São interpretadas por Shirley MacLaine, Sally Field, Dolly Parton, Daryl Hannah, Olympia Dukakis e há uma jovem de fulgurante beleza que ganhou o Globo de Ouro pelo papel e no ano seguinte (1990) estourou com Uma Linda Mulher, tornando-se estrela, Julia Roberts.


Com roteiro de Robert Harling, baseado em sua peça, o filme fornece um material adequado para o ex-coreógrafo Ross, que já havia feito Momento de Decisão, com Shirley MacLaine e Anne Bancroft. Na seqüência, Diário de Uma Paixão narra a história desse sujeito que conta, para uma mulher que sofre de doença degenerativa (e está internada numa clínica), a história de dois amantes que tudo enfrentam. Ryan Gosling e Rachel McAdams interpretam os jovens, mas Gena Rowland e James Garner, como o par mais velho, dão show de humanidade e roubam a cena.Se alguém até aqui achou a Record pretensiosa, é que não escutou a frase creditada ao dono da emissora, Edir Macedo, dita por Walter Zagari, diretor comercial da rede, no lançamento da nova novela da emissora, Cidadão Brasileiro, anteontem: ‘Nós vamos investir o que for suficiente, não para ser mais importante que a Globo, mas ser mais importante que a CNN.’


E as frases de incentivo não pararam por aí. Zagari disse que a Record é hoje uma realidade, que cresceu 110% em dois anos e que nunca uma emissora conseguiu equiparar o preço de seu anúncio comercial com a Globo, o que a Record já está conseguindo. Segundo ele, o valor da inserção comercial de 30 segundos em Bang Bang é de R$ 166 mil. A Record, antes de Prova de Amor, vendia o mesmo espaço por R$ 78 mil e hoje o vende pelos mesmos R$ 166 mil. O mesmo salto ele pretende dar a Cidadão Brasileiro, que já inflacionou seu preço de R$ 68 mil por 30 segundos para R$ 200 mil – o custo em Belíssima é de R$ 266 mil.


Para encerrar, o novo diretor da Record, ex- Globo, Flávio Colatrello, anunciou que a partir da agora é guerra total. ‘E temos certeza de que seremos vencedores.’’


Keila Jimenez


Canal de Netinho passa por reformulação


‘O canal de Netinho, a TV da Gente, está passando por uma crise. Lançada em 20 de novembro, a emissora, voltada ao público negro, não decolou. No final de fevereiro, o canal iniciou uma drástica reformulação, com a demissão de quase um terço de seu pessoal.


Netinho, idealizador do projeto e dono da emissora, luta para conseguir anunciantes, tarefa difícil para uma rede com falhas na distribuição do seu sinal. Desde seu lançamento, a TV da Gente é sintonizada em São Paulo pelo canal 50 em UHF, pelo canal 19 em UHF em Fortaleza – onde também fica a sua geradora – e no restante do País por parabólica. Mas quem já assistiu ao canal de Netinho? O apresentador e empresário tem conversado com operadoras de TV por assinatura para conseguir espaço para a emissora. Assim, melhoraria sua distribuição. Com seis horas de programação no ar, a TV de Netinho teve investimento inicial de cerca de R$ 12 milhões e agora busca parcerias internacionais para tentar sair da crise. Uma das intenções do apresentador é produzir dramaturgia no canal, assim como a série Turma do Gueto, encabeçada por ele na Record.’


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Jornal do Brasil


Quarta-feira, 8 de março de 2006


CARTAS DE CAMINHA
Deonísio da Silva


O Brasil em achados e perdidos


‘Pero Vaz de Caminha diz logo na abertura de sua famosa Carta que vai dar ‘notícia do achamento desta Vossa terra nova’ que ‘nesta navegação se achou’. O Brasil estava perdido quando foi achado pela armada de Pedro Álvares Cabral? Que os historiadores resolvam se foi descoberto ou achado, nós ficamos com outra viagem, a das palavras.


O diligente intelectual, encarregado pelo capitão-mor de informar ao rei Dom Manuel o descobrimento, indica onde e quando escreveu o documento: ‘Deste Porto Seguro, da Vossa Ilha de Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro dia de maio de 1500’.


Muito mais do que notícia, faz minuciosa reportagem sobre a descoberta. Uma curiosidade: jamais utiliza a palavra ‘caravela’ para designar os tipos de embarcações, denominando-as almadia, batel, esquife, nau.


O trágico viajante utiliza ‘achamento’ e ‘achou’ logo na abertura. Ele escreveu a carta por acaso, estava a caminho da feitoria portuguesa de Calicute, para a qual tinha sido nomeado escrivão. Ia tomar posse. Em dezembro de 1500, aos 50 anos, lá morria nas mãos dos mouros.


O verbo que utilizou para designar o descobrimento, achar, veio do latim afflare. À semelhança de tantos outros verbos latinos, nascidos da intimidade dos romanos com a agricultura e com a navegação, tem suas raízes na observação do tempo e nas atividades de caça. Como nós, hoje, eles achavam que ia chover ou fazer sol, achavam que a caça tinha passado ali ou acolá, procedendo como os cães, que a farejavam.


O latim vulgar retirou uma das consoantes, consolidando aflare, formado a partir de ad flare.


Outro verbo do latim culto, fragrare, exalar odor forte ou agradável, está na origem de fragrância, mas veio a consolidar-se no latim vulgar como flagrare, arder, passando a significar surpreender os praticantes do ato na hora mesma em que é executado, de que é exemplo a expressão jurídica, dele derivada, flagrante crimine, crime comprovado durante a ocorrência ou logo após a consumação.


Se o Brasil foi achado, estava perdido. E sua descoberta foi redescoberta.


Como muito bem alega Reinaldo Pimenta em A casa da Mãe Joana (Editora Campus), a seção de Achados e Perdidos é contraditória. Se os objetos foram achados, não estão mais perdidos. Perdido está aquilo que não foi encontrado.


Achamos outro modo de escrever nossas cartas e começamos por onde Pero Vaz de Caminha terminou a sua: local e data.’


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