Monday, 23 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha de S. Paulo


CAMPANHA
Kamila Fernandes


Irmão de Ciro vai usar sócio de Duda na campanha


‘O candidato ao governo do Ceará Cid Gomes (PSB), irmão do ex-ministro da
Integração Nacional Ciro Gomes, contratou como responsável por sua propaganda
eleitoral o publicitário Eduardo de Matos Freiha, sócio de Duda Mendonça. Freiha
é apontado como beneficiário de remessas ilegais feitas por ele ao exterior.


Nas campanhas anteriores do grupo cirista, quem sempre comandava a propaganda
era um cunhado de Ciro e Cid, Einhart Jácome da Paz, que fez inclusive a última
campanha de Ciro à Presidência, em 2002. Einhart é o marqueteiro que inventou a
mão espalmada com as prioridades de Fernando Henrique Cardoso em 1994.


Ciro terminou o primeiro turno em quarto lugar, mas se engajou na campanha de
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência. Einhart passou então a ajudar Duda
Mendonça na produção dos programas diários das campanhas do PT ao Planalto e ao
governo paulista.


Desta vez, segundo o coordenador da campanha de Cid, Arialdo Pinho, Einhart
permanecerá fora da campanha. ‘Essa é a campanha do Cid, não do Ciro’, disse.
Mas foi o próprio Einhart quem aproximou os ciristas do novo publicitário.


A empresa de Freiha é a MPC Marketing, Pesquisa e Comunicação Ltda, de São
Paulo, desconhecida no mercado cearense. Se, por um lado, a contratação de
Freiha dá um ar mais profissional à campanha de Cid, por outro, pode se tornar
um motivo de problemas, ao tornar sua candidatura mais vulnerável aos ataques
dos adversários. Isso porque o publicitário aparece como um dos beneficiários de
remessas ilegais feitas por Duda Mendonça ao exterior em 2003.


Depósito no exterior


Como publicado pela Folha no último dia 30 de abril, Freiha, segundo
documentos de autoridades norte-americanas, era procurador da Pirulito Company
Ltd., offshore sediada nas Bahamas que recebeu, em julho de 2003, um depósito de
US$ 875.338.


A Folha procurou o publicitário, mas não o encontrou. Segundo a coordenação
da campanha de Cid, a decisão da contratação da empresa foi ‘técnica’, em razão
do ‘melhor custo/benefício’. A empresa foi selecionada entre outras seis
companhias, disse a coordenação, e ‘tal especulação não vai interferir no
trabalho’.


Cid Gomes é o principal opositor do governador Lúcio Alcântara (PSDB), que é
candidato à reeleição.


Para a propaganda eleitoral, os tucanos cearenses chamaram um marqueteiro
conhecido do grupo, Ricardo Alcântara, que trabalhou na campanha passada. A
elaboração de pesquisas ficará com Ivan Maurício, que até pouco tempo atrás
trabalhava com o sociólogo Antonio Lavareda, pela MCI.


Tanto a campanha de Lúcio como a de Cid prevêem gastar no máximo R$ 20
milhões.’


 


SELEÇÃO
Juca Kfouri


Máscara e carranca


‘Como fez o Dream Team-92, a seleção se enclausurou, só que não deu show


A SELEÇÃO brasileira primou pela antipatia na Alemanha. Cometeu o mesmo erro
do Dream Team norte-americano na Olimpíada de Barcelona, em 1992.


Então, estrelas como Michael Jordan e Magic Johnson eram inacessíveis e
trataram de se esconder num hotel cinco estrelas, bem longe da Vila Olímpica,
onde ficaram todos os outros milhares de atletas do mundo inteiro, os dos EUA
inclusive.


Mas a seleção brasileira nesta Copa não se limitou a cometer o mesmo erro
encastelada, literalmente, em luxuosas hospedagens e refratária a qualquer
contato com os habitantes das cidades por onde passou. Não fez o que mais
importava, devolver o carinho e a natural curiosidade com futebol de qualidade,
como o time dos sonhos do basquete ianque fez na Catalunha. É, porque a cada
exibição do quinteto, não havia antipatia que resistisse, e a aclamação era
inevitável.


Que não se estranhe, porém, a reclusão e a máscara dos jogadores brasileiros
-até Ronaldinho e Robinho andaram intragáveis. Porque, se o exemplo vem de cima,
o que dizer da carranca permanente de um Ricardo Teixeira (será que imagina que
cara fechada é sinônimo de seriedade ou respeitabilidade?) ou do ar azedo de um
burocrata como Américo Faria? Eles se orgulham de terem ganhado duas Copas, mas
não se envergonham de já terem perdido três, duas delas com os melhores atletas
do mundo no time. Em 90, a desculpa foi o noviciado. E em 98 e 2006? A
velhacaria?


Ao que tudo indica, sem o hexa que o fortaleceria em disputa pelo trono da
Fifa com Joseph Blatter na eleição de 2007, Teixeira recolheu-se ao projeto
inicial: ficar à frente da CBF para ‘organizar’ a Copa-14 no Brasil. Se em torno
do Pan-07, os chamados Jogos Abertos do Interior em língua espanhola, já
surgiram os problemas que estamos vendo, imagine o que ocorrerá de nebuloso em
torno de uma Copa aqui, quando haverá muito mais que venda casada de pacote
turístico com ingresso para os jogos, para a alegria de empreiteiros e certas
agências de propaganda.’


 


TELINHA
Daniel Castro


Gay da Record casa com mulher e é infeliz


‘Primeira novela das oito da Record, ‘Cidadão Brasileiro’ já saiu do armário.
E tem sido até mais ousada do que a Globo, que teve homossexuais em quatro de
suas últimas cinco tramas das 21h.


Na história de Lauro César Muniz, o médico Nilo (Thiago Chagas) tem uma forte
queda por Aguinaldo (Gustavo Haddad). Há duas semanas, os dois protagonizaram
uma seqüência que lembra o filme ‘Brokeback Mountain’. Numa pescaria, Aguinaldo
tirou a roupa para nadar e Nilo deixou evidente o seu desejo pelo rapaz. No
final, teve até massagem nas costas, mas tudo não passou disso.


‘O que me importa em ‘Cidadão Brasileiro’, que neste momento está em 1956, é
mostrar a dificuldade de um rapaz que entende que é homossexual em um mundo onde
não tem o menor espaço para viver plenamente sua sexualidade. O que ele faz?
Comete o erro de muitos naquela época: manter as aparências. Acaba aceitando o
casamento com Julieta, por conveniência’, diz Muniz.


Julieta (Vanessa Goulart) sabe que Nilo gosta de homens, mas crê que pode
‘curá-lo’.


O ex-Globo Muniz, que diz que nunca teve tanta liberdade para escrever como
agora na Record, não descarta no futuro inventar um parceiro para Nilo:


‘Meu foco é o casamento infeliz, mas, no futuro, se sentir que uma relação
com outro homem enriquece o personagem, farei cenas que sugiram isso’.


SEM CLÁSSICOS 1 A Globo desistiu de lançar um ousado CD de ‘Páginas da Vida’
só com músicas clássicas. A novela de Manoel Carlos continua com três CDs
previstos: um nacional, outro internacional e um de ‘lounge music’ (que
substitui o de clássicos).


SEM CLÁSSICOS 2 Na trama, há um personagem pianista clássico. Logo, os
telespectadores de ‘Páginas da Vida’ ouvirão trechos de obras de Mozart,
Beethoven e Chopin. Há também uma freira cantora (Selma Reis), que executa
músicas sacras na igreja e populares quando está longe da madre superiora do
convento.


MAIS CAETANO O tema de Helena (Regina Duarte), protagonista de ‘Páginas’,
será ‘So in Love’, de Cole Porter, por Caetano Veloso.


BABADO FORTE 1 Um tremendo mal-estar tomou conta dos profissionais que
trabalham no RecNov (o complexo de estúdios da Record no Rio) na semana passada.
Foram descobertas microcâmeras escondidas nas ilhas de edição, onde ficam os
diretores e editores de imagem durante as gravações.


BABADO FORTE 2 As câmeras, obviamente, estavam nas ilhas para vigiar
funcionários graduados da área artística. Mas ninguém assumiu responsabilidade
por elas.


COUVE DE BRUXELAS Lembra aquele menino que em um comercial vivia pedindo para
a mãe comprar brócolis? Pois ele se chama Rafael Miguel e foi contratado pelo
SBT. Será filho da personagem de Sabrina Greve em ‘Cristal’.’


 


FIM DO PODER
Silvana Arantes


Todos os filmes do presidente


‘O documentarista João Moreira Salles, que registrou em ‘Entreatos’ (2004) os
30 últimos dias da campanha que elegeu Luiz Inácio Lula da Silva para presidente
da República, gostaria de ter Lula novamente diante de sua câmera.


‘Minha idéia seria passar os dez últimos dias de poder com ele’, diz o
cineasta, em entrevista sobre ‘Primárias’ (1960), documentário do
norte-americano Robert Drew cuja edição em DVD sai agora no Brasil pelo selo
Videofilmes (de Salles).


Drew usou pela primeira vez na história do cinema um equipamento portátil
capaz de gravar imagem e som simultaneamente. Com ele, seguiu os passos dos
candidatos John F. Kennedy e Hubert Humphrey atrás dos eleitores do Wisconsin,
nos Estados Unidos. Distantes no tempo, ‘Primárias’ e ‘Entreatos’ (cuja edição
em DVD sai no próximo 14/11) são parentes próximos no cinema documentário.
Descubra por que na entrevista a seguir.


FOLHA – Robert Drew conta, na faixa comentada de ‘Primárias’, como propôs a
Kennedy, antes de sua posse, filmar ‘um presidente num momento de crise,
colocado contra a parede, tendo de tomar decisões difíceis’. É a raiz do
documentário ‘Crise’, que a Videofilmes irá lançar. O sr. propôs o mesmo a Lula?


JOÃO MOREIRA SALLES – Não. Terminei de filmar no dia seguinte à vitória e só
voltei a falar com Lula no dia da exibição de ‘Entreatos’ no Festival de
Brasília, dois anos mais tarde. Gostaria de filmá-lo mais uma vez, mas não
agora. Minha idéia seria passar os dez últimos dias de poder com ele. Assim,
teríamos os 30 dias que antecederam o poder e os dez últimos. Poderia ser
interessante.


FOLHA – Está em negociações com Lula para filmar o fim de seu mandato? Que
chances vê de isso ocorrer?


SALLES – Por enquanto é apenas uma idéia. Não conversei com ninguém a
respeito dela.


FOLHA – É fato que, originalmente, ‘Entreatos’ pretendia filmar as duas
campanhas simultaneamente, tal qual ‘Primárias’ faz? Por que esse plano foi
abandonado?


SALLES – A idéia original era muito difícil de ser realizada. Logisticamente,
não teríamos como acompanhar dois candidatos que se locomovem pelo Brasil em
aviões particulares, passando às vezes por quatro Estados no mesmo dia. Seria
caro demais. Além disso, é difícil pensar que conseguiríamos acesso ao coração
de uma campanha, se esta sabe que temos uma segunda equipe no coração da
campanha adversária.


FOLHA – Concorda que ‘Primárias’ tornou-se um filme de personagem,
protagonizado por J. F. Kennedy, a despeito da atenção isonômica do diretor aos
dois candidatos?


SALLES – O cinema direto retoma a idéia original de [Robert J.] Flaherty
[1884-1951], ou seja, a de um cinema não-ficcional baseado em personagens.
Nesses casos, vencerá sempre aquele personagem que tiver presença de câmera.
Kennedy tem carisma, Humphrey não. Drew exigiu que o tempo de tela dos dois
fosse o mesmo. Mas aritmética é uma coisa, presença é outra. Mesmo se Humphrey
ocupasse mais da metade do filme, ainda assim Kennedy seria o personagem
marcante. Isso independe até das simpatias ideológicas dos diretores. O
personagem carismático se impõe, sempre.


FOLHA – Drew diz que a experiência de seguir os candidatos mudou suas
opiniões anteriores sobre eles. É uma demonstração da impossibilidade de
observar sem interferir e sofrer interferência do que se observa?


SALLES – Sim. Sobre essa questão da imparcialidade da câmera no cinema direto
há muita confusão. Na origem do movimento, alguns pioneiros chegaram a defender
essa tese. Drew defendeu-a; de certa forma. Hoje, acredito que a verdade está no
meio do caminho. Quando se filma alguém durante tanto tempo, o tempo todo, a
consciência da câmera oscila. Ora é percebida e interfere na ação, ora não. O
essencial é que os momentos de inconsciência não são intrinsecamente melhores do
que aqueles em que o personagem sabe que está sendo filmado. Jean Rouch
[1917-2004] demonstrou que a encenação é sincera. Acredito nisso e, portanto,
não me importo em saber quando algo está sendo dito explicitamente para a
câmera.


FOLHA – É possível falar em espontaneidade numa situação por definição
encenada, como uma campanha política?


SALLES – A espontaneidade para mim é um conceito sem muito uso. O que seria
ser espontâneo? Em situação social, não estamos sempre encenando? É difícil
definir a espontaneidade. É verdade que todo candidato, por definição, é um
personagem, independentemente de estar ou não sendo filmado.


FOLHA – No texto introdutório a ‘Primárias’, o sr. diz que Drew não fez um
filme perfeito. Quais são seus defeitos e seu maior mérito?


SALLES – O mérito é a ousadia. Jogar fora tudo o que se fazia no documentário
há pelo menos 30 anos. Abandonar trilha, entrevistas, tripés, quase toda
narração. Inventar um equipamento revolucionário, o grupo sincrônico leve, capaz
de acompanhar a ação e não mais ditá-la. Ter a paciência de esperar oito anos
até tudo ficar pronto. As imperfeições são conseqüência desse pioneirismo. Como
é o primeiro filme do gênero, nem tudo está nos eixos. Não conseguem se livrar
inteiramente da narração. A câmera se aproxima dos personagens, mas não a ponto
de sabermos quem são, o que pensam. O cinema direto será um cinema não mais da
descrição, mas da experiência: o espectador sentindo-se na ação; ‘Primárias’
chega perto, mas não atinge inteiramente o objetivo.


FOLHA – Acredita que ‘Jogo de Cena’, próximo filme de Eduardo Coutinho, irá
inaugurar um dispositivo no gênero documental, ao promover a ida do documentado
até o documentarista, enquanto este permanece fixo num palco?


SALLES – Coutinho não gosta que se fale dos seus filmes antes que fiquem
prontos. Vou respeitar. Digo apenas que a novidade de ‘Jogo de Cena’ não me
parece ser propriamente esta, mas o fato de o filme se propor a embaralhar os
conceitos de espontaneidade e encenação.’


 


TV NOS EUA
Lucas Neves


Brasileiros conquistam fama na TV trash gringa


‘No meio da década de 80, pouco depois de chamar a atenção no oscarizado ‘O
Beijo da Mulher-Aranha’, Sonia Braga emplacou uma participação na sitcom ‘The
Cosby Show’ (à época, um dos programas mais assistidos da TV americana) e -ao
lado de Raul Julia, Andy Garcia e outros- reabriu o caminho dos latinos na
‘panelinha’ do showbiz norte-americano. Vinte anos depois, em temporada
brasileira, ela grava a novela das oito que estréia amanhã, ‘Páginas da
Vida’.


A TV norte-americana, porém, continua a ter seus representantes brasileiros;
os programas, no entanto, são outros, agora de gosto, digamos, questionável.
Seguem o modelo ‘reality show’, sem medo de flertar com o trash. E acredite: são
ou serão exibidos por aqui.


A começar pela atração comandada pelo cirurgião plástico Robert Rey,
paulistano da Lapa, radicado em Los Angeles há 32 anos. Ele estrela o ‘one-man
show’ ‘Dr. 90210’, sucesso do canal E! que cola cenas de sua rotina profissional
(e a previsível galeria de lábios leporinos e lipoesculturas) a ‘flagrantes’ da
vida doméstica. A agenda off-próteses de silicone inclui gravações para a versão
local do ‘TV Fama’ como dublê de repórter especializado em estética.


Sotaque carregado e tom exultante, ele contou por telefone à Folha que a
idéia era fazer de ‘Dr. 90210’ um contraponto ao perfil apresentado na série
dramática ‘Nip/Tuck’, protagonizada por dois cirurgiões com relações afetivas
quase tão frágeis quanto a auto-estima de seus pacientes. ‘Estava ofendido com o
programa, que mostra doutores como playboys sem ética que tomam drogas.’


Usando a si mesmo como exemplo, ele detalha a premissa ‘didática’ da atração.
‘Vivemos num mundo que não é real. Meus filhos vão à escola com os do
[apresentador da CNN] Larry King, da Jodie Foster. Faço clínica em rainhas e
mulheres de presidentes. A vida é fantástica, mas quando chego em casa, meu
cachorro faz cocô no chão da sala e minha mulher grita comigo. Queria mostrar
que sou normal.’


E ambicioso: ‘Para vencer aqui, você tem que ter a casa de US$ 5 milhões, tem
que criar a impressão de sucesso. O jogo aqui é de aparência!’ Já o medo é bem
palpável. ‘Durmo com um [revólver] 9mm debaixo do travesseiro. Los Angeles é uma
das cidades mais violentas do mundo.’ Planos de regressar para o Brasil? ‘Teria
que refazer a residência [para poder exercer a profissão]. Mas voltarei aos 60
anos como missionário cirúrgico.’


Se cumprir a promessa, terá repetido um gesto que foi decisivo para ele, há
três décadas. ‘Fui salvo por um grupo de missionários mórmons de Utah. Estava
roubando as lojas da Lapa. Hoje, metade dos moleques que andavam comigo morreram
ou estão na cadeia.’


Mas a bem-aventurança não tardaria: ‘Acabei em Harvard’. E o que a
providência divina não trouxe, Rey se encarrega de ajustar por intermédio do
programa. ‘Meu pai desapareceu. Pensava que ele tinha morrido. Outro dia, me
ligou pedindo dinheiro. Como parte do ‘Doctor’, vou visitá-lo em setembro e
perdoar o cara. Essa é a beleza do programa: mostrar que a vida não é
perfeita.’


Nota-se que Rey está bem à vontade no gênero ‘reality show’, assim como
esteve recentemente outro brasileiro, Ian McKee, 31, filho de pai
norte-americano e mãe sueca. O economista paulistano venceu a segunda edição do
reality ‘The Bachelorette’, no início de 2004, nos EUA. Dentre 25 candidatos,
ele foi escolhido pela maquiadora Meredith Phillips para ser seu par. O
paradeiro do rapaz é desconhecido, mas o romance azedou um ano depois do enlace,
segundo sites americanos.


Embaixadora sexy


Quem ainda não chegou aos EUA, mas representa o país na América Latina e na
Península Ibérica é a modelo Mirella Vieira, 28. No reality show ‘Hot Tour’, da
Playboy TV, ela se esmera em caras e bocas durante gincanas que incluem
strip-teases em cassinos de Punta del Este. Tudo para desbancar outras três
concorrentes sul-americanas e ser escolhida a garota mais sexy do pedaço.


A Miss Playboy TV Brasil esclarece que se trata de uma atração, na medida do
possível, bem-comportada. ‘Não é um nu ginecológico. É mais ‘light’, tem muito
glamour. É pornô, mas com um conceito diferente.’ E a singularidade seria…? ‘O
bom do programa é que tem muita cena natural, sem texto.’


Com ou sem falas, o fato é que Vieira não pensa em ser atriz. ‘Queria ser
apresentadora. O que tem a minha cara é um SporTV ou algo como o que a Penélope
[que comanda uma atração de perguntas e respostas sobre sexo] faz na
MTV.’’


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Folha de S. Paulo


Sábado, 8 de julho de 2006


COMPARAÇÕES
Clóvis Rossi


A bola e os políticos


‘SE VOCÊ pensa que só no Brasil político pega carona na seleção em busca de
prestígio, precisa ver o que está acontecendo na França.


Suponho que a TV brasileira tenha mostrado o presidente Jacques Chirac na
tribuna de honra, no dia em que a França eliminou o Brasil, cachecol tricolor
enrolado nas mãos. Até onde acompanhei, no estádio, Chirac não chegou a usá-lo,
ao contrário do que aconteceu em 1998, no Stade de France, quando a França
humilhou o Brasil.


Agora, Chirac prepara-se para viajar de novo à Alemanha, para a partida final
contra a Itália. Aliás, é bom dizer que Angela Merkel, a chanceler alemã, não
perdeu um jogo, embora, pela gesticulação, desse a entender que não é exatamente
especialista nesse esporte. O primeiro-ministro italiano Romano Prodi também
compareceu ao jogo contra a Alemanha.


Deve ser divertido ficar pertinho das autoridades nessas horas. Se são
fanáticos (e Chirac o é), ficam obrigados à contenção, para não ferir a
suscetibilidade do governante ao lado. Será que xingam baixinho a mãe do juiz?


Voltando à França e seus políticos: é tamanho o aproveitamento do êxito da
seleção que o pessoal acaba acreditando em duendes. Em 1998, na esteira do
título francês, as pesquisas mostraram um salto de 15 pontos percentuais no
prestígio de Chirac. E de 11 pontos para Lionel Jospin, então primeiro-ministro
(socialista, adversário do presidente).


Agora, quando presidente e primeiro-ministro são do mesmo grupo político,
apostam em recuperar popularidade à custa de Zidane e companhia. Talvez até
consigam, mas é tão efêmera que nem vale o esforço.


Basta lembrar que o Jospin dos 11 pontos a mais foi expelido do segundo turno
da eleição presidencial de 2002 pelo voto no ultradiretista e fascistóide
Jean-Marie Le Pen.


O primeiro-ministro Dominique de Villepin, candidato a candidato presidencial
em 2007, inferiorizado no seu grupo ante o ministro do Interior, Nicolas
Sarkozy, usa o exemplo da seleção para dar-se uma esperança: ‘Uma vitória [da
seleção] teria sobretudo o mérito de mostrar que nem tudo está escrito
antecipadamente’.


Tradução: ainda posso derrotar Sarkozy. Não é melhor o blablablá dos técnicos
e jogadores?’


 


Luis Fernando Vianna


O autismo e a política


‘RIO DE JANEIRO – As traquinagens mensaleiras do PT devastaram restos de
esperança que sobreviviam nessas terras. Para os pais de autistas, o bolo de
lama ainda veio com uma desnecessária cereja: a transformação do diagnóstico de
seus filhos em insulto político.


Chamar Lula, o governo ou a equipe econômica de autista virou bordão na boca
de colunistas de jornal (inclusive deste), empresários como Benjamin Steinbruch,
políticos como Aécio Neves, Gustavo Krause e José Carlos Aleluia, intelectuais
como Marilena Chaui, Renato Lessa e Luiz Carlos Mendonça de Barros, e políticos
que já foram intelectuais como Fernando Henrique Cardoso.


Nunca se ouviu desses seres públicos qualquer palavra no sentido de construir
algo em prol dos autistas, embora a síndrome atinja uma em cada mil crianças
nascidas no mundo -o desinteresse deles ajuda a entender por que jamais se fez
um levantamento no Brasil. Mas, na hora de esbanjar ignorância e crueldade, eles
não falharam.


O estereótipo do autista como alguém ‘fechado em seu mundo’, base para os
insultos, é falho, para não dizer falso. Autistas têm dificuldades de linguagem,
interação e assimilação de convenções, mas podem, se amados e estimulados, ter
vida social no ‘nosso’ mundo.


Ao ajudar a estigmatizar a palavra ‘autista’, pondo-a no mesmo rol de outras
expressões pejorativas, esses seres públicos reduzem a chance dos autistas de
também serem públicos. Chatice politicamente correta? Só pensa assim quem não
conhece o assunto.


Por causa de suas limitações, autistas não são hábeis para mentir, para
enganar, para falar palavras em que não acreditam. Como diz o pai de um deles,
um autista pode ser tudo, mas jamais será um canalha.


Já os políticos…’


 


CAMPANHA
Valdo Cruz e Eduardo Scolese


Lula quer usar visitas a órgãos públicos na TV


‘Ao visitar ontem o Dnit (Departamento Nacional de Infra-estrutura de
Transportes), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocou em prática uma
estratégia de campanha: a agenda de gestão. A partir de agora, Lula quer fazer
esse tipo de visita a outros órgãos para mostrar que vai cobrar o andamento de
projetos do governo.


A intenção é usar, depois, imagens dessas visitas, classificadas de agenda de
gestão, no programa eleitoral gratuito na busca de exibir um presidente em ação,
enquanto seus adversários fazem campanha.


Será uma forma disfarçada de campanha, já que, no horário de expediente, ele
tem limitações para atuar como candidato. Lula já analisa a possibilidade de
abandonar a idéia de fazer viagens de ‘vistorias’ a obras. A mudança em estudo
deve-se ao medo de ações na Justiça Eleitoral. O governo quer evitar o risco de
que uma viagem de vistoria a obras saia do controle e se transforme num ato de
campanha, abrindo a possibilidade de questionamentos no TSE. Segundo o ministro
Tarso Genro (Relações Institucionais), é difícil controlar a militância, que,
numa visita de Lula, pode aparecer com bandeiras e faixas, convertendo o evento
em ato eleitoral.


Em sua visita ontem ao Dnit, Lula demonstrou que fará cobranças aos
subordinados, ao sugerir que eles sejam ‘duros’ e ‘exigentes’ na fiscalização
das obras de recuperação das vias pelo país.


Durante a explanação do ministro Paulo Passos (Transportes), Lula se mostrou
sonolento e aparentava dores no pescoço. Ele demonstrou impaciência com Passos:
rejeitou o primeiro pedido dele para subir ao palanque (‘Não, aqui está bem’),
reclamou de sua fala (‘Eu pensei que você fosse falar sobre portos e ferrovias’)
e citou a imagem do Dnit (‘A fama de vocês não é boa na praça’). Lula admitiu
que a operação tapa-buraco começou por conta das denúncias da imprensa. Sobre as
dores no pescoço, Lula culpou a atuação pífia do Brasil na Copa: ‘Eu estou com o
pescoço duro de tanto olhar para o gol e esperar que a gente fosse marcar um gol
e não marcamos’.’


 


QUEM MANDA
Raphael Gomide


Tráfico impede imprensa de entrar em favela carioca com candidato


‘Um dia após a militância do candidato tucano ao governo do Estado do Rio,
Eduardo Paes, ser ameaçada pelo tráfico caso entrasse em morro na Penha (zona
norte), os traficantes do Jacarezinho impediram ontem a imprensa de acompanhar o
senador Marcelo Crivella (PRB), em campanha no local.


Reunidos em uma das entradas da favela, os jornalistas foram avisados por
assessor de Crivella de que integrantes da associação de moradores os proibiram
de entrar. O candidato percorreu as ruas do local seguido apenas de assessores e
não manifestou surpresa, embora tenha dito que já viveu o problema em outras
campanhas e considera a situação ‘antidemocrática’.


‘Vocês sabem que não pode entrar, né? Desde quando fui candidato a prefeito
[2004] a comunidade fazia restrição à entrada de repórteres. Aconteceu em muitos
lugares. É coisa do cotidiano da cidade, mas normal não é. Agride o princípio
democrático de andar em todos os lugares.’


Questionado sobre se a proibição era da comunidade ou de traficantes locais,
disse que era da comunidade. ‘Tem que perguntar a eles por quê, não a mim’,
afirmou. Segundo a assessoria de Crivella, o aviso da proibição foi dado por
integrante da equipe da campanha que mora no local. Na véspera, dois homens em
uma moto intimidaram militantes de Paes que distribuíam panfletos.


Apesar da aparente insegurança, o senador disse que nunca teve problema em
favelas com presença do tráfico. O bispo da Igreja Universal do Reino de Deus
conta que já rezou pelos traficantes. ‘Sou bispo e me pedem orações, inclusive
pessoas ligadas ao tráfico. Faço oração e sugiro que sigam um caminho
melhor.’’


 


TELINHA
Daniel Castro


Denúncia contra médico na TV cresce 142%


‘O Conselho Regional de Medicina (CRM) de São Paulo recebeu no ano passado 29
denúncias contra médicos acusados de infringir o Código de Ética Médica ao se
autopromoverem em programas de TV.


O número de denúncias cresceu 142% em relação a 2004 (12). Houve uma
‘explosão’, impulsionada pela onda de quadros que promovem cirurgias plásticas.
As 29 reclamações do ano passado representam quase metade das 60 recebidas pelo
CRM desde 2000.


A rigor, médicos só podem aparecer na TV em ações educativas ou
esclarecedoras _são os casos de Jairo Bouer e Drauzio Varella, segundo o CRM. O
Código de Ética Médica proíbe o médico de ‘divulgar informação de forma
sensacionalista, promocional ou de conteúdo inverídico’, bem como estimular
procedimentos não comprovados ou expor pacientes.


Levantamento inédito do CRM mostra que ‘Boa Noite Brasil’ (Band, 11
denúncias), ‘Domingo Legal’ (10), ‘Superpop’ (6, Rede TV!) e ‘Programa do
Ratinho’ (5, SBT) são os campeões de reclamações.


Na semana passada, o CRM enviou carta à Rede TV! pedindo que a emissora
reveja a decisão de exibir uma cirurgia plástica a que deverá se submeter a
apresentadora Monique Evans.


Desde 2000, o CRM julgou 137 médicos que usaram inadequadamente a mídia (não
só a televisão). Sete foram cassados e 29, absolvidos.


FAMOSOS NO GELO 1


A Globo começou ontem a ‘prospectar’ artistas e celebridades que sabem
patinar. A emissora prepara a estréia no ‘Domingão do Faustão’ de um concurso de
coreografias em um ringue de patinação no gelo.


FAMOSOS NO GELO 2


Para não ser acusada de plágio, como em ‘Dança dos Famosos’ (cujo formato
original foi comprado pelo SBT), a Globo fechou anteontem com a Fox a aquisição
dos direitos de ‘Dança no Gelo’, programa que servirá de base para o novo quadro
do ‘Domingão’.


AGORA VAI


A Band distribuiu ontem nota oficial informando que finalmente, após dois
anos de negociação, fechou acordo com a rede portuguesa RTP para produzir
novelas no Brasil.


COMO ASSIM?


A atriz Mayara Magri, que atualmente dá as cartas nas novelas do SBT, tem
circulado pela emissora ao lado de uma mulher que diz que ‘lê’ a aura das
pessoas. Mayara é mulher de Herval Rossano, diretor de teledramaturgia do
SBT.


TROCA-TROCA 1


A Record começa a gravar segunda-feira o ‘reality show’ ‘Troca de Família’,
licenciamento do original ‘Trading Spouses’, da Fox. No programa, a mãe/mulher
de uma família vai morar sete dias na casa de outra família, e vice-versa.


TROCA-TROCA 2


O primeiro ‘intercâmbio’ será entre uma família de São Paulo e outra de
Brasília. Haverá gravações em Águas de Lindóia, Porto Alegre, Salvador e Rio.
Estréia em 1º de outubro.’


 


CINEMA
Iuri Dantas


Nova regra de classificação de filme transfere decisão ao pai


‘Depois de dois anos e meio de discussões, o Ministério da Justiça decidiu
transferir aos pais e à sociedade o cumprimento da classificação indicativa de
filmes e diversões públicas. A partir da próxima semana, os responsáveis que
assim julgarem coerente poderão levar filhos de qualquer idade para sessões
classificadas como impróprias para menores de 16 anos. O pai ou um responsável
precisa acompanhar o jovem.


‘O maior avanço foi o consenso sobre a necessidade de informar à família
sobre o conteúdo’, afirmou José Eduardo Romão, diretor de Classificação da
pasta.


A indicação do filme -ER (especialmente recomendado), livre, e 10, 12, 14, 16
e 18 anos- aparecerá como um ícone colorido antes da apresentação. Haverá menção
ao motivo da classificação: cenas de sexo, drogas ou violência. A nova definição
de ER serve para filmes educativos, culturais ou de promoção dos direitos
humanos.


Com isso, o governo pretende aplicar nas diversões audiovisuais os mesmos
critérios do Estatuto da Criança e do Adolescente.


No caso dos cinemas, se para o pai não houver problema, o filho de 10 anos
poderá entrar num filme classificado para 16 anos. Isso não vale para a
classificação de 18 anos porque a lei determina esta como a idade adulta, com
responsabilidades individuais. Para permitir ao filho ver um filme classificado
para 18 anos, o pai precisa emancipá-lo em cartório.


O Ministério da Justiça publicará uma portaria com estas regras e um
formulário para os proprietários de cinema. Ele será usado se os
estabelecimentos ou outros pais questionarem a idade da criança ou adolescente.
O pai, então, assina um termo de responsabilidade.


Os ícones com a classificação aparecerão na TV aberta até o final do ano. No
caso de diversões públicas, como jogos de futebol ou shows, caberá aos
produtores divulgar a classificação. Para facilitar, o ministério disponibilizou
hoje um manual na internet, no site www.mj.gov.br.’


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