MEMÓRIA / OCTAVIO FRIAS DE OLIVEIRA
Folha de S. Paulo
Missa para Octavio Frias será hoje em SP
‘Será realizada hoje em São Paulo, a partir das 10h30, a missa de sétimo dia pela morte do publisher da Folha, o empresário Octavio Frias de Oliveira.
A cerimônia será celebrada por d. Manuel Parrado Carral, 60, bispo auxiliar de São Paulo, na igreja Santuário Nossa Senhora do Rosário de Fátima (av. Dr. Arnaldo, 1.831, Sumaré, na zona oeste da capital).
Octavio Frias de Oliveira morreu aos 94 anos, na tarde do último domingo. O corpo do empresário foi sepultado na segunda-feira, no cemitério Gethsêmani, no Morumbi.
Estiveram no velório cerca de 600 pessoas, entre familiares, amigos, políticos, empresários e jornalistas. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, José Serra, e o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, foram à cerimônia.
Em novembro, como decorrência de uma queda, Frias foi submetido a cirurgia para remoção de um hematoma craniano. Teve alta hospitalar na passagem do ano. Suas condições clínicas pioraram nas últimas semanas, levando à instalação de um quadro de insuficiência renal grave.
Grupo Folha
Octavio Frias, que nasceu no Rio em 1912, começou a trabalhar aos 14 anos, como office-boy. Em 1930, aceitou um convite para trabalhar na Secretaria da Fazenda paulista, na qual dirigiu um departamento.
Foi sócio de banco, atuou no agronegócio e também no setor imobiliário. Entre os projetos que desenvolveu está o edifício Copan, projetado por Oscar Niemeyer a convite de Frias.
Em 1962, Frias adquiriu a Folha em sociedade com Carlos Caldeira Filho. O empresário fez do jornal a base de um conglomerado que reúne o maior portal de internet do país, o UOL, o jornal ‘Agora’, o Instituto Datafolha, a editora Publifolha, a gráfica Plural e o diário econômico ‘Valor’, este em parceria com as Organizações Globo.
Até seis meses atrás, o publisher participava do dia-a-dia do jornal, acompanhando os números da empresa, definindo a linha dos editoriais, criticando reportagens e recomendando pautas jornalísticas.’
TELEVISÃO
Rússia lança canal de TV para Oriente Médio
‘DA REUTERS – Na tentativa de resgatar a antiga influência soviética no Oriente Médio, a Rússia lançou ontem um canal de TV por satélite de notícias em árabe. O Rusiya al Yaum, com sede em Moscou, visa atingir 350 milhões de pessoas no Oriente Médio, norte da África e Europa.
Para autoridades russas, a visão do mundo sobre o país é ‘distorcida pelo viés de jornalistas estrangeiros’. ‘Poderemos, o quanto possível, informar o espectador árabe sobre o que ocorre na Rússia e levar a ele o ponto de vista russo sobre questões globais’, disse o editor-chefe do canal, Evgeny Sidorov.’
INTERNET
Contra o Google, Microsoft negocia a compra do Yahoo
‘A Microsoft começou a negociar a compra do Yahoo, de acordo com o ‘New York Post’. O negócio, que pode chegar a US$ 50 bilhões, seria uma tentativa da empresa de Bill Gates de conter os avanços do Google, líder do mercado de buscas e de publicidade na internet.
A transação não foi confirmada pelas assessoria de nenhuma das empresas. E, segundo o ‘Wall Street Journal’, o Yahoo não parece estar interessado em uma negociação com a Microsoft.
Não é a primeira vez que as duas empresas discutem uma possível fusão, mas, de acordo com o tablóide americano, desta vez a Microsoft apresenta ‘sinais de urgência’ que não estavam presentes nas negociações anteriores.
Ainda segundo o jornal, um dos motivos para a volta do interesse da Microsoft foi a compra no mês passado, pelo Google, do DoubleClick, por US$ 3,1 bilhões. Ela ganhou a disputa pela empresa de publicidade on-line da própria Microsoft e do Yahoo.
Publicidade
O mercado de publicidade é um dos setores que mais crescem na internet e é uma das principais apostas das empresas do setor. Nos primeiros três meses deste ano, o Google faturou US$ 3,6 bilhões com venda de publicidade pela internet, e o Yahoo, US$ 1,5 bilhão.
Enquanto a Microsoft apenas engatinha no setor, o Yahoo aposta no seu novo sistema, chamado de ‘Projeto Panamá’, lançado no primeiro trimestre deste ano depois de vários meses de atraso.
O sistema ainda não teve grande impacto no faturamento da empresa, mas o Yahoo aposta que isso começará a acontecer logo. A Microsoft tem um sistema de publicidade, o adCenter, mas ele não conseguiu atrair muitos usuários.
Nesta semana, o Yahoo anunciou a compra de 80% da Right Media, empresa de software de publicidade, por US$ 680 milhões. Ela já possuía os demais 20% da rival da DoubleClick, adquiridos em outubro de 2006 por US$ 40 milhões. A empresa também revelou no mês passado que fez uma parceria com mais de 260 jornais para a venda de publicidade.
Se a Microsoft se beneficiaria do sistema de publicidade do Yahoo, a vantagem da rival, segundo especialistas, seria o conhecimento técnico da empresa de Bill Gates, que cuidaria mais dessa área caso o negócio seja concretizado.
Outro motivo apontado pelo ‘New York Post’, que pertence a Rupert Murdoch (megaempresário da mídia que ofereceu nesta semana US$ bilhões pela Dow Jones -leia entrevista na pág. B12), é que o Google começou a competir com o Microsoft Office, o pacote de grande sucesso formado por programas como o Word e o PowerPoint. Ao contrário dos da rival, os softwares do Google são oferecidos on-line.
Juntos, Microsoft e Yahoo responderiam por 38,4% dos acessos a sites de busca nos Estados Unidos, contra 48,3% do Google, segundo a consultoria comScore.’
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Google é a empresa ‘dos sonhos’ de quem faz MBA
‘DA BLOOMBERG – O Google, que tem em suas instalações luminárias ‘lava lamp’, cafeterias gourmet e dá viagens para que seus funcionários possam esquiar, não é apenas o paraíso para os engenheiros do Vale do Silício (EUA). O grupo de mídia e internet é a nova empresa dos sonhos dos estudantes de administração.
A empresa de internet foi apontada como o lugar mais desejável para se trabalhar em pesquisa realizada com estudantes de cursos de MBA neste ano, segundo a Universum Inc., empresa de pesquisa de Filadélfia (EUA). A McKinsey & Co., que manteve a primeira posição no ranking da pesquisa por 12 anos consecutivos, ficou com a segunda posição.
O Google domina o mercado de anúncios vinculados a resultados de busca na internet e é uma das empresas de tecnologia de crescimento mais acelerado. Sediado em Mountain View, no Estado norte-americano da Califórnia, o Google quase dobrou seu número de funcionários no ano passado. Os empregados da empresa recebem uma enxurrada de benefícios, como refeições e traslados gratuitos para o trabalho e massagens no escritório.
‘(O Google) é literalmente a empresa dos sonhos de qualquer estudante de MBA’, disse Claudia Tattanelli, principal executiva da Universum.’
MERCADO EDITORIAL / EUA
Murdoch descarta interferir na redação do ‘Wall Street Journal’
‘DO ‘NEW YORK TIMES’ – Como qualquer leitor atento do ‘Wall Street Journal’, Rupert Murdoch tem suas opiniões.
‘Às vezes as reportagens longas me frustram’, disse, acrescentando que raramente lê certos artigos até o fim.
As páginas de opinião? Ele gosta delas, mas apreciaria ver mais cobertura política nas páginas de notícias. ‘Eu talvez enfatizasse Washington um pouco mais’, disse. Murdoch não é grande fã da edição de sábado do jornal, criada em 2005, mas a manteria, e tentaria converter a seção ‘Pursuits’ em uma revista de final de semana capaz de concorrer com a revista dominical do ‘New York Times’.
E embora não seja entusiasta da tecnologia, ele também disse ser leitor regular do colunista de tecnologia do jornal, Walter Mossberg, ainda que tenha acrescentado: ‘Não quero dizer que o compreenda perfeitamente’.
A maioria dos leitores se limita a escrever cartas à redação. Murdoch apresentou uma oferta de US$ 5 bilhões pela aquisição da empresa que controla o jornal, a Dow Jones.
Para ter sucesso, ele primeiro precisa conquistar a aprovação da família Bancroft, que controla a Dow Jones há 92 anos e até agora resistiu a todas as suas abordagens, em parte devido a preocupações quanto ao que Murdoch poderia fazer com o ‘Wall Street Journal’.
Sem interferência
O empresário insiste em que não interferiria com o jornalismo ou tomaria medidas radicais de corte do quadro de funcionários.
‘Não estamos chegando com uma equipe de corte de custos’, disse Musrdoch. Mas acrescentou: ‘Não quero dizer que tudo vai parecer um acampamento de férias para os envolvidos’.
Em entrevista no seu escritório de oitavo andar na região central de Manhattan, anteontem, Murdoch, que ocasionalmente consultava anotações em um bloco de folhas amarelas, discorreu sobre seus planos de investir no jornalismo da sua empresa, a News Corp., dando ao canal de negócios da Fox, que deve estrear em breve, o nome do ‘Wall Street Journal’.
Ele também falou do compromisso de sua família com a herança do jornal e, talvez o mais surpreendente, demonstrou empatia pela posição adotada pela família Bancroft diante de sua oferta.
A família, que detém 64% das ações com direito a voto, anunciou que 52% dessas ações se opõem à proposta de Murdoch. Os Bancroft não responderem aos convites do empresário para reuniões com ele e seus filhos, James, Lachlan e Elisabeth.
‘Minha intenção real é tentar obter uma reunião, e não impressioná-los com meu charme, se é que tenho algum. Quero impressioná-los com as intenções e sentimentos de meus filhos adultos’, disse Murdoch, tentando atenuar as preocupações quanto à sucessão na News Corp. enquanto se acomodava melhor em seu sofá.
Embora ele tenha afirmado que continua tentando conversar com os Bancroft como grupo, Murdoch afirmou que não tem planos pessoais para tentar impressionar os acionistas individuais que hesitam quanto à sua oferta.
Os fundos da família Bancroft, que representam cerca de 35 membros do clã, têm 24,7% das ações da Dow Jones, mas controlam 64,2% dos votos, por meio de ações com direitos especiais. Já que muitos outros acionistas apóiam a proposta de Murdoch, ele teria apenas de convencer alguns dos membros da família.
‘Não quero me ver na posição de colocar um Bancroft contra o outro. Meu objetivo não é causar problemas na família’, disse. ‘Nosso entendimento é que existem diversos membros da família que ainda não tomaram uma decisão definitiva’, afirmou.
‘Acredito que o próximo passo, para nós, é manter a paciência e nos mantermos a disposição caso eles respondam à minha sugestão para termos uma reunião’.
E se uma grande maioria da família terminar rejeitando sua oferta de maneira inequívoca? ‘Seria péssimo, mas, a depender de sua perspectiva, também seria admirável’, disse Murdoch sobre a maneira pela qual a atitude da família seria provavelmente percebida. ‘Creio que isso causaria muita discussão.’
Interesse antigo
Murdoch está interessado no ‘Wall Street Journal’ há muito tempo. Ele disse ter decidido apresentar uma proposta formal após anos de flertes. Sua oferta, no valor de US$ 60 por ação, um ágio de 67%, tinha por objetivo ‘atrair a atenção dos proprietários’, disse, embora reconheça que até mesmo alguns dos membros do conselho de sua empresa, que aprovou a proposta por unanimidade, a tenham considerado ‘insanamente alta’.
Murdoch precisa convencer não só os membros da família Bancroft mas o pessoal da redação do ‘Wall Street Journal’, muitos dos quais têm esperanças de que a oferta termine rejeitada.
Jesse Drucker, repórter e representante sindical do jornal, escreveu mensagem de e-mail aos seus colegas pedindo que enviassem mensagens curtas a três membros da família Bancroft: Leslie Hill, Christopher Bancroft e Elizabeth Steele.
‘Insisto em que vocês participem disso’, escreveu Drucker. ‘Os Bancroft estão sob tremenda pressão para aceitar a oferta da News Corp., e essa pressão só vai crescer caso Murdoch eleve a oferta, o que é provável’, dizia a mensagem do repórter-sindicalista.
Murdoch falou sobre sua educação no ramo do jornalismo e mencionou diversos títulos que diz ter revitalizado e salvo do desaparecimento no Reino Unido e na Austrália, origem de seu império.
Ele acrescentou que fundou empresas em todo o mundo, entre as quais a rede Fox de televisão e a rede Fox de notícias, nos Estados Unidos, em situações nas quais as pessoas viam os mercados como superlotados, e que se orgulha por expandir as opções de mídia disponíveis para os consumidores. ‘Minha carreira foi longa e não vou dizer que não tenha sido pontuada por erros’, afirmou.
Murdoch disse que, se houver possibilidade legal, mudaria o nome do Fox Business Channel e daria a ele a marca do ‘Wall Street Journal’.
Embora se tenha esforçado por explicar que se considera primordialmente um jornalista, profissão que aprendeu com seu pai, na Austrália, ele também tentou explicar que sua reputação como proprietário propenso a interferências não procedia.
Independência editorial
Murdoch disse que não interfere com as operações noticiosas de seus jornais mais sofisticados, embora assuma papel mais ativo nos tablóides como o ‘Sun’, de Londres, e o ‘New York Post’.
Acrescentou que proporia aos Bancroft o estabelecimento de um conselho separado para o jornal, encarregado de garantir sua independência editorial, como fez ao adquirir o ‘Times’ e o ‘Sunday Times’ londrinos, em 1981.
Ele afirmou que o conselho independente funciona, lembrando que o ‘Sunday Times’ se pronunciou vigorosamente pela queda de Margaret Thatcher, a quem Murdoch apoiava pessoalmente. Ele disse que ‘eu não sabia o que eles escreveriam’, e depois brincou: ‘Fingi que não tinha lido’.
Muita gente diz que o ‘Times’ se tornou mais populista ou comercial sob seu comando, mas Murdoch responde a essa descrição com um ‘de forma alguma’ e acrescenta que duplicou o espaço editorial e expandiu as sucursais internacionais do jornal.
E embora tenha afirmado que não interferiria diretamente nas operações do ‘Journal’, disse: ‘Creio que iria bastante à redação não todos os dias. Afinal, se o dinheiro da News Corporation estiver envolvido seria uma imensa negligência minha não acompanhar a situação de perto.’
Ele disse que admirava Richard Zannino, o presidente-executivo da Dow Jones, Marcus W. Brauchli, o diretor editorial do grupo, que assumiu o posto recentemente, e que os manteria em seus postos.
Murdoch afirmou que não transferiria editores da News Corp. para o jornal, mas afirmou que planejava consultar Robert Thomson, editor do ‘Times’ londrino e ex-editor da edição norte-americana do também londrino ‘Financial Times’, em busca de conselhos.
Empresa global
Ainda que tenha declarado que esperava obter lucros com seu investimento de US$ 5 bilhões, Murdoch disse, como o fez em sua carta aos Bancroft, que ser parte de uma grande empresa de alcance mundial permitiria investimentos de longo prazo.
Ele falou em revitalizar as edições européia e asiática do ‘Wall Street Journal’, que andam desprovidas de recursos, e sugeriu também que a globalização poderia aumentar ainda mais a importância internacional do jornal. Disse que os milhões de leitores da China e da Índia representam uma oportunidade imensa que não deve ser desperdiçada.
Murdoch disse que as recentes mudanças promovidas pelo comando da Dow Jones, como a redução das edições internacionais, promoviam a ‘eficiência’, e que sua empresa ‘adotaria um ponto de vista diferenciado para desenvolver um jornal que ofereça aos executivos e jornalistas mais recursos e mais investimento’.
‘Um ano atrás, eles tiveram lucros posteriores aos impostos de US$ 81 milhões e pagaram US$ 80 milhões em dividendos’, afirmou Murdoch. ‘Uma empresa não cresce dessa maneira’.
Tradução de PAULO MIGLIACCI’
Folha de S. Paulo
Reuters diz ter recebido oferta; Thomson pode ser a interessada
‘A agência de notícias Reuters informou ontem que recebeu uma oferta de compra. A companhia britânica não revelou o nome do interessado nem o valor da proposta, mas, segundo o jornal canadense ‘The Globe and Mail’, a oferta veio da rival canadense Thomson Corp.
As especulações do mercado também apontam que o Google pode ser o interessado pela Reuters, de acordo com a agência ‘France Presse’.
Em um comunicado, a Reuters disse que a oferta era ‘amigável’, que estava num estágio preliminar e que não havia certeza se ela iria ser concretizada.
Com o anúncio, as ações da Reuters subiram mais de 20% na Bolsa de Londres, e o valor de mercado da empresa superou os US$ 15 bilhões.
Juntas, Reuters e Thomson Financial (uma das empresas da canadense) alcançariam a liderança do mercado de dados industriais, superando a atual líder, a Bloomberg, empresa do prefeito de Nova York e possível candidato à presidência dos Estados Unidos, o republicano Michael Bloomberg.
Um porta-voz da Thomson não confirmou nem negou se a companhia fez uma oferta pela empresa britânica.
A proposta pela Reuters surgiu na mesma semana em que a News Corp., de Rupert Murdoch, ofereceu US$ 5 bilhões pela Dow Jones, dona do ‘Wall Street Journal’ e de agência de notícias, entre outros. Após o anúncio da proposta, Murdoch disse que ‘a grande coisa’ sobre informação financeira é ‘que você pode cobrar por ela’.
Qualquer oferta pela Reuters precisa ser aprovada por um fundo, criado para garantir que a sua integridade editorial não seja comprometida.
Com agências internacionais’
ENTREVISTAS
Clarice ‘repórter’ inibe entrevistados
‘Entrevistar escritores retraídos (como Rubem Braga), terrivelmente lacônicos (como Pablo Neruda) ou terrivelmente prolixos (como Nélida Piñon) não devia ser fácil. Mas a situação desses três autores (e de outras dezenas de personalidades dos anos 60 e 70, de Jorge Amado a Zagallo) era ainda mais difícil. A entrevistadora, famosa pelo ensimesmamento de seus contos e romances, chamava-se Clarice Lispector.
Trabalhando como repórter para o ‘Jornal do Brasil’ e para as revistas ‘Fatos e Fotos’ e ‘Manchete’, a autora de ‘Perto do Coração Selvagem’ era capaz de perguntas de adolescente, que costumava repetir a cada entrevistado: ‘o que é o amor?’ ou ‘qual a coisa mais importante do mundo?’
Poucos autores conseguem ser originais diante de indagações desse tipo. ‘Amor é dádiva, renúncia de si mesmo na aceitação do outro’, responde Fernando Sabino. Sem muita paciência, Neruda responde que ‘o amor é o amor’. Chico Buarque sai pela tangente: ‘não sei definir, e você?’ Ao que Clarice Lispector responde: ‘nem eu’. Zagallo, depois de pensar um tempo, dá sua versão: ‘é um sentimento recíproco’. ‘É bom estar apaixonada?’,
pergunta Clarice, banalmente, a Elis Regina. Banalmente, a cantora responde: ‘Bem melhor do que não sentir nada!’
Não por acaso, Clarice pede a Pablo Neruda que diga alguma coisa surpreendente. O poeta chileno responde: ‘748’. Surpresas mais autênticas, felizmente, acontecem de quando em quando.
Perguntando a Alceu de Amoroso Lima (1893-1983) o que ele sentiu diante das viagens à Lua, Clarice Lispector ouve o seguinte: ‘Não mais do que adolescente, em 1909, estando em Berlim, ao ler nos jornais que Blériot atravessara o Canal da Mancha de avião!’
Declarações de amor
A maior frustração de Fernando Sabino é a de não ter sido um santo. Millôr considera-se, no fundo, ‘um atleta frustrado’. Jorge Amado joga pôquer e confessa já ter escrito poesia, ‘da pior espécie possível’. A entrevistadora recebe também algumas discretas declarações de amor. Tom Jobim escreve um poema sobre seus olhos verdes. Hélio Pellegrino, numa das melhores entrevistas do livro, diz que se lhe fossem dadas outras vidas para viver, numa delas seria marido de Clarice Lispector, ‘a quem me dedicaria com veludosa e insone dedicação’. Referindo-se ao acidente que Clarice sofreu em 1967, Vinicius de Moraes murmura: ‘tenho tanta ternura pela sua mão queimada…’
Esta edição das entrevistas de Clarice Lispector, organizada por Claire Williams, difere em boa medida de uma coletânea anterior, feita pela própria autora. São agora 42 entrevistas, das quais apenas 23 já haviam sido publicadas em ‘De Corpo Inteiro’. Da nova edição, não constam nomes como Clóvis Bornay, Benedito Nunes, Mário Schemberg e João Paulo dos Reis Velloso. Entram Paulo Autran, João Saldanha, Lygia Fagundes Telles e Ferreira Gullar, entre outros.
O mais desbocado e extremo de todos eles é sem dúvida o cronista José Carlos de Oliveira, que, a bordo de muitos uísques, termina quase brigado com a entrevistadora, de quem se queixa: ‘Clarice Lispector, em vez de comer e beber comigo, tem que pensar em entrevistas para poder sobreviver’. Com certa amargura, resumiu o espírito de todo o livro.
CLARICE LISPECTOR: ENTREVISTAS
Autora: Clarice Lispector
Editora: Rocco
Quanto: Preço a definir (232 págs.)
Avaliação: regular’
TELEVISÃO
Denise Fraga improvisa em viagem latina
‘A Globo começou a gravar anteontem em São Paulo o novo quadro de Denise Fraga no ‘Fantástico’, o ‘Te Quiero América’, que estréia em 1º de julho. Nele, a atriz contracenará com o promissor João Miguel, protagonista de ‘Cinemas, Aspirinas e Urubus’.
Segundo Luiz Villaça, diretor artístico do ‘Fantástico’ e marido de Denise, o quadro nasceu da premissa de que o brasileiro não conhece seus ‘hermanos’ da América Latina. Assim, o ‘Te Quiero América’ percorrerá dez países em 11 episódios, ‘fugindo dos destinos encontrados em qualquer agência de turismo’. Serão duas viagens aos países vizinhos: uma de 12 de maio a 1º de junho e outra de 15 de junho a 7 de julho.
No quadro, Denise será Maria, vendedora de seguros que se apaixonará por Francisco (João Miguel). Após um encontro em São Paulo, ela se perde dele, mas decide reencontrá-lo de qualquer jeito. E começa sua peregrinação pela América Latina, a partir da Argentina.
O quadro está em produção há mais de um mês. Os seis profissionais da equipe participaram de ensaios e seminários e tiveram aulas de espanhol e de história com professores da USP. João Miguel também teve que aprender mágica.
Os atores trabalharão com roteiros e falas pré-determinadas, mas lidarão com o improviso o tempo todo, de acordo com Villaça, porque contracenarão com pessoas comuns.
GRANDE CHANCE A Globo vai testar Diego Gasques, o Alemão, como apresentador. O vencedor de ‘Big Brother Brasil 7’ entrará no ar ao vivo, com platéia, no intervalo das transmissões do futebol do domingo, dia 13.
FUMAÇA Circulam nos bastidores da Globo boatos de que a próxima novela das oito não será mais ‘Duas Caras’, de Aguinaldo Silva, porque parte da cúpula da emissora estaria temerosa de exibir uma terceira produção consecutiva ambientada no Rio. Um outro autor já estaria preparando uma nova história. O temor é verdadeiro, mas a Globo nega mudança em seus planos e confirma ‘Duas Caras’ para outubro.
PRECOCE Novo quadro do ‘Domingão do Faustão’, o ‘Circo do Faustão’ (ex-’Circo dos Famosos’) já registra sua primeira ‘eliminação’. A atriz e modelo Giane Albertoni foi descartada do elenco da atração, em que artistas farão números circenses. O motivo foi a redução do número de participantes, de oito para seis (três homens e três mulheres). Rodrigo Lombardi, de ‘Pé na Jaca’, estará no quadro.
REVIRAVOLTA Daniel, o personagem bonzinho de Fábio Assunção em ‘Paraíso Tropical’, começará a dar o troco em Olavo (Wagner Moura), que tanto já aprontou com ele. Na semana do dia 14, devido a uma informação obtida por Daniel, Olavo será destituído do cargo de diretor de operações do grupo empresarial de Antenor (Tony Ramos).’
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