TELEVISÃO
Gugu ganha concessão de emissora de TV em Cuiabá
‘O apresentador de televisão Augusto Liberato, o Gugu, conseguiu, enfim, sua
emissora de televisão. Depois de ter uma concessão anulada no final do governo
Fernando Henrique Cardoso e após quatro anos de discussão judicial, ele foi
incluído no cadastro oficial do Ministério das Comunicações como acionista da TV
Pantanal Som e Imagem, de Cuiabá.
Liberato e a irmã, Aparecida Liberato Caetano, são oficialmente proprietários
de 49,99% da Pantanal. No contrato registrado em dezembro pela Junta Comercial
de Mato Grosso, o majoritário da empresa é a mulher de um empresário de Cáceres,
Vera Lúcia Klauk.
Em outubro de 2002, na eleição presidencial, o então ministro das
Comunicações, Juarez Quadros do Nascimento, anulou a concessão da mesma TV
Pantanal que havia sido outorgada a Liberato em agosto daquele ano.
O caso ganhou repercussão porque Gugu era âncora da campanha do candidato do
PSDB, José Serra, e porque o contrato de concessão foi declarado ilegal pela
Consultoria Jurídica do Ministério das Comunicações.
A legislação de radiodifusão só admite a venda de concessões de TV após
decorridos cinco anos de funcionamento da emissora, e Gugu havia comprado a
Pantanal dos antigos sócios antes de a emissora entrar em funcionamento. Até
hoje, a TV não foi inaugurada.
O apresentador contestou a decisão de Juarez Quadros no Superior Tribunal de
Justiça, mas o STJ confirmou o entendimento do ministério.
No ano passado, o atual ministro das Comunicações, Hélio Costa, autorizou uma
solução para a TV de Liberato: o apresentador e a irmã ‘devolveram’ a empresa
aos antigos sócios, retirando-se oficialmente da sociedade. Costa aceitou o
argumento de que o apresentador agiu de boa-fé, ao comprar a empresa antes do
prazo permitido por lei e assinou o contrato de concessão em nome dos antigos
sócios.
Na ocasião, o marido e procurador de Vera Klauk, Elvis Klauk, disse à Folha
que Gugu tinha perdido o interesse pelo negócio e que eles buscariam
financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social)
para colocar a TV no ar.
A retirada de Gugu do quadro societário foi recebida pelos executivos de
radiodifusão apenas como uma estratégia do apresentador para obter de volta a
concessão, porque ele já havia investido muito no canal.
Só a concessão custou R$ 1 milhão, tomando-se por base a proposta feita pela
Pantanal na licitação pública. Quando foi cancelada a concessão, o prédio e a
torre de transmissão da TV, em Cuiabá, já estavam construídos e a emissora já
tinha licença para retransmissão em quase todas as capitais.
Os sócios
A Folha obteve na Junta Comercial de Mato Grosso cópia da última alteração
contratual da Pantanal Som e Imagem, registrada no dia 5 de dezembro de 2006.
De acordo com o contrato, a empresa tem capital social de apenas R$ 50 mil.
Gugu aparece com uma participação societária de 39,99%, a irmã, 10% e Vera
Klauk, 50,1%.
O Ministério das Comunicações disse que não há restrição legal para a compra
de participação inferior a 50% nem necessidade de aprovação prévia do governo.
Um alto funcionário do ministério, que não quis ser identificado, disse que o
episódio Gugu é considerado superado pela gestão atual.
Em 2006, Costa foi criticado por autorizar a devolução da concessão à
Pantanal. O ex-ministro Juarez Quadros disse que o contrato tinha o mesmo vício
que levou à anulação da concessão a Gugu, em 2002.
A Pantanal foi criada em 1997, para disputar a licitação do canal da TV, em
nome de dois funcionários de empresas da família Klauk, em Cáceres: Mauro Uchaki
e Irinéia Moraes Silva. Após dois anos, quando a licitação estava em andamento,
98% do capital foi transferido para Vera Klauk o que era proibido pela
legislação do setor.
Mauro Uchaki disse à Folha, por telefone, que trabalhou até se aposentar como
auxiliar administrativo para a família Klauk e que apenas emprestara o nome para
o registro da empresa. Oficialmente, continuou como sócio até dezembro último.
Gugu Liberato não foi localizado pela reportagem. Segundo sua assessoria, ele
estaria com a família fora de São Paulo, incomunicável.
Colaborou LAURA MATTOS , da Reportagem Local’
Daniel Castro
Globo testa novos talentos em minissérie
‘Protagonista de ‘Cinema, Aspirinas e Urubus’, o baiano João Miguel encabeça
a lista das novas estrelas do cinema brasileiro. Já Júlio Adrião é festejado no
teatro _ganhou o prêmio Shell em 2005.
Ambos têm em comum o fato de serem promissores, mas absolutamente
desconhecidos do público que só vê TV. Os dois estarão na segunda fase da
minissérie ‘Amazônia’, no ar a partir de 13 de março.
A Globo usará a minissérie como um laboratório para João Miguel, Júlio Adrião
e outros dez atores praticamente estreantes em TV. Quem se destacar em
‘Amazônia’ poderá vir a fazer novelas. Marcos Schechtman, diretor-geral da
minissérie, afirma que os papéis foram escolhidos com muito cuidado, ‘para não
queimar os atores’ logo de cara.
Na minissérie, João Miguel será Heraldo, um ‘soldado da borracha’, como eram
chamados os nordestinos que foram trabalhar no Acre durante a Segunda Guerra
Mundial.
Júlio Adrião interpretará Távora, um ex-militante da Coluna Prestes que
acabará alfabetizando Chico Mendes.
A lista das apostas ainda tem Beto Quirino, um artista de rua em João Pessoa,
selecionado em testes. ‘A gente está se abrindo para o Brasil’, diz Schechtman.
E Carolina Holanda, uma pernambucana radicada em São Paulo. ‘Ela é linda,
excelente atriz e vai dar o que falar’, conta o diretor.
RELÓGIO 1 Ao contrário de ‘Páginas da Vida’, a próxima novela das oito,
‘Paraíso Tropical’, não terá problemas com gravações na véspera da exibição.
Pelo menos no que depender de seus autores, Gilberto Braga e Ricardo Linhares. A
novela entra no ar dia 5 com 32 capítulos escritos e o restante estruturado em
um livro de 96 páginas.
RELÓGIO 2 Mas as gravações de ‘Paraíso Tropical’ não estão tão adiantadas. A
cidade cenográfica só ficou pronta na semana passada. E o prédio do principal
hotel da história não está concluído.
PÁGINAS DA FOLIA Manoel Carlos, autor de ‘Páginas da Vida’, aproveita o
Carnaval para esboçar os últimos capítulos da novela, que acaba na semana que
vem. ‘Há finais que eu não resolvi ainda. Por exemplo, ainda não sei como vou
terminar a Marta [Lília Cabral]. Ela enlouquece? Morre? Viaja? Realmente, não
sei’, diz.
BILHETE ÚNICO 1 O humorista Tom Cavalcante vem pressionando a direção da
Record para que seu programa, o ‘Show do Tom’, seja exibido apenas nas noites de
sábado, sem reprises às terças. Cavalcante acha que o repeteco na terça-feira
desgasta o programa e confunde o público _além de dar menos audiência que a
edição inédita.
BILHETE ÚNICO 2 As exibições do ‘Show do Tom’ vêm crescendo no Ibope desde
outubro. Naquele mês, o programa marcou média de oito pontos. Em janeiro, fechou
com 11, quase o dobro do SBT no horário (seis).’
Lenise Pinheiro e Sylvia Colombo
Plástica divide diretores e atrizes
‘Para o diretor de teatro Rodolfo García Vázquez, do grupo Satyros, as
atrizes são como dois tipos de flor: as de plástico e as naturais. As de
plástico, diz, têm todas o mesmo aspecto, são industrializadas e carregam ‘uma
certa beleza brega, até serem queimadas e destruídas’.
Por outro lado, as naturais registrariam o tempo, seriam sensíveis ao vento e
à umidade, transpirariam vida. ‘Ter uma atriz que fez plástica em um espetáculo
meu seria como dar uma flor artificial a uma pessoa que eu amasse. Isso nem
passa pela minha cabeça’, conclui.
Se Vázquez é da turma dos radicais, a questão sobre manter ou não as rugas é
uma constante entre atrizes e diretores de teatro e cinema. Há quem defenda a
cirurgia, como a veterana atriz Tônia Carrero. E há quem acredite que os traços
da passagem dos anos podem dar mais credibilidade aos papéis.
A maioria, entretanto, concorda num ponto. A TV e sua ‘estética de elite’,
segundo Eduardo Tolentino (grupo Tapa), é a grande responsável por forçar as
atrizes mais velhas a tentar parecer mais jovens.
‘Quando encontro uma ruga, aproveito a oportunidade e jogo mesmo o foco
nela’, conta a cineasta Laís Bodansky, que estréia em agosto seu filme ‘Chega de
Saudade’, ambientado num baile da terceira idade. Bodansky acha que as rugas
ajudam a dar legitimidade às personagens mais idosas.
Beleza atemporal
Mantê-las ou não ainda é uma opção bastante pessoal. Norma Bengell, 71,
aposta na sua beleza atemporal. ‘Nunca fiz plástica, porque sempre quis ver a
vida passar pelo meu rosto’, diz a atriz. E isso faz diferença? ‘Sim. A TV, por
exemplo, pára de chamar você.’
O diretor Márcio Aurélio conta que teve dificuldades para encontrar uma atriz
mais velha para protagonizar ‘Digníssimo Filho da Mãe’, de Leilah Assumpção.
Hoje, diz ele, as atrizes com mais de 70 querem fazer papel de 40, ‘aí fazem um
monte de plástica e ficam com a cara toda torta, desfiguram a si mesmas e aos
personagens’.
José Celso Martinez Corrêa também condena o exagero da plástica. ‘Quando as
atrizes fazem isso demais, perdem a vibração, o ‘star appeal’, viram uma coisa
morta, a gente até leva um susto quando olha pra cara delas’, diz.
Beatriz Tragtemberg, 71, outra ‘invicta’, ataca o que considera ‘abusos’ do
mercado. ‘Sei de diretores que ligam para as atrizes e, antes de falar ‘Bom
dia’, perguntam: ‘Você está bonita?’.’ Tragtemberg fala da vontade de deixar os
‘traços do tempo’ brotarem. ‘Acho bonito. Temos de ficar bem por uma questão de
saúde, não para obedecer ao mercado.’
Pressão do mercado
Miriam Mehler, 71, que está em ‘Chega de Saudade’, fez plástica nos olhos há
12 anos. Depois, não se importou mais. ‘Quero aparentar minha idade, mas o
mercado quer a gente com menos rugas. Se não está bonitinha, não entra.’
Convocada por Bodansky, Conceição Senna nunca fez nenhuma intervenção e acha
que o mercado deve ser menos exigente, pois corre o risco de os personagens
perderem credibilidade. Senna diz que vive resistindo a pedidos de amigos e
familiares: ‘Me dizem que tenho que tirar a papada, puxar aqui ou ali. Não me
interesso. Na minha cara está a história da minha vida. Isso não tem preço’.
Para Maria Della Costa, 80, que já fez plástica nos olhos ‘há muito tempo’,
as pessoas em geral, não só a mídia ou o mercado, andam se preocupando com a
idade dos outros. ‘É a primeira pergunta que se faz quando se chega a algum
lugar novo.’ Vivendo em Paraty e longe dos palcos, Costa conta como sua época
era diferente.
‘Não tinha silicone nem botox, então ninguém se importava. Como eu era muito
bonita, minha preocupação era fazer personagens diferentes a toda hora, mais
velhos ou mais novos, para provar que também era boa atriz. Era com isso que eu
me importava’, diz.
Veterana da TV, Laura Cardoso, 79, nunca fez plástica nem pretende fazer. ‘A
plástica deforma as pessoas, as caras ficam sem expressão.’ Superativa, acaba de
fazer três filmes (‘Muito Gelo e Dois Dedos d’Água’; ‘Fica Comigo Esta Noite’ e
‘A Casa da Mãe Joana’). ‘Não conheço isso de não ter trabalho porque não fez
plástica. Eu não paro de trabalhar, para mim valem o talento e a qualidade do
papel.’
‘Uma boa atriz pode representar um personagem muito mais velho ou muito mais
novo. E eu gosto da minha cara, com as rugas que tem, e do meu corpo como ele é.
As rugas mostram a vida que eu tenho e a vida que vou ter. É comovente acumular
marcas, é bonito, a gente vê o que aconteceu com a gente, a vida que
passou.’’
***
Tônia Carrero e Cleyde Yáconis defendem bisturi
‘A veterana Tônia Carrero, 84, que já fez algumas cirurgias, tem vários
argumentos para defender o bisturi.
‘Enquanto o aspecto de moça ainda pode ser resgatado, enquanto ainda faz
sentido com relação ao sexo oposto, não há nenhum problema. É até bom fazer’,
diz a atriz.
Com a idade, os filhos e os netos, entretanto, ela acha que a situação é
outra.
‘Você acaba desistindo de consertar, é uma conseqüência. A partir daí, é o
tempo quem se encarrega de ajeitar o nosso corpo’, diz Carrero.
Outra que não é contra as correções, se forem necessárias para um papel
televisivo, é Cleyde Yáconis, 80, que só fez uma correção na pálpebra, há muito
tempo.
‘Eu não gosto desse meio, mas, às vezes, a gente tem que fazer. A vida das
atrizes não é fácil’, conta, rindo.
E completa: ‘Eu, por exemplo, toda vez que quero mudar de carro, faço algo
para a TV’.’
Bia Abramo
‘Vidas’ é resposta ficcional à realidade
‘A MARÉ , realmente, está para a Record. A novela da Globo é das piores dos
últimos tempos, com uma abundância de personagens francamente antipáticos,
chatos, não-atraentes e tramas bobas -é alguma espécie de sinal o fato de a
personagem do bem mais carismática ser um fantasma… O ‘Big Brother Brasil 7’ é
um desfile de não-acontecimentos com não-pessoas, do qual até seu diretor já se
cansou e pediu dispensa (depois negou, mas o mal já estava feito). Os
campeonatos estaduais estão naquele início modorrento e, para coroar, o
Palmeiras vai mal…
Nesse vácuo, ‘Vidas Opostas’ vem cavando aqui e ali seus recordes de
audiência -coisa que outras novelas da Record já tinham, de certa forma,
logrado- e fixando seu prestígio crítico -este, em certo sentido, é o feito
inédito de Marcílio Moraes.
O negócio é que, diante de um Rio de Janeiro em meio à disputa encarniçada
entre tráfico e milícias e de episódios como o da morte horrenda de João Hélio,
a novela tem conseguido produzir algo que pode se chamar de uma resposta
ficcional à altura. Não simplesmente por ser mais ou menos fiel à realidade, mas
justamente porque consegue ficcionalizá-la de modo mais verossímil.
Digamos, se a realidade entra a machadadas na trama de ‘Páginas da Vida’,
transformando seus personagens ora em vítimas, ora em observadores moralizantes,
em ‘Vidas Opostas’ ela ganha um tratamento dramático nuançado. Isso permite que
os elementos da realidade entrem no tecido da história e que o espectador possa
revivê-los de forma subjetiva, ao mesmo tempo mais rica em termos emocionais e
intelectuais e muito menos impositiva.
Além dos procedimentos menos conservadores, Moraes acertou em cheio ao se
abrir para as abordagens mais contemporâneas da violência e das relações sociais
que vêm aparecendo no cinema, sobretudo, mas também na literatura mais recente.
É essa textura, mais dos que os pontinhos aqui ou ali, que distinguem ‘Vidas
Opostas’ no cenário das novelas.
A MTV marcou um ponto ao veicular uma vinheta que destoa da posição das
outras emissoras comerciais em relação à classificação indicativa de faixas de
horário. A vinheta da Globo (e que passa também no SBT) ‘suborna’ a opinião
pública ao dizer que ‘ninguém melhor que os pais para decidir o que uma criança
deve ver’. Em última instância, pode até ser, mas aposto que a maioria dos pais
agradeceria se a TV, sobretudo a publicidade, fosse menos inimiga das tarefas
educacionais.’
CIÊNCIA & MÍDIA
Para inglês ver e ler
‘Não há escapatória: a ‘lingua franca’ da ciência hoje é o inglês. Quem
quiser ser visto e lido tem de dominar pelo menos o inglês científico, um patoá
escrito que não faz jus à língua materna de Shakespeare. É fato, não boato:
prosa científica é um troço chato.
Para se render à constatação, porém, não é necessário agachar-se. No Brasil,
andou grassando a mania dos nomes anglófilos para tudo. Já houve até uma
Organization for Nucleotide Sequencing and Analysis (Onsa, ou Organização para
Seqüenciamento e Análise de Nucleotídeos, protagonista do projeto genoma
bandeirante). Publicar em inglês tornou-se obrigação para cientistas naturais.
Primeiro, para ganhar visibilidade fora do país. Depois, para ter acesso aos
‘quality journals’ (periódicos de primeira linha), dotados de ‘peer review’
(revisão por pares) e ‘high impact factor’ (altos índices de impacto) que
embasbacam os apontadores de produtividade da burocracia financiadora. Nem tudo
que se publica em ciência, porém, tem interesse ou aplicação internacional.
Estudos biomédicos ou agrícolas, por exemplo, muitas vezes restringem-se a
fenômenos regionais.
Torná-los disponíveis para os diretamente afetados -especialistas em saúde ou
extensionistas rurais- é vital para melhorar seu desempenho. O dilema ‘inglês
versus português’ está no centro de artigo publicado por Rogério Meneghini e
Abel Packer -em inglês, decerto- no periódico ‘EMBO Reports’
(www.nature.com/embor/journal/v8/n2/full/7400906.html). Já traduzido, seu título
pergunta: ‘Existe Ciência Fora do Inglês?’ Meneghini e Packer são dois dos
motores por trás da iniciativa que mais fez, provavelmente, para aumentar a
visibilidade da ciência brasileira -interna e externamente. Trata-se da SciELO
(www.scielo.br), ou ‘Scientific Electronic Library Online’.
Como o nome diz -em inglês…-, o portal foi criado para dar acesso livre a
periódicos nacionais (175, hoje). Alguns são publicados diretamente em língua
inglesa, perfazendo 30% dos artigos disponíveis na base. Outros trazem, ao
menos, sumários (‘abstracts’) nesse idioma. Como a página na internet tem versão
em inglês, em princípio qualquer cientista do mundo pode pesquisar o que se
estuda, no Brasil, em sua área. A SciELO também tornou mais acessível, para
brasileiros e latino-americanos, a produção científica nacional. Não é preciso
saber inglês nem pagar para utilizar seu dispositivo de busca. Até jornalistas
conseguem usá-lo, e as consultas diárias a artigos já ultrapassam a média de 200
mil.
Apesar disso, apontam Meneghini e Packer, o idioma de publicação ainda
funciona como um divisor de águas. Dos cerca de 50 mil artigos científicos
produzidos anualmente por brasileiros, 18 mil entram na base de dados Web of
Science (‘teia da ciência’), principal ferramenta internacional de indexação.
Destes, só 2,7% saem em português. Publicar em língua nativa ainda significa, na
maioria dos casos, ver seu trabalho em periódicos de qualidade e impacto
inferiores.
A SciELO tem feito muito pela difusão da produção científica autóctone entre
aqueles que não dominam o inglês. Para que a nata dessa produção fique acessível
a todos, porém, seria preciso que congêneres poderosas, como a Web of Science,
divulgassem versões dos artigos seletos também na língua nativa de seus autores.
MARCELO LEITE é doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, autor do livro
paradidático ‘Pantanal, Mosaico das Águas’ (Editora Ática) e responsável pelo
blog Ciência em Dia (www.cienciaemdia.zip.net).’
CARNAVAL & MÍDIA
Lei de Incentivo à Candura
‘Neste Brasil, é bem pacata a mocidade, não anda armada nem sequer de
canivete. Enquanto os outros têm batalhas de verdade, nossas batalhas são
batalhas de confete. Nós vivemos no melhor pedaço da Terra, calma no Brasil que
a Europa está em guerra.
Assim cantava-se nos carnavais de mais de 60 anos atrás a marchinha ‘Calma no
Brasil’ , de Nássara e Frazão -uma das músicas resgatadas em ‘Sassaricando’,
espetáculo que superlotou teatro carioca.
A realidade parece ter multiplicado a letra da marchinha por menos um: a
Europa não está mais em guerra nem vivemos no melhor pedaço Terra. E grande
parte da mocidade está alistada numa batalha em que canivete não é mais arma nem
de pivetes -que preferem pistolas (leves e fáceis de manejar).
Ninguém canta mais a marchinha de Nássara e Frazão. É Carnaval, esse idílio
de democracia social, demonstrador da vocação do brasileiro para a alegria, este
porre anual de felicidade. Haverá quem lembre que as escolas de samba não são
mais como antigamente, quem reclame de que os sambas estão acelerados, os
carros, gigantescos demais, as mulheres, vestidas demais. A saudade é
instituição nacional.
Haverá quem reclame de que os brancos da zona sul tomaram conta dos blocos de
rua do Rio e que diga que Carnaval bom era no tempo do bonde. Saudosista é uma
profissão.
É Carnaval. Mesmo os reclamões irão se divertir e tentar preservar/
reconstruir/salvar as relações sociais de uma cidade encantada por si,
maltratada por todos.
A regra que vale nos próximos dias poderia ser batizada de Lei João
Bosco/Aldir Blanc de Incentivo à Candura: ‘Não põe corda no meu bloco, nem vem
com teu carro-chefe, não dá ordem ao pessoal. Não traz lema nem divisa, que a
gente não precisa que organizem nosso Carnaval’.’
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