Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

FEBRE AMARELA
Melchiades Filho

Temporão e o vento

‘BRASÍLIA – ‘Enorme especulação’, ‘exagero midiático’, ‘histeria coletiva’ e expressões similares pipocaram nas declarações da cúpula da Saúde sobre o surto de febre amarela enquanto o governo corria para imunizar os ministros e fumegar a Granja do Torto -e não para cuidar das internações, distribuir a vacina e fazer os esclarecimentos necessários à população.

Os casos de dengue também explodiram, de 345 mil para 560 mil em um ano. O ministério de novo sugeriu culpa do brasileiro: pobre, desinformado e pouco cidadão.

Até agora não houve explicação convincente para a arrancada da rubéola, de 1,6 mil a 6,9 mil casos entre 2006 e 2007, que arruinou os avanços do primeiro mandato.

Os engasgos do SUS? O doente que sofre no leito -e para conseguir deitar num? Tampouco encabeçam as atenções dessa administração.

A prioridade até aqui foi lançar debates sobre aborto, álcool, camisinha etc. Temas pertinentes, mas que, por sua natureza, dependem justamente do ‘exagero midiático’ considerado inconveniente no ‘case’ febre amarela. A discussão de fundo sobre a responsabilidade pelo consumo de drogas saiu de cartaz com a ‘Tropa de Elite’, reparou?

Em vez de questionar a ‘plataforma’ de Edison Lobão, uma ala do governo há dias reclama da nomeação do senador maranhense por se tratar de um político de carreira, sem erudição sobre os assuntos do Ministério de Minas e Energia.

(Um discurso, aliás, que indiretamente endossa críticas a Lula.) Mas e José Gomes Temporão? O ministro mais ‘técnico’ de todos, o médico sério com currículo de realizações, disse nesta semana que seu maior feito em um ano no cargo foi ter… ‘repolitizado’ a saúde.

Para Temporão, ‘a relação entre saúde e mídia é um campo apaixonante’. As oportunidades de comunicação devem ser aproveitadas, claro. Mas o país ganharia se ele abrisse o coração também a urgências que não dão manchete.’

 

ELEIÇÕES NOS EUA
Sérgio Dávila

Estrelas de Hollywood lotam platéia para ouvir os ‘queridinhos’ do entretenimento

‘Minutos antes de começar a exibição ao vivo do debate de anteontem, o apresentador da CNN Wolf Blitzer respondia a perguntas da platéia sobre o formato do programa. ‘Vamos começar, alguém mais quer perguntar algo?’, disse ele. ‘Sim, onde está o Anderson Cooper’, gritou um gaiato. Ele se referia ao apresentador-celebridade da emissora, filho da socialite Gloria Vanderbilt.

Cooper não estava lá (ele mediou o debate dos republicanos, na última quarta-feira), mas seus pares sim. Hollywood compareceu em peso ao encontro de dois queridinhos da indústria do entretenimento. Em peso e dividida.

‘Propriedade’ dos Clintons por várias eleições, pela primeira vez em anos a comunidade artística dos EUA encontra outra opção na corrida presidencial -em Barack Obama.

Assim, sentavam-se lado a lado os diretores Steven Spielberg e Quentin Tarantino (tomando notas), os atores Leonardo DiCaprio (com o pai), Diane Keaton e Jason ‘George Costanza’ Alexander, o músico Stevie Wonder, que gritou excitado quando Blitzer levantou a possibilidade de uma chapa Hillary-Obama ou vice-versa, e America Ferrara, a ‘Ugly Betty’ (Betty, a Feia), a única a assumir explicitamente a opção e usar um broche com a foto de Hillary Clinton.

Tudo contribuía para reforçar o clima de ‘melhor ator’ e ‘melhor atriz’. O local era o mesmo de onde são transmitidas as cerimônias do Oscar, o Kodak Theatre, ao lado do histórico Chinese Theatre, aquele em que os artistas gravam as mãos na calçada, em Hollywood. A fila de limusines lembrava as das noites de premiação. Poucos convidados vestiam roupas de noite, mas alguns mais exagerados (e menos conhecidos) foram de smoking.

Mesmo no palco, o clima era uma mistura de ‘The Oscar goes to…’ com o reality show musical ‘American Idol’. Obama e Hillary entraram no palco, depois de anunciados, acenando sob uma chuva de aplauso e gritinhos -o que não aconteceu na platéia dos republicanos, mais sisuda e mais velha. Então, sentaram em bancadas e passaram a ouvir as perguntas. A qualquer momento, parecia que Blitzer ia perguntar não sobre a Guerra do Iraque, mas sobre qual grife eles vestiam.

Clima de confronto

Um aspecto importante, porém, fazia a diferença: o público externo. Se nos dias de prêmio são fãs organizados que gritam elogios e imploram por autógrafos, o de ontem era de confronto entre jovens apoiadores dos dois candidatos e críticos que carregavam faixas e gritavam palavras de ordem contra os dois democratas.

‘Democrats lie, people die!’ (quando os democratas mentem, as pessoas morrem, em tradução livre) era uma delas.

No final, na sala de encontro dos jornalistas com os políticos, no melhor estilo ‘Pânico na TV’ e ‘Borat’, um imitador de Wolf Blitzer entrevistava os que se dispusessem a falar com ele. Vários caíram. Outros perceberam e entraram no clima, elogiando sua barba grisalha e seu terno claro.

Anteontem, isso era Hollywood.’

 

INTERNET
Folha de S. Paulo

Microsoft oferece US$ 44,6 bi por Yahoo!

‘Em uma tentativa de brecar os avanços do Google no crescente mercado de publicidade on-line, a Microsoft anunciou ontem que ofereceu US$ 44,6 bilhões pelo Yahoo!. Caso o negócio seja concretizado, será o segundo maior envolvendo empresas da internet, superado apenas pela compra da Time Warner pela AOL (US$ 182 bilhões), em 2000, antes do estouro da bolha do setor.

O valor oferecido pela Microsoft é 62% superior ao preço das ações do Yahoo! anteontem, quando toda a companhia tinha valor de mercado de US$ 25,6 bilhões.

As duas empresas vêm enfrentando dificuldades para competir com o Google no setor de publicidade na internet, um dos mais lucrativos da área. No ano passado, segundo o ‘Wall Street Journal’, o Google faturou US$ 11,7 bilhões com as vendas de publicidade, contra US$ 5,1 bilhões do Yahoo! e US$ 2,8 bilhões da Microsoft.

A companhia de Bill Gates calcula que esse mercado ‘cada vez mais dominado por um ‘player’ totalizou US$ 40 bilhões no ano passado e deve chegar a US$ 80 bilhões em 2010. ‘Juntos, Microsoft e Yahoo! podem oferecer uma alternativa competitiva, ao mesmo tempo em que podem melhor satisfazer consumidores e parceiros’, disse o presidente-executivo da Microsoft, Steve Ballmer, em carta aos acionistas do Yahoo! .

A Microsoft disse que a fusão gerará uma economia anual de cerca de US$ 1 bilhão. Disse ainda que tem um plano para integrar os trabalhadores das duas companhias e que pretende oferecer incentivos para que os funcionários do Yahoo! sigam na empresa.

Ballmer disse que falou na noite de anteontem com Jerry Yang, presidente do Yahoo!, para revelar a oferta: ‘Eu não chamaria de uma ligação de cortesia’.

Ballmer afirmou que decidiu fazer uma oferta pela concorrente porque negociações amigáveis poderiam levar muito tempo e, provavelmente, se tornariam públicas. Sugeriu ainda que o negócio não deve ser fechado facilmente. Em nota, o Yahoo! afirmou que avaliará a oferta ‘cuidadosamente’ e de acordo com os planos estratégicos da companhia. Porta-voz do Google disse que é ‘prematuro’ comentar o negócio.

Com o anúncio, a ação do Yahoo! disparou e terminou o dia com alta de 47,97%, a US$ 28,38. Apesar da subida, as ações da empresa se valorizaram em 5,59% neste ano. Mas a cotação ainda está muito distante dos seus melhores tempos. Em 1º de fevereiro de 2006, os papéis valiam US$ 317,38 -20 dias antes, eles valiam mais de US$ 400. As ações da Microsoft caíram 6,6% ontem, e as do Google, 8,58%.

Na carta ao conselho do Yahoo!, Ballmer disse que as duas companhias discutiram uma possível fusão e outras possibilidades de parceria no final de 2006 e no começo do ano passado, mas que, em fevereiro de 2007, a concorrente decidiu encerrar as negociações porque a sua direção estava confiante no seu ‘potencial de alta’.

‘Um ano se passou e a situação competitiva não melhorou’, escreveu o principal executivo da Microsoft. Por isso, segundo ele, ‘enquanto uma parceria comercial podia fazer sentido há algum tempo, a Microsoft acredita que a única alternativa agora é a combinação que estamos propondo’.

O Yahoo! vem passando por sérias dificuldades nos últimos tempos. Ele ganhou US$ 660 milhões em todo 2007, praticamente metade do que o Google lucrou no último trimestre do ano passado: US$ 1,21 bilhão -resultado que foi considerado decepcionante.

Em junho de 2007, Yang, um dos fundadores da companhia, assumiu o seu comando, substituindo Terry Semel, que estava no cargo de 2001. Na terça-feira, Yang disse que pretende demitir 1.000 dos 14.300 funcionários do Yahoo!.

Com o ‘New York Times’’

 

Negócio deve ser examinado pelo governo

‘O Departamento de Justiça dos EUA disse que está ‘interessado’ em analisar as implicações na competição do setor da proposta de compra do Yahoo! pela Microsoft.

Seria a maior aquisição do setor de tecnologia, em um mercado que pode quase dobrar, para US$ 80 bilhões, até 2010.

Se concluída, a transação ainda será submetida ao exame do Congresso dos EUA. Herb Kohl, que preside o painel antitruste do Comitê Judiciário do Senado, disse que realizará audiências sobre o caso se a oferta for aceita.

‘Precisaremos examinar cuidadosamente o acordo para garantir que não prejudicará a competitividade do mercado de alta tecnologia nem terá impacto negativo sobre os direitos de privacidade dos usuários da internet.’’

 

Richard Waters

Microsoft admite fraqueza e desafia liderança do Google

‘DO ‘FINANCIAL TIMES’ – Steve Ballmer, o presidente-executivo da Microsoft, deixou de lado sua característica combatividade e fez uma rara admissão de fraqueza ontem. A despeito de cinco anos de esforço, que se estima teriam custado centenas de milhões de dólares à companhia, as investidas da Microsoft para recuperar o atraso com relação ao Google fracassaram. ‘Realizamos um excelente trabalho, mas começamos atrasados.’

Agora, com o Google consolidando seu domínio sobre o mercado de publicidade vinculada a buscas e se lançando a outras empreitadas publicitárias, do setor de telefonia móvel à televisão, Ballmer decidiu que não podia permitir que a distância entre as duas empresas continuasse a se alargar.

A Microsoft não deixou dúvida, ontem, de que a reacomodação mundial no setor de publicidade é a razão central de sua proposta pelo Yahoo!.

À medida que os anunciantes transferem verbas para a web, a publicidade on-line deve dobrar de tamanho em três anos, de US$ 40 bilhões para US$ 80 bilhões, estima a Microsoft. Hoje, o Google seria o maior beneficiário dessa expansão.

Mesmo no curto prazo, a proposta da Microsoft poderia fazer sentido financeiramente, dizem. Isto é, se a empresa conseguir persuadir o Yahoo! a aceitar a oferta e se conseguir promover a integração entre os serviços on-line dos dois grupos, empreitada muito maior e mais complexa do que qualquer fusão já tentada. Ainda assim, as perspectivas de competição com o Google no longo prazo continuariam nebulosas.

A força dos argumentos financeiros gira em torno da economia de custos de ‘ao menos US$ 1 bilhão’ que a fusão propiciaria, de acordo com a Microsoft. Enquanto a grande aquisição precedente no mercado da internet (a fusão entre Time Warner e AOL) se baseava na crença de que os grupos combinados produziriam maior receita, o raciocínio da Microsoft gira primordialmente em torno da redução de custos.

A economia projetada equivale a 30% dos custos operacionais totais do Yahoo! em 2007 e sinaliza a escala do abalo -e o número de demissões- que a transação pode causar.

No começo da semana, Jerry Yang, presidente-executivo do Yahoo!, prometeu que cortaria mil empregos, número que, para Wall Street, seria pequeno demais para a empresa e de qualquer jeito viria tarde demais para salvá-la de sua crise. Sob o controle da Microsoft, os cortes devem ser maiores.

A despeito das dificuldades da fusão, Ballmer disse que a Microsoft não poderia mais evitar o risco. ‘Poderíamos simplesmente ter contratado engenheiros, somos bons nisso. Mas, nesse meio tempo, o mercado continuaria a crescer, e o líder consolidaria sua posição.’

Para fazer que a combinação funcione, ele terá de provar que a Microsoft é capaz de avançar em três frentes que já se provaram difíceis para a empresa dominar sem ajuda. A primeira e mais imediata seria criar um rival digno de respeito para o Google no mercado de buscas.

O Google tem estimados 75% do mercado mundial de buscas na internet e continua crescendo. Combinar os recursos de engenharia das duas empresas geraria uma ‘capacidade expandida de pesquisa e desenvolvimento’, o que poderia produzir serviços melhores e gerar mais inovação, disse Kevin Johnson, chefe das operações on-line da Microsoft.

No entanto, alguns analistas descartam essa possibilidade.

‘Eles já têm muita gente inteligente. Por que aumentar o número de pessoas os tornariam mais inovadores?’, disse Mark Mahaney, do Citigroup.

A segunda área que precisa de atenção seria reforçar a posição do Yahoo! em termos de retenção de audiência on-line, que vem caindo, e criar novas serviços capazes de enfrentar os sites de redes sociais.

Ainda que a Microsoft tenha amplo alcance na internet, ela depende pesadamente dos serviços de webmail e mensagens instantâneas -formatos que não se prestam facilmente à publicidade. Já o Yahoo! tem uma gama mais ampla de serviços e conteúdo que poderia ser aproveitada, mas vem enfrentando dificuldades para reformular a estratégia de seu portal, diante das mudanças no comportamento dos consumidores quando estão on-line.

Analistas crêem que a marca Yahoo! deva emergir dominante numa fusão. ‘Não imagino que eles eliminem a marca Yahoo!’, disse David Smith, analista do Gartner Group.

A combinação de talentos de engenharia e investimento poderia ser a chave para um ganho de competitividade, o que ‘propiciaria uma larga gama de experiências que nenhuma das duas empresas poderia prover sozinha’, disse Ray Ozzie, vice-presidente de arquitetura de software da Microsoft.

A terceira e mais importante área de concentração seria criar uma plataforma efetiva de publicidade on-line, com alcance e efetividade suficiente para enfrentar o Google. Essa é a área que pode oferecer as maiores oportunidades e os maiores desafios. Por exemplo, a Microsoft criou um sistema efetivo de publicidade vinculada a buscas, diz Sandeep Aggarwal, analista da Oppenheimer, mas não gerou tráfego suficiente para ele.

Já o Yahoo! só teve sucesso parcial com a recente reforma de sua tecnologia de publicidade vinculada a buscas, ainda que processe número mais alto de transações. Combinar esses dois sistemas, e aproveitar a força do Yahoo! na publicidade convencional de internet, com o objetivo de formar uma plataforma mais ampla capaz de concorrer com o Google no longo prazo continua a ser a mais desafiadora das tarefas.’

 

TELECOMUNICAÇÕES
Kennedy Alencar

Lula fará decreto para Oi comprar a BrT

‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva editará decreto alterando regras do setor de telefonia fixa, e o BNDES emprestará R$ 1,8 bilhão para viabilizar a compra da Brasil Telecom (BrT) pela Oi (ex-Telemar).

Segundo a Folha apurou, a decisão foi tomada em reunião no Palácio do Planalto anteontem à noite, quando Lula e auxiliares definiram o ritual administrativo e político para dar o aval do governo à operação.

O BNDES deverá ficar com 16,5% do capital de controle (votante) da nova empresa, segundo relato a Lula do presidente do banco de fomento estatal, Luciano Coutinho. A pedido do Planalto, Coutinho foi o principal interlocutor do governo com os grupos privados Andrade Gutierrez e La Fonte, controladores da Oi, para formatar o negócio.

Coutinho disse a Lula que o BNDES emprestaria R$ 1,8 bilhão aos empresários Sérgio Andrade, da Andrade Gutierrez, e Carlos Jereissati, do La Fonte. Justificou o uso de verba pública dizendo que viabilizará uma empresa que valerá mais de R$ 15 bilhões. O governo argumenta ser necessário uma tele nacional forte para competir com gigantes estrangeiras como a mexicana Telmex (Claro e Embratel) e a espanhola Telefónica.

No relato de Coutinho, uma aliança de Andrade e Jereissati com a Fundação Atlântico, o fundo de pensão dos funcionários da Oi, dará aos empresários o controle acionário da nova tele. Os dois terão juntos 40% do controle, mais 11% da Fundação Atlântico. Os demais 49% do capital votante serão divididos assim: 16,5% do BNDES, 12,5% da Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), 10% da Petros (fundo dos funcionários da Petrobras) e 10% da Funcef (fundo da Caixa). Sérgio Rosa, presidente da Previ, quer indicar o presidente da tele.

Por determinação de Lula, Coutinho colocou ‘travas’, nas palavras de um negociador privado envolvido na operação, para evitar que a nova empresa seja vendida pelos empresários no curto prazo. O BNDES terá poder de veto sobre decisões da empresa (como alienação, fusão e emissões) e direito de preferência caso os dois empresários desejarem vendê-la.

Na hipótese de um empresário desejar vender sua parte, deverá oferecê-la antes ao sócio privado e depois ao BNDES.

Como antecipou a Folha, essas ‘travas’ foram condicionantes de Lula para editar o decreto presidencial.

O decreto permitirá que uma tele de telefonia fixa compre a outra, algo vetado hoje pelo PGO (Plano Geral de Outorgas), marco regulatório da privatização das teles, há dez anos.

Além de Lula e Coutinho, os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Hélio Costa (Comunicações) participaram da reunião no Planalto.

A cúpula do governo avalia que no prazo de dois meses será cumprido um ritual administrativo e político do negócio. Os empresários disseram ao Planalto que deverão fazer um anúncio formal após o Carnaval -o mais provável é que ocorra na segunda ou terça-feira seguintes à festa.

Feito o anúncio, os empresários avisarão à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). A agência reguladora consultará o Ministério das Comunicações, responsável pela política do setor. O ministério encaminhará as orientações e recomendará que a Anatel convoque seu conselho consultivo. Esse conselho aprovará a operação, que contará com o decreto presidencial.

Laços

A Oi (ex-Telemar) financiou atividade empresarial de um filho de Lula, Fábio Luiz. O presidente fica contrariado quando a imprensa correlaciona a compra da Brasil Telecom pela Oi com o aporte de recursos da antiga Telemar para a companhia do filho do presidente, a Gamecorp.

Sérgio Andrade também é um empresário próximo da cúpula do PT. Lurian, filha de Lula, chegou a morar em Paris num apartamento da família Andrade. O grupo Andrade Gutierrez foi o maior financiador do PT em 2006, ano de eleições presidenciais e para os governos estaduais. Doou para o partido R$ 6,4 milhões. Para a campanha de Lula, a empresa não foi a maior doadora, mas deu R$ 1,5 milhão.

A decisão sobre o decreto ocorreu um dia depois de Lula se esquivar de comentar a compra da Brasil Telecom pela Oi: ‘Tem um negócio acontecendo, eu não posso dar opinião enquanto não tiver um retrato fiel da engenharia que está sendo discutida’. Anteontem, em mais de duas horas de reunião, Coutinho apresentou a ‘engenharia’. Lula a avalizou.’

 

Folha de S. Paulo

Lucro da Net cresce 151% e supera R$ 207 milhões em 2007

‘A operadora de TV a cabo Net anunciou ontem que obteve R$ 207,8 milhões de lucro líquido em 2007, com alta de 151% sobre 2006. A receita líquida da Net chegou a R$ 2,9 bilhões, crescimento de 28% em relação ao ano passado. Segundo a companhia, o resultado se deve principalmente ao aumento da sua base de assinantes.

O número de clientes de TV por assinatura atingiu 2,47 milhões, 16% a mais do que em 2006, com 27% de participação no mercado.

Já os clientes do Virtua -serviço de banda larga da empresa- somam 1,43 milhão, 65% a mais sobre o ano anterior, com participação de 22% no mercado. O Net Fone, de telefonia fixa, alcançou 567 mil clientes, 9% do mercado e crescimento de 212% no ano.

Em 2008, a Net pretende manter os números, mesmo com a crise econômica americana. ‘Não há razão para acreditar que o crescimento em termos absolutos da base de assinantes seja menor do que em 2007’, afirmou o diretor financeiro, João Elek.

Para repetir o bom desempenho, a Net planeja manter o foco de investimentos: cerca de R$ 550 milhões na aquisição de clientes e outros R$ 200 milhões no aprimoramento da estabilidade e da qualidade da rede estão previstos para 2008.’

 

ENTREVISTA / TONY JUDT
Marcos Strecker

Saída à francesa

‘Intelectuais franceses como Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir e Albert Camus marcaram gerações ao criar um modelo de debate público e de pensador engajado. Tiveram uma enorme influência internacional, em especial no Brasil, onde a elite francesa inspirou a formação da própria USP.

A imagem romântica dessa geração que marcou o Pós-Guerra é seriamente arranhada pelo importante historiador inglês Tony Judt, que lança ‘Passado Imperfeito – Um Olhar Crítico sobre a Intelectualidade Francesa no Pós-Guerra’ (Nova Fronteira, trad. Luciana Persice Nogueira, 480 págs., R$ 59,90).

É um ensaio duro e minucioso sobre a ‘irresponsabilidade intelectual’ e a condição moral de pensadores franceses no período de 1944 a 1956, quando a cortina de ferro começava a se fechar no leste europeu. Em entrevista, Judt também comenta a contínua decadência do pensamento francês.’

 

***

‘Dilemas não eram éticos’, diz Judt

‘Professor da Universidade de Nova York e influente pensador da Europa contemporânea, Tony Judt é ácido em sua análise sobre o papel de alguns dos principais nomes da geração de ouro do pensamento francês no século 20.

Em ‘Passado Imperfeito’, ele não faz uma história do pensamento francês, mas se detém nos dilemas morais de pensadores, comunistas ou não, em um momento em que eram conhecidas as perseguições e os julgamentos-espetáculos do leste europeu. O resultado é demolidor.

Judt aponta características como a ‘atração pela violência’ e ‘ausência notável de preocupação com a ética pública ou com a moralidade política’. Em entrevista concedida por e-mail, ele comenta a particularidade francesa, aponta Albert Camus como um nome que vai eclipsar seus contemporâneos e comenta a decadência do pensamento francês.

FOLHA – Os intelectuais franceses estão em crise? Isso pode ser relacionado com a geração descrita no seu livro (1944-1956)?

TONY JUDT – Os intelectuais franceses estão em declínio -em influência e sobretudo em sua ‘qualidade’ desde os anos 60. O declínio na influência vem do crescimento das novas mídias, assim como a posição menos relevante da França. O declínio em qualidade tem relação com esses fatores, mas também porque os talentos franceses mais interessantes agora fazem estudos acadêmicos, negócios e política pública e não atividades ‘intelectuais’ no sentido antigo.

FOLHA – Ética e direitos individuais são importantes no debate público francês?

JUDT – Sim, mas apenas nos últimos anos. Até 25 anos atrás, os debates franceses ainda eram centrados em abstrações, ‘ideologias’, temas estético-literários. O colapso do marxismo e a emergência do tema dos direitos no leste europeu foi importante para mudar a ênfase que havia até os anos 70.

FOLHA – Raymond Aron, Sartre, Camus, Simone de Beauvoir, Merleau-Ponty, François Mauriac… Quem cresceu ou diminuiu com o julgamento da história?

JUDT – Como romancista, Mauriac pode ser aquele que sobreviverá por mais tempo. Aron tinha a melhor mente analítica e alguns dos seus textos terão impacto acadêmico duradouro. Sartre não será lembrado por suas idéias ou textos, mas como um símbolo do ‘intelectual engajado’ de uma era. Simone de Beauvoir será uma pequena nota de rodapé nos livros de história, lembrada como amiga de Sartre e como uma das primeiras escritoras do feminismo. Mas acho que é a reputação de Albert Camus que vai eclipsar a de todos, como moralista e como intelectual público.

FOLHA – O sr. é crítico também a nomes atuais como Bernard-Henri Lévy. Até onde pode ser honesta a visão dos intelectuais, com a história e com suas vidas pessoais?

JUDT – Não acho que Bernard-Henri Lévy seja desonesto. Mas ele tem uma idéia largamente superestimada de sua própria importância, muda de temas constantemente, é profundamente inseguro intelectualmente e, como conseqüência, escreve em excesso. É um produto e uma vítima da geração da TV, na qual o escritor (ou apresentador) é o objeto de suas próprias atividades. Claro que é difícil -talvez impossível- ser honesto com relação à história e consigo mesmo, e isso não é apenas um problema de intelectuais. Mas o narcisismo de BHL torna ele pior do que a maioria.

FOLHA – Como o sr. vê o apoio de intelectuais como o filósofo André Glucksmann ao presidente francês Nicolas Sarkozy?

JUDT – Os ‘novos filósofos’ estavam certos nas suas críticas feitas nos anos 70 ao stalinismo, ao maoísmo etc. Ainda que não tenham sido especialmente originais. Mas Glucksmann especialmente não pode distinguir entre crimes e erros: é um típico intelectual francês com posições imodestas -primeiro de um lado, agora do outro. Seu apoio a Sarkozy significa pouco para o presidente, mas fez Glucksmann parecer menor.

FOLHA – A polêmica envolvendo seqüestros pelas Farc na Colômbia representa um dilema moral para intelecutais de esquerda semelhante àquele que os franceses enfrentaram no Pós-Guerra?

JUDT – Não exatamente. Os dilemas dos anos 50 não eram eticamente desafiadores -os crimes do comunismo eram bem conhecidos se você quisesse vê-los-, mas eram complexos para marxistas e outros que ainda tinham ilusões sobre o leste e desconfiavam da América da Guerra Fria. Os dilemas da situação colombiana são genuinamente morais, com compromissos ambíguos do ponto de vista ético de qualquer ângulo que você olhe. Um pouco como os dilemas na Irlanda do Norte dos anos 80 e 90.

FOLHA – Como o senhor viu a repercussão da reportagem ‘A morte da cultura francesa’, publicada na capa da versão européia da revista ‘Time’, em 3 de dezembro?

JUDT – A repercussão na França diz mais sobre perda da autoconfiança nacional e cultural do país do que sobre a revista ‘Time’. E também existe o fato de que os franceses detestam serem tutelados por americanos ignorantes, mas amam o fato de que americanos ainda liguem para eles.

FOLHA – A dificuldade em se usar rótulos políticos (direita/esquerda, conservadores/liberais) é maior na França? O passado ligado à Revolução Francesa é determinante?

JUDT – Talvez. Mas em outros países não é mais fácil. O que distingue os franceses é que a direita lá foi por um longo período nacionalista, chauvinista, religiosa e até monárquica, mas não foi economicamente de direita. A esquerda foi até muito recentemente comprometida com a linguagem de revolução e luta de classes que não praticou por um século. Os dois lados ficaram longe da modernidade e da realidade européia. Os dois lados compartilham de uma preferência pela atividade centrada no Estado com a dominação francesa de uma ‘pequena’ Europa.’

 

PLANETA DIÁRIO
Carlos Eduardo Lins da Silva

Antologia lembra época em que mundo era mais divertido

‘Quando o jornal ‘O Planeta Diário’ apareceu nas bancas do Brasil em dezembro de 1984, a onda do ‘politicamente correto’ ainda não havia tomado conta da intelectualidade do mundo ocidental e o país extravasava liberdade com a aguardada eleição de Tancredo Neves para a Presidência da República, que ocorreria dias depois, e o conseqüente fim do regime militar.

Esses dois fatores possibilitaram o sucesso arrebatador do tipo de humor deliciosa e arrasadoramente debochado e irreverente que Reinaldo, Hubert e Cláudio Paiva praticaram no ‘Planeta Diário’.

Em épocas mais recentes seria muito mais difícil achar graça ostensiva de brincadeiras devastadoras que tivessem como alvo ‘afrodescendentes’, ‘portadores de necessidades especiais’ e outros grupos demográficos que passaram a ser classificados com eufemismos criados para evitar demonstrações de preconceito. Folhear neste final da primeira década do século 21 a recém-lançada antologia de ‘O Planeta Diário’ dá a sensação nítida de que o mundo ficou muito menos divertido por causa da moda do politicamente correto.

Censura ‘correta’

Foi durante a década de 90 que se disseminou o hábito de censurar formal ou informalmente qualquer brincadeira ou palavra que pudesse ser interpretada por alguém como ofensiva a minorias étnicas, de gênero ou de outra espécie.

Começou nos EUA, onde diversos acadêmicos argumentaram que a linguagem determina o comportamento e o pensamento das pessoas e que, para evitar a reprodução de estereótipos negativos que pudessem redundar em desvantagens ou desconforto para alguns grupos de pessoas, o ideal seria torná-la a mais neutra possível.

Assim, foram sumindo do vocabulário (pelo menos da imprensa e da academia) termos como ‘deficiente físico’, ‘Maria vai com as outras’, ‘preto’, ‘aidético’, ‘aleijado’. O governo brasileiro chegou a publicar, em 2004, uma cartilha com palavras e expressões censuráveis, que deveriam ser evitadas ao menos no serviço público.

Qual seria hoje a reação social e jurídica a manchetes como ‘Candidatos epiléticos se debatem na TV’, ‘Candidatos gays dão tudo na reta final’, ‘Nelson Ned é o novo Menudo’, ‘Wilza Carla explode na Terça-Feira Gorda’, ‘Polícia ouve depoimento das testemunhas de Jeová’, ‘Israel faz atentado com rabinos-bomba’ e outras jóias planetárias?

Christie Davies, da Universidade de Reading (Reino Unido), é um dos autores contemporâneos mais destacados na análise da relação entre humor e moralidade. Ele tem exposto sua preocupação com os efeitos potencialmente deletérios para a convivência humana resultante da intolerância em relação a gracejos que alguns possam considerar insultuosos.

Davies disse recentemente que muitos ambientes de trabalho nos EUA, em especial universidades e outros centros de estudo acadêmico, lembram-no do que ele via nos países da antiga Cortina de Ferro, em que as pessoas receavam fazer algum tipo de pilhéria que pudesse desagradar algum agente do Estado comunista.

O episódio do cartum do profeta Maomé publicado pelo jornal dinamarquês Jyland-Posten em 2005, que desencadeou uma onda de protestos violentos de muçulmanos pelo mundo, é um exemplo extremo do que pode resultar da intransigência com a graça. O humor é em geral inofensivo e quase sempre liberador. ‘O Planeta Diário’ foi um marco importante da vida nacional quando era possível rir de quase tudo às claras. Durante o regime militar, as piadas circulavam clandestinamente e ajudavam na resistência à opressão, como ocorreu incontáveis vezes na história da humanidade.

A retrospectiva que a Desiderata põe à disposição do público é um estímulo à reflexão a respeito daqueles tempos, mas também dos dias atuais e de como se pode empobrecer espiritualmente quando se atenta contra o direito de brincar.

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA é livre-docente e doutor em comunicação pela USP e diretor de relações institucionais da Patri Políticas Públicas.

O PLANETA DIÁRIO

Autores: Cláudio Paiva, Hubert Aranha e Reinaldo Figueiredo

Editora: Desiderata

Quanto: R$ 50, em média (348 págs.)

Avaliação: bom’

 

TELEVISÃO
Laura Mattos

Teens elegem personagens com deficiência

‘Jatobá, o cego interpretado por Marcos Frota na novela ‘América’ (2005), e Clara, a garota com síndrome de Down vivida por Joana Mocarzel em ‘Páginas da Vida’ (2006), foram os personagens mais lembrados em uma pesquisa sobre a relação entre jovens com deficiência e a televisão.

O levantamento, a ser divulgado hoje, foi realizado em 2007 pela Andi (Agência de Notícias dos Direitos da Infância).

Foram entrevistados 67 meninos e meninas de 11 a 13 anos, de diferentes classes sociais e com variados tipos de deficiência, em Salvador, São Paulo, Assunção (Paraguai) e Buenos Aires (Argentina).

Uma das principais constatações apontadas no relatório da Andi é a de que ‘o jovem com deficiência pouco se reconhece na programação convencional das emissoras de televisão’.

Têm dificuldades, por exemplo, para se lembrar de reportagens sobre o assunto nos telejornais. A exemplo de adolescentes sem deficiência, ouvidos em pesquisas anteriores, eles se queixam do excesso de ‘baixaria’ e violência. Diante disso, a Andi ressalta que ‘os adolescentes com deficiência são, antes de tudo, adolescentes’.

Houve queixas também em relação ao tamanho da janela com traduções em Libras (sinais para deficientes auditivos), que no Brasil aparece antes do início dos programas com informações sobre seu conteúdo e classificação etária.

A maioria (36,1%) cita os desenhos animados como atração predileta na TV. Depois, novelas (21,3%) e notícias (11,5%). Foram mencionados do seriado ‘Chaves’ a ‘Tom & Jerry’, além de filmes como ‘Rambo’ e a novelinha teen argentina ‘Cási Angeles’. Destacam-se, dentre os programas favoritos, desenhos animados com personagens que detêm poderes especiais, a exemplo de ‘Cavaleiros do Zodíaco’, ‘Naturo’, ‘Meninas Superpoderosas’, ‘Power Rangers’ e ‘Liga da Justiça’.

Dentre as citações pontuais negativas, o grupo de Salvador, por exemplo, reprovou o ‘Domingão do Faustão’, e o de São Paulo, a propaganda eleitoral gratuita. Já os argentinos criticam ‘programas de fofoca’.

Os brasileiros foram os que mais mencionaram personagens com deficiência nas novelas, descritos de forma positiva. Além de Jatobá e Clara (Globo), foram citados, entre outros, os cadeirantes Joana, da novelinha ‘Chiquititas’ (SBT), e Mauro, amigo cego do Júlio de ‘Cocoricó’ (Cultura).’

 

 

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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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