Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

COPA 2006
Eduardo Arruda, Paulo Cobos, Ricardo Perrone E Sérgio Rangel

Ronaldo e governo sepultam polêmica

‘Um dia depois da maior crise já criada por um presidente da República na seleção brasileira de futebol, os dois lados jogaram água fria na polêmica.

Pouco antes do início do treino de ontem à tarde, Ronaldo disse que o assunto estava superado. Anteontem, o jogador havia disparado contra Lula, que perguntou ao técnico Carlos Alberto Parreira se o atacante estava gordo. A questão foi feita durante uma videoconferência do presidente com a delegação brasileira, na quinta.

‘Não discuti com o presidente. Só expliquei como uma má informação pode criar problemas’, disse o atacante, que concedeu entrevista ontem apenas para jornalistas estrangeiros.

No dia anterior, o atacante foi duro. ‘Assim como dizem que eu estou gordo, dizem que o presidente bebe pra caramba. Tanto é mentira que ele bebe pra caramba, como é mentira que eu estou gordo’, disse.

Logo após a atitude do jogador, o presidente mandou um fax praticamente pedindo desculpas por ter feito a pergunta.

No final da noite de anteontem, o jogador já havia publicado, no seu site, um comentário sobre o episódio. ‘Todos os brasileiros precisam estar juntos para torcer pela nossa seleção. A carta do presidente foi muito boa e mostrou que ele entendeu o que eu quis dizer. Nem sempre o que é dito a nosso respeito corresponde à verdade. Para mim, o episódio está mais do que superado.’

O ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, colocou, por parte do governo federal, panos quentes no assunto. ‘O presidente expressou o sentimento da nação, a preocupação com a seleção brasileira.’

Em seguida, ele foi questionado se, então, o peso de Ronaldo é uma preocupação da nação. ‘Esse assunto está superado com a carta enviada pelo presidente’, declarou o ministro, que cumprimentou Ronaldo na saída do gramado.

Silva Júnior disse que não havia acertado com a CBF a passagem da delegação por Brasília em caso de vitória.

No embarque da equipe no Brasil, o chefe da delegação, Marco Polo Del Nero, anunciara o roteiro após o Mundial. Se o time conquistar o hexa, passará por Brasília e, depois, por São Paulo, segundo o dirigente.

Nélio Nazário, pai de Ronaldo, também assistiu ao treino da seleção. ‘O Ronaldo fará mais ou menos oito gols na terça’, disse. A mãe do atacante, Sônia, e cerca de dez amigos também foram ao treino.’

Fábio Victor

Imprensa é incômodo para atletas croatas

‘Suplício dos brasileiros na preparação para a Copa, os tablóides sensacionalistas também incomodam a Croácia.

Um dos destaques do time, o meia Niko Kovac deixou o treino matinal de ontem irritado com um jornalista do jornal croata ‘24 Sati’. ‘Você escreveu uma mentira, disse que eu fumo. De onde você tirou isso, está maluco?’, gritou para o repórter Dubravko Susec.

A reportagem ‘denunciou’ os fumantes da seleção. Mas o próprio jornalista admitiu ontem ter errado. Segundo ele, quem fuma muito é o irmão de Niko, o líbero Robert Kovac, como pode comprovar uma foto tirada, mas não publicada, pelo diário.

De acordo com o ‘24 Sati’, pelo menos mais três atletas fumam: os atacantes Prso e Klasnic e o goleiro reserva Butina.

O técnico Zlatko Kranjcar, que não fuma, disse não ver nenhum problema com as baforadas dos jogadores. ‘Até aqui não houve nenhum problema com isso. Se estão fumando, não está afetando o rendimento. Por mim, se quiserem, podem até sentar tranqüilamente na arquibancada para curtir um cigarro com café.’

O treinador ainda negou que Niko Kranjcar, seu flho, esteja acima do peso. Afirmou que Niko e o brasileiro Ronaldo são ambos ‘fortes’.’



ELEIÇÕES 2006
Marta Salomon

Na TV, Alckmin leva 30 segundos a mais

‘Os arranjos eleitorais a serem selados até o final do mês -período das convenções partidárias- deverão resultar em vantagem de menos de 30 segundos ao candidato tucano Geraldo Alckmin em relação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em cada bloco da propaganda na televisão e no rádio.

A Folha simulou o rateio do tempo de propaganda levando em conta duas coligações em torno de Alckmin (PSDB-PFL) e Lula (PT-PSB-PCdoB) e o lançamento de outros seis candidatos por partidos pequenos. O resultado é que os dois principais adversários terão, juntos, mais de 17 dos 25 minutos de cada bloco de propaganda.

Se esse quadro se mantiver depois do dia 30 de junho, Alckmin terá pouco menos de 9 minutos. Lula, quase 8 minutos e 30 segundos por bloco. A diferença pode aumentar a favor do tucano se PDT e Prona desistirem de lançar Cristovam Buarque (DF) e Enéas Carneiro. Uma adesão do PPS ao tucano também daria mais tempo.

Se esses dois pré-candidatos tiverem a candidatura confirmada, ambos terão mais tempo de propaganda que a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL). Conta no rateio do tempo o número de deputados de cada partido no início da atual legislatura, em fevereiro de 2003. Então, o PSOL nem existia.

Moeda de troca

O tempo de propaganda eleitoral gratuita é a grande moeda da fase dos arranjos eleitorais. A perspectiva de o PMDB não lançar candidato nem apoiar formalmente nenhum dos dois principais adversários ao Planalto tem peso considerável na contabilidade do tempo de propaganda. Caso se coliguem ao PT ou ao PSDB, os peemedebistas garantiriam ao aliado cerca de 3 minutos adicionais em cada bloco, 6 por dia ou 18 minutos a mais por semana.

A propaganda gratuita irá ao ar nos 45 dias que antecedem a antevéspera da eleição. A propaganda dos candidatos à Presidência da República irá ao ar às terças e quintas e aos sábados, sempre em dois blocos diários e em horários nobres: com início às 7h e 12h, no rádio, e 13h e 20h30 na televisão.

A lei eleitoral usa dois critérios para dividir o tempo. Um terço do horário é dividido igualmente entre os candidatos. Os outros dois terços são divididos conforme o número de representantes dos partidos ou coligações na Câmara no início da atual legislatura.’



CHINA
Folha de S. Paulo

Governo tira ‘O Código Da Vinci’ de cartaz

‘O governo chinês suspendeu a exibição do polêmico filme ‘O Código Da Vinci’ nos cinemas do país sob a alegação de que pretende dar mais espaço para a produção cinematográfica local.

No entanto ‘Missão Impossível 3’, outro blockbuster americano, irá estrear nos cinemas chineses no mês que vem.

Segundo o jornal ‘China Daily’, ligado ao governo chinês, existe, porém, a possibilidade de que ‘O Código Da Vinci’ prossiga em cartaz. O diário cita a disposição de um distribuidor chinês de manter a produção em exibição.

A decisão do governo chinês estaria ligada aos protestos de diversos grupos religiosos do país. Integrantes da Igreja Católica chinesa já haviam pedido o boicote da população ao filme.

Com agências internacionais’



ENTREVISTA / ANTONIO FAGUNDES
Laura Mattos e Gustavo Fioratti

O Dono Do Mundo

‘Se os fãs já eram inconvenientes na era do autógrafo no papel, em tempos de celular com câmera digital eles se tornaram um verdadeiro inferno. Aos 57 anos, 40 de profissão, o ator Antonio Fagundes perde o bom humor com a mania de tirar foto de famosos em todo lugar. Acha que espectadores de teatro continuam inconvenientes, mesmo após ter criado ‘Sete Minutos’ (2002) só para reclamar de pecados da platéia. Em cartaz em São Paulo com ‘As Mulheres da Minha Vida’, elogiado pela crítica e já visto por mais de 110 mil pessoas, já interrompeu a peça porque um homem ‘tossia tanto que parecia que o pulmão ia sair’. Fagundes admite que possa ter fama de chato, arrogante, mas não se importa. Também está no cinema com ‘Achados e Perdidos’, estreou na semana passada a quarta temporada de ‘Carga Pesada’ e planeja transformar a série em filme. À Folha, ele falou na semana passada com simpatia. Leia abaixo.

FOLHA – Em ‘Sete Minutos’, o sr. reclamava do comportamento do público no teatro. De lá para este novo espetáculo algo mudou?

ANTONIO FAGUNDES – Não. Mudou para mim; pelo menos falei a eles o que penso disso. Fiquei mais de dois anos falando para um público grande, mais de 200 mil espectadores, o DVD está aí. Mas até hoje toca o celular durante o espetáculo, é um inferno. Tenho impressão de que eles se habituaram com isso, mas incomoda algumas pessoas. Outro dia parei a peça, há anos não fazia isso, até porque havia escrito ‘Sete Minutos’ para isso, não estava agüentando, tinha que falar. Comecei ‘As Mulheres da Minha Vida’ e tinha um homem com uma tosse tão violenta que eu não conseguia ouvir minha companheira em cena. Era uma tosse que parecia que o pulmão ia sair. Pensei: ‘Além de estar me incomodando, ninguém está ouvindo nada’. Parei e falei: ‘O sr. está passando mal? Deve ter algum médico na platéia’.

FOLHA – Coitado [risos]…

FAGUNDES – Coitado, não. Ele não tossiu mais. O que faz esse cara tossir assim e de repente parar e ficar assim? Tem alguma coisa louca aí, não? Mas fui muito gentil, e a platéia riu.

FOLHA – Esse tipo de atitude, como ao não admitir nem um minuto de atraso, criou um folclore?

FAGUNDES – Nem 30 segundos. Quando comecei isso, foi para atender a platéia. É a coisa da lei no Brasil. Como fazer com que seja cumprida, se não é seguida à risca? Se matar alguém, você vai mais ou menos preso? Por que tolerar o atraso de 15 minutos e não um de 16? Não é para castigar, mas para respeitar quem chega na hora.

FOLHA – É pontual na vida pessoal?

FAGUNDES – Sim. É de boa educação. E não tenho saída, preciso me organizar. Se comer mais cinco minutos, não consigo entrar em cena na hora. Minha vida é regida por essa disciplina.

FOLHA – E se uma mulher chegar atrasada a um encontro romântico?

FAGUNDES – Chegou atrasada? Vai chegar uma vez só. Na segunda, não espero.

FOLHA – O sr. adquiriu certa aura de arrogante, de não gostar de dar autógrafos. Em Amparo [interior de SP], onde gravou ‘O Rei do Gado’ [1996/97], moradores que foram figurantes dizem que o sr. é chato.

FAGUNDES – É mesmo? Por todo lugar que passo ganho essa fama. Sou sempre bem-humorado, mas aí a gente esbarra no problema da educação. Ninguém pergunta em que condições as pessoas descobriram que sou chato. Não consigo, por exemplo, ser simpático com alguém se estou enterrando um amigo e ele quer que eu tire foto com a família dele e dê autógrafo. É o meu limite. Tive que sair de um velório de um amigo, em que a polícia teve até de ser chamada. Confesso a você que fui extremamente antipático com aquelas 30 pessoas e serei novamente. Existem algumas ocasiões na vida em que a gente não pode ser simpático. Se tenho uma entrevista marcada, não posso perder o avião porque alguém acha que estou lá para tirar uma foto com ela, que nem sabe mexer na máquina. Vou embora correndo e ela me chamando de nojento [risos]. A coisa está complicando: antes era só autógrafo, agora é foto também, todo mundo está com câmera em todos os lugares.

FOLHA – Depois de tantos anos, como avalia o desentendimento que teve com o diretor Gerald Thomas?

FAGUNDES – Ele pensa radicalmente diferente de mim. Ele usa muito a palavra comercial, com a qual não concordo. Há coisas que o público gosta de ver e as que não gosta. Fora isso, é o mesmo público. Quando nos conhecemos, Gerald tinha um pé atrás com o que fazia sucesso. Mas tenho certeza de que ele está mudando, porque está fazendo até comédia.

FOLHA – O autor Carlos Lombardi disse que o convidaria para ‘Pé na Jaca’ [próxima novela das sete]. Será a sua volta às novelas?

FAGUNDES – Ele até falou que eu vou fazer um pai-de-santo [risos]. Acho que não, porque ‘Carga Pesada’ continua no ar e é um projeto muito querido.

Colaboraram VALMIR SANTOS, da Reportagem Local, e NELSON DE SÁ, colunista da Folha



***

‘A culpa não é do PT’, diz Fagundes

‘Leia a seguir a continuação da entrevista com Fagundes.

FOLHA – Depois de tantas peças políticas, optou por uma comercial, da Broadway. Por que a mudança?

ANTONIO FAGUNDES – Não há mudança. Acabei de fazer ‘Achados e Perdidos’, sobre um ex-delegado envolvido com esquadrão da morte, corrupção. Não acho que ‘As Mulheres da Minha Vida’ não seja um texto político. Não é talvez engajado, mas fala de relações pessoais. Todas as peças são políticas. Você prepara o cidadão para ficar 90 minutos se aliviando da tensão trazida pela sociedade, pela má distribuição de renda, e sair com a cabeça mais fresca.

FOLHA – O sr. fala em ampliar o público. Não há como trabalhar com um valor de ingresso mais baixo do que os R$ 40 de ‘As Mulheres…’?

FAGUNDES – Há o problema da meia-entrada, que nunca entendi. A cultura tem tão pouca força política que políticos acabam fazendo média em cima da gente. O teatro sempre foi elitista, desde a Grécia antiga.

FOLHA – O sr. é a favor de extinção da meia-entrada?

FAGUNDES – Sou. Talvez, se a gente abolisse a meia-entrada, os ingressos não seriam tão altos. Todo mundo paga meia. Então, como eu faço? Se pusesse o ingresso num valor mais razoável, estava perdido. E nós não repassamos ao público a inflação da produção.

FOLHA – O sr., que foi garoto-propaganda do PT, concorda com as críticas que Paulo Autran e Marco Nanini fizeram sobre Gil no ministério? Acha que ele abandonou o teatro?

FAGUNDES – A crítica pode ser pertinente dependendo do contexto. No contexto real, não existe ministro da Cultura que consiga fazer o que quer que seja em nenhuma área com 0,1% da dotação orçamentária. Você pode chamar o Goethe, que ele vai ficar fazendo discurso, como o Gil fica cantando. É preciso impedir que as igrejas comprem os teatros, reformar alguns, criar companhias estatais. O problema é financeiro, vontade política ele tem, mas de que adianta? Não é culpa do PT, mas dessa estrutura em que vivemos desde 1500. Nenhum partido tem projeto cultural. O Autran e o Nanini têm razão, mas não se pode particularizar.

FOLHA – E o PT não poderia ter feito isso, em sua avaliação?

FAGUNDES – Não esperava isso, porque não via em nenhuma plataforma do PT algo voltado à cultura. O grande mérito do artista ligado ao PT é que já sabia que não ia ganhar nada.

FOLHA – O sr. voltaria a fazer propaganda para o PT?

FAGUNDES – Não, parei há anos, quando percebi que o PT chegaria ao poder e que não teria a chance de me manifestar. Comecei a me sentir desconfortável em apoiar uma pessoa e saber que, se passasse a discordar dela, não teria espaço para falar. Mas sigo votando no PT.

FOLHA – Que avaliação faz sobre a crise do mensalão e a responsabilidade do presidente Lula?

FAGUNDES – Estamos muito em cima do laço para conversar sobre isso. Ainda não é história, é jornalismo não devidamente apurado. Tem um monte de coisa que a gente não sabe e é prematuro falar contra ou a favor. Preciso deixar a coisa esfriar. A gente sempre soube que democracia é a eleição entre o ruim e o pior. É claro que foi um banho de água fria em todos nós. Mas, enquanto o sistema não for reformado, qualquer partido terá o problema de esbarrar com caras corruptos. No Congresso, com 550 deputados, quantos são corruptos? Diria 498 e teria dificuldade de apontar os honestos.

FOLHA – O sr. participou de um movimento da Globo pela defesa da cultura brasileira. Os críticos dizem que, na verdade, a emissora pretende manter o controle da produção de conteúdo artístico do país.

FAGUNDES – A mesma animosidade que existia contra o PT existe contra a Globo no sentido contrário. Isso é um pecado, porque a Globo é a maior produtora de TV do mundo. Se tivéssemos a auto-estima alta, estaríamos nos vangloriando de ter a Globo. No dia em que a Globo acabar, vamos entender o que é TV, vamos sentir falta e será tarde. As TVs não se arriscam, elas copiam a Globo. Claro que há erros, mas a culpa talvez não seja só da Globo, mas do sistema de comunicação.

FOLHA – O seriado ‘Carga Pesada’ também vai virar um filme?

FAGUNDES – A gente tem essa idéia, até porque, de todos os seriados que viraram filme, o nosso é o que cabe mais. Mas ainda é só um desejo, uma nova luta, como foi da de voltar com a série. Fiquei dois anos tentando convencer a emissora.

FOLHA – O sr. já ganhou tudo quanto é título: o homem mais sexy, o bumbum mais bonito…

FAGUNDES – [interrompe] O bumbum?! Nem ‘Caras’ ousaria chegar a esse nível [risos].

FOLHA – Para isso, perto dos 60 anos, é preciso ser um metrossexual, cuidar da pele, do cabelo etc.?

FAGUNDES – Não, o máximo que faço é ser limpinho [risos]. Tomo banho todo dia, sou perfumadinho, corto as unhas…’

Sergio Salvia Coelho

Um artesão vigilante do ofício de ator

‘Livrando-se com desenvoltura de perguntas rasas, pairando sobre o charco das fofocas sem pretender atingir o Olímpo dos inovadores, Fagundes reivindica o caminho do meio: é um artesão.

Nem gênio nem celebridade instantânea, há décadas cumpre o papel de garantir uma iniciação ao teatro para quem o conhece das novelas -’o seu João e a dona Maria’, segundo sua cartilha.

Encerrar Fagundes no rótulo de ‘comercial’ seria esquecer momentos importantes de sua carreira, como ‘Morte Acidental de um Anarquista’, peça de Dario Fo na qual fazia a platéia repetir ‘o governo é sempre f.d.p.’ em uma época em que isso ainda não era tranqüilo.

Arriscou-se no experimental, embora relutante, tendo sido um dos primeiros atores brasileiros dirigidos por Gerald Thomas, em ‘Carmem com Filtro’.

Lembro-me de vê-lo diante de uma marca mais abstrata criada por Ulisses Cruz, em ‘Macbeth’, dividido entre a obediência devida por ofício ao diretor e a preocupação com a dona Maria, sua fã habitual: ‘Eu faço. Mas antes me explica por quê’.

Ator-empresário, nos moldes românticos de Kean a Procópio, e com um faro comprovado para o sucesso, seu teatro é aquele que ele gosta de fazer. Seu amor é pelo ritual em si, a fila na bilheteria, o silêncio na platéia, o debate com o público.

Suas brigas antológicas são sempre com os contraventores, os que querem banalizar a vulnerabilidade do artista que se apresenta ao vivo, por maus hábitos adquiridos diante da televisão.

Nem sempre concordei com as escolhas de Antonio Fagundes. Mas nunca duvidei de suas intenções -que são, em última análise, fazer frente à mediocridade que cada vez mais obscurece o ofício do ator.’



TELEVISÃO
Daniel Castro

Globo vai filmar épico ‘O Tempo e o Vento’

‘Diretor-geral de ‘Páginas da Vida’, que substitui ‘Belíssima’ em julho, Jayme Monjardim já está pensando em seu próximo trabalho. Na semana passada, ele adquiriu os direitos para o cinema de ‘O Tempo e o Vento’, clássico da literatura brasileira já transformado em novela (Excelsior, 1967) e em minissérie (Globo, 1985).

Monjardim, que estreou no cinema em 2004 com ‘Olga’, tem agora cinco anos para levar o extenso épico de Erico Verissimo (que conta a história da formação do Rio Grande do Sul) para a tela grande. A Globo Filmes é parceira no projeto.

O diretor da Globo já contratou dois escritores gaúchos para desenvolverem o roteiro: Ubirajara Ruas e Letícia Wierchowski (autora do livro ‘A Casa das Sete Mulheres’, que deu origem à minissérie homônima, dirigida por Monjardim).

Monjardim sabe o quanto será difícil condensar a obra de Verissimo em um bom roteiro. Prevê que o texto para o cinema terá pelo menos 20 versões. Mesmo assim, depois de todo esse trabalho, o diretor pretende traduzir o texto para o inglês e entregá-lo a um roteirista de renome internacional.

‘A responsabilidade de um roteiro sobre Erico Verissimo é muito grande. Você não pode correr risco, um roteiro mais ou menos não serve’, diz Monjardim, que não esconde a pretensão de conquistar novas platéias: ‘Não quero fazer o filme só para o Brasil’.

NASCE UM GALÃ 1Intérprete do Geléia de ‘Cobras & Lagartos’, o garoto Rafael Ciani, 13, está bombando. Com pouco mais de um mês no ar, já estreou no ranking dos cinco atores da Globo que mais recebem cartas de fãs.

NASCE UM GALÃ 2Ciani aparece em terceiro lugar no ranking, atrás apenas dos campeões de cartas Kayky Britto (que faz seu irmão em ‘Cobras & Lagartos’) e de Bruno Gagliasso (‘Sinhá Moça’), mas à frente de Guilherme Berenguer (‘Bang Bang’) e Marco Antônio Gimenez (‘Malhação’). Estar no ranking é quase uma garantia de emprego.

BOA IDÉIA Bilhetinho fixado por Xuxa Meneghel no camarim de Ana Maria Braga, na Globo de SP: ‘Pára de fumar, Aninha!’.

FUMAÇA MORTALAutor de ‘Belíssima’, Silvio de Abreu resolveu dar uma pista de quem é o misterioso personagem que manipula André (Marcello Antony). Ele fuma.

SUGESTÃO DE PAUTAO programa de Silvia Poppovic virou motivo de piada na Cultura. A ‘onda’ é especular que, depois de tratar de mau hálito de cachorro e de sudorese, o programa dedicará agora uma edição à flatulência.

VOCÊ DECIDECanal de filmes eróticos da Globosat, o Sexy Hot lança em julho sua versão do ‘Intercine’. Na sessão InterSexy, o assinante escolherá (inicialmente só pela internet) entre três opções o filme que quer ver. Os longas serão classificados em grupos como ‘fitas italianas’ ou ‘sessão com Alexandre Frota’.’

Bia Abramo

‘Cristal’ começa com inconsistências

‘NÃO DÁ muito para saber o que é ‘Cristal’. Olhando de relance, assistindo a uma cena isolada entre dois toques do controle remoto ou ouvindo um diálogo entre uma notícia das bolhas nos pés de Ronaldo e outra sobre a bunda de Ronaldinho, pode nos fazer supor, por um momento, que estamos diante de uma paródia.

Sério. A novela é de uma precariedade tão profunda e consistente que só pode ser programática, consciente daí se confundir com a paródia, quando se arremeda um gênero com fins humorísticos.

Como não é uma paródia e sim uma novela, uma novela com a missão de brigar no horário agora concorridíssimo das sete e, ainda por cima, que foi ‘vendida’ como uma espécie de volta em grande estilo do SBT à teledramaturgia, não dá para perdoar o excesso de inconsistências e a canhestrice geral do roteiro.

Segundo este último, estamos em São Paulo, 2006, no submundo da moda, do glamour, onde a empresária de um império, Vitória, resiste às propostas ‘revolucionárias’ do enteado de fazer uma coleção ‘prét-a-porter’, coisa que causou choque lá pelos anos 40, e isso apenas nos países que tinham uma alta costura expressiva, diga-se de passagem.

A executiva implacável e ‘workaholic’, entretanto, guarda um segredo de juventude: ela abandonou um bebê, fruto de um amor proibido entre ela, então empregada doméstica, e o patrãozinho, então prometido para a vida sacerdotal (um destino muito comum naqueles longínquos e lendários anos 80, dada a naturalidade com que é tratado o assunto pelo roteiro).

Esse bebê se tornará Cristal, uma modelo de sucesso (o que muito raramente acontece com gente na casa dos 20 anos).

Em ficção pelo menos razoável, as implausibilidades podem ser relevadas em nome da fluência. Agora, se o esforço é demasiado e nada mais ajuda, nem a dramaturgia frouxa, nem os diálogos artificiais (com erros crassos de concordância, ainda por cima), nem a canastrice geral das interpretações (com exceção de Eliana Guttman), as inverossimilhanças assumem o primeiro plano e impedem mesmo a fruição mais básica, mais rasa.

Essa aposta do SBT em novelas ‘latinas’ adaptadas (a ‘Cristal’ original é mexicana) já deu certo outras vezes, até mesmo como uma alternativa à Globo. Nesse cenário em que a Record ameaça a Globo clonando com eficiência o padrão global de qualidade, jogar todas as fichas numa novela em tudo mais retrógrada e incompetente é arriscadíssimo.’

Lucas Neves

Casseta ensina futebol para meninas

‘Ainda que possa ser tachado de oportunista, um almanaque eletrônico sobre futebol exibido em plena Copa do Mundo tem lá um coeficiente didático, sobretudo para os menos vidrados. Mas, se um dos apresentadores é o humorista Marcelo Madureira, as mulheres são o alvo e o passo a passo se chama ‘Futebol para Colorir’, elas torcerão o nariz, certo?

‘Nada disso. Temos recebido milhares de e-mails de agradecimento de mulheres que finalmente conseguiram entender o futebol’, ironiza Madureira, sobre a recepção ao quadro do ‘Sem Controle’ (GNT, segundas, às 23h45), que ganha edições especiais durante a Copa.

Depois de lições sobre uniformes e posições dos jogadores, o curso chega à reta final com ‘aulas’ sobre os grandes craques (amanhã) e a importância da pelada (dia 19). O diploma vem no dia 26, com a preleção sobre o impedimento.

Em tom de ‘plantão Casseta’, o humorista brinca que o tema da ‘prova final’ foi escolhido ‘com base em estudos da Universidade Stanford que mostram a incompreensão do impedimento pela mulher’. A cúpula do canal até interferiu na criação do quadro, mas sem podar os arroubos machistas. ‘A Letícia Muhana [diretora-geral] me pediu para ir explicar o impedimento pessoalmente.’

Depois de ‘Futebol’, Madureira e o jornalista Artur Dapieve -também apresentador- preparam os fascículos de ‘Baratas para Colorir’ (controle de fobias) e ‘Automóveis para Colorir’ (guia de direção).

No cinema, Madureira lança em setembro ‘Seus Problemas Acabaram’, segundo longa dos ‘cassetas’. ‘Esse está mais referenciado no mercado e traz personagens como Fucker & Sucker e seu Creysson. O primeiro [‘A Taça do Mundo é Nossa’, de 2003] foi um tributo à nossa geração, mas era muito sofisticado para os jovens.’’



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